UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ – CAMPUS DE CAMPO MOURÃO MAIARA CRISTINA SEGATO ANÁLISE LINGUÍSTICA NO ENSINO MÉDIO: UM NOVO OLHAR, UM OUTRO OBJETO CAMPO MOURÃO, SETEMBRO/2010 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ – CAMPUS DE CAMPO MOURÃO MAIARA CRISTINA SEGATO ANÁLISE LINGUÍSTICA NO ENSINO MÉDIO: UM NOVO OLHAR, UM OUTRO OBJETO Trabalho apresentado à Universidade Estadual do Paraná – Campus de Campo Mourão, como requisito parcial para obtenção de nota do 3º bimestre da disciplina de Linguística, ministrada pela professora Adriana Polato. CAMPO MOURÃO, SETEMBRO/2010 “Análise Linguística no ensino médio: um novo olhar, um outro objeto” é um artigo da professora de Língua Portuguesa, do departamento de letras da UFPE, Marcia Mendonça, no qual traz um conjunto de ideias sobre a prática de Análise Linguística (doravante AL), em sala de aula, no lugar das aulas de gramática. Tradicionalmente, o ensino de Língua Portuguesa restringia-se somente ao ensino de gramática. Dessa forma, ao longo dos anos, mais especificamente nas últimas duas décadas, professores e pesquisadores perceberam e começaram a questionar a inconsistência desse ensino normativo e descritivo, baseado em nomenclaturas e regras gramaticais, visto que ele ficava à margem do real uso da língua, fazendo emergir, assim, a prática de AL, inicialmente, proposta por Geraldi (1984) em O texto na sala de aula. Essa obra é considerada como uma divisora de águas, isto é, marca o início de uma proposta de abordagem de ensino com base no texto. Conforme Mendonça (2006, p. 200): Os artigos deste livro já propunham uma reorientação para o ensino de português, com base na leitura e escrita de textos como práticas sociais significativas e integradas, e na análise dos problemas encontrados na produção textual com mote para a prática de AL, em vez de exercícios estruturais de gramática (normativa e descritiva). Em relação às transformações ocorridas no ensino de língua materna, desde a década de 1980 percebe-se um avanço no trabalho com os eixos didáticos de leitura e produção de textos, no entanto, em relação ao ensino de análise linguística, tais mudanças parecem acontecer ainda de forma bastante lentas. O que, na verdade, ocorre em sala de aula, de acordo com Mendonça (2006), é uma mescla de perspectivas teóricas. Divide o cenário, no âmbito escolar, as práticas voltadas ao ensino tradicional e novas práticas voltadas ao ensino com base no texto. Entretanto, muitos conflitos e questionamentos surgem aos professores, como: “AL é só um novo nome para o ensino de gramática?”; “Como trabalhar com AL sem ‘cair’ nas regras e nomenclaturas da gramática normativa?”; “É necessário articular a AL com as práticas de leitura e de produção textual? Por que razão? De que maneira?” e etc. O ensino de Língua Portuguesa no ensino médio apresenta um peso maior em relação ao ensino fundamental, restringindo-se a uma revisão gramatical e a técnicas de redação, com a finalidade de preparação para o trabalho e para o vestibular, o que Mendonça (2006, p. 203) denomina “organização cumulativa”, ou seja, “a listagem de tópicos gramaticais a serem ensinados assemelha-se, muitas vezes, ao sumário de uma gramática normativa”. Essa perspectiva de organização cumulativa ignora o fato de que a aquisição da linguagem se dá a partir da produção de sentidos em textos no contexto de interação e ignora também o objetivo de formar usuários da língua. Portanto, “a AL surge como alternativa complementar às práticas de leitura e de produção de texto” (MENDOÇA, 2006, p. 204). O termo Análise Linguística, cunhado por Geraldi (1984), surgiu para denominar uma nova perspectiva de reflexão sobre os elementos linguísticos e sobre os usos da língua, com vistas ao tratamento escolar dos fenômenos gramaticais, textuais e discursivos. A AL engloba, entre outros, os aspectos gramaticais, mas num paradigma diferente. Tal diferença inicia-se pela própria concepção que embasa o ensino de língua materna, isto é, refletir sobre o que e como ensinar. Nesse sentido, na perspectiva sociointeracionista da linguagem, a AL constitui um dos três eixos do ensino, ao lado da leitura e da produção escrita. A AL, segundo Geraldi (apud MENDONÇA, 2006, 206): Inclui tanto o trabalho sobre as questões tradicionais da gramática quanto questões amplas a propósito do texto, entre as quais vale a pena citar: coesão e coerência internas do texto; adequação do texto aos objetivos pretendidos; análise dos recursos expressivos utilizados (metáforas, metonímias, paráfrases, citações, discursos direto e indireto etc.); organização e inclusão de informações etc. Sendo assim, na AL a reflexão ganha espaço no lugar da classificação e da identificação. O que configura o trabalho com a AL é a reflexão voltada para a produção de sentidos e para a compreensão mais ampla dos usos e do sistema linguístico, a fim de contribuir para a formação de leitores e escritores de gêneros diversos. Mendonça (2006) apresenta três possibilidades de organização de atividades de AL relacionadas aos eixos de leitura e produção escrita, com diferentes finalidades: Leitura – Produção escrita – AL – reescrita: para a melhoria da produção escrita; Leitura e escrita – Produção de textos orais e escritos – AL – Refacção do texto oral: para desenvolver competências de leitura e escrita; Leitura e escrita – Produção de textos orais e escritos – AL – Refacção do texto oral: para analisar e conhecer as características dos gêneros para depois produzi-lo. Ainda segundo a autora, nessas três alternativas, a AL constitui uma ferramenta para a potencialização das habilidades de leitura e escrita. Ao discorrer sobre a AL e leitura, Mendonça (2006) afirma que em uma atividade de leitura, numa aula de gramática tradicional, o foco seria somente na localização e classificação dos elementos linguísticos. Já numa prática de AL relacionada à leitura, o foco seria nos recursos linguísticos utilizados para a construção de sentido, fatores relevantes para a compreensão do texto e para o funcionamento do gênero. Do mesmo modo, ao falar sobre a AL e produção escrita, Mendonça (2006) afirma que na tradição das aulas de gramática, o foco seria na identificação e classificação das orações e dos períodos. Na proposta de AL, o foco seria na reflexão dos elementos utilizados no texto, enfocando problemas de ordem ortográfica, morfossintática, textual e discursiva. Embora o foco da AL seja os efeitos de sentido, há certos aspectos linguísticos que retomam as dimensões normativas e estruturais. Os fenômenos linguísticos podem até ser os mesmo, mas o que difere são os objetivos e as estratégias de ensino. Outro questionamento nas aulas de Língua Portuguesa é a respeito de “ensinar ou não nomenclatura” nas práticas de AL. Segundo Mendonça (2006, p. 217), “nomear os fenômenos é necessário para a construção de qualquer saber científico. A nomenclatura é mais uma ferramenta no processo de aprendizagem”. O conhecimento de nomenclaturas é importante para que os alunos consultem, com autonomia, nos manuais de gramática e para os vestibulares e concursos públicos. Os professores também apresentam dúvidas e questionamentos quanto à organização curricular, tendo em vista a articulação entre AL, leitura e escrita. Devido às várias perspectivas, a mescla delas será o mais comum ainda por um bom tempo, ora seguindo critérios estruturais, tradicionais; ora seguindo critérios discursivos. Essa questão implica em acionar valores e crenças ao optar por uma ou outra corrente teórica, por uma ou outra metodologia. A identidade profissional do professor e seu valor são atribuídos a partir daquilo que ele ensina. Segundo Mendonça (2006, p. 221), há um certo conflito de identidades dos professores: “a assumida publicamente, como o professor que trabalha “tudo a partir do texto”, com a “gramática contextualizada” [...] e a praticada nas salas de aula, como o professor que mescla diferentes objetos de ensino [...]”. No entanto, os professores dizem trabalhar com a gramática contextualizada para fugir do rótulo de “gramatiqueiro” e o que, na verdade, ocorre, é uma retirada de elementos linguísticos do texto, sem referencia alguma a qualquer efeito de sentido produzido por aquele fenômeno gramatical. Um ponto crucial na postura dos docentes é a sua formação voltada para ensinar ou não a gramática. Muitos professores, por mais que conheçam as falhas do ensino tradicional, recorrem às aulas de gramática convencionais por não conseguir efetivar a prática de AL. Conforme Mendonça (2006), a formação docente deve se respaldar numa clara concepção de linguagem, dos objetivos centrais e do papel dos recursos gramaticais e estratégias textuais e discursivas. Mas a mudança na formação e na prática pedagógica é um processo lento. Contudo, espera-se que a escola consiga, pouco a pouco, por meio das atividades de leitura, escrita e AL, desenvolver, efetivamente, a competência comunicativa/discursiva dos alunos. REFERÊNCIAS MENDONÇA, Márcia. Análise linguística no ensino médio: um novo olhar, um outro objeto. In: BUNZEN, Clécio; MENDONÇA, Márcia. (Orgs.). Português no ensino médio e formação do professor. São Paulo: Parábola Editorial, 2006, p. 199-226.