TÍTULO: SURTOS ALIMENTARES NO BRASIL: UMA REVISÃO DE LITERATURA CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: BIOMEDICINA INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS AUTOR(ES): RONALDO FRANÇA MACIEL, MARCELA FIGUEIREDO CARRARA ORIENTADOR(ES): DANIEL WAGNER DE CASTRO LIMA SANTOS 1. RESUMO As doenças de origem alimentar podem estar relacionadas a diversos fatores como manipulação e armazenamento inadequados dos alimentos. A contaminação destes por agentes microbiológicos pode ser responsável por doenças do trato digestivo e por vezes sistêmicas. O presente projeto trata de uma revisão literária de surtos brasileiros causados por bactérias, especialmente por Salmonella, Staphylococcus e enterobactérias. Outros agentes, menos comuns, como vírus, Listeria e Clostridium apresentam cenários restritos com poucos surtos no Brasil. E, menos frequentes, mas de grande impacto na saúde pública, descrevem-se surtos por causados por protozoários e micotoxinas, com destaque para T. cruzi, Toxoplasma e Aspergillus. 2. INTRODUÇÃO As intoxicações alimentares agudas são responsáveis por elevada morbimortalidade, representando uma estimativa de milhões de casos nos países desenvolvidos. No Brasil este cenário não está bem definido, em especial pela falta de banco de dados de vigilância nacional, estando nossas casuísticas descritas apenas através de artigos científicos ou relatados em bases estaduais de vigilância. Desta forma, um levantamento detalhado de tais surtos é de fundamental importância, para que sejam adotadas medidas de prevenção mais eficazes. 3. OBJETIVOS Definir e abordar aspectos epidemiológicos e etiológicos dos surtos alimentares de natureza infecciosa ou mediada por toxinas no Brasil. 4. METODOLOGIA Trata-se de estudo retrospectivo, descritivo de revisão da literatura de surtos alimentares brasileiros publicados até 07/2014, utilizando-se a ferramenta MesH do PubMed com as palavras “surtos”, “outbreak”, “brotes” ou “food infections” relacionadas aos agentes infecciosos. 5. DESENVOLVIMENTO Trata-se de uma pesquisa baseada no levantamento de dados genuinamente brasileiros, de todas as regiões do país, com foco nas doenças bacterianas, virais e por protozoários. 6. RESULTADOS PRELIMINARES Os principais surtos alimentares brasileiros estão relacionados às enterobactérias, porém com participação de outros agentes menos comuns como Staphylococcus spp., Clostridium spp., L. monocytogenes. Dados epidemiológicos de salmonelose entre 2002 a 2004 no Rio Grande do Sul, mostram que 32,37% dos surtos brasileiros foram neste estado, ocasionados principalmente pela ingesta de salada de batatas, maionese caseira e ovos contaminados. Dentre as espécies de Salmonella descritas, destaca-se S. enteridis e S. typhi. Em outra ocasião, em São Paulo, investigou-se um surto causado por S. typhi, onde 55 pessoas consumiram alimentos servidos e 28 delas apresentaram sintomas da doença. Irregularidades na manipulação e armazenamento dos alimentos foram observadas (WAGNER, SILVEIRA, TONDO, 2013). Casos de intoxicação alimentar por Staphylococcus ocorreram em Minas Gerais, onde 12 pessoas apresentaram diarréia e vômito após ingesta de bolo recheado, cujo manipulador apresentava infecção em região cervical. Havia evidência de que o bolo não foi refrigerado, propiciando a permanência das toxinas. Foi isolado S. aureus da raspagem de pele do manipulador e de amostras do bolo (PEREIRA et al., 1994). O Clostridium botulinum produtor de toxinas é capaz de esporular no solo e causar intoxicação dos animais. O primeiro relato de um surto de botulismo no Brasil aconteceu no RS onde 9 pessoas morreram após consumo de conserva de peixe. No Ceará houve um surto de origem alimentar em uma família decorrente da ingesta de torta de frango contaminada (BARBOZA, SANTOS, SOUSA, 2011). A Listeria monocytogenes é uma bactéria que acomete indivíduos imunocomprometidos ou com idade avançada. Entre 2006 e 2007, 6 pacientes foram diagnosticados com listeriose num hospital do RJ onde os casos estavam associados à alimentação preparada na cozinha do hospital. Após intervenção na cozinha, não houve mais incidências de casos como estes (MARTINS et al., 2010). Os principais vírus causadores de patologias são rotavírus e norovírus. Foram relatados 51 casos de gastroenterite aguda em um estabelecimento. Os indivíduos hospitalizados foram diagnosticados com rotavirose, pois consumiram pão com manteiga e, o manipulador responsável pelo preparo alimentar estava afastado com a doença (RODRIGUES et al., 2004). Protozoários são importantes na epidemiologia dos surtos alimentares. Foram relatados surtos da doença de Chagas de transmissão oral, sendo o primeiro descrito na cidade de Teutônia onde 17 pacientes foram diagnosticados com doença na fase aguda. Acredita-se que a contaminação tenha ocorrido através do consumo de vegetais contaminados por fezes de marsupiais infectados. Outro caso similar ao ocorrido em 1965 foi o Registado na cidade de Catolé do Rocha (PB) onde 26 pacientes foram diagnosticados também com a fase aguda, sendo a transmissão ocorrida pela ingestão de caldo de cana contaminado com fezes de triatomíneos. Finalmente em 2005 no estado de Santa Catarina foram registrado 24 casos de doença de chagas aguda, associados a ingestão de caldo de cana contaminado com fezes de triatomíneos (SHIKANAI-YASUDA, CARVALHO, 2012). A toxoplasmose também está inserida nos surtos alimentares. Na cidade de Bandeirantes-PR foi relatado um surto de 17 casos de toxoplasmose aguda transmitida por ingesta de carne crua de carneiro servida em uma festa. Os pacientes apresentaram febre, cefaleia, mialgia, artralgia e adenomegalia. Todos apresentaram anticorpos específicos IgM, fechando o diagnóstico da fase aguda da doença (BONAMETTI et al., 1997). Micotoxinas são responsáveis pela contaminação de grande parte de cereais em todo o mundo, principalmente milho. No Brasil, o principal surto de micotoxicose foi descrito no Maranhão com 1.028 casos e 32 óbitos de beribéri, decorrentes do consumo de arroz contaminado (ROSA et al., 2010). 7. FONTES CONSULTADAS BARBOZA, M.M.O; SANTOS, N.F; SOUSA, O.V. Surto familiar de botulismo no estado do Ceará: relato de caso. Rev Soc Bras Med Trop, v.44, n.3, p.400-2, 2011. BONAMETTI et al. Surto de toxoplasmose aguda transmitida através da ingestão de carne crua de gado ovino. Rev Soc Bras Med Trop, v.30, n.1, p.21-25, 1997. MARTINS, I.S et al. Cluster of Listeria monocytogenes infections in hospitalized adults. Am J Infect Control, v. 38, n. 9, p. 31-6, 2010. PEREIRA, M.L et al. Staphylococcal food poisoning from cream-filled cake in a metropolitan area of SouthEastern Brazil. Rev Saúde Pública, v.28, n.6, p.406-9, 1994. RODRIGUES, M.M et al. Indícios de rotavirus na etiologia de um surto de infecção de origem alimentar. Ciênc Tecnol Aliment, Campinas, v.24, n.1, p.88-93, 2004. ROSA et al. Production of citreoviridin by Penicillium citreonigrum strains associated with rice consumption and beriberi cases in the Maranhão State, Brazil. Food Addit Contam Part A Chem Anal Control Expo Risk Assess, v. 27, n. 2, p. 241-8, 2010. SHIKANAI-YASUDA, M.A; CARVALHO, N.B. Oral transmission of Chagas disease. Clin Infect Dis, v.54, n.6, p.845-52, 2012. WAGNER V.R.; SILVEIRA J.B.; TONDO E.C. Salmonelloses in the State of Rio Grande do Sul, southern Brazil, 2002 to 2004. Braz J Microbiol, v.44, n.3, p.723-9, 2013.