CONTEÚDO Prefácio Agradecimentos Introdução 1 PAR TE 1: PRINCÍPIOS, PR ODUTOS E PR OCEDIMENTOS ARTE PRODUTOS PROCEDIMENTOS 1 O uso apropriado de sangue e produtos sangüíneos 1.1 Transfusões apropriadas e inapropriadas 1.2 Segurança do sangue 1.3 Pré-requisitos para o uso clínico apropriado do sangue 1.4 Princípios da prática clínica transfusional 9 11 12 2 Sangue, oxigênio e circulação 2.1 Fluidos corporais e compartimentos 2.2 Sangue 2.3 Aporte de oxigênio ao corpo 23 25 27 31 3 Anemia 3.1 Definições 3.2 Determinação da concentração de hemoglobina e hematócrito 3.3 Anemia clinicamente importante 3.4 Interpretação dos valores de hemoglobina 3.5 Causas de anemia 3.6 Adaptação à anemia 3.7 Anemia devido à perda aguda de sangue 3.8 Anemia devido à perda crônica de sangue 3.9 Anemia crônica por outras causas 42 44 19 21 46 48 48 50 52 52 56 58 4 5 6 3.10 Princípios do tratamento da anemia 3.11 Princípios para a prevenção da anemia 59 60 Fluidos de reposição 62 4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 64 65 65 69 70 Produtos sangüíneos 5.1 Definições 5.2 Sangue total 5.3 Componentes sangüíneos 5.4 Separação de componentes por aféreses 5.5 Produção de derivados plasmáticos (fracionamento de plasma) 5.6 Características dos produtos sangüíneos Procedimentos da clínica transfusional 6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 7 Definições Terapia de reposição intravenosa Fluidos de reposição intravenosa Outras vias de administração de fluidos Características dos fluidos de reposição Administrando o sangue correto para o paciente correto no tempo correto Solicitação de produtos sangüíneos Testes de compatibilidade eritrocitária (prova cruzada) Coleta de produtos sangüíneos antes da transfusão Armazenamento de produtos sangüíneos antes da transfusão Administração de produtos sangüíneos Monitoração do paciente transfundido Procedimentos especializados 78 80 80 82 88 88 89 101 103 107 116 120 121 124 131 133 Efeitos adversos da transfusão 136 7.1 7.2 7.3 7.4 138 139 145 7.5 7.6 Reações transfusionais Conduta inicial e investigação Reações agudas transfusionais Complicações tardias da transfusão: infecções transmissíveis por transfusões Outras complicações tardias da transfusão Transfusão maciça ou de grandes volumes 152 158 162 PARTE 2: TRANSFUSÃO NA PRÁTICA CLÍNICA 8 9 10 11 12 Decisões clínicas transfusionais 169 8.1 8.2 170 170 Avaliação da necessidade de transfusão Confirmação da necessidade de transfusão Medicina geral 173 9.1 9.2 9.3 9.4 9.5 9.6 9.7 9.8 9.9 9.10 Anemia Deficiência de hematínicos Anemias hemolíticas Malária HIV/AIDS Deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) Falência medular Distúrbios congênitos da hemoglobina Distúrbios de sangramento e transfusões Distúrbios congênitos de sangramento e de coagulação 9.11 Distúrbios adquiridos de sangramento e de coagulação 175 186 189 192 196 198 200 203 214 Obstetrícia 227 10.1 Alterações fisiológicas e hematológicas durante a gravidez 10.2 Anemia crônica na gravidez 10.3 Hemorragia obstétrica maior 10.4 Doença hemolítica do recém nascido (DHRN) 229 231 236 243 Pediatria e neonatologia 247 11.1 Anemia pediátrica 11.2 Conduta na anemia pediátrica 11.3 Transfusão pediátrica em situações clínicas especiais 11.4 Distúrbios de sangramento e coagulação 11.5 Trombocitopenia 11.6 Transfusão neonatal 249 253 260 262 263 265 Cirurgia e anestesia 275 12.1 Seleção e preparo do paciente 12.2 Técnicas para redução da perda sangüínea operatória 277 215 221 281 13 14 12.3 Reposição de fluidos e transfusão 12.4 Transfusão autóloga 12.5 Cuidados no período pós-operatório 285 294 297 Trauma e cirurgia de urgência 301 13.1 Conduta no paciente cirúrgico agudo ou de trauma 13.2 Avaliação inicial e ressuscitação 13.3 Reavaliação 13.4 Conduta definitiva 13.5 Outras causas de hipovolemia 13.6 A conduta nos pacientes pediátricos 303 303 310 313 314 314 Queimaduras 319 14.1 Conduta nos pacientes queimados 14.2 Avaliação da gravidade das queimaduras 14.3 Fluidos de ressuscitação em pacientes queimados 14.4 Cuidados contínuos em pacientes queimados 14.5 Prevenção de queimaduras 321 322 325 329 331 PARTE 3: COLOCANDO EM PRÁTICA 15 Fazendo acontecer: o que eu posso fazer? 335 15.1 15.2 15.3 15.4 15.5 337 341 343 345 Por onde eu começo? Desenvolvimento de um plano de ação Comitê de transfusão hospitalar Normas sobre o uso clínico do sangue Educação e treinamento sobre o uso clínico do sangue 347 Glossário 350 Índice 356 Prefácio A transfusão de sangue é uma parte essencial da moderna assistência à saúde. Se usada corretamente, pode salvar vidas e melhorar a saúde. Contudo, a transmissão de agentes infecciosos pelo sangue e seus produtos sangüíneos produz uma atenção particular quanto aos potenciais riscos da transfusão. A Organização Mundial de Saúde (OMS) desenvolveu as seguintes estratégias integradas para promover a segurança global do sangue, e minimizar os riscos associados a transfusões. 1 O estabelecimento de serviços de transfusão sangüínea coordenados nacionalmente, com sistemas de qualidade em todas as áreas. 2 A coleta de sangue apenas de doadores voluntários e não remunerados de populações de baixo risco. 3 A triagem de todo sangue doado para infecções transmissíveis por transfusões, incluindo o vírus da imunodeficiência humana (HIV), sífilis e outros agentes infecciosos, assim como boas práticas de laboratório em todos os estágios da tipagem sangüínea, testes de compatibilidade, preparo de componentes e armazenamento e transporte do sangue e produtos sangüíneos. 4 Uma redução das transfusões desnecessárias, através da utilização clínica adequada de sangue e produtos sangüíneos, e a utilização de alternativas simples às transfusões, sempre que possível. Muitos países estabeleceram serviços nacionais de transfusão sangüínea de acordo com as normas e recomendações da OMS. Contudo, alguns poucos países desenvolveram normas e políticas nacionais sobre o uso clínico do sangue, ou proporcionaram uma educação e treinamento sistemático sobre o uso clínico do sangue e de produtos sangüíneos. Em 1998, a OMS publicou as Recomendações sobre o Desenvolvimento de Normas e Política Nacional sobre a Utilização Clínica do Sangue. Este documento foi elaborado para auxiliar os Estados Membros no desenvolvimento e implementação de políticas e guias nacionais, assim como garantir uma colaboração ativa entre o serviço de transfusão sangüínea e os clínicos, através de cuidados aos pacientes que necessitem de transfusões. As Recomendações enfatizam a importância da educação e treinamento na utilização clínica do sangue para todos os clínicos e funcionários do banco de sangue envolvidos no processo transfusional. A equipe da OMS responsável pela Segurança da Transfusão Sangüínea (OMS/STS) desenvolveu um módulo de materiais de aprendizagem interativos, o Uso Clínico do Sangue, que pode ser utilizado em programas de graduação e pós-graduação, para treinamento nos próprios serviços, em programas de educação médica continuada, ou para estudos independentes por clínicos ou especialistas em transfusão sangüínea. O livro de bolso que acompanha o módulo foi elaborado como uma referência rápida para os clínicos que precisam tomar decisões urgentes sobre transfusão. O Uso Clínico do Sangue não foi elaborado para substituir livros textos convencionais, ou fornecer um texto definitivo sobre o uso clínico do sangue. Ao contrário, sua proposta é fornecer uma ferramenta acessível de ensino para aqueles que irão auxiliar os que prescrevem sangue a tomar decisões clínicas apropriadas sobre a transfusão, e contribuir para um maior esforço em minimizar o uso desnecessário do sangue e produtos sangüíneos. O módulo e o livro de bolso foram escritos por um grupo internacional de clínicos e especialistas em medicina transfusional e revistos por vários especialistas através do mundo. Também foram revistos pelos Departamentos de Saúde Reprodutiva e Pesquisa, Desenvolvimento da Saúde da Criança e Adolescente, Controle de Doenças Não-Comunicáveis (Genética Humana) e Malária. Apesar de tudo, a prática clínica transfusional deve ser, sempre que possível, baseada em normas nacionais. Portanto, tente adaptar as informações e guias contidos neste livro de bolso, de sorte a estar em conformidade com as normas nacionais e estabelecer procedimentos em seu próprio país. Dr Jean C. Emmanuel Dire ecnologia Clínica Direttor or,, Segurança do Sangue e TTecnologia Organização Mundial da Saúde Agradecimentos A Organização Mundial de Saúde reconhece com seus agradecimentos os vários clínicos e especialistas em medicina transfusional que contribuíram para o desenvolvimento destes materiais de aprendizado. Um agradecimento especial ao Dr. Silvano Wendel (Diretor Médico) e Dra. Sylvia Olyntho (Médica Assistente), do Banco de Sangue do Hospital Sírio Libanês, São Paulo, Brasil, pela tradução da versão em português. Diretor do Projeto Dr Jean Emmanuel Emmanuel, Diretor Segurança e Tecnologia Clínica do Sangue, Organização Mundial de Saúde Gerente do projeto or dhan ordhan dhan, Diretora, Open Learning Sra Jan FFor Associates, Londres, Reino Unido Editores clínicos Dr Jean Emmanuel Emmanuel, Diretor Segurança e Tecnologia Clínica do Sangue, Organização Mundial de Saúde Dr Brian McClelland McClelland, Diretor Regional, Serviço de Transfusão de Sangue da Escócia, Edimburgo e sudeste, Edimburgo, Reino Unido Dr Richar dP age Richard Page age, Consultor em Anestesia, Royal Cornwall Hospitals, Reino Unido Autores uta Anthonyy Chisak Chisakuta uta, Consultor em Anestesia, Dr Anthon Royal Belfast Hospital Real para Crianças de Belfast, Belfast, Reino Unido Dra Ev e Lackritz Eve Lackritz, Assistente da Chefia para Ciência, Ramo Internacional de Atividades, Divisão de Prevenção HIV/AIDS, Centro de Controle de Doenças e Prevenção, Atlanta, EUA Dr Brian McClelland McClelland, Diretor Regional, Serviço de Transfusão de Sangue da Escócia, Edimburgo e sudeste, Edimburgo, Reino Unido Dr Richar dP age Richard Page age, Consultor em Anestesia, Royal Cornwall Hospitals, Reino Unido Dr Henrik Ze tt er ström, Diretor Médico, Hospital Zett tter erström, Östersund, Östersund, Suécia Leitores críticos Dra Imelda Bat es, Consultora em Hematologia, Bates, Escola de Medicina Hospital St. George, Londres, Reino Unido Dr Sunil Bichile, Professor e Chefe, Departamento de Hematologia, Colégio Médico Nacional de Topiwala e Hospital de caridade BYL Nair, Bombaim, Índia Dr John Da vy Davy vy,, Cirurgião Plástico e Reconstrutivo, Harare, Zimbábue Dra Andoulla Elef theriou, Coordenadora Eleftheriou, Científica, Federação Internacional de Talassemia Dra Elizabe th Le tsky Elizabeth Letsky tsky,, Consultora em Hematologia Perinatal, Hospital Rainha Charlotte e Chelsea, Londres, Reino Unido Dr S. Mitchell Le wis, Departamento de Lewis, Hematologia, Escola Imperial de Medicina, Hospital Hammersmith, Londres, Reino Unido Dr Guy Le vy Levy vy,, Zentrallaboratorium, Berna, Suíça Dr Laurie Mar ks, Consultor em Anestesia, Harare, Marks, Zimbábue Dr St ephen Munjanja, Obstetra e Ginecologista, Stephen Harare, Zimbábue Pr of essor Greg P owell, Departamento de Pediatria Prof ofessor Po e Saúde Infantil, Escola de Medicina, Universidade de Zimbábue, Harare, Zimbábue Dra Maria de los Angeles R odriguez, Diretora do Rodriguez, Banco de Sangue, Hospital naval, Viña Del Mar, Chile Dr Grahan L. Sellar s, Obstetra e Ginecologista, Sellars, Harare, Zimbábue Participantes na Avaliação Regional Informal da OMS, Harare, Zimbábue, 11-12 de abril, 1997 Dr Henr ka, Departamento de Henryy W W.. Bukwir Bukwirk Anestesia, Escola Médica Makerere, Hospital Mulago, Kampala, Uganda Dra Meena Ne than Cherian, Professora, Nethan Departamento de Anestesia, Escola Médica e Hospital Cristão, Vellore, Índia Dr M. E. Chitiy o, Diretor Médico, Serviço Nacional Chitiyo, de Transfusão Sangüínea, Harare, Zimbábue Dr Alison M. Coutts, Presidente, Departamento de Hematologia, Escola de Medicina, Universidade de Zimbábue, Harare, Zimbábue Dr V asumati M. Div ek ar Vasumati Divek ekar ar,, Profesor de Anestesiologia, Escola Médica Patil, Bombaim, Índia Dr Michael B. Dobson, Consultor em Anestesia, Departamento de Anestesia Nuffield, Hospital John Radcliffe, Oxford, Reino Unido Pr of esor A Prof ofesor A.. Latif, Departamento de Medicina, Escola de Medicina, Universidade de Zimbábue, Harare, Zimbábue Dra Catherine Mauchaza, Pediatra , Escola de Medicina, Universidade de Harare, Zimbábue Dr K. Nathoo, Departamento de Pediatria, Escola de Medicina, Universidade de Zimbábue, Harare, Zimbábue Dr Dix on C. TTembo, embo, Anestesista, Hospital Kkana Dixon Mine, Kitwe, Zâmbia Participantes na Avaliação Inter-regional OMS, Limassol, Chipre, 8-11 de setembro, 1997 Dr An war Al-Khasa wneh, Consultor em Cirurgia Anw Al-Khasawneh, Geral e Chefe, Departamento de Cirurgia Geral, Hospital Al Bashair, Aman, Jordânia Dr Sunil Bichile, Professor e Chefe, Departamento de Hematologia, Colégio Médico Nacional de Topiwala e Hospital de Caridade BYL Nair, Bombaim, Índia Dra Meena Ne than Cherian, Professora, Nethan Departamento de Anestesia, Escola Médica e Hospital Cristão, Vellore, Índia Sra R osie Chimo Rosie Chimoyyo, Enfermeira em Anestesia, Hospital Malamulo, Makwasa, Malawi Dra Linda Ciu, Chefe, Clínica Neonatal, Hospital da Universidade de Tirana, Albânia Dr Michael B. Dobson, Consultor em Anestesia, Departamento de Anestesia Nuffield, Hospital John Radcliffe, Oxford, Reino Unido Dr P aul M. FFent ent on Paul enton on, Professor Associado, Departamento de Anestesia, Escola de Medicina, Blantyre, Malawi Dra V alentina Hafner Valentina Hafner, Diretora Científica, Instituto Nacional de Hematologia e Transfusão de Sangue, Ministério da Saúde, Bucareste, Romênia Dr Gabriel M. K alak outis, Chefe do Departamento Kalak alakoutis, de Obstetricia e Ginecología, Hospital Makarios, Nicósia, Chipre Dat o’ Dr Mahmud bin Mohd. Nor Dato’ Nor,, Chefe do Departamento de Cirurgia, Hospital Kuala Lumpur, Kuala Lumpur, Malásia Dr Matt J. Oliv er Oliver er,, Consultor em Cirurgia, Bulawayo, Zimbábue Sr Christ os TTapak apak oudes, Superintendente do Christos apakoudes, Laboratório Médico, Banco de Sangue, Hospital Geral de Nicósia, Nicósia, Chipre Introdução O Uso Clínico do Sangue forma parte de uma série de materiais de aprendizagem, desenvolvidos pela OMS/STS como suporte à sua estratégia global de segurança transfusional, conforme mencionado no Prefácio. Em 1994, a OMS publicou Sangue e Produtos Sangüíneos Seguros, um conjunto de materiais de aprendizado interativo, elaborado para toda a equipe dos serviços de transfusão de sangue, laboratórios de saúde pública e bancos de sangue hospitalares que sejam responsáveis pelo recrutamento e seleção de doadores de sangue, pela coleta, processamento e liberação de sangue para transfusão. Os materiais contêm quatro módulos: Módulo Introdutório: Normas e Princípios para uma Prática Transfusional Segura Módulo 1: Doação Segura de Sangue Módulo 2: Triagem para HIV e Outros Agentes Infecciosos Módulo 3: Sorologia dos Grupos Sangüíneos. Os módulos estão sendo utilizados em muitos países do mundo, tanto como fonte de referência em programas de treinamento durante ou previamente ao trabalho, assim como para programas de treinamento à distância. Em 1998, foi publicado pela OMS o guia: Estabelecendo um Programa de Treinamento à Distância na Segurança do Sangue: Um Guia para os Coordenadores de Programas, de sorte a fornecer um guia para os programas nacionais de sangue que queiram iniciar um programa de treinamento à distância na segurança do sangue, utilizando estes materiais. O Uso Clínico do Sangue O Uso Clínico do Sangue complementa os materiais de treinamento prévios produzidos pela OMS/BTS, ao se concentrar nos aspectos clínicos da transfusão de sangue. Objetiva mostrar como o sangue e os produtos sangüíneos podem ser utilizados apropriadamente em todos os níveis do sistema de saúde em qualquer país, sem comprometer os padrões de qualidade e segurança. 1 INTRODUÇÃO Um módulo de aprendizado elaborado para utilizar na educação e programas de treinamento, ou como um estudo independente por clínicos, individualmente, ou por especialistas em medicina transfusional. Um livro de bolso, para uso na prática clínica. O módulo O módulo fornece um guia abrangente sobre o uso do sangue e produtos sangüíneos, em particular, maneiras de se minimizar transfusões desnecessárias. Divide-se em três partes. Parte 1: Princípios, produtos e procedimentos A parte 1 fornece a base para as decisões clínicas sobre a transfusão, introduzindo os princípios do uso apropriado de sangue. Apresenta um breve guia à fisiologia normal e a fisiopatologia das perdas sangüíneas agudas e crônicas, e descreve as características de alternativas simples à transfusão (fluidos de reposição intravenosos). A seguir, mostra um guia detalhado sobre os procedimentos clínicos transfusionais que podem ser usados como base para o desenvolvimento de procedimentos operacionais padrão. Finalmente, delineia o reconhecimento e conduta das reações transfusionais agudas e tardias. Parte 2: Transfusão na prática clínica A parte 2 começa com um breve sumário dos fatores a se considerar quando se avaliar e confirmar a necessidade de uma transfusão. A seguir, concentra-se em seis áreas clínicas nas quais a transfusão pode ser necessária: Medicina geral Obstetrícia Pediatria e neonatologia Cirurgia e anestesia Cirurgia de urgência e trauma Queimaduras Parte 3: O uso apropriado de sangue – colocando em prática A parte 3 explora como um clínico ou um especialista em medicina transfusional pode dar uma contribuição prática, ao realizar o uso apropriado de sangue, tanto em seus hospitais, como de uma forma mais genérica e local. O livro de bolso O livro de bolso sumariza as informações principais do módulo, e fornece uma rápida referência quando se necessitar de uma decisão transfusional. É importante seguir as normas nacionais sobre o uso clínico de sangue, se estas forem diferentes em algum aspecto do guia contido no módulo e livro de bolso. Portanto, você pode achar útil adicionar suas próprias anotações sobre as normas nacionais, ou a sua própria experiência em prescrever sangue. 2 INTRODUÇÃO Utilização do módulo O módulo foi elaborado para aqueles que prescrevem sangue em todos os níveis do sistema de saúde, particularmente clínicos e paramédicos mais experientes no nível primário de saúde (hospitais distritais) dos países em desenvolvimento, incluindo: Especialistas clínicos Especialistas em medicina transfusional Médicos distritais Clínicos gerais que trabalhem isoladamente Médicos pós-graduados Jovens médicos Estudantes de medicina Paramédicos experientes, tais como enfermeiras em anestesiologia. Também fornece uma fonte útil para o treinamento em escolas médicas, hospitais de ensino universitários, escolas de enfermagem ou programas de educação continuada. Objetivos O objetivo do módulo é ajudá-lo a: 1 Atualizar o seu conhecimento e compreensão sobre sangue, produtos sangüíneos e alternativas à transfusão sangüínea. 2 Avaliar sua própria prática clínica em relação ao uso de sangue e seus produtos. 3 Minimizar transfusões desnecessárias, através do uso clínico apropriado de sangue e seus produtos. 4 Avaliar a disponibilidade atual e a utilização de sangue, produtos sangüíneos e alternativas à transfusão de sangue no hospital em que trabalhe. 5 Identificar maneiras de melhorar os sistemas e procedimentos para o uso de sangue e seus produtos em seu próprio hospital. 6 Planejar modos de implementar qualquer melhoria que você tenha identificado como sendo necessária tanto em sua prática diária, como sob uma forma mais generalizada. 7 Contribuir para a promoção de estratégias para a prevenção e tratamento das condições que levem a anemias, de sorte a reduzir a necessidade de transfusão de sangue. Pontos chave Cada seção começa com uma lista de pontos importantes a serem lembrados ao se fazer uma decisão clínica sobre o uso de sangue e seus produtos. Expectativa de aprendizado Ao início de cada seção, existe uma lista de expectativa de aprendizado. Estas delineiam o que você deve saber ao terminar a seção. Fornecem um guia para o seu aprendizado, e ajudam-no a revisar o seu próprio progresso. 3 INTRODUÇÃO Atividades À medida que você estiver fazendo o seu trabalho em cada seção, será solicitado a completar uma série de atividades que foram elaboradas para ajudá-lo a aplicar os princípios do uso apropriado de sangue em seu próprio ambiente clínico. Algumas atividades utilizam uma estratégia de estudo de caso para fortalecer a sua própria tomada de decisão. Utilize estas atividades como base para a discussão com os membros da sua equipe clínica, talvez como ponto de partida para o desenvolvimento de normas locais sobre a prática clínica transfusional, assim como uma oportunidade de ensino. Outras atividades sugerem que você avalie diferentes aspectos do uso clínico do sangue em seu hospital, e considere como as abordagens e procedimentos possam ser modificados ou melhorados, de sorte a minimizar as transfusões desnecessárias. Como as atividades concentramse diretamente em sua própria atividade clínica,as suas respostas serão largamente determinadas pelas suas condições e necessidades locais. Utilize-as como base para discussão com os seus colegas sobre as medidas que sejam necessárias em seu hospital para melhorar o uso apropriado de sangue, incluindo o uso de simples alternativas a transfusões, sempre que possível. A seção final, Seção 15: Fazendo acontecer: O que posso fazer? Desenha todo o seu trabalho nas atividades. Fornece um guia sobre a condução da revisão sobre os registros pertinentes à transfusão, e propõe um trabalho dirigido para o estabelecimento de um comitê de auditoria transfusional hospitalar, e ao desenvolvimento de normas sobre a prática transfusional clínica, se ainda não forem existentes. A medida que você estiver trabalhando cada módulo, achará útil fazer anotações sobre o seu trabalho nas atividades,e utilizá-las para iniciar um plano de ação para o uso apropriado de sangue em seu hospital. A base de evidências para a prática clínica A Utilização Clínica do Sangue foi preparada por um grupo internacional de clínicos e especialistas em medicina transfusional, tendo sido extensivamente revisto por departamentos da OMS ou por leitores criteriosos pertencentes a uma série de disciplinas clínicas de todas as seis regiões da OMS. Também foi avaliada em duas reuniões de trabalho inter-regionais, ocorridas em Zimbábue, abril de 1997 e Chipre, em setembro de 1997. O conteúdo reflete o conhecimento e experiência dos contribuintes e revisores. Todavia, como a evidência para uma prática clínica efetiva evolui constantemente, nós o encorajamos a consultar fontes atualizadas de informações, tais como a Biblioteca Cochrane, o banco de dados da Biblioteca Nacional de Medicina e a Biblioteca da Saúde Reprodutiva da OMS. A OMS estará agradecida se receber comentários e sugestões concernentes aos materiais e experiências obtidas com os seus usuários. Isto será de considerável valor no preparo de qualquer futura edição. 4 INTRODUÇÃO Bibliot eca Coc hr ane Biblioteca Cochr hrane ane. Revisões sistemáticas dos efeitos das intervenções em saúde, disponíveis em disquete, CD-ROM ou via Internet. Existem centros Cochrane na África, Ásia, Australásia, Europa, América do Norte e América do Sul. Para informações, contacte: UK Cochrane Centre, NHS Research and Development Programme, Summertown Pavillion, Middle Way, Oxford OX2 7LG, UK. Tel: +44 1865 516300. Fax +44 1865 516311. www.cochrane.org Bibliot eca Nacional de Medicina Biblioteca Medicina. Uma biblioteca on-line, incluindo Medline, a qual contém referências e resumos de 4300 jornais biomédicos e Ensaios Clínicos (Clinical Trials), que fornecem informações sobre estudos de pesquisa clínica. Biblioteca Nacional de Medicina, 8600 Rockville Pike, Bethesda, MD 20894, USA. www.nlm.nih.gov Bibliot eca da Saúde R epr odutiv Biblioteca Repr eprodutiv odutivaa da OMS OMS. Um jornal eletrônico de revisões concentrando-se nas soluções baseadas em evidências de problemas da saúde reprodutiva em países em desenvolvimento. Disponível em CD-ROM pelo Departamento de Saúde Reprodutiva e Pesquisa, Organização Mundial de Saúde, 1211 Genebra 27, Suíça. www.who.int 5 Par te 1 arte Princípios, produtos e procedimentos 1 Uso apropriado do sangue e produtos sangüineos PONTOS CHAVE 1 O uso adequado do sangue e de seus pr odut os (com ponentes) signif ica a produt odutos (componentes) significa tr ansfusão de pr odut os sangüíneos segur os utilizados somente par a produt odutos seguros para transfusão tr at ament icativ a morbidade e mor trat atament amentoo de doenças com signif significativ icativa morttalidade que não podem ser ef etiv amente tr at adas de outr a fforma. orma. efetiv etivamente trat atadas outra 2 A tr ansfusão acarret a risco de reações adver acarreta adversas infecções transfusão sas e inf ecções ansmissíveis por sangue. O plasma pode tr ansmitir a maioria das tr transmissíveis transmitir inf ecções presentes no sangue ttot ot al, e há poucas indicações par a a sua infecções otal, para tr ansfusão. transfusão. 3 A doação sangüínea realizada por doadores de reposição ou familiar le levva a um maior risco de inf ecções tr ansmissíveis pela tr ansfusão do que o infecções transmissíveis transfusão sangue colhido de doadores voluntários não remuner ados. Doadores remunerados. remuner ados ger almente possuem uma maior pre remunerados geralmente prevvalência e incidência de inf ecções tr ansmissíveis pela tr ansfusão. infecções transmissíveis transfusão. 4 O sangue não de ve ser tr ansfundido, a menos que seja obtido de doadores deve transfundido, selecionados adequadamente, eexxaminado par a inf ecções tr ansmissíveis para infecções transmissíveis por tr ansfusões, e com patibilizado entre as hemácias do doador e os transfusões, compatibilizado anticor pos do plasma do recept or do com as normas nacionais. anticorpos receptor or,, de acor acordo 5 A necessidade de tr ansfusão pode ser eevit vit ada por transfusão vitada por:: venção, diagnós tico precoce e tr at ament Pre Prevenção, diagnóstico trat atament amentoo da anemia e das condições que causem anemia. ados de fferr err Correção da anemia e a reposição dos es esttoques deplet depletados erroo antes de uma cirur gia eletiv a. cirurgia eletiva. as sim ples à tr ansfusão, ttais ais como ffluidos luidos de O uso de alternativ alternativas simples transfusão, reposição intr avenosos, que são mais segur os, menos car os e podem intra seguros, caros ser igualmente ef etivos. efetivos. tesia e manejo cirúr gico. Boa anes anestesia cirúrgico. 9 SEÇÃO 1 Introdução A transfusão sangüínea pode ser uma intervenção que salva vidas. No entanto, como a maioria dos tratamentos, pode provocar complicações agudas e tardias, e traz o risco de infecções transmissíveis pela transfusão, incluindo HIV, vírus da hepatite, sífilis, malária e doença de Chagas. A transmissão de agentes infecciosas por sangue ou produtos sangüíneos é um foco de atenção particular ao risco transfusional. A segurança e a eficácia da transfusão depende de dois fatores principais: Um aporte de sangue e componentes sangüíneos seguro, acessível a um custo razoável, e adequado às necessidades nacionais. O uso clínico apropriado do sangue e dos componentes sangüíneos. Isto pode ser realizado através de um trabalho cooperativo entre os serviços de transfusão sangüínea e os clínicos que trabalham em cooperação com a gestão dos componentes do processo transfusional pelo qual são responsáveis. A seção 1 explora as causas do freqüente uso desnecessário do sangue, os riscos potenciais associados à transfusão e os fatores que determinam quando o uso apropriado do sangue é possível. Objetivos do estudo Quando completar esta seção, você deverá estar apto a: 1 Explicar os riscos potenciais associados à transfusão. 2 Avaliar a segurança dos estoques sangüíneos disponíveis em seu hospital. 3 Identificar os pré-requisitos para o uso clínico apropriado do sangue. 4 Identificar maneiras de minimizar as necessidades transfusionais. 10 USO APROPRIADO DO SANGUE 1.1 Transfusões apropriadas e inapropriadas Neste módulo, o uso apropriado de sangue e produtos sangüíneos é definido como: “A transfusão de produtos sangüíneos seguros para tratar uma condição que leve a uma significativa morbidade ou mortalidade, e que não possa ser prevenida ou conduzida efetivamente de outra maneira.” Se utilizada adequadamente, a transfusão sangüínea pode salvar vidas e melhorar a saúde. No entanto, análises de diversas regiões do mundo indicam considerável variação nos padrões do uso clínico do sangue entre diferentes hospitais, diferentes especialidades clínicas e até mesmo diferentes clínicos de uma mesma equipe. Isto sugere que, freqüentemente, o sangue e os produtos sangüíneos sejam utilizados inadequadamente. Como todos os tratamentos, a transfusão traz um risco potencial para o receptor, sendo freqüentemente desnecessária pelas seguintes razões: 1 A necessidade transfusional pode ser muitas vezes evitada ou minimizada pela prevenção ou diagnóstico precoce e tratamento da anemia e condições que causem anemia. 2 O sangue é freqüentemente administrado desnecessariamente para elevar o nível de hemoglobina do paciente antes de uma cirurgia, ou para uma alta mais precoce. Raramente há razões válidas para este tipo de transfusão. 3 A transfusão de sangue total, hemácias ou plasma geralmente é administrada quando outros tratamentos, como a infusão de solução salina ou outras soluções de reposição, podem ser mais seguras, menos cara e igualmente efetivas para o tratamento de perda aguda sangüínea. 4 As necessidades transfusionais de um paciente podem geralmente ser minimizadas por uma boa anestesia e uma conduta cirúrgica adequada. 5 Se o sangue for administrado a quem não o necessita, o paciente não recebe nenhum benefício, além de ficar exposto a riscos desnecessários. 6 O sangue é um recurso caro e raro. Transfusões desnecessárias podem causar uma diminuição dos estoques de produtos sangüíneos para pacientes com real necessidade. Os riscos da transfusão Em algumas situações clínicas, a transfusão pode ser a única maneira de salvar vidas e rapidamente melhorar uma condição grave. No entanto, antes de prescrever o sangue ou produtos sangüíneos para um paciente, é essencial pesar os riscos e benefícios da transfusão. 11 SEÇÃO 1 Transfusão de glóbulos vermelhos 1 A transfusão de glóbulos vermelhos acarreta risco de sérias reações hemolíticas transfusionais. 2 Os produtos sangüíneos podem transmitir agentes infecciosos, inclusive HIV, hepatite B, hepatite C, sífilis, malária e doença de Chagas para o receptor. 3 Qualquer componente sangüíneo pode estar contaminado com bactérias, e se torna mais perigoso se processado ou armazenado incorretamente. Transfusão de plasma 1 O plasma pode transmitir a maioria das infecções presentes no sangue total. 2 O plasma também pode causar reações transfusionais. 3 Há poucas indicações clínicas determinadas para a transfusão de plasma. Os riscos geralmente superam qualquer benefício possível para o paciente. 1.2 Segurança do sangue Os riscos associados à transfusão sangüínea dependem dos seguintes fatores: 1 Incidência e prevalência de infecções transmissíveis por transfusão na população doadora de sangue. 2 Eficácia do programa de educação, recrutamento de doadores de sangue, e os procedimentos para seleção e exame do doador, incluindo a rejeição ou exclusão dos doadores inadequados. 3 A qualidade do exame sorológico para infecções transmissíveis por transfusão de todo o sangue doado. 4 A qualidade dos exames para os grupos sangüíneos, testes de compatibilidade, preparação, armazenamento e transporte dos produtos sangüíneos. 5 A proporção pela qual os produtos sangüíneos são prescritos somente quando não houver alternativas a este procedimento para um determinado paciente. 6 A segurança do sistema em garantir que o paciente receba sangue que seja compatível com seu grupo sangüíneo, anticorpos eritrocitários e outros requerimentos especiais. A qualidade e a segurança de todo sangue e componentes sangüíneos deve estar assegurada, desde o processo de seleção de doadores, até a administração do produto ao paciente. Isto requer um organizado programa de doação sangüínea regular por doadores voluntários não remunerados, a análise e o processamento do sangue doado por funcionários treinados de acordo com os padrões nacionais, e o uso apropriado de sangue. Isto requer: 12 USO APROPRIADO DO SANGUE 1 Padrões e especificações nacionais para os produtos sangüíneos, e um sistema de boas práticas de manufatura para garantir que estes padrões sejam mantidos a todo o momento. 2 O desenvolvimento e uso correto dos procedimentos operacionais padrão. 3 O treinamento dos médicos e da equipe do serviço de medicina transfusional, para desenvolver e manter conhecimento e capacidade específicos. 4 Monitorar e avaliar se os procedimentos corretos estão sendo utilizados por toda a equipe a qualquer instante. 5 Um sistema efetivo e independente de inspeção e acreditação da coleta, processamento e distribuição dos produtos sangüíneos. Qualquer que seja o sistema local utilizado para coleta, análise e processamento do sangue, os médicos devem estar familiarizados e compreenderem as limitações que possam afetar a segurança ou disponibilidade do sangue. Doadores de sangue A resolução 28.72 da Assembléia Mundial da Saúde estabeleceu o princípio que a doação de sangue deve ser voluntária e não remunerada (não paga). Esta política tem sido adotada por muitos países para a coleta de sangue total. Em alguns países, no entanto, a oferta de plasma para as indústrias de derivados de plasma ainda é baseado em programas comerciais, nos quais os indivíduos recebem pagamento para a coleta regular de plasma por plasmaférese. Um sistema de doação voluntária não remunerada de sangue e plasma é mais seguro, porque a incidência e a prevalência de infecções transmissíveis por transfusão nestes doadores é invariavelmente mais baixa do que entre os doadores de reposição, familiares e pagos. Este sistema também deve permitir que os processos de educação e seleção de doadores encorajem a auto-exclusão dos doadores não adequados. Este é um procedimento com o melhor custo-benefício a ser realizado onde houver recursos limitados, pois poucas unidades de sangue devem ser descartadas após a análise sorológica devido a evidências de marcadores para doenças infecciosas. doadores voluntários não remuner ados remunerados ados: Doador que doa sangue de livre e espontânea vontade, sem receber dinheiro ou outra forma de pagamento. Doadores voluntários não remunerados Doadores voluntários não remunerados são aqueles que doaram seu sangue por livre vontade e não receberam dinheiro ou outro pagamento que possa ser considerado substituto do dinheiro. Sua motivação principal é ajudar receptores desconhecidos, não obtendo qualquer benefício pessoal. As principais razões para promover a doação voluntária regular não remunerada são: 1. Doadores voluntários não remunerados possuem menor incidência e prevalência de infecções transmissíveis pelo sangue 13 SEÇÃO 1 que os doadores de reposição ou doadores remunerados. Eles não possuem incentivo financeiro para omitir informações (tais como comportamento sexual de risco ou história de uso de drogas injetáveis) que possam levar à exposição a infecções transmissíveis pela transfusão. 2 Doadores voluntários não remunerados estão mais predispostos a doarem regularmente, fato importante para a manutenção de estoques de sangue adequados e seguros. 3 Os doadores voluntários regulares não remunerados possuem prevalência e incidência de infecções transmissíveis pelo sangue mais baixas que os doadores de primeira vez ou ocasionais. 4 Doadores regulares não são motivados financeiramente a doar freqüentemente, e com isso, não apresentam risco de anemia devido à depleção de seus estoques de ferro. 5 Doadores regulares são mais responsivos a apelos de doações em emergências, devido ao seu comprometimento anterior com a doação voluntária de sangue. O módulo 1: Doação Segura de Sangue nos materiais de aprendizagem da OMS, Sangue e Produtos Sangüíneos Seguros, descreve como desenvolver um sistema de doação voluntária não remunerada de sangue. doador de reposição reposição: Doador que doa quando requisitado por um membro da família ou pela comunidade. Pode envolver um sistema de pagamento, no qual a família paga ao doador. Doadores de reposição ou familiares Na ausência de um programa nacional bem organizado de doação voluntária de sangue, muitos países utilizam familiares e amigos de pacientes como doadores de reposição para reporem as unidades em estoque utilizadas nestes pacientes. No entanto, pesquisas realizadas em diversos países indicam que o sangue colhido de doadores de reposição ou familiar é considerado inadequado mais freqüentemente do que os doadores voluntários não remunerados, apresentando risco potencial à segurança da oferta de sangue. A confiança em doadores familiares ou de reposição possui as seguintes desvantagens: 1 Familiares do paciente estão sob pressão para doar sangue, e podem omitir informações potencialmente importantes sobre seu estado de saúde, particularmente quanto ao risco de transmitir doenças infecciosas. 2 Familiares que não possam encontrar doadores em boas condições, ou que estejam motivados a doar podem procurar doadores de reposição que doem seu sangue em troca de pagamento. Doadores que são pagos pela família do paciente são menos propensos a revelar qualquer razão que possa torná-los inaptos à doação. 14 USO APROPRIADO DO SANGUE 3 Pode haver pressão para transfundir o sangue doado pelos doadores de reposição, mesmo que a transfusão seja clinicamente desnecessária, pois a família pode acreditar que este sangue deve ser usado somente em seu parente. 4 Num sistema de doação sangüínea de reposição, o sangue administrado aos pacientes não é reposto necessariamente com o mesmo tipo ou na mesma quantidade. Como resultado, as necessidades de sangue da comunidade podem não ser supridas adequadamente. Quando são utilizados doadores de reposição ou familiares, é essencial que os seguintes procedimentos de seleção e análise do doador sejam mantidos. 1 Todos os doadores devem ser testados antes da doação, para garantir que se encontram dentro do critério nacional de doadores de baixo risco. 2 Os doadores devem ser informados que seu sangue será usado para repor o estoque do banco de sangue, e não será somente administrado em seu parente ou conhecido. 3 Os procedimentos corretos de seleção e análise dos doadores, mesmo os familiares, devem estar sob estrito controle da equipe do serviço de transfusão sangüínea. doadores pr of issionais prof ofissionais ou pagos pagos: Doam em troca de dinheiro ou outra forma de pagamento. Doadores profissionais ou pagos Doadores profissionais ou pagos recebem dinheiro ou outras recompensas (que podem ser trocadas por dinheiro) para a doação de sangue. Eles geralmente estão mais motivados pelo dinheiro que irão receber, do que pelo desejo de ajudar os outros. Freqüentemente doam sangue com regularidade, e algumas vezes possuem contrato com o banco de sangue para fornecerem sangue conforme um pagamento acordado. Alternativamente, podem vender seu sangue para mais de um banco de sangue, ou abordarem parentes de pacientes e tentarem vender seus serviços como doadores de reposição. Doadores remunerados apresentam um maior risco para a segurança do estoque de sangue pelas seguintes razões: 1 Doadores remunerados debilitam o sistema de doação voluntária não remunerada, que é a base da oferta de sangue seguro. 2 Geralmente são encontradas maiores taxas de incidência e de prevalência de infecções transmissíveis pela transfusão em doadores pagos. 3 São freqüentemente subnutridos, em péssimo estado de saúde, e podem doar seu sangue em intervalos menores que os recomendados. Isto pode ocasionar efeitos nocivos à sua própria saúde, assim como um maior risco aos receptores deste sangue, além de fornecerem pouco ou nenhum benefício. 15 SEÇÃO 1 4 Se os doadores são pagos, geralmente é necessário cobrar dos pacientes o sangue que eles receberam. Familiares com poucos recursos geralmente não são capazes de proporcionar o sangue que necessitam. 5 As bases éticas para os pagamentos individuais para doação de sangue (ou qualquer tecido ou órgão) são causas de discussão em diversos países. A obtenção comercial de sangue, plasma e órgãos freqüentemente leva a sérios abusos, e pode resultar em conseqüências adversas. Isto inclui a transmissão de infecções graves, tanto para o paciente, como para o próprio doador, devido a métodos impróprios de coleta. Ges tão com es ues limitados de sangue Gestão esttoq oques Quando há um estoque limitado de sangue, ou não é econômica a manutenção de um banco de sangue, pode haver uma séria pressão para diminuir os requisitos para fornecimento de sangue aos pacientes: por exemplo, os critérios corretos de seleção de doadores podem ser ignorados, ou os testes virológicos podem não ser realizados. Se isto ocorrer, você deve estar ciente que os riscos da transfusão aumentam, devendo-se ter responsabilidade sobre a decisão se uma transfusão e justificada clinicamente. Uma maneira de minimizar estes problemas é o banco de sangue hospitalar manter uma lista de doadores que possam ser contatados numa emergência, e que concordem ser testados regularmente, para que o seu sangue seja mais seguro quando coletado e utilizado numa emergência. Testes rápidos de triagem são desejáveis para a análise do sangue doado neste tipo de situação. Nos casos de inevitável atraso na liberação do sangue, a infusão de fluidos de reposição, alguma forma de transfusão autóloga, ou o salvamento intra-operatório (ver seção 12: Cirurgia & Anestesia) pode ser utilizado. inf ecção tr ansmissível infecção transmissível por tr ansfusão transfusão ansfusão: Uma infecção que pode ser transmitida por transfusão sangüínea. inf ecção tr ansmitida por infecção transmitida tr ansfusão transfusão ansfusão: Uma infecção que tenha sido transmitida por transfusão sangüínea. incidência incidência: A proporção de uma população definida que foi infectada por um determinado agente num determinado período. 16 Triagem para infecções transmissíveis por transfusão Os seguintes agentes infecciosos são transmissíveis pela transfusão sangüínea: Vírus da Imunodeficiência Humana Adquirida (HIV) Hepatite B Hepatite C Sífilis Doença de Chagas Malária Todo médico, ao prescrever sangue, deve estar consciente da ocorrência, distribuição e crescimento das infecções transmissíveis por transfusão, de forma a pesar riscos e benefícios desta prescrição. Novas infecções são chamadas “infecções emergentes”. O termo incidência descreve a freqüência de novas infecções numa população definida durante um determinado período de tempo. USO pre prevvalência alência: A proporção de uma população definida que foi infectada por um agente etiológico, sem delimitação de tempo. janela imunológica imunológica: O período de tempo entre a infecção e o desenvolvimento de um marcador laboratorial. APROPRIADO DO SANGUE O termo pre prevvalência descreve a proporção da população que em algum momento demonstrou evidência de infecção. A prevalência de um agente infeccioso, como o HIV, pode nos mostrar o que já aconteceu. Já a incidência nos mostra o que está acontecendo agora. A janela imunológica é o período durante o desenvolvimento de uma nova infecção numa pessoa previamente não infectada, no qual o sangue da pessoa pode ser infectante, porém não possui marcadores detectáveis. A probabilidade de infecção em período de janela imunológica é muito alta em populações com alta prevalência da infecção. No entanto, a prevalência de uma população pode ser baixa, pelo menos por um tempo, pois os indivíduos em risco ainda não foram expostos à infecção. Indivíduos expostos à infecção freqüentemente se tornam imunes ou resistentes a uma re-infecção pelo mesmo organismo. No entanto, diversas infecções como a hepatite B e C permanecem presentes no sangue; isto é considerado como um estado de portador crônico. O sangue dos portadores crônicos de hepatite B e C pode transmitir infecção aos seus receptores. O controle de qualidade e emprego de boas práticas de manufatura são essenciais para todas as áreas de triagem do sangue. 1 Cada unidade de sangue doado deve ser testada para infecções transmissíveis por transfusão usando-se os métodos mais efetivos e apropriados, de acordo com as políticas nacionais e a prevalência das infecções na população potencialmente doadora. 2 Todo sangue doado deve ser testado para: Anticorpos para HIV-1 e HIV-2 (anti-HIV-1, anti-HIV-2) Antígeno de superfície da Hepatite B (HBsAg) Anticorpo anti-treponêmico (sífilis) 3 Quando possível, todo sangue doado deve ser testado para: Hepatite C Doença de Chagas: em países onde seja comum Malária: em países de baixa prevalência quando os doadores viajaram para áreas endêmicas. 4 Nenhum sangue, nem produto sangüíneo, deve ser liberado até que todos os testes exigidos pelos padrões nacionais se mostrem negativos. A não ser em situações críticas de risco de vida, o sangue não de ve ser liber ado deve liberado a tr ansfusão, a não ser que tenha sido obtido de doadores selecionados para transfusão, par corret amente, e tes a inf ecções tr ansmissíveis por tr ansfusão, de corretamente, testtado par para infecções transmissíveis transfusão, acor do com as normas nacionais. acordo 17 SEÇÃO 1 O módulo 2: Triagem Para HIV e Outros Agentes Infecciosos na série de materiais de aprendizagem da OMS, Sangue e Produtos Sangüíneos Seguros, descreve como desenvolver um efetivo programa de triagem de infecções transmissíveis por transfusão. Grupo sangüíneo e testes de compatibilidade Cada hospital deve possuir procedimentos operacionais padrão para garantir que os componentes sangüíneos que serão transfundidos sejam compatíveis com as hemácias e os anticorpos séricos do receptor. Os testes para compatibilidade sangüínea e classificação de grupos sangüíneos estão descritos em detalhes no Módulo 3: Sorologia de Grupos Sangüíneos na série de materiais de aprendizagem da OMS, Sangue e Produtos Sangüíneos Seguros. ATIVIDADE 1 O objetivo da primeira atividade é ajudá-lo a avaliar a segurança dos produtos sangüíneos disponíveis para transfusão em seu hospital, e pesar riscos e benefícios para cada paciente. Converse com a equipe do banco de sangue para conseguir informações para as seguintes questões. 1 Pre es inf ecciosos Prevvalência de agent agentes infecciosos Qual é a prevalência de HIV, Hepatite B, Hepatite C, sífilis e qualquer outra infecção transmissível por transfusão que possua importância em seu país nas seguintes populações: População doadora de sangue População geral da mesma distribuição etária? 2 Tipos de doador de sangue Qual porcentagem do sangue fornecido ao seu hospital doado por: Doadores voluntários não remunerados Doadores de reposição ou familiares Doadores remunerados? 3 Triagem para inf ecções transmissív eis por transfusão infecções transmissíveis Quão efetivo são os procedimentos para triagem do sangue fornecido ao seu hospital? Quais testes para marcadores de doenças infecciosas que são realizados no sangue fornecido ao seu hospital, ou colhido pelo banco de sangue do hospital? Estes testes são sempre realizados? Há algum fator que possa afetar a efetividade da triagem para agentes infecciosos, tais como estoques inadequados ou irregulares de kits ou condições ruins de armazenamento ? 4 Tes patibilidade estte de com compatibilidade O sangue é testado rotineiramente para compatibilidade antes da transfusão? 18 USO APROPRIADO DO SANGUE 5 Outr os fat ores q ue influenciam a segurança dos es ues sangüíneos Outros fatores que esttoq oques Há um estoque adequado de produtos estéreis, como seringas, agulhas, e soluções intravenosas? Há instalações para o descarte seguro por incineração para prevenir o roubo e reutilização? A seção 6: Procedimentos Clínicos Transfusionais aborda diversos aspectos da segurança sangüínea em maiores detalhes. A seção 7: Efeitos Adversos da Transfusão concentra-se nas complicações agudas e tardias de uma transfusão, incluindo as infecções transmissíveis por sangue. Sangue total e componentes sangüíneos A maioria das necessidades tr ansfusionais em situações de risco à vida pode transfusionais ser at endida de fforma orma segur ot al. atendida seguraa e ef efeetiv tivaa pelo sangue ttot otal. O abastecimento de um estoque de sangue e componentes sangüíneos seguros para transfusão é oneroso. A produção de sangue total envolve um significativo gasto de capital nos processos laboratoriais e de refrigeração das unidades. Além disso, há gastos periódicos, particularmente com o treinamento da equipe e insumos necessários, como as bolsas plásticas para coleta de sangue e reagentes. O Custo dos Serviços de Transfusão Sangüínea (OMS 1998) fornece um guia passo-a-passo para analisar os custos de um serviço de transfusão sangüínea. O processo de separar os componentes sangüíneos a partir do sangue total, e a coleta de plasma ou plaquetas por aférese são ainda mais caros que o sangue total. A produção de derivados de plasma envolve grande investimento financeiro e gastos recorrentes. A produção de componentes sangüíneos, e a disponibilidade de derivados de plasma possibilitam um amplo espectro de terapias a um maior número de pacientes, sendo geralmente mais custo-efetivas. No entanto, é importante lembrar que onde os recursos são limitados, o uso de sangue total pode ser mais custo-efetivo. 1.3 Pré-requisitos para o uso clínico apropriado do sangue A transfusão sempre acarreta um risco potencial para o receptor, mas este pode ser minimizado pelo uso apropriado do sangue. A decisão de transfundir sangue ou componentes sangüíneos sempre deve ser baseada numa análise cuidadosa das indicações clínicas e laboratoriais que demonstrem a necessidade da transfusão sangüínea. No entanto, apesar de que a responsabilidade final desta decisão deva recair sobre 19 SEÇÃO 1 quem prescreve o sangue, o uso apropriado de sangue e produtos sangüíneos não pode ser isolado de outros elementos do sistema de saúde. Somente pode ser possível como parte de uma estratégia integrada em que existam os seguintes elementos: 1 Uma política nacional do uso clínico do sangue, com apropriadas estratégias reguladoras. 2 Um comprometimento das autoridades sanitárias responsáveis pelos serviços prestadores de saúde, assim como aos clínicos na prevenção, diagnóstico precoce e tratamento efetivo das condições que possam levar à necessidade de transfusão sangüínea, ao fortalecerem estratégias de saúde pública e programas de atenção primária de saúde. 3 Um serviço coordenador nacional das transfusões de sangue, que seja capaz de fornecer estoques seguros, adequados e rápidos de sangue e componentes sangüíneos. 4 A promoção e disponibilização de: Alternativas simples a transfusões: soluções intravenosas (cristalóides e colóides) para correção de hipovolemia Cuidados médicos e farmacêuticos para diminuir as necessidades transfusionais Materiais estéreis disponíveis para coleta de amostras, injeções e infusões. 5 Manuais nacionais do uso clínico do sangue para auxiliar os médicos que prescrevam sangue em suas decisões clínicas sobre transfusão. Estes devem incluir em seu conteúdo: Pedido de requisição de sangue padronizado Esquema de liberação de sangue Procedimentos operacionais padrão para todas as etapas da clínica transfusional Informações sobre características específicas de produtos sangüíneos, derivados de plasma, soluções intravenosas e medicamentos. Indicações clínicas e laboratoriais de transfusão 6 Um comitê nacional para uso clínico de sangue 7 Um comitê transfusional hospitalar em cada serviço que utilizar sangue ou produtos sangüíneos. 8 Educação e treinamento no uso clínico efetivo de sangue e produtos sangüíneos para todos os clínicos e a equipe do banco de sangue envolvida no processo de uma transfusão. 9 Prática transfusional clínica de acordo com os manuais nacionais do uso clínico do sangue. 10 Monitorização e avaliação do uso clínico do sangue. 20 USO APROPRIADO DO SANGUE ATIVIDADE 2 O que está faltando para o uso clínico apropriado de sangue e produtos sangüíneos em seu serviço? Associe aos elementos descritos acima. Estes estão presentes em seu município ou estado? Identifique os elementos que estão faltando. 1.4 Princípios da prática clínica transfusional A transfusão é somente uma parte do tratamento de um paciente. É importante lembrar que as necessidades transfusionais podem ser geralmente minimizadas pelas seguintes formas. 1 Prevenção, diagnóstico precoce e tratamento da anemia e das condições que causem anemia. Os níveis de hemoglobina do paciente podem ser freqüentemente elevados pela ingestão de ferro e vitaminas, sem a necessidade da transfusão. As transfusões de hemácias somente são necessárias em anemias crônicas, quando os efeitos estão graves a ponto de exigirem uma rápida elevação da hemoglobina. 2 A correção da anemia e dos estoques de ferro antes de uma cirurgia eletiva. 3 O uso de soluções cristalóides ou colóides nos casos de perda aguda sangüínea. 4 Uma boa anestesia e controle de sangramento cirúrgico, incluindo: Uso das melhores técnicas cirúrgicas e anestésicas para diminuir a perda de sangue durante o ato Interrupção do uso de anticoagulantes ou drogas antiagregantes plaquetárias antes de uma cirurgia eletiva, quando isto for possível Diminuição da coleta de amostras para uso laboratorial, principalmente em crianças Utilização de técnicas de recuperação de sangue autólogo intra-operatória Utilização de drogas alternativas, tais como a desmopressina, aprotinina e eritropoetina. A transfusão, quando pedida, não pode estar isolada dos outros cuidados do paciente. A figura 1.1 sumariza os pontos principais da prática clínica transfusional. ATIVIDADE 3 Há manuais locais ou nacionais da prática clínica transfusional em seu hospital? Se há, eles são utilizados nas suas decisões sobre prescrição de sangue? 21 SEÇÃO 1 Se não existem manuais, tente encontrar um que tenha sido desenvolvido em seu país, que possa ser utilizado ou adaptado ao seu serviço. Como um médico que prescreve sangue e produtos sangüíneos, você pode influenciar a maneira que estes são utilizados. As melhorias obtidas com a sua prática, e com a daqueles com quem você trabalha podem produzir efeito significativo na diminuição dos riscos transfusionais em seus pacientes. Figura 1.1; Princípios da prática clínica transfusional PONT OS PRINCIP AIS PONTOS PRINCIPAIS 1 A transfusão é somente parte do tratamento do paciente. 2 A prescrição deve ser baseada em manuais nacionais do uso clínico do sangue, levando-se em conta as necessidades individuais de cada paciente. 3 A perda de sangue deve ser minimizada para reduzir as necessidades transfusionais do paciente. 4 Paciente com perda aguda de sangue deve receber efetiva ressuscitação (fluidos de reposição intravenosos, oxigênio, etc.) enquanto a transfusão estiver sendo preparada. 5 O nível de hemoglobina do paciente, embora importante, não deve ser fator decisivo para se iniciar uma transfusão. Esta decisão deve ser embasada nos sinais clínicos e na prevenção de significante morbidade e mortalidade. 6 O clínico deve ser alertado sobre os riscos de infecções transmissíveis por transfusão dos hemocomponentes que estejam disponíveis. 7 A transfusão somente deve ser prescrita quando os benefícios para o paciente sobrepuserem os riscos. 8 O clínico deve registrar claramente a razão da prescrição da transfusão. 9 Uma pessoa treinada deve monitorar a transfusão do paciente para notar imediatamente se ocorrer qualquer reação adversa. Alguns fatores para garantir o adequado uso do sangue, tais como programas pré-natais efetivos e disponibilização de fluidos de reposição intravenosos, estarão em suas mãos. No entanto, este módulo foi desenhado para ajudá-lo a encontrar maneiras de melhorar o impacto transfusional em seus pacientes. Mesmo sendo pequena a sua contribuição, você pode fazer parte do processo de tornar possível o uso clínico adequado do sangue. 22 2 Sangue, o xigênio e oxigênio circulação Pontos chave 1 O sangue é composto por: Glóbulos vermelhos (hemácias), que contêm hemoglobina, cuja função primária é o armazenamento e transporte do oxigênio para os tecidos Glóbulos brancos, cujo principal papel é identificar, destruir e remover qualquer produto estranho que tenha penetrado no organismo Plaquetas, que atuam principalmente no mecanismo de coagulação sangüínea 2 Para garantir um constante aporte de oxigênio para os tecidos e órgãos do corpo, são necessárias quatro etapas importantes: Transferência de oxigênio dos pulmões para o plasma sangüíneo Armazenamento de oxigênio nas moléculas de hemoglobina dentro dos glóbulos vermelhos Transporte de oxigênio para os tecidos do corpo pela via circulatória Liberação do oxigênio do sangue para os tecidos, onde pode ser utilizado 3 A oferta total de sangue nos tecidos é dependente da: Concentração de hemoglobina Grau de saturação da hemoglobina com oxigênio Débito cardíaco 23 SEÇÃO 2 Introdução Esta seção ressalta certos aspectos da fisiologia circulatória e respiratória que apresentam uma ação direta na utilização clínica dos produtos sangüíneos. Somente com um conhecimento sólido dos princípios fisiológicos e mecanismos que controlam a saúde é que se pode tomar decisões no tratamento de doenças. A Seção 2 não pretende ser uma revisão completa da fisiologia, e é aconselhado complementar as informações aqui presentes com textos mais aprofundados. Contudo, fornecerá uma fonte de referência para os materiais discutidos em seções posteriores. Objetivos do estudo Quando completar esta seção, você deverá estar apto a: 1 Descrever como os diferentes fluidos do corpo estão organizados e distribuídos. 2 Explicar a composição e a função do sangue. 3 Descrever o processo envolvendo o papel do sangue na manutenção da oferta constante de oxigênio para os tecidos do corpo. 24 S A N G U E , OX I G Ê N I O E C I RC U L A Ç Ã O 2.1 Fluidos corporais e compartimentos Fluidos A água é o maior constituinte do corpo, e compreende aproximadamente 60% do peso corpóreo de um adulto, e mais ou menos 70-80% do peso de uma criança. O peso remanescente do corpo é constituído por proteínas, gorduras, açúcares e minerais, que estão distribuídos na água, formando os fluidos corpóreos. Compartimentos Os fluidos corpóreos estão contidos em dois compartimentos: Dentro das células, no fluido compartimental intracelular (ICF) Fora das células, no fluido compartimental extracelular (ECF) O fluido compartimental extracelular é subdividido em duas partes, que são: O plasma circulante que está confinado no sistema vascular e O fluido intersticial, que se encontra fora dos vasos sangüíneos e circunda as células Os diferentes fluidos compartimentais são separados por membranas formadas pelas paredes celulares, separando os fluidos intracelulares e intersticiais, ou as paredes capilares, separando o plasma dos fluidos intersticiais. As paredes especializadas de capilares da pele, intestinos, rins e pulmões também separam o plasma do ambiente externo do corpo. Veja a figura 2.1. Figura 2.1: Compartimentos dos fluidos corporais Ambient erno Ambientee ext externo Pele, pulmões, intestinos e rins Plasma sangüíneo ( 5% do peso corpóreo) Fluido extracelular Fluido int er inter erssticial ( 15% do peso corpóreo) Membrana da parede capilar Membrana celular Fluido intr acelular intracelular (40% do peso corpóreo) Movimento de fluidos Há consideráveis diferenças na composição dos fluidos de cada compartimento, como mostra a figura 2.2. No entanto, embora a composição de cada fluido seja rigorosamente mantida, há um contínuo movimento de grandes quantidades de água e outras substâncias entre os compartimentos. 25 SEÇÃO 2 Figura 2.2: Composição eletrolítica dos fluidos intra e extra- celulares Plasma mEq/L (mmol / L) Na+ Fluido intersticial mEq/L (mmol / L) Fluido intracelular mEq/L (mmol / L) 142 (142) 144 (144) 10 (10) K+ 4 (4) 4 (4) 160 (160) Ca 5 (2,5) 2,5 (1,25) 3 (1,5) 2 (1) 1 (0,5) 26 (13) 102 (102) 114 (114) 2 (2) 26 (26) 30 (30) 8 (8) PO4 2- 2 (1) 2 (1) 114 (57) SO4 2- 1 (0,5) 1 (0,5) 20 (10) Ácido orgânico 6 mmol/L 5 mmol/L 0 mmol/L 16 mmol/L 2 mmol/L 55 mmol/L 2+ Mg2+ ClHCO3 - Proteínas O tipo e a quantidade de substâncias que se movem entre os compartimentos depende da natureza da membrana que os separa, e as forças que estão aplicadas sobre as substâncias. Forças Há diversas forças produzindo movimento das substâncias através das membranas, por exemplo: 1 Difusão Difusão, na qual as substâncias passam de uma área de maior concentração para uma área de menor concentração. 2 Filtração Filtração, onde os fluidos são forçados através de uma membrana sob pressão. 3 Transpor o, onde certas substâncias são especificamente ransportte ativ ativo “bombeadas” pela membrana. 4 Osmose Osmose, o processo no qual há movimento livre das substâncias, tais como a água, que atravessam a membrana em direção onde houver maior concentração de moléculas cuja membrana seja impermeável. Estas moléculas são chamadas de “ativadoras osmóticas”. Nos fluidos corpóreos estão incluídos os eletrólitos sódio, potássio, cloretos e as proteínas. Há uma relativa concentração de partículas ativas osmoticamente no outro lado da membrana que influencia o movimento da água através de osmose. Composição O plasma e fluidos intersticiais possuem composição eletrolítica similar; os íons de cálcio e sódio são na maioria extracelular. No entanto, a composição protéica difere de forma marcante com o plasma, que contém maior quantidade de proteínas do que o fluido intersticial. Estas são conhecidas como proteínas plasmáticas. As proteínas plasmáticas são compostas por uma grande quantidade de moléculas, em que as membranas são normalmente impermeáveis, das quais a mais abundante é a albumina. 26 S A N G U E , OX I G Ê N I O E C I RC U L A Ç Ã O Os fluidos intracelulares também contêm altas concentrações de proteínas, mas diferem do plasma e do fluido intersticial pelo seu principal eletrólito, o potássio, como mostra a figura 2.2. Regulação O plasma contém mais proteínas osmoticamente ativas do que o fluido intersticial. Portanto, há uma maior tendência da água de se movimentar do plasma para o fluido intersticial. Isto é chamado de pressão oncótica. No entanto, devido à pressão sangüínea, há uma tendência da água percorrer o sentido contrário, do plasma para o fluido intersticial, causando filtração da água através da membrana. Isto é chamado de pressão hidrostática. O balanço entre duas forças opostas, pressão oncótica e hidrostática, determina o movimento final da água através da parede capilar, e, portanto, há uma grande influência no volume de plasma, como mostra a figura 2.3. Figura 2.3: Movimento de fluidos através da parede capilar A regulação do conteúdo e volume da água no compartimento intracelular é extremamente dependente das forças oncóticas, mas são, primariamente, o resultado da diferença de concentrações de sódio e potássio entre os fluidos intersticial e intracelular. Estas concentrações são ativamente controladas pela bomba sódio-potássio na membrana celular. 2.2 Sangue O sangue é composto por plasma, no qual as seguintes células especializadas estão suspensas (veja figura 2.4): Glóbulos vermelhos (eritrócitos) Glóbulos brancos (leucócitos) Plaquetas Todas as células sangüíneas desenvolvem-se a partir de células precursoras ou progenitoras, produzidas principalmente na medula óssea. O plasma contém proteínas, substâncias químicas, fatores de coagulação e diversas substâncias metabólicas. É capaz de coagular. 27 SEÇÃO 2 Figura 2.4: Composição do sangue Volume sangüíneo total O volume ocupado por células e plasma no sistema vascular é chamado volume sangüíneo total ou volemia. Num adulto, corresponde a aproximadamente 7% do peso corpóreo ou 70 ml/kg. Por exemplo, um homem de 60 kg possui volemia de 70 x 60, totalizando 4200 ml. Numa criança, devido ao maior peso de água, a volemia é calculada como sendo 8% do peso corpóreo ou 80 ml/kg. Num neonato, este volume é calculado como 85-90 ml/kg (veja a figura 2.5). Figura 2.5: Cálculo do volume sangüineo Faixa etária Neonatos Volume sangüíneo (volemia) 85-90 ml/kg Crianças 80 ml/kg Adultos 70 ml/kg ATIVIDADE 4 1 Calcular a volemia dos adultos nos seguintes pesos corpóreos: 40 kg 50 kg 60 kg 70 kg 80 kg 90 kg 100 kg 2 Repita estes cálculos para crianças com peso corpóreo variando de 10 kg a 40kg. Glóbulos Vermelhos Os glóbulos vermelhos (eritrócitos) são produzidos na medula óssea sob influência do hormônio renal eritropoetina. Depois da entrada na corrente sangüínea, possuem uma meia-vida de aproximadamente 120 dias antes de serem destruídos pelo sistema reticulo-endotelial. Os eritrócitos contêm um pigmento com ferro, a hemoglobina, cuja função principal é o armazenamento e transporte de oxigênio. 28 S A N G U E , OX I G Ê N I O E C I RC U L A Ç Ã O A molécula de hemoglobina é composta de quatro subunidades, cada uma com um anel contendo ferro circundando a cadeia peptídica. A molécula de hemoglobina possui quatro cadeias de peptídeos dispostas em dois pares, como mostra a figura 2.6. Figura 2.6: Molécula normal de hemoglobina (HbA) Na hemoglobina de um adulto normal (HbA), duas dessas cadeias são do tipo alfa e duas são do tipo beta. Cada subunidade da hemoglobina pode se ligar de forma reversível com uma molécula de oxigênio. Desta maneira, cada molécula de hemoglobina pode se combinar no máximo com quatro moléculas de oxigênio. A hemoglobina geralmente é medida em gramas por decilitro (g/dl) ou gramas por litro (g/L) de sangue. Nos homens adultos, o valor normal é de aproximadamente 14 g/dl, e o de mulheres 13 g/dl. Os glóbulos vermelhos são a maioria das células sangüíneas, e normalmente ocupam cerca de 45% do volume sangüíneo total. Glóbulos brancos Os glóbulos brancos (leucócitos) são uma família de células, constituída por: Granulócitos Linfócitos Monócitos. São produzidos na medula óssea e tecido linfático. Seu principal papel no sangue é identificar, destruir e remover qualquer material estranho que tenha entrado no organismo. Portanto, estas células são importantes na defesa contra infecções e desenvolvimento de resistência a infecções em resposta à exposição natural ou imunização. Os glóbulos brancos ocupam menos de 1% do volume total sangüíneo. Plaquetas As plaquetas são pequenos fragmentos (megacariócitos), que são produzidos na medula óssea, e contêm enzimas e outras substâncias ativas biológicas (mediadores). Sua função é responder a qualquer dano da parede vascular, através de uma aglomeração no sítio da lesão, formando um tampão plaquetário inicial e temporário, e liberando seu conteúdo no sangue. 29 SEÇÃO 2 A liberação do conteúdo plaquetário é um dos principais responsáveis pelo subseqüente processo de coagulação, por ativação do mecanismo de coagulação sangüínea, que resulta num depósito permanente de tampão de fibrina no sítio da lesão, prevenindo sangramentos posteriores. Coagulação Hemostasia normal A hemostasia normal é necessária para manter o fluxo do sangue no sistema vascular. Envolve a interação de vasos, plaquetas, fatores de coagulação e a limitação do coágulo e da fibrinólise. Distúrbios de sangramento e da coagulação são o resultado da falência dos mecanismos hemostáticos. Hemostasia primária A parede do vaso é a primeira linha de defesa para a hemostasia normal. Em pequenos vasos, a vasoconstrição desempenha um papel inicial na hemostasia. Quando o endotélio vascular é danificado, as plaquetas aderem ao colágeno exposto, microfibrilas e membrana basal. Uma vez aderidas as plaquetas ao tecido subendotelial, elas liberam uma grande variedade de mediadores. Alguns desses mediadores promovem a vasoconstrição, e todos os outros atraem outras plaquetas, a fim de formar um agregado chamado de tampão primário plaquetário. O fator plaquetário III é exposto durante a formação do trombo plaquetário, e acelera a formação de trombina (trombo). Hemostasia secundária A coagulação sangüínea é uma série de reações enzimáticas envolvendo proteínas plasmáticas, fosfolipídios e íons de cálcio, que transformam o sangue circulante num gel insolúvel pela captura na rede de fibrina. A rede de fibrina aumenta e ancora o trombo envolvido no sítio de lesão. O mecanismo de coagulação sangüínea envolve uma série complexa de passos, ou cascatas, nas quais proteínas plasmáticas específicas, chamadas fatores de coagulação, são ativados em seqüência. Os fatores de coagulação são classificados pelo número (I, II, III, etc.), e também por alguns nomes: por exemplo, Fator de Christmas (Christmas era o nome do primeiro paciente no qual se detectou a deficiência de um fator conhecido hoje como fator IX) e fator anti-hemofílico (Fator VIII). Veja as Seções 9.9 e 9.10. fibrinogênio ibrinogênio: A maior proteína coagulante do plasma. Convertido em fibrina (insolúvel), sob ação da trombina. Duas diferentes cascatas envolvem fatores da coagulação (conhecidas como intrínseca e extrínseca) que podem ser separadas pelo início do mecanismo de coagulação, resultando numa proteína solúvel chamada fibrinogênio, que é convertida em trombo de fibrina (veja a figura 2.7 na página 31). Fibrinólise Durante o mecanismo normal de hemostasia, o processo de limitação do sangramento ocorre através de diversos mecanismos. Os mais importantes são: 1 Remoção dos fatores ativados de coagulação por fluxo sangüíneo através da coagulação. 30 S A N G U E , OX I G Ê N I O E C I RC U L A Ç Ã O Figura 2.7: Coagulação e fibrinólise pr odut os de degr adação produt odutos degradação da ffibrina ibrina ibrina: fragmentos de fibrina formados pela ação das enzimas fibrinolíticas. Níveis elevados no sangue é um dos sinais de CIVD. 2 Inativação dos fatores de coagulação por inibidores da circulação. 3 Consumo de plaquetas e fatores de coagulação pelo processo de coagulação. 4 Degradação do coágulo por enzimas fibrinolíticas e plasmina (fibrinólise). A fibrinólise depende da ativação seqüencial de proteínas específicas plasmáticas, cujo resultado é a formação de enzima proteolítica plasmina no sangue. A função da plasmina é dissolver o coágulo de fibrina formado no vaso. Estes mecanismos compensam o processo de coagulação e previnem a coagulação descontrolada do sangue. Se estes processos falharem, desenvolve-se uma coagulação anormal (trombose). 2.3 Aporte de oxigênio ao corpo Uma das principais bases fisiológicas é garantir um constante aporte de oxigênio para ser liberado aos tecidos e órgãos, de maneira a preservar a vida. Para realizar isto, quatro passos importantes são necessários: 1 Transferência de oxigênio dos pulmões para o plasma sangüíneo. 2 Armazenamento de oxigênio na molécula de hemoglobina nos glóbulos vermelhos. 3 Transporte de oxigênio dos tecidos para o corpo pela via circulatória. 4 Liberação do oxigênio do sangue para os tecidos, onde possa ser utilizado. Transferência de oxigênio dos pulmões para o plasma Pressão parcial O ar que respiramos contém cerca de 21% de oxigênio. Os 79% restantes são compostos de nitrogênio, junto com pequenas quantidades de outros gases, como o dióxido de carbono. O peso (ou a massa) destes gases exerce 31 SEÇÃO 2 uma pressão sobre o corpo e os pulmões, conhecida como pressão atmosférica. Cada gás individual no ar, em proporção à sua porcentagem, contribui em parte com a pressão atmosférica. A pressão atmosférica ao nível do mar é de 760 mmHg (101 kPa), e a pressão parcial de oxigênio em 21% de 760 mmHg, é de cerca de 160 mmHg (21kPa). Ventilação Quando inspiramos, o ar inicialmente se torna umedecido nas vias aéreas superiores, e então é transferido por ventilação aos alvéolos pulmonares. Estes dois eventos reduzem a pressão parcial do oxigênio, de 160 mmHg (21kPa) a aproximadamente 100 mmHg (13,3 kPa) no alvéolo. A maior causa desta redução é a difusão dos gases metabólicos perdidos (dióxido de carbono) do sangue para o pulmão, provocando o efeito de “diluição” da pressão parcial de oxigênio no alvéolo. Difusão A pressão parcial de oxigênio nos alvéolos constitui a força diretriz, resultando na transferência, por difusão, do oxigênio para o sangue. Os gases propagam de áreas de alta pressão para as de baixa pressão. Como já foi notado, a pressão parcial de oxigênio no alvéolo é de 100 mmHg (13,3 kPa), porém somente 40 mmHg (5,3 kPa) dos capilares pulmonares retornam do sangue para os tecidos. O oxigênio rapidamente se propaga através da membrana alvéolo-capilar para se dissolver no plasma da circulação pulmonar. Em indivíduos saudáveis, o equilíbrio é próximo entre os alvéolos e a pressão parcial plasmática, conseqüentemente, a pressão parcial de oxigênio numa artéria deve ser de aproximadamente 98 mmHg (13 kPa). Veja a figura 2.8. Distúrbios hipóxia hipóxica hipóxica: Redução do aporte de oxigênio aos tecidos, devido ao aporte inadequado de oxigênio dos pulmões às hemácias. 32 Em certas circunstâncias e doenças, pode ocorrer uma queda anormal da pressão parcial de oxigênio arterial. Isto é algumas vezes chamado de hipóxia hipóxica. hipóxica Pode ser causada por: Uma baixa pressão parcial de oxigênio no ar inspirado, como ocorre quando respiramos gases contendo menos de 21% de oxigênio. Ventilação inadequada, como a que ocorre na depressão respiratória, quando o dióxido de carbono acumulado no pulmão reduz a pressão parcial de oxigênio no alvéolo e, conseqüentemente, no sangue. Sério desequilíbrio entre a ventilação e fluxo sangüíneo pulmonar, como os que podem ocorrer num colapso das vias aéreas e pneumonia (shunt). Um problema de difusão do oxigênio através da membrana alvéolocapilar, como por exemplo, no edema pulmonar. S A N G U E , OX I G Ê N I O E C I RC U L A Ç Ã O Figura 2.8: Transferência de oxigênio Armazenamento de oxigênio no sangue Hemoglobina O armazenamento de oxigênio no sangue depende quase que inteiramente da presença de hemoglobina nos glóbulos vermelhos. A hemoglobina possui a capacidade de se combinar ao oxigênio, de maneira a aumentar o processo de transporte do oxigênio pelo sangue em 70 vezes. Sem isto, o oxigênio dissolvido no plasma pode ser totalmente inadequado para suprir a demanda dos tecidos. Cada grama de hemoglobina pode transportar um máximo de 1,36 ml de oxigênio. Neste estado, quase 100% das moléculas estão saturadas de oxigênio. Portanto, num indivíduo com hemoglobina de 15 g/dl, que esteja com saturação quase completa, a cada 100 ml de sangue arterial estão presentes 20 ml de oxigênio (1,36 x 15). Plasma O plasma carrega somente 0,3 ml de oxigênio dissolvido a cada 100 ml, quando o indivíduo está respirando normalmente. No entanto, se a concentração de oxigênio inspirada estiver aumentada, o total de oxigênio carregado pelo plasma também estará aumentado. Pressão parcial e saturação Uma vez que o oxigênio seja dissolvido do alvéolo para o plasma da circulação pulmonar, o oxigênio com a sua mais alta pressão parcial (98 mmHg / 13 kPa) rapidamente atravessa os glóbulos vermelhos e se liga às 33 SEÇÃO 2 moléculas de hemoglobina, até que estas estejam quase totalmente saturadas. Normalmente, a hemoglobina do sangue arterial possui uma saturação de oxigênio de cerca de 97%. A relação entre a pressão parcial de oxigênio do plasma, e o grau de saturação de hemoglobina, é dada pela curva de dissociação do oxigênio, como mostra a figura 2.9. Figura 2.9: A curva de dissociação do oxigênio, pH 7,40, temperatura 38ºC p0 2 (mmHg) 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 p0 2 % satur ação saturação a) de Hb (kPa) (kP 1,3 13,5 2,7 35,0 4,0 57,0 5,3 75,0 6,6 83,5 8,0 89,0 9,3 92,7 10,6 94,5 12,0 96,5 13,3 97,5 Esta curva demonstra a capacidade única da hemoglobina de se combinar com o oxigênio em alta pressão parcial nos pulmões, e então, a perda desta afinidade em baixas pressões parciais nos tecidos, com a liberação do oxigênio para os mesmos. Diversos fatores podem alterar a posição da curva. Alguns a movem para a direita, reduzindo a afinidade da hemoglobina e facilitando a liberação de oxigênio para os tecidos. Outros a movem para a esquerda, aumentando a afinidade pelo oxigênio e garantindo a saturação de hemoglobina nos capilares pulmonares. Distúrbios A capacidade de transportar oxigênio depende de: Total de hemoglobina presente no sistema vascular Grau de saturação com oxigênio. hipóxia anêmica anêmica: Redução da oferta de oxigênio aos tecidos, devido à diminuição da hemoglobina nos glóbulos vermelhos. 34 A redução da concentração de hemoglobina, como ocorre na anemia, produz significantes reduções na capacidade total de transportar oxigênio do sangue. Isto pode ser chamado de hipóxia anêmica anêmica. Além disso, a falência da saturação adequada da hemoglobina presente, por causa de um distúrbio de afinidade pelo oxigênio, também reduz a capacidade de transporte de oxigênio do sangue: por exemplo metahemoglobinemia, carboxihemoglobinemia e algumas hemoglobinopatias congênitas. S A N G U E , OX I G Ê N I O E C I RC U L A Ç Ã O Transporte de oxigênio para os tecidos Uma vez que a hemoglobina se torna saturada com oxigênio na circulação pulmonar, este precisa ser transportado no sangue pela circulação sistêmica para chegar aos capilares teciduais. Controle do fluxo sangüíneo tecidual A regulação do fluxo sangüíneo na circulação é controlada principalmente pelos próprios tecidos e órgãos. A entrada de sangue pelos capilares de um órgão progressivamente depleta seu oxigênio, e aumenta os níveis de dióxido de carbono e outros produtos metabólicos. Estas mudanças locais na bioquímica do sangue controlam o grau de vasodilatação no órgão, que influencia o fluxo sangüíneo. Se o órgão está trabalhando muito, aumenta a vasodilatação dos capilares, aumentando o fluxo sangüíneo e, conseqüentemente, o total de oxigênio e nutrientes liberados no tecido. Controle do débito cardíaco Qualquer aumento local de fluxo sangüíneo em órgãos ou tecidos deve ser acompanhado por um aumento correspondente no total de sangue bombeado pelo coração, ou débito cardíaco. Isto se realiza da seguinte maneira. A vasodilatação dos capilares de um órgão causa um aumento do fluxo sangüíneo venoso proveniente daquele órgão. Em contrapartida, isto aumenta o volume venoso sangüíneo retornando ao coração, ou retorno venoso. Este aumento é o principal responsável pela elevação do débito cardíaco para aumentar a oferta de oxigênio para o órgão. Conforme o coração fica mais cheio e distendido com sangue venoso, ele promove uma contração com maior força, que resulta num aumento do débito cardíaco. Isto é conhecido como o mecanismo de Frank-Starling, como mostra a figura 2.10. Figura 2.10: O Mecanismo Frank-Starling 35 SEÇÃO 2 Por outro lado, se o retorno venoso diminui, o coração se torna menos distendido, e sua força de contração e débito cardíaco diminuirão. Portanto, o débito cardíaco se ajusta automaticamente conforme o retorno venoso. Somado a este mecanismo, o débito cardíaco pode ser elevado pela estimulação dos nervos simpáticos, que aumentam a força de contração cardíaca e o número de batimentos. Retorno venoso Além das mudanças locais do fluxo sangüíneo, a manutenção de um suficiente retorno venoso ao coração depende de diversos outros fatores, tais como: Um adequado volume circulante sangüíneo O efeito da gravidade O efeito de bomba dos músculos e da caixa torácica A mobilização de reservas de sangue venoso por estimulação nervosa simpática. O fator mais importante é o adequado volume sangüíneo circulante. Se este diminui de forma significativa (por exemplo, uma hemorragia), o retorno venoso também diminuirá, e a capacidade do coração de manter ou aumentar o débito cardíaco será prejudicada. Distúrbios A despeito da complexidade da circulação, e dos seus sistemas regulatórios, há dois componentes vitais para seu funcionamento: Um adequado volume sangüíneo circulante estagnada: Redução da oferta de oxigênio aos tecidos, Hipóxia estagnada devido à redução do fluxo sangüíneo (perfusão) hipóxia es esttagnant agnantee: Reduzido aporte de oxigênio aos tecidos devido ao fluxo sangüíneo reduzido (perfusão). Uma eficiente bomba para produzir fluxo sangüíneo. Na ausência de um destes fatores, o sangue estagna nos vasos, e o transporte de oxigênio fica prejudicado. Isto é chamado de hipóxia estagnant e. estagnante A Figura 2.11 na página 34 mostra a relação entre a pressão parcial e a saturação no sangue venoso e arterial. Liberação de oxigênio para os tecidos O estágio final de liberação de oxigênio envolve a saída do oxigênio armazenado no sangue para os tecidos. Este processo é controlado pelos próprios tecidos, de acordo com a sua demanda por oxigênio. Dissociação de oxigênio A pressão parcial de oxigênio nos tecidos é consideravelmente mais baixa do que a do sangue arterial que está entrando nos capilares, pois o oxigênio é utilizado continuamente. Portanto, o oxigênio se difunde pelo gradiente de pressão dos capilares para os tecidos, provocando uma queda parcial de pressão de oxigênio no plasma dos capilares. Você pode ver pela curva de dissociação do oxigênio que a queda da pressão parcial de oxigênio no plasma reduz a saturação de hemoglobina. Conseqüentemente, a hemoglobina libera o oxigênio armazenado para o plasma de seus capilares, onde ele pode ser difundido para os tecidos. 36 S A N G U E , OX I G Ê N I O E C I RC U L A Ç Ã O Figura 2.11: Liberação de oxigênio Peculiaridades da curva de dissociação do oxigênio Nos tecidos mais ativos, onde a demanda por oxigênio é mais alta, há elevações súbitas nos níveis de dióxido de carbono e ácidos derivados de seu metabolismo e da temperatura local. Estas mudanças também afetam o sangue capilar, e desviam a curva de dissociação do oxigênio para a direita, reduzindo a afinidade de hemoglobina por oxigênio, estimulando a sua liberação para os tecidos. Quando a demanda por oxigênio retorna ao normal, a curva de dissociação do oxigênio desvia-se de novo para a esquerda, aumentando a afinidade da hemoglobina pelo oxigênio, e reduzindo a liberação para os tecidos. 37 SEÇÃO 2 Outro fator importante que influencia a posição da curva de dissociação do oxigênio é presença do metabólito 2,3 difosfoglicerato (2,3 DPG). Quando a concentração desta substância aumenta no glóbulo vermelho, a curva de dissociação desvia-se para a direita, facilitando a liberação de oxigênio para os tecidos, como mostra a figura 2.12 na página 35. Figura 2.12: Desvios na curva de dissociação de oxigênio Uma vez que o oxigênio tenha sido totalmente extraído para os tecidos, o sangue dessaturado com uma pressão parcial de oxigênio de cerca de 40 mmHg (5,3 kPa), entra na circulação venosa, e retorna ao coração para completar novamente o ciclo. Distúrbios A posição da curva de dissociação de oxigênio, e conseqüentemente, a afinidade da hemoglobina pelo oxigênio, é afetada por patologias que causam as maiores alterações no sangue: Temperatura pH Dióxido de carbono 2,3 DPG. Por exemplo, na anemia e numa série de doenças que resultam em hipóxia crônica, o aumento dos níveis de 2,3 DPG facilita a liberação de oxigênio para os tecidos. Ao contrário, num sangue armazenado, o aumento nos níveis de 2,3 DPG reduz a capacidade de liberação do oxigênio. 38 S A N G U E , OX I G Ê N I O E C I RC U L A Ç Ã O Resumo: a oferta de oxigênio e a equação de fluxo A oferta total de oxigênio para os tecidos é dependente das seguintes condições: Concentração de hemoglobina Grau de saturação da hemoglobina com oxigênio Débito cardíaco Estas variáveis podem ser colocadas na forma de uma equação, mostrada na figura 2.13, que pode ser utilizada para calcular o total de oxigênio que é oferecido aos tecidos. Isto é chamado de aporte de oxigênio, liberação ou fluxo de equação. Figura 2.13: Equação de fluxo ou aporte de oxigênio Aporte de oxigênio = Hemoglobina x 1.36 x Saturação x Rendimento cardíaco (ml/min) (gm/ml) (ml/gm) (%) (ml/min) Uma pequena fração do oxigênio transportado no plasma foi ignorada. A figura 1.36 representa o montante que cada grama de hemoglobina pode transportar. Quando lidamos com uma situação crítica, uma ou mais variáveis podem estar alteradas, sendo útil considerar esta equação, de sorte a enfatizar o efeito sobre o oxigênio do paciente. Geralmente, não é necessário realizar cálculos detalhados, mas esta equação pode ser útil para ilustrar como a oferta de oxigênio pode variar com o nível de hemoglobina, saturação e débito cardíaco. A figura 2.14 mostra, por exemplo, a oferta de oxigênio no coração. Se o paciente desenvolve anemia crônica, a redução da concentração de hemoglobina pode reduzir significantemente a oferta de oxigênio, como mostra a figura 2.15. A equação do fluxo de oxigênio mostra, no entanto, que a oferta de oxigênio para os tecidos pode ser compensada por um aumento do débito cardíaco, como mostra a figura 2.16. Este aumento do débito cardíaco é um dos maiores mecanismos compensatórios na anemia crônica. Um segundo exemplo clínico é o paciente que possui doença obstrutiva crônica significativa das vias aéreas. Uma conseqüência deste processo patológico pode ser a falência de se manter a pressão parcial de oxigênio, que, por sua vez, reduz o grau de saturação de hemoglobina. No entanto, um aumento compensatório no nível de hemoglobina e débito cardíaco pode ocorrer, ambos para restaurar a oferta de oxigênio para os tecidos. Um aumento compensatório similar do nível de hemoglobina e do débito cardíaco também é visto em indivíduos que moram em grandes altitudes. Isto se deve à redução da pressão parcial de oxigênio e saturação de hemoglobina que ocorre neste meio ambiente. O efeito da perda aguda de sangue e seus mecanismos compensatórios são discutidos na Seção 3: Anemia. 39 SEÇÃO 2 Figura 2.14:Aporte normal de oxigênio Figura 2.15:Efeitos da anemia crônica sobre a oferta de oxigênio Figura 2.16:Restauração da oferta de oxigênio na anemia crônica, pelo aumento do débito cardíaco 40 S A N G U E , OX I G Ê N I O E C I RC U L A Ç Ã O ATIVIDADE 5 Quais outros membros da equipe médica e de enfermagem de seu hospital necessitam de uma compreensão adequada da fisiologia discutida nesta seção? Descubra o que sabem, demonstre a importância deste conhecimento, e onde há falhas de aprendizado e de compreensão. Organize seções de ensino para os membros que você percebeu não possuir conhecimento suficiente do papel do sangue na manutenção de um aporte constante de oxigênio para os tecidos e órgãos. 41 3 Anemia Pontos chave 1 A prevenção, diagnóstico precoce e tratamento da anemia, e das condições que causam anemia, são métodos importante para minimizar as necessidades de transfusão sangüínea. 2 A anemia se desenvolve como resultado de um ou mais dos seguintes fatores: Aumento da perda de glóbulos vermelhos Diminuição da produção de glóbulos vermelhos normais Aumento da destruição dos glóbulos vermelhos Aumento da demanda por glóbulos vermelhos. 3 A anemia se torna clinicamente importante quando contribui para a redução da oferta de oxigênio, de forma que este seja inadequado às necessidades do paciente. 4 Os princípios do tratamento de anemia são: Tratamento de causas subjacentes da anemia Optimizar todos os componentes do sistema de liberação de oxigênio, de maneira a aumentar a oferta de oxigênio para os tecidos. 5 A transfusão sangüínea só deve ser considerada quando já tenha causado ou estiver perto de provocar redução na oferta de oxigênio, que esteja inadequado às necessidades do paciente. 42 A N E M I A Introdução Quando um indivíduo se torna anêmico, diversas mudanças fisiológicas ocorrem. Em meio a estas mudanças, está a própria resposta compensatória do corpo à anemia, que dentro de seus limites, procura preservar a oferta de oxigênio aos tecidos. O objetivo principal desta seção é explicar estes mecanismos compensatórios que, quando reforçados pelo apropriado tratamento da anemia, podem ser suficientes para tornar a transfusão desnecessária. Objetivos do estudo Quando completar esta seção, você deverá estar apto a: 1 Definir anemia num indivíduo, e distinguir entre a taxa de hemoglobina normal e a de referência. 2 Enumerar os métodos mais comuns de determinação da concentração de hemoglobina no sangue. 3 Identificar os fatores que afetam a concentração de hemoglobina num paciente, e o que pode alterá-la. 4 Resumir as principais causas de anemia. 5 Descrever os efeitos produzidos pela anemia e pelas conseqüentes respostas compensatórias, com particular ênfase na perda aguda e crônica de sangue. 6 Apresentar os princípios do tratamento da anemia 7 Delinear as medidas que podem ser usadas para prevenir anemia numa população. 43 SEÇÃO 3 3.1 Definições Anemia A anemia é definida como a concentração de hemoglobina no sangue num nível menor que o esperado, levando-se em conta fatores como idade, sexo, gestação e certos fatores ambientais, como altitude. A definição, portanto, requer uma comparação entre o nível de hemoglobina do indivíduo com o valor esperado. Para determinar o valor esperado de hemoglobina de um paciente, é necessário rever os seguintes valores: O nível normal de hemoglobina O nível de referência da hemoglobina. Variação normal da hemoglobina O nível normal de hemoglobina é a distribuição de concentração de hemoglobina encontrada num grande grupo representativo de indivíduos saudáveis. Em princípio, pode ser considerado como um indicador padrão mundial de boa saúde, variando conforme a idade, sexo, gravidez e altitude do domicílio. No entanto, é difícil o estabelecimento da variação de valores normais de hemoglobina. A figura 3.1 mostra as variações normais, e os critérios para definir anemia num indivíduo, propostos pela OMS, mas é importante lembrar que alguns indivíduos aparentemente normais e saudáveis apresentarão valores fora deste intervalo. Publicações de valores considerados normais de concentração de hemoglobina mostram, por exemplo, que várias mulheres adultas devem ser consideradas normais, mesmo com a hemoglobina menor que 12 g/dl (veja a página 47 sobre hematócrito). Figura 3.1: Critérios para anemia, baseados em taxa de hemoglobina normal ao nível do mar Idade / Sex Sexoo Nascido a termo 2 a 6 m de vida 6m a 6 a de vida 6 a 12 anos Homens adultos Mulheres não grávidas Grávidas 1º Trimestre (0 – 12s) 2 º Trimestre (13 – 28s) 3 º Trimestre (29 s –nasc) Variação normal de hemoglobina (g/dl) Anêmico se Hb menor que * 13,5 – 18,5 9,5 – 13,5 11,0 – 14,0 11,5 – 15,5 13,0 – 17,0 12,0 – 15,0 13,5 (Ht 34,5) 9,5 (Ht 28,5) 11,0 (Ht 33,0) 11,5 (Ht 34,5) 13,0 (Ht 39,0) 12,0 (Ht 36,0) 11,0 – 14,0 10,5 – 14,0 11,0 – 14,0 11,0 (Ht 33,0) 10,5 (Ht 31,5) 11,0 (Ht 33,0) * Estes valores simplesmente definem anemia. São usados geralmente como padrões para investigação e tratamento, não são indicativos de transfusão. 44 A N E M I A Variação da hemoglobina de referência A variação da taxa da hemoglobina de referência é a distribuição da concentração de hemoglobina encontrada numa população específica bem definida, chamada população de referência. É realizada a partir da análise dos valores de hemoglobina num grupo de indivíduos que são representativos daquela população (veja a figura 3.2 como exemplo). Figura 3.2: Exemplos de taxas de referência em mulheres não grávidas Variação de ref erência referência par paraa não grávidas Variação Média Delhi, Índia 6,3 – 14,8 g/dl 10,5 g/dl Burkina, Faso 9,4 – 15,0 g/dl 12,2 g/dl Se a população de referência é composta predominantemente por indivíduos saudáveis, a variação de referência deverá ser similar à variação normal da hemoglobina. No entanto, a variação de referência pode ser mais baixa que a normal se a população de referência possui uma alta taxa de distúrbios afetando a concentração de hemoglobina, tais como deficiência de ferro, malária ou hemoglobinopatias hereditárias. Os valores de referência são úteis para identificar anemia em certas populações, e realizar medidas apropriadas de saúde coletiva. Quando repetidos numa mesma população, os valores de referência podem auxiliar a verificar a efetividade dessas medidas. A variação de referência da hemoglobina não deve ser usada como base para investigação e tratamento de pacientes. Para estes, deve ser utilizada a variação de hemoglobina normal. Valores e variações A concentração de hemoglobina, assim como outras variáveis biológicas tais como o sódio plasmático ou albumina, mostram uma variação natural entre indivíduos saudáveis Por esta razão, os valores normais e de referência são expressos como intervalo: por exemplo 9.5 – 13.5 g/dl. Este intervalo, por definição, inclui 95% dos indivíduos testados, como mostra a figura 3.3. Figura 3.3: Variação de hemoglobina 45 SEÇÃO 3 3.2 Determinação da concentração de hemoglobina e hematócrito Concentração de hemoglobina Embora os aspectos clínicos da anemia possam estar presentes num paciente, são geralmente um guia não confiável da gravidade da anemia. A avaliação clínica da anemia tende a variar bastante entre os observadores. Por esta razão, é essencial que existam maneiras rápidas e confiáveis de se obter uma medida acurada da concentração de hemoglobina em amostras sangüíneas de pacientes onde sejam realizadas transfusões. Muitos destes métodos laboratoriais para determinar a concentração de hemoglobina são tecnicamente capazes de prover resultados de qualidade suficiente para uso clínico. No entanto, qualquer que sejam os métodos utilizados, a confiabilidade dos resultados depende de uma boa prática laboratorial, treinamento da equipe, uso de procedimentos operacionais padrão, calibração regular e manutenção do equipamento. O uso apropriado de controle interno e, se possível, controle externo de qualidade das amostras também é importante. A figura 3.4 sumariza os métodos mais comuns de medição da concentração de hemoglobina. Figura 3.4: Métodos de determinação da hemoglobina Mét odos Métodos Comentários Métodos usando o espectrofotômetro ou fotômetro isoelétrico Hemiglobinocianida Oxihemoglobina Todos requerem algum tipo de equipamento óptico com bateria ou aporte de força, manutenção, calibração e treinamento do usuário Hemoglobinômetros de leitura direta Escala de cor da hemoglobina da OMS Veja abaixo Método do sulfato de cobre Utilizado somente como triagem de doadores de sangue Escala colorimétrica de hemoglobina da OMS A escala colorimétrica da OMS é um processo clínico simples e barato que fornece um método confiável para análise da presença e gravidade da anemia. É utilizada particularmente em situações em que a dosagem laboratorial de hemoglobina não está prontamente disponível. O kit da Escala Colorimétrica de Hemoglobina consiste num folheto contendo uma escala padronizada de cores representando a variação dos valores de hemoglobina (4 g/dl, 6 g/dl, 8 g/dl, 10 g/dl, 12 g/dl e 14 g/dl), e um pacote de papéis absorventes especiais para teste. É acurado dentro de uma variação de 1 g/dl, quando utilizado de acordo com as instruções, e 46 A N E M I A utilizando os papéis de teste do próprio kit. Não está validado para outros papéis teste. Para utilizar a escala colorimétrica, uma amostra de sangue proveniente da punção digital, ou de um tubo com sangue anticoagulado, deve ser colocada sobre o papel teste. Por comparação da amostra no papel com a escala padronizada, como mostra a figura 3.5, é possível identificar quando o sangue está anêmico e a gravidade da anemia em termos clínicos. Figura 3.5: Utilizando a Escala Colorimétrica Informações sobre os fornecedores da Escala Colorimétrica da OMS estão disponíveis no seguinte endereço: World Health Organization Blood Safety and Clinical Technology 20 Avenue Appia, CH-1211 Geneva 27 , Switzerland Fax: + 41 22 791 4936. E-mail: [email protected] volume eritr ocitário(PV C): ocitário(PVC): eritrocitário(PV Determinado por centrifugação de uma pequena amostra de sangue num capilar anticoagulado, e medido o volume de glóbulos vermelhos centrifugados como porcentagem do volume total. hematócrit hematócritoo (Ht): Medida equivalente ao PVC, derivada da análise automatizada dos índices dos eritrócitos. Hematócrito ou volume eritrocitário Um método alternativo de estimar o conteúdo de glóbulos vermelhos no sangue é medir o hematócrito ou volume eritrocitário. O volume eritr eritrocitário ocitário (PCV), é determinado pela centrifugação de uma pequena amostra de sangue em tubo capilar anticoagulado, e medido o volume dos glóbulos vermelhos centrifugados como porcentagem de volume total. o (Ht), pode ser obtida através de Uma medida equivalente, o hematócrit hematócrito análises automatizadas hematológicas dos glóbulos vermelhos. Para fins clínicos, os dois termos podem ser usados como sinônimos. A relação entre concentração de hemoglobina e hematócrito numa amostra é influenciada pelo tamanho dos glóbulos vermelhos, e o conteúdo de hemoglobina neles contido. Um fator de conversão útil é a concentração de hemoglobina multiplicada por três, dando o valor aproximado do hematócrito. Os valores de hematócrito estão na figura 3.1. 47 SEÇÃO 3 3.3 Anemia clinicamente importante É relativamente simples definir um paciente como anêmico através da comparação de sua concentração de hemoglobina com a variação normal ou de referência. No entanto, para avaliar se uma anemia é clinicamente importante, deve-se analisar detalhadamente as necessidades individuais deste paciente. Como vimos na Seção 2: Sangue, Oxigênio e a Circulação, a concentração de hemoglobina de um paciente é somente um dos fatores críticos que determina a oferta total de oxigênio para os tecidos. A oferta de oxigênio para os tecidos também depende do: Grau de saturação da hemoglobina Débito cardíaco. Portanto, as alterações na concentração de hemoglobina não devem ser analisadas isoladamente, devendo ser vistas num contexto de mudanças e alterações que afetem outras variáveis da oferta de oxigênio. A anemia se ttorna orna clinicament clinicamentee impor importtant antee quando contribui par paraa a redução da of er ornando inadequadas as necessidades do pacient e. ofer ertta de oxigênio, ttornando paciente. 3.4 Interpretação dos valores de hemoglobina O valor de hemoglobina é a medida da sua concentração, sendo a quantidade total presente de hemoglobina num volume padronizado de sangue do paciente. Normalmente é expressa em gramas por decilitro (g/dl) ou gramas por litro (g/L). Neste módulo todos os valores de hemoglobina são expressos em g/dl. O valor da hemoglobina é dependente do: Total de hemoglobina circulante nas hemácias Volume sangüíneo. hemodiluição: Redução do hematócrito. Hemodiluição aguda causada por perda de glóbulos vermelhos e reposta com infusão colóide ou cristalóide. hemoconcentr ação emoconcentração ação: Elevação do hematócrito devido à redução do volume plasmático. 48 Uma variação destes fatores pode alterar a concentração de hemoglobina. Por exemplo, durante a gravidez, uma anemia aparente pode existir simplesmente devido a um aumento do volume de plasma, sem nenhuma redução do total de hemoglobina presente. Isto é chamado de hemodiluição hemodiluição. Uma vez que a capacidade total de transportar oxigênio não está modificada, não é necessariamente um estado patológico. Ao contrário, quando há uma redução do volume plasmático sem diminuição no conteúdo total de hemoglobina presente, uma concentração de hemoglobina mais alta que a esperada pode ser encontrada. Isto é conhecido como hemoconcentração hemoconcentração, e pode ocorrer em desidratações graves, por exemplo. Portanto, a concentração de hemoglobina deve ser considerada junto a outras informações sobre a condição do paciente, para evitar falsas interpretações (conforme a figura 3.6). A N E M I A ATIVIDADE 6 Qual método é utilizado em seu hospital para medir ou avaliar a concentração de hemoglobina do sangue? Converse com a equipe técnica do laboratório sobre a precisão e confiabilidade dos resultados, além de controle de qualidade. Verifique quais métodos de controle de qualidade são realizados, e com que freqüência? Se você acha que um método mais preciso e confiável pode ser utilizado, ou que novos controles de qualidade podem ser implantados, converse com o chefe da equipe técnica sobre quais melhorias são necessárias para que isto possa ocorrer. Figura 3.6: Alterações da hemoglobina em relação ao plasma Volume de G GVV Normal È È Ç Normal Volume plasmático Normal È Ç ÇÇ È Nível de Hb Normal Normal È È Ç Coluna 1 representa a situação normal Coluna 2 ilustra paciente com perda rápida de sangue num curto período de tempo (hemorragia). São perdidos os glóbulos vermelhos e o plasma, mas a concentração de hemoglobina pode permanecer perto do normal. Coluna 3 mostra o efeito da perda crônica de sangue por semanas ou meses. A resposta compensatória normal expande o volume plasmático para manter o volume sangüíneo total, mas a concentração de hemoglobina se reduz devido à perda de glóbulos vermelhos. Coluna 4 ilustra o efeito da hemodiluição. A figura pode ser de um paciente recebendo reposição intravenosa ou de uma gravidez normal. Coluna 5 mostra as conseqüências da desidratação, provocando uma hemoconcentração. Não há perda de glóbulos vermelhos, porém o volume sangüíneo é reduzido. Portanto, a concentração de hemoglobina se torna superior ao normal. 49 SEÇÃO 3 ATIVIDADE 7 Há valores de referência da concentração de hemoglobina para seu país ou estado? Se sim, compare com os valores normais. Em sua cidade, qual é a alteração mais comum que afeta a concentração de hemoglobina, e que pode provocar diferença entre os dois padrões? 3.5 Causas de anemia A anemia, por definição, não é um diagnóstico, somente um indicador de uma ou mais situações. Uma classificação simples dos processos que podem levar a uma anemia está demonstrada na figura 3.7. Figura 3.7: Causas de anemia CAUS AS DE ANEMIA USAS Aument da dos glóbulos vermelhos Aumentoo de per perda Perda sangüínea aguda: hemorragia por trauma, cirurgia ou obstétrica Perda sangüínea crônica, geralmente por trato gastrointestinal, urinário ou reprodutivo: infestação parasitária, malignidade, distúrbio inflamatório, menorragia Diminuição da pr odução de glóbulos vermelhos normais produção Deficiências nutricionais: ferro, B12, folato, desnutrição, má-absorção Infecção viral: HIV Falência medular; anemia aplástica, infiltração maligna da medula óssea, leucemia Redução da produção de eritropoetina: insuficiência renal crônica Doença crônica Envenenamento da medula óssea: chumbo, drogas (cloranfenicol) Aument truição de glóbulos vermelhos (hemólise) Aumentoo da des destruição Infecções : bacteriana, viral ou parasitária Drogas: dapsona Distúrbios auto-imunes: Doença hemolítica por anticorpo frio ou quente Doenças congênitas: Anemia falciforme, talassemia, deficiência de G6PD, esferocitose Doença Hemolítica do Recém Nascido (DHRN) Outras doenças; Coagulação Intravascular Disseminada, Síndrome Hemolítica Urêmica, Púrpura Trombocitopênica Trombótica Aument isiológico da demanda de glóbulos vermelhos e fferr err erroo Aumentoo ffisiológico Gravidez Amamentação 50 A N E M I A Condições médicas associadas com anemia estão discutidas na Seção 9: Medicina Geral. A anemia ferropriva é a causa mais comum de anemia no mundo. É importante compreender os mecanismos básicos do metabolismo do ferro como fundamentais para a prevenção, diagnóstico e tratamento da anemia. Metabolismo do ferro O ferro é um nutriente essencial necessário a todas as células humanas. A maioria do ferro do corpo está contido na hemoglobina. O ferro é absorvido pelos intestinos, transportado no sangue através de uma proteína carreadora (transferrina) e armazenado como ferritina. Os humanos não possuem um mecanismo efetivo de excreção de ferro, a não ser através da perda de sangue, e pequena quantidade através da descamação de pele ou de células intestinais. O ajuste fisiológico do balanço de ferro num indivíduo depende de pequenas alterações na absorção intestinal e o ferro contido na dieta (Figura 3.8). Figura 3.8: Absorção do ferro Sex Sexoo Homem Mulher em período menstrual Grávidas Per da diária erda de fferr err erroo Absorção máxima de fferr err erroo 1 mg/dia 1-2 mg/dia 1,5 mg/dia 1-2 mg/dia 2 mg/dia 1-2 mg/dia A quantidade normal de ferro num adulto é de cerca de 2,4 g, sendo que 65% nos glóbulos vermelhos. O ferro faz parte do sítio de ligação do oxigênio na hemoglobina, sendo fundamental para a oferta de oxigênio para o corpo (figura 2.6). Como os glóbulos vermelhos são destruídos ao final de sua vida média, o ferro é liberado e a reciclagem provê a maioria das necessidades corporais. Somente uma pequena quantidade de ferro é absorvida pelo trato gastrointestinal (duodeno e jejuno). A alimentação diária típica de um adulto num país desenvolvido contém 10 – 15 mg de ferro, dos quais 1- 2 mg (5-10%) é normalmente absorvido. Isto é suficiente para repor as necessidades diárias de homens e de mulheres que não estejam menstruando. No entanto, quando as necessidades de ferro ficam aumentadas por qualquer razão, o estoque limitado do corpo é rapidamente consumido. Uma perda sangüínea de 500 ml remove 250 mg de ferro. O sangramento agudo ou crônico depleta os estoques de ferro. Sem tratamento, irá demorar meses para a sua reposição. ATIVIDADE 8 Faça uma análise simples dos próximos 25 pacientes que você observar. Quantos estão anêmicos? Qual a causa da anemia de cada paciente? 51 SEÇÃO 3 Converse com seus colegas e descubra quais destes casos são os considerados típicos da população geral. Há grupos específicos com maior risco de desenvolver anemia que a população geral? Há um efetivo programa de prevenção? 3.6 Adaptação à anemia A Seção 2 descreve como o sistema respiratório e circulatório interage com os glóbulos vermelhos para manter o aporte de oxigênio nos tecidos. Quando houver perda sangüínea, ou ocorrer anemia por outras razões, os sistemas se adaptam para compensar e manter, tanto quanto possível, a oferta essencial de oxigênio aos órgãos e tecidos. A condição clínica do paciente dependerá dos seguintes fatores: Capacidade do paciente de produzir respostas compensatórias Gravidade da insuficiência dos glóbulos vermelhos Se ocorreu rapidamente (horas) ou gradualmente (meses). A transfusão de sangue total ou de glóbulos vermelhos geralmente é utilizada para tratamento de anemia ou de perda sangüínea. No entanto, freqüentemente a transfusão pode ser evitada, devido aos mecanismos compensatórios que podem manter a liberação adequada de oxigênio enquanto outros tratamentos fizerem efeito. Esses mecanismos compensatórios estão descritos abaixo. 3.7 Anemia devido à perda sangüínea aguda hipo volemia hipovolemia volemia: Redução do volume sangüíneo circulante Na perda sangüínea aguda, ou hemorragia, há uma redução na quantidade total de hemoglobina na circulação e perda do volume sangüíneo, ou hipo hipovvolemia olemia. Ao contrário, o volume sangüíneo é mantido adequadamente na anemia por outras causas (Figura 3.6). Efeitos da perda aguda sangüínea Conforme discussão da Seção 2, a oferta de oxigênio para os tecidos depende da transferência do oxigênio dos pulmões para o sangue, seu armazenamento na forma de hemoglobina saturada, e o seu transporte e liberação para os tecidos. Isto depende da presença de um adequado nível de hemoglobina, e de uma eficiente circulação para transportá-lo. A hemorragia pode interferir em todos esses processos causando: Diminuição da transferência de oxigênio dos pulmões para os glóbulos vermelhos Diminuição do armazenamento de oxigênio pelos glóbulos vermelhos Diminuição do transporte e da liberação do oxigênio para os tecidos. Diminuição do transporte de oxigênio A perda de volume sangüíneo da circulação, ou hipovolemia provoca uma redução do retorno venoso ao coração. Em conseqüência há redução do débito cardíaco e da pressão sangüínea. Portanto, o fluxo sangüíneo aos 52 A N E M I A tecidos diminui, e o transporte de oxigênio fica prejudicado. Isto é chamado de hipóxia estagnante. Redução do armazenamento de oxigênio A perda de glóbulos vermelhos reduz a quantidade total de hemoglobina na circulação. Isto reduz a capacidade total de armazenamento de oxigênio no sangue, sendo chamado de hipóxia anêmica. Lembre-se que a estimativa da hemoglobina nos primeiros estágios de um sangramento pode não estar tão abaixo do normal, não sendo um guia confiável para se notar a gravidade da perda sangüínea. Isto corre porque há perda simultânea de glóbulos vermelhos e de plasma da circulação. Somente quando o volume plasmático for restaurado, por qualquer mecanismo compensatório ou reposição de fluidos, que a concentração de hemoglobina (ou hematócrito) começará a cair (Figura 3.6). Diminuição da transferência de oxigênio A redução do débito cardíaco causa uma combinação entre o fluxo sangüíneo e a ventilação pulmonar (“shunting”), levando à diminuição da pressão parcial de oxigênio nos capilares pulmonares. Este evento é chamado de hipóxia hipóxica. Conforme a pressão parcial diminui (conforme Seção 2), o grau de saturação da hemoglobina restante da circulação também diminui. Esta redução provoca uma piora na capacidade de transporte de oxigênio do sangue. Portanto, a conseqüência de uma grande hemorragia descontrolada é a privação de oxigênio aos tecidos e órgãos, ou hipóxia tecidual, como mostra a Figura 3.9. Figura 3.9: Efeito da hemorragia na oferta de oxigênio È Hb x È Saturação x È Rendimento cardíaco = ÈÈ Aporte de O2 para os tecidos Mecanismos compensatórios à perda sangüínea aguda Nenhum tecido é capaz de suportar longos períodos de hipóxia, portanto, o corpo responde imediatamente a qualquer perda sangüínea significante com diversos mecanismos compensatórios: Restauração do volume plasmático Restauração do débito cardíaco Compensação circulatória Estimulação da ventilação Mudanças na curva de dissociação do oxigênio Alterações hormonais Síntese de proteínas plasmáticas. Restauração do volume plasmático Quando o débito cardíaco e a pressão sangüínea caem, a pressão hidrostática dos capilares teciduais também diminui. O balanço entre a pressão oncótica e hidrostática dos capilares fica alterado, seguindo-se 53 SEÇÃO 3 um influxo de água do fluido intersticial para o plasma. Este mecanismo ajuda a restaurar o volume plasmático circulante. Ao mesmo tempo, a água também se move do compartimento intracelular para o fluido intersticial. Restauração do débito cardíaco A queda do débito cardíaco e da pressão do coração e dos grandes vasos é detectada pelos baroreceptores, que ativam o sistema nervoso simpático por meio do centro vasomotor do cérebro. Os nervos simpáticos agem no coração, aumentando os batimentos cardíacos e a força de contração, ajudando a restaurar o débito cardíaco. Compensação circulatória Os nervos simpáticos também agem nos vasos que suprem os tecidos e órgãos durante uma hemorragia aguda. Causam a vasoconstrição de arteríolas, principalmente em tecidos e órgãos, que não sejam imediatamente essenciais à vida, como na pele, intestinos e músculos, reduzindo-se o fluxo sangüíneo para esses tecidos. Com isto, produzem os seguintes efeitos: Preservação do fluxo sangüíneo para os órgãos essenciais: cérebro, rim e coração Restauração da pressão arterial sangüínea. Além disso, os nervos simpáticos causam constrição nas veias, ou vasoconstrição, transferindo o sangue das veias para a circulação. Uma vez que vasoconstrição aumenta o retorno venoso ao coração, torna-se outro mecanismo importante para a restauração do débito cardíaco durante uma hemorragia. Estimulação da ventilação A diminuição do fluxo sangüíneo e a privação de oxigênio faz com que diversos órgãos e tecidos passem a realizar o metabolismo anaeróbio, produzindo-se assim grandes quantidades de ácido lático. Isto resulta em acidose metabólica e diminuição da pressão parcial de oxigênio no sangue, que é detectada por quimioreceptores da aorta e das carótidas. Estes quimioreceptores estimulam o centro respiratório cerebral, que responde com aumento da freqüência e força de inspiração, para restaurar a pressão parcial de oxigênio no sangue. Mudanças na curva de dissociação do oxigênio Durante uma hemorragia a curva de dissociação de oxigênio se desloca para a direita (conforme a Figura 2.12), resultando em grave acidose. O efeito disto é a redução de afinidade da hemoglobina pelo oxigênio nos capilares teciduais, promovendo a liberação de oxigênio, e aumentando a disponibilidade deste para os tecidos. Respostas hormonais A secreção de diversos hormônios é aumentada em resposta à hemorragia, mas ao contrário de outros mecanismos reguladores, seus efeitos geralmente só se tornam aparentes após várias horas ou dias. 54 A N E M I A 1 A vasopressina (hormônio antidiurético ou ADH) é liberada da glândula pituitária, em resposta à diminuição de volume sangüíneo. Sua principal ação é reduzir o total de água excretada pelos rins, concentrando a urina e conservando a água no corpo. Também causa vasoconstrição, que pode auxiliar no aumento da pressão sangüínea. 2 A produção de aldosterona nas glândulas adrenais fica aumentada durante a hemorragia, estimulada pelo sistema reninaangiotensina. A aldosterona age no rim, provocando retenção de sódio. Junto com as propriedades da vasopressina de manutenção da água, ajuda a restaurar o volume do fluido extracelular, e principalmente na re-expansão do volume circulatório sangüíneo. 3 A hipóxia provocada pela hemorragia aumenta a produção de eritropoetina nos rins. A liberação de glóbulos vermelhos da medula óssea fica estimulada. Não é uma resposta imediata, mas durante vários dias irá repor as células perdidas. 4 Outros hormônios também são liberados numa hemorragia grave, incluindo: Esteróides adrenais Catecolaminas: por exemplo, adrenalina e noradrenalina. Todos possuem papel importante na capacidade do corpo de responder a situações potencialmente críticas de risco à vida. Síntese e movimento de proteínas plasmáticas A hemorragia também resulta em perda de proteínas plasmáticas e plaquetas do sistema vascular, levando a alterações da pressão oncótica do plasma. Embora haja uma rápida mobilização (dentro de 6 a 12 horas) da albumina já formada para a circulação, a completa restauração dos níveis das proteínas plasmáticas (por síntese hepática) pode levar dias. A diluição das proteínas de coagulação e das plaquetas como produto de perda maciça de sangue e reposição com fluidos, pode contribuir para os distúrbios da coagulação sangüínea (veja Seção 9: Medicina Geral). Aspectos clínicos da perda aguda sangüínea Os aspectos clínicos da perda aguda sangüínea dependem principalmente do volume e da velocidade dessa perda. No entanto, também depende da capacidade do paciente em iniciar os mecanismos compensatórios descritos acima. Há vvariações ariações na capacidade do pacient da sangüínea, pacientee em compensar a per perda por o, o quadr ariável. porttant anto, quadroo clínico pode ser vvariável. 55 SEÇÃO 3 A hemorragia que ocorre em pacientes idosos ou anêmicos, principalmente quando há coexistência de doença cárdio-respiratória, geralmente é revelada em estágio mais precoce do que a mesma hemorragia em paciente previamente saudável. O quadro clínico da perda sangüínea aguda pode variar, desde sinais mínimos de hipovolemia, geralmente detectados por um pequeno aumento na freqüência cardíaca, quando pequena quantidade foi perdida, ou através de choque hemorrágico, quando ocorre sangramento maciço descontrolado (Figura 3.10). Estes fatores são discutidos mais detalhadamente na Seção 13: Trauma e Cirurgia. Figura 3.10: Sinais clínicos de hemorragia maior Choque hemorrágico Sede Pele fria, pálida e úmida Taquicardia Diminuição da pressão do pulso Diminuição da pressão sangüínea Aumento da freqüência respiratória Inquietação ou confusão Redução do débito urinário 3.8 Anemia devido à perda crônica de sangue normo volemia normovolemia volemia: Volume de sangue circulante normal Em perdas crônicas de sangue, tais como perdas gastrointestinais por ancilostomose, há uma perda contínua de sangue da circulação por longos períodos. Desta forma, o quadro anêmico se desenvolve gradualmente. Geralmente, a normo normovvolemia é mantida, não havendo redução no volume sangüíneo (Figura 3.6, Coluna 3). Efeitos da perda crônica de sangue Inicialmente o corpo pode compensar a perda crônica de glóbulos vermelhos por aumento da sua produção. No entanto, o ferro é perdido com os glóbulos e, eventualmente, há depleção dos estoques de ferro. Uma vez que o ferro é um componente essencial da hemoglobina, sua deficiência causa a redução no nível de hemoglobina nas hemácias que estão sendo produzidas. Portanto, a perda sangüínea crônica produz uma anemia ferropriva, por produção inadequada de hemoglobina. Os glóbulos vermelhos são pequenos (microcíticos) e contêm pouco ferro (hipocrômicos). Como os glóbulos vermelhos contêm menos hemoglobina, a capacidade de transportar oxigênio fica diminuída. 56 A N E M I A Respostas compensatórias à perda sangüínea crônica O organismo responde à perda crônica de sangue através dos seguintes mecanismos: Compensação cardiovascular Alterações na curva de dissociação do oxigênio Alterações na viscosidade do sangue Respostas hormonais. Compensação Cardiovascular Como a capacidade de transportar oxigênio diminui, o total de oxigênio disponível para os tecidos também diminui. Os tecidos respondem com vasodilatação para aumentar a oferta sangüínea, de maneira a aumentar a liberação de suficiente quantidade de oxigênio. O aumento do fluxo tecidual resulta num aumento do retorno venoso. Isto aumenta o débito cardíaco, através do Mecanismo de Frank-Starling (Figura 2.10). Portanto, a perda crônica sangüínea e as anemias crônicas são, em geral, largamente compensadas pelo aumento do débito cardíaco. No entanto, numa anemia crônica grave, o coração pode ser incapaz de sustentar o alto débito cardíaco e, conseqüentemente, pode evoluir para insuficiência cardíaca. Alterações na curva de dissociação de oxigênio Outra importante resposta compensatória que ocorre na anemia crônica é o deslocamento da curva de dissociação para a direita (Figura 2.12). Com isso, há redução da afinidade da hemoglobina pelo oxigênio nos capilares teciduais, promovendo a liberação de oxigênio, e aumento da sua disponibilidade para os tecidos. Este deslocamento ocorre principalmente devido ao aumento do metabólito 2,3 DPG. Alterações da viscosidade sangüínea Como a massa de glóbulos vermelhos num quadro anêmico fica reduzida, a viscosidade sangüínea também se reduz. Isto provoca um aumento do fluxo sangüíneo capilar, com aumento da liberação de oxigênio pelos tecidos. O débito cardíaco também tende a aumentar como conseqüência da redução da viscosidade sangüínea. Resposta hormonal Respostas hormonais similares à perda aguda também ocorrem na perda crônica, embora o grau de compensação necessário seja consideravelmente menor. Desta forma, a produção eritrocitária é estimulada pela eritropoetina, desde que haja ferro suficiente disponível para a síntese de hemoglobina, e que o volume sangüíneo seja mantido pela ação da vasopressina e da aldosterona. 57 SEÇÃO 3 Achados clínicos da perda sangüínea crônica Se os mecanismos compensatórios do paciente forem eficazes, a anemia crônica causa poucos sintomas ou sinais até que níveis relativamente baixos de hemoglobina sejam atingidos. Entretanto, as manifestações de anemia tornam-se aparentes mais precocemente quando existir: Capacidade limitada para se montar uma resposta compensatória: p. ex. doenças cardíacas ou respiratórias. Aumento na demanda de oxigênio: p. ex. infecção, dor, febre ou exercício. Redução adicional na oferta de oxigênio: p. ex. perda sangüínea ou pneumonia.. Os achados clínicos da anemia crônica serão discutidos na Seção 9 : Medicina Geral. 3.9 Anemia crônica por outras causas Existem muitas causas de anemia que resultam de: Diminuição da produção, tanto de hemácias, como de hemoglobina. Aumento da destruição eritrocitária. As causas determinantes destas anemias incluem: Deficiências nutricionais. Infecções Malignidade Doenças auto-imunes Doenças hereditárias eritrocitárias: hemoglobinopatias Anemia aplástica, mielodisplasia Algumas destas patologias são discutidas em maior profundidade na seção 9: Medicina Geral. Geralmente, estas patologias causam anemia de instalação lenta, que pode ser compensada pelos mesmos mecanismos que ocorrem na perda crônica. Entretanto, a anemia aguda grave pode ocorrer como manifestação de outras patologias, como hemólise ou seqüestro esplênico. O quadro clínico da anemia crônica deve-se a: Anemia por si, isto é, a diminuição da capacidade de transporte de oxigênio. Manifestações da doença de base (ver Seção 9: Medicina Geral). Anemia crônica agudizada O termo crônica agudizada é freqüentemente utilizado para descrever uma maior queda da concentração de hemoglobina num paciente já cronicamente anêmico. Freqüentemente, esta situação torna-se uma 58 A N E M I A emergência clinica, principalmente em pediatria, e sua abordagem pode incluir a indicação de transfusão de hemácias (ver Seção 10: Obstetrícia, Seção 11: Pediatria e Neonatologia e Seção 13:Trauma e Cirurgia de Emergência. 3.10 Princípios do tratamento da anemia O achado de anemia num indivíduo é anormal, e indica a presença de alguma patologia que necessita investigação e tratamento. A concentração de hemoglobina comumente utilizada para definir anemia encontra-se na figura 3.1. Os mecanismos compensatórios da anemia descritos neste capítulo, freqüentemente permitem ao paciente tolerar baixas concentrações de hemoglobina. Isto ocorre principalmente em paciente com anemia crônica que se instalou em semanas ou meses. Se os mecanismos compensatórios falharem na manutenção de um aporte adequado de oxigênio para os tecidos, haverá uma descompensação clínica, que se não for adequadamente tratada, poderá acarretar no óbito do paciente. Muitos fatores podem precipitar a descompensação do paciente anêmico. Em geral há um ou mais fatores: Capacidade limitada de desencadear uma resposta compensatória: p. ex. doença cardiovascular. Aumento na demanda de oxigênio: p. ex. doenças sobrepostas, febre, exercício. Redução adicional na oferta de oxigênio: p. ex. perda sangüínea, cirurgia, pneumonia. Uma vez que a descompensação tenha ocorrido, o único tratamento eficaz é a elevação da capacidade de transporte de oxigênio no sangue através da transfusão sangüínea A primeira abordagem deve sempre ser tratada de outra forma, antes que a descompensação ocorra. A tr ansfusão sangüínea soment ve ser consider ada quando a anemia causar transfusão somentee de deve considerada uma redução na of er ofer ertta de oxigênio que seja inadequada às necessidades do pacient e. paciente. A abordagem da anemia variará conforme a causa, o tempo de instalação e o grau de descompensação da anemia Isto requer uma detalhada avaliação de cada paciente, individualmente. Os princípios gerais do tratamento das anemias são: Tratar a doença de base Optimizar todos os componentes do sistema de liberação de oxigênio para aumentar a oferta de sangue aos tecidos. 59 SEÇÃO 3 Tratando a doença que causa a anemia O tratamento direcionado para a doença que causa anemia freqüentemente previne qualquer nova redução na capacidade de transporte de oxigênio aos tecidos. A oferta de oxigênio aos tecidos também depende do: Grau de saturação de oxigênio da hemoglobina. Débito cardíaco. Na hemorragia aguda, por exemplo, a oferta de oxigênio será optimizado com: Restabelecimento do débito cardíaco com reposição intravenosa de fluidos. Elevação da concentração de oxigênio inspirado para aumentar a saturação da hemoglobina. Transfusão, se necessário, para elevar a concentração de hemoglobina. Na anemia por deficiência crônica de ferro, a elevação do nível de hemoglobina com terapêutica oral de ferro melhorará a oferta e disponibilidade de oxigênio para os tecidos. As medidas terapêuticas específicas para os diferentes tipos de anemia são detalhadamente discutidas na Seção 9: Medicina Geral. 3.11 Princípios para a prevenção de anemia Uma das fformas ormas mais impor es de se atingir o uso clinico adequado do importtant antes sangue e de seus component es é a ação de pr ogr amas ef progr ogramas efeetivos de saúde componentes implant implantação pública par venção das situações que ttornem ornem as tr ansfusões necessárias. paraa pre prevenção transfusões As medidas preventivas só podem ser adotadas com o envolvimento governamental, especialmente com a efetiva organização do sistema primário de saúde. Em muitos países em desenvolvimento, a maioria das transfusões são administradas a crianças com idade inferior a 5 anos, e a mulheres em idade fértil. Estes grupos devem ser o alvo preferencial para medidas de prevenção, através de serviços de saúde adequados. 60 A N E M I A Os detalhes nas medidas preventivas específicas podem ser encontrados nos capítulos a seguir. Entretanto, a prevenção de anemia numa população deve incluir: 1 Educação em Saúde em: Nutrição Higiene, medidas sanitárias, fornecimento de água encanada e limpa Prevenção da malária Prevenção de incêndios. Segurança no trânsito 2 Programas de Suplementação: Administração de ferro e/ou folatos para subgrupos. 3 Modificações da dieta: p. ex. aumentar a ingestão de vitamina C para aumentar a absorção de ferro. 4 Controle das infecções por vírus, bactérias e parasitas, incluindo: Programas de imunização. Melhoria na rede sanitária e no fornecimento de água Erradicação das fontes de infecção: malária Tratamento da infecção ou infestação. 5 Suplementação alimentar: a suplementação com ferro dos produtos processados centralmente, como pão, leite, sal, arroz, açúcar e peixes pode estar indicada em alguns países. ATIVIDADE 9 Quais medidas são adotadas em seu país a nível nacional e local para identificar, prevenir e tratar a anemia em grupos suscetíveis da população ? Como você avalia a efetividade delas? Sugere maneiras de melhorá-las? 61 4 Fluidos de reposição Pontos chave 1 Os ffluidos luidos de reposição são utilizados par das ex cessiv as de paraa repor per perdas excessiv cessivas sangue, plasma ou outr os ffluidos luidos extr acelulares no: extracelulares outros ament es com hipo volemia present e, por ex emplo, no Tr at atament amentoo de pacient pacientes hipovolemia presente, exemplo, choque hemorrágico enção da normo volemia em pacient es dur ant andes per das de Manut Manutenção normovolemia pacientes durant antee gr grandes perdas fluidos: por ex emplo, per da sangüínea em cirur gias. perda cirurgias. exemplo, 2 Fluidos de reposição intr avenosos são a primeir at ament intravenosos primeiraa linha de tr trat atament amentoo par paraa luidos pode salv ar vidas, e volemia. O tr at ament a hipo esttes ffluidos salvar hipovolemia. trat atament amentoo inicial com es agia, ou par enção de sangue fornecer ttempo empo par ole da hemorr paraa o contr controle hemorragia, paraa obt obtenção par ansfusão, se necessário. transfusão, paraa tr 3 As soluções cris ose não são adequadas como cristt alóides que contêm dextr dextrose fluidos de reposição. Soment ação Somentee as soluções cris cristtalóides com concentr concentração de sódio similar ao plasma (salina normal ou salinas balanceadas) são ef as como ffluidos luidos de reposição. Es vem ser disponíveis em ttodos odos efeetiv tivas Esttas de devem os hospit ais nos quais são utilizados ffluidos luidos de reposição. hospitais 4 As soluções cris vem ser infundidas num volume pelo menos três cristtalóides de devem vezes o per dido par volemia. perdido paraa corrigir a hipo hipovolemia. 5 Todas as soluções colóides (albumina, dextr an, gelatinas e hidr oxie tilamido) dextran, hidroxie oxietilamido) são ffluidos luidos de reposição. N ant o, não demons tr ar am superioridade em Noo ent entant anto, demonstr trar aram relação às cris ação. cristtalóides na ressuscit ressuscitação. 6 As soluções colóides de vem ser infundidas num volume igual ao déf icit em devem déficit sangue. 7 O plasma nunca de ve ser utilizado como ffluido luido de reposição. deve 8 Á água pur ve ser infundida via intr avenosa, pois causa hemólise, puraa não de deve intravenosa, pr at al. proovavelment avelmentee ffat atal. 9 Além da via intr avenosa, pode-se utilizar as vias subcutânea, re al ou intravenosa, rettal, or oral intr a-óssea par tr ação de ffluidos. luidos. intra-óssea paraa adminis administr tração 62 F LUIDOS DE REPOSIÇÃO Introdução Há diversos usos para os fluidos intravenosos, tais como: Prover as necessidades de um paciente cuja via oral não esteja disponível Repor fluidos em perdas anormais, ocorridas em cirurgia, trauma ou outra patologia Corrigir distúrbios hidro-eletrolíticos ou hipoglicemia Ser o veículo para administração de certas drogas. Esta seção terá ênfase nos fluidos de reposição intravenosa. Examinaremos dois tipos, colóides e cristalóides, discutindo suas propriedades, usos, vantagens e desvantagens. Objetivos do estudo Quando completar esta seção, você deverá estar apto a: 1 Explicar a diferença entre manutenção e reposição de fluidos, e estar familiarizado com as características dos colóides e cristalóides utilizados rotineiramente. 2 Prescrever o fluido de reposição mais adequado para pacientes hipovolêmicos. 3 Contribuir para garantir a disponibilidade de fluidos de reposição essenciais ao seu hospital. 63 SEÇÃO 4 4.1 Definições Fluidos de manutenção Soluções de manut enção: Soluções cristalóides utilizadas para reposição manutenção: de perdas fisiológicas normais através da pele, pulmões, fezes e urina Fluidos de manutenção são os fluidos utilizados para repor as perdas fisiológicas que ocorrem num paciente através da pele, pulmão, fezes e urina. Como uma proporção considerável destas perdas é composta por água, os fluidos de manutenção são geralmente compostos de água numa solução de dextrose. Alguns eletrólitos podem estar incluídos nestas soluções. Todos os fluidos de manutenção são soluções cristalóides. Alguns exemplos de cristalóides que podem ser usados como fluidos de manutenção são: 5% dextrose 4% dextrose em cloreto de sódio 0.18%. O volume do fluido de manutenção necessário a um paciente é variável, principalmente se houver febre, temperatura ou umidade ambiente elevada, quando as perdas são intensificadas. A Figura 4.1 mostra as necessidades de eletrólitos e líquidos para adultos e crianças, sob circunstâncias normais. Figura 4.1: Necessidades normais de líquidos e eletrólitos em crianças e adultos Peso Fluidos g/2 4h ml/kg/2 g/24h ml/k Sódio g/2 4h mEq/kg/2 g/24h mEq/k Crianças 0 a 10 kg 10 a 20 kg Acima de 20 kg 100 (4*) 50 (2*) 20 (1*) 3 1,5 0,75 (3**) Adultos Qualquer peso 35 (1,5*) 1 * ml/kg/hora Potássio g/2 4h mEq/kg/2 g/24h mEq/k (2**) (0,75**) 2 1 0,5 (1**) 0,75 (0,75**) (1,5**) (1**) (0,5**) **mmol/kg/24h Atividade 10 fluidos de reposição reposição: Fluidos utilizados para reposição de perdas anormais de sangue, plasma ou outros fluidos extracelulares, aumentando o volume do compartimento vascular 64 Calcule as necessidades normais de fluidos de manutenção numa criança de 16 kg num período de 24 horas. Quanto de sódio e potássio é necessário para a mesma criança neste mesmo período? Fluidos de reposição Os fluidos de reposição são utilizados para repor perdas excessivas de sangue, plasma, ou outros fluidos extravascular, através do aumento do volume do compartimento vascular. Algumas vezes são chamados de substitutos do plasma. F LUIDOS DE REPOSIÇÃO São utilizados principalmente nas seguintes situações: Tratamento de pacientes com hipovolemia instalada: choque hemorrágico Manutenção da normovolemia em pacientes que estão perdendo líquidos: perdas cirúrgicas. Todas as soluções colóides são fluidos de reposição. No entanto, somente as soluções cristalóides que possuem a concentração do sódio semelhante à do plasma são adequadas como solução de reposição. soluções salinas balanceadas: Geralmente soluções de cloreto de sódio com composição eletrolítica semelhante à dos fluidos extracelulares Algumas dessas soluções cristalóides possuem uma composição semelhante ao fluido extravascular, sendo conhecidas como soluções salinas balanceadas balanceadas: por exemplo, Ringer-lactato ou Solução de Hartmann. São exemplos de soluções de reposição: Cristalóides com concentração de sódio semelhante à do plasma: - Solução normal de salina (cloreto de sódio 0,9%) - Ringer-lactato - Solução de Hartmann Todas as soluções colóides. 4.2 Terapia de reposição intravenosa Na hipovolemia, o objetivo inicial é restaurar o volume circulante sangüíneo para manter a perfusão tecidual e a oxigenação. A administração de soluções de reposição restaura o volume através do aumento do volume do compartimento vascular. Uma transfusão sangüínea pode se tornar necessária quando há perda excessiva de sangue. No entanto, até mesmo nos casos de hemorragia grave, o tratamento inicial com soluções de reposição intravenosas pode salvar a vida do paciente, e permitir um tempo para obtenção do sangue adequado à transfusão. As soluções de reposição intr avenosas são a primeir at ament intravenosas primeiraa linha de tr trat atament amentoo par paraa a hipo volemia. hipovolemia. 4.3 Fluidos de reposição intravenosa soluções cris cristtalóides: Solução aquosa de pequenas moléculas que atravessam a membrana capilar: salina normal, soluções salinas balanceadas Cristalóides Os cristalóides são compostos por substâncias cristalóides como dextrose ou cloreto de sódio que, quando dissolvido em água, forma uma solução de eletrólitos ou açúcares. As reposições de fluidos cristalóides contêm uma concentração de sódio similar ao do plasma. Isto impede que os fluidos sejam removidos do compartimento intracelular, já que a membrana celular é geralmente 65 SEÇÃO 4 impermeável ao sódio. Entretanto, os fluidos cruzam rapidamente as membranas capilares, dirigindo-se do compartimento vascular ao compartimento intersticial, para então serem distribuídos por todo o compartimento extracelular. Normalmente, somente um quarto da solução cristalóide permanece no compartimento vascular. Por esta razão, os cristalóides devem ser infundidos num volume que corresponda ao triplo do déficit, de forma a restaurar o volume sangüíneo (volume intravascular). Os cris vem ser infundidos em volume 3 vezes superior ao volume cristtalóides de devem icitário, de fforma orma a corrigir a hipo volemia. deficitário, hipovolemia. sangüíneo def Quando grandes volumes de fluidos cristalóides são administrados, pode ocorrer edema como resultado do extravasamento do fluido, que “passa” da circulação para o compartimento intersticial. É essencial que haja monitorização clínica rigorosa. Fluidos cristalóides que contenham exclusivamente dextrose não são recomendados para uso como fluidos de reposição.(ver figura 4.2) Figura 4.2: Adequação das soluções conforme manutenção ou reposição Solução Cristalóide composta principalmente por dextrose Cristalóide com alta concentração de sódio e soluções balanceadas Colóide Fluido de manutenção 9 x x Fluido de reposição 9 x 9 A dextrose é rapidamente metabolizada, permanecendo apenas a água, que rapidamente cruza o capilar e parede celular, para então se distribuir nos compartimentos intra e extracelular. Somente uma pequena fração permanece no compartimento vascular, como mostra a figura 4.3. As soluções de dextr ose (glicose) não contêm sódio, e são pobres como ffluidos luidos dextrose de reposição. Não as utilize no tr at ament volemia, a não ser que não trat atament amentoo de hipo hipovolemia, haja alt ernativ a. alternativ ernativa. soluções colóides colóides: Uma solução de moléculas grandes, com passagem restrita através das membranas capilares. Utilizadas como fluidos de reposição: gelatinas, dextran, hidroxiletilamido. 66 Colóides As soluções colóides são compostas por uma suspensão de partículas que têm peso molecular superior aos cristalóides. Estas partículas, em geral, são muito grandes para passarem pelas membranas capilares, e tendem a permanecer inicialmente no espaço intravascular. O efeito destas partículas na circulação é o de mimetizar as proteínas plasmáticas, mantendo ou elevando a pressão oncótica do sangue. O peso molecular e o número de partículas numa solução colóide são F LUIDOS DE REPOSIÇÃO Figura 4.3: Distribuição intravenosa de fluidos pressão oncótica oncótica: A pressão osmótica exercida pelas soluções colóides. Também chamada de “pressão colóido-osmótica”. importantes para determinar suas propriedades. Quanto maior for o tamanho da partícula, maior será sua permanência e ação no compartimento vascular. Também, quanto maior for o número de partículas, maior será seu efeito osmótico. Soluções com pressão oncótica maior que a do plasma têm a capacidade de remover água do compartimento intersticial para o sangue. O aumento da volemia pode, portanto, exceder o volume infundido (ver Fig. 4.3). Os colóides podem ser classificados como: 1 Derivados do plasma (naturais): obtidos a partir do sangue total ou plasma (albumina, por exemplo). Estes não devem ser utilizados como líquidos de reposição. 2 Sintéticos: obtidos de outras fontes, por exemplo, cartilagem bovina. As soluções colóides requerem menor volume na infusão do que as cris cristtalóides. alment e, são adminis tr adas em volume igual ao do déf icit de sangue. Geralment almente, administr tradas déficit Ger No entanto, em muitas condições nas quais a permeabilidade capilar está aumentada, pode ocorrer saída da circulação, levando a uma expansão volumétrica mais curta. Infusões suplementares poderão ser necessárias para manter o volume sangüíneo nas seguintes condições: Trauma Sepse aguda ou crônica 67 SEÇÃO 4 Queimaduras Picada de cobra (hemotóxica ou citotóxica) Aler unca infunda água pur avenosa; ela causará hemólise! Alertta: N Nunca puraa em via intr intravenosa; A solução de reposição intravenosa ideal A propriedade mais importante de um fluido de reposição intravenosa é ocupar volume no compartimento vascular. Um fluido de reposição ideal deve realizar isto num intervalo razoável de tempo, sem interferir com as funções normais do sangue. Além disso, deve ser: Disponível e barato Atóxico Anti-alérgico e livre de riscos de infecção Totalmente metabolizado ou eliminado pelo corpo. Infelizmente, nenhum fluido atende a todos esses requerimentos. Portanto, é importante estar familiarizado com as propriedades e as características das soluções disponíveis em seu hospital, para ser capaz de usá-las de forma segura. A controvérsia entre cristalóides e colóides Muito se tem escrito sobre a controvérsia no uso de cristalóides ou colóides, mas pode-se resumir este assunto conforme a explicação que se segue. A maioria dos clínicos concorda que é necessário repor o volume sangüíneo em pacientes hipovolêmicos com fluidos de reposição. No entanto, discordam sobre o tipo de fluido que deve ser utilizado. Os dois tipos de soluções possuem vantagens e desvantagens, como mostra a figura 4.4. No entanto, garantir que o volume infundido esteja adequado ao paciente hipovolêmico é mais importante que a escolha de qual tipo de fluido deve ser utilizado. Figura 4.4: Vantagens e desvantagens dos cristalóides Cris Cristtalóides Colóide Vant agens antagens Desv ant agens Desvant antagens Poucos efeitos colaterais Ação rápida Baixo custo Pode causar edema Ampla disponibilidade Peso e volume Ação mais duradoura Não há evidência que sejam Menos fluido necessário clinicamente mais efetivos para correção da hipovolemia Alto custo Menor peso Pode causar sobrecarga circulatória Pode interferir na coagulação Risco de reações anafiláticas 68 F LUIDOS DE REPOSIÇÃO Não há eevidências vidências que as soluções colóides sejam superiores às soluções salinas normais ou balanceadas na ressuscit ação. ressuscitação. Se o fornecimento de fluidos de infusão for limitado, recomenda-se, sempre que possível, que seja mantido um estoque de soluções cristalóides de salina normal (0.9%) ou balanceada, como Ringer-lactato ou de Hartmann, em todos os hospitais que necessitem de fluidos de reposição. Segurança Antes de administrar uma solução intravenosa deve-se: 1. Verificar se o lacre da bolsa ou frasco de infusão não esteja rompido. 2. Verificar a data de vencimento. 3. Observar se a solução está clara e livre de partículas visíveis. 4.4 Outras vias de administração de fluidos É importante lembrar que há outras vias de administração de fluidos além da intravenosa. No entanto, com exceção da via intra-óssea, elas geralmente são inadequadas para pacientes hipovolêmicos graves. Via intra-óssea A via intra-óssea pode fornecer um acesso rápido à circulação em crianças chocadas, nas quais o acesso venoso não esteja disponível. Sangue, fluidos e certas drogas podem ser administradas por essa via (veja Seção 13.6 : Tratamento de pacientes pediátricos). Via oral A reidratação oral pode ser utilizada em pacientes moderadamente hipovolêmicos se a via oral não estiver contra-indicada. Não a use se: O paciente estiver inconsciente O paciente possui lesões gastrointestinais ou diminuição da motilidade intestinal: por exemplo, obstrução Em iminência de cirurgia e anestesia geral. Diversas preparações de sais de reidratação oral estão disponíveis na forma concentrada para reconstituição com água potável. Há pequenas diferenças na composição delas. A fórmula da OMS/UNICEF está descrita na figura 4.5. 69 SEÇÃO 4 Figura 4.5: Fórmula de reidratação oral da OMS/UNICEF Solução de reidr at ação or al reidrat atação oral Dissolver num litr litroo de água potável Cloreto de sódio (sal de cozinha) Bicarbonato de sódio Cloreto de potássio ou substituto adequado (banana ou refrigerante à base de cola degaseificado) Glicose (açúcar) Concentr ações result ant es Concentrações resultant antes + Na 90 mEq/ L Cl 80 mEq/ L (90 mmol/ L) (80 mmol/ L) K+ 20 mEq/ L 3,5 g 2,5 g 1,5 g 20,0 g Glicose 110mmol/L (20 mmol/ L) Via retal O reto pode ser utilizado para a infusão de fluidos. Eles são prontamente absorvidos, e a absorção cessa quando a hidratação estiver completa. As soluções retais são administradas através de um tubo de enema plástico ou de borracha, que é inserido no reto, e conectado a um frasco de fluido. Se necessário, a taxa de infusão pode ser controlada por gotejamento. As soluções utilizadas não precisam ser estéreis. Uma solução segura e efetiva de reidratação retal é um litro de água potável com uma colher de chá de sal de cozinha. Via subcutânea Ocasionalmente, quando outras vias de administração não são disponíveis, pode-se utilizar a via subcutânea. Uma cânula ou agulha é inserida no tecido subcutâneo (de preferência na parede abdominal) e fluidos estéreis são administrados de maneira convencional. Não administre soluções contendo dextrose na forma subcutânea, pois estas podem edemaciar os tecidos. 4.5 Características dos fluidos de reposição O restante desta seção detalha algumas soluções intravenosas de reposição disponíveis comercialmente. A composição dos fluidos de reposição e do plasma está descrita na figura 4.6 da página 71. Alguns hospitais produzem localmente os fluidos intravenosos. É importante verificar a formulação destes produtos para garantir o seu uso adequado. ATIVIDADE 11 Verifique se o seu conhecimento sobre cristalóides e colóides está completo, e se você está familiarizado com as suas características e usos. Organize uma sessão educacional para a sua equipe relevante, no intuito de atualizar o conhecimento sobre uso e efeitos dos fluidos de reposição. 70 F LUIDOS Figura 4.6: Composição das soluções de reposição e do plasma Solução K+ mEq/L Ca++ mEq/L ClmEq/L BasemEq/L (mmol/L) (mmol/L) (mmol/L) (mmol/L) (mmol/L) 154 0 0 154 0 (154) (0) (0) (154) (0) 0 4-5 2-3 (130-140) (4-5) (4-6) (109-110) (28-30) 145 5,1 12,5 145 traços (145) (5,1) (6,25) (145) <0,4 <0,4 125 (<0,4) (<0,8) (125) 154 0 0 154 0 58 (154) (0) (0) (154) (0) (58) 130 4 4 110 30 22 (130) (4) (2) (110) (30) (22) 154 0 0 154 0 28 (154) (0) (0) (154) (0) (28) 130-160 <1 V V V 27 (130-160) (<1) Gelatina Sucinilada: 154 Gelofusine (154) Dextran 70 (6%) Dextran 60 (3%) Hidroxietilamido 450/0,7 (6%) 109-110 28-30 Pressão colóidoosmótica mmHg 130-140 Colóides Gelatina: (ligada a uréia: Hemacel) Albumina 5% REPOSIÇÃO Na+ mEq/L Cris Cristtalóides Salina normal (NaCl 0,9%) Soluções salinas balanceadas (Ringer / Hartmann) DE (3,5-5,5) 27 (27) traços 34 (34) (27) Plasma normal 135-145 3,5-5,5 2,2-2,6 97-110 (135-145) 0 (2,2-2,6) (97-110) 38-44 27 (38-44) (27) V = Variação conforme o lote ATIVIDADE 12 Faça uma lista com os fluidos de reposição que estejam disponíveis em seu hospital. Você acredita que alguma alternativa, ou fluido adicional deva estar disponível em seu local de serviço? O fornecimento de fluidos de reposição é inadequado ou irregular? Se sim, quais as razões? Política nacional ou local Custo Problemas de transporte Considere como você pode influenciar na política da escolha dos fluidos de reposição em seu serviço. Converse com seus colegas mais velhos, e desenvolva um plano de ação para aumentar o estoque e o uso efetivo de fluidos de reposição que considere essencial. 71 SEÇÃO 4 ATIVIDADE 13 Há manuais escritos em seu serviço sobre o uso de fluidos de reposição? Se sim, estes são usados de maneira apropriada e consistente? Se na atualidade não houver manuais, desenvolva alguns em acordo com seus colegas mais experientes. Organize uma sessão educacional para a equipe responsável. e monitore a implantação destes manuais. 72 F LUIDOS DE REPOSIÇÃO Soluções cristalóides SALIN A NORMAL ( Clore ALINA Cloretto de sódio 0,9%) Descrição Consiste numa solução isotônica de cloreto de sódio numa concentração próxima à fisiológica, 154 mEq/L (mmol/L) de sódio e cloro Unidades 500 ml ou 1000 ml Risco de infecção Nenhum Armazenamento Num local frio Dose Pelo menos três vezes o volume perdido Meia-vida plasmática Pequena, aproximadamente 45 minutos: rapidamente distribuída através do compartimento extracelular Indicações Reposição de volume sangüíneo ou perda de fluidos extracelulares Precauções Cuidado em situações nas quais um edema pode agravar a patologia, por exemplo lesão craniana Pode precipitar sobrecarga circulatória e insuficiência cardíaca Contra- indicações Não use em pacientes com insuficiência renal presente Efeitos colaterais Podem ocorrer edemas teciduais quando são utilizados grandes volumes SOLUÇÕES SSALIN ALIN AS BALANCEAD AS ALINAS BALANCEADAS Descrição Estas soluções possuem uma composição que se assemelha com o fluido extracelular (veja figura 4.6) e pode ser infundida em grandes volumes sem provocar distúrbios eletrolíticos Exemplos Ringer-lactato Solução de Hartmann Unidades 500 ml ou 1000 ml Risco de infecção Nenhum Armazenamento Num local fresco Dose Pelo menos três vezes o volume sangüíneo perdido Meia-vida plasmática Pequena, aproximadamente 45 minutos: rapidamente distribuída através do compartimento extracelular Indicações Reposição do volume sangüíneo e outras perdas de fluido extracelular Precaução Cuidados em situações em que o edema pode agravar a patologia: trauma craniano Pode precipitar sobrecarga circulatória e insuficiência cardíaca Contra-indicações Não use em pacientes com insuficiência renal Efeitos colaterais Quando são utilizados grandes volumes, pode ocorrer edema tecidual 73 SEÇÃO 4 DEXTR OSE E SOLUÇÕES ELETR OLÍTIC AS DEXTROSE ELETROLÍTIC OLÍTICAS Exemplos 4,3% dextrose em cloreto de sódio 0,18% 2,5% dextrose em cloreto de sódio 0,45% 2,5% dextrose em solução de Darrow Descrição Soluções de dextrose contendo alguns eletrólitos; como a concentração de sódio está diminuída, um volume progressivo de fluidos irá atravessar as células Meia- vida plasmática Muito curta: rapidamente distribuída através do compartimento intracelular e extracelular Indicações Geralmente utilizados para manutenção, mas aquelas que contenham uma concentração mais alta de sódio podem ser utilizadas como fluido de reposição Not otaa 2,5% dextrose em solução de Darrow é comumente utilizada para corrigir desidratação e distúrbios eletrolíticos em crianças com gastroenterites.Diversos produtos são manufaturados para este uso. Nem todos são adequados. Assegure-se que a preparação utilizada contenha: Dextrose 2,5% Sódio 60 mEq/L (mmol/L) Potássio 17 mEq/L (mmol/L) Cloreto 52 mEq/L (mmol/L) Lactato 25 mEq/L (mmol/L) 74 F LUIDOS DE REPOSIÇÃO Soluções colóides derivadas do plasma (naturais) Colóides derivados do plasma são preparados a partir de plasma ou sangue doado. Incluem: Plasma Plasma fresco congelado Plasma líquido Plasma descongelado Albumina Es odut os não de vem ser utilizados simplesment reposição Podem transmitir Esttes pr produt odutos devem simplesmentee como soluções de reposição. doenças infecciosas, como HIV e hepatite, como o sangue total. Geralmente são mais caros que as fluidos cristalóides ou colóides sintéticos. A descrição desses produtos é feita na seção 5: Produtos Sangüíneos. Soluções colóides sintéticas GELA TIN AS (Hemacel, Gelofusine) GELATIN TINAS Descrição Consiste em cadeias moleculares de gelatina preparadas a partir de colágeno bovino com peso molecular de aproximadamente 30.000 Formulações Hemacel: 3,5% gelatina em cloreto de sódio 0,9% Gelofusine: 4% gelatina em cloreto de sódio 0,9% Unidades 500 ml Risco de infecção Nenhum conhecido até o presente Armazenamento Em temperatura ambiente abaixo de 25ºC: estável por cinco anos Dose Não é conhecida a dose limite Pressão colóido-osmótica Hemacel: aproximadamente 27 mmHg. Expansão de volume plasmático igual ao volume infundido Gelofusine: aproximadamente 34 mmHg. Expansão do volume plasmática excede o volume infundido Meia vida plasmática Aproximadamente 4 horas: pequena duração de ação, porém maior que a dos cristalóides Eliminação Excreção renal Indicações Reposição do volume sangüíneo Precauções Pode precipitar falência cardíaca Cuidado em insuficiência renal Não misture hemacel com sangue citratado, devido à alta concentração de cálcio Contra-indicações Não use em pacientes com insuficiência renal Efeitos colaterais Leves reações alérgicas devido a liberação de histamina Pode ocorrer aumento transitório no tempo de sangramento Podem ocorrer reações de hipersensibilidade, raramente anafilaxia 75 SEÇÃO 4 DEXTRAN 60 E DEXTRAN 70 Descrição Consiste de cadeias macromoleculares de glicose com média de peso molecular de 70,000 Formulações 3% dextran 60 em cloreto de sódio 0,9% 6% dextran 70 em cloreto de sódio 0,9% 6% dextran 70 em 5% dextrose Unidades 500 ml Risco de infecção Nenhum Armazenamento Temperatura ambiente, não excedendo 25 º C Dose Dextran 60: não deve exceder 50 ml/kg de peso em 24 horas Dextran 70: não deve exceder 25 ml/kg de peso em 24 horas Pressão colóido-osmótica Aproximadamente 58 mmHg. A expansão do volume plasmático excede o volume infundido Meia-vida plasmática Aproximadamente 12 horas Eliminação Predominantemente renal Indicações Reposição de volemia Profilaxia pós-cirúrgica de trombose venosa Precauções Podem ocorrer distúrbios da coagulação Inibe agregação de plaquetas Algumas preparações podem interferir nos testes de coagulação Contra-indicações Não use em pacientes com doenças de hemostasia e coagulação pré- existentes Efeitos colaterais Reações alérgicas leves Pode ocorrer aumento transitório no tempo de sangramento Podem causar reações de hipersensibilidade, raramente anafilaxia. Podem ser prevenidas pela injeção de 20 ml de Dextran 1 imediatamente antes da infusão, quando disponível DEXTRAN 40 E DEXTRAN 111 10 Não são recomendados como solução de reposição 76 F LUIDOS DE REPOSIÇÃO HIDR OXIETILAMIDO ( He HIDRO Hettas asttar arcch ou HES) Descrição Consiste de formulações macromoleculares naturais do amido, com variação de peso molecular: por exemplo 450.000 Formulação 6% Hetastarch em cloreto de sódio 0,9% Unidades 500 ml Risco de infecção Nenhum Armazenamento Num local frio Dose Não deve exceder 20 ml/kg de peso corporal em 24 horas Pressão colóide-osmótica Aproximadamente 28 mmHg. Expansão de volume plasmático excede um pouco o volume infundido Meia vida plasmática 12 – 24 horas Eliminação Predomínio da excreção renal Precauções Podem ocorrer defeitos de coagulação Pode precipitar sobrecarga circulatória e falência cardíaca Indicações Reposição do volume sangüíneo Contra-indicações Efeitos colaterais Não usar em pacientes com distúrbios de hemostasia e coagulação pré-existentes Não use em pacientes com insuficiência renal Reações alérgicas leves devido à liberação de histamina Pode ocorrer aumento transitório do tempo de sangramento Pode haver reações de hipersensibilidade, raramente anafilaxia Aumento não significativo da amilase sérica O HES é retido nas células do sistema reticulo-endotelial; os efeitos a longo prazo são desconhecidos PENT AS CH PENTAS ASTTAR ARCH Semelhante ao hetastarch, mas é uma solução a 10% com peso molecular de 280,000 Meia vida de 10 horas Pressão oncótica é de aproximadamente 40 mmHg; expansão de volume plasmático excede o volume infundido PR ODUT OS SSANGÜÍNEOS ANGÜÍNEOS SINTÉTICOS PRODUT ODUTOS Dois produtos, hemoglobina livre de estroma e perfluocarbonados, estão atualmente sob investigação. São colóides e possuem a vantagem de ser capazes de transportar oxigênio. No momento, não estão disponíveis para uso clínico. 77 5 Produtos sangüíneos Pontos chave 1 Os pr odut os sangüíneos segur os, se usados corre e, podem salv ar produt odutos seguros, correttament amente, salvar vidas. N ant o, mesmo quando os padrões de qualidade fforem orem ele entant anto, elevvados, Noo ent a tr ansfusão acarre orem fr acos ou inconsis es, transfusão acarretta riscos. Se os padrões fforem fracos inconsisttent entes, a tr ansfusão pode ser extremament transfusão extremamentee arriscada. odut ve ser adminis tr ado, a menos 2 Nenhum sangue ou pr administr trado, produt odutoo sangüíneo de deve odos os ttes es tr arem negativos. que ttodos nacionalmentee se mos mostr trarem esttes exigidos nacionalment 3 Cada unidade de ve ser ttes es otulada com o grupo AB O e Rh D. deve esttada e rrotulada ABO 4 O sangue ttot ot al pode ser tr ansfundido par agias otal transfundido paraa repor hemácias em hemorr hemorragias agudas, quando ttambém ambém houver necessidade de corrigir hipo volemia. hipovolemia. 5 A prepar ação de component es sangüíneos a par tir de uma doação individual preparação componentes partir fornece tr at ament es, e eevit vit ansfusão de trat atament amentoo par paraa dois ou três pacient pacientes, vitaa a tr transfusão element os de sangue ttot ot al que o pacient a. Os component es elementos otal pacientee não necessit necessita. componentes sangüíneos ttambém ambém podem ser cole colettados por aférese. 6 O plasma pode tr ansmitir a maioria das inf ecções present es no sangue ttootransmitir infecções presentes tal e há poucas indicações par paraa o seu uso. 7 Os deriv ados plasmáticos são ffeit eit os por pr ocesso de pr odução ffarmacêutica, armacêutica, derivados eitos processo produção a par tir de gr andes volumes de plasma de diver sas doações individuais de partir grandes diversas sangue. Es vem ser ttes es ecções Esttes de devem estt ados par paraa diminuir os riscos de inf infecções tr ansmissíveis. transmissíveis. 8 Os FFat at ores VIII , IX e as imunoglobulinas ttambém ambém são ffeit eit os por ttecnologia ecnologia atores eitos de DN A recombinant e, sendo ger alment eridos, por não haver risco de DNA recombinante, geralment almentee pref preferidos, tr ansmissão de agent es inf ecciosos ao pacient e. N ant o, os cus transmissão agentes infecciosos paciente. Noo ent entant anto, custtos são ele elevvados e algumas complicações têm sido repor reporttadas. 78 PRODUTOS SANGÜÍNEOS Introdução O termo “produto sangüíneo” refere-se a qualquer substância terapêutica preparada a partir do sangue humano. O sangue pode ser separado em diversos componentes sangüíneos para várias indicações clínicas. No entanto, muitos países não possuem instalações para a separação de componentes, e o sangue total continua sendo o produto mais utilizado na maioria dos países subdesenvolvidos. O uso de sangue total pode ser a mais segura e sustentável maneira de cobrir as necessidades transfusionais mais urgentes. No entanto, quando há recursos disponíveis, o uso de componentes sangüíneos oferece certas vantagens. Esta seção descreve os métodos de produção de vários componentes sangüíneos e sumariza suas características e indicações de uso. Você deve estar familiarizado com cada produto sangüíneo utilizado em seu serviço, seja sangue total, componente sangüíneo ou derivado do plasma. Uma vez que a transfusão sangüínea envolve um transplante de tecidos do doador para o receptor, há o risco do receptor desenvolver infecções transmissíveis ou uma resposta imunológica a células estranhas ou proteínas plasmáticas (veja seção 7 : Efeitos Adversos da Transfusão). Você só deve prescrever produtos sangüíneos quando houver indicação clara para fazê-lo. Usado corretamente, pode salvar vidas. O uso inapropriado pode colocá-las em risco. Objetivos do estudo Quando completar esta seção, você deverá estar apto a: 1 Descrever as principais características de cada produto sangüíneo utilizado rotineiramente em seu serviço. 2 Prescrever o componente sangüíneo disponível mais apropriado para as necessidades de cada paciente. 3 Explicar os principais fatores que podem influenciar o uso e a disponibilidade dos componentes sangüíneos. 79 SEÇÃO 5 5.1 Definições Quando o termo “sangue” for utilizado neste módulo, refere-se a qualquer componente sangüíneo que seja constituído, em sua maioria, por glóbulos vermelhos (isto é: sangue total, concentrado de hemácias ou suspensão de glóbulos vermelhos), salvo quando definido de outra maneira. A definição de diferentes produtos sangüíneos é dada na figura 5.1. Figura 5.1: Produtos sangüíneos: definições DEFINIÇÕES Pr odut Produt odutoo sangüíneo Qualquer substância terapêutica preparada a partir de sangue humano Sangue ttot ot al otal Sangue não separado colhido em recipiente adequado contendo uma solução anticoagulante-preservante Component Componentee sangüíneo 1 Uma parte do sangue, separada do sangue total como: Concentrado de hemácias Suspensão de glóbulos vermelhos Plasma Concentrado de plaquetas 2 Plasma ou plaquetas coletadas por aférese * 3 Crioprecipitado, preparado a partir de plasma fresco congelado, rico em fator VIII e fibrinogênio Derivado Deriv ado do plasma Proteínas do plasma humano preparadas sob condições de produção farmacêutica, tais como: Albumina Concentrado de fatores de coagulação Imunoglobulinas * Aférese: um método de coleta de plasma ou plaquetas diretamente do doador, geralmente, por um método mecânico. 5.2 Sangue total O sangue total é obtido de doadores de sangue através de venopunção. Durante a doação, o sangue é coletado numa bolsa plástica, estéril, descartável, que contém uma solução preservante e anticoagulante. Geralmente, esta solução contém citrato, fosfato, dextrose e adenina (CPDA). Suas funções estão resumidas na figura 5.2. Há variações no volume de sangue coletado e no tipo de solução preservante e anticoagulante usada em diversas partes do mundo. Frascos de vidro ainda são utilizados em alguns países para a coleta e armazenamento de sangue. 80 PRODUTOS Figura 5.2: Funções das soluções anticoagulante e preservante nas bolsas de coleta SOLUÇÕES SANGÜÍNEOS FUNÇÕES C Citrato de sódio Liga-se aos íons de cálcio ao sangue na troca por sódio, para que o sangue não coagule P Fosfato Mantém o metabolismo das hemácias durante o armazenamento, garantindo a rápida liberação de oxigênio para os tecidos D Dextrose Preserva a membrana eritrocitária aumentando o período de armazenamento A Adenina Produz força energética Durante o armazenamento, permanece o metabolismo dos glóbulos vermelhos e das plaquetas, enquanto que algumas proteínas plasmáticas perdem sua atividade biológica. Os efeitos metabólicos e bioquímicos do armazenamento estão resumidos na Figura 5.3. Figura 5.3: Efeitos de armazenamento no sangue total Ef eit os de armazenament ot al Efeit eitos armazenamentoo no sangue ttot otal Redução do pH (o sangue torna-se mais ácido) Aumento da concentração do potássio plasmático Redução progressiva de 2,3 DPG nos glóbulos vermelhos , que pode reduzir a liberação de oxigênio tecidual até que o 2,3 DPG seja restaurado Perda de toda a função plaquetária no sangue total dentro de 48 horas após a doação Redução do fator VIII para 10 – 20 % do normal dentro de 48 horas da doação. Os fatores de coagulação tais como o VII e IX são relativamente estáveis no armazenamento Qualquer sangue deve ser coletado, testado e processado nos mais altos padrões de segurança, como mostra a figura 5.4 na página 82. Vantagens Necessita somente de bolsas de coletas únicas simples e baratas Não é necessário equipamento para seu processamento Para pacientes com hemorragia, o sangue total fornece glóbulos vermelhos, volume e fatores estáveis da coagulação. Desvantagens Para pacientes com risco de sobrecarga circulatória, o sangue total contém um volume maior do que o concentrado de hemácias. 81 SEÇÃO 5 Figura 5.4: Produção de sangue total 5.3 Componentes sangüíneos O sangue total pode ser adequado para transfusão em diversas situações clínicas, como a reposição de glóbulos vermelhos em perda sangüínea aguda, quando há também hipovolemia. No entanto, a separação de sangue total em seus componentes – hemácias, plaquetas e plasma – é largamente utilizada para uso quando somente são requeridos estes componentes específicos. Estes componentes podem ser posteriormente processados para: Remoção de leucócitos Formação de “pool” (combinando plaquetas individuais de 4 – 6 doações para produzir uma dose conveniente a um paciente adulto), como mostra a figura 5.5.. O processo de separação requer bolsas plásticas específicas, outros equipamentos, um nível mais alto de conhecimento e maior trabalho para garantir a qualidade dos componentes produzidos. Um agent eccioso present ansmitido agentee inf infeccioso presentee numa doação de sangue pode ser tr transmitido odos os recept ores dos component es prepar ados a par tir de uma única paraa ttodos receptores componentes preparados partir par doação. 82 PRODUTOS SANGÜÍNEOS Figura 5.5: Produtos sangüíneos Component es plaque tários Componentes plaquetários Uma unidade, obtida da doação de uma doação de sangue total Unidades em “pool” (de 4-6 doações unitárias) Unidade de doador único, preparada por aférese Component es eritr ocitários Componentes eritrocitários Concentrados de hemácias Suspensão de hemácias (hemácias + solução aditiva) Hemácias com depleção do buffy-coat Hemácias leucodepletadas Component es Componentes plasmáticos Plasma fresco congelado Plasma líquido Plasma liofilizado Plasma pobre em crioprecipitado Plasma com inativação viral Crioprecipitado Deriv ados Derivados plasmáticos Albumina Fatores da coagulação Imunoglobulina Quando o plasma é removido do sangue total, os glóbulos vermelhos podem ser usados como concentrado de hemácias ou formar uma suspensão de glóbulos vermelhos por adição de uma solução diluente aditiva. Concentrado de hemácias O concentrado de hemácias (também chamado de concentrado de glóbulos vermelhos) é o mais simples componente de glóbulos vermelhos. É preparado pela separação do sangue sob efeito da gravidade durante toda a noite num refrigerador a uma temperatura de +2ºC a +6ºC, ou por centrifugação da bolsa de sangue numa centrífuga refrigerada. 83 SEÇÃO 5 O plasma então é removido por transferência para uma segunda bolsa plástica, que é conectada à bolsa de sangue total, garantindo-se a esterilidade, e as hemácias permanecem na bolsa original (figura 5.6) Figura 5.6: Preparo de suspensão de hemácias O concentrado de hemácias também contém glóbulos brancos do sangue doado. Vantagens Preparação simples e barata Desvantagens Tem uma alta concentração de hemácias no plasma (alto hematócrito), que aumenta a viscosidade, aumentando o tempo necessário para a transfusão através de agulhas ou cânulas pequenas Em alguns pacientes, os leucócitos são a causa de reações febris não hemolíticas.. Suspensão de glóbulos vermelhos Preparada a partir da remoção do plasma para uma segunda bolsa plástica, como descrito abaixo. Uma solução diluente aditiva formulada para melhor preservação das hemácias é transferida da terceira bolsa plástica para a original (figura 5.7) Vantagens 84 Menor volume da bolsa, com diminuição da viscosidade e, portanto, infusão facilitada Melhor preservação dos glóbulos vermelhos durante o armazenamento, conferindo maior meia-vida que o sangue total ou concentrado de hemácias Permite o uso de componentes separados (plasma / plaquetas) para outros pacientes. PRODUTOS SANGÜÍNEOS Figura 5.7: Preparo de suspensão de hemácias Desvantagens Custo: é necessário um sistema de coleta especial contendo três bolsas interligadas É necessário equipamento caro (centrífuga refrigerada). A figura 5.8 mostra o volume do concentrado de glóbulos vermelhos que pode ser preparada a partir da doação sangüínea de 450 ml. Figura 5.8 : Volume do concentrado de glóbulos vermelhos preparado a partir da doação sangüínea de 450 ml. Composição Sangue ttot ot al otal Concentr ado Concentrado de hemácias Suspensão de hemácia sem solução aditiv aditivaa Sangue 400-500 ml 220-340 ml 280-420 ml 63 ml Mínimo 0 Pequena quantidade de plasma permanece para melhorar a viscosidade, além de algum benefício da solução aditiva 100 ml Anticoagulante Solução aditiva Hemoglobina Mínimo 45g Mínimo 45g Mínimo 45g Hematócrito % 45-55% 55-75% 50-70% Hemácias: ml 120-250 ml 120-250 ml 120-250 ml Plasma 200-300 ml 50-70 ml 10-20 ml (ou menos) 21 dias: ACD, 35 dias: CPDA 42 dias: CPDA + solução aditiva para hemácias ( ex. SAG-MANITOL) Armazenamento 21 dias: ACD,CPD mínimo entre 35 dias: CPDA o o +2 C e +6 C CD = Citrato ácido dextrose CPD = Citrato fosfato dextrose CPDA = Citrato fosfato dextrose adenina 85 SEÇÃO 5 Glóbulos brancos (leucócitos) As transfusões de leucócitos não provaram seu valor clínico. A remoção dos leucócitos a partir de outros produtos sangüíneos (leucodepleção) pode reduzir a incidência de reações febris e o risco de transmitir citomegalovírus (CMV) e outros agentes infecciosos pela transfusão. Glóbulos vermelhos depletados de “buffy coat” buf fy coat : A camada de buffy leucócitos que forma a interface entre os eritrócitos e o plasma quando o sangue é centrifugado. A remoção dos leucócitos a partir de sangue total necessita de centrifugação controlada, de maneira que as hemácias se acomodem na base da bolsa de sangue. Os leucócitos (e a maioria das plaquetas) permanecem numa fy coat ”, que forma uma interface entre as hemácias camada chamada “buf buffy coat”, e o plasma. Quando recursos são disponíveis, equipamentos e sistema de bolsas fy coat ”. especiais podem ser utilizados para remover o “buf buffy coat”. Vant agens antagens Os glóbulos vermelhos são mantidos com cerca de 10% de leucócitos no concentrado de hemácias Menor risco de reações transfusionais devido a anticorpos antileucocitários, e transmissão de infecções intracelulares quando as hemácias são transfundidas O “buffy coat” pode ser usado para preparar concentrado de plaquetas. Desv ant agens Desvant antagens Custo: é necessário uso de bolsas e equipamentos específicos É necessário maior conhecimento e treinamento do operador. Glóbulos vermelhos ou sangue total leuco-reduzidos (filtrados) Filtros especiais de leucócitos podem ser usados para remover virtualmente todos os leucócitos. É de comum acordo que o melhor uso do filtro é feito no momento da transfusão (isto é, durante a infusão do paciente) para evitar qualquer contaminação do sangue estéril antes deste sair do banco de sangue. Vantagens 86 Diminui o desenvolvimento de imunidade a leucócitos Diminui as reações transfusionais agudas, no entanto, a remoção do buffy coat é menos cara, e geralmente mais efetiva para este propósito O sangue filtrado contém menos de 1 x 106 leucócitos por bolsa, não transmitindo infecção por citomegalovírus (CMV). PRODUTOS SANGÜÍNEOS Desvantagens Custo: é necessário uso de bolsas e equipamentos especiais É necessário maior conhecimento e treinamento do operador.. Plasma O plasma é separado do sangue total por centrifugação, ou por sedmentação das hemácias sob gravidade num refrigerador de banco de sangue. Pode ser coletado de doadores por plasmaférese (veja Seção 5.4 abaixo). A principal indicação clínica é o tratamento de distúrbios da coagulação com sangramento devido à redução dos níveis de diversos fatores da coagulação. Para este objetivo, o plasma fresco congelado deve ser utilizado. É separado do sangue total e congelado a –25ºC, ou temperaturas inferiores entre 6-8 horas da doação, de maneira a preservar os fatores de coagulação lábeis (fatores V e VIII). O plasma fresco congelado pode ser armazenado por pelo menos um ano (ou mais), se baixas temperaturas puderem ser mantidas. Quando o plasma é armazenado a uma temperatura de 2 a 6ºC, a atividade dos fatores de coagulação diminuirá para 10 a 20% em 48 horas. Quando houver instalações possíveis, o plasma doado deve ser fracionado para garantir um derivado plasmático seguro e com inativação viral. O plasma não é recomendado como fluido de reposição para corrigir hipovolemia, pois: O plasma apresenta o mesmo risco do sangue total de transmitir HIV, vírus da hepatite B e C, e outras infecções transmissíveis por transfusão. Há pouca evidência que o plasma ofereça qualquer benefício clínico adicional sobre a reposição com cristalóides e colóides no tratamento da hipovolemia O plasma é caro; a reposição com cristalóides é barata e não acarreta risco de infecções transmissíveis. Concentrados de plaquetas As plaquetas separadas do plasma obtido a partir de 4-6 doações de sangue total são unidas num “pool” para produzir uma dose terapêutica de plaquetas para um adulto. Geralmente, os padrões nacionais requerem que esta dose contenha pelo menos 240 x 109/ L de plaquetas. A formação do “pool” aumenta o risco de transmissão de infecções. A dose de plaquetas coletadas a partir de um único doador por plaquetaférese (Seção 5.4 abaixo), evita a exposição a diversas doações. 87 SEÇÃO 5 5.4 Separação de componentes por aféreses aférese: procedimento que envolve a retirada de sangue, com separação ex-vivo do componente (plasma e plaquetas), com reinfusão dos outros componentes. A aférese é um método alternativo de produção de componentes sangüíneos. É um processo estéril, no qual o doador é conectado a um sistema especializado em que o sangue é retirado e um componente específico, geralmente plasma ou plaquetas, é mecanicamente separado e coletado. Os glóbulos vermelhos e outros componentes do sangue que não sejam requeridos são reinfundidos de volta ao doador. A plasmaférese é a coleta de plasma do doador por aférese. ue taférese é a coleta de plaquetas do doador por aférese. A plaq plaque uetaférese A vantagem da aférese é a quantidade maior de plasma e plaquetas que podem ser coletadas de um doador. Como os glóbulos vermelhos são reinfundidos para a circulação do doador, evita-se a anemia ao doador, e o processo pode ser repetido em intervalos freqüentes. 5.5 Produção de derivados plasmáticos (fracionamento do plasma) deriv ados do plasma: derivados Proteína humana plasmática preparada sob condições de manufatura farmacêutica. Inclui albumina, imunoglobulinas e fatores VIII e IX da coagulação. A produção dos derivados de plasma, ou fracionamento plasmático, é um processo de produção farmacêutica com grandes quantidades de plasma, obtidos a partir da separação do sangue total ou plasmaférese, agrupados e processados em produtos específicos. Estes produtos incluem: Albumina Fatores de coagulação, como fator VIII e fator IX Imunoglobulinas. Um único frasco de derivado de plasma como a albumina, produzida por uma grande planta de fracionamento, pode conter plasma de mais ou menos 30 000 doações sangüíneas diferentes, como mostra a figura 5.9 na página 89. Um único lote deste produto pode ser enviado a diversos países no mundo e utilizado em centenas de pacientes. Esta forma de transfusão possui um grande potencial de disseminar infecções. O risco de infecção transmissível por transfusão pode ser evitado apenas por um rigoroso controle de qualidade e boas práticas de manufatura durante o fracionamento do plasma, junto a uso consistente de efetivos métodos para excluir, remover ou inativar qualquer contaminante de todos os estágios do processo, desde a seleção do doador até a inativação viral final do produto. 88 PRODUTOS SANGÜÍNEOS Figura 5.9: Derivados plasmáticos expõem muitos receptores ao plasma de muitos doadores 5.6 Características dos produtos sangüíneos Os anexos desta seção sumarizam as características individuais dos produtos sangüíneos. ATIVIDADE 14 Verifique se seu conhecimento sobre os produtos sangüíneos está completo, e se você está familiarizado com suas características e usos. Organize uma sessão educacional com a equipe para renovar o conhecimento sobre o uso de produtos sangüíneos. ATIVIDADE 15 Faça uma lista dos produtos disponíveis em seu serviço. Há algum requerimento especial para pedir componentes sangüíneos específicos, como concentrado de plaquetas ou concentrado de hemácias leucodepletadas? Por exemplo, há necessidade de uma consulta com um especialista ou discussão do caso com o banco de sangue? 89 SEÇÃO 5 Sangue total SANGUE TTO OTAL (CPD – Adenina – 1) Dados para um volume de doação de 450 ml (10%). O sangue total pode conter uma solução anticoagulante/ aditiva alternativa. Descrição Volume total acima de 510 ml (este volume pode variar conforme as políticas locais) Sangue doado 450 ml 63 ml de anticoagulante Hemoglobina aproximada de 12 g/ml Hematócrito 35 (45%) Sem plaquetas ativas Sem fatores lábeis de coagulação (V e VIII) Unidade de medida 1 doação, também chamada de “unidade” ou “bolsa” Risco de infecção Não esterilizado, portanto, capaz de transmitir qualquer agente presente nas células ou no plasma que não tenham sido detectados pela rotina de análise para infecções transmissíveis por transfusão, incluindo: HIV 1 e 2 Hepatite B e C Outros vírus de hepatite Sífilis Malária Doença de Chagas Armazenamento Indicações Entre +2ºC e +6ºC em refrigerador especial de banco de sangue, idealmente, com controle de temperatura e de alarme Pode ser estocado por mais de 35 dias, se coletado em anticoagulante adequado, como o citrato fosfato dextrose com adenina (CPDA-1)(figura 5.2) Durante o armazenamento, podem ocorrer mudanças na composição do produto pelo metabolismo das hemácias (figura 5.3) A transfusão deve ser iniciada em até 30 minutos após a retirada do componentes da refrigeração Reposição de glóbulos vermelhos em perda aguda sangüínea com hipovolemia Exsangüíneo-transfusão Pacientes necessitando de transfusão de glóbulos vermelhos, quando o concentrado ou suspensão de hemácias não estiver disponível Contra-indicações Risco de sobrecarga volumétrica em pacientes com: Anemia crônica Insuficiência cardíaca incipiente Administração 90 Deve ser ABO e Rh compatível com o receptor A transfusão deve estar finalizada em até 4 horas após o início Não deve ser adicionado qualquer medicamento a unidade de sangue. PRODUTOS SANGÜÍNEOS Componentes sangüíneos CONCENTRADO DE HEMÁCIAS Pode ser chamado de “concentrado de glóbulos vermelhos”, “concentrado de hemácias” ou “sangue reduzido de plasma”. Descrição 150 – 200 ml de hemácias, em que a maioria do plasma foi removido Hemoglobina de aproximadamente 20 g/100 ml ( não menos que 45 g por unidade) Hematócrito 55 – 75% Unidade obtida 1 doação Risco de infecção Como o do sangue total Armazenamento Como o do sangue total SUSPENSÃO DE HEMÁCIAS Descrição 150 – 200 ml de hemácias com quantidade residual mínima de plasma com adição de aproximadamente 110 ml de salina normal, adenina, glicose, solução de manitol (SAG-M) ou solução equivalente nutriente de hemácias Hemoglobina de aproximadamente 15 g / 100 ml (não menos que 45 g por unidade) Hematócrito 50 – 70% Unidade de medida 1 doação Risco de infecção O mesmo do sangue total Armazenamento O mesmo do sangue total Indicações As mesmas do concentrado de hemácias Contra-indicações Glóbulos vermelhos suspensos em solução aditiva não devem ser utilizados para exsangüíneo-transfusão de recém nascidos. A solução aditiva pode ser reposta com plasma, 45% de albumina ou solução cristalóide isotônica, como a salina normal (Seção 11: Pediatria e Neonatologia) Administração A mesma do sangue total São obtidas melhores taxas de infusão do que o concentrado de hemácias ou sangue total 91 SEÇÃO 5 GLÓBUL OS VERMELHOS LEUCO-DEPLET ADOS GLÓBULOS LEUCO-DEPLETADOS Descrição Unidade de medida 1 doação Risco de infecção O mesmo do sangue total Armazenamento Depende do método de produção: consulte o serviço hemoterápico Indicações Diminuir a alo-imunização de pacientes que recebam transfusões repetidas mas, para garantir isto, todos os componentes sangüíneos que o paciente receber devem ser leucodepletados Diminuir o risco de transmissão de CMV em situações específicas (Seção 7: Efeitos adversos da transfusão) Pacientes que apresentaram duas ou mais reações febris em transfusões de hemácias Contra-indicações Não previne a doença enxerto versus hospedeiro; para este objetivo, os componentes devem ser irradiados quando aparelhos de irradiação estiverem disponíveis (dose da radiação: 25 – 30 Gy) Administração Alternativa 92 Uma suspensão ou concentrado de hemácias contendo menos de 5 x 106 leucócitos por bolsa, preparado por filtração em filtros para depleção de leucócitos Concentração de hemoglobina e de hematócrito depende do produto inicial que é o sangue total, concentrado ou suspensão de hemácias A depleção de leucócitos remove o risco de transmissão de citomegalovírus (CMV) Como a do sangue total Pode ser utilizado um filtro de leucócitos no momento da transfusão se sangue total ou concentrados de hemácias leucodepletadas não forem disponíveis. O uso de sangue total ou suspensão de hemácias com redução do “buffy coat é geralmente efetivo para prevenir reações transfusionais febris não hemolíticas. O banco de sangue deve retirar o “buffy coat” num ambiente estéril imediatamente antes do transporte do sangue para o leito. A transfusão deve iniciar em até 30 minutos após a liberação, com o uso, se possível, de um filtro de leucócitos. A transfusão deve terminar em até 4 horas após o início. PRODUTOS SANGÜÍNEOS CONCENTRADOS DE PLA QUET AS (prepar ados a par tir de doações de sangue ttot ot al) PLAQUET QUETAS (preparados partir otal) Descrição Unidade de um único doador num volume de 50-60 ml de plasma deve conter: Pelo menos 55 x 109 plaquetas < 1,2 x 109 hemácias < 0,2 x 109 leucócitos Unidade de medida Pode ser fornecida como: Unidade de um único doador: plaquetas preparadas a partir de um única doação “Pool”: plaquetas preparadas de 4 a 6 unidades doadas unidas numa única bolsa para conter uma dose de adulto de pelo menos 240 x 109 plaquetas Risco de infecção Armazenamento Indicações Contra-indicações Dose Administração O mesmo do sangue total, porém, uma dose normal de adulto envolve exposição entre 4 a 6 doações Contaminação bacteriana afeta cerca de 1% das unidades tipo “pool” 20ºC – 24ºC (em agitação) por até 5 dias em bolsas específicas, no entanto, alguns centros utilizam bolsas plásticas comuns restringindo o armazenamento a 72 horas O aumento do armazenamento provoca aumento do risco de proliferação bacteriana e septicemia no receptor Tratamento de sangramento devido: — Trombocitopenia — Distúrbios da função plaquetária Prevenção de sangramento devido a trombocitopenia, como na falência medular Geralmente não é indicado como profilaxia para sangramento de pacientes cirúrgicos, a menos que se conheça deficiência da função plaquetária na avaliação pré-cirúrgica Não está indicado em : — Púrpura trombocitopênica autoimune idiopática (PTI) — Púrpura trombocitopênica trombótica (PTT) — Coagulação Disseminada intravascular não tratada (CIVD) — Trombocitopenia associada a septicemia, até que o tratamento tenha sido iniciado ou em casos de hiperesplenismo 1 unidade de concentrado de plaquetas/10 kg de peso corpóreo: num adulto de 60 ou 70 kg, 4-6 unidades de único doador contêm pelo menos 240 X 109 plaquetas que devem aumentar a contagem plaquetária em 20 – 40 X 109/L O aumento será menor se houver: — Esplenomegalia — Coagulação intravascular disseminada — Septicemia Depois da formação de “pool”, os concentrados de plaquetas devem ser infundidos o mais rápido possível, geralmente em até 4 horas, por causa do risco de proliferação bacteriana Não devem ser refrigerados antes da infusão, devido à perda de função plaquetária 93 SEÇÃO 5 Complicações 4-6 unidades de concentrado de plaquetas (que podem ser fornecidas como “pool”) devem ser infundidas num novo equipo Não são necessários equipos especiais de infusão plaquetária Concentrado de plaquetas preparados de doadores Rh(D) positivo não devem ser administrados em mulheres Rh(D) negativas em idade fértil Concentrados de plaquetas ABO compatíveis devem ser administrados, quando possível Não são incomuns reações alérgicas e febris não hemolíticas, especialmente em politransfundidos. Para o tratamento, veja a seção 7: Efeitos Adversos da Transfusão. CONCENTRADOS DE PLA QUET AS (cole PLAQUET QUETAS (colettados por plaque plaquettaférese) Descrição Unidade de medida 1 bolsa contendo concentrado de plaquetas coletadas por separador celular provenientes de um único doador Risco de infecção O mesmo do sangue total Armazenamento Até 72 horas em 20ºC-24ºC (sob agitação), a menos que tenha sido colhida em bolsas especiais validadas para maior armazenamento; não mantenha a 4ºC Indicações 94 Volume 150-300 ml Plaquetas contendo 150-500 X 109, equivalente a 3-10 doações simples Conteúdo plaquetário, volume do plasma e contaminação leucocitária dependente do procedimento de coleta Concentrados de plaquetas obtidos por aférese são geralmente equivalentes à mesma dose de concentrados de plaquetas obtidos de sangue total Se for necessário um tipo especial de doador compatível para o paciente, diversas doses podem ser obtidas de um doador selecionado Dose 1 unidade de concentrado de plaquetas/10 Kg de peso corpóreo: num adulto de 70 kg, 1 unidade deve aumentar a contagem plaquetária em 5.000/ml Administração As mesmas recomendadas para doadores de plaquetas, mas a compatibilidade ABO é mais importante: altos títulos de anti-A ou anti-B no plasma do doador usados para suspender as plaquetas podem causar hemólise nas hemácias do receptor PRODUTOS SANGÜÍNEOS PLASMA FRESCO CONGELADO Descrição Unidades de medida Risco de infecção Bolsa contendo plasma separado de uma doação de sangue total e congelado rapidamente a -25ºC ou mais frio, em até 6 horas da coleta Contém níveis normais de fatores estáveis da coagulação, albumina e imunoglobulinas O nível de fator VII é cerca de 70% do valor normal do plasma fresco Volume usual da bolsa de 200-300 ml Bolsas com volumes menores podem estar disponíveis para crianças Se não tratado, o mesmo que sangue total Baixíssimo risco se tratado com inativação por azul de metileno/ luz ultravioleta (veja inativação viral do plasma) Armazenamento - 25ºC ou mais frio por até um ano Indicações Reposição de múltiplos fatores da coagulação: — Doença hepática — Sobrecarga de anticoagulante Warfarina — Depleção dos fatores de coagulação em pacientes recebendo transfusão maciça. Coagulação intravascular disseminada (CIVD) Púrpura trombocitopênica trombótica (PTT) Dose Dose inicial de 15 ml/kg Administração Precauções Deve ser ABO compatível para evitar o risco de hemólise no receptor Não é necessária a compatibilização Antes do uso deve ser descongelado em água entre 30ºC e 37ºC. Temperaturas mais altas podem destruir os fatores de coagulação e as proteínas Uma vez descongelado deve ser mantido sob refrigeração em 2ºC a 6ºC Infundir usando equipo padrão o mais rápido possível após o descongelamento Fatores lábeis da coagulação diminuem rapidamente; usá-lo em até 6 horas após o descongelamento Não são raras reações alérgicas, especialmente em infusões rápidas Raramente ocorrem reações graves anafiláticas Hipovolemia isolada não é indicação para seu uso PLASMA LÍQUIDO Plasma separado do sangue total e estocado a +4ºC. Não contém fatores lábeis da coagulação: i.e. fator V e VIII. 95 SEÇÃO 5 “POOL “POOL”” DE PLASMA LIOFILIZADO Plasma de diversos doadores adicionados em “pool” antes da liofilização. Não é utilizada Inativação odut viral, portanto o risco de infecções transmissíveis é multiplicado diversas vezes. É um pr produt odutoo obsole obsoletto que não de ve ser utilizado. deve PLASMA DEPLET ADO DE CRIOPRECIPIT ADO DEPLETADO CRIOPRECIPITADO Plasma com aproximadamente metade da quantidade de fibrinogênio e fator VIII removido com o crioprecipitado, mas contém todos os outros constituintes do plasma. PLASMA VÍR US IN ATIV ADO VÍRUS INA TIVADO Plasma tratado com inativação por azul de metileno/ luz ultravioleta para reduzir o risco de HIV, hepatite B e hepatite C. A “inativação” de outros vírus, como o da hepatite A e parvorírus B19 é menos efetiva. O custo desses produtos é consideravelmente mais alto que o plasma fresco congelado. CRIOPRECIPIT ADO CRIOPRECIPITADO Descrição Unidade de medida Geralmente fornecida como bolsa de doador simples ou bolsa com 6 ou mais doadores em “pool” Risco de infecção O mesmo do plasma, mas uma dose para adulto envolve exposição a 6 doadores Armazenamento A -25ºC ou mais frio por até um ano Indicações Administração 96 Preparado a partir do plasma fresco congelado, através da coleta do precipitado formado durante o descongelamento controlado, e ressuspenso em 10-20 ml de plasma. Contém cerca de fator VIII e fibrinogênio do sangue doado: por exemplo: Fator VIIII: 80-100 UI/bolsa: fibrinogênio: 150-300 mg/ bolsa Como alternativa ao concentrado de fator VIII no tratamento de deficiências hereditárias como: — Fator de Von Willebrand ( Doença de Von Willebrand) — Fator VIII (Hemofilia A) — Fator XIII Como fonte de fibrinogênio em coagulopatias adquiridas: tais como: coagulação intravascular disseminada (CIVD) Se possível use produto ABO compatível Não é necessário nenhum teste de compatibilidade Depois do descongelamento infunda o mais rápido possível através de equipos padronizados Deve ser infundido em até 6 horas após o descongelamento PRODUTOS SANGÜÍNEOS Derivados do plasma Processos, como tratamento pelo calor ou químico dos derivados de plasma, para reduzir o risco de transmissão viral geralmente são eficazes contra vírus que possuem envelope lipídico: HIV – 1 e 2 Hepatite B e C HTLV-I e II. A inativação de vírus sem envelope lipídico como hepatite A e parvovírus humano B19 é menos efetiva. SOLUÇÕES DE ALBUMIN A HUMAN A ALBUMINA HUMANA Descrição Preparado por fracionamento de grandes “pools” de plasma humano doado Preparações Albumina 5%: contém 50 mg/ml de albumina Albumina 20%: contém 200 mg/ml de albumina Albumina 25%: contém 250 mg/ml de albumina Solução estável de proteína plasmática (SPPS) e fração de proteína plasmática (PPF): similar a albumina contendo albumina a 5% Risco de infecção Se produzido de maneira correta, não apresenta risco de infecções virais Indicações Fluido de reposição em plasmaférese terapêutica: albumina 5% Tratamento de edema resistente a diuréticos em pacientes com hipoproteinemia: síndrome nefrótica ou ascite. Use albumina 20% com diuréticos Embora a albumina humana a 5% seja licenciada para diversas indicações (reposição volumétrica, queimaduras e hipoalbuminemia), não há evidência que esta seja superior às soluções cristalóides de reposição para perda aguda plasmática Contra-indicações Não utilizada como solução nutricional endovenosa, pois é muito cara, e fonte insuficiente de aminoácidos Administração Precauções Não há necessidade de compatibilização Não necessita de filtro Administração de albumina 20% pode causar expansão aguda do volume intravascular, com risco de edema pulmonar 97 SEÇÃO 5 FATORES DE CO AGULAÇÃO COA Concentr ado de ffat at or VIII Concentrado ator Descrição Unidade de medida Frascos de proteína liofilizada etiquetada com conteúdo médio de 250UI de fator VIII Risco de infecção Os produtos vírus inativados parecem não transmitir HIV, HTLV e Hepatite C, que possui envelopes lipídicos; a inativação de vírus não envelopados como Hepatite A e parvovírus é menos efetiva. Veja inativação de vírus envelopados e não envelopados (p.97) Armazenamento Derivados liofilizados devem ser estocados a uma temperatura de 2ºC - 6ºC até a data de validade, a menos que haja outras indicações nas instruções do fabricante Indicações Tratamento de hemofilia A Tratamento de Doença de von Willebrand. Use somente preparações intermediárias que contenham fator de von Willebrand Dose Conforme figura 9.26 na página 219 Administração Alternativas 98 Fator VIII parcialmente purificado, preparado a partir de grandes “pools” de plasma de doadores Fator VIII com valores variando entre 0,5 – 20 UI/ mg. Preparações com alta atividade estão disponíveis Produtos licenciados em certos países (na União Européia e EUA) são tratados com calor e/ou quimicamente para reduzir o risco de transmissão viral Reconstituição de acordo com as instruções do fabricante Uma vez dissolvida, a solução deve ser filtrada e infundida em equipo padrão em 2 horas Crioprecipitado, plasma fresco congelado (Seção 9 : Medicina Geral) Fator VIII preparado in vitro usando métodos de DNA recombinante está disponível comercialmente. É equivalente clinicamente ao Fator VIII derivado do plasma, e não possui risco de transmitir patógenos derivados do doador de plasma PRODUTOS SANGÜÍNEOS DERIV ADOS PLASMÁTICOS CONTENDO FFA ATOR IX DERIVADOS Complex otr ombínico (PCC) Complexoo pr protr otrombínico Concentr ado de ffat at or IX Concentrado ator Descrição Contém: Fatores II, IX e X Somente fator IX Algumas preparações contêm fator VIII PCC Fator IX 9 9 9 9 Forma de apresentação Frascos com proteína liofilizada contendo aproximadamente de 350-600 UI de fator IX 9 9 Risco de infecção Como fator VIII Armazenamento Como fator VIII Indicações 9 9 Tratamento da Hemofilia B (Doença de Christmas) Imediata correção do tempo de protrombina prolongado 9 Contra-indicações Complexo protrombínico não deve ser utilizado em pacientes com doença hepática ou tendência trombótica Dose Figura 9.26 na página 219 Administração Como fator VIII Alternativas Plasma Fator IX produzido in vitro por método de DNA recombinante logo estará disponível para tratamento de Hemofilia B. Oferece as mesmas vantagens que o Fator VIII recombinante FATORES DE CO AGULAÇÃO PPARA ARA PPA ACIENTES COM INIBIDORES DE FFA ATOR VIII COA Descrição Uma fração do plasma tratada com calor contendo fatores de coagulação parcialmente ativados Risco de infecção Provavelmente o mesmo de outros concentrados de fator tratados com calor Indicações Somente para uso em pacientes com inibidores de Fator VIII Administração Deve ser utilizado somente com parecer do especialista 99 SEÇÃO 5 PREP ARAÇÕES DE IMUNOGL OBULIN AS PREPARAÇÕES IMUNOGLOBULIN OBULINAS A prevenção das infecções pode ter implicações importantes para a saúde, e até mesmo reduzir a necessidade transfusional. A imunoglobulina normal humana (NHIG), e os chamados produtos específicos contendo altos títulos de anticorpo contra organismos específicos são utilizados, freqüentemente associado a vacinas (imunização ativa) para proteção contra infecções. Isto é chamado de imunização passiva. Maiores informações sobre o uso das vacinas e imunoglobulinas (imunização ativa e passiva) devem estar disponíveis no Ministério da Saúde do seu país. Preparações de imunoglobulinas são feitas por fracionamento frio com etanol do plasma humano doado. IMUNOGL OBULIN A par amuscular IMUNOGLOBULIN OBULINA paraa uso intr intramuscular Descrição Uma solução concentrada de anticorpo anti-IgG do plasma Preparações Imunoglobulina padrão ou normal: preparada a partir de grandes “pools” de doadores, contendo anticorpos contra agentes infecciosos que a população tiver sido exposta Risco de infecção Transmissão de infecção viral não tem sido relacionada com imunoglobulina intramuscular Indicações Administração Imunoglobulina específica ou hiperimune: proveniente de pacientes com altos títulos de anticorpos específicos a agentes infecciosos (Hepatite B, raiva, tétano) Prevenção de infecções específicas Tratamento de estados de imunodeficiência Reações graves podem ocorrer se administrada por via endovenosa IMUNOGL OBULIN A ANTI-Rh D ( Anti-D RhIG) IMUNOGLOBULIN OBULINA Descrição Preparada a partir do plasma contendo altos níveis de anticorpo anti-Rh D de pessoas previamente imunizadas Indicações Prevenção de Doença Hemolítica do Recém Nascido em mães Rh D negativo (mais detalhes na Seção 10: Obstetrícia ) IMUNOGL OBULIN A par avenoso IMUNOGLOBULIN OBULINA paraa uso intr intravenoso Descrição Preparação para uso intramuscular, com processo posterior para tornar o produto seguro para administração EV Indicações 100 Púrpura trombocitopênica auto-imune idiopática e outros distúrbios imunes Tratamento de estados de imunedeficiência Hipogamaglobulinemia Doença relacionada a HIV 6 Procedimentos da clínica transfusional Pontos chave 1 Todo hospit al de ve possuir um manual de pr ocediment os oper acionais par hospital deve procediment ocedimentos operacionais paraa cada es tágio do pr ocesso de clínica tr ansfusional. TToda oda a equipe de ve ser transfusional. deve estágio processo treinada par paraa segui-lo. 2 Uma comunicação e cooper ação clar cooperação claraa entre a equipe clínica e do banco de sangue são essenciais par antir a segur ança do sangue utilizado par paraa paraa gar garantir segurança tr ansfusão. transfusão. 3 O ser viço de hemot er apia não de ve liber ar sangue par ansfusão, a menos serviço hemoter erapia deve liberar paraa tr transfusão, que a eetique tique tr hidos tiquett a da amos amostr traa e o requeriment requerimentoo es estt ejam preenc preenchidos corre e. O requeriment ve incluir o motivo da tr ansfusão, correttament amente. requerimentoo de sangue de deve transfusão, par odut es paraa que o pr produt odutoo mais adequado possa ser selecionado par paraa o ttes estte de compatibilidade. 4 Os pr odut os sangüíneos de vem ser mantidos em condições corre produt odutos devem corrett as de armazenament ant anspor es da tr ansfusão, armazenamentoo dur durant antee o tr transpor ansportte e na área clínica ant antes transfusão, de maneir venir a per da funcional ou cont aminação bact eriana. maneiraa a pre prevenir perda contaminação bacteriana. 5 A tr ansfusão de component transfusão componentee sangüíneo incompatível é a causa mais comum de reações tr ansfusionais at ais. A adminis tr ação transfusionais agudas, que podem ser ffat atais. administr tração segur seguraa de sangue depende da: icação única e corre Identif Identificação corretta do pacient pacientee tique tr ansfu Corre Corretta eetique tiquettagem da amos amostr traa sangüínea par paraa análise pré- tr transfu sional icação ffinal inal da identif icação, par antir a adminis tr ação do Uma verif verificação identificação, paraa gar garantir administr tração sangue corre corretto par paraa o pacient pacientee corre corretto. 6 Par ansfundida, o pacient ve ser monit or ado araa cada unidade de sangue tr transfundida, pacientee de deve monitor orado por um membr es, dur ant inal da tr ansfusão. antes, durant antee e ao ffinal transfusão. membroo treinado da equipe ant 101 SEÇÃO 6 Introdução Esta seção lida com os aspectos práticos da requisição e administração dos produtos sangüíneos, e enfatiza as áreas nas quais os clínicos e a equipe do banco de sangue precisam trabalhar associados de forma eficiente e efetiva para atender as necessidades do paciente. Também enfatiza a importância da sistematização dos procedimentos para prevenir a transfusão incorreta de sangue, que pode provocar reações transfusionais potencialmente fatais. Objetivos do estudo Quando completar esta seção, você deverá estar apto a: 1 Compreender os papéis e as responsabilidades da equipe clínica e equipe cirúrgica para garantir a segurança e a disponibilidade dos produtos sangüíneos para transfusão. 2 Explicar a importância de se garantir que somente os produtos sangüíneos compatíveis sejam transfundidos. 3 Identificar procedimentos que possam melhorar em seu serviço o pedido, a coleta, armazenamento, transporte, administração de produtos sangüíneos e a monitorização dos pacientes transfundidos. 102 PROCEDIMENTOS DA CLÍNICA TRANSFUSIONAL 6.1 Administrando o sangue correto para o paciente correto no tempo correto Uma vez que a decisão de transfundir tenha sido feita, todos os envolvidos no processo clínico transfusional têm responsabilidade de garantir que o sangue correto seja administrado ao paciente correto no tempo correto. A figura 6.1 sumariza os passos principais deste processo. Manuais nacionais de uso clínico do sangue devem ser seguidos por todos os hospitais em que a transfusão seja realizada. Se não existirem manuais nacionais, cada hospital deve desenvolver manuais locais e como ideal, estabelecer um comitê transfusional no hospital para monitorar clinicamente o uso do sangue, e investigar qualquer reação aguda ou tardia transfusional. Todo hospital deve garantir os seguintes requisitos: 1 Um formulário de requisição do sangue. 2 Um protocolo de preparo de sangue para os procedimentos cirúrgicos mais comuns. 3 Manuais de indicação clínica e laboratorial para o uso de sangue, produtos e alternativas simples à transfusão, incluindo soluções de reposição intravenosas, e produtos farmacêuticos para minimizar a necessidade de transfusão sangüínea. 4 Procedimentos operacionais padrão para cada etapa do processo transfusional, incluindo: Pedido de sangue e componentes para cirurgias eletivas Pedido de sangue e componentes em urgências Preenchimento da requisição de sangue e componentes Coleta da amostra pré-transfusional Coleta do sangue e componentes pelo banco de sangue Armazenamento e transporte de produtos sangüíneos, incluindo o armazenamento na área clínica Administração dos produtos sangüíneos, incluindo a verificação final da identidade do paciente Registro da transfusão nos registros do paciente Monitorização do paciente antes, durante e após a transfusão O gerenciamento, investigação e registros das reações transfusionais. 5 O treinamento de toda equipe envolvida no processo transfusional, de acordo com as normas operacionais padronizadas. Os procedimentos operacionais padrão (POP) geralmente são feitos no banco de sangue, mas devem ser preparados em colaboração com a equipe médica e da enfermagem. Os procedimentos escritos devem estar disponíveis para toda a equipe envolvida no processo. 103 SEÇÃO 6 Figura 6.1: Passos do processo clínico transfusional Adminis tr ando o sangue corre Administr trando corretto par paraa o pacient pacientee cer certto no tempo ex at exat atoo 1 Verificação da necessidade clínica transfusional do paciente, e quando esta será necessária. 2 Informação ao paciente e/ou familiares sobre a proposta de transfusão, e registro no prontuário do paciente quando esta for realizada. 3 Registro da indicação transfusional no prontuário. 4 Seleção do produto sangüíneo e a quantidade adequada deste. Utilização de um procedimento padrão como guia para as necessidades transfusionais nos procedimentos cirúrgicos mais comuns. 5 Preenchimento da requisição transfusional de forma legível e precisa. A razão da transfusão deve estar escrita para que o banco de sangue possa selecionar o produto mais adequado ao caso para a análise de compatibilidade. 6 Se a necessidade transfusional for urgente, contato imediato ao banco de sangue por telefone. 7 Coleta e etiquetagem adequada da amostra sangüínea para o teste de compatibilidade. 8 Envio do requerimento junto à amostra sangüínea ao banco de sangue. 9 Realização da pesquisa de anticorpos irregulares e dos testes de compatibilidade para selecionar as unidades mais compatíveis. 10 Entrega dos produtos pelo banco de sangue, ou coleta pela equipe clínica. 11 Armazenamento correto dos produtos sangüíneos nos casos em que a transfusão não seja feita imediatamente. 12 Verificação da identidade do paciente, do produto e da documentação do paciente. 13 Administração do produto sangüíneo. 14 Registro no prontuário do paciente: Tipo e volume do produto transfundido Número da unidade transfundida Grupo sangüíneo de cada unidade transfundida Horário de inicio da transfusão de cada unidade Assinatura do responsável pela administração 15 Monitorização do paciente antes, durante, e ao término da transfusão. 16 Registro do término da transfusão. 17 Identidade e atendimento imediato a qualquer reação adversa. Registro de qualquer reação transfusional no prontuário do paciente. 104 PROCEDIMENTOS DA CLÍNICA TRANSFUSIONAL A responsabilidade pela manutenção dos POPs atualizados e disponíveis, e pelo treinamento da equipe para sua utilização, deve ser definida pelo comitê transfusional hospitalar, ou quando este não existir, pela administração hospitalar. Comunicação entre clínicos e o banco de sangue A segurança do pedido transfusional de um paciente depende de uma comunicação efetiva entre a clínica e o banco de sangue. Por exemplo, a equipe do banco de sangue pode não estar capacitada a avaliar a urgência transfusional tão bem quanto a equipe médica e da enfermagem da sala de emergência. Por outro lado, os clínicos podem não compreender perfeitamente os problemas da equipe do banco de sangue, se não completarem de maneira adequada a requisição do sangue ou componente, ou se não houver tempo suficiente para a realização adequada dos testes laboratoriais para o preparo seguro da transfusão. É essencial que haja clara compreensão tanto pelos clínicos, como pela equipe do banco de sangue, do papel de cada um no processo transfusional. Clínicos Toda a equipe clínica envolvida na prescrição e administração do sangue e componentes deve saber como o banco de sangue opera, e seguir os procedimentos acordados de requisição, coleta e administração dos componentes sangüíneos. A equipe deve ser treinada para seguir estes procedimentos, e sobre os elementos básicos da qualidade do sistema que devam ser instituídos. Os clínicos devem estar familiarizados com os seguintes aspectos do fornecimento de sangue e componentes sangüíneos. 1 Como o banco de sangue obtém sangue, incluindo os diferentes tipos de doador, e o risco potencial de transmissão de infecção no sangue disponível para transfusão. 2 A responsabilidade do clínico em auxiliar a equipe do banco de sangue para garantir que o sangue seja fornecido no tempo correto e na localização correta ao: Enviar a requisição de transfusão de cada paciente de forma completa Requisitar sangue com tempo necessário para o seu preparo, se possível Fornecer informações claras sobre: — O produto requisitado — O número de unidades pedidas — A razão da transfusão — A urgência da necessidade transfusional — Quando e onde o sangue está sendo solicitado — Quem irá entregar ou receber o sangue. 105 SEÇÃO 6 3 A importância dos grupos sangüíneos maiores (ABO e Rh) e outros anticorpos sangüíneos perigosos que podem ser detectados antes de uma transfusão sangüínea. 4 As responsabilidades da equipe do banco de sangue na garantia que o sangue fornecido seja compatível com o paciente, de sorte que não ocorra o risco de uma reação transfusional causada por anticorpos eritrocitários que seja perigosa ou fatal. 5 As responsabilidades da equipe de clínicos em garantir que os produtos sangüíneos administrados ao pacientes sejam compatíveis e, em particular, a importância vital de: Completar todos campos detalhados do pedido de transfusão sangüínea. Etiquetar adequadamente as amostras sangüíneas Verificar formalmente a identidade do paciente, o produto e a documentação do paciente antes da transfusão. 6 A importância do correto armazenamento do sangue e dos produtos sangüíneos, tanto na área do banco de sangue como na área clínica, de maneira a preservar a sua função, e prevenir a contaminação bacteriana, que pode ser fatal ao paciente. 7 A importância do descarte das bolsas que tenham permanecido mais de 4 horas em temperatura ambiente (ou qualquer outro tempo delimitado localmente), que tenham sido violadas ou que mostrem sinais de deterioração 8 A importância do registro correto das transfusões do paciente no prontuário médico e, em particular: A razão da transfusão O produto e o volume transfundido O tempo de transfusão Qualquer efeito adverso A equipe do banco de sangue É extremamente importante que toda a equipe do banco de sangue entenda os seguintes aspectos: 1 A pressão sob a qual os clínicos trabalham quando cuidam de pacientes graves que necessitem de transfusões urgentes. 2 A importância de uma adequada prática laboratorial e registros detalhados no banco de sangue. 3 A necessidade, numa situação de emergência, de utilizar procedimentos apropriados à situação de urgência. Desde que um sangue ABO compatível seja administrado, é mais provável que o paciente faleça pela hemorragia do que por um anticorpo identificado nos testes de triagem. 106 PROCEDIMENTOS DA CLÍNICA TRANSFUSIONAL A equipe do banco de sangue deve reconhecer que os problemas que surgem durante uma emergência devem sempre ser resolvidos imediatamente, a fim de assegurar o melhor para o paciente. Se for necessária uma investigação e resolução da causa do problema, estas devem ser realizadas após a resolução da emergência. Requisições de sangue em emergências É particularmente importante assegurar que exista compreensão e concordância sobre a linguagem utilizada pelo corpo clínico e a equipe do banco de sangue, de forma a evitar qualquer erro de interpretação das palavras “imediato”, “urgente” ou “assim que possível”. É preferível que haja categorias de urgência como: Extremamente urgente : em 10 -15 minutos Muito urgente: em 1 hora Urgente: em três horas. Mesmo dia. Em data e hora solicitada. ATIVIDADE 16 Qual é o procedimento em seu hospital para solicitações de hemocomponentes numa emergência? Alguma vez aconteceu, na sua área clínica, um atraso na entrega do hemocomponente solicitado seja por demora ou por erro de localização? Quais foram as razões para tal ocorrência? Ouça algumas conversas entre os clínicos e a equipe do banco de sangue sobre as solicitações de hemocomponentes. A comunicação é clara, sem ambigüidade e cortês? Agende uma reunião de um pequeno grupo de clínicos cadastrados com a equipe do banco de sangue para que haja concordância entre os termos utilizados nas solicitações de emergência. Garanta que os clínicos e a equipe do banco de sangue estejam treinados a utilizá-las de forma correta. 6.2 Solicitação de produtos sangüíneos Quando existem indicações clínicas e laboratoriais que a transfusão seja necessária, o tipo de solicitação de transfusão se baseará : Na necessidade urgente de hemocomponentes. Na necessidade definida de hemocomponentes. Na possibilidade da necessidade do hemocomponentes. 107 SEÇÃO 6 Figura 6.2:Política de requisição de sangue Avalie a necessidade do paciente para transfusão Emer gência Emergência Sangue necessário em menos de 1 hora Necessidade def initiv definitiv initivaa de sangue ex. cirurgia eletiva Necessidade pr proovável de sangue ex. partos, cirurgia eletiva Solicite urgentemente unidades ABO e Rh compatíveis. O banco de sangue pode selecionar o grupo O Solicite urgentemente unidades ABO e Rh compatíveis e prontas em determinado tempo Solicite tipagem e pesquisa de anticorpos e aguarde Informando o paciente Uma vez que a transfusão tenha sido indicada, é importante explicar a indicação da transfusão ao paciente e familiares, sempre que possível. Registre no prontuário do paciente esta atitude. Os pacientes e seus familiares podem estar preocupados com os riscos transfusionais e podem querer mais informações sobre o procedimento, assim como sobre outras abordagens terapêuticas como a transfusão autóloga, e uso de drogas como a eritropoetina (que estimula a produção de eritrócitos). Pacientes que sejam Testemunhas de Jeová não admitem a transfusão de sangue, mas podem aceitar frações do plasma ou tratamentos alternativos. Em alguns casos, pessoas de outras religiões ou outros grupos sociais podem ter outras restrições quanto à doação e transfusão de sangue; estas situações devem ser abordadas com cautela e sensibilidade, de forma a beneficiar o paciente. Deve-se ressaltar que em determinados países, a lei define como séria agressão transfundir um paciente que comunicou claramente ser contra o procedimento, mesmo se o médico julgar que a vida do paciente depende da transfusão. Em muitas partes do mundo, as testemunhas de Jeová têm indivíduos treinados para lidar com estas difíceis situações. Pesquisas têm demonstrado que os pacientes freqüentemente são mal informados sobre as opções terapêuticas, e sentem que receberam poucas respostas às dúvidas que os preocupam. Em alguns países o parecer legal é de que deveria ser fornecido material por escrito sobre todo o procedimento transfusional, seus riscos, e o paciente deveria assinar um termo citando que todos as dúvidas foram suficientemente esclarecidas. As leis, entretanto, variam conforme o país e é importante estar familiarizado com as leis locais. 108 PROCEDIMENTOS DA CLÍNICA TRANSFUSIONAL Identificação do paciente Cada paciente deve ser identificado com uma pulseira fixa firmemente aderida ao corpo, que contenha o número de identificação do hospital. Este número deve sempre ser utilizado na coleta de amostras, requisição do hemocomponente e no documento de identificação do paciente. Quando um paciente não pode ser adequadamente identificado na admissão hospitalar, o número de referência do hospital deve sempre ser utilizado na identificação de amostras e hemocomponentes, até que os dados completos de identificação sejam disponíveis. Solicitações de sangue para cirurgias eletivas O melhor horário para a solicitação de sangue para cirurgias eletivas, assim como a quantidade de sangue solicitado deve ser estabelecido por cada Serviço, conforme sua rotina. Padronização de Reserva Cirúrgica Uma vez que em muitas cirurgias a utilização de sangue é rara, é desnecessário realizar testes de compatibilidade de rotina para todos os pacientes. Tempo e dinheiro podem ser economizados ao não se compatibilizar unidades que provavelmente não serão utilizadas, desde que o sangue esteja rapidamente disponível, quando necessário. Hospitais que realizem cirurgias de rotina devem padronizar e utilizar um esquema de reserva que sirva como guia para o número de unidades de sangue e seus produtos que deverão ser normalmente requisitados para cada tipo de cirurgia. Um esquema de requisição de unidades é uma tabela com o número esperado normal de sangue para procedimentos cirúrgicos eletivos, a qual define um número de unidades a ser compatibilizada para cada cirurgia, pré-operatoriamente. Isto deve refletir o consumo pelo corpo cirúrgico do hospital, conforme a complexidade do procedimento e a perda sangüínea esperada. A padronização deve incluir também o procedimento de tipagem, triagem de anticorpos e aguardo (veja página 111) para pacientes em que a transfusão de hemácias seja ocasional, e raramente solicitada. A padronização de reserva cirúrgica sempre deve ser desenvolvida localmente pelo comitê transfusional hospitalar ou, no caso deste não existir, pelos clínicos responsáveis pela prescrição de sangue junto ao pessoal do banco de sangue. Esta padronização deve ser feita de acordo com as diretrizes nacionais, adaptadas ao modelo de uso local. A padronização de cada hospital deve ser feita de acordo com as condições clínicas e o fornecimento de sangue, produtos sangüíneos e alternativas à transfusão disponíveis. É essencial a disponibilidade e o uso de soluções cristalóides e colóides em todos os hospitais que trabalhem na área de obstetrícia e cirurgia. 109 SEÇÃO 6 O processo de desenvolvimento da padronização da reserva cirúrgica envolve os seguintes passos: 1 Análise retrospectiva da requisição de sangue e produtos sangüíneos num período maior que 6 meses. 2 Análise para cada procedimento cirúrgico : Tipo de procedimento Motivo da transfusão Número de unidades compatibilizadas Número de unidades transfundidas Porcentagem de unidades utilizadas. 3 Cálculo da taxa C:T (bolsas compatibilizadas: bolsas transfundidas). Um objetivo realista para procedimentos cirúrgicos é ter uma taxa aproximada de 3:1. 4 Procedimentos cirúrgicos com uso de sangue em menos de 30% das vezes devem ser incluídos na categoria de tipagem sangüínea e pesquisa de anticorpos irregulares. 5 Monitorização e evolução da padronização de reserva cirúrgica, mediante a verificação da concordância. A Figura 12.11 na página 293 mostra um exemplo de reserva cirúrgica de sangue de um país africano, como exemplo para ilustrar o tipo de informação necessária. Se a quantidade de sangue disponível for insuficiente, a prática local pode ser a de se realizar os procedimentos essenciais de urgência num paciente com baixos níveis de hemoglobina, do que se esperar pela transfusão ou transferi-lo para um outro hospital. Requisição de sangue em urgências No caso de acidentes e emergências, freqüentemente é necessária a utilização de sangue na urgência. Após um acidente numa estrada, podem existir diversos casos de pacientes inconscientes ou com sangramento que necessitem rapidamente de transfusão sangüínea. Nestas situações, é muito fácil cometer enganos na identificação do paciente e etiquetagem das amostras sangüíneas. Portanto, é essencial que o procedimento de requisição de sangue numa emergência seja claro e simples, de maneira a ser seguido por qualquer indivíduo. A Figura 6.3 nos mostra uma lista de verificação para pedido de sangue numa urgência. 110 PROCEDIMENTOS DA CLÍNICA TRANSFUSIONAL PEDIDO DE SSANGUE ANGUE EM UR GÊNCIAS URGÊNCIAS 1 Em emergências, insira uma cânula intravenosa, utilize-a para colher amostra sangüínea para testes de compatibilidade, instale uma infusão EV, e envie a amostra para o banco de sangue o mais rápido possível. 2 Para cada paciente, o tubo de amostra sangüínea e a requisição devem estar corretamente etiquetadas com o nome do paciente e o número de identificação do mesmo no hospital. Se o paciente não estiver identificado, gência deve ser utilizado. A algum tipo de númer númeroo de admissão de ur urgência utilização do nome do paciente deve ser feita somente se possuirmos a informação correta do mesmo. 3 Se estiver sendo enviada uma nova requisição de produto sangüíneo para o mesmo paciente num curto período de tempo, deve ser utilizada a mesma identificação anterior e amostra sangüínea, para que o banco de sangue saiba que está lidando com o mesmo paciente. 4 Se houver diversas pessoas da equipe trabalhando com os casos emergenciais, uma pessoa deve estar encarregada de requisitar sangue e da comunicação com o banco de sangue. Isto se torna especialmente importante quando houver diversos pacientes ao mesmo tempo. 5 Comunique ao banco de sangue a rapidez necessária para a transfusão de cada paciente. Esta comunicação deve ser feita com termos simples e previamente normatizados para explicar qual a urgência necessária para este caso. 6 Esteja certo que tanto você como a equipe do banco de sangue sabem: Quem irá trazer o sangue para o paciente Onde estará o paciente: por exemplo, na sala de cirurgia, na sala obstétrica. 7 O banco de sangue pode enviar sangue do grupo O ( possivelmente Rh D negativo), especialmente se há risco de erro na identificação do paciente. Durante um emergência, esta pode ser a maneira mais segura de evitar sérias complicações transfusionais advindas de trocas de amostras. O formulário de requisição de sangue Quando for necessária uma transfusão, a prescrição deve ser preenchida e assinada num formulário padrão específico de forma legível pelo médico que prescreveu o componente. Todos os de ormulário de requisição de vem ser comple orma dettalhes do fformulário devem complettados de fforma precisa e legível. Se houver necessidade ur gent at gentee de sangue, cont contat atee o banco urgent de sangue por ttelef elef one. elefone. 111 SEÇÃO 6 A requisição de sangue deve conter as seguintes informações: Data da requisição Data e horário que o sangue for necessário Onde o sangue deve ser entregue Nome e sobrenome do paciente Data de nascimento do paciente Sexo do paciente Número de referência hospitalar do paciente Enfermaria do paciente Diagnóstico provisório Motivo da transfusão Número de unidades necessárias ou Se se deve fazer apenas tipagem sangüínea, pesquisa de anticorpos séricos e aguardar (página 120) Urgência do pedido Nome e assinatura da pessoa que está prescrevendo o sangue. Quando a história prévia e registros anteriores do paciente forem disponíveis, pode-se auxiliar o banco de sangue com o envio das seguintes informações: Grupo sangüíneo conhecido do paciente Presença de anticorpos História de transfusões anteriores História de reações transfusionais anteriores Para mulheres: número de gestações anteriores e casos de incompatibilidade materno-fetal Outros itens relevantes da história médica do paciente. É importante que na requisição esteja descrito o motivo da transfusão, para que o banco de sangue possa escolher o hemocomponente mais adequado ao caso para os testes de compatibilidade. Um exemplo de formulário de requisição de sangue está demonstrado na figura 6.4. Este inclui os registros dos testes de compatibilidade, que devem ser assinalados pelo banco de sangue antes da liberação do componente. Há diversos modelos de requisição de sangue nos mais diversos hospitais, portanto, esta figura deve ser considerada somente como exemplo. Se não houver um formulário específico em seu serviço, este exemplo pode ser adaptado de acordo com as necessidades locais. Lembre-se que o mínimo de informações que devem estar contidas na requisição de sangue e na amostra que a acompanha são: Identificação única do paciente Indicação do número e tipo de hemocomponentes requeridos Indicação do horário e local onde serão necessários. A equipe do banco de sangue estará agindo corretamente se não aceitar uma requisição para sangue que esteja preenchida incorretamente ou se a amostra do paciente não estiver identificada corretamente. Qualquer falha nos procedimentos pode levar a transfusões incompatíveis, que podem ser fatais. 112 PROCEDIMENTOS DA CLÍNICA TRANSFUSIONAL Figura 6.4: Exemplo de um formulário de requisição de sangue EXEMPLO DE UM FORMULÁRIO DO SANGUE HOSPIT AL: HOSPITAL Data da Requisição: DET ALHES DO PPA ACIENTE DETALHES Sobrenome: Nome: Registro hospitalar nº: Data de nasc.: Sexo: Enfermaria: Grupo Sangüíneo (se conhecido): ABO Rh D HIS TÓRIA HISTÓRIA Diagnóstico: Motivo da transfusão: Hemoglobina: História médica relevante: Anticorpos: Transfusões prévias: Reações transfusionais: Gestações anteriores: Sim/Não: Sim/Não: Sim/Não: Sim/Não: REQUISIÇÃO Tipagem sangüínea e pesquisa de anticorpos irregulares Hemocomponentes Data da Requisição: Horário da Requisição: Liberar para: Sangue Total Conc. de Hemácias Plasma Outros Nome do Médico: Assinatura: Unidade Unidade Unidade Unidade ormulário de requisição não será aceit tiver assinado ou se es tiver com campos em br ancos. IMPOR Estte fformulário aceitoo se não es estiver estiver brancos. IMPORTTANTE: Es USO SOMENTE LAB ORA LABORA ORATTORIAL Tipagem do doador Nº da Bolsa ABO Rh Teste de Compatibilidade AHG Temp. ambiente Data da Compatibilização Horário da Compatibilização Paciente ABO Rh D Data da Horário da Liberação Liberação Assinatura: 113 SEÇÃO 6 ATIVIDADE 17 Existe um formulário de requisição utilizado em seu serviço? Se afirmativo, ele contém todas as informações enumeradas anteriormente? Compare o modelo utilizado em seu serviço com o exemplo dado na Figura 6.4, e discuta com seus colegas sobre melhorias que poderiam ser introduzidas. Se não houver um formulário padronizado para pedido de sangue em seu serviço, converse com seus superiores e com a equipe do banco de sangue sobre a importância da introdução deste, as informações que deveriam estar contidas e os procedimentos utilizados para a sua utilização. Também discuta os treinamentos necessários para garantir que seja usado efetivamente. Amostras sangüíneas para teste de compatibilidade É de impor tância vit al que a amos tr importância vital amostr traa sangüínea do pacient pacientee es estteja num tubo icado, e eetique tique e. amentee identif identificado, tiquettado com a identidade única do pacient paciente. correttament corre A Figura 6.5 demonstra os passos nos quais estão envolvidas a coleta de amostra e a realização de testes de compatibilidade. Qualquer regulação nacional ou governamental sobre a coleta e etiquetagem da amostra sangüínea deve ser seguida rigorosamente. Quando estas não existirem, os hospitais devem preparar seus próprios procedimentos para estas fases. Toda a equipe responsável pela coleta de amostras sangüíneas deve estar devidamente treinada para esta tarefa. O banco de sangue não deve aceitar as requisições de sangue a menos que os detalhes do paciente no formulário e na amostra estejam concordantes entre si. Se não estiverem, deve ser solicitada nova requisição e nova amostra sangüínea. ATIVIDADE 18 Há procedimentos operacionais padrão para coleta de amostras sangüíneas para testes pré-transfusionais em seu hospital? Compare-os com a Figura 6.5. A coleta de amostra é realizada conforme os procedimentos operacionais padrão pela equipe que a realiza? Se não houver procedimentos operacionais padrão em seu serviço ou se você acredita que possa melhorar os já existentes, converse com seus superiores sobre a importância da garantia de que as amostras sangüíneas estejam sendo coletadas corretamente e, principalmente, etiquetadas de forma correta. Organize sessões educacionais para garantir que a equipe compreenda a importância da correta e precisa etiquetagem dos tubos das amostras sangüíneas. 114 PROCEDIMENTOS Figura 6.5: Procedimento para coleta de amostras sangüíneas para teste de compatibilidade DA CLÍNICA TRANSFUSIONAL COLET A DE AMOS TRAS SSANGÜÍNEAS ANGÜÍNEAS PPARA ARA TES TES DE COMP ATIBILD ADE COLETA AMOSTRAS TESTES COMPA TIBILDADE 1 Se o paciente estiver consciente no momento da coleta da amostra, pergunte ao mesmo o nome, sobrenome, data de nascimento e outras informações importantes. 2 Verifique o nome do paciente com: Identidade do paciente no bracelete ou na etiqueta Evolução médica do paciente Requisição de sangue completa 3 Se o paciente estiver inconsciente, pergunte ao familiar ou segundo membro da equipe para verificar a identidade do paciente. 4 Colete a amostra sangüínea no tubo requerido pelo banco de sangue. Para adultos, geralmente são necessários 10 ml num tubo sem anticoagulante. 5 Etiquete a amostra de forma clara e exata no momento que a amostra estiver sendo coletada. As seguintes informações devem estar contidas na etiquetagem da amostra: Nome e sobrenome do paciente Data de nascimento Número de referência hospitalar do paciente Enfermaria onde está internado Data Assinatura da pessoa que está coletando a amostra. Garantir que o nome do paciente esteja escrito corretamente. Não etiquete o tubo antes de obter a amostra devido ao risco de troca de tubo. 6 Se o paciente necessitar de transfusões posteriores de glóbulos vermelhos, envie uma nova amostra sangüínea para compatibilização. Isto é particularmente importante no paciente que recebeu transfusões recentes (com mais de 24 horas). Anticorpos eritrocitários tendem a aparecer mais precocemente com o estímulo transfusional. Uma amostra recente é essencial para garantir que o paciente não receba sangue incompatível. ATIVIDADE 19 Compare os procedimentos operacionais de seu serviço para requisição de sangue com os descritos nesta seção.Você pode sugerir melhorias que possam ser feitas para estes procedimentos? Se não estiver sendo usada uma padronização de reserva cirúrgica em seu serviço para procedimentos obstétricos e cirúrgicos, converse com os seus superiores e com a equipe do banco de sangue sobre a importância do desenvolvimento de um manual de necessidades transfusionais. 115 SEÇÃO 6 6.3 Teste de compatibilidade eritrocitária (prova cruzada) É essencial que todo sangue seja testado antes da transfusão para: Garantir que as hemácias transfundidas sejam compatíveis com os anticorpos detectáveis no plasma do paciente Evitar a produção de novos anticorpos eritrocitários no receptor, particularmente anti-Rh D. Todos ao testes pré-transfusionais devem fornecer as seguintes informações sobre o paciente e a unidade de sangue: Grupo ABO e anticorpos Tipagem Rh D Presença de outros anticorpos eritrocitários que possam causar hemólise no paciente. O banco de sangue tem um papel central na garantia que o paciente receba sangue compatível. De forma resumida, é responsável pelos seguintes objetivos. 1 Garantir que somente as unidades de sangue testadas e negativas para infecções transmissíveis por transfusão sejam aceitas para compatibilização. 2 Determinar o grupo ABO e Rh D de todo componente sangüíneo, e identificá-lo corretamente. 3 Verificar se a requisição de transfusão sangüínea foi completada pelo clínico que prescreveu o componente, e que os dados da amostra estejam concordantes com a requisição. 4 Determinar o grupo ABO e Rh D da amostra do paciente, e realizar a pesquisa de anticorpos eritrocitários. 5 Selecionar o hemocomponente mais adequado para o paciente. 6 Realizar o teste de compatibilidade, testando as hemácias do doador com o soro do paciente, e garantir que somente seja fornecido para o paciente componentes sangüíneos compatíveis. 7 Etiquetar unidades de sangue compatíveis especificamente para o paciente, liberá-las ou mantê-las disponíveis para liberação imediata. Habitualmente, o banco de sangue reserva componentes por um período máximo de 48 horas a partir da requisição. Se unidades não compatibilizadas forem liberadas numa emergência, este fato deve estar claro na etiquetagem. 8 Garantir que as verificações e testes tenham sido completados e registrados de forma exata. 116 PROCEDIMENTOS DA CLÍNICA TRANSFUSIONAL 9 Fornecer os produtos corretos, de acordo com os procedimentos locais. Antígenos e anticorpos do sistema ABO Na prática clínica transfusional, o sistema ABO é o mais importante e não pode nunca ser ignorado numa transfusão. As hemácias compreendem quatro tipos principais ABO: O, A, B e AB. Indivíduos que, devido a razões genéticas, não possuem os antígenos A ou B possuem anticorpos da classe IgM contra o tipo eritrocitário que não foi herdado. Uma pessoa do grupo A possui anticorpos contra o grupo B Uma pessoa do grupo B possui anticorpos contra o grupo A Uma pessoa do grupo O possui anticorpos contra o grupo A e o B Uma pessoa do grupo AB não possui anticorpos contra o grupo A ou B Estes anticorpos podem destruir as hemácias rapidamente na circulação. Os anticorpos anti-A e anti-B ocorrem de “forma natural”, e não são desenvolvidos como uma sensibilização anterior ao antígeno correspondente. No entanto, os anticorpos do sistema Rh 1 (anti-Rh D) somente se desenvolvem em indivíduos Rh D negativos sensibilizados por hemácias Rh D positivas. Incompatibilidade ABO: reações hemolíticas Uma tr ansfusão sangüínea segur vit ar a incompatibilidade transfusão seguraa depende de se eevit vitar entre as hemácias do doador com os anticor pos plasmáticos do recept or or.. anticorpos receptor Os anticorpos anti-A ou anti-B no receptor quase sempre são capazes de causar rápida destruição (hemólise) de hemácias incompatíveis transfundidas, assim que estas entrarem na circulação. A transfusão de um concentrado de hemácias não compatibilizado causa um risco enorme de reação hemolítica aguda. Da mesma maneira, se o sangue for dado para o paciente errado, este pode ser incompatível. O risco exato depende da análise da distribuição populacional. Nas populações em que ocorra 30% de transfusões não compatibilizadas e ABO incompatíveis, pelo menos 10% poderão provocar reações graves ou fatais. Em algumas circunstâncias, também é importante que os anticorpos do doador sejam compatíveis com as hemácias do receptor. Não é sempre primordial que seja administrado sangue do mesmo tipo ABO. As Figuras 6.6 e 6.7 sumarizam as noções básicas para transfusão de plasma e hemácias no sistema ABO. Embora o original mencione sistema Rhesus, a nomenclatura ISBT define o sistema como Rh, que será seguido nesta tradução em português (Nota dos tradutores) 1 117 SEÇÃO 6 Figura 6.6: Regras de transfusão no sistema ABO COMPONENTES ERITR OCITÁRIOS ERITROCITÁRIOS Nas transfusões de glóbulos vermelhos, deve existir compatibilidade ABO e RhD entre os glóbulos vermelhos do doador do plasma do receptor. 1 Indivíduos do grupo O somente podem receber sangue de doadores do grupo O 2 Indivíduos do grupo A recebem somente sangue de doadores do grupo A e O 3 Indivíduos do grupo B somente podem receber doadores de grupo B e O 4 Indivíduos do grupo AB podem receber sangue de doadores AB, A, B e O Nota: São preferíveis concentrado de hemácias com remoção de plasma, quando houver transfusão de sangue não grupo específico. Figura 6.7: Regras de transfusão de plasma no sistema ABO PLASMA E COMPONENTES CONTENDO PLASMA Na transfusão de plasma, o plasma AB pode ser dado a pacientes de qualquer grupo ABO, porque não contém anti-A nem anti-B. 1 Plasma AB ( sem anticorpos) pode ser dado a qualquer grupo ABO. 2 Plasma A ( com anti-B) pode ser administrado a pacientes A ou O 3 Plasma B ( com anti-A) pode ser administrado a pacientes B ou O 4 Plasma O ( com anti-A e anti-B) somente pode ser administrado a pacientes O. Gr aves reações agudas hemolíticas são quase sempre causadas por tr ansfusões Graves transfusões incompatíveis AB O. Es t as reações podem ser f at ais. ABO. Est fat atais. Quase sempre result am de err os na identif icação do pacient resultam erros identificação pacientee quando as amos tr as es tão sendo cole tá sendo adminis tr ado. estão colettadas, ou quando o sangue es está administr trado. amostr tras Para o tratamento de reações transfusionais, veja a Seção 7: Efeitos Adversos da Transfusão. 118 PROCEDIMENTOS DA CLÍNICA TRANSFUSIONAL Antígenos e anticorpos Rh D Os glóbulos vermelhos possuem diversos outros antígenos, que são carreados por qualquer indivíduo e determinados pelo seu perfil. Em contraste com o sistema ABO, os indivíduos raramente possuem anticorpos contra estes antígenos, a menos que tenham se sensibilizado anteriormente através de uma gravidez ou transfusão sangüínea. O mais importante destes antígenos é o Rh D. Mesmo uma única transfusão de hemácias Rh D positivas a uma pessoa Rh D negativa geralmente provoca a formação de anti-Rh D. Este pode causar: Doença Hemolítica do Recém Nascido numa gravidez posterior Rápida destruição em transfusão subseqüente de hemácias Rh D positivas. Outros antígenos e anticorpos eritrocitários Há diversos antígenos menores nas hemácias humanas que, como o Rh D, podem levar ao aparecimento de anticorpos em pessoas que não os possuam, e que sejam sensibilizadas por transfusão. Estes anticorpos, que podem causar reações transfusionais graves, incluem: Sistema Rh: C, c, E, e Kell Duffy Lewis. Outros sistemas para garantir compatibilidade eritrocitária Em alguns países, um teste à cabeceira do leito é utilizado para determinar o grupo ABO do paciente e da unidade de sangue fornecida. Geralmente, este é realizado utilizando um cartão simples de análise, pré-tratado com reagentes sangüíneos, junto a instruções detalhadas de uso. Alguns países também permitem a compatibilização computadorizada, que depende de um sistema automatizado, para garantir a absoluta acurácia na identificação do paciente e das unidades de sangue. Qualquer que seja o sistema utilizado, o princípio de garantia de uma transfusão sangüínea segura continua o mesmo. Os procedimentos padronizados devem ser claros, e a equipe deve estar treinada para seguilos e manter os elementos básicos de um sistema de qualidade. Problemas de compatibilidade Se na amostra do paciente forem detectados anticorpos eritrocitários significativos, testes mais aprofundados são geralmente necessários para identificação do anticorpo, para que o sangue mais adequado seja fornecido. O laboratório pode precisar de outra amostra sangüínea para testes. A equipe do banco de sangue sempre estará procurando o sangue mais compatível, a fim de evitar reações hemolíticas transfusionais e a 119 SEÇÃO 6 estimulação do anticorpo do paciente a níveis mais altos. Estes testes podem ser complicados, e com isso, ocasionar um considerável atraso na transfusão. Quando isto ocorrer, transfusões não urgentes e cirurgias que requeiram transfusões devem ser adiadas, até que o sangue mais adequado seja encontrado, de maneira a evitar riscos para o paciente. No entanto, quando o paciente necessitar urgentemente de transfusão e esteja difícil encontrar componentes compatíveis, o médico responsável pelo banco de sangue deve ser indagado sobre os riscos de uma possível reação com um componente não totalmente compatível. O risco deve ser pesado contra os riscos de um atraso na transfusão, quando houver necessidade urgente da restauração da capacidade de transportar oxigênio no sangue. Tipagem, pesquisa de anticorpos e aguardo O procedimento de tipagem sangüínea e pesquisa de anticorpos, também é chamado de tipagem e pesquisa, ou em alguns locais, de tipagem sangüínea. No laboratório, a tipagem ABO e Rh D do paciente é determinada, e o soro do paciente é testado para a presença de anticorpos IgG que destruam hemácias a 37ºC. A amostra do soro do paciente é congelada e armazenada a - 20ºC, geralmente por 7 dias. Se for requisitado sangue neste período, a amostra é descongelada, e utilizada para compatibilização nas urgências. Usando-se este método, o banco de sangue geralmente precisa de 15 a 30 minutos para o sangue estar disponível para o paciente, se houver a disponibilidade do mesmo no banco de sangue. Esta conduta evita a necessidade de se manter unidades de sangue compatibilizadas para um paciente que tenha chance de não as necessitar, enquanto que diminui o tempo de espera nas urgências. Como resultado, o banco de sangue pode ter melhor gerenciamento das unidades de hemácias disponíveis. 6.4 Coleta de produtos sangüíneos antes da transfusão Uma causa comum de reações transfusionais é a transfusão de uma unidade de sangue que tenha sido dirigida para outro paciente. Isto geralmente ocorre devido a erros na coleta de sangue pelo banco de sangue. Portanto, é essencial que cada hospital possua um procedimento operacional padrão para coleta de sangue pelo banco de sangue, e seu armazenamento na área clínica antes da transfusão. Este procedimento deve ser sempre seguido. Um exemplo é dado na Figura 6.8. 120 PROCEDIMENTOS Figura 6.8: Procedimentos para coleta de sangue no banco de sangue. DA CLÍNICA TRANSFUSIONAL COLET A DE COMPONENTES SSANGÜÍNEOS ANGÜÍNEOS ANTES D A TRANSFUSÃO COLETA DA 1 Tenha documentação escrita de identificação do paciente. 2 Verifique os seguintes detalhes, comparando a etiqueta de compatibilização com a identidade do paciente, que devem estar concordantes de forma exata: Nome e sobrenome do paciente Número de referência hospitalar do paciente Enfermaria do paciente ou sala cirúrgica do mesmo Tipagem ABO e Rh D do paciente 3 Preencha todas as informações necessárias no registro de coleta de sangue Quando o sangue for liberado pelo banco de sangue, o horário deve ser sempre registrado. A pessoa responsável pelo banco de sangue deve manter o sangue na geladeira até que o mesmo esteja liberado para transfusão. A unidade de sangue atinge 10ºC em aproximadamente 30 minutos e raramente é necessário aquecer o componente antes da transfusão. O banco de sangue algumas vezes fornece sangue de tipagem ABO diferente, porém compatível ao paciente; por exemplo, hemácias do grupo A são seguras para pacientes do grupo AB. Neste caso, geralmente devido a um baixo estoque de um grupo particular, o banco de sangue deve informar o clínico responsável e registrar o fato na documentação que acompanha as unidades de sangue. 6.5 Armazenamento de produtos sangüíneos antes da transfusão A cadeia de frio é o sistema para o armazenamento e transporte de sangue e componentes sangüíneos, de maneira que os mesmos sejam mantidos numa correta temperatura durante todo o período, desde a coleta do doador, até a administração ao paciente. Qualquer quebra na cadeia de frio aumenta o risco para os receptores de componentes sangüíneos, e provoca perda de recurso escasso e de valor inestimável. A eficácia da cadeia de frio depende de: Manutenção adequada e regular de equipamento monitorado para o armazenamento e transporte de sangue, sob temperatura controlada, incluindo caixas de transporte, refrigeradores, congeladores e agitadores de plaquetas. Uso correto do equipamento por toda a equipe envolvida na manipulação dos produtos sangüíneos. A equipe clínica é responsável por garantir que os produtos sangüíneos fornecidos pelo banco de sangue sejam mantidos em correta temperatura até o momento da infusão no paciente. 121 SEÇÃO 6 Condições de armazenamento Concentrado de hemácias e sangue total Os concentrados de hemácias e sangue total devem sempre permanecer armazenados em temperatura entre +2ºC e +6ºC. Nunca devem ser levados aos congeladores. O limite superior de +6ºC é essencial para minimizar o crescimento de qualquer contaminação bacteriana na unidade de sangue. O limite inferior de +2ºC é essencial porque se as hemácias forem congeladas, elas hemolisam. Se transfundidas, a presença de fragmentos de membrana celular e hemoglobina livre podem causar problemas de sangramento fatais ou insuficiência renal. A solução da bolsa de sangue contém anticoagulante (citrato de sódio) para interromper a coagulação do sangue, e dextrose (glicose) para ‘alimentar’ as hemácias durante o armazenamento. O armazenamento a temperaturas entre +2ºC e +6ºC é essencial para assegurar que a dextrose não seja utilizada rapidamente. O sangue total e concentrados de hemácias devem ser liberados pelo banco de sangue em caixas de transporte que mantenham a temperatura abaixo de 10ºC, se a temperatura ambiente for maior que 25ºC ou se houver possibilidade do sangue não ser transfundido em até 30 minutos. A menos que seja uma transfusão imediata, as bolsas devem ser mantidas no refrigerador da enfermaria ou do centro cirúrgico a uma temperatura entre +2ºC e +6ºC (veja página 130: Aquecimento de sangue). Concentr ados de hemácias e sangue ttot ot al de vem ser infundidos em até 30 Concentrados otal devem minut os após a re tir ada do refriger ador minutos retir tirada refrigerador ador.. Os componentes que estiverem fora das condições ideais de armazenamento por mais de 30 minutos não devem ser reintegrados ao refrigerador para uso posterior, por causa do potencial de contaminação bacteriana, e perda da função celular. Concentrados de plaquetas Os concentrados de plaquetas devem ser mantidos a uma temperatura entre 20ºC e 24ºC num agitador, para manter a função plaquetária. Uma vez que há risco de contaminação bacteriana, o armazenamento é restrito por 3 a 5 dias, dependendo do tipo de bolsa utilizada. Plaquetas que são mantidas a uma temperatura menor perdem a capacidade de coagulação. Os concentrados de plaquetas devem ser liberados pelo banco de sangue numa caixa de transporte, para manter a temperatura durante o transporte entre 20ºC e 24ºC. Devem ser transfundidos o mais rápido possível. Não devem ser colocados num refrigerador. Plasma fresco congelado O plasma fresco congelado (PFC) deve ser armazenado no banco de sangue em temperaturas inferiores a - 25ºC ou inferior, até o descongelamento 122 PROCEDIMENTOS DA CLÍNICA TRANSFUSIONAL antes da transfusão. Assim como o sangue total ou o concentrado de hemácias, as bactérias podem se proliferar no plasma em temperatura ambiente. A maioria dos fatores de coagulação são estáveis na temperatura de refrigeração, excepto os fatores V e VIII. Se o plasma não for mantido congelado em temperaturas inferiores a - 25ºC, o Fator VIII diminui rapidamente em 24 horas. O plasma com redução de fator VIII não é efetivo para o tratamento de hemofilia, porém pode ser utilizado em outras patologias da coagulação (Seção 5: Componentes sangüíneos). A queda do Fator V é mais lenta. O plasma fresco congelado deve ser descongelado no banco de sangue em banho-maria numa temperatura entre + 30ºC e + 37ºC, e deve ser liberado numa caixa de transporte que mantenha a temperatura entre 2ºC e 6ºC. Deve ser infundido em até 30 minutos após o descongelamento. Se não for requisitado para uso imediato, deve ser armazenado num refrigerador a temperaturas entre 2oC e 6ºC, e transfundido em até 24 horas. O refrigerador de sangue Uma vez liberado pelo banco de sangue, a transfusão de sangue total, concentrado de hemácias e plasma fresco descongelado deve ser iniciada em até 30 minutos da retirada do refrigerador. Se a transfusão não for iniciada neste período, deve ser armazenada num refrigerador numa temperatura entre 2ºC a 6ºC. A temperatura dentro do refrigerador utilizado para o armazenamento de bolsas de sangue nas enfermarias, centro cirúrgico e outras áreas clínicas deve ser monitorada e registrada a cada quatro horas, para garantir a temperatura dentro deste limite. Todos os refrigeradores de sangue de oje tados especif icament e devvem ser pr proje ojetados especificament icamente para o armazenament o de sangue. armazenamento Nas enfermarias que não possuam refrigerador apropriado para o armazenamento de sangue, o sangue só deve ser liberado pelo banco de sangue imediatamente antes da transfusão. Toda a equipe deve ser treinada para seguir os seguintes procedimentos. 1 Abrir a porta somente para retirada de sangue quando necessário. 2 Arrumar o sangue de maneira que haja circulação de ar frio livre dentro do refrigerador. As unidades de sangue devem ser mantidas numa posição vertical. Não devem ser mantidas tão próximas uma da outra, de maneira que o ar possa circular. 3 Não armazenar nada além de sangue total, concentrado de hemácias e plasma fresco congelado no refrigerador de sangue. 4 Não armazenar concentrado de plaquetas no refrigerador. 123 SEÇÃO 6 5 Se for utilizado um refrigerador doméstico, não armazenar sangue na porta, pois a temperatura neste local é maior que a do interior 6 Não armazenar sangue próximo ao congelador, no caso de utilização de geladeira doméstica. Todos os componentes sangüíneos não utilizados devem ser devolvidos ao banco de sangue, para que a sua devolução, novo uso ou destruição seja registrado. ATIVIDADE 20 Verifique se qualquer unidade sangüínea está sendo corretamente transportada e armazenada na área clínica. Se não, identifique as mudanças necessárias no sistema de armazenamento e transporte, incluindo procedimentos para monitorização e registro de temperatura a cada quatro horas em todos os refrigeradores utilizados para o armazenamento de sangue. Discuta este assunto com a equipe clínica e do banco de sangue Organize uma sessão educacional para a equipe da área clínica sobre a importância da manutenção dos componentes sangüíneos na temperatura adequada antes da transfusão. Monitore se os componentes sangüíneos estão sendo armazenados corretamente e realize novas sessões educacionais, se necessário. 6.6 Administração de produtos sangüíneos Todo hospital deve manter procedimentos operacionais escritos sobre a administração de componentes sangüíneos, particularmente no que diz respeito à identificação final do paciente, da bolsa de sangue, da etiqueta de compatibilização e da documentação. Etiqueta de compatibilização O banco de sangue deve fornecer a seguinte documentação com a bolsa de sangue: Nome e sobrenome do paciente Tipagem ABO e Rh D do paciente Número único de identificação da bolsa Grupo sangüíneo da bolsa A etiqueta de compatibilização, como a mostrada no exemplo da Figura 6.9, deve estar firmemente aderida à bolsa de sangue. A etiqueta de compatibilização deve fornecer as seguintes informações: Número único de identificação da bolsa Nome e sobrenome do paciente Número de referência hospitalar do paciente Data de nascimento do paciente 124 PROCEDIMENTOS Figura 6.9: Exemplo de etiqueta de compatibilização do sangue DA CLÍNICA ES TE SSANGUE ANGUE É COMP ATÍVEL COM: ESTE COMPA TRANSFUSIONAL Bolsa nº Nome do paciente: Número de referência hospitalar do paciente: Enfermaria: Grupo sangüíneo do paciente: Grupo sangüíneo da bolsa: Data de validade: Data do teste de compatibilidade: RET ORNE O SSANGUE ANGUE IMEDIA O BANCO DE SSANGUE ANGUE SE O RETORNE IMEDIATTAMENTE AAO MESMO NÃO FOR UTILIZADO Enfermaria Tipagem ABO e Rh D do paciente Grupo sangüíneo da bolsa Data de validade da bolsa Data do teste de compatibilidade Verificação da bolsa de sangue A bolsa de sangue deve ser sempre inspecionada, para verificar se há sinais de deterioração: Antes da liberação pelo banco de sangue Na chegada na enfermaria ou no centro cirúrgico Antes da transfusão, se o uso não for imediato Se o tempo permitir, misture o sangue e o deixe sedimentar para que possa observar a cor do plasma antes de verificar os seguintes sinais de deterioração. 1 Qualquer sinal de hemólise no plasma, indicando que o sangue tenha sido contaminado, congelado ou aquecido demais. 2 Qualquer sinal de hemólise na interface entre o plasma e as hemácias. Se houver suspeita disto, misture gentilmente a unidade, e permita a sua sedimentação antes da liberação. 3 Qualquer sinal de contaminação, como mudança de cor das hemácias, que se tornam escurecidas ou púrpura/negra quando contaminadas. 4 Coágulos, que podem mostrar que o sangue não foi misturado apropriadamente com o anticoagulante quando colhido. 5 Qualquer sinal de dano à bolsa, ou que a mesma já tenha sido violada. 125 SEÇÃO 6 Se houver qualquer anormalidade na bolsa, a unidade não deve ser transfundida, e o banco de sangue deve ser imediatamente avisado. Figura 6.10: Lista de verificação para sinais de deterioração do sangue ou plasma A descolor ação ou sinais de vvazament azament descoloração azamentoo podem ser os únicos sinais de que a bolsa apresent aminação bact eriana, e possa causar reação gr ave, até apresentaa cont contaminação bacteriana, grave, mesmo ffat at al, se tr ansfundida. atal, transfundida. A Figura 6.10 mostra sinais de deterioração no plasma ou no sangue. Copie-o e coloque-o numa parede próxima a cada refrigerador em seu hospital, para lembrar a todos sobre a verificação do sangue na área clínica, ou antes, da transfusão. A UNID ADE NÃO DEVE SER TRANSFUNDID A SE UNIDADE TRANSFUNDIDA Estiver fora do refrigerador por um período superior a 30 minutos ou Houver sinais de vazamento ou a bolsa foi aberta ou A cor do plasma estiver rosa ou avermelhada ou As hemácias estiverem escurecidas Verificação da identidade do paciente e do componente sangüíneo antes da transfusão Antes de se iniciar uma transfusão, é vital a verificação final da identidade de acordo com os procedimentos operacionais padrão de seu hospital. A verificação final deve ser feita ao lado do paciente imediatamente antes do início da transfusão do componente. Deve ser realizada por, no mínimo, duas pessoas, sendo que pelo menos uma delas deve ser enfermeiro (a) ou médico(a) registrado. 126 PROCEDIMENTOS DA CLÍNICA TRANSFUSIONAL A Figura 6.11 mostra o procedimento de verificação de identidade do paciente com: A bolsa de sangue A etiqueta de compatibilização Prescrição do paciente. A VERIFIC AÇÃO FIN AL D A IDENTID ADE DO PPA ACIENTE VERIFICAÇÃO FINAL DA IDENTIDADE 1 Pergunte ao paciente o seu nome, sobrenome, data de nascimento e outras informações importantes. Se o paciente estiver inconsciente, pergunte a um parente ou membro da equipe sobre a identidade do paciente. 2 Verifique a identidade do paciente pela: Pulseira ou identificação do mesmo Prescrição médica 3 Verifique os seguintes detalhes na etiqueta de compatibilização aderida à bolsa de sangue, que devem estar concordantes com a documentação do paciente e a identidade na pulseira: Nome do paciente Número de referência hospitalar do paciente Enfermaria Grupo sangüíneo. 4 Verifique se não há discrepâncias entre a tipagem ABO e Rh D na: Bolsa de sangue Etiqueta de compatibilização 5 Verifique se não há discrepâncias entre o número de referência hospitalar na: Bolsa de sangue Etiqueta de compatibilização 6 Verifique se a data de validade do componente não foi ultrapassada. 7 Examine a bolsa antes da transfusão. Não administre a bolsa se esta estiver violada, ou se houver sinais de deterioração: Vazamento Coloração alterada Sinais de hemólise. A verif icação ffinal inal do pacient tunidade par verificação pacientee ao lado do leit leitoo é a última opor oportunidade paraa se de t ect ar um err o de identif icação, e pre venir uma possível tr ansfusão detectar erro identificação, prevenir transfusão incompatível, que pode ser ffat at al. atal. 127 SEÇÃO 6 ATIVIDADE 21 Há procedimentos escritos em seu serviço para a identificação final do paciente antes da administração de sangue e/ou componentes? Compareos com os estabelecidos na Figura 6.11. Se não houver procedimentos escritos, ou se você acha que alguns podem ser melhorados, converse com seus superiores sobre a importância de se garantir que toda a equipe verifique sistematicamente a identidade do paciente com o componente sangüíneo, antes de se iniciar uma transfusão. Organize uma sessão educacional para a equipe responsável e o monitor, para que este procedimento seja feito de forma correta. Limites de tempo para infusão Há risco de pr olif er ação bact eriana ou per da de função dos pr odut os, uma vez prolif olifer eração bacteriana perda produt odutos, enham sido remo vidos das condições ideais de removidos que os mesmos ttenham armazenament o. armazenamento. Sangue total e concentrado de hemácias A administração de sangue total e concentrado de hemácias deve ser iniciada em até 30 minutos após a retirada do componente da refrigeração (2 a 6ºC). A infusão deve ser concluída em até 4 horas do início. Estes limites foram determinados onde a temperatura ambiente hospitalar estiver entre 22ºC e 25ºC. Se a temperatura ambiente for maior, devemos considerar a necessidade de um menor tempo de infusão. Concentrado de plaquetas Os concentrados de plaquetas devem ser administrados o mais rapidamente possível. A infusão de cada concentrado deve ser completada em até 20 minutos. Plasma Fresco Congelado O plasma fresco congelado deve ser infundido o mais rapidamente possível depois do descongelamento, para evitar a perda de fatores de coagulação. Num adulto, 1 unidade (200 - 300 ml) deve ser infundida em 20 minutos. A Figura 6.12 sumariza os limites de tempo de infusão dos componentes sangüíneos. Equipos utilizados para administração de sangue A cânula para infusão de componentes sangüíneos: Deve ser estéril e nunca reutilizada Utilize cânulas plásticas flexíveis, se possível, devido à sua maior segurança e preservação das veias O dobro do diâmetro de uma cânula aumenta a taxa de infusão da maioria dos fluidos num fator de 16. 128 PROCEDIMENTOS Figura 6.12: Limites de tempo para infusão de componentes sangüíneos DA CLÍNICA TRANSFUSIONAL LIMITE DE TEMPO PPARA ARA INFUSÃO Início da infusão Até 30 minutos da Retirada da geladeira Término Até 4 horas (ou menos em maiores temp. amb.) Concentrado de plaquetas Imediatamente Dentro de 20 min Plasma Fresco Congelado Dentro de 30 min Dentro de 20 min Sangue total/ CH Sangue total, concentrado de hemácias, plasma e crioprecipitado Estes produtos devem ser infundidos através de um equipo novo e estéril de administração, contendo um filtro de 170-200 micra. O equipo deve ser trocado a cada 12 horas em infusões de componentes sangüíneos. Em climas mais quentes, deve ser trocado num intervalo menor, geralmente após a infusão de quatro unidades de sangue, se esta estiver dentro de um período de 12 horas. Concentrado de plaquetas Para a infusão de concentrado de plaquetas, devemos utilizar equipos de sangue ou de plaquetas preenchidos inicialmente com salina. Pacientes pediátricos Se possível, devemos utilizar equipos especiais de pediatria em pacientes pediátricos. Isto permite o acompanhamento do volume infundido através de uma bureta graduada presente no equipo. Com isso, podemos verificar o volume infundido e a velocidade de infusão de forma simples e precisa. Veja as páginas 259-260 sobre os equipos utilizados em pacientes pediátricos. Filtração de glóbulos vermelhos e plaquetas Filtros de micro-agregados Os filtros de micro-agregados são caros e não há evidências de estudos clínicos controlados que ofereçam benefício. São comumente indicados, porém sem evidências conclusivas, nas transfusão maciça, trauma múltiplo e circulação extracorpórea. Alguns pacientes que necessitem de transfusões sangüíneas por um longo período apresentam reações febris, e o uso de filtros de micro-agregados pode ocasionar uma redução ou prevenção destas reações. Filtros de leuco-redução Os filtros de leuco-redução são caros e as indicações de seu uso são restritas e permanecem objeto de estudo. Postergam efetivamente o aparecimento de reações febris transfusionais em pacientes dependentes de transfusões 129 SEÇÃO 6 refr at ariedade refrat atariedade ariedade: Uma resposta pobre a transfusão de plaquetas. Geralmente, devido à fatores clínicos: febre, infecção, CIVD, esplenomegalia, antibióticos. Também ocorre se os componentes plaquetários são ineficientes. eritrocitárias, e podem prevenir estas reações em transfusões subseqüentes, se alternativas mais baratas não apresentarem sucesso (Seção 7: Efeitos Adversos da transfusão). O uso de filtros para redução de leucócitos em concentrado de hemácias e de plaquetas pode reduzir o desenvolvimento de anticorpos antileucocitários em pacientes politransfundidos somente se todos os componentes forem filtrados. Muitos clínicos acreditam que isto atrasa ou evita a refratariedade plaquetária, mas ainda permanece a controvérsia sobre se há uma melhor evolução clínica pelo uso de componentes sangüíneos leuco-depletados, além daquela observada para a prevenção da transmissão do CMV. Aquecimento de sangue Não há evidências que o sangue aquecido seja mais benéfico para o paciente quando a infusão for lenta. O sangue mais frio pode causar espasmo na veia utilizada para a infusão. Compressas aquecidas no local podem auxiliar, porém deve-se tomar cuidado com queimaduras de pele. Relatos de casos sugerem que quando a taxa de infusão for superior a 100 ml/min, o sangue com baixas temperaturas pode ser um fator contribuinte da insuficiência cardíaca. No entanto, manter o paciente aquecido é provavelmente mais importante que infundir sangue aquecido. O sangue aquecido é solicitado geralmente em: Transfusões maciças: — Adultos: maior que 50 ml/kg/hora — Crianças: maior que 15 ml/kg/hora Exsangüíneo-transfusão em crianças Pacientes com anticorpos frios clinicamente significantes. O sangue só deve ser aquecido em aquecedores específicos para sangue. Aquecedores de sangue devem possuir um termômetro visível, alarme sonoro e devem ter manutenção periódica. Modelos mais antigos de aquecedores podem ter menor velocidade de infusão. O sangue jamais deve ser aquecido em banho-maria, pois isto pode levar à hemólise das hemácias, com liberação de íons potássio, que podem ser prejudiciais ao paciente. Produtos farmacêuticos e hemocomponentes Nenhuma solução de infusão, a não ser a salina normal (cloreto de sódio 0.9%) deve ser adicionada a qualquer componente sangüíneo. As soluções podem conter aditivos como o cálcio, que junto ao sangue com citrato provocam a formação de coágulos. A solução de dextrose (5%) pode lisar os glóbulos vermelhos. Se houver qualquer reação durante a infusão de sangue, torna-se impossível determinar se esta foi causada pelo sangue, pela solução que estava sendo administrada concomitante, ou pela interação das duas. Se for administrado outro fluido que não salina ou solução colóide ao mesmo tempo em que o componente sangüíneo, deve-se preferir a administração por um outro acesso venoso, para evitar este tipo de complicação. 130 PROCEDIMENTOS DA CLÍNICA TRANSFUSIONAL Registro da transfusão As seguintes informações devem ser registradas na evolução médica do paciente: 1 Quando o paciente ou seus familiares foram avisados sobre a transfusão. 2 A causa da transfusão. 3 Assinatura do médico que prescreveu. 4 Verificação pré-transfusional da: Identidade do paciente Bolsa de sangue Etiqueta de compatibilização Assinatura de quem esteja realizando a verificação pré-transfusional 5 A transfusão: Tipo e volume do componente transfundido Número único de referência da unidade transfundida Grupo sangüíneo de cada unidade transfundida Horário de início da transfusão Assinatura de quem esteja administrando o componente sangüíneo. 6 Qualquer reação adversa. Registro do motivo da transfusão Antes da administração dos componentes sangüíneos, é importante registrar o motivo da transfusão no prontuário. Se o paciente apresentar qualquer problema relacionado à transfusão, os registros devem mostrar os componentes infundidos, e o seu motivo. O motivo da transfusão deve estar de acordo com manuais nacionais ou locais, porém sempre se deve lembrar que o clínico é responsável pela prescrição e administração da transfusão. Os registros que você realiza no prontuário do paciente são a sua melhor defesa em qualquer processo legal. 6.7 Monitoração do paciente transfundido Garantir a proteção do paciente é o aspecto mais importante no cuidado ao paciente durante a transfusão. É essencial observar os sinais vitais basais e garantir que o paciente seja monitorado durante e depois da transfusão, para detectar qualquer anormalidade o mais precocemente possível. Isto garante que, se necessário, serão tomadas medidas que possam salvar a vida do paciente em questão. Reações adversas podem ocorrer com todos os componentes sangüíneos; desta maneira, é importante monitorar os pacientes que recebam plasma fresco congelado, crioprecipitado ou concentrado de plaquetas, assim como os que recebam sangue total e concentrado de hemácias. 131 SEÇÃO 6 Reações graves geralmente ocorrem nos primeiros quinze minutos da transfusão. Desta maneira, torna-se importante que todos os pacientes, em particular os inconscientes, sejam monitorados durante este período, assim como nos quinze minutos de cada transfusão subseqüente. Antes do início de uma transfusão, é essencial que: Seja explicado o procedimento ao paciente, e certificado sobre a compreensão do mesmo. Estimular o paciente a notificar imediatamente a enfermeira ou o médico se sentir qualquer reação, como: calafrio, rubor, dor, respiração curta ou ansiedade. Garantir que o paciente esteja em local em que possa ser observado diretamente. Se houver suspeita de reação adversa, interrompa imediatamente a transfusão e procure serviço médico. Registre regularmente os sinais vitais, até que o médico esteja com o paciente. A transfusão de cada unidade de sangue ou componente sangüíneo deve ser completada em até quatro horas da punção. Se a unidade não for completada em até 4 horas, interrompa seu uso e despreze o restante. No caso de suspeita de reação hemolítica, não descarte a bolsa, e devolva-a imediatamente ao banco de sangue para investigação. Troque o equipo após 12 horas se o paciente ainda estiver em suporte transfusional. A Figura 6.13 sumariza as observações que devem ser registradas antes, durante e após a transfusão. Reações agudas transfusionais Qualquer reação adversa que tenha sido relacionada à transfusão deve ser avaliada e administrada conforme o descrito na Seção 7: Efeitos Adversos da Transfusão, que sumariza os sintomas e sinais que possam indicar que a reação esteja ocorrendo. Os detalhes clínicos e as ações tomadas devem ser registradas na evolução do paciente. ATIVIDADE 22 Há procedimentos operacionais escritos sobre a monitorização do paciente antes, durante e após a transfusão? Você sugere alguma modificação? A equipe atua de acordo com estes procedimentos? Por exemplo, realizam a verificação de sinais 15 minutos após o início de cada unidade? As transfusões são sempre realizadas em locais onde os pacientes possam ser observados facilmente? Identifique qualquer mudança necessária para garantir que todos os pacientes sejam sistematicamente monitorados durante a transfusão, de maneira que se reconheça e atue precocemente frente a uma reação transfusional. Discuta suas idéias com seu superior e com o comitê transfusional, se o mesmo existir em seu serviço. 132 PROCEDIMENTOS Figura 6.13: Procedimentos para monitorização do paciente transfundido DA CLÍNICA TRANSFUSIONAL MONIT ORANDO O PPA ACIENTE TRANSFUNDIDO MONITORANDO 1 Para cada unidade de sangue transfundida, monitore o paciente nas seguintes etapas: Antes do início da transfusão Assim que a transfusão for iniciada 15 minutos após o início da transfusão A cada hora durante a transfusão Ao término da transfusão 4 horas após o término da transfusão. 2 Para cada uma destas etapas, registre as seguintes informações na evolução do paciente: Aparência geral do paciente Temperatura Pulso Pressão sangüínea Freqüência respiratória Balanço hídrico: — Ingesta oral — Débito urinário 3 Registre: Horário de início da transfusão Horário de término da transfusão Volume e tipo de volume transfundido Número de doação de todos os produtos transfundidos Qualquer reação adversa. 4 Monitore o paciente, particularmente durante os 15 primeiros minutos da transfusão para detectar sinais e sintomas precoces de reações adversas. Organize uma sessão de ensino para todos os membros da equipe envolvidos na monitoração de pacientes durante a transfusão. Observe se o procedimento está sendo seguido corretamente. Promova qualquer ensino adicional que possa ser necessário, e continue a prática de monitoração. 6.8 Procedimentos especializados Aférese terapêutica A aférese terapêutica realiza a retirada de sangue ou componente sangüíneo com o objetivo de melhorar as condições do paciente. O procedimento mais simples é a punção terapêutica, com retirada de 200 - 450 ml de sangue total periodicamente. Pode estar indicada no tratamento de alguns pacientes com hemocromatose ou policitemia. Mais comumente, tanto as células ou o plasma são removidos utilizandose um separador celular. 133 SEÇÃO 6 Métodos para uma remoção mais seletiva de constituintes do plasma, tais como colesterol ou auto-anticorpos ainda estão em estágio experimental de desenvolvimento. Um bom acesso venoso é essencial para um adequado fluxo sangüíneo necessário para o processamento. Algumas máquinas de aférese podem operar utilizando-se somente uma veia, com cânulas separadas para a retirada e a infusão do sangue. Plasmaférese A plasmaférese terapêutica, combinada a outros medicamentosos contribui efetivamente para o tratamento das condições citadas na figura 6.14. Figura 6.14: Indicações de plasmaférese Indicações de plasmaférese tter er apêutica erapêutica Síndrome de hiperviscosidade : Mieloma, Macroglobulinemia de Waldenström Glomerulonefrite rapidamente progressiva Síndrome de Goodpasture Síndrome de Guillain-Barré ( Imunoglobulina intravenosa é igualmente efetiva) Hipercolesterolemia familiar Púrpura trombocitopênica trombótica A plasmaférese terapêutica tem sido utilizada em diversas outras condições, tais como: Miastenia Grave, Pênfigo, Lúpus Eritematoso Sistêmico, outras patologias auto-imunes e sensibilização materno-fetal durante a gravidez. Sua eficácia não foi comprovada nestas condições e , em muitos casos, é difícil a monitorização objetiva. O risco potencial, e o alto custo de uma plasmaférese devem ser considerados antes de sua indicação. O fluido de reposição utilizado geralmente é a albumina a 4,5%, salina normal, ou a mistura destes. O plasma fresco congelado (PFC) pode ser necessário ocasionalmente para corrigir deficiências de fatores de coagulação ao fim de uma troca plasmática. A não ser nos casos de Púrpura Trombocitopênica Trombótica e outras raras condições, o plasma fresco congelado não deve ser utilizado numa plasmaférese. Púrpura Trombocitopênica Trombótica Esta patologia grave e rara freqüentemente responde à infusão de plasma fresco congelado. Devido ao grande volume necessário de infusão de plasma fresco congelado por um longo período, opta-se pela plasmaférese, utilizando-se o PFC como fluido de reposição. O plasma fresco congelado deve ser utilizado como fluido de reposição apenas nesta indicação específica, devido aos seus riscos. 134 PROCEDIMENTOS DA CLÍNICA TRANSFUSIONAL Citaférese ( remoção de células do sangue) A leucaférese pode aliviar os sinais e sintomas causados por uma alta contagem leucocitária em pacientes leucêmicos ( geralmente leucemia mielóide crônica), até que a quimioterapia se torne efetiva. A plaquetaférese é utilizada raramente em pacientes com alta contagem plaquetária causando sangramento ou trombose. A eritrocitaférese (troca eritrocitária) é utilizada raramente no tratamento de malária, crises falcêmicas, ou após um erro transfusional, no qual uma mulher em idade fértil Rh D negativo recebeu sangue Rh D positivo. A figura 6.15 sumariza as possíveis complicações de uma aférese terapêutica. Figura 6.15: Complicações da aférese terapêutica Complicações de uma aférese tter er apêutica erapêutica Reação anafilática ao plasma fresco congelado Sobrecarga circulatória Hipovolemia Embolia aéreo Hemólise Coagulação extracorpórea Toxicidade ao citrato Coagulopatia Reações vaso-vagais Coleta de células progenitoras por aférese As células progenitoras (autólogas ou alogênicas) podem ser coletadas a partir do sangue periférico por aférese. Este procedimento é uma alternativa efetiva à aspiração de medula óssea, e evita a necessidade do paciente ou doador de ser submetido a uma anestesia geral. Este procedimento deve ser indicado por uma equipe especializada, por causa dos cuidados necessários ao planejamento e coordenação para o preparo do paciente, a coleta de células e os procedimentos laboratoriais para processar, armazenar e preparar o paciente para a reinfusão. 135 7 Ef eitos adv er sos da Efeitos adver ersos transfusão Pontos chave 1 Toda suspeit ansfusional de ve ser repor ament suspeitaa de reação tr transfusional deve reporttada imediat imediatament amentee ao banco de sangue, e ao médico responsável pelo pacient e. Pr ocure paciente. Procure assis tência com os colegas mais experient es. assistência experientes. ansfundidos. O 2 Reações agudas podem ocorrer em 1 a 2% dos pacient es tr pacientes transfundidos. reconheciment at ament ar a vida do amentoo das reações pode salv salvar reconhecimentoo precoce e tr trat atament e. Uma vez que se ttomou omou uma ação imediat a, a av aliação cuidadosa pacient paciente. imediata, avaliação é essencial par icar os principais pr oblemas do pacient e. paraa identif identificar problemas paciente. 3 Falhas e err os na adesão aos pr ocediment os corre erros procediment ocedimentos correttos são a causa mais comum de reações tr ansfusionais pot encialment at ais. transfusionais potencialment encialmentee ffat atais. 4 A cont aminação bact eriana nos concentr ados de hemácias e de plaque contaminação bacteriana concentrados plaquettas são uma causa subes timada de reações agudas tr ansfusionais. subestimada transfusionais. 5 Pacient es que recebam regularment ansfusões são mais susce tíveis a acientes regularmentee tr transfusões suscetíveis reações agudas ffebris. ebris. Com experiência, es esttas podem ser reconhecidas, par paraa que a tr ansfusão não seja adiada ou int err ompida desnecessariament e. transfusão interr errompida desnecessariamente. 6 Inf ecções tr ansmissíveis por via tr ansfusional são a causa mais séria de Infecções transmissíveis transfusional complicações tr ansfusionais ttar ar dias. Como a reação tr ansfusional ttar ar dia transfusionais ardias. transfusional ardia pode ocorrer dias, semanas ou meses após a tr ansfusão, a associação com transfusão, a tr ansfusão pode ser ffacilment acilment or o, é essencial transfusão acilmentee não reconhecida. PPor orttant anto, regis tr ar ttodas odas as tr ansfusões de fforma orma de volução do pacient e, registr trar transfusões dettalhada na eevolução paciente, e sempre consider ar a tr ansfusão no diagnós tico dif erencial. considerar transfusão diagnóstico diferencial. 7 A infusão de gr andes volumes de sangue ou ffluidos luidos intr avenosos pode causar grandes intravenosos dis túrbios hemos táticos ou me distúrbios hemostáticos mettabólicos. 136 E F E I TO S A DV E R S O S DA T R A N S F U S Ã O Introdução A transfusão de sangue pode estar associada a diversos efeitos adversos. Algumas dessas reações são agudas, e aparecem durante ou logo após a transfusão, mas os efeitos clínicos de outras podem ser tardios, algumas vezes meses ou anos após. A segurança do sangue e dos componentes sangüíneos varia muito nas diversas áreas do mundo. No entanto, até mesmo com os mais rigorosos padrões de seleção do doador, coleta de sangue, pesquisa, processamento e armazenamento, ainda há risco de infecções transmissíveis por transfusão e outros efeitos adversos. Conseqüentemente, a decisão de transfundir deve ser baseada numa análise cuidadosa dos riscos e benefícios ao paciente, e realizada com o conhecimento e treinamento para o reconhecimento precoce e tratamento de reações adversas ou complicações que possam aparecer. Além desta Seção, leia a Seção 1: Uso apropriado de sangue e componentes sangüíneos e a Seção 6: Procedimentos Clínicos Transfusionais nos quais há maior detalhamento dos fatores que influenciam a segurança do sangue. A Utilização Clínica do Sangue foi preparada por um grupo internacional de clínicos e especialistas em medicina transfusional, tendo sido extensivamente revisto por departamentos da OMS ou por leitores criteriosos pertencentes a uma série de disciplinas clínicas de todas as seis regiões da OMS Objetivos do estudo Quando completar esta seção, você deverá estar apto a: 1 Identificar os diferentes tipos de reações transfusionais. 2 Reconhecer e tratar os diferentes tipos de reação transfusional. 3 Investigar e registrar as reações transfusionais. 4 Realizar as medidas preventivas apropriadas para as reações transfusionais específicas. 137 SEÇÃO 7 7.1 Reações transfusionais As reações transfusionais podem ser classificadas em categorias simples, de maneira a auxiliá-lo a reconhecê-las, compreendendo as suas causas desencadeantes, quando podem ocorrer, e saber como preveni-las e tratálas. Complicações agudas transfusionais As reações agudas transfusionais ocorrem durante ou logo após a transfusão (dentro de 24 horas). Podem ser classificadas de acordo com três categorias, de acordo com a sua gravidade e resposta clínica. Categoria 1: reações leves Hipersensibilidade leve: alérgica reações urticariformes Categoria 2: Reações moderadas Hipersensibilidade moderada ou grave (reações graves urticariformes) Reações febris não hemolíticas: Anticorpos dirigidos contra leucócitos e plaquetas Anticorpos dirigidos contra proteínas, incluindo IgA Possível contaminação bacteriana (sinais precoces) Pirogênica Categoria 3: Reações com risco de vida Hemólise aguda intravascular Contaminação bacteriana e choque séptico Sobrecarga de volume Reações anafiláticas Lesão pulmonar associada a transfusões (TRALI) Complicações tardias da transfusão As complicações tardias da transfusão são divididas em duas categorias. Infecções transmissíveis por transfusão HIV-1 e HIV-2 HTLV-I e II Hepatite viral B e C Sífilis Doença de Chagas Malária Citomegalovírus Outras infecções raras: por exemplo, parvovírus B19 e hepatite A 138 E F E I TO S A DV E R S O S DA T R A N S F U S Ã O Outras complicações tardias da transfusão Outras complicações tardias da transfusão podem ocorrer dias, meses ou até mesmo anos após a transfusão tiver ocorrido, incluindo: Reação hemolítica tardia Púrpura pós transfusional Doença enxerto versus hospedeiro Sobrecarga de ferro (pacientes que receberam múltiplas transfusão) 7.2 Conduta inicial e investigação Quando ocorre uma primeira reação aguda, pode ser difícil definir seu tipo e gravidade, já que os sinais e sintomas iniciais podem não ser específicos no início. Com exceção das reações alérgicas urticariformes, e das reações febris não hemolíticas, todas são potencialmente fatais, e necessitam tratamento urgente. Ë essencial monitorizar de perto o paciente transfundido, de forma a detectar precocemente qualquer reação transfusional aguda. A figura 6.13 na página 133 sumariza o procedimento de monitorização do paciente. Num pacient ensão e o sangr ament pacientee inconscient inconscientee ou anes anesttesiado, a hipot hipotensão sangrament amentoo incontr olável podem ser os únicos sinais da tr ansfusão incompatível. incontrolável transfusão Num pacient e, que apresent ave, os sinais pacientee conscient consciente, apresentee uma reação hemolítica gr grave, e sint omas podem aparecer em minut os, após a infusão de soment 0 ml sintomas minutos, somentee 5-1 5-10 de sangue. Uma obser osa no início da tr ansfusão é fundament al. observvação rigor rigorosa transfusão fundamental. Tratamento inicial de reações transfusionais agudas Se ocorrer uma reação tr ansfusional, verif ique primeir tique transfusional, verifique primeiroo as eetique tiquett as de identif icação do pacient e. Se houver qualquer discrepância, identificação pacientee e do component componente. int err ompa imediat ament ansfusão, e comunique o banco de sangue. interr errompa imediatament amentee a tr transfusão, A figura 7.1 nas páginas 140-142 sumariza sinais e sintomas, possíveis causas e abordagem das três categorias de reações transfusionais agudas. 139 SEÇÃO 7 Figura 7.1: Possíveis causas e abordagem das três categorias de reações transfusionais agudas CATEGORIA CATEGORIA 1: LEVE CATEGORIA 2: MODERAD A/GRA VE MODERADA/GRA A/GRAVE SIN AIS SINAIS Reação cutânea SINT OMAS SINTOMAS Prurido PR OVÁVEL C AUS A PRO CA USA localizada: — urticária — erupção de pele (leve) Rubor Ansiedade Urticária Prurido (coceira) Tremores Febre Inquietação Taquicardia Palpitações Leve dispnéia Cefaléia Tremores Ansiedade Febre Dor torácica Inquietação Hipotensão ( queda de mais de 20% da pressão sistólica) Taquicardia (aumento de 20%) Hemoglobinúria (urina vermelha) Sangramento inexplicável (CIVD) Dor próxima ao local de infusão Distúrbio respiratório/ diminuição da respiração Dor nas costas Cefaléia Dispnéia Hipersensibilidade (moderada - grave) CATEGORIA 3 : RISCO DE VID A VIDA Hipersensibilidade Reação febril não hemolítica: — Anticorpos contra leucócitos, plaquetas — Anticorpos dirigidos para proteínas, IgA Contaminação com pirógenos e/ou bactérias Hemólise aguda intravascular Contaminação bacteriana e choque séptico Sobrecarga volumétrica Anafilaxia Lesão pulmonar associada à transfusão (TRALI) Not otaa: Se ocorrer uma reação transfusional aguda, primeiro verifique as etiquetas de identificação do paciente e do componente. Se houver qualquer discrepância, interrompa imediatamente a transfusão, e comunique o banco de sangue.Se o paciente estiver inconsciente ou anestesiado, a hipotensão e sangramento incoercível podem ser as únicas manifestações de uma transfusão incompatível.Se um paciente consciente sofrer uma reação transfusional hemolítica grave, os sinais e sintomas podem aparecer rapidamente – em minutos após a infusão de somente 5 a 10 ml de sangue. Observação cuidadosa no início da infusão de cada unidade é essencial. 140 E F E I TO S A DV E R S O S DA T R A N S F U S Ã O Figura 7.1: Possíveis causas e abordagem das três categorias de reações transfusionais agudas TRA O INICIAL TRATTAMENT AMENTO CATEGORIA 1 : LEVE 1 Diminua a velocidade de infusão. 2 Administre anti-histamínico IM (clorferinamina 0.1 mg/kg ou equivalente) at ar como Cat egoria 22. 3 Se não houver melhora clínica em 30 minutos ou se houver piora dos sinais e sintomas, tr trat atar Categoria CATEGORIA 2: MODERAD A MODERADA 1 Interrompa a transfusão. Mantenha o acesso venoso com solução normal de salina. 2 Notifique o médico responsável pelo paciente e o banco de sangue imediatamente. 3 Envie o restante do componente, amostras de urina e de sangue (1 em tubo com anticoagulante e outra em tubo seco) de outro acesso com pedido de investigação para o laboratório e o banco de sangue. 4 Administre anti-histamínico IM (clorferinamina 0.1 mg/kg ou equivalente) e antipirético por via oral ou retal (paracetamol 10 mg/kg: 500 mg – 1 g no adulto ). Evite aspirina em pacientes trombocitopênicos. 5 Administre corticóides EV e broncodilatadores se houver sinais de reação anafilactóide ( broncoespasmo, sibilos). 6 Colete urina nas próximas 24 horas para verificar hemólise e envie ao laboratório. 7 Se houver melhora clínica reinicie a transfusão lentamente com nova unidade de sangue e observe cuidadosamente. at ar como Cat egoria 3 8 Se não houver melhora clínica em 15 minutos ou se os sinais e sintomas piorarem, tr trat atar Categoria 3. CATEGORIA 3 : RISCO DE VID A VIDA 1 Interrompa imediatamente a transfusão. Mantenha o acesso venoso com solução de salina normal. 2 Infunda solução de salina para manter a pressão sistólica ( inicialmente 20-30 ml/kg). Se houver hipotensão, administre por mais 5 minutos e eleve as pernas do paciente. 3 Mantenha as vias aéreas livres com máscara de oxigênio. 4 Administre adrenalina ( solução 1:1000) 0,01 mg/kg de peso através de injeção intramuscular lenta. 5 Administre corticóides e broncodilatadores se houver sinais anafilactóides ( broncoespasmo, sibilos). 6 Administre diuréticos: furosemida 1 mg/kg EV ou equivalente 7 Notifique imediatamente o médico responsável pelo paciente e o banco de sangue. 8 Envie a unidade de sangue restante, amostras de urina e de sangue ( um tubo com anticoagulante e outro seco) de outro acesso com requisição para investigação do banco de sangue e do laboratório. 9 Verifique visualmente se a urina do paciente possui sinais de hemoglobinúria ( urina rosa ou avermelhada). 10 Inicie a coleta de urina de 24 horas e balanço hídrico, registrando todos os débitos e a ingestão. Mantenha o balanço hídrico zerado. 11 Estime sangramento através das punções e dos ferimentos. Se há evidência clínica ou laboratorial de CIVD (Seção 9.11) , administre plaquetas ( adultos 5-6 unidades) e crioprecipitado (adultos: 12 unidades) ou plasma fresco congelado ( adulto: 3 unidades). Se possível utilize produtos derivados do plasma com inativação viral. (Continua na página 142) 141 SEÇÃO 7 Figura 7.1: Possíveis causas e abordagem das três categorias de reações transfusionais agudas TRA O INICIAL TRATTAMENT AMENTO CATEGORIA 3 : RISCO DE VID A VIDA 12 Se hipotenso: Administre solução salina 20-30 ml/kg num período acima de 5 minutos Se disponível, administre um inotrópico 13 Se houver diminuição do débito urinário ou sinais laboratoriais de falência renal ( aumento do K+, uréia , creatinina): Mantenha rigoroso balanço hídrico Administre furosemida Se disponível considere a administração de dopamina Procure ajuda de especialistas, o paciente pode necessitar de diálise 14 Se houver suspeita de bacteremia ( tremores, febre, colapso, sem sinais de hemólise), inicie antibióticos de amplo espectro endovenoso, cobrindo pseudomonas e gram positivos. ATIVIDADE 23 Levante nos registros de seu hospital e do Banco de Sangue a incidência e os tipos de reações transfusionais relatadas no último ano. ATIVIDADE 24 Compare a padronização de atendimento inicial de reações transfusionais com o exemplo citado na figura 7.1 . Se não houver manuais, ou se você acreditar que possam ser melhorados, prepare alguns esboços e discuta com seus superiores. Uma vez que concordem, organize uma sessão educacional para toda a equipe. Monitore se o manual está sendo seguido corretamente. Promova sessões de atualização, quando necessárias, e monitore continuamente a prática. Figura 7.2: indica as drogas e as dosagens que podem ser utilizadas no tratamento de reações agudas transfusionais. Investigando reações agudas transfusionais A figura 7.3 nos mostra os procedimentos para se investigar uma reação aguda transfusional. 142 E F E I TO S A DV E R S O S DA T R A N S F U S Ã O Figura 7.2: Drogas que podem ser utilizadas no tratamento de reações agudas transfusionais TIPO DE DR OG A EFEIT OS PRINCIP AIS DROG OGA EFEITOS PRINCIPAIS EXEMPL OS EXEMPLOS Nome NO NOTTAS Via e dose Fluido de reposição intravenoso Expansão do volume Veja Seção 4.2 Salina normal Se o paciente estiver hipotenso, 20-30 ml/kg em 5 minutos Evitar soluções colóides Antitérmico Reduz a febre e resposta inflamatória Paracetamol Oral ou retal 10 mg/kg Evitar produtos que contenham aspirina se o paciente tiver baixa contagem plaquetária Anti-histamínico Inibe a resposta Clorfeniramina mediada pela histamina Intramuscular ou EV 0,1 mg/kg Broncodilatador Adrenalina 0,01 mg/kg (como solução 1:1000) por injeção intramuscular lenta Considere o uso de salbutamol Nebulização Aminofilina 5 mg/kg Dopamina Infusão EV 1 µg/kg/min Dopamina em baixas doses induz vasodilatação e melhora a perfusão renal Dobutamina InfusãoEV 1-10 µg/kg/min Doses acima de 5 mg/kg/min causam vasoconstrição e pioram a insuficiência renal Furosemida Injeção EV lenta 1 mg/kg Inotrópico Diurético Inibe o broncoespasmo imune mediado Aumenta a contratilidade miocárdica Inibe a reabsorção de fluidos na alça ascendente de Henle Plaquetas Crioprecipitado Plasma fresco congelado A dose pode ser repetida a cada 10 minutos, de acordo com o pulso e pressão sangüínea até que ocorra melhora Veja Seção 5.6 143 SEÇÃO 7 Figura 7.3: Procedimentos para investigação de reação aguda transfusional INVES TIG AÇÃO D A REAÇÃO AAGUD GUD A TRANSFUSION AL INVESTIG TIGAÇÃO DA GUDA TRANSFUSIONAL 1 Reporte imediatamente todas as reações agudas transfusionais, com exceção da hipersensibilidade leve (Categoria 1), ao médico responsável pelo paciente e ao banco de sangue Se houver suspeita de reação grave, procure ajuda imediata do anestesista e/ou da equipe de emergência 2 Registre as seguintes informações: Tipo de reação transfusional Espaço de tempo entre o início da transfusão e o aparecimento dos primeiros sintomas Volume, tipo e número dos produtos transfundidos 3 Colete as seguintes amostras e envie ao banco de sangue e ao laboratório para investigação: Amostra imediata pós-transfusional ( 1 tubo seco e outro com anticoagulante) de outro acesso venoso para: — Hemograma completo — Testes de coagulação — Teste de Coombs direto — Uréia — Creatinina — Eletrólitos Hemocultura Restante da unidade e dos equipos Primeira urina após os sintomas 4 Complete o formulário de reação transfusional. 5 Depois da investigação inicial, envie novas amostras ao banco de sangue e ao laboratório: Amostras ( 1 tubo seco e outro com anticoagulante) colhida de outro acesso 12 a 24 h depois da reação Urina de 24 horas do paciente 6 Registre os resultados da investigação no prontuário do paciente para evolução futura, se necessária. 144 E F E I TO S A DV E R S O S DA T R A N S F U S Ã O 7.3 Reações agudas transfusionais Categoria 1 : leve Urticária e prurido são reações comuns após a transfusão. São provocadas por um aumento da hipersensibilidade, com liberação local de histamina devido a proteínas, provavelmente do plasma do doador. Sinais e sintomas Reações localizadas cutâneas (urticária e rash) freqüentemente estão acompanhadas por prurido, ocorrendo no início da transfusão. Os sintomas diminuem geralmente se a infusão ficar mais lenta e se administrar antihistamínico. Tratamento 1 Diminua a velocidade de infusão 2 Administre anti-histamínico: p. ex. clorfeniramina 0,1 mg/kg por injeção IM 3 Prossiga a transfusão na velocidade normal, se não houver progressão dos sintomas depois de 30 minutos. er melhoria clínica em 30 minut os, ou se houv er piora houver minutos, houver 4 Se não houv do q uadr o, tratar a reação como Cat egoria 2. quadr uadro, Categoria Prevenção Se o paciente já tem história de reações urticariformes, administre antihistamínico como clorfeniramina 0,1 mg/kg IM ou EV, se possível 30 minutos antes do início da transfusão. Categoria 2: Reações moderadas Febre ou tremores durante a transfusão de sangue ou concentrado de plaquetas podem afetar 1-2% dos pacientes transfundidos, particularmente aqueles que sejam submetidos a transfusões regulares. São causadas por citoquinas liberadas dos leucócitos nos componentes armazenados, e pela reação dos leucócitos infundidos contra anticorpos do plasma do paciente, resultando na liberação de pirógenos. É importante registrar rotineiramente a temperatura, pulso, respiração e pressão sangüínea do paciente antes do início da transfusão, para evitar confusão com febre pré-existente. Os sinais e sintomas geralmente ocorrem 30-60 minutos após o início da transfusão Sinais Rubor Urticária 145 SEÇÃO 7 Tremores Febre Dispnéia Taquicardia Sintomas Ansiedade Prurido Palpitações Dispnéia leve Cefaléia Tratamento 1 Interrompa imediatamente a transfusão. Mantenha o acesso venoso com solução normal de salina. 2 Notifique imediatamente o médico responsável pelo paciente e o banco de sangue 3 Envie o restante do componente e o equipo, novas amostras de sangue de outra via venosa (um tubo seco e outro com anticoagulante) e de urina, com as requisições necessárias para investigação (Figura 7.3) 4 Administre anti-histamínicos EV ou IM (clorfeniramina 0,01 mg/kg ou equivalente) e antitérmico oral ou retal (paracetamol 10 mg/kg: 500mg a 1g em adultos). Evite aspirina em pacientes plaquetopênicos. 5 Administre corticóides EV e broncodilatadores, se houver sinais anafilactóides ( p.ex. broncoespasmo, sibilos) 6 Colete urina de 24 horas para evidência de hemólise, e envie ao laboratório 7 Se houver melhoria clínica, reinicie a transfusão com outro componente lentamente, e observe cuidadosamente. 8 Se não houver melhoria clínica em 15 minutos, ou se houver piora da condição do paciente, tratar a reação como Categoria 3. Reações febris são comuns, mas a febre pode estar associada a outras reações adversas à transfusão, sendo importante eliminar estas outras causas, particularmente contaminação bacteriana e hemólise aguda, antes de definir a reação como febril não hemolítica. A febre também pode ser causada por outras condições do paciente: p. ex. malária. Prevenção Se o paciente for politransfundido, ou tenha tido mais de duas reações febris não hemolíticas no passado: 1 Administre antitérmico 1 hora antes do início da transfusão: p. ex. paracetamol 10-15 mg/kg oral. Não use aspirina em pacientes plaquetopênicos. 146 E F E I TO S A DV E R S O S DA T R A N S F U S Ã O 2 Repita o antitérmico 3 horas após o início da transfusão. 3 Transfunda lentamente, se possível: Sangue total e concentrado de hemácias: 3-4 horas por unidade Concentrado de plaquetas: acima de 2 horas a cada concentrado 4 Mantenha o paciente aquecido 5 Se este procedimento for falho no controle das reações febris e se houver necessidade de transfusões posteriores, utilize concentrado de hemácias ou de plaquetas filtrados ou com remoção do buffy coat. Categoria 3: graves com risco de vida A causa mais comum de reações graves são: Hemólise aguda intravascular Contaminação bacteriana e choque Sobrecarga de volume Choque anafilático Lesão pulmonar associada à transfusão (TRALI) Sinais Tremores Febre Respiração difícil Choque Taquicardia Hemoglobinúria ( urina avermelhada) Sangramento inexplicado (CIVD) Sintomas Ansiedade Dor torácica Distúrbio respiratório/ respiração curta Dor nas costas Cefaléia Dispnéia Tratamento 1 Interrompa a transfusão. Mantenha o acesso venoso com solução normal de salina. 2 Infunda salina normal a fim de manter a pressão sistólica (inicial 20-30 ml/kg). Se hipotenso, administre por mais 5 minutos e suspenda as pernas do paciente. 3 Mantenha as vias aéreas pérvias e coloque uma máscara de oxigênio no paciente. 4 Administre solução de adrenalina 1:1000 na dose de 0,01 mg/kg IM 147 SEÇÃO 7 5 Administre corticóides EV e broncodilatadores se houver sinais de reação anafilactóide (p. ex. broncoespasmo, sibilo) 6 Administre diuréticos: p. ex. furosemida 1 mg/kg EV ou equivalente 7 Notifique imediatamente o médico responsável pelo paciente e o banco de sangue. 8 Envie o restante da unidade e o equipo, uma amostra de urina e de sangue de outro acesso venoso (um tubo seco e outro com anticoagulante) com requisições para o laboratório e o banco de sangue realizarem a investigação. 9 Analise visualmente a nova amostra de urina, se a mesma não possui sinais de hemoglobinúria (avermelhada ou rosa). 10 Inicie a coleta de urina de 24 horas e balanço hídrico com registro de todas as perdas e da ingestão. 11 Assegure-se que não haja sangramento nos ferimento e locais de punção. Se houver sinais clínicos ou laboratoriais de CIVD ( Seção 9.11), administre: Concentrado de plaquetas (adultos 5-6 unidades) e Crioprecipitado (adulto: 12 unidades) ou plasma fresco congelado ( adulto: 3 unidades). Utilize preferencialmente produtos com inativação viral. 12 Se hipotenso: Administre solução normal de salina 20-30 ml/kg em 5 minutos Administre inotrópico 13 Se houver diminuição do débito urinário ou evidências laboratoriais de insuficiência renal aguda ( aumento de K+, uréia, creatinina): 14 Mantenha rigoroso balanço hídrico Administre furosemida posteriormente Considere a infusão de dopamina Peça auxílio dos especialistas: o paciente pode necessitar de diálise. 15 Se houver suspeita de bacteremia (tremores, febre, colapso, sem sinais de hemólise), deve-se iniciar antibióticos de amplo espectro EV, para cobrir pseudomonas e gram positivos. Hemólise intravascular aguda As reações hemolíticas intravascular agudas são causadas por infusão de hemácias incompatíveis. Anticorpos do plasma do paciente hemolisam as hemácias transfundidas incompatíveis. Mesmo um pequeno volume de sangue incompatível (5-10 ml) pode causar uma grave reação, e volumes maiores aumentam o risco. Por esta razão, é essencial monitorar o paciente no início da transfusão de cada unidade (figura 6.13). 148 E F E I TO S A DV E R S O S DA T R A N S F U S Ã O A causa mais comum de reação hemolítica intravascular aguda é a transfusão incompatível ABO. Os anticorpos responsáveis são tanto da classe IgM ou IgG dirigidos contra os antígenos A e B das hemácias transfundidas, causando hemólise intravascular aguda. A infusão de sangue incompatível ABO quase sempre é causada por: Erros na requisição do sangue Coleta de amostra pré-transfusional do paciente errado num tubo com etiquetagem prévia. Etiquetagem incorreta do tubo enviado ao banco de sangue Verificação inadequada do componente contra a identidade do paciente antes do início da transfusão. Os anticorpos no plasma do paciente contra outro antígenos do sangue transfundido, tais como os dos sistemas Kidd, Kell ou Duffy, também podem causar hemólise intravascular aguda. Sinais Febre Tremores Taquicardia, hipotensão Falta de ar Hemoglobinúria, oligúria Sinais de tendência a sangramento devido à coagulação intravascular disseminada (CIVD) No paciente consciente que estiver apresentando uma reação hemolítica grave, os sinais e sintomas geralmente aparecem nos minutos iniciais da transfusão, algumas vezes quando menos de 10 ml foi administrado. Nos pacientes inconscientes ou anestesiados, a hipotensão ou sangramento incontrolável devido à CIVD podem ser os únicos sinais de uma transfusão incompatível. Sintomas Dor ou irritação no membro onde a cânula de infusão esteja localizada Apreensão Dor lombar ou nas costas Tratamento 1 Interrompa a transfusão, troque o equipo e mantenha o acesso venoso com solução salina normal. 2 Mantenha as vias aéreas pérvias, e administre altas concentrações de oxigênio. 149 SEÇÃO 7 3 Suporte à circulação: Administre fluidos de reposição intravenosa para manter o volume sangüíneo e a pressão arterial Pode ser necessário suporte inotrópico para a circulação: p. ex. dopamina, dobutamina ou adrenalina 1:1000 IM, 0,01 ml/kg. 4 Previna a insuficiência renal através da indução da diurese: Mantenha volume e pressão sangüínea Administre diuréticos, tais como furosemida 1-2 mg/kg Administre infusão de dopamina a 1 mg/kg/min. 5 Se ocorrer CIVD: Administre hemocomponentes, de acordo com o quadro clínico e os testes de coagulação (Seção 9: Medicina Geral) Monitore regularmente o estado de coagulação do paciente. 6 Investigação: Verificar novamente a etiqueta do sangue com a do paciente. Enviar a amostra do paciente para: — Hemograma completo — Testes de coagulação — Teste de Coombs direto — Uréia — Creatinina — Eletrólitos O teste de antiglobulina direto será positivo e o nível de bilirrubina sérica aumentado. Examinar a amostra de urina do paciente, e enviar ao laboratório para análise de hemoglobinúria Devolver a unidade de sangue e o equipo para verificação do grupo e do teste de compatibilidade. Repetir eletrólitos e testes de coagulação a cada 12 horas, até que o paciente esteja estável. Prevenção Certifique-se que: 1 As amostras de sangue e formulários estejam corretamente etiquetados. 2 A amostra de sangue do paciente foi colocada no tubo correto. 3 O sangue foi verificado quanto à identidade do paciente antes da transfusão. Contaminação bacteriana e choque séptico Estima-se que a contaminação bacteriana afete cerca de 0,4% dos concentrados de hemácias e 1-2% dos concentrados de plaquetas. 150 E F E I TO S A DV E R S O S DA T R A N S F U S Ã O O sangue pode se tornar contaminado devido: Bactérias da pele do doador na coleta de sangue (geralmente staphylococcus de pele) Bacteremia no doador no momento da coleta Erros ou má-higiene no processamento do sangue Defeitos de fabricação ou acidentes na bolsa plástica Descongelamento de plasma ou crioprecipitado num banho-maria contaminado. Espécies de Pseudomonas são mais típicas nos três últimos exemplos. Alguns contaminantes, particularmente espécies de Pseudomonas, crescem a 2-6ºC, podendo sobreviver e se multiplicar em concentrados de hemácias refrigerados. O crescimento rápido de contaminantes pode ocorrer quando a unidade for aquecida. Portanto, o risco aumenta com o tempo do componente fora do refrigerador. Os estafilococos se desenvolvem em ambientes aquecidos, e proliferam em concentrados de plaquetas conservados entre 20-24º C, limitando a validade dos mesmos. Geralmente, os sinais aparecem rapidamente após o início da infusão, mas podem se retardar por poucas horas. Uma reação grave pode ser caracterizada por elevação súbita da temperatura, tremores e hipotensão. Cuidados urgentes de suporte, e altas doses de antibióticos intravenosos são necessários. Sobrecarga volêmica Quando houver a transfusão de muitos fluidos, a transfusão for muito rápida ou houver perda da função renal, pode ocorrer sobrecarga volêmica levando à insuficiência cardíaca e edema pulmonar. São mais propensos os pacientes com anemias crônicas graves e com distúrbios cardíacos, por exemplo, miocardiopatia isquêmica. Reações anafiláticas Reações do tipo anafiláticas são uma complicação rara na transfusão de sangue, componentes e derivados. O risco de anafilaxia aumenta com a rápida infusão, típica do plasma fresco congelado utilizado na plasmaférese terapêutica. As citoquinas do plasma podem ser uma causa de broncoconstrição e vasoconstrição em pacientes ocasionais. Uma causa rara de anafilaxia grave é a deficiência de IgA no receptor, podendo ser causada por qualquer produto que contenha traços de IgA. A anafilaxia ocorre minutos após o início da transfusão, sendo caracterizada por colapso cardíaco e distúrbio respiratório, sem febre. É fatal, se não tratada agressiva e rapidamente. 151 SEÇÃO 7 Lesão pulmonar associada à transfusão (TRALI) A lesão pulmonar associada à transfusão geralmente é provocada por anticorpos no plasma do doador contra os leucócitos do receptor. A maioria destes doadores são mulheres multíparas. Um quadro clássico de TRALI inicia-se geralmente 1 a 4 horas após o início da transfusão, com rápida falência pulmonar, mostrando ao RX de tórax opacidade difusa. Não há terapêutica específica. São necessários cuidados intensivos de suporte clínico e respiratório. 7.4 Complicações tardias da transfusão: infecções transmissíveis por transfusão Doadores podem carregar diversos agentes infecciosos em seu sangue, algumas vezes por longos períodos, não demonstrando sinais clínicos da patologia. As seguintes infecções podem ser transmitidas por transfusão: HIV-1 e HIV-2 HTLV-I e HTLV-II Hepatite B e C Sífilis (Treponema pallidum) Doença de Chagas (Trypanossoma cruzi) Malária Citomegalovírus (CMV). Outras infecções raras transmitidas por transfusão são: Parvovírus humano B19 Brucelose Vírus Epstein-Barr Toxoplasmose Mononucleose infecciosa Doença de Lyme Há a possibilidade do sangue transmitir a nova variante da Doença de Creutzfeldt-Jakob. Inicialmente chamada de “nova variante” CJD (nvCJD), é conhecida atualmente como “variante CJD” (vCJD). Está sendo submetida a diversos estudos, mas ainda não há evidências de transmissão associada a transfusão da CJD ou de suas variantes. (Veja WHO Weekly Epidemiological Record, 1998,73:6-7). Triagem de infecções transmissíveis por transfusão Devido ao risco de infecções transmissíveis por transfusão, o sangue deve ser colhido somente de doadores que tenham sido aceitos de acordo com os critérios nacionais. Cada unidade de sangue deve ser testada para Anticorpos anti-HIV-1 e HIV-2 152 Antígeno de superfície da hepatite B (HBsAg) Anticorpos contra Treponema pallidum (sífilis). E F E I TO S A DV E R S O S DA T R A N S F U S Ã O Nenhum pr odut ve ser liber ado par ansfusão até que ttodos odos os produt odutoo sangüíneo de deve liberado paraa tr transfusão tes esttes necessários a nível nacional es esttejam negativos. A pesquisa de outros agentes infecciosos deve estar em acordo com as políticas nacionais, que devem refletir a prevalência da infecção na potencial população doadora de sangue. Quando possível, esta pesquisa deve incluir: Hepatite C Doença de Chagas, em países onde a soroprevalência for significativa. Malária, em países de baixa prevalência. Isto se aplica apenas a doadores que tenham viajado a regiões endêmicas de malária. Os testes de malária estão sendo avaliados, mas ainda não são específicos para uso rotineiro na triagem de doadores. Vírus da imunodeficiência humana (HIV) Doença aguda da seroconversão Depois da exposição e infecção, não se detecta a viremia durante alguns dias. A seguir, são detectáveis altos títulos de vírus (antígenos) durante semanas. Durante este período, se houver altas doses de vírus envolvidas, cerca de 1/3 dos indivíduos infectados reportam a experiência de uma doença aguda com características de influenza, freqüentemente com contagem elevada de linfócitos atípicos. É altamente provável que este sangue seja infeccioso neste momento. Janela imunológica Utilizando-se os testes atuais de detecção de anticorpos anti-HIV, estes se tornam detectáveis aproximadamente 21 dias após a exposição à infecção. O DNA viral e uma proteína viral, designada como antígeno P24, são detectáveis 7 dias antes do anticorpo. O período no qual há viremia, sem anticorpos detectáveis é chamado de “janela imunológica”. O sangue colhido neste período é infeccioso, mas não são detectáveis anticorpos contra HIV nos testes rotineiros. O valor de um teste adicional para antígeno HIV (antígeno p24) não foi comprovado, embora possa reduzir em alguns dias a detecção do HIV onde haja alta prevalência do vírus numa população doadora que não tenha sido entrevistada cuidadosamente. 153 SEÇÃO 7 Epidemiologia Há uma grande variação na prevalência da infecção por HIV entre os diversos países e regiões. Estimativas globais de indivíduos HIV positivos são de pouco auxílio para estimar os riscos de transmissão por transfusão a cada local, portanto, o risco local deve ser determinado. Prevenção A prevenção inicialmente baseia-se numa seleção de doadores de sangue voluntários não-remunerados de baixo risco, com exclusão daqueles inadequados. Os testes de pesquisa de HIV são necessários para identificar e descartar doadores de sangue infectados. É essencial manter a confidencialidade e o tratamento posterior dos doadores identificados como soropositivos. HTLV-I e II A prevalência da infecção por HTLV-I é alta em algumas partes do mundo, particularmente no sudeste do Japão e partes do Caribe. O vírus pode causar distúrbios neurológicos, e uma forma rara de leucemia de células T do adulto. Geralmente, há um grande período entre a infecção e o desenvolvimento da doença. Além disso, somente uma pequena proporção dos infectados se torna doente. O vírus HTLV-I é transmitido por transfusão de componentes celulares. A ligação entre a infecção por HTLV-II e as doenças é menos clara. Prevenção O sangue doado deve ser testado onde haja evidências epidemiológicas de infecção por HTLV ou indicação da doença. Hepatite B A prevalência de portadores do vírus da hepatite B é alta em diversas áreas do mundo em desenvolvimento, em algumas áreas sendo superior a 10% da população potencial de doadores de sangue. A transmissão por sangue pode ser seguida de uma hepatite aguda, seguida tanto da sua resolução ou de uma hepatite crônica. As conseqüências a longo prazo são a cirrose e o câncer primário do fígado. A infecção pelo vírus da hepatite B pode ser clínica ou subclínica. Nos casos subclínicos, acima de 25% das crianças e 5 a 10% dos adultos se tornam portadores crônicos do antígeno de superfície da hepatite B (HBsAg). Prevenção Todo sangue doado deve ser testado antes da transfusão para HBsAg. Receptores regulares de produtos sangüíneos devem ser vacinados para hepatite B. 154 E F E I TO S A DV E R S O S DA T R A N S F U S Ã O Hepatite C Os testes para detecção de infecção por hepatite C foram introduzidos em 1991, e têm melhorado progressivamente. No entanto, estes testes ainda são caros e podem apresentar resultados conflitantes em algumas ocasiões. Como qualquer outro teste de triagem, devem ser validados em cada país antes de serem adotados para uso. Geralmente, a infecção por hepatite C é assintomática. Cerca de 50% dos pacientes afetados desenvolvem hepatite crônica e destes, uma grande proporção desenvolve dano hepático grave. Prevenção Quando possível, toda doação de sangue deve ser testada para hepatite C. Outras hepatites virais Em raras ocasiões a hepatite A pode ser transmitida por transfusão de produtos sangüíneos (derivados do plasma). Um vírus recentemente identificado como vírus-GB ou da “hepatite G”, parece estar presente em 2% da população de doadores saudáveis, mas não há evidências que possa causar hepatite ou qualquer outro tipo de doença. Sífilis A sífilis é causada por uma infecção pela bactéria Treponema pallidum. Essencialmente, é uma doença sexualmente transmissível (doença venérea), No entanto, pode ser disseminada por contato próximo com lesões de membrana mucosa e transfusão. Embora um teste positivo de sífilis não seja indicativo de infecção por HIV, é um marcador que o doador de sangue possa ter alto risco de exposição a outras doenças sexualmente transmissíveis, incluindo HIV, não devendo, portanto, ser aceito como doador. Prevenção Todo sangue doado deve ser testado para evidências sorológicas de infecção por Treponema pallidum. Uma outra medida de segurança é que o armazenamento do sangue doado a 2ºC a 6ºC por 72 horas elimina virtualmente o risco de infecção, devido à alta sensibilidade deste organismo a baixas temperaturas. Doença de Chagas A doença de Chagas, causada pelo Trypanossoma cruzi, é transmitida por transfusão. Estimativas atuais sugerem que cerca de 18 milhões de pessoas estão infectadas na América Latina. O tripanossoma é transmitido através de insetos triatomíneos, tais como o Triatoma infestans. O vetor vive em casas pobres tanto na área rural, como na urbana. 155 SEÇÃO 7 A transfusão de sangue é a segunda causa mais comum de transmissão e até cerca de 50% das unidades com marcador positivo transmitirão a infecção. A infecção é subclínica por um tempo indeterminado, mas evolui para uma fase crônica com mudanças irreversíveis, incluindo: Cardiomiopatia Megaesôfago Megacólon Prevenção Os esforços para eliminar a Doença de Chagas têm tido sucesso na redução da infecção em até 83% da população jovem. Isto foi obtido através do controle do vetor, e da análise de todo sangue doado, com exclusão das unidades positivas. No entanto, diferentes testes podem ter diferentes resultados e mais de um teste pode ser necessário. Muitos países da América Latina utilizam rotineiramente dois testes para a detecção de Doença de Chagas. Uma alternativa efetiva é adicionar cristal violeta, 125 mg a cada unidade de concentrado de hemácias armazenado, que inativa o tripanossoma. No entanto, o procedimento de adição do cristal de violeta deve manter a esterilidade bacteriana do sangue, o que é difícil na prática. Também leva à pigmentação de pele e membranas mucosas. Malária Todos os componentes sangüíneos podem transportar o Plasmodium e, portanto, possuem potencial de transmitir malária. Em países não endêmicos, a transmissão de malária por transfusão é rara ( menos de um caso a cada um milhão de unidades de sangue transfundidas). No entanto, a mortalidade é alta, porque freqüentemente o diagnóstico não é suspeitado. Prevenção Em áreas endêmicas, a análise de todo o sangue doado para parasitas da malária não é prático. Portanto, a prevenção depende de : 1 Profilaxia com antimaláricos no receptor de sangue se houver alta suspeita. 2 Pré-tratamento do doador com antimaláricos, se indicado. Em muitas circunstâncias, nenhuma dessas opções pode ser prática. No entanto, quando não for utilizada rotineiramente a profilaxia, é importante manter uma alta taxa de suspeita, e tratar os sintomas dos receptores de sangue precocemente com o regime antimalárico recomendado localmente. Em áreas não endêmicas, critérios rigorosos de seleção de doador devem ser utilizados para excluir doadores que tenham tido malária ou que estiveram recentemente em áreas endêmicas. Citomegalovírus (CMV) Há uma alta proporção de doadores de sangue que possuem anticorpos contra CMV. 156 E F E I TO S A DV E R S O S DA T R A N S F U S Ã O Geralmente a transmissão de CMV só é importante em pacientes imunecomprometidos, e sua importância clínica é comprovada em: Recém nascidos prematuros, especialmente aqueles com peso menor que 1200-1500 g ao nascimento, filhos de mães CMV negativas Receptores de medula óssea negativos para anticorpos contra CMV, que receberam enxertos CMV negativos. Prevenção Os pacientes imunecomprometidos, recém nascidos prematuros e receptores de medula óssea CMV negativos que receberam enxerto CMV negativo devem receber doações que não possuam anticorpos detectáveis contra CMV. Componentes leuco-depletados, plasma fresco congelado e crioprecipitado não transmitem CMV. Outras infecções raras transmissíveis por transfusão Outras infecções raras têm sido reportada como transmissíveis por transfusão, incluindo parvovírus B19, brucelose, vírus Epstein-Barr, toxoplasmose, mononucleose infecciosa e Doença de Lyme. Prevenção A prevenção depende da seleção cuidadosa de doadores para excluir os inadequados. Doença de Creutzfeld-Jakob (CJD) e variante CJD (vCJD) A Doença de Creutzfeld-Jakob é um distúrbio neuro-vegetativo degenerativo raro e fatal. A doença tem sido transmitida por humanos através de hormônio de crescimento extraído de glândulas pituitárias, enxerto de córnea e dura-máter, e instrumentos neurocirúrgicos contaminados. Embora a transmissão por transfusão sangüínea não tenha sido comprovada, há uma preocupação sobre esta possibilidade. Até o momento, não há relatos de CJD entre hemofílicos, que estão expostos a uma grande quantidade de produtos sangüíneos. Recentemente foi reportada a nova variante de CJD, acometendo pacientes jovens. A maioria dos estudos epidemiológicos e laboratoriais sobre a infectividade do sangue, e a transmissão da infecção foi feita sobre a forma esporádica de CJD, mas as observações clínicas e neuropatológicas sugerem que a vCJD possua outras características biológicas. Estudos posteriores são necessários para determinar se o agente infeccioso pode ser transmitido por transfusão sangüínea. 157 SEÇÃO 7 Prevenção Indivíduos que sofram das seguintes patologias devem ser excluídos da doação definitivamente: Doença de Creutzfeld-Jakob e variante CJD Doença de Gerstmann-Sträussler-Scheinker (GSS) Insônia familiar fatal (FFI) Demência Com base no conhecimento atual, é essencial excluir da doação sangüínea os seguintes grupos: Doadores que foram tratados com extratos derivados de glândulas pituitárias humanas (hormônio de crescimento e gonadotrofina) Doadores com história familiar de CJD, GSS ou FFI Doadores que tenham recebido enxerto de córnea ou de duramáter. 7.5 Outras complicações tardias da transfusão Alem das infecções transmitidas por transfusões, outras complicações tardias podem correr dias ou meses após a transfusão. Elas incluem: Reação hemolítica tardia Púrpura pós transfusional Reação enxerto x hospedeiro Sobrecarga de ferro Imunossupressão. As suas formas de apresentação e tratamento estão resumidas na Figura 7.4 Reação transfusional hemolítica tardia Causa Em pacientes que foram previamente imunizados a um antígeno eritrocitário na gravidez ou após transfusão, o título do anticorpo ao antígeno eritrocitário pode ser tão baixo, que não seja detectável na amostra sangüínea pré transfusional. Cerca de 1% das mulheres que já estiveram grávidas tem anticorpos que são indetectáveis pelos métodos de rotina. Após a transfusão de hemácias que contenham o antígeno, uma rápida resposta imune secundária eleva o título do anticorpo, de forma que as hemácias que possuam o antígeno sejam destruídas. A maior parte da hemólise é extravascular. 158 E F E I TO S Figura 7.4: Outras complicações tardias da transfusão A DV E R S O S DA T R A N S F U S Ã O COMPLIC AÇÃO COMPLICAÇÃO APRESENT AÇÃO APRESENTAÇÃO TRA O TRATTAMENT AMENTO Reações hemolíticas tardias 5-10 dias após a transfusão: Febre Anemia Icterícia Púrpura pós-transfusional 5-10 dias após a transfusão: Aumento da tendência hemorrágica Trombocitopenia Plasmaférese Doença enxerto versus hospedeiro 10-12 dias após a transfusão: Febre Rash cutâneo e descamação Diarréia Hepatite Pancitopenia Sobrecarga de ferro Prevenção com Insuficiência cardíaca e hepática em pacientes agentes quelantes de dependentes de transfusões ferro: p. ex. desferrioxamine Geralmente sem tratamento Se hipotenso e oligúrico, tratar como hemólise intravascular aguda Altas doses de esteróides Altas doses de imunoglobulina intravenosa Terapia de suporte Sem tratamento específico Sinais e sintomas Os sinais de uma reação hemolítica tardia aparecem 5-10 dias após a transfusão: Febre Anemia Icterícia Ocasionalmente hemoglobinúria Reações graves, com risco de vida, com choque, insuficiência renal e CIVD são raras. Conduta: 1 Geralmente não é necessário tratamento 2 Investigações : Reavaliar o tipo sangüíneo do paciente. O teste de Coombs direto geralmente é positivo. Elevação da bilirrubina indireta. 159 SEÇÃO 7 Prevenção: A reação hemolítica tardia pode ser prevenida pela cuidadosa triagem laboratorial para anticorpos anti-eritrocitários no plasma do paciente, e a seleção de hemácias compatíveis contra estes anticorpos. Entretanto, algumas reações ocorrem por antígenos raros (como anti-Jka, anticorpos que dificilmente são detectados na amostra pré transfusional.) Púrpura pós transfusional Causa A púrpura pós transfusional é uma complicação rara, mas potencialmente fatal. Ocorre mais freqüentemente em mulheres. É causada por anticorpos do receptor dirigidos contra as plaquetas transfundidas, causando trombocitopenia aguda e grave 5-10 dias após a transfusão. Sinais e sintomas Sinais de sangramento Trombocitopenia, definida como contagem plaquetária inferior a 100 x 109/ L. Conduta O tratamento da púrpura pós transfusional é feito quando esta se torna clinicamente importante, com contagem plaquetária de 50 x 109/L, com o risco de sangramento oculto com contagem de 20 x 109/L . 1 Administrar corticosteróide em alta dose. 2 Administrar imunoglobulinas em dose elevada: 2g/kg ou 0,4 g/ kg por 5 dias. 3 Plasmaferése. 4 Investigações: Monitorizar a contagem plaquetária Administrar concentrado de plaquetas do mesmo tipo ABO do paciente Plaquetas não compatíveis geralmente são ineficazes. A recuperação ocorre em 2 a 4 semanas. Prevenção: Acompanhamento especializado é essencial, e somente devem ser administradas plaquetas compatíveis. Doença do enxerto x hospedeiro Causa A doença do enxerto x hospedeiro é uma complicação rara e potencialmente fatal. Ocorre em pacientes imunodeficientes como receptores de transplante de medula óssea, e em indivíduos não imunodeficientes transfundidos com 160 E F E I TO S A DV E R S O S DA T R A N S F U S Ã O sangue de indivíduos com tipo tissular compatível (HLA: antígeno leucocitário humano), geralmente familiares. É causado por linfócitos T do doador que proliferam e agridem os tecidos dos receptores. Sinais e Sintomas A doença do enxerto x hospedeiro ocorre tipicamente 10-12 dias após a transfusão, e caracteriza-se por: Febre Rash e descamação epitelial. Diarréia Hepatite Pancitopenia Conduta A doença é geralmente fatal. O tratamento é de suporte; não há terapêutica específica. Prevenção A doença do enxerto x hospedeiro é prevenida pela irradiação gama dos componentes celulares para impedir a proliferação dos linfócitos transfundidos. Sobrecarga de ferro Causa Não há mecanismos fisiológicos para eliminar o excesso de ferro, portanto, pacientes dependentes de transfusão por um longo período de tempo podem acumular ferro no corpo, ocorrendo então a hemossiderose. Sinais e Sintomas O excesso de ferro que se deposita nos tecidos pode causar falência orgânica, particularmente cardíaca e hepática. O objetivo deve ser o de manter o nível de ferritina < 2000mg/ L (veja Seção 9: Medicina geral). Imunossupressão A transfusão sangüínea altera o sistema imune em diversos aspectos, e os efeitos da imunossupressão têm sido estudados em dois aspectos: 1 A taxa de recorrência tumoral pode ser mais elevada: estudos prospectivos não têm demonstrado diferença no prognóstico de pacientes transfundidos x não transfundidos, ou em pacientes que recebam sangue autólogo x homólogo. 2 A transfusão aumentaria o risco de infecção pós-operatória, por inibir a resposta imune: os estudos clínicos têm falhado em provar esta ocorrência. 161 SEÇÃO 7 7.6 Transfusão maciça ou de grandes volumes O termo “transfusão maciça” pode ser definido como a reposição de perda sangüínea equivalente ou superior à volemia total do paciente com sangue armazenado, em período inferior a 24 horas (70 ml/kg em adultos, 80-90 ml/kg em crianças ou recém nascidos: veja figura 2.5). As transfusões maciças geralmente acontecem devido a hemorragias agudas obstétricas, em pacientes cirúrgicos e trauma. Veja as Seções 10, 12 e 13. O tratamento inicial das grandes hemorragias e hipovolemia é restaurar o volume sangüíneo tão rapidamente quanto possível, de maneira a manter a perfusão tecidual e oxigenação. Isto requer a infusão de grandes volumes de fluidos de reposição e de sangue, até que o controle da hemorragia seja realizado. A morbidade e a mortalidade tendem a ser altas entre esses pacientes, não por causa dos grandes volumes infundidos, mas, em muitos casos, por causa do trauma inicial e dano tecidual secundário à hemorragia e hipovolemia. É freqüent freqüentee que as complicações advenham mais das causas e conseqüências auma inicial, do que da tr ansfusão pr opriament a. trauma transfusão propriament opriamentee dit dita. do tr No entanto, a administração de grandes volumes de sangue e soluções intravenosas pode provocar diversas alterações. Elas estão resumidas na Figura 7.5. Figura 7.5: Complicações da transfusão maciça 162 Complicações da tr ansfusão maciça transfusão Acidose Hipercalemia Toxicidade ao citrato de sódio, e hipocalcemia Depleção do fibrinogênio e dos fatores de coagulação Depleção de plaquetas Coagulação intravascular disseminada (CIVD) Hipotermia Redução do 2,3 difosfoglicerato (2,3 DPG) Micro-agregados E F E I TO S A DV E R S O S DA T R A N S F U S Ã O Acidose Durante o armazenamento do sangue, o metabolismo de hemácias gera ácidos que provocam uma redução pequena, porém significante, do pH. Se houver acidose no paciente que recebeu transfusão maciça, esta foi causada mais por um resultado inadequado do tratamento da hipovolemia, do que pelos efeitos da transfusão. Tratamento Sob circunstâncias normais, o corpo pode neutralizar facilmente o ácido proveniente da transfusão, e o uso rotineiro do bicarbonato ou outros agentes alcalinizantes baseado no número de unidades transfundidas, é desnecessário. Hipercalemia Há um aumento na concentração de potássio extracelular com o armazenamento do sangue. Este aumento raramente possui significado clínico, a não ser em exsangüíneo-transfusão de recém nascidos. Tratamento Veja Seção 11: Pediatria e Neonatologia para maiores detalhes sobre a exsangüíneo-transfusão. Prevenção Utilizar o sangue mais fresco disponível no banco de sangue, que tenha menos de 7 dias. Toxicidade ao citrato e hipocalcemia A toxicidade ao citrato é um problema raro, mas que pode ocorrer em transfusões maciças. O citrato se liga ao cálcio, reduzindo o nível de cálcio ionizável do corpo. A hipocalcemia, particularmente em combinação com hipotermia e acidose, pode causar uma diminuição do débito cardíaco, bradicardia e outras arritmias. Conduta Após a transfusão, o citrato geralmente é rapidamente metabolizado em bicarbonato. Portanto, não é necessário se preocupar com a acidez da transfusão. Há muito pouco citrato nos concentrados de hemácias ou na suspensão de hemácias. O uso rotineiro profilático de sais de cálcio, tais como cloreto de cálcio, não é recomendado. No entanto, seu uso deve ser considerado conforme evidência clínica ou bioquímica de redução do cálcio ionizado. Depleção do fibrinogênio e fatores da coagulação O plasma progressivamente perde fatores de coagulação durante o armazenamento, particularmente fatores V e VIII, a menos que seja 163 SEÇÃO 7 razão de ttempo empo da pr otr ombina (PTR protr otrombina (PTR): um teste de coagulação sangüínea. Pode estar prolongado devido a deficiências de fatores de coagulação VIII, X, V, II e fibrinogênio. Veja INR razão normalizada int ernacional (INR): internacional Medição do efeito anticoagulante da warfarina. Algumas vezes chamada de razão do tempo de protrombina (PTR). tempo de tr omboplas tina tromboplas omboplastina par cial ativ ada (TTP A): parcial ativada (TTPA): um teste de coagulação sangüínea. Pode estar prolongado devido à deficiência dos fatores de coagulação XII, XI, IX, VIII, X, V, II e fibrinogênio. Também chamado de tempo parcial de tromboplastina (kaolin) (PTTK). armazenado a temperaturas iguais ou inferiores a - 25ºC. Os concentrados de hemácias e unidades reduzidas de plasma perdem fatores de coagulação que são encontrados no componente plasmático. Além disso, na administração de grandes volumes de fluidos de reposição, pode ocorrer diluição dos fatores de coagulação e das plaquetas. Portanto, transfusões maciças podem levar a distúrbios da coagulação. Conduta Para evitar o uso indiscriminado de plasma e crioprecipitado, estes produtos só devem ser utilizados quando houver evidências clínicas ou laboratoriais de sua necessidade. po de pr otr ombina (PT ou INR trombina INR), administre Se houver prolongamento do tem empo pro plasma fresco congelado ABO compatível na dose de 15 ml/kg. A também estiver prolongado, é recomendado o uso de fator VIII / Se o TTP TTPA fibrinogênio tratado com calor, junto ao plasma fresco congelado. Se nenhum estiver disponível, administre 10-15 unidades de crioprecipitado ABO compatível, que contém fator VIII e fibrinogênio. Depleção de plaquetas A função plaquetária é rapidamente perdida durante o armazenamento do sangue, e virtualmente, não há mais função plaquetária após 48 horas. Tratamento Os concentrados de plaquetas só devem ser administrados quando: Os pacientes mostrarem sinais clínicos de sangramento microvascular: sangramento e exsudação de membrana mucosa, intestinos, ferimentos e locais de punção Contagem de plaquetas do paciente menor que 50.000/mm3 Administre concentrados de plaquetas suficientes para interromper o sangramento microvascular, e manter adequada contagem plaquetária. A transfusão de plaquetas deve ser considerada nos casos em que a contagem plaquetária estiver abaixo de 20.000/mm3, mesmo se não houver evidência clínica de sangramento, devido ao grande risco de sangramento interno, como no tecido cerebral. Prevenção Não é recomendado o uso profilático de concentrado de plaquetas em pacientes recebendo grande volume de transfusão. Coagulação intravascular disseminada A coagulação intravascular disseminada (CIVD) é uma ativação anormal do sistema de coagulação e fibrinolítico, resultando no consumo dos fatores de coagulação e das plaquetas (veja Seção 9.11: Sangramento adquirido e distúrbios da coagulação e Seção 10.3: Hemorragia obstétrica maior). 164 E F E I TO S A DV E R S O S DA T R A N S F U S Ã O A CIVD pode se desenvolver no curso de uma transfusão maciça, no entanto, sua causa geralmente está ligada mais aos fatores precipitantes da transfusão (tais como choque hipovolêmico, trauma, complicações obstétricas), do que a transfusão propriamente dita. Conduta A conduta deve ser direcionada para corrigir os fatores precipitantes e correção dos problemas de coagulação. Hipotermia A administração rápida de sangue e fluidos de reposição diretamente do refrigerador pode provocar uma redução na temperatura corpórea. A hipotermia pode provocar diversos efeitos adversos (veja Evitando a hipotermia na seção 12.3). Conduta Se houver evidência de hipotermia, deve-se realizar todos os esforços para manter o sangue e os fluidos aquecidos durante a transfusão maciça. Redução do 2,3 difosfoglicerato (2,3 DPG) A presença de 2,3 DPG no sangue facilita a liberação de oxigênio da molécula de hemoglobina para o tecido. Em geral, os níveis de 2,3 DPG no sangue armazenado são mantidos adequadamente com as soluções aditivas. Micro-agregados Os leucócitos e plaquetas podem se agregar no sangue armazenado, formando micro-agregados. Durante a transfusão, particularmente nas transfusões maciças, estes micro-agregados embolizam o pulmão, e sua presença tem sido implicada no desenvolvimento da Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA). No entanto, a SARA após a transfusão geralmente é causada pelo dano tecidual e choque hipovolêmico. Conduta Estão disponíveis filtros para remover micro-agregados, mas há pouca evidência que seu uso previna esta síndrome. O uso de concentrado de hemácias leucodepletadas pode diminuir a incidência de SARA. 165 Par te 2 arte Transfusão na prática clínica 8 Decisões clínicas transfusionais A parte 2 focaliza as situações clínicas que possam necessitar de transfusão de sangue total ou produtos sangüíneos, como segue: Seção 9 Medicina Geral Seção 10 Obstetrícia Seção 11 Pediatria e Neonatologia Seção 12 Cirurgia e Anestesia Seção 13 Trauma e cirurgia de urgência Seção 14 Queimaduras A Seção 8 é uma breve introdução da parte 2, fornecendo um guia simples para auxiliar e confirmar a necessidade de transfusão. Pontos chave 1 Utilizada corre e, a tr ansfusão pode salv ar vidas; o uso inadequado correttament amente, transfusão salvar pode causar prejuízos. 2 A decisão de tr ansfundir sangue ou pr odut os sangüíneos de ve ser sempre transfundir produt odutos deve baseada na av aliação cuidadosa de indicações clínicas e labor at oriais, na avaliação laborat atoriais, qual a tr ansfusão seja necessária par ar vidas e pre venir morbidade. salvar prevenir transfusão paraa salv 3 A tr ansfusão é soment at ament transfusão somentee um element elementoo no tr trat atament amentoo do pacient pacientee 4 As prescrições de vem ser baseadas em guias nacionais do uso clínico do devem sangue, le ação as necessidades de cada pacient e. N levvando em consider consideração paciente. Noo ent ant o, a responsabilidade da decisão da tr ansfusão ffica, ica, ao ffinal, inal, com o entant anto, transfusão clínico. 169 SEÇÃO 8 8.1 Avaliação da necessidade de transfusão A decisão de transfundir sangue ou produtos sangüíneos deve ser sempre baseada na avaliação cuidadosa de indicações clínicas e laboratoriais que a transfusão seja necessária para salvar a vida, prevenindo significativa morbidade. A transfusão é somente um elemento do tratamento do paciente. A figura 8.1 sumariza os principais fatores que determinam quando a transfusão pode ser necessária junto ao tratamento de suporte e das causas precipitantes. 8.2 Confirmação da necessidade de transfusão As prescrições de transfusão devem ser baseadas em manuais nacionais de uso clínico do sangue, levando-se em consideração as necessidades individuais de cada paciente. Devem ser baseadas no conhecimento dos padrões locais da doença, os recursos disponíveis para tratamento, e a segurança e disponibilidade de sangue e fluidos de reposição intravenosa. No entanto, a responsabilidade da decisão final da transfusão é do clínico. A figura 8.2 na página 172 fornece uma simples lista de verificação para ajudá-lo a confirmar a necessidade de transfusão. 170 D E C I S Õ E S Figura 8.1: Avaliando a necessidade de transfusão C L Í N I C A S T R A N S F U S I O N A I S FATORES QUE DETERMIN AM A NECESSID ADE DE TRANSFUSÃO DETERMINAM NECESSIDADE Per da sangüínea erda Sangramento externo Sangramento interno – não traumático: úlcera péptica, varizes, gravidez ectópica, hemorragia no parto, ruptura de útero Sangramento interno – traumático: pulmão, baço, pelve, fêmur Destruição de hemácias: malária, sepse, HIV Hemólise Por exemplo: Malária Sepse CIVD Es dio-respir atório e oxigenação ttecidual ecidual Esttado cár cárdio-respir dio-respiratório Pulso Pressão arterial Freqüência respiratória Preenchimento capilar Pulsos periféricos Temperatura das extremidades Dispnéia Insuficiência cardíaca Angina Nível de consciência Débito urinário Avaliação da anemia Clínica Língua Palma das mãos Olhos Unhas Labor at orial Laborat atorial Hemoglobina ou hematócrito Tolerância do pacient da sangüínea ou à anemia pacientee à per perda Idade Outras condições clínicas: toxemia da pré-eclâmpsia, insuficiência renal, distúrbio cárdio-respiratório, doença pulmonar crônica, infecção aguda, diabetes, tratamento com beta-bloqueadores Expect ativ Expectativ ativaa da necessidade de sangue É esperada cirurgia ou anestesia? Se o sangramento continuar, interromper ou recomeçar? Se a hemólise continuar? 171 SEÇÃO 8 Figura 8.2: Confirmando a necessidade de transfusão PRESCRIÇÃO DE SSANGUE: ANGUE: UMA LIS AÇÃO PPARA ARA CLÍNICOS LISTTA DE VERIFIC VERIFICAÇÃO Antes de prescrever sangue ou produtos sangüíneos para seu paciente, pergunte a si mesmo as seguintes questões. 1 Qual a melhora na condição clínica do paciente que estou esperando? 2 Posso minimizar a perda sangüínea para reduzir a necessidade transfusional do paciente? 3 Há outros tratamentos que devo realizar antes de transfundir, tais como reposição de fluidos intravenosos ou oxigênio? 4 Há indicações específicas clínicas ou laboratoriais para transfundir este paciente? 5 Quais os riscos de transmitir HIV, hepatite, sífilis ou outros agentes infecciosos através dos produtos sangüíneos disponíveis para este paciente? 6 Os benefícios da transfusão superam os riscos neste paciente em particular? 7 Quais as outras opções se o sangue não estiver disponível neste momento? 8 Uma pessoa treinada monitorará este paciente e responderá imediatamente se o mesmo apresentar alguma reação transfusional aguda? 9 Registrei minha decisão e as razões da transfusão no prontuário do paciente e no formulário de requisição de sangue? Finalmente, se estiver em dúvida, pergunte a si mesmo: 10 Se o sangue fosse para mim ou para meu filho, eu aceitaria a transfusão nestas circunstâncias? 172 9 Medicina geral Pontos chave 1 Pacient es com anemia crônica podem apresent ar poucos sint omas, mas a acientes apresentar sintomas, anemia crônica aument ansfusional quando o pacient transfusional pacientee aumentaa a necessidade tr apresent da súbit ament o, apresentaa uma per perda súbitaa de glóbulos vermelhos por sangr sangrament amento, hemólise, ou dur ant avidez ou o par durant antee a gr gravidez partto. err ant o, 2 A def iciência de fferr anto, deficiência erroo é a causa mais comum de anemia crônica. N Noo ent entant er diver sas causas: def iciência nutricional, a anemia do pacient diversas deficiência pacientee pode tter malária, HIV es asitária, dis túrbios da hemoglobina ou câncer HIV,, inf infes esttação par parasitária, distúrbios câncer.. 3 A tr ansfusão é rrar ar ament os de anemia crônica. transfusão arament amentee necessária par paraa os quadr quadros Muit as tr ansfusões adminis tr adas não tr azem benefícios ao pacient e, podem Muitas transfusões administr tradas trazem paciente, tr azer prejuízos e ser eevit vit adas. Medidas pre ventiv as simples, e o uso or al de trazer vitadas. preventiv ventivas oral ferr err opriv erroo podem reduzir a pre prevvalência de anemia fferr erropriv oprivaa e a necessidade de tr ansfusão. transfusão. 4 As suspeit as de malária de vem ser tr at adas pr ont ament e. Iniciando-se es suspeitas devem trat atadas pront ontament amente. estte tr at ament apidament e, pode-se salv ar a vida do pacient e. Em regiões trat atament amentoo rrapidament apidamente, salvar paciente. endêmicas de malária, há um maior risco de tr ansmissão de malária pela transmissão tr ansfusão. PPor or o, ttorna-se orna-se impor tr ar aos pacient es transfusão. ortt ant anto, importt ant antee adminis administr trar pacientes tr ansfundidos o tr at ament otina da malária. transfundidos trat atament amentoo de rrotina 5 Desde que o supriment o, na ttalassemia alassemia β major suprimentoo de sangue seja segur seguro, major,, os níveis de hemoglobina de vem ser mantidos ent 0-1 2 g/dl atr avés de devem entee 110-1 0-12 através tr ansfusões periódicas. Pr ot eções específ icas contr es inf ecciosos e transfusões Prot oteções específicas contraa agent agentes infecciosos sobrecar ga de fferr err vem ser utilizadas. sobrecarga erroo de devem 6 Nos casos de coagulação intr av ascular disseminada, o tr at ament intrav avascular trat atament amentoo rápido ou remoção da causa, junt juntoo aos cuidados de supor suportte, são essenciais. A tr ansfusão pode ser necessária até que haja eliminação das causas transfusão precipit ant es. precipitant antes. 173 SEÇÃO 9 Introdução Esta é a primeira das seis seções que discutem as situações clínicas que possam necessitar de transfusão de sangue total, ou qualquer outra substância terapêutica preparada a partir do sangue.. Para você iniciar este estudo já deve ter completado as seções 1 a 8, e é recomendado que tenha revisado a Seção 3: Anemia, que cobre os seguintes tópicos. 1.1 Definições 1.2 Determinação da concentração de hemoglobina e hematócrito 1.3 Anemia clinicamente importante 1.4 Interpretação dos valores de hemoglobina 1.5 Causas de anemia 1.6 Adaptação à anemia 1.7 Anemia devido à perda aguda de sangue 1.8 Anemia devido à perda crônica de sangue 1.9 Anemia crônica por outras causas 3.10 Princípios do tratamento da anemia 3.11 Princípios da prevenção da anemia A Seção 9 não pretende ser um substituto para os livros padrão de medicina e hematologia, mas seu objetivo é auxiliá-lo nas seguintes situações: Tratamento dos pacientes, evitando as transfusões o tanto quanto possível Reconhecer quando a transfusão for necessária Objetivos do estudo Quando completar esta seção, você deverá estar apto a: 1 Reconhecer os sinais clínicos da anemia crônica e das suas principais causas. 2 Reconhecer os sinais clínicos da anemia aguda que indicam quando a transfusão pode ser necessária. 3 Selecionar os testes diagnósticos apropriados daqueles que sejam disponíveis, sabendo como e quando utilizá-los para diagnosticar anemia. 4 Decidir quando e como a transfusão for necessária, levando-se em conta os riscos associados aos produtos sangüíneos disponíveis. 5 Selecionar os produtos sangüíneos mais apropriados disponíveis, e sua dose correta. 174 M E D I C I N A G E R A L 9.1 Anemia Um paciente anêmico pode apresentar diversos sintomas. Por outro lado, a anemia pode ser detectada pela investigação de outra condição, ou num programa de pesquisa. índices hematimétricos: Volume corpuscular médio (VCM) Taxa de hemoglobina corpuscular (HCM) Concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) micr ocit ose: Hemácias microcit ocitose: menores que as normais. Um sinal de anemia ferropriva. anisocit ose anisocitose ose: grau de variação anormal no tamanho das hemácias observadas num esfregaço de sangue. hipocr omia: Diminuição hipocromia: do conteúdo de ferro nas hemácias, indicado por uma redução na coloração das hemácias. Um sinal de anemia ferropriva. A presença de anemia indica uma deficiência nutricional e/ou alguma condição patológica. A deficiência de ferro é a causa mais comum de anemia no mundo. É a principal causa, porém não a única, na qual os índices hematimétricos estão diminuídos e o exame microscópico mostra a micr ocit ose presença de pequenos eritrócitos (micr microcit ocitose ose), com freqüente variação anisocit ose no tamanho (anisocit anisocitose ose) e redução do conteúdo de hemoglobina hipocr omia (hipocr hipocromia omia). A anemia necessita de investigação e posterior tratamento. É importante lembrar os seguintes tópicos. 1 O diagnóstico e tratamento devem ser baseados no conhecimento da epidemiologia da anemia e condições relevantes locais. 2 A maneira de se realizar o diagnóstico e o tratamento deve ser feita da forma mais eficaz, utilizando-se os recursos disponíveis, e de forma a proporcionar um tratamento efetivo no maior número possível de pessoas. 3 O tipo de anemia é geralmente o ponto mais forte da causas precipitante, e também o tratamento necessário para corrigir a anemia. Sinais clínicos O grau de anemia geralmente determina a gravidade dos sintomas. Anemia moderada pode ser assintomática, especialmente quando ocorreu num processo crônico. No entanto, reduz as reservas do paciente no ajuste a eventos agudos tais como hemorragia, infecção ou parto. Anemia gra gravve, aguda ou crônica, é um fator importante na redução da oferta de oxigênio tecidual a níveis críticos. Nesta situação, o tratamento urgente é necessário, e a necessidade da transfusão deve ser avaliada. Per da aguda sangüínea Perda Os sinais clínicos de hemorragia são determinados pela velocidade e volume perdido, além da capacidade do paciente de realizar as respostas compensatórias ,descritas na Seção 3.7: Anemia, devido à perda sangüínea aguda. Depois da hemorragia, uma pessoa normal pode demonstrar poucos sinais e sintomas. Uma perda sangüínea semelhante pode levar um paciente mais idoso (que possua doença cardiovascular ou respiratória, ou que já seja anêmico quando a hemorragia ocorrer) à descompensação e hipóxia. 175 SEÇÃO 9 Portanto, o quadro clínico de uma perda sangüínea aguda pode variar de uma modesta taquicardia a um claro choque hemorrágico (Figura 9.1, Seção 10: Obstetrícia e Seção 13: Trauma e Cirurgia de urgência). Figura 9.1: Sinais clínicos de hemorragia maior Hemorr agia maior Hemorragia Sede Frio, palidez, pele pegajosa Taquicardia Aumento da freqüência respiratória Diminuição da pressão sangüínea Diminuição do débito urinário Diminuição da pressão do pulso Falta de ar ou confusão Anemia crônica Uma vez que os mecanismos compensatórios do paciente sejam efetivos, a anemia crônica pode causar poucos sinais e sintomas até que a taxa de hemoglobina esteja muito baixa. No entanto, os sinais clínicos da anemia podem se tornar aparentes num estágio anterior se: Houver uma capacidade limitada de realizar os mecanismos compensatórios, como em doenças cardiovasculares importantes ou respiratórias Houver um aumento da demanda por oxigênio, como na infecção, dor, febre ou exercício Houver uma redução posterior da oferta de oxigênio, como numa perda sangüínea ou numa pneumonia. Anemia crônica agudizada O termo anemia crônica agudizada é utilizado freqüentemente para descrever uma queda súbita da hemoglobina num paciente com anemia crônica. Esta situação geralmente é uma emergência clínica, especialmente em crianças, cirurgias obstétricas e de emergência. O tratamento pode incluir a necessidade de transfusão de hemácias (Seção 10: Obstetrícia, Seção 11: Pediatria e Neonatologia e Seção 13: Trauma e Cirurgia de Urgência). Avaliação clínica A avaliação clínica deve determinar o tipo de anemia, sua gravidade e sua(s) causa(s). A figura 9.2 mostra os sinais e sintomas que podem ser detectados na história e exame físico. His tória História A história do paciente pode revelar sinais relacionados à anemia ou às causas precipitantes. Por exemplo, uma história familiar de anemia, ou uma história que sugira que o paciente é anêmico desde a infância, deve alertar para a possibilidade de hemoglobinopatia (Seção 9.8). O local de residência, a dieta, gestações e história obstétrica, história de sangramento, profissão, hábitos sociais e história de viagens pode mostrar as causas de uma anemia, tais como: deficiência nutricional, drogas, abuso de álcool, malária ou infecção parasitária. Um baixo nível sócio-econômico é um forte indicador de anemia nutricional. 176 M E D I C I N A Figura 9.2: Avaliação clínica de anemia G E R A L HIS TÓRIA HISTÓRIA Sint omas não específ icos de Sintomas específicos anemia Perda de energia Sensação de fraqueza Diminuição do fôlego Edema de tornozelo Cefaléia Piora de sintomas tais como angina His tória e sint omas História sintomas associados a ffat at ores precipit ant es atores precipitant antes Deficiência nutricional: dieta pobre Uso de drogas farmacêuticas Baixo nível sócio-econômico História familiar, pré-existentes origem étnica (hemoglobinopatias) Alto risco de exposição a HIV Febre, sudorese noturna (malária, outras infecções) Episódios de malária; residência ou viagem em zona endêmica História obstétrica/ginecológica, menorragia ou outros sangramentos vaginais, tipo de contracepção Sangramento de trato urinário Sangramento gengival, epistaxe, púrpura ( falência medular) Distúrbios gastrointestinais: melena, sangramento de TGI alto, diarréia, perda de peso, indigestão EXAME FÍSICO Sinais de anemia e descompensação clínica Pele e mucosas pálidas Respiração rápida Taquicardia Queda da pressão venosa jugular Sopro cardíaco Edema no joelho Hipotensão postural Sinais de doenças associadas Perda de peso ou peso abaixo da idade e da altura Estomatite angular, fissura labial (deficiência de ferro) Icterícia (hemólise) Púrpura e equimose( falência medular, desordens plaquetárias) Linfadenomegalia, hepatoesplenomegalia (infecção, doença linfoproliferativa, HIV/AIDS) Úlceras nas pernas (anemia falciforme) Deformidades do esqueleto (talassemia) Sinais neurológicos (deficiência de vitamina B12) 177 SEÇÃO 9 Ex ame físico Exame No exame físico procure: 1 Sinais de anemia e descompensação clínica 2 Sinais de causas desencadeantes O exame físico do paciente pode revelar sinais de desnutrição, estomatite angular e queiilite associada à deficiência de ferro, icterícia devido à hemólise, anormalidades neurológicas devido à deficiência de vitamina B12, febre e sudorese acompanhando malária, ou ferimentos sugerindo distúrbios de sangramento. Lembre-se que o pacient er diver sas causas de anemia, ttais ais como pacientee pode tter diversas es asitária, hemoglobinopatia def iciência nutricional, HIV deficiência HIV,, malária, inf infes esttação par parasitária, ou câncer câncer.. Investigação laboratorial Uma vez que seja feito o diagnóstico clínico, a determinação da contagem sangüínea, o exame do esfregaço e os índices hematimétricos permitirão que a causa seja determinada na maioria dos casos ( veja Figura 9.3). ocíticas e hipocrômicas são sinal de deficiência de 1 Hemácias micr microcíticas ferro e talassemia. Células elípticas são mais comuns em anemia ferropriva. macr ocit ose: Hemácias macrocit ocitose: maiores que as normais. Um sinal de anemia devido a deficiência de ácido fólico ou vitamina B12 anormais variando em 2 Ume esfregaço de sangue com hemácias anormais, forma e tamanho, e especialmente com células em alvo, sugere os talassemia. Outros sinais são micrócitos disformes,, macrócit macrócitos hipocrômicos, fragmentos de hemácias e ponteados basófilos. Hemácias nucleadas estão geralmente presentes e, em pacientes esplenectomizados, são numerosas. ilos hiper segmentados são sinais de deficiência de folato 3 Neutróf Neutrófilos hipersegmentados e de vitamina B12. ocíticas podem ocorrer devido à rápida produção 4 Hemácias macr macrocíticas na medula óssea, deficiência de B 12 ou folato (medula megaloblástica), ou redução da produção de hemácias. Também podem ser observadas em doenças hepáticas. 5 Hemácias normocíticas e normocrômicas são comuns em infecções e doenças crônicas oblástico (com hemácias e leucócitos 6 Um esfregaço leucoeritr leucoeritroblástico anormais) sugere mielodisplasia ou câncer. A figura 9.4 na página 180 mostra as causas mais comuns de anormalidades de hemácias associadas a anemias que podem ser observadas no esfregaço sangüíneo. 178 M E D I C I N A G E R A L Figura 9.3: avaliação clínica inicial, investigação laboratorial e conduta na anemia Avaliação Clínica T T História Exame físico T T Determinação de Hb/Ht T T Não anêmico Anêmico T T Identificar outras causas de queixas do paciente Investigações iniciais adicionais Hemograma (Hb, Ht, esfregaço) + contagem leucocitária e outros índices relevantes Contagem de reticulócitos Gota espessa e fina para parasitas ou testes diagnósticos rápidos Teste de sangue oculto nas fezes T Diagnóstico provisório: Anemia por deficiência de ferro Diagnóstico incerto T T T Tratar a causa da anemia Identificações adicionais para identificar a causa e o tipo de anemia T Administrar ferro, se indicado T Verificar hemoglobina a cada 4-8 semanas T T T Paciente respondendo. Hemoglobina subindo: reticulócitos presentes no esfregaço. Diagnóstico provavelmente correto Paciente não responde: rever o diagnóstico T Continue terapia com ferro por pelo menos 3 meses Reavalie o diagnóstico para confirmar / identificar a causa e o tipo de anemia S T Paciente está tomando ferro por via oral? X Sim X Não X Reforçar recomendações sobre tomar ferro por via oral 179 SEÇÃO 9 Figura 9.4: Algumas causas comuns de anormalidades eritrocitárias observadas num esfregaço ESFREG AÇO ESFREGAÇO ÍNDICES HEMA TIMÉTRICOS HEMATIMÉTRICOS CAUS AS USAS Microcítico, hipocrômico com hemácias anormais Baixo VCM, HCM, CHCM Adquirida: Deficiência de ferro Anemia sideroblástica Anemia da doença crônica Congênita: Talassemia Anemia sideroblástica Macrocítica normocrômica Aumento do VCM Com MO megaloblástica Deficiência de vitamina B12 e ac. fólico Com MO normoblástica Alcoolismo Mielodisplasia Policromasia macrocítica Aumento do VCM Anemia hemolítica Normocítico normocrômico VCM, HCM, CHCM normais Doença crônica Leucoeritroblástico índices podem ser anormais devido à presença de hemácias e leucócitos — Infecção — Câncer — Doença auto-imune Insuficiência renal Hipotiroidismo Hipopituitarismo Anemia aplástica Aplasia de eritrócitos Infiltração de MO Mielodisplasia Leucemia Metástases Mielofibrose Infecções graves Not a: O VCM só deve ser considerado se for calculado num equipamento de ota: contagem eletrônica de células bem calibrado esfregaço dimór dimórffico: Um esfregaço que mostra hemácias microcíticas hipocrômicas e macrocíticas, sugerindo deficiência de ferro e folato (ou folato e vitamina B12) 180 Os sinais principais de deficiência grave de ferro são os índices hematimétricos. O esfregaço do sangue periférico mostra hemácias hipocoradas, geralmente com maior variação no tamanho e na forma do que os normais. Se estiver presente uma segunda deficiência (por exemplo, ácido fólico), o esfregaço pode também mostrar algumas hemácias macrocíticas. Quando houver duas populações distintas de hemácias, é chamado de esfregaço dimór dimórffico ico. M E D I C I N A G E R A L Investigações adicionais A figura 9.5 mostra as investigações adicionais que podem ser necessárias para distinguir a deficiência de ferro e folato de outras condições com características similares, tais como a β talassemia. Estas incluem as medidas dos estoques de ferro, p. ex. nível de ferritina ou ferro plasmático, e a capacidade de ligação de ferro. Figura 9.5: Investigação adicional para confirmar / identificar causa ou tipo de anemia ANEMIA HIPOCRÔMIC A: INVES TIG AÇÃO E DIA GNÓS TICO DIFERENCIAL HIPOCRÔMICA: INVESTIG TIGAÇÃO DIAGNÓS GNÓSTICO Investigação Deficiência de ferro Inflamação crônica ou câncer Traço talassêmico (α ou β) VCM } HCM } CHCM } Todos reduzidos, conforme gravidade da anemia Redução normal ou moderada Todos baixos em relação à gravidade da anemia Nível de ferro sérico Reduzido Reduzido Normal Capacidade de ligação total do ferro Elevada Reduzida Normal Ferritina sérica Reduzida Normal/aumentada Normal Ferro na MO Ausente Presente Presente Eletroforese de Hb Normal Normal Anormal Resposta a tratamento oral com Fe Sim Não Não ANEMIA MA CR OCÍTIC A: INVES TIG AÇÃO E DIA GNÓS TICO DIFERENCIAL MACR CROCÍTIC OCÍTICA: INVESTIG TIGAÇÃO DIAGNÓS GNÓSTICO A investigação clínica e laboratorial deve identificar a provável causa (dieta, má-absorção, outra condição). Medidas dos níveis plasmáticos de vitamina B12 e folato podem ser necessárias. Die Dietta ou má-absorção Níveis plasmáticos de vit B12 e folato Testes p/ auto-anticorpos: fator íntriseco, células gástricas parietais Outr as causas de macr ocit ose, nem ttodas odas com anemia Outras macrocit ocitose, Aumento na contagem de reticulócitos por qualquer razão Gravidez Hepatopatia Alcoolismo Mielodisplasia Hipotireoidismo Resposta ao folato/B12 Anemia hemolítica: veja págs 1189-1 89-1 92 89-192 Falência de MO : veja págs 200-203 181 SEÇÃO 9 re ticulócit os reticulócit ticulócitos os: eritrócitos mais jovens que ainda contêm RNA: coloração azulada no esfregaço com “azul de metileno”, e contra-coloração de Romanowsky. Indica aumento da produção de eritrócitos pela medula óssea. A pesquisa de deficiência de G6PD ou hemoglobina anormal pode ser necessária, especialmente em áreas onde estas condições sejam prevalentes. Os achados físicos, o esfregaço sangüíneo, o teste de falcização e a eletroforese de Hb irão detectar os tipos mais comuns de hemoglobinopatias congênitas. ticulócit os (eritrócitos imaturos) no esfregaço sangüíneo A presença de re reticulócit ticulócitos indica rápida produção de hemácias. A ausência de reticulócitos em pacientes anêmicos deve indicar uma pronta investigação de disfunção de medula óssea devido a infiltração, infecção, falência primária ou deficiência de elementos como ferro ou folato. Tratamento O tratamento da anemia pode variar de acordo com a causa, velocidade de desenvolvimento e grau de descompensação da anemia. Isto requer uma análise cuidadosa do paciente individualmente. No entanto, os princípios de tratamento de todas as anemias possuem os seguintes parâmetros. 1 Tratamento das causas desencadeantes de anemia, e monitorização da resposta. 2 Se o paciente possui uma oxigenação tecidual inadequada, optimizar todos os componentes do sistema de liberação de oxigênio, de maneira a aumentar a oferta dos tecidos. Tratament o da anemia crônica ratamento Os princípios do tratamento da anemia crônica são mostrados na Figura 9.6. anemia descompensada descompensada: Anemia grave clinicamente significativa, com o nível de hemoglobina tão baixo que torna o transporte de oxigênio inadequado, mesmo com a ação de todas as respostas compensatórias normais Tratament o da anemia gra pensada) ratamento gravve (descom (descompensada) Os mecanismos de compensação da anemia estão descritos na Seção 3: Anemia. Freqüentemente, tornam os pacientes capazes de suportar baixos níveis de hemoglobina se o desenvolvimento da anemia foi lento, por semanas ou meses. No entanto, se estes mecanismos de compensação forem incapazes de manter a oxigenação tecidual, a descompensação acontece e, se não houver tratamento, pode ocorrer até a morte. Muitos fatores podem desencadear a descompensação no paciente anêmico. Em geral, são os seguintes: Doença cardíaca ou pulmonar que limite a resposta compensatória Aumento da demanda por oxigênio: infecção, febre, dor ou exercício Redução abrupta na oferta de oxigênio: perda sangüínea, pneumonia. O paciente anêmico grave descompensado desenvolve sinais clínicos de oxigenação tecidual inadequada, a despeito das medidas de suporte e tratamento das causas precipitantes. Os sinais clínicos de hipóxia com anemia grave podem ser bem similares àqueles causados por distúrbios respiratórios, tais como infecção aguda ou crise de asma. 182 M E D I C I N A Figura 9.6: Princípios do tratamento da anemia crônica G E R A L TRA O DE ANEMIA CRÔNIC A TRATTAMENT AMENTO CRÔNICA 1 Excluir a possibilidade de hemoglobinopatia. 2 Corrigir causas de perda sangüínea Tratar helmintos ou outras infecções Pesquisa de sangramento oculto Se possível interromper tratamento anticoagulante Interromper uso de irritantes da mucosa gástrica ( aspirina, AINH) Interromper uso de drogas anti-agregantes plaquetárias (aspirina, AINH) 3 Administrar ferro oral (sulfato ferroso 600 mg/dia adultos e 15 mg/kg/dia para crianças). Continue este tratamento por três meses ou por um mês após a normalização da concentração da hemoglobina. O nível de hemoglobina deve aumentar cerca de 2 g/dl em três semanas, caso contrário, rever diagnóstico e tratamento. 4 Corrigir as deficiências de vitamina com ácido fólico oral (5 mg/dia) e vit.B12 (hidroxicobalamina) por injeção. 5 Tabletes combinados de ferro com ácido fólico podem ser úteis nos casos em que houver as duas deficiências. Outros componentes mistos para anemia não possuem vantagens e, freqüentemente, são muito caros. 6 Tratar a malária com efetivas drogas antimaláricas, de acordo com a resistência local. Administrar profilaxia somente nas indicações específicas. 7 Se houver evidência de hemólise, reveja o tratamento farmacológico, interrompendo se possível, as drogas que possam ser a causa. 8 Verifique se o paciente está utilizando drogas que suprimam a medula óssea, e interrompa-as, se possível. Se houver outras causas, estas devem ser investigadas e tratadas, antes de se decidir transfundir. A Figura 9.7 na página 184 sumariza os sinais clínicos e as possíveis causas de descompensação. A Figura 9.8 mostra os princípios do tratamento de anemia grave (descompensada). O tratamento de causas específicas da anemia é considerado posteriormente em maiores detalhes nesta seção. Uma vez que ttenha enha ocorrido a descompensação, e o pacient tá hipóxico, o pacientee es está único tr at ament ar a capacidade de tr anspor trat atament amentoo ef efeetivo que pode aument aumentar transpor ansportt ar oxigênio do sangue é tr ansfusão sangüínea. N ant o, o pr opósit transfusão Noo ent entant anto, propósit opósitoo principal de ve ser tr at ar a anemia de outr as maneir as, ant es des deve trat atar outras maneiras, antes destte pont pontoo ser alcançado. A tr ansfusão sangüínea só de ve ser consider ada quando a anemia es tiver transfusão deve considerada estiver próxima a causar enha causado, diminuição na of er causar,, ou já ttenha ofer ertta de oxigênio a níveis inadequados às necessidades do pacient e. paciente. 183 SEÇÃO 9 Figura 9.7: Sinais clínicos de anemia compensada e descompensada em adultos Anemia compensada Um adulto com anemia compensada não apresenta ou apresenta poucos sinais ou sintomas. T Descompensação aguda: ffat at ores precipit ant es atores precipitant antes Aumentoo da demanda por oxigênio: 1 Aument Infecção Dor Febre Exercício 2 Redução na of er ofer ertta de oxigênio Perda sangüínea aguda/ hemólise Pneumonia T Anemia descompensada O paciente pode se tornar rapidamente doente, mostrando sinais de descompensação se ocorrer febre, infecção ou queda da hemoglobina. Sinais de descompensação aguda Mudanças de estado mental Diminuição dos pulsos periféricos Insuficiência cardíaca congestiva Hepatomegalia Perfusão periférica ruim (preenchimento de capilar em período superior a 2 segundos) Um paciente que apresente estes sinais necessita de tratamento urgente, devido ao grande risco de morte por insuficiente capacidade de transporte de oxigênio. Figura 9.8: Princípios do tratamento da anemia grave (descompensada) TRA OD A ANEMIA GRA VE (DESCOMPENS AD A) TRATTAMENT AMENTO DA GRAVE (DESCOMPENSAD ADA) 1 Tratar agressivamente a infecção pulmonar bacteriana. 2 Administre oxigênio por máscara. 3 Corrija o balanço hídrico. Se administrar fluidos de reposição intravenosos, cuidado com insuficiência cardíaca. 4 Decida quando a transfusão sangüínea for necessária. 5 Se decidir que a transfusão é necessária, faça os arranjos para que o sangue seja disponibilizado ( Seção 6: Procedimentos da clínica transfusional). 6 Se disponível, administre preferencialmente concentrado de hemácias ao invés de sangue total, para minimizar os efeitos oncóticos e de volume da infusão. 184 M E D I C I N A G E R A L Transfusão Em alguns pacientes com anemia grave, ou com risco de vida, a transfusão de concentrado de hemácias pode ser essencial como primeira linha de tratamento. Mas: ar ament es com anemia crônica. Muit as A tr ansfusão é rrar Muitas transfusão arament amentee necessária par paraa pacient pacientes ansfusões são adminis tr adas des a: destta maneir maneira: transfusões administr tradas das tr arão nenhum benefício ao pacient e, além de poder tr azer malefícios Não tr trarão paciente, trazer vit adas se houver ins at ament Podem ser e evit vitadas insttalação de tr trat atament amentoo ef efeetivo e rápido que não envolv ansfusão. envolvaa a tr transfusão. A figura 9.9 mostra os princípios da transfusão para pacientes com anemia grave descompensada. Figura 9.9: Princípios de transfusão para pacientes com anemia grave descompensada TRANSFUSÃO N A ANEMIA GRA VE (DESCOMPENS AD A) NA GRAVE (DESCOMPENSAD ADA) ansfundir mais que o necessário. Se soment 1 Não tr transfundir somentee uma unidade de or suf icient omas, não concentr ado de hemácias ffor concentrado suficient icientee par paraa corrigir os sint sintomas, adminis tre duas unidades. administre É freqüente o raciocínio que não existam casos para administração somente de uma unidade, porém, há situações em que esta única transfusão pode ser apropriada. Lembre-se que: O objetivo é administrar suficiente hemoglobina ao paciente para aliviar a hipóxia A dose deve ser adequada ao tamanho do paciente e ao seu volume sangüíneo A quantidade de hemoglobina numa unidade de sangue de 450 ml pode variar de 45 a 75g. 2 Pacientes com anemia grave podem evoluir com uma insuficiência cardíaca devido à infusão de sangue e outros fluidos. Se a transfusão for necessária, administre uma unidade, preferencialmente de concentrado de hemácias, num período acima de 2 a 4 horas com um diurético de ação rápida (por exemplo furosemida 40 mg IM). 3 Reavalie o paciente e, se houver persistência dos sintomas, administre depois 1-2 unidades. 4 Não é necessário restabelecer a concentração normal de hemoglobina. Somente o aumento é suficiente para aliviar a condição clínica. Quando o paciente deixar o hospital 1 Uma vez que o problema agudo tenha sido tratado, e a causa da anemia determinada, instruções claras sobre a dose e a duração do tratamento necessário devem ser dadas. Para a deficiência de ferro, deve ser administrado ferro oral por três meses (sulfato 185 SEÇÃO 9 ferroso 200 mg três vezes ao dia), de maneira a repor os estoques de ferro. Uma preparação combinada de ferro e folato deve ser prescrita se houver suspeita de deficiência de folato. Os pacientes devem ser orientados a continuar o tratamento durante o período completo, mesmo que os sintomas se resolvam. Explique a situação e o diagnóstico do paciente, de maneira a prevenir futuros episódios de anemia. 2 Se possível, reveja o paciente depois de 1-2 meses. Verifique se houve melhoria das condições clínicas e aumento do nível de hemoglobina. 3 Se o paciente não estiver respondendo, verifique: O paciente está recebendo o tratamento adequado? O diagnóstico está correto? 4 Alguns adultos toleram somente a dose padrão de ferro (sulfato ferroso 100 mg, três vezes ao dia, durante um mês). 9.2 Deficiência de hematínicos A deficiência nutricional é a causa mais comum de deficiência de ferro. Outras causas importantes são as perdas por trato gastrointestinal ou fluxo menstrual (veja Seção 3: Anemia). Uma das causas mais freqüente de perdas do trato gastrointestinal no mundo é a infestação por ancilóstomo. Outras infecções helmínticas associadas à perda de sangue são o Schistosoma mansoni. o S japonicum, e a infecção grave por Trichuris trichura. A deficiência de ferro devido a perdas no trato gastrointestinal também pode ser causada por lesões, tais como: úlceras pépticas, hérnia de hiato, câncer e hemorróidas (Figura 3.7 na página 50). A má-absorção pode contribuir para a deficiência de ferro, mas freqüentemente não é uma causa isolada. Para a anemia na gravidez veja a Seção 10: Obstetrícia. Sinais clínicos Além dos sinais clínicos comuns a todas as anemias, a deficiência de ferro pode estar associada a: Queilite Estomatite angular Glossite Investigações laboratoriais Veja as figuras 9.3, 9.4 e 9.5. A deficiência de ferro é caracterizada por uma anemia microcítica hipocrômica no esfregaço do sangue periférico. Medidas indiretas da quantidade de ferro como o ferro plasmático e a saturação de transferrina perdem em especificidade. 186 M E D I C I N A G E R A L A ferritina plasmática é útil na detecção de deficiência de ferro; concentrações inferiores a 12 mg/L são indicativas de ausência de estoques de ferro. Na presença de infecção, um nível de ferritina mais alta pode ocorrer (acima de 50 mg/L) na deficiência de ferro. A deficiência de ferro é a única condição na qual há anemia microcítica e hipocrômica com a redução de estoques de ferro na medula. A coloração da medula óssea para ferro é um teste muito útil. Tratamento Os princípios de tratamento da deficiência de ferro são os seguintes: 1 Reposição dos estoques de ferro 2 Remoção ou tratamento da causa da anemia O diagnóstico de deficiência de ferro pode ser confirmado pela resposta ao ferro: por exemplo, sulfato ferroso 200 mg, três vezes ao dia. Esta resposta consiste num aumento na contagem de reticulócitos que começa nos dias 3 a 5, com pico entre os dias 8 e 10, além de aumento na concentração de hemoglobina na taxa de 0,5-1,0 g/dl/semana. A resposta máxima irá ocorrer se a causa de deficiência de ferro tiver sido identificada e tratada. Cerca de 10 a 20% dos pacientes são incapazes de receber a dose padrão do ferro, devido aos efeitos colaterais gastrointestinais. No entanto, muitos desses pacientes são capazes de receber uma dose menor. Há muitas formulações contendo ferro, mas uma simples redução na dose é efetiva para a maioria dos pacientes que não tolerem a dose completa. Comprimidos de ferro para repor os estoques de ferro devem ser mantidos por pelo menos 3 meses depois da normalização da taxa de hemoglobina. As preparações de ferro intravascular ou intramuscular não são permitidas em diversos países, devido aos efeitos colaterais. As novas preparações podem ser mais seguras, sendo utilizadas por diversos clínicos. Transfusão A transfusão de concentrado de hemácias é raramente indicada como tratamento para deficiência de ferro, porém, deve ser considerada em pacientes com anemia grave e sinais de oxigenação inadequada. Deficiência de vitamina B12 e folato megaloblas megaloblasttos: precursores de hemácias anormais. Geralmente ocorrem devido a deficiência de vitamina B12 e/ou folato e produzem hemácias macrocíticas Tanto a vitamina B12 como o folato são necessários à síntese de DNA. Portanto, a deficiência afeta todas as células que se dividam rapidamente no organismo, incluindo a medula óssea. A deficiência de vitamina B12, folato, ou de ambas, causa mudanças características da medula óssea, ose megaloblastose ose, e tornam as hemácias macrocíticas. descritas como megaloblast Vegetais folhosos são grande fonte de folato, porém este elemento é facilmente destruído por cozimento superior a 15 minutos. Uma falta de folato na dieta, combinada a um prolongamento na média de cozimento de vegetais, provoca, freqüentemente, uma dieta insuficiente de folato em 187 SEÇÃO 9 países em desenvolvimento. A deficiência clínica pode se tornar aparente somente quando demandas adicionais do estoque de folato são requeridas, tais como: Gravidez Prematuridade Aumento do turnover de hemácias (hemoglobinopatias, anemia hemolítica, malária) A proteína animal é a maior fonte de vitamina B12, que necessita de fator intrínseco para sua absorção através do íleo distal. A deficiência de vitamina B12 geralmente ocorre devido à falta de absorção, mais do que a deficiência da dieta. Portanto, as causas mais comuns incluem: Atrofia gástrica ou ressecção Perdas específicas do fator intrínseco Anormalidades intestinais, particularmente no íleo terminal. Em contraste, a deficiência de folato geralmente ocorre devido à dieta inadequada. Sinais clínicos Além dos sinais de anemia, os sintomas neurológicos, tais como ataxia, sensação de formigamento e “pés dormentes” podem ocorrer em deficiências de vitamina B12, porém, não na deficiência isolada de folato. Glossite, anorexia e perda de peso são sinais de deficiência tanto da vitamina B12 e do folato. Investigações laboratoriais Veja a Figura 9.5. A deficiência de vitamina B12 e ácido fólico não podem ser diferenciadas num esfregaço sangüíneo, que mostra em ambas macrocitose e aumento do volume corpuscular médio (VCM), fragmentação de hemácias e neutrófilos hipersegmentados. A contagem de reticulócitos é baixa. Como a vitamina B12 e o ácido fólico são necessários na síntese de DNA de todas as células, deficiências graves estão associadas à diminuição dos leucócitos e plaquetas (pancitopenia). Na maioria dos casos o diagnóstico é óbvio a partir do esfregaço sangüíneo. Nos casos mais difíceis, uma análise da medula óssea é confirmatória. Outros testes que podem ser úteis são análise de folato das hemácias e testes de absorção da vitamina B12 (teste de Schilling). Investigações do trato gastrointestinal podem ser necessários quando uma deficiência de vitamina B12 for suspeita. Conduta As doses recomendadas de vitamina B12 e ácido fólico são as seguintes. Vitamina B12 1 mg IM duas vezes por semana, durante 3 semanas Depois, 1 mg IM a cada três meses o resto da vida 188 M E D I C I N A G E R A L Ácido fólico 5 mg por via oral ao dia, durante três meses Uma dose de 5 mg 3 vezes ao dia pode ser necessária nos casos de má-absorção. As causas precipitantes da deficiência devem, se possível, serem tratadas. Se não for possível (por exemplo, anemia falciforme ou esferocitose hereditária), suplementos de ácido fólico devem ser administrados durante toda a vida (5 mg a cada 1- 7 dias). O tr at ament trat atament amentoo com ffolat olatoo em pacient pacientes deficient icientes olat es que são def icient es ttambém ambém em ar uma degener ação sub-aguda da medula espinhal. amina B12 pode precipit precipitar degeneração vitamina vit Se houver rrazão azão par ar da possibilidade de def iciência de vit amina paraa suspeit suspeitar deficiência vitamina B12 e de ácido fólico combinada, adminis tre ambos e, se possível, identif ique administre identifique a def iciência ant es de iniciar o tr at ament o. deficiência antes trat atament amento. Transfusão Como a anemia nessas deficiências ocorre de forma gradativa, por meses ou anos, e a terapia aumenta a concentração de hemoglobina em poucas semanas, os pacientes em geral toleram bem a situação. Portanto, a transfusão é raramente indicada. A transfusão em anemia megaloblástica pode ser perigosa, pois a função miocárdica ruim pode fazer com que pacientes tenham grande probabilidade de desenvolver insuficiência cardíaca. Anemia normocítica normocrômica As principais causas de anemia normocítica normocrômica, com seus sinais típicos no esfregaço, e índices hematimétricos são mostrados na Figura 9.4. Os termos aplicados em diversas condições mostram que a transfusão pode ser necessária no tratamento de algumas destas. Veja Seção 9.7: Falência medular. 9.3 Anemias hemolíticas As anemias hemolíticas são devido às seguintes anormalidades: 1 Hemoglobina nas hemácias: Hemoglobinopatias, como anemia falciforme Enzimopatias, como deficiência de G6PD 2 Membranas eritrocitárias: Esferocitose Eliptocitose Hemólise imune — Associada a linfoma 189 SEÇÃO 9 — Devido a doenças auto-imunes, como lúpus eritematoso sistêmico — Induzida por drogas — Idiopática 3 Fatores extrínsecos às hemácias: Coagulação intravascular disseminada (CIVD) Hiperesplenismo Malária e outras infecções Drogas farmacêuticas Outras toxinas Sinais clínicos Além dos sinais de anemia, as anemias hemolíticas podem estar associadas à icterícia e aos sinais da causa precipitante. Por exemplo, uma hemólise auto-imune pode estar associada a doenças do tecido conectivo, linfomas, CIVD, septicemia ou eclâmpsia. Aa anemias hemolíticas crônicas podem ser complicadas por litíase biliar, úlceras nas pernas e crise aplástica induzida por parvovírus. Uma história familiar de anemia hemolítica pode sugerir defeitos hereditários da membrana eritrocitária ou hemoglobinopatias. Os principais sinais clínicos e complicações da anemia hemolítica são mostrados na Figura 9.10, incluindo: Anemia Icterícia Litíase biliar Sinais da causa precipitante. Figura 9.10: Características clínicas da anemia hemolítica T Rápida destruição eritrocitária T Icterícia (hiperbilirrubinemia) Anemia T T Aumento da contagem de reticulócitos no hemograma 190 T Aumento da produção eritrocitária na medula óssea T T Eritropoiese ativa na medula óssea Consumo de ácido fólico Utilização das reservas de ferro se a hemoglobina se perder do organismo M E D I C I N A G E R A L Investigações laboratoriais Uma queda da hemoglobina acompanhada por reticulocitose e aumento nos níveis de bilirrubina indireta são a marca da anemia hemolítica. O esfregaço sangüíneo mostra reticulocitose e, em casos mais graves, hemácias nucleadas. Outros sinais que poderão mostrar indícios de hemólise são: Aglutinação de hemácias na hemólise imune, Células em alvo e hemácias fantasmas na deficiência G6PD ou toxinas químicas Esferócitos na esferocitose hereditária Fragmentação de hemácias na CIVD. Quando apropriado, estudos adicionais que possam auxiliar a confirmar o diagnóstico incluem: Teste de antiglobulina direta (Coombs direto) Triagem de G6PD Eletroforese de hemoglobina Cultura do sangue. Conduta Diversos tipo de anemia hemolítica não reduzem o nível de hemoglobina a níveis críticos. A hemólise freqüentemente será interrompida se a causa desencadeante for tratada, por exemplo: Administração de esteróides em hemólise auto-imune Tratamento da infecção na deficiência de G6PD e CIVD Interrupção de drogas que causam hemólise. É importante garantir que o paciente com anemia hemolítica mantenha estoques adequados de ácido fólico. Administre 5 mg/dia até que a concentração de hemoglobina se normalize. Um paciente com hemólise persistente necessitará de reposição regular de ácido fólico ( 5mg a cada 1-7 dias). Transfusão Os critérios para se decidir uma transfusão são os mesmos utilizados para outras formas graves de anemia, isto é, a transfusão só deve ser considerada se houver grave risco de vida. Pacientes com anemia hemolítica freqüentemente possuem grande dificuldade de encontrar sangue compatível, devido à presença de anticorpos e/ou complemento ligado às hemácias. Estes são detectados pelo teste da antiglobulina direto (TCD). Estas hemácias ligadas a anticorpos interferem nas técnicas normais utilizadas no laboratório para tipagem das hemácias do paciente, e na identificação de anticorpos no soro que possam causar hemólise das hemácias transfundidas. Algumas vezes, é possível utilizar técnicas especiais para remover os anticorpos ligados a hemácias do paciente (eluição), de maneira que o tipo de anticorpo possa ser determinado. 191 SEÇÃO 9 Se o laboratório for incapaz de realizar estes testes especiais, a única opção pode ser testar a compatibilidade de todas as unidades ABO e Rh D, e selecionar as menos incompatíveis. A transfusão para hemólise imune deve ser restrita a pacientes com risco de vida, porque as hemácias transfundidas também serão hemolisadas, produzindo um benefício transitório, podendo até mesmo piorar a destruição das hemácias do paciente. 9.4 Malária A malária humana é causada por quatro espécies de parasitas: Plasmodium falciparum Plasmodium vivax Plasmodium malarie Plasmodium ovale. P. falciparum e P. vivax são os causadores da maioria dos casos, e ocorre em diferentes proporções nos diferentes países. P. falciparum é dominante na África, sudeste asiático e Oceania. A malária causada por P. falciparum pode provocar diversas doenças e morte, se não reconhecida e tratada precocemente. Há cerca de 300 milhões de casos de malária a cada ano, com pelo menos um milhão de mortes pela mesma causa. Na fase sintomática, o parasita cresce nos eritrócitos, rompendo-os e causando hemólise. A malária, freqüentemente associada a outras condições, é uma das maiores causas de anemia aguda e crônica. Na África, Ásia e América Latina, esforços para erradicar a malária não foram eficazes. A maioria das infecções por malária vista em países desenvolvidos foi adquirida nesses continentes. Métodos de controle de transmissão (tais como larvicidas, borrifação de inseticidas em residências, cortinados ou véus tratados com inseticidas) têm sido usados continuamente. Os inseticidas tornam-se menos eficazes à medida que se desenvolve resistência. Estudos primários com vacinas têm se mostrado ineficazes. A anemia gr ave de vido à malária é uma causa impor grave devido importtant antee de mor morttalidade em crianças, e a rrazão azão mais freqüent ansfusão pediátrica em diver sas áreas freqüentee de tr transfusão diversas eonat ologia). endêmicas (Seção 111: 1: Pediatria e N Neonat eonatologia Em área onde a transmissão de malária é alta, há uma mortalidade significativa em crianças menores que 5 anos. Devido às inúmeras picadas recebidas a cada ano, os sobreviventes desenvolvem imunidade à malária entre 5 a 10 anos de vida, a menos que sejam afetadas por outras condições que prejudiquem a imunidade, tais como infecção ou desnutrição. Gestantes 192 M E D I C I N A G E R A L e turistas (de qualquer idade) de áreas não endêmicas também possuem alto risco de malária. Em contraste, em áreas com menor risco de transmissão de malária, tais como o sudeste da Ásia, a população não se expõe tanto a picadas a ponto de desenvolver imunidade eficaz. Em todas as áreas endêmicas, a malária cerebral é uma causa importante de mortalidade. Indivíduos que retornaram de áreas endêmicas depois de um período de exposição também perderam sua imunidade, e estão expostos ao risco. Turistas que retornaram de uma área endêmica para um país não endêmico podem não ser corretamente diagnosticados como portadores de malária. Sinais clínicos A malária se apresenta como uma doença febril, e pode não ser distinguida de diversas outras causas de febre. Os sintomas típicos incluem: Febre Cefaléia Mialgia Tremores Calafrio Sudorese fria. O diagnóstico e o tratamento da malária é urgente, uma vez que algumas espécies, em particular o P. falciparum, podem levar à morte rapidamente. O diagnóstico diferencial deve considerar outras infecções e causas de febre. A manifestação clínica da malária pode ser modificada por imunidade parcial adquirida previamente ou uso de subdoses de drogas terapêuticas. Uma vez que a febre é irregular e intermitente, a história de febre por mais de 48 horas é importante. Freqüentemente pode ocorrer anemia, esplenomegalia, icterícia e hipoglicemia. Também pode ocorrer diarréia e tosse. O P. falciparum é a espécie responsável pelas complicações mais graves da malária, mas ao contrário do P. vivax e P. ovale, não está associado a recaídas alguns anos depois. A malária cerebral é a complicação letal mais grave do P. falciparum, e pode ocorrer em pessoas não imunizadas. A malária na gravidez é mais grave e perigosa para a mãe e para o feto. As gestantes parcialmente imunizadas, especialmente as primigestas, são suscetíveis à anemia grave devido à malária. Investigações laboratoriais Devem ser pedidos os seguintes exames: 1. Análise do esfregaço do sangue (gota espessa) Um esfregaço de sangue é mais sensível para a detecção dos parasitas, e deve sempre ser realizado. A análise do esfregaço geralmente auxilia no diagnóstico da espécie infectante. 193 SEÇÃO 9 2. Se disponível, utilizar o teste de antígeno dipstick: teste Parasight (somente malária causada por P. falciparum), ICT teste ( falciparum e vivax) Estes testes são fáceis de utilizar, e úteis quando não houver disponibilidade de microscópios. Possuem alta sensibilidade, especificidade e bons valores preditivos quando comparados ao microscópio, porém o teste ICT é menos eficaz no diagnóstico de P. vivax. A infecção por P. falciparum em geral causa anemia hemolítica e leve trombocitopenia. Em casos graves, principalmente em indivíduos não sensibilizados com mais de 10% das hemácias contaminadas, há um aumento dos níveis de uréia e creatinina, indicando falência renal. Freqüentemente ocorre hipoglicemia durante o tratamento com quinina, porém esta também pode ocorrer em indivíduos não tratados. Conduta A conduta na malária depende do reconhecimento imediato e tratamento da infecção ou de suas complicações, podendo ocorrer dentro de até 48 horas em pacientes não imunizados (Figura 9.11). Devido aos padrões de resistência da malária no mundo, o regime de tratamento deve ser aquele que seja conhecido como eficaz para os padrões locais. Quando se suspeit ar de malária, o tr suspeitar trat atament amentoo de deve instituído at ament ve ser ins tituído ament e. Se os result ados labor at oriais fforem orem atr asá-lo, não espere. imediatament amente. resultados laborat atoriais atrasá-lo, imediat Inicie o tr at ament aso, ttendo endo como base a av aliação clínica. Is trat atament amentoo sem atr atraso, avaliação Istto pode salv ar a vida do pacient e. salvar paciente. A correção da desidratação e hipoglicemia pode salvar vidas, mas deve se tomar cuidado com edema pulmonar, devido à sobrecarga volêmica. Complicações graves podem necessitar de tratamento específicos, tais como: Transfusão ou exsangüíneo-transfusão para corrigir anemia com risco de vida. Hemofiltração ou diálise em insuficiência renal Anticonvulsivantes para as crises A prevenção da malária deve ser preconizada para os indivíduos de alto risco, como portadores de anemia falciforme e turistas não imunizados que viajem para regiões endêmicas. Medidas preventivas incluem o uso de repelentes para evitar picadas, dormitórios tratados com inseticidas e profilaxia apropriada. 194 M E D I C I N A G E R A L Figura 9.11: Guias para tratamento clínico da malária SIN AIS CLÍNICOS DE MALÁRIA GRA VE SINAIS GRAVE POR FAL CIP UM ALCIP CIPAR ARUM AR DIA GNÓS TICO DIAGNÓS GNÓSTICO Ocorrência isolada ou concomit ant concomitant antee Malária cerebral, definida como coma não responsivo, que não pode ser atribuído a outras causas Convulsões generalizadas Anemia normocítica grave Hipoglicemia Acidose metabólica com distúrbio respiratório Distúrbios hidro-eletrolíticos Insuficiência renal aguda Edema pulmonar agudo e SARA (Síndrome da angústia respiratória) Colapso circulatório, choque, septicemia Sangramento anormal Icterícia Hemoglobinúria Febre alta Hiperparasitemia Alto índice de suspeita História de viagem a área endêmica, ou possível infecção por transfusão Exame do esfregaço e da gota espessa por microscopia Se disponível: teste do antígeno (Dipstick) — Parasight teste — ICT teste Alta densidade parasitária no indivíduo não imunizado indicando doença grave, mas esta também pode se desenvolver com menos parasitas, e raramente a análise do sangue pode estar negativa Contagem sangüínea e esfregaço a cada 4 a 6 horas Um prognóstico ruim é indicado por confusão ou sonolência e prostração TRA O TRATTAMENT AMENTO Tratamento imediato da infecção e das complicações, de acordo com o regime local Com suspeita clínica, tratar imediatamente, não atrasar devido a resultados laboratoriais Corrigir a hidratação e a hipoglicemia: evitar edema pulmonar devido à sobrecarga volêmica Tratamento específico para complicações graves: — Transfusão em anemias com risco de vida — Hemofiltração ou diálise para falência renal — Anticonvulsivante para as crises — Hiperparasitemia (> 20%) TRANSFUSÃO Adult os, incluindo ges es Adultos, gesttant antes Considerar a transfusão se a hemoglobina < 7 g/dl ( Figura 10.3) Crianças Transfundir se a Hb < 4 g/dl Transfundir se a Hb estiver entre 4 e 6 g/dl e os seguintes sinais clínicos: — Hipóxia — Acidose — Perda da consciência PREVENÇÃO Diagnóstico precoce e tratamento podem prevenir a progressão da malária não complicada para casos graves e óbito. Em crianças a progressão da doença pode ser muito rápida Quimioprofilaxia Todas as medidas para reduzir o risco de inoculação: p. ex. redes ou véus tratados com inseticidas, borrifação domiciliar, larvicidas, triagem das residências 195 SEÇÃO 9 Transfusão A anemia da malária é multifatorial, e pode estar sobreposta a outras causas de anemia. Isto pode levar a uma grave queda da hemoglobina devido à hemólise. As situações clínicas nas quais a transfusão são prescritas são diferentes em adultos e crianças (Figuras 9.11, 10.3, e 11.7). Nas áreas endêmicas de malária, há um alt ansmissão por tr ansfusão altoo risco de tr transmissão transfusão sangüínea. TTorna-se orna-se impor tr ação rrotineir otineir at ament importtant antee a adminis administr tração otineiraa de tr trat atament amentoo antimalárico a pacient es tr ansfundidos. pacientes transfundidos. Adultos com anemia grave devido ao P. falciparum estão mais sujeitos a transfusão sangüínea se a hemoglobina diminuir a níveis nos quais haja sinais clínicos de hipóxia. A figura 10.3 mostra as indicações para transfusão em anemia crônica na gravidez. A concentração de hemoglobina (ou hematócrito), associada aos sinais clínicos deve guiar a decisão de se transfundir ou não. Tradicionalmente, a transfusão é indicada quando a concentração de hemoglobina estiver menor que 5-7 g/dl na gestante, ou na presença de complicações. A Seção 11.2: Conduta na anemia pediátrica mostra as indicações de transfusão em crianças com anemia grave devido à malária. 9.5 HIV/AIDS A OMS estima que no ano de 2000 existam pelo menos 30 milhões de pessoas infectadas com HIV e 5-6 milhões com AIDS. Devido à supressão imunológica que acompanha o HIV, muitos pacientes possuem outras infecções microbiológicas afetando todos os sistemas, e produzindo diversos sinais e sintomas. Estas doenças são freqüentemente causadas por organismos que raramente afetam pessoas com a imunidade normal. Anemia no HIV e na AIDS A infecção por HIV é associada a anemia por diversas causas: Anemia normocítica, normocrômica da doença crônica Supressão direta da medula óssea pelo próprio vírus Mielodisplasia Anemia hemolítica Supressão da produção de hemácias induzida por parvovírus Sangramento devido a trombocitopenia Alterações megalobláticas, induzidas por Zidovudine e Stavudine 196 M E D I C I N A G E R A L Infecções oportunistas infiltrando a medula óssea: tuberculose, leishmaniose, fungos Doenças malignas associadas: linfoma, Sarcoma de Kaposi. Classificação clínica do HIV/AIDS A Figura 9.12 sumariza os sinais clínicos e a classificação do HIV/AIDS. Figura 9.12: Sinais clínicos e classificação do HIV/AIDS Grupo I Infecção inicial Seroconversão sintomática ou assintomática ( Ex: Semelhante à mononucleose, meningoencefalite leve) Grupo II Infecção crônica assintomática Testes geralmente normais; pode ter anemia, neutropenia, trombocitopenia, baixo CD4, linfopenia e hipergamaglobullinemia Grupo III Linfadenopatia Persistente Generalizada Testes laboratoriais do Grupo II podem ou não persistir Grupo IV AIDS (doença clínica) e outras 1 Doença constitucional: febre, perda de peso, diarréia 2 Doença neurológica: neuropatias centrais (demência ou mielopatia) ou periférica 3 Doença infecciosa secundária: Pneumocystis carinii, toxoplasmose, Criptococos, criptosporidium, micobactéria atípica, herpes simples ou zoster, leucoplasia oral, histoplasmose, candidíase, citomegalovírus, salmonela 4 Câncer secundário: Sarcoma de Kaposi, Linfoma Não Hodgkin, Carcinoma escamoso de intestino ou reto 5 Outras condições: problemas clínicos relacionados ao HIV e diminuição da imunidade não descritos acima 197 SEÇÃO 9 Tratamento da anemia no HIV e AIDS O tratamento da anemia na infecção por HIV é baseado no tratamento das condições associadas. Pacientes que são HIV positivos possuem uma boa condição de sobrevida, e merecem o mesmo tratamento que os outros para estender ou melhorar sua qualidade de vida. Cerca de 80% dos pacientes com AIDS possuem o nível de hemoglobina menor que 10 g/dl. O HIV age diretamente na medula óssea, e pode levar à anemia e trombocitopenia, mesmo que a medula permaneça com celularidade. Drogas como a zidovudine (AZT) e terapêutica combinada também podem provocar supressão da produção de eritrócitos: a queda de hemoglobina pode ser o fator limitante das doses administradas. A anemia induzida por drogas pode responder à mudança da combinação de drogas. A eritropoetina também pode aumentar a concentração de hemoglobina, porém é muito cara. Transfusão A transfusão sangüínea pode ser necessária em anemias graves, e quando outras medidas falharam. Para o paciente com HIV que sofra de anemia sintomática, a decisão a respeito da transfusão deve ser feita utilizando-se os mesmos critérios que para outros pacientes. O paciente deve ser transfundido com sangue que respeite os critérios nacionais de segurança sangüínea, incluindo a análise de infecções transmissíveis por transfusão. Deve-se lembrar que em algumas áreas, a transfusão continua a ser uma forma importante de transmissão da doença. 9.6 Deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) A glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) é uma enzima necessária ao metabolismo normal de hemácias. Sua deficiência afeta cerca de 200 milhões de pessoas em todo o mundo, especialmente homens, principalmente em certas partes da África e sudeste da Ásia. Sinais clínicos Deficiência de G6PD em geral é assintomática e pode provocar icterícia e anemia precipitada por: Infecção Drogas Substâncias químicas (Figura 9.13). Não causam hemólise significativa sob condições normais 198 Cloroquina Quinidina Quinacina M E D I C I N A Figura 9.13: Drogas e produtos químicos e que podem provocar hemólise Podem causar hemólise clinicament icativ clinicamentee signif significativ icativaa Antimaláricos Pamaquina (plasmoquina) Pantaquina Primaquina Quinocida Antipiréticos e analgésicos G E R A L Não causam hemólise signif icativ significativ icativaa sob condições normais Cloroquina Quinidina Quinacina Ácido acetilsalicílico Sulfonamidas Cotrimoxazole Sulfanilamida Sulfonas Dapsona Sulfalazina Outras Fava Ácido nalidíxico Naftalina Ácido ascórbico Cloranfenicol Procainamida Probenecid Pirimetamina Investigações laboratoriais A contagem sangüínea e a análise do esfregaço são normais no estado sem crise hemolítica, porém, durante as crises, pode-se encontrar fragmentação de hemácias e células em alvo. Os corpúsculos de Heinz (hemoglobina desnaturada) podem ser vistos numa preparação de reticulócitos. Os testes de triagem para G6PD (p. ex. metahemoglobina redutase), ou exames mais complexos são necessários para um diagnóstico definitivo. Conduta É uma condição autolimitada, e a hemólise será interrompida a partir do momento que as células deficientes em G6PD tiverem sido destruídas. É importante remover e tratar qualquer causa identificada. Transfusão A transfusão não é necessária na maioria dos casos de deficiência de G6PD. No entanto, a transfusão pode salvar vidas em hemólises graves, quando a queda de hemoglobina continua a cair rapidamente. A exsangüíneo-transfusão está indicada para neonatos que estejam em risco de kernicterus, sem resposta adequada à fototerapia (Seção 11.6: Transfusão neonatal). 199 SEÇÃO 9 9.7 Falência medular A falência medular ocorre quando a medula óssea é incapaz de produzir células adequadamente para manter a contagem normal do hemograma no sangue periférico. Geralmente se manifesta com pancitopenia, redução do nível de dois ou três elementos celulares do sangue (hemácias, leucócitos e plaquetas). A figura 9.14 mostra as principais causas de falência ou supressão de medula óssea. CAUS AS DE FFALÊNCIA ALÊNCIA OU SUPRESSÃO D A MEDULA ÓSSEA USAS DA Quimioterapia para câncer Infiltração maligna na medula óssea Infecções — Tuberculose — Tifo — Viroses (hepatites, parvovírus humano B19, HIV) Condições mielodisplásicas (de causas desconhecidas): um grupo de condições, geralmente progressiva e fatal, incluindo: — Mielofibrose — Leucemia crônica mielóide Anemia aplástica de causa desconhecida Efeitos tóxicos Efeito da radiação ionizante Sinais clínicos A anemia, infecção e sangramento dependem do grau de diminuição da produção de hemácias, leucócitos e plaquetas, respectivamente. Investigações laboratoriais Além das mudanças no sangue periférico, um exame da morfologia e histologia da medula óssea poderá auxiliar o diagnóstico definitivo. Conduta Os princípios de tratamento da falência ou supressão da medula óssea estão resumidos na Figura 9.15, e um resumo pode ser visto na Figura 9.16. Transfusão de pacientes com falência ou supressão de medula óssea O tratamento de doenças hematológicas por quimioterapia comumente causa supressão da medula óssea, que requer suporte transfusional com hemácias e plaquetas. Freqüentemente os pacientes são imunossuprimidos, e podem desenvolver a doença enxerto versus hospedeiro (GVHD), uma complicação 200 M E D I C I N A Figura 9.15: Tratamento da falência ou supressão da medula óssea G E R A L TRA OD A FFALÊNCIA ALÊNCIA OU SUPRESSÃO D A MEDULA ÓSSEA TRATTAMENT AMENTO DA DA 1 Tratar a infecção 2 Manter o balanço hídrico 3 Tratamento de suporte: nutrição, controle da dor. 4 Interromper tratamento com drogas potencialmente tóxicas 5 Garantir uma boa nutrição 6 Tratar condições precipitantes O tratamento de doenças malignas hematológicas requer: Tratamento com médicos familiarizados com regimes quimioterápicos atuais Tratamento em ambiente com instalações para as seguintes áreas: — Diagnóstico — Quimioterapia — Suporte transfusional — Tratamento das complicações da quimioterapia. potencialmente fatal, causada por transfusão de linfócitos (veja Seção 7.5: Outras complicações tardias da transfusão). Os componentes sangüíneos de qualquer parente têm o potencial para causar GVHD. A irradiação dos componentes celulares (hemácias e plaquetas) por irradiação gama em condições controladas inativam os linfócitos, e reduzem o risco de GVHD. Os pacientes imunossuprimidos possuem um risco maior de transmissão de citomegalovírus (CMV) por transfusão sangüínea. Isto pode ser evitado ou reduzido através da transfusão de componentes negativos sorologicamente para CMV, ou pela utilização de componentes leucodepletados, se preparados corretamente. Transfusão de concentrado de hemácias A anemia pode se tornar sintomática e necessitar de reposição de hemácias. Um componente eritrocitário pode ser preferível ao sangue total em pacientes com risco de sobrecarga volêmica. Se forem necessárias transfusões repetidas, concentrado de hemácias leuco-reduzidos podem diminuir o risco de reações e alo-imunizações ( Seção 5: Produtos sangüíneos). Transfusão de plaq ue tas plaque uetas As transfusões de plaquetas podem ser realizadas para prevenir e controlar sangramento devido a trombocitopenias. A dose utilizada para um adulto deve conter pelo menos 2.4 x 10 11 plaquetas. Isto pode ser obtido através da transfusão de 4-6 unidades de plaquetas, obtidas a partir do sangue total ou de um único doador por plaquetaférese. As plaquetas podem ser irradiadas, leucodepletadas ou CMV negativas, dependendo das necessidades do paciente, e dos recursos disponíveis. 201 SEÇÃO 9 Figura 9.16: Resumo geral sobre falência e supressão medular Possíveis causas Drogas Venenos Infecção Malignidade Desconhecidas His tória História Exposição a: Drogas tóxicas X Químicos ambientais Infecção Irradiação X X Falência medular com produção reduzida de: Hemácias Leucócitos Plaquetas X X X Sintomas devido à anemia ou trombocitopenia e infecção X O exame da medula óssea pode mostrar características de: Leucemia Linfoma Aplasia ou hipoplasia Infiltração maligna Infiltração infecciosa X Anemia Sangramento Infecção Inves tigações Investigações labor at oriais laborat atoriais Contagem celular e esfregaço podem mostrar: Anemia Leucócitos diminuídos ou anormais Plaquetas diminuídas Ex ame físico Exame Anemia Equimoses Sangramento Febre Linfadenomegalia Esplenomegalia Inves tigações adicionais Investigações Necessitam de avaliação por especialista e instalações adequadas Condut al Condutaa ger geral Condut ansfusional Condutaa tr transfusional 1 2 3 4 Anemia grave Transfusão de hemácias Sangramento por trombocitopenia Transfusão de plaquetas Tratar infecção Manter o balanço de fluidos Analgésicos para a dor Garantir boa nutrição Trat ament atament amentoo da condição subjacent subjacentee 1 Quimioterapia para leucemia ou linfoma mais 2 Radioterapia para algumas condições 3 Transplante de medula óssea para algumas condições 202 Se repetidas transfusões forem necessárias, é preferível utilizar hemácias e plaquetas leucodepletadas, quando possível A quimioterapia, radioterapia e transplante de medula óssea deprimem ainda mais a medula óssea e aumentam a necessidade de transfusões de plaquetas e hemácias, até que ocorra a remissão. M E D I C I N A G E R A L Transfusão de plaq ue tas para contr olar sangrament os plaque uetas controlar sangramentos O regime de transfusão de plaquetas deve ser selecionado para cada paciente. O objetivo é manter um equilíbrio entre o risco da hemorragia com o risco das transfusões repetidas de plaquetas (infecção e aloimunização). A presença de sinais clínicos, tais como hemorragia retiniana e de mucosa, ou púrpura num paciente plaquetopênico, geralmente indica a necessidade imediata de transfusão de plaquetas para controle de sangramento. Deve-se também verificar as suas causas imediatas, como infecção. Freqüentemente uma transfusão de plaquetas controlará o sangramento, porém transfusões repetidas por diversos dias podem ser necessárias. A falha no controle do sangramento pode ser ocasionada por: HLA: Antígeno humano leucocitário Infecção Esplenomegalia Anticorpos contra antígenos plaquetários e leucócitos Falência no controle da condição primária. O aumento na freqüência de transfusão de plaquetas e, ocasionalmente, o uso de concentrados de plaquetas HLA compatíveis podem auxiliar o controle do sangramento. ue tas para pre os Transfusão de plaq sangramentos plaque uetas prevvenir sangrament A maioria das transfusões de plaquetas são feitas de forma profilática. Para pacientes sem febre, a transfusão não é feita, a menos que a contagem esteja inferior a 10.000/mm3. Se o paciente tiver febre ou suspeita de infecção, muitos clínicos elevam este número para 20.000/mm3. Se o paciente estiver estável, as transfusões de plaquetas devem ser feitas de maneira a manter a contagem plaquetária no nível escolhido; uma transfusão a cada 2 ou 3 dias é, geralmente, suficiente. 9.8 Distúrbios congênitos da hemoglobina Composição da hemoglobina normal do adulto Num indivíduo normal com idade superior a 6 meses, mais de 90% da hemoglobina é do tipo adulto (hemoglobina A). Somente uma pequena quantidade de hemoglobina A2 e F ainda estão presentes, conforme figura 2.6 e 9.17. 203 SEÇÃO 9 Figura 9.17: Composição normal da hemoglobina de um adulto Hemoglobina % no adult adultoo normal Cadeia de globina 94% - 96% 0.8% < 0.3% 2α e 2β (α2β2) 2α e 2γ (α2 γ2) 2α e 2δ (α2 δ2) Hemoglobina A (HbA) Hemoglobina F (HbF) HbA2 A Figura 9.18 mostra as principais anormalidades moleculares e suas conseqüências. Figura 9.18: Anormalidades da hemoglobina Anormalidade molecular Conseqüências Variantes estruturais de hemoglobina (HbS, HbE) Anemia falciforme ou traço Hemoglobinopatia HbE ou traço Falência na síntese normal da hemoglobina Talassemia β homozigota (Talassemia β major) Talassemia β heterozigota (Talassemia β minor) α Talassemia major 4 genes α perdidos (hidrópsia fetal) α Talassemia minor ou traço 1, 2 ou 3 genes α perdidos Falência na troca normal de hemoglobina fetal (HbF) por hemoglobina do adulto (HbA) HPFH: Persistência hereditária da hemoglobina fetal Em diversas partes do mundo, as anormalidades genéticas que afetam a hemoglobina são uma causa comum de morbidade e mortalidade. A OMS estima que cerca de 7% da população carrega estas anormalidades. A transfusão é importante no tratamento de algumas destas condições. Há problemas especiais na transfusão destes pacientes. É essencial estar familiarizado com estas condições ao se trabalhar nestas regiões. Anemia falciforme A anemia falciforme é a hemoglobinopatia mais comum, com cerca de 150.000 casos novos ao ano. Sendo que 8% destes estão na África, e muito do restante na região do Mediterrâneo, Oriente Médio e índia. Sinais clínicos Crianças com anemia falciforme não desenvolvem sintomas até que estejam com 6 meses de vida. Nesta idade, a maioria da hemoglobina fetal (HbF) foi substituída pela hemoglobina S (HbS). Geralmente, os sintomas de anemia são menores do que a concentração de hemoglobina sugere, devido à baixa afinidade ao oxigênio da HbS, que favorece a liberação aos tecidos. Aos 6 meses, a gravidade dos sinais clínicos varia de acordo com a 204 M E D I C I N A G E R A L porcentagem de HbS. Geralmente, os falciformes possuem longos períodos saudáveis, pontuados por crises que podem ser seguidas de recuperação, ou podem provocar uma morbidade a longo termo. Crises agudas As crises agudas incluem: Crises vaso-oclusivas, provocando dor e infarto Crises de seqüestro esplênico Crises aplásticas, devido a infecções, como parvovírus ou deficiência de folato Crises hemolíticas (raras) Complicações crônicas As complicações crônicas são resultado de repetidos e prolongados períodos de isquemia levando ao infarto. Incluem: Anormalidades esqueléticas e retardo da puberdade Perda neurológica devido ao infarto Hipoesplenismo Insuficiência renal crônica Impotência depois de priapismo Perda da função pulmonar Perda visual Investigações laboratoriais As seguintes investigações laboratoriais devem detectar a anemia, características anormais das hemácias, e presença de hemoglobinas anormais. 1 Concentração de hemoglobina: Hb de 5-11 g/dl ( geralmente baixa em relação aos sintomas) 2 Esfregaço sangüíneo para detectar hemácias falcizadas, células em alvo e reticulocitose 3 Teste da solubilidade para detectar hemácias falcizadas. 4 Quantificação de HbF para detectar sua elevação, que pode modificar a gravidade da doença. 5 Eletroforese de hemoglobina para detectar hemoglobinas anormais. Num indivíduo homozigoto HbSS, não se detecta HbA normal. Conduta Os principal objetivo é prevenir as crises, e minimizar os efeitos duradouros quando uma crise ocorrer, como mostra a Figura 9.19. 205 SEÇÃO 9 Figura 9.19: Prevenção e tratamento das crises falciformes PREVENÇÃO D AS CRISES DAS 1 Evitar fatores precipitantes: Desidratação Hipóxia Infecção Frio Diminuição da circulação 2 Administrar 5 mg de ácido fólico diariamente indefinidamente 3 Administrar penicilina: ant oda a vida 2,4 milhões de UI de penicilina benzatina IM ao mês, dur durant antee ttoda ou ant oda a vida 250 mg de penicilina V oralmente, dur durant antee ttoda 4 Vacinar contra pneumococos e, se possível, hepatite B. 5 Reconhecer e tratar imediatamente os casos de malária. A hemólise causada pela malária pode precipitar as crises. 6 Tratar outras infecções imediatamente. 7 Considerar se o uso de transfusões regulares está indicado. TRA OD AS CRISES TRATTAMENT AMENTO DAS 1 Reidratar com fluidos orais e, se necessário, solução salina normal 2 Tratar acidose sistêmica com bicarbonato EV, se necessário 3 Administrar analgésicos efetivos, podendo ser necessário até o uso de opióides. 4 Se houver infecção por malária, tratá-la 5 Tratar a infecção bacteriana com o melhor antibiótico em dose completa. 6 Se necessário, utilizar transfusões sangüíneas (ver abaixo) Transfusão e exsangüíneo-transfusão na prevenção e tratamento das crises de falcização Pre plicações tar dias Prevvenção de crises e com complicações tardias A transfusão regular de hemácias apresenta um papel importante na redução da freqüência das crises na anemia falciforme (homozigose). Esta abordagem tem um papel importante na prevenção de infartos recorrentes, e pode ajudar na prevenção e tratamento da doença pulmonar crônica e aguda da anemia falciforme. Também pode ser uma estratégia útil nas crises veno-oclusivas. A transfusão não está indicada para somente elevar a concentração de hemoglobina. Pacientes com anemia falciforme estão bem adaptados a níveis entre 7 e 10 g/dl, e têm o risco de hiperviscosidade se houver elevação 206 M E D I C I N A G E R A L em níveis superiores ao seu habitual sem redução da proporção de hemácias falcêmicas. O objetivo é manter uma proporção suficiente de hemoglobina normal HbA (cerca de 30% ou mais) na circulação, de maneira a suprimir a proporção de HbS nas hemácias, e minimizar os episódios de falcização. O infarto ocorre em 7 a 8 % das crianças falcêmicas, e é a maior causa de morbidade destas. Transfusões regulares podem reduzir os episódios recorrentes de infarto de 46-90% para menos de 10%. Pacientes que recebam transfusões regularmente possuem um risco aumentado de sobrecarga de ferro (veja página 213), assim como de infecções transmissíveis pelo sangue e alo-imunização ( Seção 7: Efeitos Adversos da Transfusão). Tratament o das crises e de anemia gra ratamento gravve A transfusão está indicada quando houver anemia grave (concentração de hemoglobina inferior a 5 g/dl, ou com uma diminuição superior a 2g/dl do seu basal), e a transfusão imediata nas crises de seqüestro esplênico e aplásticas pode salvar vidas. O objetivo é aumentar a concentração de hemoglobina para 7-8 g/dl. Crises de seqüestr o esplênico seqüestro Sem uma causa precipitante óbvia, ocorre uma grande proporção de sangue retido no baço, que se torna temporariamente ingurgitado. O paciente apresenta sinais semelhantes ao de choque hipovolêmico, devido à perda de sangue da circulação para o baço. O volume sangüíneo circulante deve ser imediatamente restaurado com soluções intravenosas. Geralmente, a transfusão sangüínea também é necessária. Crises aplásticas A crise aplástica é geralmente desencadeada por uma infecção, por exemplo, parvovírus. Há uma falência medular transitória, e podem ser necessárias transfusões até a recuperação medular. Conduta na gravidez e anestesia em pacientes com anemia falciforme Veja Seção 10.2: Anemia crônica na gravidez e Seção 12: Cirurgia e Anestesia. 1 Transfusões rotineiras durante a gestação podem ser consideradas se a paciente tiver um passado obstétrico ruim ou crises freqüentes. 2 A preparação para o parto ou cirurgia com anestesia pode incluir transfusões, de maneira a diminuir a proporção de HbS para menos do que 30%. 3 Técnicas anestésicas e cuidados de suporte devem garantir a minimização da perda sangüínea, desidratação e acidose. 207 SEÇÃO 9 Traço falcêmico Pacientes com traço falcêmico (HbAS) são assintomáticos, podendo apresentar níveis normais de hemoglobina e as hemácias podem parecer normais na análise do esfregaço sangüíneo. No entanto, a proporção de HbS pode variar de 25% a 45%. Como resultado, algumas crises podem ser provocadas por desidratação e hipóxia. Anestesia, gravidez e parto podem levar a alguns problemas que devem ser cuidadosamente conduzidos nos conhecidos portadores. Defeitos combinados: HbS e outros defeitos genéticos da hemoglobina Os defeitos combinados podem incluir anemia falciforme/ β talassemia, com uma tendência à trombose e embolia pulmonar durante a gravidez. O diagnóstico requer eletroforese de hemoglobina e estudo familiar. Hemoglobinopatias C, D e E Hemoglobina C A hemoglobina C ocorre no oeste da África, e em suas populações descendentes. Apresenta-se assintomática no traço falcêmico, mas no estado homozigoto, ocasiona uma leve hemólise. Uma discreta esplenomegalia é comum, e a concentração de hemoglobina fica geralmente acima de 10 g/dl. A HbC interage com a HbS na condição de dupla heterozigose, apresentando-se como uma forma mais grave de anemia falciforme. Hemoglobina D A hemoglobina D é prevalente em partes da Índia, sendo assintomática nos estados heterozigotos ou homozigotos. A dupla heterozigose com a hemoglobina S provoca uma forma mais grave de anemia falciforme. Hemoglobina E A hemoglobina E é comum no sudeste da Ásia. O traço provoca uma leve microcitose e hipocromia, sem anemia. A homozigose causa uma leve anemia e esplenomegalia, com hipocromia e células em alvo no esfregaço sangüíneo. A condição de dupla heterozigose com a hemoglobina S leva a uma doença falcêmica moderada, sem crises. Produz uma síndrome talassêmica quando combinada a uma mutação de β talassemia. Embora a maioria dos pacientes possa sobreviver longos períodos sem transfusão, os sinais clínicos desta associação cobrem todo o espectro visto na β talassemia. Talassemias A talassemia é o maior problema de saúde pública em diversas partes do mundo, sendo particularmente importante na Região do Mediterrâneo, Oriente Médio e sudeste da Ásia. O custo do tratamento é muito alto, e provoca uma demanda aumentada no sistema de suprimento de sangue. Freqüentemente, o tratamento não está disponível para quem mais precisa dele. 208 M E D I C I N A G E R A L As β talassemias são classificadas clinicamente de acordo com a sua gravidade. 1 Talassemia major: em contraste com a anemia falciforme, os pacientes não são capazes de manter a oxigenação tecidual, e necessitam de transfusões regulares, de maneira a manter adequados os níveis de hemoglobina. ermedia: apresenta uma característica muito mais 2 Talassemia int intermedia: ampla do que a talassemia major. Esta designação se aplica a pacientes com anemia, que não dependam de transfusões freqüentes, cuja gravidade seja extremamente heterogênea. Eventos como infecções e gravidez podem desencadear a necessidade de transfusões num paciente que não as necessita normalmente, ou podem aumentar as necessidades de um paciente dependente. 3 Talassemia minor minor: geralmente assintomática, com nível de hemoglobina normal ou levemente diminuído, e hemácias microcíticas e hipocrômicas. A talassemia também é classificada de acordo com o defeito genético e molecular. A Figura 9.20 mostra estas classificação, e sua inter-relação. Figura 9.20: Classificação clínica da talassemia Condição Def eit Defeit eitoo genético Sinais clínicos Talassemia β homozigota (Talassemia β major) Supressão ou deleção da cadeia β Anemia grave: Hb< 7 g/dl. Dependente transfusional Talassemia β heterozigota (Talassemia β major) Deleção da cadeia β Assintomática. Anemia leve: Hb> 10g/dl. Pais com traço possuem 25% de chance de ter um filho com â talassemia Talassemia Intermédia Supressão ou deleção da cadeia β Hb 7-10 g/dl Heterogêneo: de assintomática β semelhante a major: Talassemia α homozigota Deleção de todas as cadeias α Hidrópsia fetal α Talassemia minor Perda de 2 ou 3 genes α Geralmente leve ou moderada Traço α Talassêmico Perda de 1 ou 2 genes α Anemia leve microcítica e hipocrômica A diferença entre a apresentação da talassemia intermedia e a major é essencial para determinar o tratamento apropriado. Infelizmente, a 209 SEÇÃO 9 identificação precisa destes dois fenótipos é difícil. No entanto, a análise cuidadosa dos aspectos clínicos, hematológicos, genéticos e moleculares, como mostra a figura 9.21, pode auxiliar o planejamento do tratamento. A Figura 9.21 sumariza os parâmetros diagnósticos e manifestações clínicas que podem auxiliar o diagnóstico diferencial das síndromes talassêmicas. Figura 9.21 : Parâmetros diagnósticos e manifestações clínicas das síndromes talassêmicas Major Int ermédia Intermédia Minor <7 7-10 >10 2-15 2-10 <5 ++/++++ +/+++ 0 Morfologia eritrocitária ++++ ++ + Icterícia +++ +/++ 0 Esplenomegalia ++++ ++/+++ 0 ++/+++ +/++ 0 Hemoglobina (g/dl) Reticulócitos (%) Hemácias nucleadas Alterações esqueléticas Sinais clínicos Talassemia major A talassemia β homozigota (talassemia major) é a que possui características clínicas mais importante. A produção de hemácias é ineficaz, e a hemólise dos eritrócitos anormais produz anemia grave. Há um aumento da HbA2 e HbF, mas isto não compensa a perda de HbA. Portanto, os pacientes necessitam de suporte transfusional para manter o nível de hemoglobina suficiente para oxigenar os tecidos. A talassemia β major se apresenta no primeiro ano de vida, com desenvolvimento retardado e anemia. Sem tratamento efetivo, evolui para a morte antes dos 10 anos de vida. Estes pacientes possuem: Anemia grave, tornando-se evidente aos 3- 6 meses de vida Deformidades, como as características nariz em sela, aumento da maxila e crescimento retardado. Crianças transfundidas adequadamente possuem crescimento normal. No entanto, os problemas podem se tornar evidentes após a infusão de 20 unidades de sangue (250mg de ferro por unidade de sangue). O ferro se acumula no corpo devido a: destruição de hemácias, aumento da absorção e transfusão de concentrado de hemácias. Isto ocasiona alterações no coração, sistema endócrino e hepático, levando à insuficiência cardíaca, cirrose e eventualmente a morte, a menos que a terapia quelante seja instituída. Investigações laboratoriais Veja Figura 9.5 na página 181. 210 M E D I C I N A G E R A L Talassemia major Os seguintes achados laboratoriais podem ser encontrados em pacientes com talassemia β major. 1 Anemia grave hipocrômica e microcítica. 2 Esfregaço sangüíneo: hemácias microcíticas e hipocrômicas com células em alvo, ponteado basófilo e hemácias nucleadas. 3 Eletroforese de hemoglobina: ausência da HbA com aumento da HbF e HbA2. Talassemia int ermedia intermedia Os seguintes achados laboratoriais podem ser encontrados na talassemia β intermedia, minor ou no traço talassêmico: 1 Anemia hipocrômica microcítica, ferro e TIBC normais. 2 Eletroforese de hemoglobina: depende da variação. Tratamento da talassemia major Os princípios do tratamento da talassemia β major estão resumidos na Figura 9.22. Figura 9.22: Tratamento da talassemia major TRA OD A TTALASSEMIA ALASSEMIA MAJOR TRATTAMENT AMENTO DA 1 Transfusão (mais detalhes abaixo) 2 Terapia quelante. 3 Vitamina C: 200 mg por boca, de maneira a promover a excreção de ferro, somente no dia da quelação. 4 Ácido fólico: 5 mg ao dia. 5 Esplenectomia pode ser necessária para diminuir as necessidades transfusionais. 6 Penicilina a longo prazo. 7 Vacinação para: Hepatite B Pneumococos 8 Reposição endócrina para diabetes e falência pituitária. 9 Vitamina D e cálcio para falência de paratireóides. Transfusão na ttalassemia alassemia major As transfusões sangüíneas planejadas podem salvar vidas e melhorar a qualidade de vida, de maneira a evitar as complicações da medula hipertrofiada e insuficiência cardíaca precoce. O objetivo é transfundir as hemácias em quantidade suficiente e freqüente para suprimir a eritropoiese. 211 SEÇÃO 9 Quando os riscos tr ansfusionais são pequenos, e a quelação de fferr err tiver transfusionais erroo es estiver disponível, níveis de hemoglobina de 110.0-1 0.0-1 2.0 g/dl podem ser aplicados. Não 0.0-12.0 é recomendado que a concentr ação de hemoglobina ffique ique superior a 115 5 g/dl. concentração Como a esplenomegalia aumenta a anemia devido ao seqüestro e destruição de sangue, ela pode ser necessária para reduzir as transfusões. Transfusões com pouco volume são preferíveis, devido à menor quantidade de sangue utilizada, e à supressão da produção de eritrócitos de maneira mais efetiva. No entanto, com menor freqüência, transfusões em maiores volumes podem ser a melhor maneira para o manuseio de pacientes que morem longe do local de tratamento. Transfusões repetidas por um longo período As transfusões de hemácias repetidas por um longo período causam grandes dificuldades no tratamento de pacientes com hemoglobinopatias e outras condições. Alo-imunização Acima de 50% dos pacientes politransfundidos irão desenvolver anticorpos eritrocitários que produzam reação hemolítica imediata ou tardia ( Seção 7: Efeitos Adversos da Transfusão). Se possível, os pacientes devem receber hemácias compatibilizadas para os fenótipos eritrocitários, especialmente Kell e Rh D e E, que estimula rapidamente anticorpos hemolíticos no recipiente. Reações transfusionais febris não-hemolíticas (RTFNH) As reações transfusionais febris não hemolíticas (Seção 7: Efeitos Adversos da Transfusão) são mais comuns em pacientes politransfundidos. O uso de concentrado de hemácias leuco-depletadas pode retardar a gravidade das reações. Os sintomas desagradáveis destas reações podem ser reduzidos com a pré-medicação com paracetamol: Adult os dultos os: 1 g por mês antes da transfusão, repetindo após o início da transfusão, se necessário Crianças acima de 1 mês: mês 30-40 mg/kg/24 horas em 4 doses. Hiperviscosidade A viscosidade sangüínea aumenta exponencialmente quando a hemoglobina fica acima de 12 g/dl. Em pacientes com anemia falciforme, a alta viscosidade sangüínea pode precipitar a oclusão vascular. 212 M E D I C I N A G E R A L Portanto, é importante: 1 Manter adequado volume circulante. 2 Transfundir apenas para um nível máximo de hemoglobina em 12 g/dl. A exsangüíneo-transfusão pode ser necessária para reduzir as hemácias com HbS, sem aumentar a viscosidade. Sobrecarga de ferro Desf erriox amina Desferriox errioxamina amina: Um quelante de ferro, que aumenta a sua excreção Figura 9.23: evitando a sobrecarga de ferro com transfusões regulares Transfusão repetidas eventualmente levam ao acúmulo de ferro, dano cardíaco, sistema endócrino e fígado. Os riscos se reduzem com a administração somente das transfusões que realmente sejam necessárias. errio xamina A desf desferrio errioxamina xamina, que aumenta a excreção de ferro, deve ser utilizada (veja Figura 9.23). QUELAÇÃO DE FERR O EM PPA ACIENTES DEPENDENTES DE TRANSFUSÃO FERRO 1 Infusão subcutânea de desferrioxamina; 25-50 mg/kg/dia em 8 a 12 horas, 5 a 7 dias por semanas. O ajuste de dose é individual. Os mais novos devem iniciar com uma dose de 25-35 mg/kg/dia, aumentando até o máximo de 40 mg/kg/dia até os 5 anos de idade, podendo chegar a 50 mg/kg/dia depois que cessar o crescimento. 2 Vitamina C acima de 200 mg/dia oral uma hora antes do início da quelação. 3 Realizar a esplenectomia se necessária (acima dos 6 anos de idade) Em casos ex cepcionais, e sob res trit excepcionais, restrit tritaa vigilância: Administrar desferrioxamina 60 mg/kg/dia em 24 horas, com bomba de infusão. A droga não deve ser colocada na bolsa plástica do sangue. Ou Administrar desferrioxamina 50-70 mg/kg/dia por infusão contínua venosa em catéter. Este método só deve ser utilizado em pacientes com nível extremamente elevado de ferro e/ou outras complicações importantes relacionadas ao ferro. A monitorização de toxicidade ocular e auditiva deve ser rigorosa. Alguns pacientes são incapazes de receber desferrioxamina por razões médicas. Atualmente, como alternativa, pode-se utilizar a quelação com o agente oral deferiprone, que está disponível na Europa como uma segunda alternativa. Infecção Todo sangue e produto sangüíneo deve ser testado para infecções transmissíveis por transfusão, incluindo HIV 1 e 2, Hepatite B e C, sífilis e outros agentes infecciosos. Se houver consenso sobre a segurança do sangue em seu local de trabalho, é importante pesar os riscos e benefícios do paciente. 213 SEÇÃO 9 Pacientes que não estejam imunizados para a hepatite B devem ser vacinados. A vacina para hepatite deve ser administrada a todos os talassêmicos que sejam HCV positivos. Acesso venoso Transfusões repetidas levam a um risco de trombose de veias periféricas, e conseqüente dificuldade quando forem necessárias infusões futuras. As veias do paciente são sua garantia de vida. Na Seção 13.2: Avaliação Inicial e Ressuscitação há maiores detalhes sobre a manutenção de acessos venosos. Esplenectomia A esplenectomia reduz a destruição das hemácias e as necessidades transfusionais (freqüência e quantidade). No entanto, não deve ser realizada em crianças menores que 6 anos, devido ao risco aumentado de infecções após a esplenectomia. Deve ser feita a vacinação contra pneumococos 2 a 4 semanas antes da esplenectomia. É recomendada uma vacinação anual contra influenza em pacientes esplenectomizados. A eficácia e a utilidade da vacinação contra N. meningitidis não está tão clara como para o S. pneumoniae. Uma vez que o baço tenha sido removido, é necessário o uso de penicilina profilática durante o resto da vida. 9.9 Distúrbios de sangramento e transfusões Pacientes que possuam anormalidades nas plaquetas ou no sistema fibrinolítico e de coagulação podem sofrer sangramento grave durante o parto, cirurgia ou trauma. O reconhecimento que o paciente possa ter uma distúrbio no sistema de coagulação, seu correto diagnóstico e tratamento, podem influenciar no tipo e momento de uma cirurgia eletiva, reduzindo-se as necessidades transfusionais e evitando riscos de sangramento ao paciente. Uma tendência a sangramento pode ser causada por: Deficiências congênitas dos vasos, plaquetas e fatores da coagulação Uso de drogas farmacêuticas Trauma Hemorragia Complicações obstétricas Deficiências nutricionais Distúrbios imunológicos 214 M E D I C I N A G E R A L Sinais clínicos O reconhecimento da distúrbio de sangramento baseia-se em : Avaliação clínica — História — Exame físico Conhecimento das prováveis causas Seleção de testes laboratoriais e interpretação de seus resultados Ocasionalmente, resposta a testes terapêuticos. Os sinais clínicos das coagulopatias estão mostrados na Figura 9.24. Talvez a história clínica seja o elemento isolado mais importante na investigação da função hemostática. Quando a história familiar sugerir um distúrbio congênito, construa, se possível, uma árvore familiar. Investigações laboratoriais As investigações laboratoriais devem ser realizadas quando houver suspeita de problemas de sangramento. Isto é especialmente importante em pacientes que serão submetidos a procedimentos cirúrgicos. A investigação deve ser a mais metódica possível. A Figura 9.25 na página 217 mostra o fluxograma de interpretação de três testes rotineiros nos distúrbios sangüíneos. 9.10 Distúrbios congênitos de sangramento e de coagulação Deficiências dos fatores VIII e IX Sinais clínicos A hemofilia A e a B são causadas por deficiências genéticas dos fatores VIII e IX, respectivamente. Estes dois fatores interagem para ativar o Fator X, que é necessário para a produção de trombina, e assim, a coagulação. As características das deficiências de fator VIII e IX são, portanto, idênticas. Ambas são distúrbios recessivos ligados ao gene X, que afetam quase que exclusivamente homens. A gravidade do distúrbio é determinada pela quantidade do fator de coagulação ativo disponível. Em casos graves, há sangramento espontâneo de tecidos, particularmente joelhos e músculos. Eventualmente, há evolução para sinovites crônicas, levando à dor, deformidades e contraturas. Sangramento após a circuncisão é uma forma freqüente de apresentação em crianças. A hemofilia leve ou moderada pode causar sangramentos graves quando os tecidos forem lesados por cirurgia ou trauma. 215 SEÇÃO 9 Figura 9.24: Sinais clínicos dos distúrbios de sangramento HIS TÓRIA HISTÓRIA Sint omas suges tivos de Sintomas sugestivos dis túrbios de sangr ament distúrbios sangrament amentoo Equimoses freqüentes Desenvolvimento de púrpura Epistaxes Sangramento excessivo após circuncisão, extração dentária ou outra cirurgias Menorragia, freqüentemente acompanhada por saída de coágulos Hemorragia perinatal Fezes escuras ou sanguinolentas Urina avermelhada Músculos ou juntas edemaciadas e dolorosas Sangramento excessivo após pequenos arranhões Sangramento recorrente horas ou dias após o trauma original Cicatrização deficiente Outr os sint omas Outros sintomas Perda de peso Anorexia Febre e suores noturnos Exposição a dr ogas ou remédios drogas Ingestão de álcool Todas as drogas atuais ou já utilizadas pelo paciente Qualquer exposição a drogas ou remédios no trabalho ou em casa His tória ffamiliar amiliar História Parentes com condições semelhantes Parentes com qualquer história sugestiva de doença hemorrágica EXAME FÍSICO Sinais de hemorr agia Outr os sinais hemorragia Outros das sangüíneas Esplenomegalia perdas ou per Mucosas pálidas Hepatomegalia Petéquias Icterícia Púrpura ou equimose Febre Sangramento em membranas Edemaciamento Linfadenopatia e mucosas Hematomas musculares Hemartroses ou juntas deformadas Teste de sangue oculto nas fezes positivo Presença de sangue durante exame retal INTERPRET ACAO INTERPRETA Font ament alment Fontee de sangr sangrament amentoo ger geralment almentee sugere a causa mais pr proovável: Sangramento de mucosa sugere baixa contagem plaquetária ou anomalias plaquetárias, doença de von Willebrand ou defeitos vasculares Sangramentos musculares, de juntas ou equimoses sugerem hemofilia A ou B 216 Not otaa: as manifestações de distúrbios hemorrágicos (p. ex. petéquias ou equimoses) podem ser difíceis de serem observadas em pacientes com pele escura. O exame das mucosas, incluindo conjuntivas, mucosa oral ou fundo de olho para evidências de sangramento é, portanto, muito importante. M E D I C I N A G E R A L Figura 9.25: Interpretação dos testes de hemostasia Características clínicas de tendência hemorrágica Teste de triagem Petéquias Gengivas sangrantes Sangramento excessivo em pontos de venopunção Hemorragias retinianas Inves tigações labor at oriais: result ados típicos Investigações laborat atoriais: resultados T T T T T T N N Ï Ï N Ï Ï Ï N Ï Ï N N N N Transfusão maciça N Hemofilia B Ð Hemofilia A N Doença hepática Ð Doença de von Willebrand Terapia fibrinolítica T CIVD T Heparina T Trombocitopenia T Warfarina X N = Normal ? Dose excessiva de warfarina (cumarínico) ? Hemofilia A ou B ? CIVD ? Baixa contagem plaquetária ou função plaquetária anormal Contagem plaquetária Tempo de protrombina Tempo de tromboplastina parcial ativado Tempo de trombina Concentração de fibrinogênio Produtos de degradação da fibrina Sangramento excessivo após: Circuncisão, extração dentária ou outra cirurgia Episódios de sangramento nas juntas Sangramento excessivo de locais de venopunção ou feridas cirúrgicas associadas a: Sepsis Hipotensão prolongada Trauma Parto N/Ð N/ Ð N N N Ð Ï Ï N N Ï N/Ï Ï Ï Ï Ï Ï Ï N Ï N N N N/Ï Ð Ð N Ð N N N N/Ð Ï Ï N N/ Ï N N N N/Ï N Reversão do tempo de trombina prolongado pela protamina indica presença de heparina 217 SEÇÃO 9 Investigações laboratoriais Ambas as deficiências de fator VIII e IX causam prolongamento do tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA), com tempo de protrombina normal. O TTPA anormal é corrigido com a adição de plasma normal. Exames específicos dos fatores devem ser realizados para confirmar o nível da deficiência, porém, só são feitos em laboratórios especializados. Tratamento Tratament o no sangrament o agudo ratamento sangramento 1 Evitar agentes anti-agregantes plaquetários como a aspirina e antiinflamatórios não esteróides. 2 Não administrar injeções intra-muscular. 3 Administrar concentrado de fatores de coagulação para tratar os episódios hemorrágicos o mais rapidamente possível ( veja Figura 9.26 na página 219). As hemartroses necessitam de forte analgesia, bolsas de gelo e imobilização inicial. N unca drene hemar tr oses hemartr troses oses. 4 Não faça incisões em inchaços em hemofílicos. 5 Inicie a fisioterapia precocemente de maneira a minimizar a perda de função da articulação. Tratament o de supor ratamento suportte 1 É benéfica a ação coordenada de uma equipe multidisciplinar (médico, fisioterapeuta, cirurgião). 2 Terapia em casa: alguns pacientes podem administrar em si mesmos os concentrados de fatores nos sintomas mais precoces de sangramento. 3 A administração profilática dos concentrados de fatores para reduzir a freqüência de sangramento, de maneira a manter a função articular. No entanto, o custo do tratamento é alto. Desmopressina (DD AVP) (DDA A desmopressina libera o Fator VIII e von Willebrand endógeno, podendo ser útil nos casos de Hemofilia A leve ou moderada. Não está indicada para deficiência de Fator IX. Reposição com concentrados de fat ores fatores Antes da inativação viral dos concentrados de fatores, havia um alto risco de transmissão de HIV, Hepatite B e C para os pacientes hemofílicos. Portanto, é imperativo que o concentrado de fator utilizado seja licenciado e certificado quanto à inativação viral. Se fatores de coagulação não forem disponíveis, pode-se utilizar: Hemofilia A: Crioprecipitado Hemofilia B: Plasma fresco congelado ou plasma líquido. Regime de dose: Hemof ilia A e B Hemofilia A dose necessária depende da avaliação da gravidade do sangramento. Utilize a Figura 9.26 para determinar a dose tanto de adultos e crianças, de acordo com o peso corpóreo. 218 M E D I C I N A G E R A L Figura 9.26: Tratamento para hemofilia A ou hemofilia B DOS AGEM DO FFA ATOR VIII E AL TERN ATIV AS PPARA ARA TRA OD A HEMOFILIA A DOSA ALTERN TERNA TIVAS TRATTAMENT AMENTO DA Gr avidade do sangr ament Gravidade sangrament amentoo Dosagem Fornecido como: Concentr ado de ffat at or VIII ou Crioprecipit ado* Concentrado ator Crioprecipitado* (500 UI/fr asco) (80-1 00 UI/bolsa) UI/frasco) (80-100 1 Sangramento leve: nariz, gengivas, etc. 14 UI/kg 1-2 frascos (adulto) 1 bolsa/6 kg 2 Sangramento moderado: articulações, músculos, trato gastrointestinal, cirurgias 20 UI/kg 2-4 frascos (adulto) 1 bolsa/4 kg 3 Sangramento grave: p. ex cérebro 40 UI/kg 4-6 frascos (adulto) 1 bolsa/ 2 kg 4 Profilaxia para grandes cirurgias 60 UI/kg 6-10 frascos (adulto) 1 bolsa/ 1 kg Not otaa* Crioprecipitado contendo 80-100 UI de Fator VIII, geralmente obtido de 250 ml de plasma fresco congelado. 1 Para sangramentos leves, moderados ou graves, repita a dose a cada 12 horas se o sangramento persistir ou se o inchaço aumentar. Com sangramentos mais graves, geralmente é necessário continuar o tratamento com metade da dose total diária por 2-3 dias, ou ocasionalmente, por tempo mais prolongado. 2 Para profilaxia em cirurgias de grande porte, inicie a terapia 8 horas antes da cirurgia. Continue a cada 12 horas por 48 horas após a cirurgia. Se não houver sangramento, diminua progressivamente nos próximos 3-5 dias. 3 Como adjunto ao fator de reposição nos sangramentos e cirurgias de mucosa ou gastrointestinais, administre inibidor de fibrinólise: Ácido tranexâmico (oral): 500-1000 mg 3 vezes/dia. Não utilize para hematúria. 4 Numa emergência, utilize plasma fresco congelado para tratar sangramento em hemofílicos (dar 3 bolsas inicialmente) se nenhum dos itens acima for disponível. 5 A avaliação cuidadosa da ingestão de fluidos pelo paciente é importante para se evitar sobrecarga de fluidos quando se estiver utilizando plasma fresco congelado ou muitas doses de crioprecipitado. DOS AGEM DO FFA ATOR IX PPARA ARA TRA OD A HEMOFILIA B DOSA TRATTAMENT AMENTO DA Gr avidade do sangr ament Gravidade sangrament amentoo Dosagem Fornecido como: Concentr ado de ffat at or VIII ou Plasma fresco Concentrado ator (500 UI/fr asco) congelado UI/frasco) Sangramento moderado Sangramento grave 15 UI/kg 20-30 UI/kg 2 frascos (adulto) 3-6 frascos (adulto) 1 bolsa/15 kg 1 bolsa/7,5 kg Not otaa 1 Repita em 24 horas se o sangramento persistir. 2 O concentrado de Fator VIII e o crioprecipitado não são úteis para a hemofilia B, logo, o diagnóstico correto é essencial. 3 Como adjunto na terapia de reposição: Ácido tranexâmico (oral): 500-1000 mg 3 vezes/dia, assim como para hemofilia A. 219 SEÇÃO 9 Doença de von Willebrand Sinais clínicos O fator von Willebrand (vWF) é uma proteína envolvida na adesão plaquetária, tanto para com outras plaquetas como para o sub-endotélio. Também age como transportador do Fator VIII. A deficiência de fator de von Willebrand é uma condição genética autossômica dominante, que afeta homens e mulheres. A principal manifestação clínica são sangramentos mucoso-cutâneos, tais como: Epistaxe Facilidade de formação de equimoses Menorragia Sangramento após extrações dentárias Sangramento pós-traumático. Investigações laboratoriais A anormalidade na função plaquetária é notada a partir de um aumento no tempo do sangramento através da método de observação. As medidas de deficiência da atividade coagulante do Fator VIII e o próprio Fator de von Willebrand necessitam de laboratório especializado. Tratamento O objetivo do tratamento é normalizar o tempo de sangramento por aumento dos níveis endógenos de fator de vWF com desmopressina, ou pela reposição do fator através do uso de fator VIII de pureza intermediária, produto que contém algum vWF ou crioprecipitado, que também contém vWF. Regime de dose Tratar como sangramento leve ou moderado da Hemofilia A, exceto que a dose hemostática não precisa ser repetida a cada 12 horas, mas sim após 24-48 horas, pois o fator de von Willebrand possui meia-vida maior que o Fator VIII. AVP) 1 Desmopressina (DD (DDA 0,3-0,4 µg / kg EV a cada 4-8 horas evita o uso de produtos plasmáticos. A dose pode ser repetida a cada 24 horas, mas o efeito se torna reduzido após alguns dias de tratamento. at or VIII 2 Concentrado de FFat ator Reservado a pacientes que não respondam à desmopressina. É essencial o uso de produtos com inativação viral que contenham vWF. Estes produtos também são chamados de concentrados de Fator VIII de pureza intermediária (veja Seção 5: Produtos Sangüíneos). 3 Crioprecipitado O crioprecipitado é efetivo, mas não é disponível sob forma de inativação viral na maioria dos países. 220 M E D I C I N A 9.11 G E R A L Distúrbios adquiridos de sangramento e coagulação Coagulação intravascular disseminada A coagulação intravascular disseminada (CIVD) é causada por uma estimulação anormal e excessiva do sistema de coagulação, resultando num consumo de fatores de coagulação, fibrinogênio e de plaquetas. Isto provoca a estimulação de uma superprodução de enzimas fibrinolíticas para destruir os coágulos formados, levando a um aumento dos produtos de degradação da fibrina (PDF). Como os fatores de coagulação, fibrinogênio e plaquetas são consumidos numa velocidade superior à sua reposição, o resultado é um sangramento descontrolado. As causas comuns de CIVD incluem: Infecção Malignidade Trauma Leucemia aguda Eclâmpsia Descolamento prematuro de placenta Embolismo por líquido amniótico Retenção de produtos da concepção Retenção de feto morto. Sinais clínicos Na CIVD grave, há excessivo e incontrolável sangramento. A perda das plaquetas e dos fatores de coagulação causam: Hemorragia Equimoses Sangramento em locais de punção. A trombose microvascular pode causar falência de múltiplos órgãos levando a : Distúrbio respiratório Coma Insuficiência renal Icterícia. Investigações laboratoriais A CIVD é caracterizada por: Redução da contagem plaquetária (trombocitopenia) Prolongamento do tempo de protrombina (TP) Prolongamento do tempo de tromboplastina parcialmente ativada (TTPA) 221 SEÇÃO 9 Prolongamento do tempo de trombina Diminuição da concentração de fibrinogênio Quebra dos produtos do fibrinogênio: produtos de degradação da fibrina (PDF). Nas formas menos agudas de CIVD, podem ser formadas quantidades suficientes de plaquetas e de fatores de coagulação, de maneira a manter a hemostasia, porém, os testes laboratoriais revelam evidências de fibrinólise (PDF). Conduta O tratamento rápido e apropriado, ou a remoção da causa subjacente é imperativo. A maioria dos pacientes com sangramento devido a CIVD estão gravemente doentes e necessitam de terapêutica de suporte. 1 Monitorização Tempo de protrombina Razão normalizada internacionalmente (INR) Tempo de tromboplastina parcial ativada Contagem plaquetária Fibrinogênio 2 Identificação e remoção da causa da CIVD. 3 Administração de tratamento de suporte: Fluidos Agentes vasopressores Assistência renal, cardíaca ou ventilatória. Transfusão O suporte transfusional deve ser realizado de maneira a ajudar no controle do sangramento, até que a causa subjacente tenha sido removida, e para manter níveis adequados de fatores de coagulação e de plaquetas. Veja a figura 9.27 na página 223. Distúrbios dos fatores da coagulação dependentes da vitamina K A vitamina K é uma substância lipossolúvel encontrada principalmente nos vegetais verdes e no fígado. É um cofator da síntese dos Fatores II, VIII, IX e X, que são produzidos no fígado. A deficiência de fatores dependentes da vitamina K pode estar presente nas seguintes condições: Doença hemorrágica do recém nascido (Seção 11: Pediatria e Neonatologia) Ingestão de anticoagulantes cumarínicos (warfarina) Nota: Quando o paciente estiver recebendo cumarínicos, o início de outras drogas (como alguns antibióticos) pode causar sangramento devido ao deslocamento do warfarina ligada a proteínas plasmáticas A deficiência de vitamina K pode ocorrer devido à dieta inadequada ou má-absorção 222 M E D I C I N A Figura 9.27: Transfusão na CIVD G E R A L TRANSFUSÃO NA COAGULAÇÃO INTRAVASCULAR DISSEMINADA 1 Se o TP ou TTPA estiver prolongado e o paciente sangrando: Substitua as perdas sangüíneas com hemácias e Dê plasma fresco congelado, pois contém fatores lábeis da coagulação: 1 bolsa/15 kg de peso (4-5 bolsas num adulto) Repita o PFC de acordo com a resposta clínica. 2 Se o fibrinogênio estiver baixo ou o TTPA ou tempo de trombina prolongados, dê também crioprecipitado (para fornecer fibrinogênio e Fator VIII): 1 bolsa/ 6 kg (8-10 bolsas num adulto). 3 Se a contagem plaquetária for menor do que 50 x 109 /L e o paciente estiver sangrando, dê também concentrados de plaquetas: 4-6 bolsas (adulto). 4 A utilização de heparina não é recomendada em pacientes com sangramento em CIVD. Nota As doses se baseiam no preparo de plasma fresco congelado, crioprecipitado e concentrado de plaquetas provenientes de uma doação de 450 ml. Doença hepática, levando à sub-produção de Fatores II, VII, IX: um tempo de protrombina alargado geralmente é um sinal de doença hepática grave com grande perda de hepatócitos. Sinais clínicos Clinicamente, estas patologias geralmente se apresentam como sangramento nos tratos gastrointestinal e urogenital. Investigações laboratoriais Freqüentemente, o tempo de protrombina está prolongado somente nos casos mais graves. Em hepatopatas, a trombocitopenia e anormalidades do fibrinogênio e fibrinólise podem complicar o diagnóstico e o tratamento. Conduta Veja a Figura 9.28 para a conduta na deficiência dos fatores de coagulação dependentes da vitamina K. Problemas de sangramento associados a cirurgia Veja a Seção 12.1: Seleção e preparo do paciente. 223 SEÇÃO 9 Figura 9.28: Tratamento da deficiência de fatores de coagulação dependentes da vitamina K TRA O DE DEFICIÊNCIA DOS FFA ATORES DE CO AGULAÇÃO TRATTAMENT AMENTO COA VIT AMIN A K DEPENDENTES VITAMIN AMINA 1 Remova a causa subjacente da deficiência de vitamina K: Interromper anticoagulantes (warfarina) Tratamento da má-absorção ou da deficiência dietética. 2 Reposição dos fatores de coagulação com plasma fresco congelado, se necessário. 3 Reversão do warfarina com vitamina K endovenosa se o paciente estiver sangrando e o INR estiver >4,5. Doses de vitamina K que excedam 1 mg podem tornar o paciente refratário à administração de warfarina por até 2 semanas. Se for necessário o uso de anticoagulante, considerar o uso de doses entre 0,1 a 0,5 mg. Sangramentos gastrointestinais O sangramento gastrointestinal é comum, e possui risco de mortalidade significativo. Sinais clínicos 1 Sangramentos do TGI alto podem se apresentar como uma anemia devido ao sangramento crônico, hematêmese (vômitos com sangue) ou melena (sangue escurecido alterado após passagem no reto). 2 Sangramentos do TGI baixo se apresentam como anemia, com teste de sangue oculto em fezes positivo, ou presença de sangue fresco nas fezes. 3 Úlcera péptica (gástrica, duodenal). 4 Varizes esofágicas. 5 Carcinoma gástrico. Os pacientes com varizes esofágicas, geralmente devido a doença hepática crônica, podem também ter úlcera péptica ou erosões. Conduta Os princípios do tratamento de sangramento gastrointestinais são: 1 Ressuscite o paciente (veja Figura 9.29 na página 225) 2 Encontre a fonte do sangramento (se possível por endoscopia). 3 Administre bloqueadores de receptores de H2 (p. ex. Tagamet, cimetidina). 4 Interrompa o sangramento continuado ou repetido através de endoscopia ou medidas cirúrgicas. A maioria dos pacientes interrompe o sangramento após intervenção endoscópica ou cirúrgica. Um novo sangramento possui maior mortalidade, e é mais visto em pacientes que: 224 M E D I C I N A G E R A L São mais velhos Estão chocados em sua admissão no hospital Possuem sangramento agudo visível na endoscopia Possuem úlcera gástrica (mais do que a duodenal) Possuem doença hepática. Transfusão A Figura 9.29 mostra um guia de transfusão em sangramentos gastrointestinais. Figura 9.29; Ressuscitação e transfusão no sangramento agudo gastrointestinal GRA VID ADE DO CARA CTERÍS TIC AS GRAVID VIDADE ARACTERÍS CTERÍSTIC TICAS SANGRAMENT O CLÍNIC AS ANGRAMENTO CLÍNICAS TRANSFUSÃO / INFUSÃO EV 1 Sangramento leve Pulso e hemoglobina normais 2 Sangramento Pulso: >100 / min e/ou moderado Hemoglobina < 10g/dl 3 Sangramento História de colapso grave e/ou choque PA sistólica <100 mmHg Pulso >100/min MET A META Manter acesso intravenoso até que o diagnóstico seja estabelecido Garanta disponibilidade de sangue Reponha fluidos Mantenha Solicite 4 unidades Hb >9 g/dl* de hemácias Reponha fluidos rapidamente Mantenha débito urinário em Garanta 0,5ml/kg/hora disponibilidade Mantenha PA de sangue sistólica Transfunda hemácias > 100 mmHg de acordo com a avaliação clínica e Hb/Ht * Até que se esteja seguro que o paciente não tenha possibilidade de apresentar um novo grande sangramento. O paciente pode necessitar ser encaminhado para uma intervenção cirúrgica após a ressuscitação. ATIVIDADE 25 Enumere as condições comuns nas enfermarias de adultos e crianças. Quais são as razões mais comuns de transfusões destes pacientes? Algumas transfusões poderiam ser evitadas com medidas de prevenção e tratamento das causas subjacentes? 225 SEÇÃO 9 ATIVIDADE 26 Há manuais de indicação clínica de transfusão disponíveis em seu serviço? São precisos e compreensíveis? Se não houver manuais, ou você acreditar que estes possam ser melhorados, discuta suas idéias com seus superiores e membros do comitê transfusional de seu serviço. Uma vez que estas tenham sido acatadas, organize uma sessão educacional para toda a equipe relevante. Monitore se os manuais estão sendo utilizados adequadamente. Providencie futuras sessões educacionais que sejam necessárias e mantenha a monitorização da prática. 226 10 Obs tetrícia Obstetrícia Pontos chave 1 A anemia na gr avidez ocorre quando a concentr ação de hemoglobina ffor or gravidez concentração menor que 111g/dl 1g/dl no primeir er ceir tre, e menor que 110.5 0.5 g/dl primeiroo e tter erceir ceiroo trimes trimestre, no segundo trimes tre. trimestre. 2 O diagnós tico e tr at diagnóstico trat atament amentoo ef efeetivo da anemia crônica na gr gravidez avidez é ament as tr ansfusões. A decisão de impor importtant antee par paraa reduzir a necessidade de futur futuras transfusões. ve ser baseada soment tr ansfundir component es sangüíneos não de transfundir componentes deve somentee nos níveis de hemoglobina, mas ttambém ambém associada às necessidades clínicas do pacient e. paciente. 3 A per da sangüínea dur ant alment oduz perda durant antee o par partto normal ou cesárea ger geralment almentee não pr produz necessidade de tr ansfusão se a hemoglobina mat erna prévia es tiver entre transfusão materna estiver 10,0-1 1,0 g/dl. A concentr ação de hemoglobina de ve re 0,0-11 concentração deve rettornar ao normal cer ca de 2 semanas após o par orna-se necessária cerca partto. Se is istto não ocorrer ocorrer,, ttorna-se uma inves tigação pos investigação postterior erior.. 4 O sangr ament tétrico pode ser impre visível e maciço. Cada unidade sangrament amentoo obs obstétrico imprevisível obs tétrica de ve possuir um pr ot ocolo atual sobre as principais hemorr agias obstétrica deve prot otocolo hemorragias obs tétricas, e ttoda oda a equipe de ve es obstétricas, deve esttar treinada par paraa segui-lo. 5 Se houver suspeit av ascular disseminada, não se de ve suspeitaa de coagulação intr intrav avascular deve re dar o tr at ament dando result ados labor at oriais de coagulação. rettar ardar trat atament amentoo aguar aguardando resultados laborat atoriais 6 A adminis tr ação de imunoglobulina anti-Rh D a ttodas odas as mães Rh D administr tração negativ as nas 72 hor as após o par orma mais comum de pre venir a negativas horas partto é a fforma prevenir Doença Hemolítica do R ecém Nascido. Recém 227 S E Ç Ã O 10 Introdução A perda sangüínea aguda e a anemia crônica na gravidez são as principais causas de morbidade e mortalidade materna no mundo. A anemia na gravidez aumenta as chances de retardo de crescimento intra-uterino, nascimentos prematuros e perda fetal. A anemia na gravidez e seus efeitos na morbidade e mortalidade maternofetal podem ser evitados através de prevenção e tratamento efetivo. Portanto, é essencial identificar a anemia, e realizar medidas corretivas precoces. Isto minimizará os riscos da mãe e da criança, e as necessidades transfusionais, se ocorrer hemorragias obstétricas. Objetivos do estudo Quando completar esta seção, você deverá estar apto a: 1 Descrever as mudanças hematológicas que ocorrem durante a gravidez. 2 Realizar uma avaliação adequada das pacientes obstétricas, e diagnosticar quadros de anemia crônica. 3 Promover medidas preventivas para reduzir os quadros de anemias crônicas em pacientes obstétricas. 4 Fornecer tratamento adequado às pacientes obstétricas com anemia crônica. 5 Fornecer tratamento adequado às pacientes obstétricas com perdas sangüíneas agudas. 6 Identificar o feto com risco de Doença Hemolítica, e tomar medidas para prevenir a Doença Hemolítica do Recém Nascido. 228 OBSTETRÍCIA 10.1 Alterações fisiológicas e hematológicas durante a gravidez Durante a gravidez, as seguintes alterações hematológicas podem ocorrer. Volume plasmático Há um aumento de 40-50% do volume plasmático, com pico máximo na 32ª semana de gestação. Este se acompanha por aumento semelhante no débito cardíaco. Isto causa: Aumento do fluxo sangüíneo ao útero Aumento da capacidade excretora dos rins Auxilia a dissipar o calor produzido pela alta taxa de metabolismo durante a gravidez Protege o feto contra disfunções da perfusão placentária produzidas a partir da compressão aorto-cava pelo útero gravídico. Glóbulos vermelhos A massa eritrocitária da mãe aumenta 18- 25% durante a gravidez. Isto ocorre de forma mais lenta do que o aumento do volume plasmático. A discrepância entre o aumento no volume plasmático e a massa eritrocitária resulta na redução da concentração de hemoglobina durante a gravidez (Figura 3.6 na página 49). A hemoglobina normal ou elevada durante a gravidez pode ser um sinal de pré-eclâmpsia, na qual o volume plasmático está reduzido. Metabolismo do ferro As necessidades de ferro da mãe estão aumentadas nos dois últimos trimestres da gravidez, devido à demanda do feto e aumento da massa eritrocitária materna. Até 80% das necessidades aumentadas ocorre no último trimestre. As necessidades totais de ferro durante a gravidez somam aproximadamente 1300 mg, distribuídos da seguinte maneira: 300 mg para o feto 50 mg para a placenta 450 mg para o aumento da massa eritrocitária materna 250 mg de perdas basais maternas 250 mg de perdas sangüíneas durante parto vaginal normal (500 ml). Embor es tinal aument ant avidez, o aument aumentee dur durant antee a gr gravidez, aumentoo da inEmboraa a absorção int intes estinal o, err her o aument or ges aumentoo de necessidades. PPor orttant anto, gestta de fferr erroo é incapaz de preenc preencher al. Se es or inadequada, a mãe se es tir ados da reser por esttes serão re retir tirados reservva cor corpor poral. estta ffor orem adminis tr ados suplement os de fferr err o. tornará anêmica se não fforem erro. administr trados suplementos 229 S E Ç Ã O 10 Efeitos não hematológicos na deficiência materna de ferro A anemia é a manifestação tardia de deficiência de ferro. No entanto, todas as células possuem enzimas dependentes de ferro. Portanto, a suplementação de ferro resulta em melhoria, antes mesmo que os níveis de hemoglobina se elevem de forma significativa. Além da anemia, a deficiência de ferro materna pode resultar nos seguintes efeitos não hematológicos. 1 A disfunção na transmissão neuromuscular pode ser responsável pelo aumento das perdas sangüíneas no parto de mulheres anêmicas. 2 Função celular anormal, que pode ser responsável pela associação descrita entre anemia ferropriva e nascimento prematuros. 3 Crescimento fetal diminuído, sugerido pela correlação observada entre anemia ferropriva da mãe, peso da placenta aumentada, e aumento da razão do peso da placenta com o peso no nascimento. 4 Diminuição significativa dos níveis de ferritina em recém nascidos de mães deficientes de ferro, indicativo de estoques de ferro reduzidos no primeiro ano de vida, quando a ingesta é pobre. 5 Anormalidades comportamentais em crianças deficientes de ferro relacionadas a mudanças no cérebro, devido à deficiência de ferro. Sistema de coagulação e de fibrinólise Veja a Seção 2.2: Sangue Durante a gravidez, desenvolve-se um estado de hipercoagulabilidade fisiológica. Há um aumento da ativação plaquetária e dos níveis dos fatores de coagulação, particularmente fibrinogênio, Fator VIII e Fator IX. Além disso, o sistema fibrinolítico está suprimido. O efeito é a proteção da mãe da hemorragia que pode ocorrer durante o trabalho de parto. No entanto, estas mudanças também podem aumentar a suscetibilidade ao tromboembolismo. Perda sangüínea durante o parto Aproximadamente 500 ml de sangue (250 mg de ferro) são perdidos durante o parto normal vaginal de um feto único, e acima de 1000 ml durante a cesárea. Es dido rrar ar ament oduz necessidade tr ansfusional se a Estt e sangue per perdido arament amentee pr produz transfusional hemoglobina es tiver acima de 110,0 0,0 - 111 1,0 g/dl ant es do par estiver antes partto. 230 OBSTETRÍCIA A concentração de hemoglobina deve retornar ao normal cerca de 2 semanas após o parto. Se isto não ocorrer, são necessárias investigações posteriores, mas geralmente devem-se à perda excessiva de sangue, deficiência de ferro, ou combinação de ambos. ATIVIDADE 27 Identifique quaisquer falhas em seu conhecimento e compreensão sobre as mudanças fisiológicas e hematológicas da gravidez que possam afetar sua avaliação e conduta nas pacientes obstétricas. 10.2 Anemia crônica na gravidez A anemia na gravidez, como definida na OMS, é a concentração de hemoglobina menor que 11 g/dl no primeiro e terceiro trimestre. No segundo trimestre, uma queda de 0,5 g/dl relacionada ao aumento de volume plasmático é notada, sendo utilizado um ponto de corte de 10,5 g/dl, como mostra a Figura 10.1. Figura 10.1: Definição de anemia na gravidez Fase da gr avidez gravidez Anemia se menor que (g/dl) Primeiro trimestre 0-12 semanas 11,0 Segundo trimestre 13-28 semanas 10,5 Terceiro trimestre 29 semanas – termo 11,0 Causas de anemia crônica na gravidez A deficiência de ferro, com ou sem deficiência de folato, é a causa mais comum de anemia na gravidez. Lembre-se, contudo, que a mulher grávida pode ter outras causas de anemia ( Figura 3.7 na página 50). Deficiência de ferro A causa mais comum de anemia ferropriva na gravidez é a pouca ingestão na dieta. Infestações por esquistossomose e ancilóstomo podem rapidamente causar anemia ferropriva em indivíduos cuja ingesta seja baixa, e os estoques de ferro do corpo já estejam depletados. Esta é uma situação comum durante a gravidez, devido à demanda extra de ferro. A anemia ferropriva materna é associada a baixo rendimento em testes de desenvolvimento mental e motor na infância. Curtos intervalos entre nascimentos Se não for dada suplementação de ferro, pode-se levar até 2 anos para se readquirir os níveis de ferro pré-gestacionais. Portanto, pequenos intervalos entre gestações podem contribuir para a anemia ferropriva. A suplementação de ferro restaura os estoques de ferro. 231 S E Ç Ã O 10 Deficiência de folato As necessidades de folato aproximadamente dobram durante a gravidez, especialmente no último trimestre, e durante a lactação. Os estoques de folato no corpo são limitados e a ingesta pode ser insuficiente. Conseqüentemente, pode-se desenvolver um quadro anêmico. A deficiência de folato pode ocorrer ao mesmo tempo em que a deficiência de ferro. Considere esta possibilidade, principalmente se a resposta à suplementação de ferro for inadequada (Seção 9.2: Deficiência de Hematínicos). Os suplementos de folato devem ser administrados durante a gravidez para prevenir anemia (5 mg/dia). Isto não deve ser confundido com o uso de folato para reduzir o risco de defeitos do tubo neural em crianças (ex: espinha bífida). Para esta indicação, a futura mãe deve tomar folato antes do momento da concepção. Deficiência de vitamina B12 A deficiência de vitamina B12 ocorre devido à má-absorção ou deficiência na dieta (Seção 9.2: Deficiência de Hematínicos). A deficiência na dieta é rara e deve ser suspeitada nas seguintes circunstâncias. Pacientes que não aceitem alimentação com qualquer proteína animal (vegetarianos). Pacientes de populações cuja dieta contenha pouca ou nenhuma proteína animal. Infecção por HIV Se o paciente tiver anemia associada a leucopenia, linfadenopatia e candidíase oral considerar a possibilidade de infecção pelo HIV. Malária A hemólise que ocorre na malária é uma causa importante de anemia grave na gravidez. Quando se suspeitar de malária na mulher gestante, o diagnóstico e o tratamento precoce são essenciais para minimizar os riscos de morbidade e mortalidade materna, e as necessidades transfusionais (Figura 9.11 na página 195). A cloroquina, quinidina, e a combinação sulfadoxina-pirimetamina são consideradas seguras nos três trimestres da gestação. No entanto, a malária falciparum resistente a cloroquina está disseminada, e a resistente a múltiplas drogas também pode ocorrer em diversos países. É essencial o conhecimento sobre as resistências locais para adequar o tratamento. Algumas drogas (mefloquina, halofantrina e derivados artemisínicos) estão freqüentemente contra-indicados no primeiro trimestre da gravidez, devido à ansiedade relacionada ao seu uso. A mefloquina deve ser evitada no segundo e terceiro trimestre, a menos que não haja alternativa. Há poucos estudos sobre o uso de artesunatos e outras artemisinas nas gravidez. No entanto, seu uso é justificado em pacientes com falha de tratamento, ou desenvolvimento de malária grave. 232 OBSTETRÍCIA Anemia falciforme A anemia é geralmente grave, e pode ser exacerbada pelo seqüestro agudo de hemácias falcizadas no baço ou, de forma mais comum, por crises aplásticas que ocorrem com a diminuição da produção medular durante infecções. A deficiência de folato é comum na anemia falciforme, devido ao aumento na produção de hemácias. Como o corpo não excreta o ferro e o reutiliza, a deficiência de ferro em falcêmicos não é mais comum que na população geral. A prevenção ou o tratamento precoce de infecções, como as de trato urinário, e a administração de folatos são importantes no tratamento da anemia falciforme durante a gravidez. A mulher gestante deve ser orientada a evitar altas altitudes, quando possível, de maneira a promover adequada oxigenação. Veja a Seção 9.8: Distúrbios congênitos da hemoglobina. Para o estudo de anemia falciforme em neonatos, veja a Seção 11.3: Transfusão Pediátrica em Situações Clínicas Especiais. Avaliação de anemia crônica na gravidez Quando a anemia for detectada, torna-se importante determinar a causa, e avaliar sua gravidade, incluindo qualquer evidência de descompensação clínica (veja Figura 9.2 na página 177 e Figura 10.2). Figura 10.2: Avaliação clínica da anemia na gravidez HIS TÓRIA HISTÓRIA Sint omas não específ icos de anemia Sintomas específicos Cansaço/perda de energia Fraqueza Dificuldade de respiração Edema no tornozelo Cefaléia Piora de sintomas pré-existentes, por exemplo: angina His tória e sint omas relacionados História sintomas à doença História nutricional de deficiência Intervalo curto entre partos História prévia de anemia ament ant avidez Sangr Sangrament amentoo dur durant antee a gr gravidez atual (veja Figura 9.2) EXAME FÍSICO Sinais de anemia e descompensação clínica Pele e mucosas pálidas (palmas, leito ungueal) Respiração rápida Taquicardia Aumento da pressão jugular venosa Sopro cardíaco Edema de tornozelo Hipotensão postural Alteração do estado mental Sinais da doença desencadeant desencadeantee (veja Figura9.2) Evidência de sangr ament sangrament amentoo 233 S E Ç Ã O 10 A avaliação deve ser baseada nos seguintes itens: História clínica do paciente Exame físico Investigações laboratoriais para determinar a causa específica da anemia: por exemplo, vitamina B12 sérica, folato ou ferritina. Investigações laboratoriais Veja a Seção 9.1: Anemias nas investigações laboratoriais na anemia crônica. Prevenção e tratamento da anemia crônica na gravidez A prevalência da anemia, e as necessidades transfusionais durante a gravidez podem ser reduzidas por: Prevenção e tratamento das anemias nutricionais Cuidados pré-natais adequados Prevenção da anemia nutricional na gravidez As seguintes medidas são de particular importância na prevenção de anemia nutricional na mulher grávida. 1 Educação sobre nutrição, preparação de alimentos, e amamentação, com ênfase nos efeitos sobre o feto e o recém nascido. 2 Cuidados adequados para a mãe e filho. 3 Acesso a informações sobre planejamento familiar, educação e serviços. Fontes na dieta de ferro A deficiência de ferro se deve principalmente à nutrição inadequada. Há dois tipos de ferro na dieta: Ferro hêmico, contido nos alimentos de origem animal, como carne, peixe e frango, com boa absorção. Ferro não hêmico, contido em vegetais como cereais, tubérculos, folhas, sendo pouco absorvido. A absorção do ferro não hêmico necessita da presença de vitamina C, ou alimentos de origem animal na dieta (carne, peixe, frango). A adição de apenas 50 mg de vit amina C na ref eição pode dobr ar a quantidade vitamina refeição dobrar de fferr err vido. Es avés de uma lar anja, erroo absor absorvido. Estta quantidade pode ser obtida atr através laranja, 120 g de mamão ou manga, ou 1100 00 g de repolho cru. A administração profilática de elementos hematínicos A administração profilática de hematínicos está indicada principalmente durante a gravidez em países onde seja comum a ocorrência de deficiência de ferro ou folato (veja Seção 9.2: Deficiência de Hematínicos). 234 OBSTETRÍCIA A dose ótima diária para prevenir anemia em gestantes é: 120 mg de ferro elementar: por exemplo, 200 mg de sulfato ferroso 500 µg de folato. Uma combinação adequada de comprimidos a ser administrados duas vezes ao dia, deve conter 60 mg de ferro elementar e 250 µg de folato. Quando isto não for disponível, comprimidos como sulfato ferroso, contendo 60 mg de ferro elementar devem ser administrados duas vezes ao dia junto a um comprimido de ácido fólico (1 mg). Tratamento da anemia na gestante Quando a anemia já estiver presente, especialmente se for grave, doses terapêuticas mais altas de ferro devem ser administradas: 180 mg de ferro elementar 2 mg de folato O tratamento com ferro deve ser continuado por pelo menos dois a três meses, para repor os estoques de ferro para cerca de 200-300 mg, equivalente a uma ferritina sérica de 30 µg/L. ATIVIDADE 28 Reveja a Seção 3: Anemia. Quais os fatores que podem causar anemia durante a gravidez? Reveja as anotações sobre os últimos 25 pacientes obstétricos do seu serviço. Observe os níveis de hemoglobina durante a evolução da gravidez. Quantos tiveram sua hemoglobina avaliada durante o último trimestre? Quantos eram anêmicos? Em quantos foi prescrito ferro? Seus achados indicam cuidados adequados nas gestantes durante a gravidez? Se não, converse com seus superiores sobre as medidas que possam ser tomadas para melhorar os cuidados das gestantes. Transfusão É importante lembrar que a transfusão no paciente anêmico não tratará a causa da anemia, ou corrigirá os efeitos não hematológicos da deficiência de ferro, como a disfunção da transmissão neuromuscular, ou os estoques fetais de ferro, até que as células transfundidas liberem o seu conteúdo de ferro ao fim de sua meia-vida. Portanto, é essencial investigar as causas dessa anemia, para prevenir a necessidade de futuras transfusões. A tr ansfusão não tr at transfusão trat ataa a causa da anemia. A tr ansfusão não corrige os ef eit os não hemat ológicos da def iciência de transfusão efeit eitos hematológicos deficiência ferr o. erro. 235 S E Ç Ã O 10 A decisão de transfundir sangue não deve ser baseada somente na concentração de hemoglobina, mas sim nas suas necessidades clínicas, incluindo: Fase da gravidez Condição clínica As indicações de transfusão na anemia crônica na gravidez são amplas, divididas em três grupos: Duração da gestação menor que 36 semanas Duração da gravidez com mais de 36 semanas Cesárea eletiva A figura 10.3 na página 237 mostra um exemplo de um manual de transfusão na anemia crônica em gestantes num país em desenvolvimento. Manuais locais devem ser desenvolvidos, refletindo a disponibilidade e a segurança do sangue e outros fatores locais. ATIVIDADE 29 Há manuais disponíveis em seu serviço sobre a avaliação e tratamento da anemia crônica na gravidez? São precisos e abrangentes? São utilizados rotineiramente pelo pessoal que realiza os cuidados pré-natais? Se não houver manuais ou você acreditar que os existentes possam ser melhorados, prepare uma resumo e discuta com seus colegas. Uma vez que estas sugestões tenham sido acatadas, organize uma sessão educacional para toda a equipe envolvida nos cuidados pré-natais. Verifique se os manuais estão sendo utilizados corretamente, e faça avaliações regulares. Organize sessões futuras que possam ser necessárias, e mantenha a monitorização da prática. 10.3 Hemorragia obstétrica maior A perda sangüínea é uma das principais causas de mortalidade materna. Pode ocorrer devido a sangramento excessivo no sítio placentário, trauma no trato genital e estruturas adjacentes, ou ambos. O aumento da paridade aumenta o risco de hemorragias obstétricas. O reconhecimento imediato, e o tratamento correto das hemorragias obstétricas reduz a mortalidade materna na gravidez. A hemorr agia obs tétrica maior pode ser def inida como qualquer per da hemorragia obstétrica definida perda sangüínea que ocorr ocorraa no período peripar peripartto, aparent aparentee ou não, que possa causar risco de vida. 236 OBSTETRÍCIA Figura 10.3: Exemplos de manuais de indicação transfusional em anemias crônicas na gravidez EXEMPL OS DE MANU AIS TRANSFUSION AIS PPARA ARA ANEMIA EXEMPLOS MANUAIS TRANSFUSIONAIS CRÔNIC AN A GRA VIDEZ CRÔNICA NA GRAVIDEZ Dur ação da gr avidez menor que 36 semanas Duração gravidez 1 Hemoglobina igual ou menor que 5,0 g/dl, sem qualquer sinal de falência cardíaca ou hipóxia. 2 Hemoglobina entre 5,0 e 7,0 g/dl na presença das seguintes condições: Falência cardíaca estabelecida ou incipiente ou evidência clínica de hipóxia Pneumonia ou outra infecção bacteriana grave Malária Doença cardíaca pré-existente, não relacionada à causa da anemia. Dur ação da gr avidez maior que 36 semanas Duração gravidez 1 Hemoglobina igual ou menor que 6,0 g/dl. 2 Hemoglobina entre 6,0 e 8,0 g/dl na presença das seguintes condições: Falência cardíaca estabelecida ou incipiente Pneumonia ou outra infecção bacteriana grave Malária Doença cardíaca pré-existente, não relacionada à causa da anemia. Cesárea ele tiv eletiv tivaa Quando está planejada uma cesárea eletiva e há história de: Hemorragia antes do parto Hemorragia pós-parto Cesárea prévia 1 Hemoglobina entre 8,0 e 10,0 g/dl: realizar tipagem sangüínea e pesquisa de anticorpos irregulares. 2 Hemoglobina menor que 8,0 g/dl: duas unidades compatibilizadas devem estar disponíveis. Not a: ota: Estas normas são simples exemplos. Indicações específicas para transfusão em casos de anemia crônica na gravidez devem ser desenvolvidas a nível local. A hemorragia obstétrica maior pode provocar sinais claros de choque hipovolêmico, como mostra a Figura 10.4. No entanto, devido às mudanças fisiológicas que ocorrem durante a gravidez, a mulher pode demonstrar poucos sinais de hipovolemia, mesmo que ela tenha perdido um considerável volume de sangue. Ela pode sofrer colapso súbito, a menos que o volume sangüíneo seja restaurado rapidamente. 237 S E Ç Ã O 10 Figura 10.4: Sinais de hipovolemia em hemorragia obstétrica maior Sinais de hipo volemia hipovolemia Taquipnéia Sede Hipotensão Taquicardia Aumento do tempo de preenchimento capilar Diminuição do débito urinário Diminuição do nível de consciência Portanto, é essencial monitorar e investigar o paciente com hemorragia obstétrica, mesmo na ausência de sinais de choque hipovolêmico, e a equipe deve estar pronta e preparada para ressuscitação, se necessário. Causas de hemorragias obstétricas maiores Hemorragias sérias podem ocorrer em qualquer período da gravidez e do puerpério. A Figura 10.5 na página 239 mostra diversas situações clínicas nas quais há risco de sangramento agudo. Tratamento de hemorragia obstétrica maior O sangramento obstétrico pode ser imprevisível e maciço. A ttermo, ermo, o fflux lux oximadament e, 700 ml por luxoo sangüíneo par paraa a placent placentaa é de, apr aproximadament oximadamente, dido em 5 a 110 0 minut o. O volume int eir eiroo de sangue do pacient pacientee pode ser per perdido minuto. inteir minut os. Mesmo com a contr ação adequada do miométrio no sítio placentário, minutos. contração er ceir tágio do par a per da sangüínea rápida continuará, mesmo com o tter erceir ceiroo es estágio partto perda comple completto. A vida do paciente pode depender de uma rápida resposta da equipe obstétrica. Cada unidade obstétrica deve possuir um protocolo atual para incidentes com sangramento maior e toda a equipe deve estar treinada para isto. É essencial realizar as medidas imediatas para identificar: Qualquer causa de hemorragia anteparto Presença de atonia uterina Produtos da concepção retidos Laceração de trato genital. A Seção 13.2: Avaliação Inicial e Ressuscitação fornece um guia para ressuscitação inicial durante a perda sangüínea aguda. A figura 10.6 na página 240 mostra um manual mais específico para tratamento de hemorragia obstétrica maior. Recuperação de sangue intra-operatório A recuperação de sangue intra-operatório pode salvar vidas na condução da gravidez ectópica, onde o sangue está limpo. Veja a Seção 12.4: Transfusão Autóloga. 238 OBSTETRÍCIA Figura 10.5: Causas de perda sangüínea aguda em pacientes obstétricos Per da ffeetal na gr avidez, que pode result ar em erda gravidez, resultar Gr avidez ectópica rrot ot Gravidez otaa Hemorr agia pré-par Hemorragia pré-partto, que pode ser causada por por:: Lesões tr aumáticas, inclusive traumáticas, Aborto incompleto Aborto séptico Tubária Abdominal Placenta prévia Descolamento prematuro da placenta Ruptura uterina Vasa previa Hemorragia cervical ou vaginal Episiotomia Laceração de períneo ou vagina Laceração de cérvix Ruptura uterina Hemorr agia primária pós-par agia ex cedendo 500 ml do tr at al dentr 4 hor as após o Hemorragia pós-partto (HPP): hemorr hemorragia excedendo trat atoo genit genital dentroo de 224 horas par partto Atonia uterina Retenção de produtos da concepção Lesões traumáticas Anormalidades aderentes da placenta: placenta acreta Distúrbios da coagulação Inversão uterina aguda Hemorr agia secundária pós-par agia do tr at al, depois de 224 4 hor as e dentr Hemorragia pós-partto: qualquer hemorr hemorragia trat atoo genit genital, horas dentroo de 6 semanas partto após o par Sepsis puerperal Retenção de produtos da concepção Lesão tecidual após obstrução do parto (que pode envolver a cérvix, vagina, bexiga ou reto) Laceração da incisão uterina após parto cesariano Coagulação intr av ascular disseminada (CIVD) induzida por intrav avascular por:: Morte intra-uterina Embolia do líquido amniótico Sepsis Pré-eclâmpsia Descolamento prematuro da placenta Retenção de produtos de concepção Aborto induzido Sangramento excessivo Degeneração hepática gordurosa aguda 239 S E Ç Ã O 10 Figura 10.6: Guia para tratamento de emergência em hemorragia obstétrica maior RESSUSCIT AÇÃO RESSUSCITAÇÃO 1 Administre altas concentrações de oxigênio. 2 Abaixe a cabeça e eleve as pernas. 3 Estabeleça um acesso intravenoso com uma cânula de duas vias (14G ou 16G). 4 Infunda soluções cristalóides ou colóides tão rápido quanto possível. Restaurar a normovolemia é prioridade. 5 Informe o banco de sangue que se trata de uma emergência. Administre sangue O RhD negativo ou grupo específico não compatibilizado, até que a compatibilização esteja completa. Em áreas onde existam poucas mulheres RhD negativa, utilize sangue do grupo O. 6 Utilize aparelhos pressurizados de infusão e aquecimento, se possível. 7 Peça ajuda de equipe auxiliar: Obstetra sênior Anestesista sênior Instrumentadores em curto espaço de tempo. Enfermeiras Alertar o hematologista (se houver disponível) Assegurar que os assistentes estejam disponíveis MONIT ORAR / INVES TIG AR MONITORAR INVESTIG TIGAR PARE O SSANGRAMENT ANGRAMENT O ANGRAMENTO 1 Envie amostra ao banco de sangue para compatibilizar sangue, se necessário, mas não espere por sangue compatibilizado se houver uma hemorragia grave. 1 Identifique a causa 2 Peça hemograma completo 3 Peça coagulograma completo 4 Monitore continuamente o pulso e a pressão sangüínea 5 Insira catéter urinário e meça o débito a cada hora 6 Monitore a freqüência respiratória 7 Monitore o nível de consciência 8 Monitore o tempo de preenchimento capilar 9 Insira um acesso central, se disponível e monitore a PVC. 10 Monitore continuamente a hemoglobina ou hematócrito 2 Examine a cérvix e a vagina para lacerações 3 Se houver produtos retidos da concepção e sangramento incontrolável, trate como CIVD (veja Figura 10.9) 4 Se o útero for hipotônico e atônico: Certifique-se que a bexiga esteja vazia Dê ocitocina, 20 unidades Dê ergometrina EV, 0,5 mg Infusão de ocitocina (40 unidades em 500 ml) Friccione o fundo uterino para estimular uma contração Compressão bimanual do útero (veja a Figura 10.7) Se persistir o sangramento, dê uma injeção intramuscular profunda, ou intramiometrial de prostaglandina (p. ex. Carboprost 250 mg) diretamente no útero (dilua 1 ampola em 10 ml de salina estéril) 5 Considerar a cirurgia mais cedo do que tardiamente 6 Considerar a histerectomia mais cedo do que tardiamente 240 OBSTETRÍCIA Com pressão bi-manual do út er o Compressão úter ero Os dedos de uma mão pressionam o fórnix anterior, como mostra figura 10.7. Se uma boa pressão não for obtida quando a vagina estiver frouxa, pode ser inserido o punho inteiro. Figura 10.7: Compressão Bi-manual do útero ATIVIDADE 30 Há manuais disponíveis em seu serviço sobre o tratamento de hemorragia obstétrica maior? São precisos e abrangentes? São utilizados sistematicamente por toda a equipe envolvida nos cuidados obstétricos? As drogas necessárias estão disponíveis, ou são de difícil acesso? Se não houver manuais ou você acreditar que os atuais possam ser melhorados, encontre outras cópias disponíveis. Se não houver outros disponíveis, prepare alguns resumos e discuta com seus superiores. Uma vez que estas sugestões sejam acatadas, organize uma sessão educacional para toda a equipe obstétrica. Monitore se os manuais estão sendo utilizados corretamente e providencie as sessões educacionais futuras que possam ser necessárias. Coagulação intravascular disseminada A coagulação intravascular disseminada (CIVD) é uma causa de hemorragia obstétrica maciça. Pode se desencadeada a partir das seguintes condições: placenta abrupta, morte intra-uterina, eclâmpsia, embolismo por fluido amniótico e diversas outras causas (Figura 10.5). O quadro clínico varia de uma grande hemorragia, com ou sem complicações trombóticas a um estado clinicamente estável que pode ser detectado somente por testes laboratoriais ( Figura 10.8). CIVD é sempre secundária a uma causa-base. Portanto, o tratamento deve ser direcionado à causa precipitante. A reposição com produtos sangüíneos está indicada quando houver sangramento na CIVD aguda. O objetivo é controlar o sangramento. A Figura 10.9 sumariza o tratamento da CIVD. 241 S E Ç Ã O 10 Figura 10.8: Testes laboratoriais para CIVD TES TES LABORA TORIAIS TESTES LABORAT Contagem plaquetária Tempo de protrombina (TP ou INR) Tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) Tempo de trombina (TT); particularmente útil para estabelecer a presença ou não de CIVD Fibrinogênio: concentração normal ao nascimento deve ser de 4 a 6 g/L Produtos de degradação da fibrina (PDF) Se os testes laboratoriais forem disponíveis, mostrarão: Redução dos fatores de coagulação (todos os testes estarão prolongados) Baixo fibrinogênio e produtos de degradação da fibrina Baixa contagem plaquetária: < 50 x 103 / mm3 Hemácias fragmentadas no esfregaço sangüíneo. Se estes testes não forem disponíveis, pode-se utilizar o seguinte teste para detectar CIVD. 1 Colha 2 a 3 ml de sangue venoso num tubo de vidro ( 10X75 mm) 2 Aqueça o tubo em suas mãos (temperatura ambiente) 3 Depois de 4 minutos, verifique com movimentos suaves se houve formação de coágulos. Depois, faça esta verificação a cada minuto, até que o tubo possa ser virado ao contrário. O coágulo normalmente se forma entre 4 a 11 minutos mas, na CIVD, o sangue permanece fluido até 15 a 20 minutos. Se houver suspeit ve re dar o tr at ament suspeitaa de CIVD, não se de deve rettar ardar trat atament amentoo enquant enquantoo se aguar da os result ados dos ttes es aguarda resultados esttes de coagulação. Sepsis puerperal e HIV A epidemia de HIV tem causado um aumento considerável na incidência de sepsis que ocorre 1 a 2 semanas após o parto normal e cesárea. Atualmente, a laparotomia para peritonite puerperal é uma cirurgia comum em diversos países em desenvolvimento. Embora não sejam hemorrágicos, estes pacientes invariavelmente são anêmicos e sépticos, portanto, a transfusão sangüínea está indicada freqüentemente. 242 OBSTETRÍCIA Figura 10.9: Guia para tratamento de CIVD TRA O DE CO AGULAÇÃO INTRA AD A TRATTAMENT AMENTO COA INTRAVVASCULAR DISSEMIN DISSEMINAD ADA 1 Tratar a causa (Figura 10.5) Expelir feto e placenta Curetar útero, como indicado para tecido necrótico ou retido 2 Administrar estimulantes uterinos para promover a contração: ocitocina, ergometrina e/ou prostaglandina. 3 Utilizar componentes sangüíneos para auxiliar o controle da hemorragia. Em muitos casos de perda sangüínea aguda, o desenvolvimento de CIVD pode ser prevenido se o volume sangüíneo for restaurado com soluções salinas balanceadas: Ringer lactato ou Solução de Hartmann. Se houver necessidade para perfusão de oxigênio, administre o sangue to tal ou concentrado de hemácias mais fresco que você possuir no estoque. 4 Evite o uso de crioprecipitado e concentrado de plaquetas, a menos que o sangramento seja incontrolável. Se o sangramento não for controlado, e os testes laboratoriais mostrarem diminuição das plaquetas, fibrinogênio, prolongamento do TP ou TTTPA, reponha os fatores de coagulação e as plaquetas com: Crioprecipitado: pelo menos 15 unidades, preparadas a partir de doações simples, contendo 3 a 4 g de fibrinogênio no total. Se não houver disponibilidade de crioprecipitado, administre: Plasma fresco congelado (15 ml/kg): 1 unidade a cada 4 a 6 unidades de concentrado de hemácias, de maneira a prevenir alterações da coagulação resultantes do uso de concentrado de hemácias estocadas. Se houver trombocitopenia, administre: Concentrados de plaquetas: raramente é necessário para o controle obstétrico de hemorragia na CIVD em mulheres com produção prévia de plaquetas normal. Se nenhum destes componentes sangüíneos estiver disponível, administre o sangue total mais fresco que você possuir na geladeira (ideal não mais que 36 horas). 5 Administre antibióticos de amplo espectro, para cobrir patógenos aeróbios e anaeróbios. 10.4 Doença Hemolítica do Recém Nascido (DHRN) Para o tratamento do feto veja Seção 11.6: Transfusão Neonatal. Os eritrócitos fetais podem entrar na circulação materna durante a gestação. No entanto, sob circunstâncias normais, o sangramento materno-fetal ocorre principalmente durante a separação da placenta durante o parto. Se a mãe não possuir antígenos sangüíneos iguais aos paternos que estejam 243 S E Ç Ã O 10 presentes nos eritrócitos fetais, ela pode produzir anticorpos IgG contra estes antígenos. Estes antígenos podem atravessar a placenta e destruir os eritrócitos, especialmente nas futuras gestações. Anticorpos maternos contra eritrócitos fetais também podem ser derivados de uma transfusão sangüínea prévia. Somente afetarão o feto se suas células apresentarem este antígeno eritrocitário. A Doença Hemolítica do Recém Nascido devido à incompatibilidade ABO não acomete o feto no útero, mas é uma causa importante de icterícia neonatal. Maiores detalhes serão discutidos na Seção 11.6: Transfusão Neonatal. A Doença Hemolítica do Recém Nascido devido à incompatibilidade Rh D é uma causa importante de anemia fetal grave em países com proporção significativa de indivíduos Rh D negativos. As mães Rh D negativas desenvolvem anticorpos anti-Rh D (dos eritrócitos fetais), principalmente quando ambos são do mesmo tipo ABO. Os eritrócitos fetais são hemolisados, provocando uma grave anemia. O feto pode morrer no útero, ou nascer com grave anemia, edema e icterícia. Danos neurológicos após o nascimento podem ser causados por uma elevação rápida na concentração de bilirrubinas, a menos que isto seja corrigido através de exsangüíneo-transfusão. Uma equipe de especialistas é necessária para os cuidados pré-natais e ao nascimento, tanto da grávida, como do feto. A DHRN devido a outros antígenos sangüíneos também pode ocorrer, particularmente no caso de anti-c e anti-K. Estes dois anticorpos, junto com o anti-D, podem ser causa de anemia grave intra-uterina, necessitando de transfusões fetais. Triagem na gravidez Deve ser determinada a tipagem ABO e Rh D de todas as gestantes no primeiro atendimento pré-natal, e o soro da mãe também deve ser pesquisado quanto à presença de anticorpos IgG eritrocitários que possam causar DHRN ou outros problemas transfusionais. Anticorpos eritrocitários Se não forem detectados anticorpos no primeiro atendimento pré-natal, a gestante deve realizar nova avaliação entre a 28º e 30º semana de gestação. Se forem detectados anticorpos, devem ser monitorados freqüentemente os seus níveis durante a gravidez. Se houver elevação dos níveis, pode ser um indicativo de desenvolvimento de DHRN, embora isto não confirme o grupo sangüíneo do feto, nem a gravidade da hemólise. Bilirrubinas no líquido amniótico O nível de bilirrubinas no líquido amniótico se apresenta como uma avaliação indireta da gravidade da hemólise fetal. 244 OBSTETRÍCIA Ultra-sonografia A ultra-sonografia pode mostrar indicações físicas do desenvolvimento de anemia antes da hidrópsia fetal. Amostra de sangue fetal Se houver técnicas disponíveis, uma amostra de sangue fetal pode, nos casos de dúvidas, identificar diretamente o grupo sangüíneo e a concentração de hemoglobina. A transfusão intra-uterina (via cordão umbilical) pode ser administrada para corrigir a anemia. Prevenção de Doença Hemolítica Rh D A prevenção da Doença Hemolítica do Recém Nascido é baseada no uso de imunoglobulina anti-Rh D em mulheres Rh D negativas. A imunoglobulina anti-Rh D previne a sensibilização e a produção de anticorpos em mães Rh D negativas que tiveram contato com eritrócitos Rh D positivos. As medidas de prevenção incluem: Administração no pós-parto de imunoglobulina anti-Rh D nas mulheres Rh D negativas que deram à luz recém nascidos Rh D positivos. Administração de imunoglobulinas anti-Rh D durante a gestação, se ocorrerem acidentes ou procedimentos. Profilaxia pré-natal rotineira. Profilaxia pós-parto A medida mais comum de prevenção da DHRN Rh D é a profilaxia pósparto. A imunoglobulina anti-Rh D é administrada na dose de 500 mg/IM a mães Rh D negativas, até 72 horas pós parto de um feto Rh D positivo. A dose de 500 mg fornece proteção a cerca de 4 ml de eritrócitos fetais. Se o teste de Kleihauer, ou outro realizado, demonstrar que há mais de 4 ml de eritrócitos fetais na circulação materna, deve ser realizado um reforço de 125 mg para cada 1 ml de eritrócitos fetais. Profilaxia seletiva Se ocorrerem eventos sensibilizantes ( Figura 10.10) durante a gestação, deve ser administrada 250 mg de imunoglobulina anti-Rh D nas gestações até 20 semanas, e 500 mg para as gestações acima de 20 semanas. Profilaxia pré-natal Ainda que não sejam detectadas hemorragias materno-fetais durante a gravidez, ainda há risco de sensibilização. Por esta razão, alguns países recomendam que toda gestante Rh D negativa deva receber profilaxia antiRh D rotineiramente. 245 S E Ç Ã O 10 Figura 10.10: Profilaxia seletiva PR OFILAXIA SELETIV A DURANTE A GRA VIDEZ PROFILAXIA SELETIVA GRAVIDEZ Procedimentos durante a gravidez: — Amniocentese — Cordocentese Amostra do vilo coriônico Aborto incompleto Aborto (especialmente nos casos terapêuticos) Hemorragia anteparto (placenta prévia, descolamento prematuro de placenta) Trauma abdominal Versão cefálica externa Óbito fetal Gravidez múltipla Cesárea Gravidez ectópica Há duas opções que parecem ser igualmente efetivas no esquema intramuscular: 1 500 mg entre a 28º e 30º semana. 2 Uma dose maior mais tardia: 1200 mg no início do terceiro trimestre. Transfusão intra-uterina Se houver detecção de anticorpos precocemente na gravidez, e se houver disponibilidade, encaminhar a paciente para um centro de referência. ATIVIDADE 31 Qual é o protocolo local para gestantes com anti-Rh D ou outro anticorpos? São utilizados rotineira e adequadamente? A imunoglobulina Rh D está disponível em sua unidade obstétrica? Se você acreditar que os procedimentos utilizados sejam inadequados ou inefetivos, converse com a equipe e identifique maneiras de melhorar o seguimento. Desenvolva um novo protocolo junto à equipe que trabalhe com cuidados pré-natais, e forneça treinamento para assegurar o seguimento dos novos protocolos. 246 11 Pediatria e neonatologia Pontos chave 1 A pre venção e o tr at ament tância vit al na prevenção trat atament amentoo precoce da anemia são de impor importância vital es tr atégia de redução das necessidades tr ansfusionais em crianças. tratégia transfusionais estr 2 Se ocorrer hipóxia, mesmo com uma respos respostta compensatória normal, há o. Se a criança continuar necessidade de cuidados de supor imediato. suportte imediat tável, uma tr ansfusão pode ser necessária. clinicament clinicamentee ins instável, transfusão 3 A decisão de tr ansfundir não de ve ser baseada soment transfundir deve somentee no nível de hemoglobina, mas ttambém ambém numa av aliação cuidadosa das condições avaliação clínicas da criança. 4 Nos pacient es com risco de sobrecar ga cir culatória, a tr ansfusão de pacientes sobrecarga circulatória, transfusão concentr ado de hemácias é pref erível em relação ao sangue ttot ot al. Se possível concentrado preferível otal. de ve-se utilizar bolsas de sangue pediátricas par deve-se paraa diminuir a exposição a doadores múltiplos. 5 Em algumas condições, ttais ais como hemoglobinopatias (anemia ffalcif alcif orme e alciforme talassemia) tr ansfusões eritr ocitárias repe tidas podem es t ar indicadas. transfusões eritrocitárias repetidas est 6 Há poucas indicações par ansfusão de plasma fresco congelado. O uso paraa tr transfusão inapr opriado e inef ansmitir HIV e hepatit e, de vendo ser eevit vit ado. inapropriado inefeetivo pode tr transmitir hepatite, devendo vitado. 247 S E Ç Ã O 11 Introdução A incidência de anemia grave entre crianças mais novas varia em todo o mundo. Em áreas onde haja prevalência de deficiências nutricionais, malária, infecções helmínticas e hemoglobinopatias, as crianças possuem maior chance de desenvolver anemia grave. Conseqüentemente, transfusões sangüíneas são mais comuns em crianças nessas áreas. Estudos nos hospitais do Oeste e Leste da África mostraram que as crianças recebem 45 a 60% de todas as transfusões sangüíneas, e mais de 30% das admissões pediátricas são para tratamento de anemia grave. Em muitas áreas, a prevalência de infecções transmissíveis por transfusão, tais como HIV, hepatite e Doença de Chagas, é alta entre os doadores de sangue. O uso freqüente de transfusões sangüíneas nessas regiões tem feito da transfusão um modo de disseminação da infecção HIV em crianças. Um estudo realizado na África um ano após a implementação do teste de HIV indica que 25% das infecções por HIV em crianças ainda são atribuídas à transfusão sangüínea. O uso apropriado de sangue seguro, com qualidade assegurada, é uma importante maneira de reduzir a transmissão de HIV e outros agentes infecciosos. Esta seção focaliza principalmente a anemia em crianças. Veja a Seção 3: Anemia e a Seção 9: Medicina Geral como material auxiliar. Também veja a Seção 12: Cirurgia e Anestesia e a Seção 13: Trauma e Cirurgia de Urgência para um guia de cirurgia, trauma e perda sangüínea aguda. Objetivos do estudo Quando completar esta seção, você deverá estar apto a: 1 Identificar as principais causas de anemia em crianças na sua área. 2 Selecionar os testes diagnósticos importantes daqueles que estejam disponíveis, e o conhecimento de quando e como podem auxiliar na avaliação da anemia em crianças. 3 Reconhecer os sinais clínicos da resposta compensatória normal à anemia crônica em crianças, e os sinais de descompensação que possam tornar a transfusão necessária. 4 Reconhecer as indicações clínicas para transfusão, e quando prescrevê-la. 5 Sugerir maneiras de melhorar o uso de produtos sangüíneos para pacientes pediátricos em seu hospital ou clínica. 248 PEDIATRIA E NEONATO LOGIA 11.1 Anemia pediátrica A anemia em crianças é definida como a redução da concentração de hemoglobina, ou volume eritrocitário, abaixo dos valores normais de crianças saudáveis. Os valores normais de hemoglobina e hematócrito diferem de acordo com a idade da criança. A concentração de hemoglobina em crianças nascidas a termo é aproximadamente 18,0 g/dl. Todas as crianças possuem uma diminuição normal fisiológica da hemoglobina durante os três primeiros meses de vida. A média de concentração de hemoglobina em crianças saudáveis de 3 meses aos 6 anos é de 11,0 a 12,0 g/dl. Dos 7 aos 13 anos, é de 13,0 g/dl. Os níveis de hemoglobina em crianças saudáveis acima de 14 anos devem ser os mesmos que dos adultos. De acordo com o critério da OMS, as crianças são consideradas anêmicas se a sua concentração de hemoglobina estiver abaixo dos níveis mostrados na figura 11.1. Figura 11.1: Critério para anemia em crianças Idade Sangue de cordão (nascimento) Dia 1 (neonato) 1 mês 3 meses 6 meses – 6 anos 7 a 13 anos > 14 anos Concentr ação de hemoglobina (g/dl) Concentração 16,5 18,0 14,0 11,0 12,0 13,0 mesma do adulto, conforme sexo Causas de anemia em crianças A anemia por si só não é um diagnóstico, mas o efeito de diversas condições patológicas. Uma criança com anemia pode ser afetada por uma ou mais causas, como mostra a Figura 11.2. Cada uma deve ser tratada. aves. A maioria das Crianças muit muitoo no novvas são de maior risco par paraa anemias gr graves. tr ansfusões pediátricas são adminis tr adas a crianças com menos de 3 anos. transfusões administr tradas Is ve a uma combinação de ffat at ores que ocorre dur ant ase de Istto se de deve atores durant antee a ffase cresciment tá em expansão: crescimentoo rápido, quando o volume sangüíneo es está err Die Diettas pobres em fferr erroo ecção crônica ou recorrent Inf Infecção recorrentee vido à malária Episódios hemolíticos de devido Uma criança com anemia grave com outra patologia, como infecção aguda, possui um risco alto de mortalidade. Assim como o tratamento da anemia, 249 S E Ç Ã O 11 é importante verificar e tratar outras condições como diarréias, pneumonia e malária. Figura 11.2: Causas de anemia em crianças CAUS AS DE ANEMIAS EM CRIANÇAS USAS Diminuição da pr odução normal de eritrócit os produção eritrócitos Deficiências nutricionais devido a ingesta ou absorção insuficiente (ferro, folato, vitamina B12) Infecção por HIV Doença crônica ou inflamatória Envenenamento Doença renal crônica Neoplasia (leucemia, invasão de medula óssea) Aument truição de eritrócit os Aumentoo da des destruição eritrócitos Malária Hemoglobinopatias (anemia falciforme, talassemia) Deficiência de G6PD Incompatibilidade ABO e Rh D no recém nascido Doenças auto-imunes Esferocitose Per da de eritrócit os erda eritrócitos Infecção por ancilóstomo Trauma agudo Cirurgia Coleta de amostras de sangue repetidas (particularmente em crianças hospitalizadas) Deficiências nutricionais Mesmo quando grave o suficiente para causar anemia, as deficiências nutricionais geralmente não causam uma necessidade transfusional. No entanto, podem afetar a capacidade da criança em responder ou compensar uma posterior redução na concentração da hemoglobina, como por exemplo, devido a uma hemorragia ou hemólise aguda. Anemia ferropriva A def iciência de fferr err odo o mundo. deficiência erroo é a causa mais impor importtant antee de anemia em ttodo Es tima-se que 50% das crianças dos países em desenvolviment Estima-se desenvolvimentoo possuam anemia fferr err opriv a. erropriv opriva. A anemia ferropriva é ainda mais alta em diversos países em desenvolvimento. O leite materno contém a quantidade ideal de nutrientes para a criança, e a amamentação é uma das medidas mais importantes que assegure que a criança permaneça saudável. 250 PEDIATRIA E NEONATO LOGIA Até os 4 a 6 meses de vida, o leite materno pode ser a única refeição ou líquido que a criança necessite. Bebês que forem amamentados por mais de 4 a 6 meses necessitam de outros alimentos que contenham ferro e vitamina C, como purê de vegetais cozidos e frutas cruas. Uma alternativa é a suplementação dietética com fórmulas fortificadas com ferro e alimentos infantis, que fornecem 1 mg/ kg/ dia de ferro elementar. O alto custo limita o uso destes produtos em algumas áreas. Embora os alimentos locais freqüentemente possam prover níveis necessários de ferro, a terapia de complementação de ferro deve ser considerada no tratamento de crianças com anemia, mesmo se uma outra causa primária (como a malária ou infecção helmíntica) for identificada. A anemia ferropriva pode ser tratada efetivamente com o uso de sulfato ferroso, 15 mg/ kg/ dia (equivalente a 3 mg/ kg/ dia de ferro elementar). Deve ser continuado por três meses, ou pelo menos um mês após a normalização do nível de hemoglobina. Injeções com ferro não resultam numa resposta mais rápida ou superior à do ferro administrado oralmente. As preparações de ferro com outras vitaminas ou suplementos aumenta o custo do tratamento, e a sua eficácia não foi comprovada. É importante reavaliar o nível de hemoglobina da criança após o tratamento, para verificar se a terapia foi eficaz. Outras deficiências nutricionais A ingestão inadequada de folato, vitamina B12, vitamina C e vitamina A também pode contribuir para o quadro de anemia na criança. Geralmente, as deficiências nutricionais são causadas por dietas inadequadas, freqüentemente pioradas por infecções como diarréia, que podem comprometer a absorção dos nutrientes no futuro. Quando a anemia pode ter múltiplas causas, e uma deficiência nutricional específica não pode ser diagnosticada, a criança deve ser tratada para as causas mais comuns de anemia em seu ambiente. Estão indicados testes terapêuticos com ferro, folato e vitamina B12, ou a combinação destes. A resposta hematológica da criança (hemoglobina, hematócrito e contagem de reticulócitos) deve ser monitorada. Infecções que causem anemia Malária Em áreas endêmicas, a malária é uma causa impor ave em importtant antee de anemia gr grave crianças. A malária causa aumento da destruição de eritrócitos, e as crianças mais novas que ainda não desenvolveram imunidade ao parasita são de maior risco. Além disso, o uso continuado de cloroquina nas áreas com alta prevalência de P. falciparum resistente à cloroquina pode resultar em parasitemia persistente, e aumento do risco de anemia grave. 251 S E Ç Ã O 11 O reconhecimento precoce, e o tratamento da infecção e qualquer complicação associada, pode fazer a diferença, uma vez que a morte pode ocorrer em 48 horas. A figura 9.11 na página 195 sumariza o tratamento clínico da malária, incluindo a indicação para transfusão. O regime de tratamento deve ser feito de acordo com os padrões locais de resistência. Outras doenças infecciosas Infecção bacteriana ou viral crônica ou recorrente podem levar a uma diminuição na produção de eritrócitos. Helmintos e outras infecções parasitárias, como a ancilostomose, podem aumentar a perda sangüínea. A infecção por HIV está associada a anemia, neutropenia, trombocitopenia e pancitopenia. O tratamento do HIV com zidovudine (AZT) também pode ser causa de anemia. Tratá-la como anemia ferropriva. Prevenção de anemia em crianças As medidas mais efetivas e custo-efetivas de prevenção da mortalidade associada a anemias e o uso de transfusões sangüíneas para prevenir anemia grave são: Detecção precoce da anemia Tratamento efetivo e profilaxia das causas subjacentes da anemia Monitorização clínica da criança com anemia leve e moderada. As estratégias para prevenir a anemia incluem: 1 Prevenção da deficiência de ferro na gravidez, através da suplementação rotineira com comprimidos orais de ferro. 2 Educação materna em todas as visitas para a mãe e o feto, incluindo: Higiene (sanitários, lavagem das mãos, uso de água filtrada ou fervida) Nutrição (alimentos ricos em ácido ascórbico e ferro) Uso de mosquiteiros (particularmente impregnados com inseticidas) Prevenção e tratamento de doenças febris. 3 Verificação da hemoglobina/hematócrito nos atendimentos clínicos, principalmente quando se suspeitar de malária. 4 Identificação precoce da anemia, e início do tratamento efetivo. 5 Fortificação dos alimentos com ferro. 6 Tratamento rápido e efetivo da malária a nível de cuidados primários, e medidas da comunidade, como controle de malária. 252 PEDIATRIA E NEONATO LOGIA ATIVIDADE 32 Quais programas de prevenção da anemia grave em criança existem em sua localidade? São efetivos? Identifique as pessoas que possam ser envolvidas no planejamento de novas estratégias para prevenção da anemia, e discuta como podem ser melhoradas. 11.2 O tratamento de anemias em crianças Avaliação clínica A avaliação clínica do grau da anemia deve ser apoiada por uma determinação confiável da hemoglobina ou hematócrito. Investigações laboratoriais Um método rápido, barato e de fácil reprodução para pesquisar anemia em crianças atendidas ambulatorialmente é fundamental. Os testes diagnósticos simples mostrados na Figura 11.3 podem auxiliar no diagnóstico da causa da anemia. Veja também a Seção 9.1: Anemia. Figura 11.3: Investigação laboratorial de casos de anemias em crianças Tes at orial estte labor laborat atorial Pr opósit Propósit opósitoo Concentração de hemoglobina ou hematócrito Diagnóstico de presença de anemia, e resposta ao tratamento Esfregaço sangüíneo Diagnóstico de malária, e ajuda na determinação do tipo de anemia Protoparasitológico Avaliar a presença de parasitas Contagem de reticulócitos Aumento dos níveis de reticulócitos sugere anemia hemolítica ATIVIDADE 33 Estudo de caso Um menino de 2 anos de idade acaba de ser admitido na enfermaria de seu serviço, vindo do ambulatório com diagnóstico de anemia. Como o departamento ambulatorial estava muito ocupado, o paciente foi admitido sem qualquer exame laboratorial. 1 O que a história familiar e médica pode elucidar? 2 Quais os elementos do exame físico que devem ser observados? 3 Quais as causas de anemia são prevalentes nessa localidade que necessitem de investigação? 253 S E Ç Ã O 11 Tratamento da anemia em crianças Anemia compensada O corpo normalmente compensa a anemia crônica pelos mecanismos descritos na Seção 3: Anemia. Nas crianças, assim como nos adultos, baixos níveis de hemoglobina freqüentemente são tolerados com pouca ou nenhuma sintomatologia, principalmente se a anemia se desenvolve em semanas ou meses. O tratamento de uma criança estável clinicamente com anemia compensada requer: 1 Tratamento de suporte 2 Monitorização de descompensação clínica ou piora da anemia 3 Tratamento da causa-base da anemia 4 Reconhecimento, investigação e tratamento de outras doenças e febre. A Figura 11.4 mostra os sinais vitais normais a cada idade. Figura 11.4: Sinais vitais normais conforme a idade Idade RN (termo) 1-11 m 1-5 anos 6-10 anos 11-15 anos > 16 anos Freqüência respiratória Normal 40 ± 15 31 ± 8 25 ± 4 21 ± 3 19 ± 3 17 ± 3 Freqüência cardíaca no repouso Normal 70-190 120-160 110-130 90-110 80-110 75-95 Média 125 80 80 70 60 55 ATIVIDADE 34 Estudo de caso ( continuação) A mãe leva a criança à clínica, devido a uma história de febre e diarréia há 2 dias. Você encontra ao exame físico os seguintes achados: Paciente está alerta e sem doença aparente Conjuntiva e palmas pálidas Freqüência cardíaca: 150 Freqüência respiratória: 30 Pressão sangüínea: 90/60 Temperatura: 38,6ºC Preenchimento capilar ativo Sem roncos, batimentos de asa do nariz, ou tiragem intercostal Sem cianose Fígado não palpável Mucosas desidratadas. 1 Quais investigações você necessita? 2 O que faria depois? 254 PEDIATRIA E NEONATO LOGIA Anemia descompensada Muitos fatores podem precipitar a descompensação de uma criança anêmica e produzir uma hipóxia tecidual com risco de vida. A Figura 11.5 sumariza os sinais clínicos, e as possíveis causas de descompensação. Figura 11.5: Sinais clínicos de anemia compensada e descompensada em crianças Anemia compensada Uma criança com anemia compensada pode ter: Aumento na freqüência respiratória Aumento na freqüência cardíaca Mas também estará: Alerta Capaz de beber e amamentar Normal, respiração calma, sem movimento abdominal Movimento torácico mínimo T Causas de descompensação Aumento da necessidade de oxigênio: Infecção Dor Febre Exercício Redução adicional na oferta de oxigênio: Perda sangüínea aguda Pneumonia T Anemia descompensada Sinais precoces Respiração difícil e rápida, com retração intercostal, subcostal e supraesternal (distúrbio respiratório) Aumento do uso da musculatura abdominal durante a respiração Batimento da asa do nariz Dificuldade de alimentação Sinais de descompensação aguda Expiração forçada (roncos) / distúrbio respiratório Alterações no estado mental Diminuição dos pulsos periféricos Falência cardíaca congestiva Hepatomegalia Perfusão periférica ruim (preenchimento capilar maior que 2 segundos) Uma criança com esses sinais clínicos necessita de tratamento urgente, com alto risco de vida, devido à insuficiente capacidade de transporte de oxigênio. 255 S E Ç Ã O 11 O tratamento de suporte imediato é necessário se a criança estiver gravemente anêmica com: Distúrbio respiratório Dificuldade na alimentação Insuficiência cardíaca congestiva Alterações no estado mental As crianças gravemente anêmicas, ao contrário do que se acredita, raramente evoluem para insuficiência cardíaca congestiva, e a dispnéia se deve à acidose. Quanto mais doente a criança, mais rapidamente serão necessárias transfusões sangüíneas. A Figura 11.6 sumariza o tratamento da anemia grave em crianças descompensadas. Figura 11.6: Manejo da anemia (grave descompensada) em crianças TRA O DE SUPOR TE TRATTAMENT AMENTO SUPORTE 1 Posicione a criança e vias aéreas para melhorar a ventilação: p.ex. sentada 2 Forneça alta concentração de oxigênio para aumentar a oxigenação 3 Colete amostras sangüíneas para testes de compatibilidade, estimativa de hemoglobina e outros testes importantes 4 Controle a temperatura ou febre de maneira a reduzir a demanda de oxigênio: Esfriamento com compressas molhadas Uso de antipiréticos: paracetamol. 5 Trate a sobrecarga volumétrica e insuficiência cardíaca com diuréticos: p. ex. furosemida, 2 mg/kg por via oral, ou 1mg/kg intravenoso com dose máxima de 20 mg/24 horas A dose pode ser repetida se os sinais de insuficiência cardíaca persistirem. 6 Tratar a infecção bacteriana aguda ou malária REA REAVVALIAÇÃO 1 Reavalie antes de administrar sangue, pois a criança geralmente se estabiliza com diuréticos, posicionamento e oxigênio 2 Avalie clinicamente a necessidade de se aumentar a capacidade de transporte de oxigênio. 3 Verifique a concentração de hemoglobina, para determinar a gravidade da anemia Transfusão Estudos prospectivos de anemias graves em crianças na África mostram que a transfusão somente estava associada ao aumento na sobrevida de crianças com Hb abaixo de 5-6 g/dl e sinais clínicos de comprometimento cardíaco ou respiratório. 256 PEDIATRIA E NEONATO LOGIA A despeito da transfusão, crianças com anemia crônica grave possuem alto risco de óbito. Num estudo com crianças hospitalizadas no Quênia, 30% das crianças com hemoglobina abaixo de 5,0 g/dl faleceram em até 2 meses da hospitalização. A decisão de se tr ansfundir não de ve ser baseada soment ação de transfundir deve somentee na concentr concentração hemoglobina, mas ttambém ambém na av aliação cuidadosa das condições clínicas da avaliação criança. A necessidade de transfusão deve ser analisada com grande cuidado em cada criança, levando-se em conta a concentração de hemoglobina e as condições clínicas. Tanto a avaliação clínica e laboratorial são essenciais. Uma criança com anemia moderada e pneumonia tem mais necessidade de aumentar a capacidade de transporte de oxigênio que uma criança com menor concentração de hemoglobina, porém estável. Se a criança estiver estável, monitorada e tratada efetivamente para outras condições, tais como infecção aguda, a oxigenação pode melhorar sem a necessidade de transfusão. A Figura 11.7 mostra as situações nas quais a transfusão geralmente é indicada para crianças com anemia grave (descompensada). Figura 11.7: Indicações de transfusão para crianças com anemia grave (descompensada) INDIC AÇÕES DE TRANSFUSÃO INDICAÇÕES 1 Concentração de hemoglobina menor ou igual a 4 g/dl (ou hematócrito de 12%), qualquer que seja a condição clínica do paciente. 2 Concentração de hemoglobina de 4- 6g/dl (hematócrito 13-18%), se houver as seguintes condições clínicas: Sinais clínicos de hipóxia: — Acidose (geralmente causando dispnéia) — Perda da consciência Hiperparasitemia (>20%). A Figura 11.8 mostra os procedimentos nas transfusões pediátricas. ATIVIDADE 35 Estudo de caso (continuação) A enfermeira procura você às 2:00 horas, pela dificuldade respiratória no paciente. Você vai avaliar e encontra uma criança com: Respiração difícil Freqüência cardíaca: 190 bpm Temperatura: 40ºC Preenchimento capilar: 2 segundos Fígado: 3 cm abaixo do rebordo costal Concentração de hemoglobina: 4.8 g/dl Estertores em ambos os pulmões. 257 S E Ç Ã O 11 Figura 11.8: Procedimento para transfusão pediátrica. PR OCEDIMENT O TRANSFUSION AL PROCEDIMENT OCEDIMENTO TRANSFUSIONAL 1 Se for necessária a transfusão, administre sangue de maneira que a criança fique clinicamente estável. 5 ml/kg de hemácias, ou 10 ml/kg de sangue total geralmente são suficientes para aliviar de forma rápida a diminuição da capacidade de transporte de oxigênio. Isto aumentará a concentração de hemoglobina aproximadamente 2 a 3 g/dl, a não ser que haja continuação do sangramento e da hemólise. 2 Utilize bolsas pediátricas para controlar o volume e a velocidade de infusão (Figuras 11.9 e 11.10). 3 Embora a infusão rápida de fluidos aumente o risco de sobrecarga volêmica e insuficiência cardíaca, administre os primeiros 5 ml/kg de hemácias para aliviar os sinais agudos de hipóxia tecidual. O restante da transfusão deve ser administrado lentamente: 5 ml/kg de hemácias acima de 1 hora. 4 Administrar furosemida 1 mg/kg, ou 0.5 mg/kg através de injeção lenta EV, numa dose máxima de 20 mg/kg se o paciente estiver predisposto a desenvolver insuficiência cardíaca e edema pulmonar. Não injete o medicamento na bolsa de sangue. 5 Monitore os seguintes sinais durante a transfusão: Insuficiência cardíaca Febre Distúrbio respiratório Taquipnéia Hipotensão Reações transfusionais agudas Choque Hemólise (icterícia, hepatoesplenomegalia) Sangramento devido à CIVD. 6 Reavaliar a hemoglobina ou hematócrito do paciente, e a condição clínica depois da transfusão. 7 Se o paciente ainda estiver anêmico, com sinais clínicos de hipóxia ou nível crítico de hemoglobina, administre uma segunda transfusão de 5 a 10 ml/kg de hemácias, ou 10 a 15 ml/kg de sangue total. PREC AUÇÃO PRECA 1 O volume de fluido na transfusão de sangue total pode precipitar ou piorar a insuficiência cardíaca. 5 ml/kg de hemácias fornecem a mesma capacidade de transporte que 10 ml/kg de sangue total e contêm menos proteína plasmática e fluido para sobrecarga circulatória. Uma transfusão de eritrócitos é preferível ao sangue total no paciente com risco de sobrecarga volêmica. 2 Reduza o nível de contaminação bacteriana Nunca reutilize a bolsa de sangue que já tenha sido aberta Mantenha a bolsa de sangue entre 2º a 6ºC antes da transfusão Complete a transfusão dentro de 4 horas de seu início Nunca inicie a transfusão de uma bolsa que tenha sido retirada do refrigerador há mais de 30 minutos. 258 PEDIATRIA E NEONATO LOGIA 1 O que pode ter descompensado este paciente? 2 O que você faria após a avaliação? Quatro horas mais tarde, a transfusão está ocorrendo, o paciente parece mais confortável, e os sinais vitais estão estabilizados, exceto uma pequena taquicardia. É tarde, você está muito cansado e querendo dormir. A enfermeira conta que não administrou a transfusão sangüínea e que não se sente confortável para monitorar a transfusão sem instruções. 3 Como você a orientaria para observações durante a transfusão? 4 Quais as condições para que ela imediatamente o contate? Mais tarde, o paciente está parecendo muito melhor: Perfusão: boa Conjuntiva: rósea Sinais vitais: estáveis Temperatura: 38ºC Dois episódios diarréicos desde a manhã. 5 Você necessita de outros testes diagnósticos? Quais? Procedimentos especiais durante a transfusão pediátrica e neonatal As crianças necessitam de pequenas transfusões e, quando possível, equipamentos especialmente desenhados e doses apropriadas devem ser providenciados e utilizados. Nunca reutilize uma unidade adulta de sangue para um segundo paciente pediátrico, devido ao risco de bactérias entrarem na bolsa durante a primeira transfusão e proliferarem-se enquanto o sangue estiver fora do refrigerador. Bolsas de sangue pediátricas Como o total de sangue transfundido a cada episódio é pequeno, uma unidade de sangue pode ser dividida em diversas bolsas satélites menores, com aproximadamente 50 a 100 ml, permitindo desta maneira, que sejam administradas múltiplas transfusões a partir de uma única doação. Este método pode auxiliar a reduzir o risco de infecção, uma vez que o paciente recebe diversas transfusões de um único doador. O plasma fresco congelado também pode ser preparado em bolsas satélites pediátricas com o mesmo benefício. A Figura 11.9 mostra um exemplo de bolsa pediátrica. Equipos de infusão Crianças menores necessitam de pequenos volumes de fluidos, e podem sofrer facilmente de sobrecarga circulatória, se a infusão não for bem controlada. 259 S E Ç Ã O 11 Figura 11.9: Bolsa de sangue pediátrica Se possível, utilize o equipo de infusão próprio para controlar melhor a velocidade e o volume infundido. Dois exemplos são mostrados na Figura 11.10. Figura 11.10: Exemplos de equipos de infusão pediátricos Após a fase aguda Deve-se continuar o tratamento da anemia após a transfusão para auxiliar a recuperação hematológica. O paciente deve utilizar as medicações adequadas para o tratamento da anemia (Seção 9: Medicina Geral). A profilaxia de malária, e a terapia com ferro deve ser considerada uma rotina em áreas nas quais estas condições são comuns. 11.3 Transfusão pediátrica em situações clínicas especiais Anemia falciforme e talassemia Para maiores detalhes, veja a Seção 9.8: Distúrbios Congênitos da Hemoglobina. 260 PEDIATRIA E NEONATO LOGIA Anemia falciforme Crianças com anemia falciforme não desenvolvem seus sintomas até a idade de 6 meses de vida. Nesta idade, a maioria da hemoglobina fetal já foi substituída pela hemoglobina falcêmica (HbS). Não são necessárias transfusões para corrigir os níveis de hemoglobina, pois devido ao desvio da curva de dissociação da hemoglobina para a direita, a afinidade pelo oxigênio é baixa, e a liberação tecidual fica adequada na ausência de crises (veja a Figura 2.12). Depois dos 6 meses, os falcêmicos possuem grandes períodos assintomáticos, pontuados com crises. O principal objetivo do tratamento é prevenir as crises através das medidas mostradas na Figura 11.11. PREVENÇÃO DE CRISES FFAL AL CÊMIC AS ALCÊMIC CÊMICAS 1 Administração por longos períodos de profilaxia contra infecções bacterianas: Penicilina EV Até 1 ano 62,5 mg/dia 1-3 anos 125 mg/dia > 3 anos 250 mg/dia 2 Vacinação contra infecção pneumocócica. 3 Tratamento precoce das infecções. 4 Administração de 1 a 5 mg de ácido fólico ao dia. 5 Manutenção da hidratação por administração de fluidos oral, nasogástrico ou intravenoso durante os episódios de vômitos e diarréia. TRA OD AS CRISES TRATTAMENT AMENTO DAS 1 Manutenção da hidratação com fluidos oral, nasogástrico ou intravenoso. 2 Administração de oxigênio suplementar por máscara para manter oxigenação adequada. 3 Alívio imediato e efetivo da dor. 4 Administração de antibióticos: Sem causa identificada, antibiótico de amplo espectro: por exemplo, amoxacilina 125 – 500 mg/ 3 vezes ao dia Com causa identificada, administração do antibiótico mais específico possível. 5 Transfusão ou exsangüíneo-transfusão. A exsangüíneo-transfusão está indicada no tratamento das crises venooclusivas e priapismo que não responderam à infusão isolada de líquidos (veja Figura 11.16 na página 269 para cálculos). Talassemia A talassemia é um dos problemas mais importantes de saúde pública do Mediterrâneo, Oriente Médio e sudeste da Ásia. É muito difícil manter estas 261 S E Ç Ã O 11 crianças num estado ótimo de saúde e, freqüentemente, o tratamento não está disponível nas áreas onde seja mais necessário. Crianças com talassemia, ao contrário daquelas com anemia falciforme, não podem manter a oxigenação tecidual, e precisam da correção dos níveis de hemoglobina com transfusões regulares. A anemia é resultado mais de eritropoiese inefetiva do que de hemólise. Algumas crianças com a forma menos grave da doença podem sobreviver sem tratamento (Seção 9.8: Distúrbios Congênitos da Hemoglobina), mas possuem uma anemia grave e crônica, com fácies mongolóide e deformidades esqueléticas, devido à expansão da medula óssea. Nas formas mais graves, a sobrevida é prolongada até o final da adolescência, através de transfusões regulares. A restrição ocorre quando houver sobrecarga de ferro derivado das hemácias transfundidas, que provoca problemas endócrinos e hepáticos, podendo evoluir para disfunção cardíaca, uma das maiores causas de morte. A sobrecarga de ferro somente pode ser prevenida através do tratamento regular com agentes quelantes como a desferrioxamina, que é mais eficiente se administrada na forma parenteral (veja página 213, Figura 9.23). Há alguns agentes quelantes orais que ainda não foram comprovados serem tão efetivos quanto a desferrioxamina. Em países desenvolvidos, a estratégia mais comum é a triagem da população e identificação dos casais portadores, associada à opção de se interromper a gestação do feto acometido. É essencial um correto aconselhamento e processo educacional nas populações onde existam altas taxas de portadores e que a doença seja freqüente. Patologias malignas Veja a Seção 9: Medicina Geral. A leucemia e outras patologias malignas podem causar anemia e trombocitopenia. Se uma criança necessitar de múltiplas transfusões durante um longo período, o diagnóstico de patologia maligna deve ser considerado. Um hemograma completo é o primeiro teste laboratorial essencial. O tratamento com quimioterapia freqüentemente causa anemia grave e trombocitopenia. Estas crianças necessitam de transfusões repetidas de concentrado de hemácias e plaquetas por diversas semanas, durante e após o período de quimioterapia, até que a recuperação da medula óssea ocorra. 11.4 Distúrbios de sangramento e coagulação Veja a Seção 9.9: Distúrbios de Sangramento e Transfusão. Distúrbios da hemostasia devem ser suspeitados numa criança com história de problemas de sangramento. Crianças com problemas de coagulação (como a hemofilia) podem sofrer de episódios de sangramento interno nas 262 PEDIATRIA E NEONATO LOGIA articulações e nos músculos, bem como equimoses e hematomas. Crianças com baixa contagem de plaquetas ou defeitos de função plaquetária apresentam mais petéquias múltiplas e pequenas equimoses, e sangramento de mucosas ( boca, nariz, gastrointestinal). Distúrbios congênitos Veja a Seção 9.10: Distúrbios Congênitos de Sangramento e de Coagulação para a Hemofilia A, Hemofilia B e Doença de von Willebrand. Distúrbios adquiridos Deficiência de vitamina K no neonato Uma diminuição transitória dos fatores da coagulação dependentes de vitamina K (II, VII, IX, X) ocorre normalmente entre 48 a 72 horas após o nascimento, com retorno gradual aos níveis normais entre os 7 a 10 dias de vida. A administração profilática de 1 mg de vitamina K lipossolúvel ao nascimento previne a doença hemorrágica do recém nascido a termo, e na maioria dos prematuros. No entanto, a despeito da profilaxia, alguns prematuros e outros recém nascidos a termo podem desenvolver a doença hemorrágica do recém nascido. Filhos de mães que recebam drogas anticonvulsivantes (fenobarbital e fenitoína) apresentam um risco aumentado. Uma criança afetada possui prolongamento do TP e do TTPA, com níveis plaquetários e de fibrinogênio normais. Sangramentos em recém nascidos como resultante de deficiência de fatores de coagulação dependentes de vitamina K devem ser tratados com 1 a 5 mg de vitamina K intravenosa. A transfusão de plasma fresco congelado pode ser necessária para corrigir tendência a sangramentos clinicamente importantes. Um distúrbio mais tardio (uma semana após o nascimento) freqüentemente está associado à má-absorção de vitamina K. Pode ser devido à máabsorção intestinal ou doença hepática. Pode ser tratado com administração de vitamina K solúvel em água, na forma oral. 11.5 Trombocitopenia Uma contagem normal de plaquetas em neonatos é de 80.000 a 450.000/mm3. Depois de uma semana de vida, alcança os níveis do adulto de 150.000 a 400.000/mm3. Contagens inferiores a estes valores são consideradas como trombocitopenia. As causas de trombocitopenia em crianças são mostradas na Figura 11.12. Tratamento da trombocitopenia O paciente com trombocitopenia apresenta sangramento típico com petéquias, hemorragias retinianas, sangramento gengival, e em locais de punção. 263 S E Ç Ã O 11 Figura 11.12: Causas de trombocitopenia em crianças e crianças CAUS AS DE TR OMB OCIT OPENIA USAS TROMB OMBOCIT OCITOPENIA Infecções: rubéola congênita, CMV, toxoplasmose, sífilis, infecção bacteriana neonatal, principalmente sepsis grave. Hipóxia grave Prematuridade ( menos que 1500 g) Induzida por drogas (fenitoína, carbamazepina, sulfonamida, cotrimoxazole, cloranfenicol) Púrpura trombocitopênica idiopática Síndrome hemolítica urêmica Anticorpos maternos atravessando a barreira placentária e agindo contra antígenos plaquetários fetais ( trombocitopenia neonatal alo-imune) Defeitos congênitos na produção ou na função plaquetária O tratamento da trombocitopenia varia de acordo com a causa. A púrpura trombocitopênica idiopática geralmente é auto-limitada, mas pode ser tratada com gamaglobulina e corticosteróides. A transfusão de sangue e de plaquetas pode ser indicada nos casos de hemorragia com risco de vida. No casos de trombocitopenia neonatal, o uso de imunoglobulina pode ser benéfico. Se disponível, a transfusão com plaquetas compatíveis é efetiva (por exemplo: plaquetas lavadas e coletadas da própria mãe). Transfusão de plaquetas em sangramentos devido à trombocitopenia. O objetivo da terapia é controlar ou interromper o sangramento. A resposta clínica é mais importante que a contagem plaquetária. A Figura 11.13 mostra os padrões de dose e administração dos concentrados de plaquetas. Transfusão profilática de plaquetas Muitos clínicos adotam padrões similares à transfusão de adultos nos neonatos. Num paciente estável trombocitopênico, sem evidência de sangramento, a transfusão de plaquetas está indicada quando a contagem estiver menor que 10.000/mm3, valor em que possa ocorrer sangramento espontâneo. Alguns clínicos são favoráveis a um gatilho mais alto, em torno de 20.000/mm3 nos pacientes estáveis. Se o paciente estiver febril ou infectado, um gatilho de 20 a 50.000/mm3 pode ser apropriado. 264 PEDIATRIA Figura 11.13: Guia de transfusão de concentrados de plaquetas em crianças e neonatos E NEONATO LOGIA TRANSFUSÃO DE CONCENTRADO DE PLA QUET AS PLAQUET QUETAS Dose de cada unidade: unidade Concentrados de plaquetas a partir de uma unidade de sangue total um doador (450 ml) contêm cerca de 60 x 109/L de plaquetas Dose < 15 kg 15 a 30 Kg > 30 Kg Volume 1 CP 2 CP 4 CP 30-50 ml 60-100 ml 120-400 ml Concentr ado Concentrado plaquettas de plaque 60 x 109/L 120 x 109/L 240 x 109/L * Para crianças, o banco de sangue pode remover parte do plasma antes da transfusão ADMINIS TRAÇÃO DE CONCENTRADOS DE PLA QUET AS ADMINISTRAÇÃO PLAQUET QUETAS 1 Transfundir imediatamente o concentrado de plaquetas 2 Não manter no refrigerador 3 Utilizar equipo padrão novo para infusão, preenchido com salina. 11.6 Transfusão neonatal Há poucos estudos clínicos que forneçam bases sólidas de evidências para normas clínicas transfusionais em neonatos. No entanto, manuais nacionais têm sido desenvolvidos em diversos países, baseados na prática corrente e opiniões de diversos especialistas. Isto pode auxiliar no desenvolvimento de manuais locais que refletirão os recursos locais e padrões das doenças. Prática das instituições especializadas Atualmente estão disponíveis técnicas para transfusão intra-uterina em unidades neonatais especializadas. A transfusão intravascular de componentes sangüíneos ao feto é possível desde a 18º semana de gestação. Exsangüíneo-transfusões para a Doença Hemolítica do Recém Nascido devido ao Rh D são evitadas com programas de profilaxia efetivos (Seção 10.4: Doença Hemolítica do Recém Nascido). Recém nascidos de peso muito baixo (VLBW) necessitam de terapia para tratamento de complicações da prematuridade. Estas técnicas podem estar disponíveis somente nos centros especializados. Em países desenvolvidos, os recém nascidos em unidades de cuidados especiais são mais propensos a receberem transfusão que outros pacientes. Nestas unidades, a coleta repetida de amostras para testes laboratoriais é uma causa comum de anemia, que requer transfusão de concentrado de hemácias. 265 S E Ç Ã O 11 A figura 11.4 mostra os produtos sangüíneos mais comumente utilizados no tratamento de patologias neonatais. Figura 11.14: Seleção de componentes sangüíneos para transfusão neonatal PR ODUT O PRODUT ODUTO INDIC AÇÃO INDICAÇÃO CUID ADOS ESPECIAIS CUIDADOS Sangue total Exsangüíneo-transfusão Sangue mais fresco disponível (menos de 5 dias da coleta), com pesquisa de anticorpos negativa Hemácias Transfusão para aumentar nível de hemoglobina Pequena dose individual (bolsa pediátrica), para minimizar exposição Componentes celulares processados Transfusão intra-uterina Risco de GVHD pode estar aumentado em prematuro Risco de GVHD maior se o doador for parente Evitar GVHD: Irradiação: 250 Gy Não utilize doação de parente Evitando infecção Infecção ou reativação por CMV do CMV pode complicar o tratamento das crianças doentes. Pode ser transmitido por sangue, ou reativado pela transfusão de leucócitos Utilize doações CMV negativas e/ou Componentes leucodepletados Reposição de fluidos A escolha de fluidos para ressuscitação de crianças com choque séptico, ou de causa desconhecida, ainda não é padronizada através de estudos clínicos. Muitos clínicos preferem o uso de albumina. Se forem utilizadas soluções cristalóides, particularmente na sepsis, necessita-se de cerca de três vezes o volume equivalente de albumina 4,5% (20 ml/kg) para manter a pressão sangüínea. Alguns clínicos consideram que a infusão de grandes volumes de soluções cristalóides causem sobrecarga volêmica, hipercloremia e edema pulmonar. Em contraste, diversos estudos mostram que nem a albumina nem o plasma fresco congelado são superiores aos cristalóides como solução de reposição para corrigir a hiperviscosidade ou policitemia de um neonato saudável. Muitos neonatologistas têm a opinião que a infusão de albumina deva ser utilizada no tratamento de choque séptico de neonatos e, em alguns casos, para corrigir a policitemia. 266 PEDIATRIA kernict erus ernicterus erus: lesão dos gânglios da base cerebral, ocasionada pela bilirrubina lipossolúvel. Ocasiona espasticidade. Pode ser causada pela doença hemolítica do recém nascido. E NEONATO LOGIA Exsangüíneo-transfusão A principal indicação da exsangüíneo-transfusão do neonato é prevenir as complicações neurológicas causadas pelo rápido aumento da concentração kernict erus de bilirrubina indireta (k ernicterus erus). Isto ocorre devido à imaturidade do fígado, que não consegue metabolizar a quebra de produtos da hemoglobina. Geralmente, a causa precipitante é a hemólise (destruição das hemácias), devido a anticorpos existentes nas hemácias do recém nascido. Icterícia A doença hemolítica é a causa clínica mais comum e importante de icterícia neonatal. Em muitos países onde a principal causa de Doença Hemolítica do Recém Nascido é a incompatibilidade Rh D entre a mãe e o feto, a necessidade de exsangüíneo-transfusão diminuiu nos anos recentes, devido às seguintes medidas. 1 Prevenção de Doença Hemolítica do Recém Nascido através da administração de imunoglobulina anti-Rh D à mãe (Seção 10.4: Doença Hemolítica do Recém Nascido). 2 Prevenção do kernicterus nas icterícias menos graves através do uso de fototerapia. Se houver necessidade de exsangüíneo-transfusão, deve-se utilizar sangue O que não contenha o antígeno contra o qual o anticorpo materno é dirigido: Para DHRN devido ao anti-D: utilize O Rh D negativo Para DHRN devido ao anti-c: utilize O Rh D positivo que não possua o antígeno c (R1R1, CDe/CDe). Para maiores informações sobre estes antígenos e anticorpos eritrocitários, veja Sangue e Produtos Sangüíneos Seguros (OMS 1994), em seu Módulo 3. Uma exsangüíneo-transfusão de cerca de duas vezes a volemia do neonato (cerca de 170 ml/kg: Figura 11.15) é a forma mais efetiva de se reduzir os níveis de bilirrubinas, e corrigir o nível de hemoglobina. Isto pode ser obtido através do uso de uma unidade de sangue total. Uma unidade de sangue total normalmente possui um hematócrito de 37 a 45%, o que é mais adequado às necessidades do neonato. A liberação de oxigênio tecidual com a hemoglobina do adulto HbA é mais eficiente que a da hemoglobina própria do feto (HbF). Não há necessidade de ajuste de hematócrito da unidade, mas se o hematócrito estiver acima de 50-60%, há risco de policitemia e complicações, principalmente se o neonato estiver recebendo fototerapia. Figura 11.15: Volume sangüíneo pediátrico estimado Idade Prematuros Recém nascidos a termo > 1 mês > 1 ano Volume sangüíneo ttot ot al otal 100 ml/kg 85 a 90 ml/kg 80 ml/kg 70 ml/kg 267 S E Ç Ã O 11 Guia para exsangüíneo-transfusão neonatal A Figura 11.16 nas páginas 269-270 mostra um guia para cálculos e procedimentos de exsangüíneo-transfusão, precauções, e possíveis complicações. Doença Hemolítica do Recém Nascido devido à incompatibilidade ABO materno-fetal (DHRN ABO) Veja a Seção 10.4: Doença Hemolítica do Recém Nascido. Em diversas partes do mundo, particularmente na América do Sul, África e Ásia, a Doença Hemolítica do Recém Nascido devido à incompatibilidade ABO é a causa mais importante de icterícia neonatal grave, e a indicação mais freqüente de exsangüíneo-transfusão. O diagnóstico de DHRN ABO é geralmente feito em crianças nascidas a termo sem anemia, que desenvolveram icterícia durante as primeiras 24 horas de vida. A incompatibilidade não está presente no útero, e nunca causa hidrópsia. De forma característica, a mãe é do grupo O com anticorpos IgG anti-A ou anti-B que podem atravessar a placenta em direção ao sangue fetal; o grupo sangüíneo fetal é A ou B. O teste direto da antiglobulina geralmente é positivo com reagentes de boa qualidade. O esfregaço sangüíneo mostra aumento no número de esferócitos. O tratamento deve ser iniciado rapidamente nestas crianças, que podem desenvolver icterícia grave o suficiente para evoluir para kernicterus. O neonato deve receber fototerapia e tratamento de suporte. As unidades de sangue para exsangüíneo-transfusão devem ser do grupo O, com baixos títulos de anti-A e anti-B sem lisinas IgG. Uma troca de duas vezes o volume (aproximadamente 170 ml/kg) é mais efetiva na remoção de bilirrubina. Se houver novo aumento de bilirrubinas a níveis perigosos, deve-se realizar posteriormente, uma segunda troca de dois volumes. Hiperbilirrubinemia indireta (não conjugada) A relação entre a elevação dos níveis de bilirrubina indireta e kernicterus em crianças saudáveis é incerta. Crianças saudáveis podem tolerar níveis de bilirrubina sérica de 25 mg/dl. Crianças mais propensas aos efeitos tóxicos da bilirrubina possuem: Acidose Prematuridade Septicemia Hipóxia Hipoglicemia Asfixia Hipotermia Hipoproteinemia Exposição a drogas que dissociem a albumina da bilirrubina Hemólise. O objetivo da terapia é prevenir a concentração de bilirrubina indireta em níveis neurologicamente tóxicos. A Figura 11.17 mostra os níveis máximos de bilirrubina indireta (mg/dl) em crianças pré-termo e a termo. 268 PEDIATRIA E NEONATO LOGIA Figura 11.16: Guia para exsangüíneo-transfusão CÁL CUL O PPARA ARA EXS ANGÜÍNEOTRANSFUSÃO CÁLCUL CULO EXSANGÜÍNEOANGÜÍNEO-TRANSFUSÃO Exsangüíneo-tr ansfusão par cial par at ament emia sint omática Exsangüíneo-transfusão parcial paraa tr trat atament amentoo de policit policitemia sintomática Reposição do volume sangüíneo removido com solução normal de salina ou albumina 5% Volume a ser trocado (ml): Volume sangüíneo estimado x ( Ht do paciente – Ht desejado) Ht do paciente Exsangüíneo-tr ansfusão com tr oca de duas vezes o volume de hemácias par at ament Exsangüíneo-transfusão troca paraa tr trat atament amentoo de crises de anemia falcif orme e hiperbilirrubinemia neonat al alciforme neonatal Reposição do volume sangüíneo calculado com sangue total ou hemácias suspendidas em albumina 5% Volume a ser trocado (ml): Volume sangüíneo estimado x (Ht do paciente (%) x 2) Ht da unidade transfundida(%) * Sangue total Concentrado de hemácias Suspensão de hemácias *Hematócrito 35-45% 55-75% 50-70% PR OCEDIMENT O TRANSFUSION AL PROCEDIMENT OCEDIMENTO TRANSFUSIONAL 1 Não administre nada por via oral durante pelo menos 4 horas depois da exsangüíneo-transfusão. Esvazie o estômago se a criança for amamentada dentro das 4 horas do procedimento. 2 Monitore os sinais vitais, glicose e temperatura rigorosamente. Tenha à mão equipamento de ressuscitação. 3 Para um recém nascido, podem ser utilizados catéteres venosos e umbilicais, inseridos através de técnicas estéreis (o sangue é retirado através do catéter arterial e inserido pelo catéter venoso). De forma alternativa, pode-se utilizar dois acessos venosos periféricos. 4 Somente utilize sangue aquecido se houver disponibilidade de um aquecedor apropriado de sangue. 5 Troque cerca de 15 ml por vez em crianças nascidas a termo e volumes menores para as menores e menos estáveis. Não permita que as células da bolsa do doador se sedimentem. 6 Retire e infunda 2 a 3 ml/kg/min, para evitar trauma mecânico ao paciente e às hemácias do doador. 7 Administre 1 a 2 ml de solução de gluconato de cálcio a 10% lentamente, no caso de alterações no eletrocardiograma e hipocalcemia (prolongamento nos intervalos Q-T). Administre solução de salina normal antes e depois da infusão de cálcio. Observe a bradicardia durante a infusão. 8 Para completar a troca de duas vezes o volume, transfunda 170 ml/kg em recém nascidos a termo, e 170-200 ml em prematuros. 9 Envie a última amostra retirada ao laboratório, para determinação de hemoglobina ou hematócrito, esfregaço sangüíneo, glicose, bilirrubina, potássio, cálcio e tipagem sangüínea. 10 Previna a hipoglicemia depois da exsangüíneo-transfusão por infusão contínua de cristalóide contendo glicose. 269 S E Ç Ã O 11 Figura 11.16: Guia para exsangüíneo-transfusão PREC AUÇÕES PRECA 1 Quando for realizada uma exsangüíneo-transfusão para tratar a Doença Hemolítica do Recém Nascido, as hemácias transfundidas devem ser compatíveis com o soro materno, uma vez que a hemólise é causada pelo anticorpo materno tipo IgG, que atravessa a placenta e destrói as hemácias. Portanto, o sangue deve ser compatibilizado com o soro materno, utilizando-se o método de antiglobulina que detecte anticorpos IgG. 2 Não há necessidade de ajuste do hematócrito no sangue total do doador. COMPLIC AÇÕES D A EXS ANGÜÍNEOTRANSFUSÃO COMPLICAÇÕES DA EXSANGÜÍNEOANGÜÍNEO-TRANSFUSÃO 1 Cardiovascular Tromboembolismo ou embolismo aéreo Trombose de veia porta Disritmias Sobrecarga volumétrica Falência respiratória 2 Distúrbios hidro-eletrolíticos Hipercalemia Hipernatremia Hipocalcemia Hipoglicemia Acidose 3 Hematológicas Trombocitopenia Coagulação intravascular disseminada Heparinização aumentada (pode ser utilizada 1 mg de protamina a cada 100 unidades de heparina da unidade do doador) Reação transfusional 4 Infecção Hepatite HIV Sepsis 5 Mecânicas Lesão às células do doador (especialmente por aquecimento exagerado) Lesão vascular Perda sangüínea 270 PEDIATRIA Figura 11.17: Níveis máximos de bilirrubina sérica indireta (mg/dl) em crianças pré-termo e termo Peso ao nasciment nascimentoo <1000 g 1000-1250 g 1251-1499 g 1500-1999 g >2000 / termo E NEONATO LOGIA Não complicada Complicada 12-13 12-14 14-16 16-20 20-22 10-12 10-12 12-14 15-17 18-20 * O termo complicado se refere à presença de fatores de risco associados ao aumento do risco de kernicterus, listadas acima A Figura 11.18 mostra os principais linhas de tratamento da hiperbilirrubinemia indireta. Figura 11.18: Tratamento de neonatos com hiperbilirrubinemia indireta TRA O DE NEON ATOS COM HIPERBILIRR UBIN A TRATTAMENT AMENTO NEONA HIPERBILIRRUBIN UBINA 1 Tratar condições desencadeantes de hiperbilirrubinemia e fatores que aumentem o risco de kernicterus (sepsis, hipóxia, etc.). 2 Hidratação 3 Iniciar fototerapia quando as bilirrubinas estiverem bem abaixo dos indicados para a exsangüíneo-transfusão. A fototerapia pode ser necessária 6 a 12 horas antes do efeito ser detectado. 4 Monitore níveis de bilirrubinas (Figura 11.17: Concentração máxima de bilirrubina (mg/dl) em prematuros e crianças a termo). 5 Realize exsangüíneo-transfusão quando os níveis de bilirrubina indireta se elevarem ao nível máximo ( Figura 11.16: Cálculos para a exsangüíneotransfusão). 6 Monitore níveis de bilirrubina até que a queda da bilirrubina seja observada na ausência de fototerapia. As exsangüíneo-transfusões são necessárias quando, após a fototerapia, o nível de bilirrubina indireta se aproximar do considerado crítico durante os dois primeiros dias de vida, e quando um aumento posterior for antecipado. A exsangüíneo-transfusão pode não ser necessária após o 4o dia de vida de uma criança a termo e o 7º dia de um pré-termo, quando os mecanismos de conjugação hepática se tornam mais efetivos, e uma queda da bilirrubina pode ser antecipada. Uma exsangüíneo-transfusão deve trocar pelo menos um volume sangüíneo. Ela deve ser repetida se os níveis de bilirrubina não se mantiverem em níveis seguros. Transfusão de concentrado de hemácias A maioria das transfusões são administradas a crianças pré-termo que não estejam evoluindo bem. 271 S E Ç Ã O 11 1 Para repor as amostras de sangue dos testes laboratoriais. 2 Para tratar hipotensão e hipovolemia. 3 Para tratar o efeito combinado da anemia da prematuridade e o sangue perdido nas coletas laboratoriais. Os neonatos não possuem uma efetiva resposta à eritropoetina. Um recém nascido que necessite de uma transfusão sangüínea, provavelmente necessitará de outra em poucos dias. A primeira transfusão irá aumentar a concentração de HbA, deslocando a curva de dissociação do oxigênio para a direita, e diminuindo a afinidade do oxigênio à hemoglobina circulante (Figura 2.12). Isto irá diminuir a produção futura de hemácias, e aumentar o atraso da reativação da eritropoiese. Situações clínicas específicas (neonatais) Neonatos doentes de forma crítica 1 Anote o volume de cada amostra sangüínea retirada. Se houver remoção de 10% do volume sangüíneo em 24 a 48 horas, devese repor com concentrado de hemácias. 2 Estes neonatos doentes podem necessitar de um nível de hemoglobina em torno de 13 a 14 g/dl para garantir a adequada perfusão tecidual. Recém Nascidos de baixo peso convalescentes 1 Medir a hemoglobina em intervalos semanais. O nível de hemoglobina irá diminuir, em média, 1 g/dl por semana. 2 Não transfundir somente com base nos níveis de hemoglobina. Embora um nível de 7 g/dl ou menos necessite de investigação, pode não ser necessária uma transfusão. Neonatos com anemia tardia Pode ser necessário considerar uma transfusão se a anemia estiver relacionada a: 1 Baixo ganho de peso 2 Fadiga ao amamentar 3 Taquipnéia e taquicardia 4 Outros sinais de descompensação. Diminuindo os riscos e aumentando o uso efetivo de transfusões neonatais As medidas seguintes estão relacionadas a um aumento da efetividade e diminuição dos riscos nas transfusões neonatais: 1 Para crianças que necessitem de transfusões de concentrado de hemácias por um período maior (dias ou semanas), selecione 272 PEDIATRIA E NEONATO LOGIA concentrado de hemácias preservados em solução aditiva, e prepare diversas bolsas pediátricas a partir de uma única bolsa de sangue. 2 Para reduzir a perda devido a coletas laboratoriais: Evite repetição de testes de compatibilidade desnecessários Evite exames laboratoriais não essenciais Quando possível, o laboratório deve utilizar micro-métodos, e selecionar amostras em tubos menores adequados. 3 Evitar transfusão de sangue de parentes, devido ao risco aumentado de Doença Enxerto versus Hospedeiro. Eritropoetina recombinante A eritropoetina recombinante é um seguro e efetivo estimulador da produção de eritrócitos, porém é cara. Seu papel no controle da anemia neonatal ainda está sob avaliação. Trombocitopenia neonatal alo-imune A trombocitopenia neonatal alo-imune é uma causa de hemorragia cerebral intra-uterina. Programas de triagem e de prevenção estão sob avaliação. A transfusão de plaquetas lavadas e irradiadas pode auxiliar a criança num período crítico da trombocitopenia. Plasma fresco congelado O plasma possui o mesmo risco do sangue total para transmitir HIV, Hepatite B, Hepatite C e outras infecções transmissíveis por transfusão. Deve ser utilizado somente em indicações clínicas específicas, que tenha provado sua efetividade. Estas indicações são: 1 A correção de tendência de sangramento devido à deficiência de fatores de coagulação, quando não houver a disponibilidade de um produto seguro, com inativação viral. 2 Para infusão ou exsangüíneo-transfusão no tratamento de púrpura trombocitopênica trombótica ou síndrome hemolítica urêmica. Especialistas em neonatologia e pediatria freqüentemente utilizam plasma para diversas outras patologias, porém nenhuma delas teve a sua comprovação a partir de ensaios clínicos. A tr ansfusão inapr opriada e inef em jus tif icativ a. Pr transfusão inapropriada inefeetiv tivaa de plasma não ttem justif tificativ icativa. Proovoca risco de sérias inf ecções tr ansmissíveis por tr ansfusão no pacient e, sem infecções transmissíveis transfusão paciente, of erecer benefícios clínicos. oferecer Policitemia e hiperviscosidade A exsangüíneo-transfusão parcial geralmente é utilizada no tratamento de policitemia sintomática. Os clínicos não concordam sobre quais as crianças estejam mais predispostas a sofrer os efeitos adversos no período neonatal. 273 S E Ç Ã O 11 Há controvérsias sobre a necessidade de se pesquisar todos os recém nascidos nas horas seguintes ao nascimento, e se o tratamento precoce das crianças sintomáticas possui qualquer efeito na incidência de manifestações tardias, tais como coordenação motora e performance intelectual. Um hematócrito venoso central superior a 65% pode ser aceito como um teste de triagem. É recomendado que nas crianças com suspeita de hiperviscosidade, o hematócrito seja medido através de microcentrifugação, uma vez que os testes de viscosidade não estão disponíveis para a maioria dos médicos. Falsos valores baixos de hematócrito podem ser obtidos em analisadores automatizados hematológicos. A fórmula utilizada para calcular o volume sangüíneo a ser substituído é: Volume sangüíneo estimado* x (Ht observado – Ht desejado) Ht observado * Considerando o volume sangüíneo do neonato como sendo 85 ml por kg. O volume trocado em geral, é de cerca de 20 ml por kg. A transfusão deve ser realizada em alíquotas de 10 ml. Abordagem prática sugerida As crianças saudáveis nascidas a termo possuem pouco risco de policitemia e hiperviscosidade, e não precisam ser pesquisadas rotineiramente. Nas crianças identificadas com policitemia, com sintomas leves ou assintomáticas, manter o bebê aquecido e bem hidratado é o melhor meio de prevenção de microtromboses na circulação periférica. Todas as crianças com sintomas significativos devem sofrer exsangüíneo parcial com albumina 4,5%, para diminuir o hematócrito a níveis seguros de 50 a 55%. ATIVIDADE 36 Há manuais disponíveis em seu hospital sobre transfusão neonatal? São abrangentes e precisos? São utilizados sistematicamente por todos os profissionais envolvidos em cuidados neonatais? Se não houver manuais disponíveis, ou você acreditar que os mesmos possam ser melhorados, prepare um resumo, e discuta com seus colegas. Uma vez que tenham sido acordados, organize uma sessão educacional para toda a equipe envolvida em cuidados neonatais. Monitore se os manuais estão sendo utilizados corretamente, e realize verificações regulares. Providencie sessões educacionais posteriores necessárias, e monitore continuamente a prática. 274 12 Cirurgia e anes tesia anestesia Pontos chave 1 A maioria das cirur gias não result da sangüínea suf icient cirurgias resultaa em per perda suficient icientee par paraa tr ansfusão. transfusão. 2 A av aliação cuidadosa e o tr at ament es ant es da cirur gia irão avaliação trat atament amentoo de pacient pacientes antes cirurgia es. De vem incluir reduzir a morbidade e mor morttalidade de pacient pacientes. Devem incluir:: tico, inves tigação e tr at ament Diagnós Diagnóstico, investigação trat atament amentoo de anemia ament túrbios cár dio-respir atórios coexis es Trat atament amentoo e otimização de dis distúrbios cárdio-respir dio-respiratórios coexisttent entes túrbios da coagulação e das plaque atório. De Dettecção de dis distúrbios plaquettas no pré-oper pré-operatório. 3 Rar ament ansfusão pré-oper atória par acilit ar Rarament amentee há indicação do uso de tr transfusão pré-operatória paraa ffacilit acilitar cirur gia ele tiv as. cirurgia eletiv tivas. da sangüínea cirúr gica pode ser reduzida de fforma orma signif icativ avés 4 A per significativ icativaa atr através perda cirúrgica de: gica me ticulosa Técnica cirúr cirúrgica meticulosa Mudança de decúbit decúbitoo asocons trit ores Uso de vvasocons asoconstrit tritores ornique Uso de ttornique orniquettes tésicas Técnicas anes anestésicas ogas antif ibrinolíticas. Uso de dr drogas antifibrinolíticas. 5 Pode-se tter er uma per da cirúr gica rrazoável azoável de sangue de fforma orma segur a, sem a segura, perda cirúrgica necessidade de tr ansfusão, desde que haja reposição de ffluidos luidos par transfusão, paraa se mant er a volemia. manter 6 A tr ansfusão autóloga é uma técnica ef gias ele tiv as e de transfusão efeetiv tivaa nas cirur cirurgias eletiv tivas emer gência par paraa reduzir ou eliminar a necessidade de sangue homólogo. emergência No ent ant o, de ve ser apenas consider ada quando ffor or ant ecipado que a entant anto, deve considerada antecipado cirur gia result ará em per da sangüínea suf icient ar de cirurgia resultará perda suficient icientee par paraa se necessit necessitar tr ansfusão homóloga. transfusão 7 A per da sangüínea e a hipo volemia ainda podem se desenvolver no período perda hipovolemia pós oper atório. A monit orização de sinais vit ais e do sítio cirúr gico são operatório. monitorização vitais cirúrgico essenciais no tr at ament e. trat atament amentoo do pacient paciente. 275 S E Ç Ã O 12 Introdução A prática de transfusões sangüíneas em cirurgias eletivas tem se mostrado muito inconsistente, sendo comum haver uma grande variação no uso de sangue num mesmo procedimento. Estas diferenças não ocorrem somente entre países, mas sim entre hospitais de um mesmo país, e podem ser encontradas entre equipes de um mesmo hospital. Podem ocorrer muitos fatores para contribuir para isto, incluindo: a variação de condições médicas dos pacientes, das técnicas cirúrgicas e anestésicas, atitudes e consensos entre clínicos e pacientes sobre transfusão sangüínea, e diferenças de disponibilidade e custos do sangue. Além disso, freqüentemente é difícil a decisão de transfundir um paciente cirúrgico. Não existe nenhum sinal ou medida, incluindo uma estimativa isolada da hemoglobina, que preveja com acurada eficácia que a oxigenação tecidual esteja se tornando inadequada. Torna-se necessário verificar com cuidado diversos fatores e sinais clínicos, que podem ser mascarados ou atenuados pelo efeito da anestesia geral. Além do mais, as respostas individuais à perda sangüínea variam consideravelmente, freqüentemente como resultado da idade ou doenças cárdio-respiratórias desencadeantes. A maioria das cirurgias eletivas ou planejadas não resulta em perda sangüínea que necessite de uma transfusão sangüínea. No entanto, há alguns procedimentos nos quais se espera uma perda significativa de sangue, e sempre há a possibilidade de perdas sangüíneas não esperadas ocorrerem num ato cirúrgico qualquer. O propósito desta seção é demonstrar como geralmente é possível minimizar de forma segura, o uso de sangue em cirurgias eletivas, ou evitar transfusões sangüíneas. Também fornece um guia de quando a transfusão sangüínea está indicada. Objetivos do estudo Quando completar esta seção, você deverá estar apto a: 1 Avaliar e tratar pacientes com anemia, distúrbios cárdiorespiratórios e de coagulação antes de uma cirurgia eletiva, de maneira a minimizar o risco potencial da cirurgia, e a necessidade de transfusão sangüínea. 2 Aplicar corretamente técnicas para reduzir a perda sangüínea cirúrgica. 3 Avaliar corretamente as necessidades do paciente para fluidos de reposição ou transfusão sangüínea. 4 Utilizar de forma apropriada técnicas de transfusão autóloga de sangue. 5 Manter cuidados apropriados no período pós- operatório. 276 CIRURGIA E ANESTESIA 12.1 Seleção e preparo do paciente Reduzir a morbidade e a mortalidade do paciente é um ponto chave de qualquer prática cirúrgica ou anestésica. A avaliação cuidadosa, e o tratamento de pacientes antes da cirurgia pode assegurar este objetivo. É responsabilidade do cirurgião e do anestesista que avaliou inicialmente o paciente, garantir que o mesmo esteja adequadamente preparado para a cirurgia e anestesia. A comunicação entre o cirurgião e o anestesista é vital antes, durante, e depois da cirurgia. Classificação das cirurgias É comum classificar as cirurgias em maiores e menores, baseadas no tipo de procedimento cirúrgico. No entanto, esta não é uma norma segura, e há diversos outros fatores que podem influenciar sua decisão, conforme a complexidade do caso. Estes estão demonstrados na Figura 12.1. Figura 12.1: Classificação da cirurgia Fat ores que af icação da cirur gia atores afeetam a classif classificação cirurgia Experiência do cirurgião e do anestesista Duração da cirurgia Condição do paciente Técnica anestésica Perda sangüínea antecipada Disponibilidade de retaguarda: assistência sênior, fornecimento de sangue, unidades de recuperação, unidade de terapia intensiva. Anemia e cirurgia O risco de anemia É comum a detecção de anemia nos pacientes que serão submetidos a cirurgias eletivas. Embora os mecanismos compensatórios descritos na Seção 3: Anemia freqüentemente permitam que os pacientes tolerem baixos níveis de hemoglobina, torna-se essencial investigar e tratar a causa da anemia no período anterior à cirurgia eletiva. Há diversas razões clínicas para isto: 1 A presença da anemia por si só não é um diagnóstico, mas sim uma indicação que existe outra patologia desencadeante. Tratar a patologia, ou a anemia associada, irá melhorar as condições do paciente para a cirurgia. 2 As respostas compensatórias à anemia, que normalmente preservam a oxigenação tecidual, podem não ser suficientes para mantê-la durante a cirurgia. Num paciente anêmico, uma redução posterior na capacidade de transportar oxigênio devido a uma perda sangüínea cirúrgica, ou pelo efeito anestésico de depressão cardio-respiratória, pode provocar um importante desequilíbrio na liberação de oxigênio, e conseqüente descompensação. 277 S E Ç Ã O 12 3 Assegurar uma dosagem de hemoglobina adequada no préoperatório irá reduzir a necessidade de transfusões sangüíneas, se houver perda cirúrgica de sangue não esperada. Tratando a anemia As deficiências nutricionais, especialmente de ferro e folato, junto a infestações parasitárias e helmínticas, contribuem de forma significativa na prevalência de anemia na população. Estas e outras causas comuns de anemia são de fácil identificação e tratamento. Além disso, os tratamentos médicos em geral não são caros, e trazem pouco ou nenhum risco ao paciente. A pesquisa e tratamento da anemia deve, portanto, ser um elemento chave na conduta pré-operatória de pacientes cirúrgicos eletivos, mesmo que isto signifique o adiamento da cirurgia até que o nível de hemoglobina esteja normalizado. (Veja a Seção 9, 10 e 11 para guia de tratamento de anemias). Há pouca jus tif icativ ansfusão sangüínea pré-oper atória justif tificativ icativaa par paraa o uso de tr transfusão pré-operatória simplesment acilit ar a cirur gia ele tiv a, a não ser em cir cuns tâncias simplesmentee par paraa ffacilit acilitar cirurgia eletiv tiva, circuns cunstâncias ex cepcionais. excepcionais. Níveis de hemoglobina e cirurgia A análise de qual o nível de hemoglobina seja apropriado para cada cirurgia eletiva deve ser feita de acordo com cada paciente. Deve ser baseada nas condições clínicas do mesmo, e na natureza do procedimento planejado. Diversos médicos aceitam um gatilho de aproximadamente 7-8 g/dl em pacientes saudáveis e compensados para pequenas cirurgias. No entanto, um nível mais alto é necessário nas seguintes condições: 1 Quando há sinais e sintomas de compensação inadequada da anemia, e a oxigenação tecidual for insuficiente, tais como: Evidência de angina Aumento da dispnéia Edema dependente Insuficiência cardíaca franca, como produto de uma diminuição na capacidade de transporte de oxigênio do sangue. 2 Quando o paciente tiver coexistência de doença cardio-respiratória que possa limitar sua capacidade de compensação no caso de redução da oferta de oxigênio, devido à perda sangüínea cirúrgica ou efeito dos anestésicos. Por exemplo: 278 Doença cardíaca isquêmica importante Doença obstrutiva de vias aéreas. CIRURGIA E ANESTESIA 3 Quando estiver planejada uma grande cirurgia, e a perda estimada for maior que 10 ml/kg. A presença de um ou mais fatores em pacientes anêmicos que serão submetidos a cirurgias está relacionada ao aumento de morbidade e mortalidade. Portanto, não é justificável submetê-los a um risco desnecessário de uma cirurgia eletiva, quando for muito mais simples corrigir a anemia no período pré-operatório. Nível de hemoglobina pré-operatório A concentração de hemoglobina adequada deve estar assegurada: 1 Quando não houver compensação adequada da anemia 2 Houver distúrbio cárdio-respiratório coexistente 3 Estimativa de grande cirurgia ou perda sangüínea significativa. Distúrbios cárdio-respiratórios Doenças coexistentes num paciente, especialmente aquelas que afetem os sistemas cardíacos e respiratórios, podem alterar de forma significativa a liberação de oxigênio. O tratamento e otimização destes distúrbios na fase pré-operatória irão: Melhorar a oferta global de oxigênio tecidual Reduzir a necessidade transfusional no momento cirúrgico. Distúrbios de coagulação Distúrbios não diagnosticados e não tratados nos pacientes cirúrgicos podem provocar perda sangüínea excessiva, hemorragia incontrolável e morte do paciente. Os distúrbios de coagulação e das plaquetas podem ser classificados em : Distúrbios adquiridos da coagulação como resultado de doenças ou terapia medicamentosa: por exemplo, doença hepática, disfunção plaquetária induzida por aspirina, coagulação intravascular disseminada Distúrbios de coagulação congênitos, por exemplo: Hemofilia A, Hemofilia B e doença de von Willebrand. Embora o diagnóstico específico necessite de investigação mais detalhada, a história clínica isolada pode alertar o médico para um risco potencial. Portanto, é essencial um inquérito pré-operatório cuidadoso sobre tendências hemorrágicas do paciente e de seus familiares, associado ao uso de medicamentos. Se possível, obtenha uma avaliação de um hematologista antes da cirurgia de todos os pacientes diagnosticados com distúrbio de coagulação. Cirurgia e distúrbios de coagulação adquiridos Algumas vezes, o sangramento na cirurgia, ou logo após, é um problema de difícil avaliação. Pode ser um problema causado pela intervenção 279 S E Ç Ã O 12 cirúrgica, sendo que em alguns casos é necessária uma segunda intervenção. Ou pode ser causado por diversos problemas hemostáticos, sendo que os seguintes são os mais comuns: Transfusão maciça: reposição de perdas maior que 10 ml/kg, levando à diluição dos fatores de coagulação e plaquetas CIVD, que causa: — Trombocitopenia — Hipofibrinogenemia Depois de cirurgias eletivas, geralmente os pacientes são tratados com heparina para reduzir o risco de trombose venosa profunda e embolismo pulmonar. Isto deve ser considerado na análise de pacientes com sangramento pós-cirúrgico. A Figura 12.2 mostra um guia simples de avaliação do sangramento em pacientes cirúrgicos. Veja também a Seção 7: Efeitos Adversos da Transfusão. Figura 12.2: Avaliação do sangramento em pacientes cirúrgicos Sangramento generalizado microvascular? T T Não Sim T T Investigue e corrija uma fonte de sangramento Solicite investigações laboratoriais: Tempo de protrombina (TP) Tempo parcial de tromboplastina ativado (TTPA) Contagem celular esfregaço e morfológico de plaquetas Contagem de plaquetas Tempo de sangria: se testes de coagulação anormais, identifique a deficiência do fator Cirurgias e distúrbios da coagulação congênitas Os distúrbios congênitos da coagulação são discutidos em maiores detalhes na Seção 9: Medicina Geral. Veja a Figura 9.26 na página 219 sobre as medidas profiláticas que possam ser utilizadas nas cirurgias destes pacientes, dependendo da disponibilidade de drogas e produtos sangüíneos. Inicie o tratamento pelo menos 1-2 dias antes da cirurgia, e mantenha por 5-10 dias, dependendo do risco de sangramento no pós-operatório. É essencial uma avaliação no período peri-operatório para detectar sangramentos ocultos. 280 CIRURGIA sangr ament sangrament amentoo micr microovascular cular:: Sangramento de mucosas; em locais de punção que persistem após pressão; contínuo em ferida cirúrgica e em feridas; petéquias generalizadas ou aumento de equimoses. Indicativo de grave falência hemostática. E ANESTESIA Cirurgia e trombocitopenia Diversas patologias podem diminuir a contagem plaquetária. Medidas profiláticas e a disponibilidade de plaquetas para transfusão são uma necessidade neste grupo de pacientes; por exemplo, esplenectomia no paciente com púrpura trombocitopênica idiopática (PTI) (veja a Seção 9). As transfusões plaquetárias devem ser administradas se houver evidências o micr ovascular e contagem plaquetária enclínicas de grave sangrament sangramento micro tre 50.000/mm3 a 100.000/mm3. Cirurgia e paciente anticoagulado Nos pacientes tratados com anticoagulantes (oral ou parenteral), o tipo de cirurgia e o risco trombótico deve ser considerado no planejamento de controle do anticoagulante no pré-operatório. Para a maioria dos procedimentos cirúrgicos, o INR e/ou a razão do TTPA deve ser menor que 2,0 antes do início da cirurgia. A Figura 12.3 mostra um guia de como isto pode ser alcançado. Outras drogas e sangramento Há diversas drogas que interferem na função plaquetária, porém, as mais comuns são aspirina e anti-inflamatórios não hormonais (AINH). A interrupção destas drogas 10 dias antes da operação pode diminuir de forma significativa a perda sangüínea cirúrgica. Atividade 37 Há manuais disponíveis em seu serviço para a avaliação e tratamento de pacientes antes da cirurgia? Estão disponíveis aos clínicos que encaminham o pacientes para cirurgias? São utilizados de forma sistemática por toda a equipe? As drogas necessárias estão disponíveis e são de fácil acesso? Se não houver manuais ou você acreditar que os mesmos possam ser melhorados, encontre outros já produzidos, talvez do Ministério da Saúde, e obtenha uma cópia. Se não houver nenhum disponível, prepare alguns resumos e discuta com seus colegas. Uma vez que as modificações tenham sido acordadas, organize uma sessão educacional para a equipe participante. Monitore se os manuais estão sendo utilizados de forma correta, e providencie as sessões educacionais futuras necessárias. 12.2 Técnicas para redução da perda sangüínea operatória A perda sangüínea cirúrgica pode ser reduzida através das seguintes medidas: Técnica cirúrgica meticulosa Mudança de decúbito 281 S E Ç Ã O 12 Figura 12.3: Preparo de pacientes anticoagulados para cirurgia PACIENTES ANTICO AGULADOS COM W ARF ARIN A ANTICOA WARF ARFARIN ARINA Cirur gia ele tiv Cirurgia eletiv tivaa 1 Interrompa a droga (warfarina) três dias antes do ato cirúrgico e monitore diariamente o INR. 2 Administre heparina EV ou SC quando o INR estiver > 2.0. 3 Interrompa a heparina 6 horas antes da cirurgia. 4 Verifique o INR e o TTPA imediatamente antes da cirurgia 5 Inicie a cirurgia se o INR e a razão TTPA estiver <2.0. 6 Reinicie a warfarina assim que possível no período pós-operatório. 7 Reinicie a heparina ao mesmo tempo, e mantenha até que o INR esteja na faixa terapêutica. Cirur gia de emer gência Cirurgia emergência 1 Administre vitamina K, 0,5 a 2,0 mg através de infusão EV lenta. 2 Administre plasma fresco congelado, 15 ml/kg. Pode ser necessária a repetição para elevar os níveis de fatores de coagulação a uma faixa aceitável. 3 Verifique o INR imediatamente antes da cirurgia. 4 Inicie a cirurgia se o INR ou a razão de TTPA estiver > 2.0. PACIENTES ANTICO AGULADOS COM HEP ARIN A ANTICOA HEPARIN ARINA Cirur gia ele tiv Cirurgia eletiv tivaa 1 Interrompa a heparina 6 horas antes do ato cirúrgico. 2 Verifique o TTPA imediatamente antes da cirurgia. 3 Inicie a cirurgia se o TTPA estiver < 2.0. 4 Reinicie a heparina assim que possível no período pós-operatório. Cirur gia de emer gência Cirurgia emergência Considere a reversão com sulfato de protamina EV. A dose de 1 mg de protamina neutraliza 100 UI de heparina. PACIENTES RECEBENDO BAIXAS DOSES DE HEP ARIN A HEPARIN ARINA Raramente é necessário interromper o uso de injeções de heparina em baixas doses, utilizada na prevenção de trombose venosa profunda e embolismo pulmonar antes da cirurgia. 282 CIRURGIA Uso de vasoconstritores Uso de torniquetes Técnicas anestésicas Uso de drogas antifibrinolíticas. E ANESTESIA Técnicas cirúrgicas O treinamento, a experiência e os cuidados na cirurgia são os fatores mais cruciais na redução de perda sangüínea cirúrgica. A importância da técnica cirúrgica, a atenção meticulosa a pontos sangrantes, o uso apropriado de diatermia, se disponível, e o uso de hemostáticos, por exemplo colágeno, feltro, ou bolsas aquecidas, não pode ser exagerado. Decúbito O posicionamento do paciente de maneira a garantir uma adequada drenagem venosa no local a ser operado pode, além de reduzir a perda sangüínea venosa, melhorar as condições cirúrgicas. O nível do local a ser operado deve estar abaixo do nível cardíaco. A posição de Trendelemburg (cabeça para baixo) é a mais apropriada para procedimentos abdominais, pélvicos e nas pernas. Para cirurgias de cabeça e pescoço, a postura de elevação da cabeça deve ser adotada. Se um grande vaso abaixo do nível do coração for aberto durante a cirurgia, há risco potencial de entrada de ar na circulação, causando embolismo aéreo. Esta complicação é rara, e pode ser evitada através de uma cirurgia meticulosa. No entanto, você deve ter isto em mente ao realizar mudanças de decúbito no paciente. Vasoconstritores A infiltração na pele de vasoconstritores no local cirúrgico pode auxiliar a diminuir o sangramento da pele na incisão. Além disso, se o vasoconstritor também contiver anestésico locais, pode-se esperar contribuição na analgesia pós-operatória com esta técnica. O sangramento dos locais de retirada de enxertos de pele, áreas deslocadas e excisões tangenciais, pode ser reduzido através da aplicação direta de swabs embebidos em solução salina contendo vasoconstritor. O vasoconstritor mais utilizado e efetivo é a catecolamina adrenalina (epinefrina), embora diversas outras preparações estejam disponíveis. Não se deve exceder a dose total de 0,1 mg de adrenalina num adulto, equivalente a 20 ml de uma solução de 1/200.000 ou 40 ml de 1/400.000. Devido às ações sistêmicas dos vasoconstritores e dos anestésicos locais, não se deve exceder as doses recomendadas, e garantir que estas drogas permaneçam no local de incisão e não sejam injetadas na circulação. De todos os agentes anestésicos inalatórios, o halotano é o que mais causa disritmias cardíacas quando um vasoconstritor for utilizado. 283 S E Ç Ã O 12 Os vasoconstritores não devem ser utilizados em áreas onde ocorra término de artérias, tais como dedos, pés e pênis. Torniquetes Quando a cirurgia for realizada em extremidades, a perda sangüínea pode ser reduzida de forma considerável com a aplicação de torniquete. Para obter maior efeito e ter um campo cirúrgico com menos sangue, o membro primeiro deve ser exsanguinado com bandagens ou elevação prévia à inflação com um torniquete de tamanho adequado. A pressão da inflação do torniquete deve ser de, aproximadamente, 100 a 150 mmHg acima da pressão sangüínea sistólica do paciente. Ao final do procedimento, é uma boa prática desinsuflar o torniquete temporariamente, para identificar pontos sangrantes ocultos e garantir a hemostasia completa antes da sutura final. Os torniquetes não devem ser utilizados nos pacientes com anemia falciforme ou portadores (HbSS, HbAS, HbSC), devido ao risco de se precipitar crises, ou em pacientes que já tenham uma circulação alterada: por exemplo, aterosclerose grave. Técnicas anestésicas As técnicas anestésicas podem ser uma contribuição importante na redução de perda sangüínea cirúrgica. Episódios de hipertensão e taquicardia por hiperatividade simpática devem ser prevenidos através da garantia de níveis adequados de anestesia e analgesia. De forma similar, tosse, esforço e manobras que aumentem a pressão venosa sangüínea devem ser evitadas. A retenção excessiva de dióxido de carbono, ou hipercapnia, pode aumentar a vasodilatação, que aumenta a perda cirúrgica. Portanto, deve ser evitada, se necessário, por controle da ventilação. O uso apropriado de anestesia regional, particularmente técnicas anestésicas epidurais e subaracnóideas, podem reduzir de forma significativa a perda cirúrgica em diversos procedimentos. O uso de anestesia hipotensiva pode reduzir de forma significativa a redução da perda cirúrgica. No entanto, devido aos riscos associados a esta técnica, não é recomendada ao anestesista inexperiente, ou onde algumas instalações não forem disponíveis. Antifibrinolíticos e outras drogas Diversas drogas, incluindo a aprotinina e o ácido tranexâmico inibem o sistema fibrinolítico, e aumentam a estabilidade do coágulo. As indicações e benefícios destas drogas na cirurgia ainda não estão claramente definidas. A desmopressina (DDAVP) tem se mostrado com valor na prevenção de sangramento excessivo, quando utilizada em hemofílicos e em alguns distúrbios adquiridos de sangramento, tais como a cirrose. Também age através de aumento da produção de Fator VIII. 284 CIRURGIA E ANESTESIA ATIVIDADE 38 Avalie as técnicas para reduzir a perda sangüínea cirúrgica em seu serviço, e compare-as em relação as recomendações acima. Prepare alguns resumos de manuais, se não existirem, ou se você acreditar que o existente possa ser melhorado, e discuta com seus superiores. Uma vez que tenham sido acordados, organize uma sessão educacional para toda equipe anestésica e cirúrgica. Monitore se os manuais estão sendo utilizados de forma correta, e providencie sessões educacionais futuras, se necessário. 12.3 Reposição de fluidos e transfusão A perda cirúrgica deve ser reposta com soluções colóides e cristalóides para manter a normovolemia, pois um grau importante de perda pode ocorrer de forma segura antes que uma transfusão sangüínea se torne necessária. A prática é bem tolerada pela maioria dos pacientes, a despeito da redução da capacidade de transportar oxigênio. As razões são as seguintes: 1 A oferta de oxigênio num adulto saudável com hemoglobina normal é 3 a 4 vezes maior que a necessidade metabólica tecidual. Portanto, existe uma segurança marginal entre a oferta e o consumo de oxigênio, que permite uma redução da hemoglobina sem graves conseqüências. 2 Quando ocorre uma perda sangüínea significante, a queda na capacidade de transporte de oxigênio juntamente com a redução do volume sangüíneo produz uma resposta compensatória importante, que mantém a oferta de oxigênio aos tecidos (Seção 3: Anemia). 3 Estes mecanismos compensatórios são facilitados, e a oxigenação tecidual é melhor preservada se o volume normal sangüíneo for mantido com soluções de reposição quando ocorrer perda sangüínea. Em particular, garantir a normovolemia permite o aumento do débito cardíaco, de forma a manter a oferta de oxigênio em relação à queda de hemoglobina (conforme a equação de fluxo do oxigênio na Figura 2.13). 4 A reposição de perda sangüínea com solução colóide e cristalóide também resulta na diluição nos hemocomponentes, ou hemodiluição. Isto reduz a viscosidade sangüínea, que aumenta o fluxo sangüíneo capilar e o débito cardíaco, aumentando a oferta de oxigênio para os tecidos. O principal obje tivo é gar antir a normo volemia em ttodas odas as ffases ases do objetivo garantir normovolemia pr ocediment gico. procediment ocedimentoo cirúr cirúrgico. 285 S E Ç Ã O 12 Estimando a perda sangüínea De maneira a manter corretamente a volemia, é essencial avaliar continuamente a perda sangüínea cirúrgica durante o procedimento. Utilizando-se a Figura 12.4, um adulto com 60 kg possui um volume sangüíneo igual a 70 x 60, que é 4200ml. Figura 12.4: Cálculo do volume sangüíneo Volume sangüíneo Neonatos Crianças Adultos 85-90 ml/kg de peso 80 ml/kg de peso 70 ml/kg de peso Uma medida precisa da perda sangüínea é importante, principalmente nas cirurgias infantis e de neonatos, em que uma pequena perda pode representar uma proporção significativa na volemia. No entanto, qualquer que seja o método utilizado, há uma tendência em subestimar a perda sangüínea. Imaginar quanto sangue esteja presente num swab é um método impreciso de estimar perdas sangüíneas. É importante pesar os swabs enquanto ainda secos e estéreis, e a seguir, quando embebidos de sangue, à medida em que forem descartados. Para estimar a perda sangüínea é necessário subtrair o peso final do peso seco (1 ml de sangue corresponde a aproximadamente 1g). É importante avaliar o total de sangue perdido através do uso de drenos ou vácuos de sucção graduados. No entanto, se os frascos não forem graduados, a perda de sangue pode ser calculada através do peso, desde que você saiba o peso do frasco vazio. É importante estimar a perda do campo cirúrgico, verificando a presença de sangue embaixo do paciente, e no chão. Lembrar de anotar o volume de qualquer irrigação ou de fluidos utilizados durante a cirurgia e que possam ter contaminados os swabs ou frascos de sucção. Para realizar a estimativa final, é necessário subtraí-los do volume perdido de sangue. Monitoração de sinais de hipovolemia Muitos sinais do sistema nervoso central ou autônomo resultantes de uma significativa hipovolemia podem ser mascarados pelos efeitos da anestesia geral. O quadro clássico de agitação, ou de um paciente confuso e hiperventilando com sudorese fria e sede, não se revela sob a ação da anestesia geral. Pacientes sob anestesia geral podem mostrar poucos sinais que esteja se desenvolvendo a hipovolemia. Palidez nas mucosas, uma redução no volume do pulso periférico e taquicardia podem ser os únicos sinais iniciais. 286 CIRURGIA E ANESTESIA Com a progressão da depleção volêmica, uma queda na pressão sangüínea poderá ocorrer, e o tempo de preenchimento capilar poderá ser retardado; um tempo maior que 2 segundos para retornar a coloração dos dedos ou das unhas após uma breve compressão é anormal. Além disso, é detectada uma diminuição da saturação pela oximetria, ou desenvolvimento de cianose, mudança isquêmica ou rítmica no ECG, também podendo ocorrer diminuição do débito cardíaco. Se for utilizada a capnografia, a hipovolemia pode ser manifestada pela redução no dióxido de carbono como queda na perfusão pulmonar. A pressão venosa central irá cair na hipovolemia e, se a temperatura for monitorada, haverá um aumento na diferença entre a temperatura central e periférica quando ocorrer vasoconstrição. Veja a Figura 12.5 para os sinais de hipovolemia. Figura 12.5: Monitorização dos sinais da hipovolemia Monit orização de hipo volemia Monitorização hipovolemia Cor das mucosas Respiração Nível de consciência Débito urinário ECG PVC, se disponível e adequado Batimentos cardíacos Tempo de preenchimento capilar Pressão sangüínea Temperatura periférica Saturação de hemoglobina Reposição da perda sangüínea Dois métodos, demonstrados na Figura 12.6, são comumente utilizados para estimar o volume da perda cirúrgica que possa ser esperada (ou permitida) ocorrer num paciente, antes que a transfusão sangüínea se torne necessária: Método da porcentagem Método da hemodiluição. Cabe ressaltar que estes métodos são simplesmente um guia para o uso de fluidos de reposição e transfusão. Durante a cirurgia, a decisão de se transfundir será baseada na avaliação cuidadosa destes fatores, associados ao volume de sangue perdido. Estes incluem: Velocidade de perda sangüínea (atual ou antecipada) Resposta clínica do paciente à perda sangüínea e à terapia de reposição Sinais indicativos de oxigenação tecidual inadequada. Portanto, você deve estar preparado para sair de qualquer norma, e transfundir num estágio mais precoce, se a situação assim o exigir. Precauções Qualquer que seja o método utilizado para determinar o ponto no qual a transfusão se torna necessária, é necessário um julgamento para decidir a porcentagem de sangue perdido que possa ser perdido de forma segura, ou o nível de hemoglobina (ou hematócrito) mais baixo que possa ser tolerado. A avaliação deve ser baseada na condição clínica de cada paciente. A capacidade do paciente para compensar a redução da oferta de oxigênio será limitada por: 287 S E Ç Ã O 12 Figura 12.6: Métodos utilizados para estimar o volume da perda sangüínea que possa ser esperada (ou permitida) MÉT ODOS DE POR CENT AGEM N A ES TIMA TIV A DE PERD A SSANGÜÍNEA ANGÜÍNEA MÉTODOS PORCENT CENTA NA ESTIMA TIMATIV TIVA PERDA Este método simplesmente envolve a estimativa do sangue perdido como porcentagem do volume sangüíneo do paciente. 1 Calcule o volume sangüíneo. Veja a Figura 12.4: Cálculo de volume sangüíneo 2 Decida qual a porcentagem de volume sangüíneo que possa ser perdida de maneira tolerável e segura, desde que a normovolemia seja mantida. Por exemplo, se for escolhido 10%, a perda de sangue num paciente de 60 kg deve ser menor que 420 ml. Se for escolhido 20%, uma perda menor que 840 ml pode ser perdida antes da transfusão se tornar necessária. 3 Durante o procedimento, a reposição das perdas deve ser feita com cristalóides e colóides para se manter a normovolemia. 4 Se se exceder o volume perdido, uma reposição adicional deve ser feita mediante transfusão de sangue. MÉT ODO DE HEMODILUIÇÃO D A ES TIMA TIV A DE PERD A SSANGÜÍNEA ANGÜÍNEA MÉTODO DA ESTIMA TIMATIV TIVA PERDA Este método envolve a estimativa através do nível de hemoglobina (ou hematócrito) mais baixo que possa ser tolerado de forma segura com a hemodiluição: 1 Calcule o volume sangüíneo do paciente, e meça a hemoglobina précirúrgica. 2 Defina qual o nível mais baixo aceitável que possa ser tolerado de forma segura pelo paciente. 3 Aplique a fórmula para calcular o volume sangüíneo que possa ser perdido antes da transfusão ser necessária. Perda sangüínea aceitável = Volume sangüíneo x (Hb pré – Hb limite) (Média da Hb pré e Hb limite) 4 Durante o procedimento, reponha o volume perdido com soluções cristalóides e colóides, de maneira a manter a normovolemia. 5 Se for excedido o limite de perda tolerável, as reposições posteriores devem ser realizadas com transfusão sangüínea. Evidência de doença cárdio-respiratória Tratamento com drogas, como betabloqueadores Anemia pré-existente Idade elevada. Um adulto pode ser capaz de sustentar perdas até de 30% do volume sangüíneo, ou uma hemoglobina de 9 g/dl, sem necessitar de transfusão sangüínea, se o volume sangüíneo for mantido. No entanto, um paciente anêmico com história de doença isquêmica cardíaca, a perda de 20% do volume sangüíneo, ou uma hemodiluição abaixo de 10 g/dl, pode ser um fator de descompensação, a despeito da manutenção da normovolemia. 288 CIRURGIA E ANESTESIA Portanto, é vital garantir que a porcentagem perdida, ou nível mais baixo aceitável de hemoglobina reflita o que cada paciente possa tolerar de forma segura. Alguns limites são mostrados na Figura 12.7. Figura 12.7: Guia para estimar perdas aceitáveis se a normovolemia for mantida Mét odo Método Saudável Condição clínica rrazoável azoável Ruim Por cent agem orcent centagem Perda aceitável 30% 20% < 10% Hemodiluição Nível mais baixo aceitável 9 g/dl (Ht 27) 10 g/dl (Ht 30) 11 g/dl (Ht 33) Escolha do fluido de reposição Como você viu na Seção 4: Fluidos de reposição, há algumas discordâncias na escolha do fluido de reposição utilizado na reposição de perda sangüínea para se manter a normovolemia. Cristalóides, tais como a salina normal ou Ringer lactato, saem da circulação mais rápido que os colóides. Por esta razão, deve ser utilizado pelo menos três vezes o volume de sangue perdido, ou seja: 3 ml de cristalóides a cada ml de sangue perdido. Se forem utilizadas soluções colóides, o volume infundido deve ser igual ao volume perdido. Manutenção da normovolemia É essencial que o volume sangüíneo seja mantido todo o tempo. Mesmo se o volume de sangue perdido aceitável for excedido, mas ainda não haja transfusão disponível, deve-se manter a infusão de cristalóides ou colóides para se manter a normovolemia. Evitando a hipotermia Uma queda na temperatura corporal do paciente pode causar diversos efeitos colaterais. Incluindo: Descompensação da resposta compensatória normal à hipovolemia Aumento do sangramento cirúrgico Aumento da demanda pós-cirúrgica de oxigênio para que a normotermia seja restabelecida. Isto pode levar à hipóxia. Aumento de infecção na incisão. Por estas razões, devem-se realizar todos os esforços para manter a temperatura corporal no período peri-operatório, incluindo o aquecimento de soluções intravenosas (Figura 12.8). Lembre-se que a perda de calor ocorre mais facilmente em crianças. 289 S E Ç Ã O 12 Figura 12.8: Evitando a hipotermia Pacient es acientes Soluções Cobrir com manta Utilizar colchão aquecido (37º) Umidificar gases anestésicos Estocar fluidos em ambientes aquecidos Imersão das soluções em água aquecida Utilizar aquecedores nos equipos de infusão Planejamento Qualquer que seja o método utilizado para estimar a perda sangüínea, devese realizar os cálculos necessários antes da cirurgia, e possuir uma idéia clara dos volumes envolvidos. A equipe de cuidados dos pacientes deve estar atenta ao grau de hemodiluição e anemia esperada nestas técnicas, particularmente no período pós-operatório. Reposição de perda de outros fluidos Se houver manutenção da hipovolemia, a perda de outros fluidos além da perda sangüínea também deve ser reposta no período cirúrgico. Manutenção de fluidos A perda normal de fluidos através da pele, trato respiratório, fezes e urina é de cerca de 2,5 a 3 litros por dia em média num adulto, ou aproximadamente 1,5 ml/kg/hora. Isto é conhecido freqüentemente como manutenção das necessidades basais, e o volume deve ser infundido por todo o intervalo cirúrgico. As necessidades de fluidos de manutenção podem ser extremamente variáveis e aumentarão em situações como climas quentes ou se o paciente estiver febril ou tiver diarréia. É proporcionalmente maior em crianças, como mostra a Figura 12.9. Figura 12.9: Manutenção normal de fluidos e de eletrólitos Peso Fluidos Sódio** Potássio** ml/ kkg/ g/ 24 hs mmol/ kkg/ g/ 24 hr hrss mmol/ kkg/ g/ 24 hs Crianças Primeiros 10 kg Segundos 10 kg Kg subseqüente 100 (4*) 50 (2*) 20 (1*) 3 1.5 0.75 2 1 0.5 Adult os Adultos Todos os pesos (kg) 35 (1.5*) 1 0.75 * Representa as necessidades em ml/ kg/hora **O mesmo valor em mEq/L Déficit no fluido de manutenção Uma vez que geralmente o déficit na manutenção ocorre no período préoperatório, a reposição deve ser feita com a adição deste volume ao de reposição. 290 CIRURGIA E ANESTESIA Perdas de cavidades Durante a laparotomia ou toracotomia, a evaporação da água deve ser considerada, e as perdas através das cavidades necessitam ser repostas conforme o tempo de abertura. Em média, 5 ml/ kg/ hora de fluido por cada cavidade aberta deve ser infundido além dos fluidos de manutenção. Perdas contínuas Se houver perdas contínuas de fluidos, como aspirações nasogástricas ou drenagem de fluidos, estas precisam ser mensuradas e seu volume deve ser somado ao de reposição. A Figura 12.10 sumariza as necessidades de reposição de um adulto submetido a uma cirurgia. Figura 12.10: Necessidades de reposição de um adulto durante uma cirurgia Tipo de per das perdas Volume Tipo de ffluido luido Sangue Até o volume permitido 3 X o volume perdido Cristalóide ou 1 X o volume perdido Colóide quando o volume permitido for excedido 1 X o volume excedido Sangue Fluidos de manutenção 1.5 ml/ kg/ hr Cristalóides Déficit de manutenção 1.5 ml/ kg/ hr Cristalóides 5 ml/ kg/ hr Cristalóides Medidas Cristalóide/ colóide + Outr os ffluidos luidos Outros Perdas de cavidades Perdas contínuas Reposição de um adulto = Volume de sangue perdido + outras perdas ATIVIDADE 39 Quais os esquemas de reposição utilizados em seu serviço para garantir que a normovolemia seja mantida em pacientes cirúrgicos? Os pacientes são avaliados e monitorados de maneira a garantir que o regime esteja adequado? Se não existir um regime de fluidos de reposição, desenvolva um junto aos seus colegas. Similarmente, desenvolva alguns guias na monitorização da hipovolemia, e organize uma sessão educacional para garantir que toda a equipe compreenda e siga corretamente. 291 S E Ç Ã O 12 ATIVIDADE 40 Quais os métodos utilizados em seu serviço para ajudar a determinar o ponto no qual a transfusão é necessária no paciente cirúrgico? Quais as limitações destes métodos? Discuta com seus colegas maneiras de melhorar e desenvolver alguns manuais. Organize uma sessão educacional para garantir que toda a equipe possa segui-lo de forma correta. Estratégias de transfusão sangüínea Previsão de consumo de sangue A previsão de consumo de sangue é muito utilizada para auxiliar o clínico a decidir a quantidade de sangue para compatibilização (ou tipagem e pesquisa de anticorpos) para pacientes que serão submetidos a cirurgias (Seção 6.2: Solicitação de produtos sangüíneos). Embora, estes esquemas sejam úteis como guias de necessidades potenciais de transfusões, geralmente são baseados somente nos procedimentos cirúrgicos, e raramente levam em conta outros fatores, tais como capacidade da equipe cirúrgica e do anestesista, e a disponibilidade de sangue seguro. A previsão de consumo de sangue deve sempre ser desenvolvida localmente e utilizada como um guia de uso esperado de sangue. Cada comitê transfusional hospitalar deve estar de acordo com o procedimento do clínico que possa ultrapassar um número maior que o estimado pela previsão, quando o paciente provavelmente necessitar de mais transfusões, por exemplo, se o procedimento for mais complexo que o habitual ou se o paciente possuir uma coagulopatia. A Figura 12.11 mostra um exemplo de previsão de consumo de sangue. Sangue O Rh D negativo A disponibilidade de o hospital possuir duas unidades de sangue O Rh D negativo, reservada para uso somente em emergências, pode ser uma estratégia vital. As unidades não utilizadas devem ser regularmente repostas antes da data de validade, podendo entrar no estoque no banco de sangue. Controle de sangramento Para aumentar a capacidade de transportar oxigênio através da transfusão de sangue, deve-se, se possível, transfundir quando o sangramento estiver controlado. Isto irá maximizar os benefícios da transfusão. Transfusão maciça A administração de grandes volumes de sangue e soluções intravenosas pode originar diversos problemas. Estas complicações e seu tratamento são discutidos na Seção 7.6: Transfusão maciça. 292 CIRURGIA E ANESTESIA Figura 12.11: Exemplo de uma previsão de sangue: um guia para utilização normal esperada de sangue em procedimentos cirúrgicos em adultos PR OCEDIMENT O PROCEDIMENT OCEDIMENTO Cirur gia ger al Cirurgia geral Colecistectomia Laparotomia exploradora Biópsia hepática Hérnia de hiato Gastrectomia parcial Colectomia Mastectomia simples Mastectomia radical Tiroidectomia parcial/ total Car diot orácica Cardiot diotorácica Angioplastia Cirurgia cardíaca aberta Broncoscopia Biópsia aberta de fígado e pleura Lobectomia/ pneumectomia PREVISÃO TS TS TS 2 UI TS 2 UI TS 2 UI 2 UI (+2) TS 4 UI (+4) TS TS 2 UI Vascular Endarterectomia aorto-ilíaca Endarterectomia femural Bypass femuro-poplíteo Bypass íleo-femural Ressecção de aneurisma de aorta abdominal 4 UI TS TS 2 UI 6 UI (+2) Neur ocirur gia eurocirur ocirurgia Craniotomia Meningioma Hematoma extradural Cirurgia vascular (aneurisma, Má-formação AV) TS 4 UI TS 3 UI Ur ologia Urologia Ureterolitotomia Citostomia Cistectomia Nefrolitotomia Prostatectomia aberta RTU de prostáta Transplante renal PR OCEDIMENT O PROCEDIMENT OCEDIMENTO Ginecologia e Obs Obsttetrícia Término de gestação Parto normal Cesárea Placenta prévia/ retida Hemorragia pré-parto / pós-parto Dilatação e curetagem Histerectomia simples abdominal ou vaginal Histerectomia extendida abdominal ou vaginal Miomectomia Mola hidatiforme Ooforectomia (radical) Or Orttopédicas Hérnia de disco Laminectomia Remoção de pino de quadril Prótese total de quadril Biópsia de osso/ osteotomia (exceto fêmur superior) Fratura de cabeça de fêmur Fixação interna de fêmur Fixação interna de tíbia ou joelho Artroplastia total de quadril Fusão espinhal (escoliose) Descompressão espinhal Cirurgia de nervo periférico PREVISÃO TS TS TS 4 UI 2 UI TS TS 2 UI 2 UI 2 UI 4 UI TS TS TS 2 UI (+2) TS TS 2 UI TS 3 UI 2 UI 2 UI TS TS TS 4 UI 2 UI 2 UI TS 2 UI TS= Tipagem e pesquisa de anticorpos ( +X) - Unidades adicionais dependendo da condição clínica do paciente 293 S E Ç Ã O 12 ATIVIDADE 41 Utilizando as instruções prévias da página 110, investigue as necessidades transfusionais normais nos pacientes cirúrgicos em seu serviço, baseado no tipo de procedimento realizado. Em conjunto com seus colegas e o comitê transfusional hospitalar, se este existir, utilize esta informação para planejar uma previsão de consumo para seu serviço. Como esta difere do exemplo da Figura 12.11 e por quais motivos? Lembre-se que a previsão de consumo de sangue em cirurgias em seu serviço deve levar em conta fatores locais, tais como condições clínicas locais, segurança da oferta de sangue, e a experiência de cirurgiões e anestesistas. Organize uma sessão educacional para toda equipe cirúrgica e anestésica para garantir que os mesmos compreendam como utilizar a previsão de consumo de sangue em cirurgias. Monte um sistema simples de monitorização da concordância com a previsão e revise-a periodicamente, se necessário. 12.4 Transfusão autóloga A transfusão autóloga envolve a coleta e a subseqüente reinfusão do sangue ou produtos sangüíneos do paciente. Ela pode evitar alguns problemas imunológicos e transmissão de doença associada ao doador, ou sangue homólogo e, em algumas circunstâncias, pode ser a única fonte disponível de sangue para transfusão. A transfusão autóloga é uma técnica efetiva tanto na cirurgia eletiva e de emergência, mas você somente deve considerá-la se houver estimativa de que a cirurgia resultará em perda de sangue suficiente para necessitar de sangue homólogo. Todos os métodos de transfusão autóloga necessitam de preparação cuidadosa e planejamento, sendo vital para a avaliação e cooperação do banco de sangue ou centro transfusional antes que sejam introduzidos no hospital. Os principais métodos de transfusão autóloga são: 1 Autóloga pré-depósito 2 Hemodiluição aguda normovolêmica 3 Salvamento intra-operatório Estas técnicas podem ser utilizadas isoladas ou combinadas para reduzir ou eliminar a necessidade de sangue homólogo. Autóloga pré-depósito A doação autóloga pré-depósito envolve a coleta e armazenamento do sangue do próprio paciente antes de uma cirurgia eletiva. Primeiro, deve 294 CIRURGIA E ANESTESIA estar estabelecido que o procedimento cirúrgico resultará em perda de sangue suficiente para necessitar de transfusão. Uma unidade de sangue do paciente/doador é coletada a cada cinco ou mais dias no período anterior. O sangue é testado, etiquetado e estocado nos mesmos padrões do sangue homólogo e o paciente deve receber suplemento oral de ferro. Na data de cirurgia, acima de 4 a 5 unidades de sangue estocado estarão disponíveis se a transfusão se tornar necessária durante o procedimento. Estas técnicas necessitam de considerável planejamento e organização para serem efetivas, e a experiência mostra que os custos iniciais podem ser mais altos que os da transfusão homóloga. Desta forma, deve-se observar o critério de elegibilidade, uma vez que nem todos os pacientes preenchem os critérios, ou moram perto do hospital o suficiente para realizar repetidas doações. As unidades de sangue não utilizadas não devem ser transformadas em homólogas, a menos que tenham sido testadas para infecções transmissíveis por transfusão, incluindo HIV, Hepatite B, Sífilis e outros testes exigidos nacionalmente. Este método de transfusão autóloga não evita o risco de contaminação bacteriana como resultado de problemas de armazenamento e coleta, e não reduz o risco de erros de procedimento que possam causar incompatibilidade de sangue. Hemodiluição aguda normovolêmica A hemodiluição normovolêmica pré-operatória aguda envolve a remoção de um volume pré-determinado do sangue do paciente imediatamente antes do início da cirurgia, e sua reposição simultânea com solução colóide ou cristalóide suficiente para manter o volume sangüíneo. Durante a cirurgia, o paciente hemodiluído irá perder poucos eritrócitos no sangue perdido, e o sangue autólogo pode ser reinfundido a seguir, preferencialmente quando o sangramento cirúrgico estiver controlado. Um benefício adicional é que as unidades frescas de sangue autólogo contêm quase todos os fatores de coagulação e plaquetas. Quando utilizamos esta técnica, torna-se essencial adotar algumas medidas: 1 Deve existir um critério de exclusão de pacientes não adequados, como os que não consigam compensar a redução de oxigênio devido à hemodiluição. 2 O volume de sangue a ser removido deve ser avaliado de forma cuidadosa, e deve ser dada atenção redobrada à reposição com solução cristalóide (3 ml para cada ml de sangue retirado) ou colóide (1 ml para cada ml de sangue retirado). 3 É vital monitorar cuidadosamente o paciente, manter o volume sangüíneo e a liberação de oxigênio adequada em todas as fases, principalmente quando ocorrer perda sangüínea cirúrgica. 295 S E Ç Ã O 12 Recuperação de sangue A recuperação de sangue é a coleta do sangue do campo cirúrgico, das cavidades corporais ou do espaço articular, e sua reinfusão posterior no mesmo paciente. As técnicas de recuperação de sangue podem ser utilizadas em cirurgias eletivas, como por exemplo nos procedimentos cardiotorácicos, ou nas cirurgias de emergência, por exemplo ruptura de gravidez ectópica ou ruptura esplênica. Em comum com outras técnicas autólogas, deve ser considerada quando a perda sangüínea esperada for suficiente para necessitar de uma transfusão. As contra-indicações para recuperação incluem sangue contaminado com conteúdo intestinal, bactérias, gordura, líquido amniótico, urina, células malignas e soluções de irrigação. No entanto, quando a recuperação for realizada numa emergência, estes riscos devem ser avaliados juntos aos benefícios do paciente. É importante não reinfundir sangue recuperado com mais de 6 horas de armazenamento, devido à hemólise destas hemácias. São métodos de recuperação de sangue: Filtração por gaze Sistema de coleta através de sucção simples Sistema de coleta e sucção automatizada. Filtração por gaze Este método é barato e adequado para a recuperação de sangue de cavidades corporais. Em cirurgias com utilização de técnicas assépticas, o sangue é coletado de uma cavidade através de um pequeno frasco ou uma colher. É misturado ao anticoagulante, e filtrado através de gazes, como mostra a Figura 12.12, e reinfundido no paciente. Este método de recuperação é descrito no Estudo de Caso 2. Figura 12.12: Recuperação de sangue utilizando filtração por gaze Sistema de coleta através de sucção manual São comercialmente disponíveis como sistemas de sucção associando tubos de sucção conectados a frascos especialmente designados para o 296 CIRURGIA E ANESTESIA armazenamento com anticoagulante. Na cirurgia, o sangue é aspirado da cavidade ou do campo diretamente para o frasco. Em algumas circunstâncias, o sangue pode ser coletado no período pós-operatório através de drenos cirúrgicos. A pressão de sucção deve ser a menor possível, de maneira a evitar a hemólise dos eritrócitos. Sistema de coleta e sucção automatizada Estes sistemas disponíveis comercialmente, freqüentemente denominados salvadora de células, coletam, anticoagulam, lavam, filtram, e ressuspendem as hemácias em soluções cristalóides antes da reinfusão. Embora uma grande parte do procedimento seja automatizada, um operador treinado é freqüentemente necessário. O alto custo do equipamento, associado ao custo significativo dos itens descartáveis para cada paciente pode limitar a sua disponibilidade. ATIVIDADE 42 Avalie as diferentes técnicas de transfusão autóloga em uso no seu serviço. Junto a seus colegas e superiores, desenvolva manuais onde eles não existirem. Organize uma sessão educacional para a equipe, e monitore se as técnicas estão sendo utilizadas de forma correta. 12.5 Cuidados no período pós-operatório Ainda pode ocorrer no período pós operatório a perda sangüínea e hipovolemia. Sua prevenção, detecção precoce e tratamento é de importância vital para o bem estar do paciente, e pode reduzir a necessidade de transfusões sangüíneas. Atenção particular deve ser dada a : Oxigenação neste período Monitorização de sinais vitais e do local da cirurgia, inclusive drenos Balanço hídrico Analgesia Também deve ser dada consideração a: Re-exploração cirúrgica Transfusões pós cirúrgicas Elementos precursores. Oxigenação no período pós-cirúrgico No início do período pós-cirúrgico, a hipóxia é um problema comum, principalmente após anestesia geral. Os efeitos da hipóxia (Seção 2: Sangue, Oxigênio e Circulação) podem comprometer um paciente que já tenha a hemoglobina reduzida, e no qual a hipovolemia pode estar presente. 297 S E Ç Ã O 12 É desejável administrar oxigênio de forma suplementar a todos os pacientes que estejam na recuperação de uma anestesia geral. Monitorização A monitorização dos pacientes deve continuar no período pós-cirúrgico, com atenção particular à identificação dos sinais clínicos de hipovolemia e perda sangüínea. A ferida cirúrgica do paciente e os drenos devem ser checados para presença de hematoma e sangramento, e as medidas de circunferência abdominal podem ser úteis. Balanço hídrico Garantir a normovolemia no período pós-operatório é essencial. Os fluidos de reposição intravenosa, como já descritos anteriormente, devem levar em conta as perdas medidas durante a cirurgia e a manutenção das necessidades do paciente. A reposição deve ser continuada até que a ingesta oral esteja estabelecida, e um sangramento pós cirúrgico não seja esperado. Analgesia O alívio inadequado da dor é a maior causa de hipertensão e de dispnéia no período pós-operatório. Ambos podem ser agravados por sangramento e aumento de perda sangüínea. Portanto, deve ser dada especial atenção à realização de uma analgesia durante o período peri-operatório. Re-exploração cirúrgica Quando uma perda sangüínea significativa se mantiver no período pósoperatório e não houver distúrbio tratável do estado de coagulação do paciente, deve ser considerada precocemente uma re-exploração cirúrgica. Transfusão pós-operatória A equipe que cuida dos pacientes no período pós-operatório deve estar atenta para o grau de hemodiluição esperado em pacientes que tiveram perda sangüínea no ato cirúrgico. Por esta razão, a dosagem de hemoglobina realizada no período pós-operatório tende a ser mais baixa que o período pré. Este fato isolado não é indicação de transfusão sangüínea, e a decisão de se transfundir só deve ser feita após avaliação cuidadosa do paciente. Devem ser consideradas as condições gerais do paciente, especialmente a coexistência de doença cárdio-pulmonar, sinais de oxigenação tecidual inadequada e perda sangüínea contínua. Elementos precursores O tratamento de pacientes no período pós-operatório com suplementos de ferro irá optimizar a resposta eritropoiética e restaurar a concentração de hemoglobina de forma mais rápida. 298 CIRURGIA E ANESTESIA ATIVIDADE 43 Há manuais em uso no seu serviço sobre os cuidados dos pacientes cirúrgicos no período pós-operatório? Junto a seus colegas e superiores, desenvolva e/ou melhore este tipo de manual. Organize uma sessão educacional para a equipe, e monitore se as técnicas estão sendo utilizadas de forma correta. ES TUDO DE CASO 1 ESTUDO Um homem de 67 anos está sendo a avvaliado para realização de uma gastrect omia par cial. Na primeira a v es, ffoi oi gastrectomia parcial. avaliação, três semanas ant antes, evidenciado q ue o mesmo esta uenos que estavva anêmico, com dispnéia aos peq pequenos esf orços e edema periférico. A concentração de hemoglobina mostra esforços mostravva uma ue a causa anemia fferr err opriv a com 8 g/dl. In erropriv opriva Invvestigações demonstraram q que oi tratado com fferr err o era uma inf estação parasitária, por tant o, o mesmo ffoi infestação portant tanto, erro oral e mebendazol. No dia da cirurgia, o nív el de hemoglobina era de 12 g/ nível dl e houv e melhoria im por tant e da sint omat ologia. Seu peso estimado era houve impor portant tante sintomat omatologia. de 50 Kg. Ant es do início da cirurgia, seu vvolume olume sangüíneo ffoi oi calculado baseado Antes em seu peso. Estimado em 3500 ml ( 50 kkg g X 70 ml/k g). De vido à sua ml/kg). Devido condição geral e dos sint omas q ue apresenta uando a hemoglobina sintomas que apresentavva q quando era de 8 g/dl, ffoi oi decidido q ue o nív el mais baix o aceitáv el era de 1 0 g/dl. O que nível baixo aceitável 10 anest esista calculou o vvolume olume de sangue per dido aceitáv el q ue poderia anestesista perdido aceitável que ocorrer ant es de uma transfusão sangüínea, utilizando a seguint e fórmula: antes seguinte Per da aceitáv el = V olume sangüíneo X ( Hb pre’- Hb mais baixa aceitáv aceitável) erda aceitável Volume el) ( Média entre Hb pré e mais baixa aceitáv el) aceitável) Per da aceitáv el = 3500 X (12 – 1 0) / 1 1 erda aceitável 10) 11 el = 6 40 ml erda aceitável 640 Per da aceitáv Durant e o pr ocediment o o pacient e per deu 500 ml de sangue, e a reposição Durante procediment ocedimento paciente perdeu esista ffoi oi ffeita eita com a mesma q uantidade de solução colóide. U ma anestesista quantidade Uma do anest vez q ue não ffoi oi e da aceitáv el e o pacient e permaneceu estáv el, que exxcedida a per perda aceitável paciente estável, não houv e necessidade de transfusão sangüínea. O anest esista também houve anestesista foi cuidadoso em mant er a normo vés da administração de manter normovvolemia atra através solução salina de acor do com as necessidades basais do pacient e (1 ,5 acordo paciente (1,5 ml/ kkg/ g/ h) e com o déf icit de vido ao jejum pré operatório (1 ,5 ml/ kkg g a cada déficit devido (1,5 hora de jejum). O pacient e não tte eve uma recuperação com ple ta e ffoi oi paciente comple pleta orientado a mant er a administração de suplement os orais de f err o. manter suplementos ferr erro. 299 S E Ç Ã O 12 ES TUDO DE CASO 2 ESTUDO Uma mulher de 53 anos ffoi oi subme tida a uma colecist ect omia, q uando submetida colecistect ectomia, quando houv e uma peq uena lesão do fígado. A despeit o dos esf orços realizados houve pequena despeito esforços para contr olar a hemorragia, a pacient e per deu 850 ml de sangue em 1 0 controlar paciente perdeu 10 minut os. Seu peso estimado era de 60 Kg e seu vvolume olume sangüíneo minutos. tant o, esta per da representa 20% do seu apr oximadament e 4200 ml. P or apro ximadamente Por ortant tanto, perda volume sangüíneo. O anest esista repôs a per da com 2500 ml de Ringer Lactat o e o pacient e anestesista perda Lactato paciente permaneceu estáv el no início, a não ser por uma taq uicar dia de 1 00 bpm. estável taquicar uicardia 100 No entant o, logo se ttornou ornou aparent eq ue uma per da sangüínea continua entanto, aparente que perda continuavva a ocorrer a despeit o da correção da lesão do fígado realizada pelo cirurgião, despeito e houv e de e. Enq uant o se continua houve detterioração dos sinais vitais do pacient paciente. Enquant uanto continuavva a reposição com Ringer Lactat o, o anest esista pediu frascos para Lactato, anestesista recuperação autóloga, uma vvez ez q ue não esta ont o o sangue de doador que estavva pr pront onto doador.. Frascos de 500 ml, cont endo 2 g de citrat o de sódio e 3 g de de xtr ose contendo citrato dextr xtrose adicionadas a 120 ml de água estéril, sem pre são mantidos no centr o sempre centro cirúrgico e fforam oram utilizados. O cirurgião cole vidade abdominal numa cuba rim, colettou o sangue da ca cavidade apr oximadament e 500 ml. A enf ermeira colocou o anticoagulant e na cuba apro ximadamente enfermeira anticoagulante com sangue e mistur ou-o bem. Depois, ffiltr iltr ou esta mistura em cinco misturou-o iltrou camadas de gaze estéril no frasco e recolocou a tam pa. A enf ermeira tampa. enfermeira entregou o frasco ao anest esista ant es de repe tir o pr ocesso com o próximo anestesista antes repetir processo frasco. O anest esista transfundiu est e sangue atra vés de um eq uipo nor anestesista este através equipo nor-mal. Quatr o frascos de sangue fforam oram re e ant es do Quatro rettornados ao pacient paciente antes contr ole do sangrament o. O pacient e tte eve recuperação com ple ta. controle sangramento. paciente comple pleta. A recuperação de sangue autóloga pode ser ef etiv a em cirurgias ele tiv as e efe tiva eletiv tivas o. Se vvocê ocê não tiv er seu próprio preparo. tiver de emergências, mas necessita de prepar anticoagulant e como descrit o no caso acima, utilize o anticoagulant e de anticoagulante descrito anticoagulante uma bolsa de cole ta normal, disponív el no banco de sangue. coleta disponível 300 13 Trauma e cirurgia de urgência Pontos chave 1 O manejo imediat es cirúr gicos e de tr auma pode ser dividido imediatoo de pacient pacientes cirúrgicos trauma em três ffases: ases: ação Fase 1: A Avvaliação inicial e ressuscit ressuscitação eav aliação Fase 2 : R Reav eavaliação ament initivo. Fase 3: TTrr at atament amentoo def definitivo. 2 Na FFase ase 11,, o obje tivo é av aliar e tr at ar condições de risco, e ressuscit ar o objetivo avaliar trat atar ressuscitar pacient tido a cirur gias de ur gência ou tr aumatizado. pacientee subme submetido cirurgias urgência traumatizado. ação, planejar a 3 Na FFase ase 2, o obje tivo é av aliar a respos avaliar respostt a à ressuscit ressuscitação, objetivo o, e realizar um ex ame de es tr atégia de tr at ament tratégia trat atament amento, exame dettalhado. estr 4 Na FFase ase 3, o obje tivo é implement ar a es tr atégia de tr at ament o, e prepar ar objetivo implementar estr tratégia trat atament amento, preparar o pacient at ament initivo, ger alment gico. pacientee par paraa o tr trat atament amentoo def definitivo, geralment almentee cirúr cirúrgico. 5 Os princípios básicos de ressuscit ação e tr at ament es ressuscitação trat atament amentoo aplicados a pacient pacientes pediátricos. 301 S E Ç Ã O 13 Introdução Pacientes que se apresentam em condições cirúrgicas de emergência, principalmente aqueles com múltiplas lesões, demandam um bom conhecimento da equipe cirúrgica e dos serviço oferecidos pelo hospital. A hipovolemia, geralmente resultado de uma hemorragia, é a maior causa de mortalidade destes pacientes. Muitas mortes poderiam ser potencialmente evitadas, principalmente entre politraumatizados, que freqüentemente são jovens, saudáveis e respondem bem à terapia adequada. A qualidade e velocidade da avaliação inicial, e o tratamento destes pacientes que ficaram doentes de forma aguda, possui uma grande influência no seguimento posterior. Especialistas em trauma e suporte referem a “Hora de Ouro”; que significa que o tratamento efetivo na primeira hora depois do trauma é o que dá a melhor chance de sobrevida ao paciente. Portanto, muitos países introduziram um programa de treinamento com objetivo de reduzir a morbidade e a mortalidade através de um tratamento sistemático e precoce nestes pacientes. Os pontos centrais para o sucesso destes programas são: Concentração de esforços no momento onde são mais requeridos, geralmente na primeira hora de admissão Desenvolvimento de uma equipe multidisciplinar para cuidados, ou equipes de trauma Uso de protocolos de tratamento para reduzir o risco de erros diagnósticos. O propósito desta seção é providenciar uma análise estruturada para o tratamento inicial de hipovolemia de etiologia múltipla, com ênfase na hemorragia que ocorre no paciente traumatizado. Objetivos do estudo Quando completar esta seção, você deverá estar apto a: 1 Avaliar e tratar situações de risco, e ressuscitar o paciente traumatizado ou submetido a cirurgia de urgência. 2 Avaliar a resposta à ressuscitação, e planejar a estratégia de tratamento. 3 Implementar a estratégia de tratamento, e preparar o paciente para o tratamento definitivo. 4 Aplicar os princípios de ressuscitação e tratamento aos pacientes pediátricos. 302 T R AU M A E C I R U RG I A D E U RG Ê N C I A 13.1 Conduta no paciente cirúrgico ou de trauma O tratamento imediato de pacientes que ficaram doentes de forma aguda deve ser dividido em três fases: 1 Avaliação inicial e ressuscitação Objetivos: Avaliação e tratamento das condições de risco, e ressuscitação do paciente. 2 Rea eavvaliação Objetivos: Avaliação da resposta à ressuscitação, determinar a extensão de outras lesões, e planejar a estratégia de tratamento. o def initiv o 3 Tratament ratamento definitiv initivo Objetivo: Implementação da estratégia e preparação do paciente para o tratamento definitivo. 13.2 Avaliação inicial e ressuscitação Algumas vezes é chamada de avaliação primária, e os objetivos são avaliação rápida do paciente e tratamento imediato das condições de risco. Esta fase freqüentemente pode ser finalizada em poucos minutos. Para garantir que as prioridades clinicas sejam alcançadas, a avaliação inicial e a ressuscitação deve ser realizada na seguinte seqüência. Avaliação inicial e ressuscit ação ressuscitação A Controle de vias aéreas e estabilização da coluna cervical B Verificar respiração C Circulação e controle de hemorragia D Distúrbios do sistema nervoso central E Exposição do corpo todo A Controle de vias aéreas É vital para garantir que o paciente esteja com as vias aéreas pérvias e desobstruídas. Uma respiração ruidosa, dificultada, ou com movimentos paradoxais são evidências de obstrução de vias aéreas, que devem ser corrigidas. Vômitos, sangue ou materiais estranhos devem ser removidos da boca. Algumas vezes, um simples desvio no queixo para a esquerda previne que a língua ocasione uma obstrução aérea num paciente inconsciente, embora possam ser necessárias outras medidas para assegurar vias aéreas desobstruídas. Estas incluem a posteriorização da mandíbula, inserção de uma cânula na oro/nasofaringe, intubação endotraqueal, punção cricotireóide ou traqueostomia. 303 S E Ç Ã O 13 Imobilize o pescoço de qualquer pacient vipacientee com risco de lesão de medula cer cervisimplesmentee coloque a cabeça numa posição cal com um colar rígido, ou simplesment neutr a, principalment tiver realizando as manobr as par ar neutra, principalmentee quando es estiver manobras paraa assegur assegurar que as vias aéreas es vias. esttejam pér pérvias. B Respiração Observe qualquer lesão visível de tórax e meça a freqüência respiratória. Se o paciente não estiver respirando, ou estiver com a respiração inadequada, será necessário auxílio respiratório. Altas concentrações de oxigênio suplementar devem ser administradas. É essencial conduzir uma rápida, porém completa avaliação do sistema respiratório para excluir condições de risco, como pneumotórax hipertensivo ou hemotórax. Estas duas condições necessitam de tratamento imediato através de drenagem pleural sob selo d’água. Uma lesão aberta deve ser inicialmente fechada com um curativo oclusivo. C Circulação e controle de hemorragia Uma grande hemorragia externa deve ser controlada através de pressão direta no local do sangramento. Não é recomendado o uso de torniquete, devido ao aumento da destruição tecidual. Objetos penetrantes devem ser mantidos no local até que a exploração cirúrgica possa ser realizada. Avaliação Deve ser realizada uma rápida avaliação no sistema cardiovascular. Esta deve incluir: Pulso periférico Tempo de preenchimento capilar (o tempo que dura o retorno da coloração aos dedos ou unhas depois de uma compressão; maior que 2 segundos é considerado anormal). Nível de consciência Pressão sangüínea Extensão da hipovolemia Deve ser feita uma estimativa sobre a perda de sangue e líquidos, baseada nos sinais clínicos e natureza da lesão ou condição cirúrgica. Pode ser difícil avaliar sangramento oculto, e este não deve ser subestimado: por exemplo, uma perda de sangue numa fratura fechada de fêmur pode ser maior que 1000 ml; uma fratura de pelve acima de 3000 ml e uma ruptura esplênica ou gravidez ectópica pode resultar em perda do volume total sangüíneo. O trauma também causa lesão de partes moles, e pode ocorrer um considerável edema tecidual no local. Isto irá estar presente na análise de qualquer hipovolemia devido a perdas sangüíneas. A Figura 13.1 classifica a hipovolemia em quatro classes, baseadas nos sinais clínicos do paciente, tendo como base que o volume sangüíneo normal de um adulto é 70 ml/kg. Embora este possa ser um guia útil, deve-se atentar que variações podem ocorrer, e o paciente não ficará enquadrado numa classe. 304 T R AU M A E C I R U RG I A D E U RG Ê N C I A Fatores como a idade, doenças pré-existentes e uso de medicações irão influenciar a resposta do paciente à hipovolemia. O jovem saudável irá tolerar bem; enquanto que o mais idoso e instável terá uma resposta ruim. Figura 13.1: Classificação de hipovolemia em adulto Classe I Le ve Leve Classe II Moder ada Moderada Classe III Gr ave Grave Classe IV Final % de sangue perdido > 15% 15 – 30% 30-40% > 40% Volume perdido em um adulto com 70 Kg (ml) < 750 750 – 1500 1500 – 2000 >2000 Pulso normal > 100 > 120 > 140 Variável Em final De choque Pressão do pulso normal reduzido Pressão sistólica normal normal Preenchimento normal Respiração normal 20-30 30-40 > 45 ou Suspiro Estado mental alerta ansiosa confusa comatoso/ Inconsciente 20 a 30 ml/h 5 a 20 ml/h < 5 ml/h Débito urinário > 30 ml/h muito reduzido muito reduzido / ausente reduzida muito reduzida prolongada muito prolongada ausente Acesso intravenoso Providencie um acesso rapidamente, de preferência com uma cânula de duas vias (16 gauge ou 14 gauge num adulto, ou de tamanho apropriado em crianças) na fossa antecubital, ou em qualquer veia periférica maior (Figura 13.2). Não tenha um acesso venoso em membros com lesões. Devem ser utilizadas luvas durante este procedimento, se houver suspeita de infecção que possa ser transmitida pelo sangue, ou lesão nas mãos do auxiliar. Se não for possível um acesso venoso, a jugular externa ou femoral podem ser canuladas. De forma alternativa, considere uma flebotomia (Figura 13.3). Um acesso venoso central (Figura 13.4) é raramente indicado para a ressuscitação inicial, mas pode ser utilizado posteriormente como guia na reposição de fluidos. A cateterização da veia jugular interna só deve ser realizada por pessoas treinadas. 305 S E Ç Ã O 13 Fig 13.2: Acesso intravenoso Veia cefálica Veia basílica Veia do antebraço Veia safena major 1 Oclua a drenagem venosa com um torniquete, ou pressão digital. Isto irá permitir que as veias fiquem cheias e salientes. Dê alguns tapas leves na veia para salientá-la. 5 Segure firme a agulha e introduza a cânula para dentro da veia. 2 Identifique uma veia, de preferência na junção em Y,. Estique a pele abaixo da veia. Isto impedirá a sua movimentação . 6 Quando a cânula estiver dentro da veia, libere o torniquete e remova a agulha. 3 Introduza gentilmente a agulha na junção Y. Use sempre luvas antes de iniciar o acesso intravenoso. 7 Conecte o equipo. 4 Pare de introduzir quando o sangue aparecer na cânula. 8 Fixe a cânula com fita adesiva. 306 Veias do escalpo T R AU M A E C I R U RG I A D E U RG Ê N C I A Figura 13.3: Locais para flebotomia Veia basílica Veia cefálica Veia femoral Veia safena magna Veia safena minor Fossa ant ecubit al antecubit ecubital Veias saf enas safenas Veia ffemor emor al emoral 1 Infiltrar a pele com anestésico local 2 Fazer uma incisão transversal 3 Expor a veia 4 Inserir suturas frouxamente nas porções distal e proximal da veia 5 Fazer uma pequena incisão na veia 6 Expor a abertura na veia e inserir a cânula 7 Firmar a sutura superior para fixar a cânula 8 Fechar a incisão 307 S E Ç Ã O 13 Figura 13.4: Acesso venoso central Veia jugular externa Veia jugular interna Veia subclávia externa Veias antecubitais Veia femoral Veia ffemor emor al emoral Veias ant ecubit ais antecubit ecubitais Veia subclávia Ligamento inguinal Nervo femoral Veia axilar Artéria femoral Veia cefálica Veia femoral Veias braquiais Veia basílica Veia mediana do cotovelo A veia basílica tem um curso mais reto do que a cefálica e é geralmente a que apresenta maior sucesso erna Veia jugular int interna Identifique um ponto no meio de uma linha que una o mastóide e a fúrcula. Insira a agulha num ângulo de 45o lateralmente a este ponto , apontando a agulha em direção ao mamilo Fúrcula Penetra-se na pele num ângulo de 45o e 3 cm abaixo do ligamento inguinal e 1 cm medialmente à pulsação máxima da artéria femoral Veia subclávia externa Clavícula Veia jugular interna Veia jugular externa Mastóide 308 Veia jugular ext erna externa Na posição com a cabeça para baixo, a veia jugular externa se ingurgita e se torna visível. Pode então ser canulada da maneira normal. Esta veia é extremamente útil para a ressuscitação com fluidos e pode ser geralmente observada quando as outras estão colabadas T R AU M A E C I R U RG I A D E U RG Ê N C I A Enquanto está se obtendo um acesso venoso, deve-se obter uma amostra de sangue para análise hematológica e bioquímica, além de provas de compatibilidade. Restauração de fluidos O objetivo da restauração de fluidos é restabelecer o volume sangüíneo circulatório rapidamente de maneira a manter a perfusão tecidual. De forma ideal, os pacientes gravemente traumatizados ou doentes devem receber somente soluções intravenosas nos minutos iniciais após a admissão no hospital. A escolha da solução inicialmente utilizada não é importante e freqüentemente é dependente da política local e disponibilidade. Pode ser utilizada a reposição de cristalóides ou colóides, desde que se mantenha os seguintes pontos em mente: 1 Selecione soluções cristalóides que realizem principalmente expansão do fluido extracelular, como a solução salina 0,9% ou Ringer Lactato. Não utilize soluções que contenham somente dextrose, a menos que não haja alternativa. 2 Como as soluções cristalóides deixam rapidamente a circulação, administre-os num volume três vezes o volume de sangue perdido. 3 Administre soluções colóides em volume igual à perda sangüínea, pois permanecem por mais tempo na circulação. 4 Se houver necessidade de transfusão de urgência, não espere o término das provas de compatibilidade, mas utilize sangue O Rh D negativo ou grupo específico não cruzado. O total de líquidos a ser administrado dependerá do estado clínico do paciente e das perdas estimadas. Deve ser realizada administração inicial em bolos de 10 –20 ml/kg de colóide ou 20 – 30 ml/kg de cristalóides a qualquer paciente que mostrar sinais de perda sangüínea maior que 15% (Classe II ou maior). Este volume deve ser administrado num curto período de tempo, aproximadamente cinco minutos. Quando possível, a solução deve ser aquecida para evitar hipotermia posterior. Observe cuidadosamente a resposta do paciente à reposição inicial, uma vez que as reposições posteriores serão guiadas a partir desta. D Distúrbios do sistema nervoso central A perfusão cerebral se torna inadequada quando há uma perda superior a 30% do volume de sangue, tendo como resultado, a inconsciência. Portanto, o sistema nervoso central deve ser avaliado rapidamente através da análise do nível de consciência e resposta da pupila à luz. Neste estágio, o nível de consciência pode ser avaliado através da quantificação da resposta do paciente numa das seguintes categorias: 309 S E Ç Ã O 13 A Alerta V Responde a comandos verbais P Responde a estímulos dolorosos U Não responsivo Um exame neurológico mais detalhado deve ser feito posteriormente quando você estiver realizando um exame completo. E Exposição do corpo todo É importante retirar todas as roupas do paciente traumatizado para observar diversas lesões que possam ter ocorrido. No entanto, é necessário evitar a hipotermia. Insira um catéter urinário, e considere a necessidade de descompressão gástrica através de uma sonda nasogástrica, principalmente em crianças. No entanto, não coloque uma sonda nasogástrica se houver suspeita de fratura de fossa anterior craniana. 13.3 Reavaliação Após a avaliação inicial e ressuscitação, o propósito da reavaliação é: 1 Avaliar a resposta à ressuscitação 2 Planejar uma estratégia de tratamento 3 Realizar um exame detalhado Avaliando a resposta à ressuscitação É essencial reavaliar as condições clínicas do paciente (Vias aéreas, respiração, circulação, etc.). Este processo detectará uma deterioração inesperada da condição do paciente, assim como informações sobre a resposta do paciente à ressuscitação. Sinais cardiovasculares Os sinais que a normovolemia esteja restabelecida incluem o retorno ao normal do pulso e pressão sangüínea. Sinais positivos posteriores que a circulação foi estabelecida incluem sinais de recuperação da perfusão tecidual, tais como aumento do nível de consciência e diminuição do tempo de preenchimento capilar. Débito urinário Uma vez que a função renal é extremamente sensível a mudanças circulatórias, a monitorização do débito urinário é de grande importância quanto à avaliação da resposta à reposição de fluidos. Um débito urinário normal deve ser maior que 0,5 ml/ kg/ hora, e 1 ml/ kg/ hora numa criança. 310 T R AU M A E C I R U RG I A D E U RG Ê N C I A Pressão venosa central A interpretação correta das alterações da pressão venosa central (PVC) pode fornecer informações úteis sobre o estado circulatório em resposta à administração de fluidos. Uma baixa PVC, que permanece baixa ou continua a cair durante a ressuscitação indica hipovolemia, estando indicada maior reposição de fluidos. Uma PVC em elevação sugere recuperação do volume sangüíneo, embora uma elevação abrupta em resposta a uma infusão de pequena quantidade de líquido possa indicar eminente sobrecarga circulatória. Equilíbrio Acido Básico O desenvolvimento de acidose metabólica em pacientes ocorre por metabolismo anaeróbico, e indica perfusão tissular inadequada. O restabelecimento da volemia e a conseqüente melhoria da perfusão tissular, faz com que o pH retorne ao normal (7,36-7,44). A medida seqüencial do pH arterial fornece um guia útil da reposição de fluidos. Figura 13.5: Normovolemia Sinais da recuperação volêmica Diminuição da freqüência cardíaca Recuperação do pulso periférico e diminuição do tempo de preenchimento capilar. Aumento do débito urinário Normalização do pH arterial Recuperação da pressão sangüínea normal Melhoria do nível de consciência Elevação lenta da PVC Planejando a abordagem Conforme a resposta inicial à ressuscitação pela administração de fluidos, pode-se planejar a melhor estratégia, conforme a figura 13.6. 1 Melhoria rápida após reposição inicial de fluido Um pequeno número de pacientes responde rapidamente à infusão inicial de fluidos, e permanecem estáveis após seu termino. Estes pacientes geralmente perderam menos que 20% de sua volemia. A abordagem inclui: Infusão lenta de fluidos de manutenção A transfusão não é indicada neste estágio, mas a compatibilização de hemocomponente é necessária Avaliação periódica, a fim de detectar qualquer deterioração clinica 311 S E Ç Ã O 13 Figura 13.6: Estratégia de abordagem em adulto baseada na resposta inicial à ressuscitação pela administração inicial de fluidos Hipovolemia Classe II ou superior (maior que 750 ml em adulto de 70 Kg) Infundir 20-30 ml/kg de cristalóide ou 10-20 ml de colóide Melhor Melhoraa rápida Melhor ansitória Melhoraa tr transitória Sem melhor melhoraa Diminuir a infusão, fluido de manutenção Infusão rápida Vigorosa administração de fluidos Iniciar transfusão Compatibilizar componente Transfusão de urgência Reavaliação periódica Não transfundir Cirurgia imediata Exame detalhado Reavaliação periódica Cirurgia Exame detalhado Tratamento definitivo Exame minucioso do paciente Encaminhamento especializado 2 Melhoria transitória após infusão inicial de fluidos Muitos pacientes apresentam uma melhoria com a infusão inicial de fluidos, seguida por uma deterioração dos parâmetros circulatórios com a lentificação da infusão. A maioria destes pacientes apresenta uma perda entre 20 a 40% de sua volemia ou ainda estão sangrando. A abordagem inclui: Administração rápida de fluidos Transfusão sangüínea Avaliação freqüente Avaliação minuciosa do paciente Cirurgia 3 Ausência de resposta ao tratamento inicial Resposta pequena ou ausente à infusão inicial de fluidos ocorre numa minoria de pacientes. A ausência de resposta à reposição adequada de fluidos e sangue significa a necessidade de intervenção cirúrgica imediata para controle da hemorragia. A abordagem inclui: Administração vigorosa de fluidos. Transfusão sangüínea urgente Cirurgia de urgência 312 T R AU M A E C I R U RG I A D E U RG Ê N C I A Pacient es que não apresent am melhoria após a adminis tr ação inicial de acientes apresentam administr tração fluidos, ou aqueles em que a hemorr agia seja visível, necessit am int er venção hemorragia necessitam inter ervenção cirúr gica imediat a, concomit ant ação cirúrgica imediata, concomitant antee à ressuscit ressuscitação REALIZANDO UM EXAME DETALHADO Assim que o paciente estabilize, obtenha os dados disponíveis, e faça um minucioso exame “da cabeça ao dedão do pé”. Realize então a investigação necessária, e administre imunização tetânica e antibióticos profiláticos, se necessário. Esta etapa é, às vezes, classificada como segunda avaliação . Seu objetivo é fazer o diagnóstico correto, evitando-se erros. Em alguns pacientes só é possível fazer uma segunda avaliação após uma intervenção cirúrgica que controle a hemorragia. Atividade 44 Um homem previamente saudável de 60 kg caiu acidentalmente do telhado, de uma altura de 9 metros (30 pés) . Após avaliação e ressuscitação inicial um exame minucioso revelou: Fratura do calcâneo esquerdo Fratura composta da tíbia e fíbula esquerda Fratura compressiva da primeira e segunda vértebra lombar Fratura da sétima, oitava e nona costela esquerda Laceração de 6 cm no couro cabeludo. 1 Qual a volemia normal do paciente? 2 Qual a perda sangüínea estimada do paciente? 3 Qual lesão abdominal deve ser cogitada para este paciente? 13.4 Conduta definitiva O objetivo desta fase é complementar a estratégia inicial. Com raras exceções, a abordagem definitiva da hemorragia é a cirurgia, e o objetivo é a de realizá-la após uma hora da apresentação. Muitos dos métodos de conservação e manuseio da perda sangüínea durante a cirurgia que estão descritos na Seção 12: Cirurgia e Anestesia, são igualmente aplicáveis ao paciente cirúrgico ou traumatizado. Além disto, a administração de fluidos e sangue pode por si só acarretar uma série de problemas. Estas complicações e sua conduta são discutidas na íntegra na Seção 7.6: Transfusão Maciça e de Grandes Volumes. 313 S E Ç Ã O 13 13.5 Outras causas de hipovolemia A hipovolemia secundária a causas clinicas ou cirúrgicas como cólera, cetoacidose diabética ou peritonite (ver figura 13.7) devem ser abordadas inicialmente de forma similar à já descrita nesta seção. Figura 13.7: Algumas causas de hipovolemia Clínica Cirúr gica Cirúrgica Cólera Cetoacidose diabética Choque séptico Insuficiência Adrenal Aguda Trauma maior Queimadura grave Peritonite Esmagamento A necessidade transfusional e cirúrgica nestes pacientes depende do diagnóstico. Nestes casos, a terapêutica adicional com antibióticos e insulina deve ser avaliada neste estágio. 13.6 A conduta nos pacientes pediátricos Os princípios básicos do tratamento e ressuscitação da criança hipovolêmica são os mesmos do adulto, e deve-se proceder como descrito nesta seção. No entanto, devem ser lembrados os seguintes pontos: 1 O volume normal sangüíneo é proporcionalmente maior em crianças, sendo calculado como 80 ml/kg na criança, e 85-90 ml/kg no neonato (Figura 13.8). Utilizar a proporção peso/altura é o método mais fácil de se encontrar o peso aproximado de uma criança gravemente doente. Figura 13.8: Valores normais para sinais vitais em crianças Idade Pulso Pressão sangüínea Respir ação espiração Volume sangüíneo <1 ano 120-160 70-90 30-40 85-90 1 a 5 anos 100-120 80-90 25-30 80 6 a 12 anos 80-100 90-110 20-25 80 > 12 anos 60-100 100-120 15-20 70 2 O acesso venoso em crianças que estão hipovolêmicas pode ser difícil. Locais úteis para a canulação incluem a veia safena atrás do tornozelo, a veia jugular externa e as veias femorais. 3 O acesso intra-ósseo pode ser o mais rápido na criança chocada que possua dificuldade de acesso venoso. Soluções, sangue e muitas drogas podem ser administradas por esta via. A agulha 314 T R AU M A E C I R U RG I A D E U RG Ê N C I A intra-óssea é normalmente colocada no platô tibial anterior, 2 a 3 cm abaixo da tuberosidade tibial, evitando a placa epifisial de crescimento (Figura 13.9). Figura 13.9: Técnica tibial para infusão intra-óssea Uma vez que a agulha esteja localizada na cavidade medular, as soluções podem ser administradas sob pressão, ou por seringa, quando for necessária uma reposição rápida. Se não houver disposição de agulhas específicas, pode-se utilizar alternativamente agulhas de biópsia de medula óssea, espinhal ou epidural. A via intra-óssea pode ser utilizada em todas as idades, mas geralmente tem mais sucesso em crianças com menos de 6 anos de idade. 4 O reconhecimento de hipovolemia pode ser mais difícil que no adulto. O aumento das reservas fisiológicas da criança pode resultar uma alteração leve dos sinais vitais, mesmo quando for perdido volume sangüíneo superior a 25% (Classe I e II de hipovolemia). Freqüentemente, a taquicardia é a resposta mais precoce da hipovolemia, mas também pode ser causada por medo ou dor (Figura 13.10). Figura 13.10: Classificação de hipovolemia em crianças Classe I Classe II Classe III Classe IV < 15% 15-20% 25-40% >40% Aumentado >150 >150 Pressão do Pulso Normal Reduzido muito reduzido aumento ou bradicardia Ausente Pressão Sistólica Normal Reduzido muito reduzido Indetectável Volume Sangüíneo Perdido Pulso Tempo de Preenchimento Capilar Normal Prolongado Muito prolongado Respiração Normal Aumentado Aumentado Estado mental Normal Irritável Letárgico Alterada na inspirada Comatoso <1 ml/kg/h <1 ml/kg/h Débito urinário <1 ml/kg/h <1 ml/kg/h Ausente 315 S E Ç Ã O 13 5 Como os sinais de hipovolemia podem ocorrer após 25% do volume perdido, o volume de reposição inicial deve representar esta quantidade. Portanto, devem ser administrados inicialmente 20 ml/kg de soluções cristalóides à criança com sinais de hipovolemia grau II ou maior. Dependendo da resposta, pode ser necessária a repetição acima de três vezes (acima de 60 ml/kg). 6 Crianças com resposta transitória, ou sem resposta à infusão inicial de fluidos necessitam de maior reposição de líquidos e transfusão de sangue; nestas circunstâncias devem ser utilizados 20 ml/kg de sangue total ou 10 ml/kg de hemácias. 7 Devido à alta relação entre massa e superfície na criança, há perda de calor rapidamente. Uma criança que está hipotérmica pode se tornar refratária ao tratamento. Portanto, é vital manter a temperatura corpórea. 8 A dilatação aguda gástrica é vista comumente na criança gravemente doente ou traumatizada. Portanto, a descompressão gástrica, geralmente através de sonda nasogástrica, é um componente essencial no seu tratamento. 9 Depois da reposição inicial com soluções, e a observação de ausência de lesão de encéfalo, a analgesia não deve ser postergada. O regime recomendado é de 50 microgramas/kg de morfina intravenosa em bolos, seguido de 10 a 20 microgramas/ kg com intervalos de 10 minutos, até que seja observada resposta. A conduta do paciente pediátrico está resumida na Figura 13.11. Figura 13.11: Conduta no paciente pediátrico 316 T R AU M A E C I R U RG I A D E U RG Ê N C I A CASO CLÍNICO 1 Um homem de 36 anos de idade esta ue estavva en envvolvido num briga, q que result ou em lacerações pr ofundas em seus braços, tórax e abdome resultou profundas de vido a esf aq ueament o com ffacão acão de mat o. A laceração mais séria devido esfaq aqueament ueamento mato. era na parede abdominal ant erior ue e xpunha o cont eúdo abdomianterior erior,, q que expunha conteúdo nal. U m colega do fferido erido aplicou pressão nas fferidas eridas q ue esta Um que estavvam sangrando e cobriu o abdome com um pano úmido lim po. Ele ffoi oi limpo. ado na traseira de uma pick -up até o hospital mais próximo, uma le v lev pick-up jornada de 1 4 horas. 14 Ao chegar ou q ue ele possuía as vias aéreas chegar,, a a avvaliação inicial mostr mostrou que viment os / minut o. O moviment vimentos minuto. desobstruídas, com uma respiração de 40 mo tórax esta v a lim po, sem lesões aparent es. P ossuía sinais da Classe estav limpo, aparentes. Possuía III de hipo e abrindo seus olhos, e hipovvolemia: esta estavva confuso, soment somente com mo vimentação aos estímulos dolor osos. movimentação dolorosos. O pacient e ffoi oi rapidament e ressuscitado com 6 l/min de o xigênio paciente rapidamente oxigênio atra vés de máscara, fforam oram im plantados dois grandes acessos através implantados intra taram), e administrado intravvenosos (as cânulas no hospital se esgo esgotaram), 2500 ml de solução salina aq uecida num período superior a 1 0 aquecida 10 minut os. Colhida amostra para com patibilização e colocada sonda minutos. compatibilização urinária. Não ha via urina residual. Ele apresent ou boa resposta à havia apresentou reposição inicial, e depois de 30 minut os sua pressão sangüínea era minutos de 90 mmHg, apresent ou 50 ml de urina, melhor ou estado de apresentou melhorou consciência e esta o a con sar de fforma orma coerent e. estavva apt apto convver ersar coerente. Um e xame com ple ue não ocorreu per furação de vísceras exame comple pletto re revvelou q que perfuração a par tir da lesão abdominal, mas continua da partir continuavva a ocorrer per perda sangüínea. U ma rea e estágio mostr ou q ue os Uma reavv aliação nest neste mostrou que parâme tr os cir culatórios esta e, por tant o, parâmetr tros circulatórios estavvam de detteriorando no novvament amente, portant tanto, foi administrado mais 1 500 ml de solução salina normal e duas 1500 unidades de sangue com patibilizado em 30 minut os. Houv e compatibilizado minutos. Houve estabilização do q uadr o e o pacient e ffoi oi le o Cirúrgico. A quadr uadro paciente levvado ao Centr Centro anest esia e a cirurgia ocorreram sem int er corrências, e ele tte eve boa anestesia inter ercorrências, recuperação. CASO CLÍNICO 2 Uma menina de 9 anos de idade ffoi oi admitida no hospital após um gra v e acident e de carr o, na q ual grav acidente carro, qual duas pessoas morreram. Na avaliação inicial, ela esta uipnéica, embora suas vias aéreas estavva taq taquipnéica, estiv essem lim pas. Não apresenta uer do estivessem limpas. apresentavva entrada de ar no lado esq esquer uerdo do tórax, e a per cussão mostra uéia não traquéia percussão mostravva som maciço. Sua traq esta 50 bpm, uma estavva desviada. Esta Estavva hipo hipovvolêmica, com pulso de 1 150 pressão sangüínea não de el e aument o no ttem em po de aumento empo dett ectáv ectável preenchiment o capilar el de consciência esta preenchimento capilar.. Seu nív nível estavva deprimido, e sua resposta ocorria soment e a estímulos dolor osos, com grunhidos. somente dolorosos, Ambas as pupilas esta as. Apresenta estavvam responsiv responsivas. Apresentavva um abdome dist endido. Seu peso estimado era de 30 kkg. g. distendido. Foi administrado o xigênio imediatament e atra vés de máscara 8 L/ oxigênio imediatamente através min. Colhida amostra sangüínea para com patibilização enq uant o compatibilização enquant uanto 317 S E Ç Ã O 13 houv e inserção de duas cânulas intra dministrado bolo houve intravvenosas. A Administrado inicial de 20 ml/k g (600 ml) de solução salina normal. Não houv e ml/kg houve melhoria, e repe tiu-se est e pr ocediment o. Sua pressão sangüínea repetiu-se este procediment ocedimento. aument ou durant e um cur em po, mas se ttornou ornou aumentou durante curtto período de ttem empo, inde el no e. indettectáv ectável novvament amente. Administrado post eriorment e mais 20 ml/k g de salina normal, eriormente ml/kg posteriorment seguida de duas unidades de sangue O Rh D negativ as não negativas com patibilizadas. Durant e a ressuscitação, o cirurgião realizou um compatibilizadas. Durante exame de talhado e opt ou por uma lapar otomia imediata, precedida detalhado optou laparo da colocação de um dreno de tórax à esq uer da para drenar um esquer uerda hemo tórax. Na lapar otomia, opt ou-se por uma ressecção do baço, hemotórax. laparo optou-se de vido a uma ruptura esplênica. devido A criança necessit ou de dois bolos de 20 ml/k g de solução salina necessitou ml/kg normal, e outra unidade de sangue na cirurgia ant es da estabilização. antes Post eriorment e, apresent ou boa recuperação e tte eve alta. osteriorment eriormente, apresentou ATIVIDADE 45 Desenvolva um pôster simples sobre uma visão geral do tratamento de crianças com patologias agudas admitidas no hospital. Fora da área de admissão, onde mais este pôster poderia ser colocado? ATIVIDADE 46 Desenvolva um esquema de reposição de líquidos para adultos e crianças, baseado nesta seção, e de acordo com as soluções disponíveis em seu serviço. ATIVIDADE 47 Faça uma lista dos equipamentos necessários para tratamento imediato de pacientes com patologias agudas admitidos em seu serviço. Eles estão disponíveis e são de fácil acesso nas principais áreas de admissão? Os equipamentos de ressuscitação podem ser transportados facilmente de uma área para outra? 318 14 Queimaduras Pontos chave 1. O tr at ament as gr aves de ve tter er trat atament amentoo precoce de um pacient pacientee com queimadur queimaduras graves deve uma seqüência similar a de outr os tr aumas. traumas. outros 2. O obje tivo principal do tr at ament ar o volume sangüíneo cir culant e, objetivo trat atament amentoo é res resttaur aurar circulant culante, er a per fusão ttecidual ecidual e a oxigenação. de maneir maneiraa a mant manter perfusão 3. Adminis tre soluções intr avenosas se a super fície queimada ffor or maior que intravenosas superfície Administre 15% no adult 0% em crianças. adultoo e 110% 4. O uso de cris cristtalóides isolado é segur seguroo e ef efeetivo par paraa reposição de queimados. Utilizar a quantidade corre as gr aves é mais corretta da solução em queimadur queimaduras graves impor importtant antee que o tipo de solução utilizada. 5. O indicador mais útil de ressuscit ação é a monit orização horária do débit ressuscitação monitorização débitoo urinário. 6. A tr ansfusão só de ve ser consider ada quando houver sinais indicando transfusão deve considerada liber ação de oxigênio inadequada. liberação 319 S E Ç Ã O 14 Introdução As queimaduras são a maior causa de morbidade e mortalidade em todo o mundo. O tratamento precoce e apropriado do paciente gravemente queimado é um fator significante no aumento de sobrevida. A reposição de fluidos e o uso de produtos sangüíneos, se necessário, é um componente importante deste tratamento. Objetivos do estudo Quando completar esta seção, você deverá estar apto a: 1 Avaliar e tratar qualquer condição aumentada de risco do paciente queimado. 2 Avaliar a gravidade de queimaduras em crianças e adultos. 3 Providenciar reposição adequada de líquidos em pacientes queimados. 4 Providenciar cuidados continuados apropriados a pacientes queimados. 320 QUEIMADURAS 14.1 A conduta nos pacientes queimados O tratamento precoce de pacientes gravemente queimados deve ter uma seqüência similar de outros pacientes com trauma (Seção 13: Trauma e Cirurgia de Urgência). Deve incluir: 1 Avaliação inicial e ressuscitação 2 Reavaliação 3 Tratamento definitivo Os princípios básicos dos primeiros cuidados e da ressuscitação inicial (Vias Aéreas, Respiração, Circulação, etc.), são aplicáveis de forma semelhante no paciente queimado. No entanto, também é importante considerar os seguintes pontos adicionais. 1 Os profissionais de primeiros socorros devem inicialmente proteger a si mesmos da causa do perigo, seja fonte de calor, química ou elétrica. 2 Retirar o paciente das fontes de perigo, e interromper o processo de queimadura através da remoção de roupas, ou lavar queimaduras químicas com grandes quantidades de água. 3 Fumaça, gases tóxicos ou inalação de vapor aquecido podem resultar em danos nas vias aéreas superiores e inferiores. A lesão de vias aéreas superiores pode causar obstrução de vias aéreas, embora este desenvolvimento possa não ocorrer imediatamente. Altas concentrações de oxigênio, intubação endotraqueal cuidadosa e ventilação mecânica podem ser necessárias. A Figura 14.1 mostra os sinais que devem alertá-lo para as lesões de vias aéreas. A avaliação freqüente das vias aéreas e ventilação é essencial. Nota ta: A intubação endotraqueal pode causar dano, principalmente quando houver inalação de ar aquecido. Considerar o uso de máscara laríngea para evitar trauma. Figura 14.1: Sinais de lesão de inalação Sinais def initivos definitivos Queimaduras faríngeas Secreção enegrecida Sibilos Rouquidão Obstrução de vias aéreas Aumento do nível de carboxihemoglobina Sinais suspeit os suspeitos História de confinamento em áreas de incêndio Sobrancelhas e pêlos do nariz chamuscados Tosse Chiado Crepitação respiratória 321 S E Ç Ã O 14 4 Pacientes inconscientes com queimaduras devido a descargas elétricas ou luminosas podem apresentar fibrilação ventricular. Nestas situações, a massagem externa cardíaca ou a desfibrilação pode salvar vidas. 5 Esfriar a área queimada com grandes quantidades de água fria pode reduzir a extensão da lesão, desde que realizada logo após a queimadura. 6 As queimaduras por fósforo, freqüentemente devido a explosivos, devem ser cobertas com parafina suave (vaselina), ou imersa em água para prevenir a reativação. 7 Outras lesões podem estar presentes devido a explosões ou numa tentativa de escape do incêndio. Além disso, algumas condições médicas como acidentes cérebro-vasculares podem ser precipitados devido a uma queda num incêndio. 8 Soluções intravenosas são necessárias para queimaduras com extensão superior a 15% da área corpórea num adulto com até 50 anos de idade, ou superior a 10% em crianças e idosos. 9 Pode ser necessária a escarotomia em queimaduras profundas de tórax, pernas ou digitais, pois o efeito da ressuscitação aumenta o turgor tecidual, resultando em constrição de vasos e limitação de movimentos torácicos. 14.2 Avaliação da gravidade das queimaduras A gravidade da queimadura é determinada pela: Superfície da área queimada Profundidade da queimadura Outras considerações. A superfície da área queimada Há aumento da morbidade e mortalidade com o aumento da superfície da área queimada. Também aumenta com a idade, de maneira que mesmo pequenas queimaduras podem ser fatais em pacientes mais idosos. Queimaduras maiores que 15% da superfície corpórea em adultos, maiores que 10% em crianças, ou qualquer queimadura em pacientes muito jovens ou idosos são consideradas sérias. Adultos A “Regra dos 9” é utilizada comumente para estimar a superfície da área queimada em adultos. O corpo é dividido em regiões anatômicas que representam 9% (ou múltiplos de 9%) da superfície corpórea total, como mostra a Figura 14.2. A extensão das palmas das mãos e dedos corresponde aproximadamente a 1% da superfície corpórea. Se a área queimada for pequena, avaliar quantas mãos cobririam o local. 322 QUEIMADURAS Figura 14.2: Estimando a profundidade de queimadura em um adulto Anterior Posterior Figura 14.3: Estimando a profundidade de queimadura em um a criança Anterior Posterior Área PPor or idade 0 1 5 10 Cabeça (A/D) 10% 9% 7% 6% Coxas (B/E) 3% 3% 4% 5% Perna (C/F) 2% 3% 3% 3% 323 S E Ç Ã O 14 Crianças O método da “Regra dos 9” é muito impreciso para avaliar a superfície queimada de uma criança, porque a cabeça e as extremidades da criança representam proporções diferentes na superfície corpórea em relação ao adulto. A Figura 14.3 mostra um método simples para calcular as áreas queimadas em crianças. Profundidade da queimadura É importante estimar a profundidade da queimadura para avaliar a gravidade, e planejar os cuidados futuros da ferida. As queimaduras podem ser divididas em três tipos, como mostra a Figura 14.4. Figura 14.4: Avaliando a profundidade da queimadura Pr ofundidade da Profundidade queimadur queimaduraa Car act erís ticas Caract acterís erísticas Primeiro Grau Segundo Grau (espessura parcial) Terceiro Grau (espessura total) Eritema Dor Ausência de bolhas Causa Queimadura solar Vermelha ou com manchas Contato Bolhas ou inchaço com líquidos Dor aquecidos Escurecida Seca Sensação de bordas Fogo Eletricidade ou luz Exposição prolongada a líquidos ou objetos aquecidos É comum encontrar os três tipos numa mesma queimadura, e a profundidade pode mudar com o tempo, principalmente se ocorrer infecção. Qualquer queimadura profunda deve ser considerada grave. Outras considerações Além da área e a profundidade da queimadura, o local também determina sua gravidade. Queimaduras na face, pescoço, mãos, pés, períneo e queimaduras circunferenciais (que circulam perna, pescoço, etc) são classificadas como grave. Pacientes com lesão inalatória e aqueles que possuem associação com trauma ou doença significativa pré-existente também são de risco. Conforme figura 14.5. ATIVIDADE 48 Estudo de caso Um menino de 5 anos, pesando 20 kg, acidentalmente colocou fogo em suas roupas quando estava perto do fogão da cozinha. Ele estava vestindo shorts e camiseta. Sua mãe ouviu seus gritos, veio investigar e encontrou suas roupas em chamas. Rapidamente retirou estas roupas. 324 QUEIMADURAS A criança apresentava queimaduras na face externa da coxa esquerda, do meio até as nádegas, e na parte esquerda de suas costas, entre o braço e a nádega. A pele estava avermelhada, com manchas e bolhas. 1 Como você iniciaria o tratamento deste paciente? 2 Utilizando-se as Figuras 14.3 e 14.4, estime: Figura 14.5: Critérios de gravidade que requerem internação A superfície da área queimada. A profundidade prevista da queimadura. Queimadur as gr aves que exigem hospit alização Queimaduras graves hospitalização Maior que 15% de área queimada num adulto Maior que 10% de área queimada em crianças Qualquer queimadura em crianças muito novas ou em idosos Qualquer queimadura profunda Queimaduras em regiões especiais: face, mãos, pés, períneo Queimaduras circunferenciais Lesão de inalação Trauma associada ou doença pré-existente significativa: exemplo diabetes ATIVIDADE 49 Qual o procedimento utilizado em seu serviço para estimar a superfície de área queimada? Há protocolos disponíveis? Estão sendo utilizados corretamente? Se não houver protocolos disponíveis, faça uma cópia das Figuras 14.2 e 14.3. Organize uma sessão educacional para a equipe envolvida na avaliação e tratamento de pacientes queimados, e como utilizar estes quadros para avaliar a gravidade das queimaduras. Depois, monitore se estão sendo usadas corretamente, e providencie sessões futuras, se necessárias. 14.3 Fluidos de ressuscitação em pacientes queimados As queimaduras graves são caracterizadas pela perda de integridade da membrana da parede capilar, resultando na passagem de fluido plasmático para o espaço intersticial, com formação de edema. O aumento da permeabilidade capilar que ocorre não fica limitado à área queimada, e sim por todo o corpo. Se não tratada, a hipovolemia irá ocorrer e levará à redução do débito cardíaco, hipotensão, oligúria e choque. A perda da integridade da membrana é maior nas primeiras oito horas depois da lesão, e somente é restaurada após 18 a 36 horas. 325 S E Ç Ã O 14 Em comum com outras formas de hipovolemia, o objetivo principal do tratamento é restaurar o volume sangüíneo circulante, de maneira a manter a perfusão tecidual e a oxigenação. Calculando as necessidades de líquidos Diversos métodos são utilizados para calcular as necessidades de líquidos em pacientes queimados nas primeiras 24 horas. Um destes métodos é o seguinte: 1 Avalie o paciente: Verifique há quanto tempo ocorreu a lesão Estime o peso do paciente Estime a % de superfície queimada. 2 Inicie a reposição de fluidos orais (a menos que haja outras lesões ou condições que necessitem de reposição intravenosa) se a % de superfície de área queimada for: Menor de 15% em adultos Menor de 10% em crianças. 3 Administre soluções intravenosas se a superfície de área queimada for maior que 15% em adultos e 10% em crianças. 4 Não superestime a área queimada, para não provocar sobrecarga de volume. 5 Para calcular as necessidades hídricas a partir do tempo da queimadura, aplique a fórmula mostrada na Figura 14.6. 6 Durante as primeiras 48 horas, o uso de pressão venosa central não confere nenhuma vantagem adicional em relação aos outros processos de monitorização. Isto pode ser revisto mais tarde se for introduzida a nutrição parenteral. Soluções de reposição utilizadas em queimados As soluções utilizadas em queimados devem ser as mesmas utilizadas para reposição, tais como solução salina balanceada (exemplo: Solução de Hartmann ou Ringer-lactato). A solução utilizada para manutenção deve ser a utilizada para a manutenção de outras patologias, por exemplo Dextrose 4,3% em cloreto de sódio 0,18% ( Seção 4: Fluidos de Reposição). O uso de cristalóides isolado é seguro e efetivo na ressuscitação de queimados. Tanto o plasma como a solução de albumina humana e colóides têm sido utilizadas na ressuscitação de pacientes queimados. No entanto, não há evidências claras que haja aumento na sobrevida destes pacientes, ou redução da formação de edema quando utilizados como alternativa aos cristalóides. Não há jus tif icativ at ament justif tificativ icativaa par paraa o uso de sangue no tr trat atament amentoo inicial de queimados, as lesões que jus tif iquem seu uso. existtam outr outras justif tifiquem a menos que exis 326 QUEIMADURAS Figura 14.6: Fórmula para cálculo de necessidades líquidas NECESSID ADES DE FLUIDOS PPARA ARA PPA ACIENTES QUEIMADOS NECESSIDADES Adult os Adultos Primeir as 224 4 hor as Primeiras horas Fluido necessário devido à queimadura (ml) = 3 X peso (kg) x % área queimada mais Fluido necessário para manutenção (ml) = 35 x peso (kg) Administre metade deste volume nas primeiras 8 horas e a outra metade nas 16 horas subseqüentes 24 hor as pos horas postteriores Fluido necessário devido à queimadura (ml) = 1 x peso (kg) x % de área queimada mais Fluido necessário para manutenção (ml) = 35 x peso (kg) Administre este volume em 24 horas Not otaa O limite superior de área de superfície queimada algumas vezes é limitado em 45% para adultos como precaução para evitar sobrecarga hídrica. Este limite pode ser ultrapassado se houver indicações na monitorização. Crianças Primeir as 224 4 hor as Primeiras horas Fluidos necessários devido à queimadura (ml) = 3 x peso (kg) x % de área queimada mais Fluido necessário para manutenção (ml): Primeiros 10 kg = 100 x peso (kg) 10 a 20 kg = 75 x peso (kg) Kg subseqüente = 50 x peso (kg) Administre metade deste volume nas primeiras 8 horas, e a outra metade nas 16 horas subseqüentes. Not otaa 1 Em crianças algumas vezes se considera o limite superior em 35% na superfície de área queimada a ser considerada para cálculos para evitar sobrecarga volumétrica. Este limite pode ser sobreposto se houver indicações na monitorização. 2 Em crianças, um guia aproximado de peso é: Peso (kg) = ( idade em anos + 4) x 2 De forma alternativa pode-se utilizar a tabela de peso/altura. 3 Crianças compensam o choque bem, porém podem entrar em colapso rapidamente. 327 S E Ç Ã O 14 Utilizar a quantidade correta de líquidos nos pacientes queimados é mais importante que o tipo de solução utilizada. A Figura 14.7 mostra um exemplo de necessidades de fluidos a partir do momento da lesão num adulto com 60 kg e 20% de área queimada. Figura 14.7: Exemplos de necessidades de fluidos a partir da queimadura num paciente adulto EXEMPL O DE NECESSID ADES LÍQUID AS A PPAR AR TIR DO HORÁRIO D A LESÃO EXEMPLO NECESSIDADES LÍQUIDAS ARTIR DA Adult Adultoo com peso de 60 kkgg e 20% de área queimada Primeir as 224 4 hor as Primeiras horas Reposição de fluidos: 3 x 60 (kg) x 20 (%) 3600 ml mais Solução de manutenção: 35 x 60 (kg) 2100 ml Total de fluidos necessários 5700 ml Administre metade deste volume nas primeiras 8 horas, e o restante nas 16 horas restantes. 24 hor as pos horas postteriores Reposição de fluido: 1 x 60 (kg) x 20 (%) mais Fluido de manutenção: 35 x 60 (kg) Total de fluidos necessários 1200 ml 2100 ml 3300 ml Monitorização Qualquer fórmula utilizada para calcular as necessidades de fluidos de pacientes queimados somente deve ser utilizada como guia. É essencial monitorar e reavaliar as condições clínicas do paciente regularmente e, se necessário, ajustar o volume da solução administrada para manter a normovolemia. Figura 14.8: Monitorização de pacientes queimados Monit orização Monitorização Pressão sangüínea Freqüência cardíaca Entrada e saída de líquidos (hidratação) Temperatura Nível de consciência e ansiedade Freqüência respiratória O indicador mais útil da reposição de fluidos é a monitorização horária do débito urinário. Na ausência de glicosúria e diuréticos, o objetivo é manter o débito urinário de 0,5 ml/ kg/ hora em adultos e 1 mg/ kg/ hora nas crianças. 328 QUEIMADURAS ATIVIDADE 50 Estudo de caso ( continuação) Estime o volume necessário para a criança descrita na atividade 48. Quais as soluções que você prescreveria? Por que? Como você avaliaria se a reposição está adequada? ATIVIDADE 51 Há manuais disponíveis em seu serviço sobre reposição de fluidos em pacientes queimados? Eles são adequados e estão sendo utilizados de forma apropriada por toda a equipe? Se não existirem ou estiverem inadequados, desenvolva alguns resumos e discuta com seus superiores. Uma vez que os mesmos tenham sido aprovados, organize uma sessão educacional para toda a equipe envolvida no tratamento de pacientes queimados. Monitore se os manuais estão sendo utilizados corretamente, e providencie sessões de atualização futuras. 14.4 Cuidados contínuos em pacientes queimados Depois do tratamento inicial, considere as seguintes medidas na continuação de tratamento de pacientes queimados. Toxóide anti-tetânico O toxóide anti-tetânico é essencial em pacientes queimados. Analgesia Administre analgésicos em pacientes com queimaduras graves. Para o controle de dor inicial, administre 50 microgramas/kg em bolos intravenosos de morfina, seguido de 10 a 20 microgramas/kg com intervalos de 10 minutos até que a dor esteja controlada. No ta Nota ta: Não administre analgésicos intramusculares por pelo menos 36 horas desde a ressuscitação do paciente. O quadro doloroso também pode ser reduzido por elevação das pernas queimadas, e cobertura parcial das queimaduras com pano limpo para evitar correntes de ar. Sonda nasogástrica Insira uma sonda nasogástrica se o paciente estiver apresentando náuseas, vômitos, distensão abdominal, ou se as queimaduras envolverem mais que 20% da área corporal. Mais tarde, ela pode ser utilizada para alimentação se não for possível a via oral depois de 48 horas, e para administrar antiácidos para proteger a mucosa gástrica. 329 S E Ç Ã O 14 Geralmente é necessário o uso de anti-ácidos, principalmente no caso de grandes queimaduras, que podem ser administrados por via oral: por exemplo, mistura de trissulfato de magnésio, cimetidina ou ranitidina. Sonda urinária Deve ser colocada precocemente para medir o débito urinário de forma precisa Temperatura Manter o paciente numa sala com temperatura inferior a 28ºC auxiliará a prevenir a perda de calor. Controle de infecção A depressão profunda da imunidade que ocorre no paciente gravemente queimado, torna as infecções e a sepsis comuns nestes pacientes. Deve ser dada atenção rigorosa às técnicas de assepsia quando houver troca de roupas e durante procedimentos invasivos. Antibióticos somente estão indicados se houver queimaduras contaminadas. Nutrição Diversas queimaduras são caracterizadas por um aumento da taxa metabólica corporal, junto com um catabolismo protéico, perda de peso e cicatrização prejudicada da ferida. A morbidade e mortalidade pode ser reduzida de forma significante se estes pacientes tiverem uma dieta altamente calórica a altamente protéica. A alimentação enteral (oral ou por sonda nasogástrica) é um método mais seguro. As necessidades nutricionais diárias aproximadas de um paciente gravemente queimado são de 3 g/kg de proteína e 90 calorias/kg. Diversos regimes nutricionais têm sido descritos para fornecer estas necessidades; um exemplo desta tendência e’ a “dieta do ovo”: cada ovo contém cerca de 6 g de proteína e 70 calorias. Um paciente de 70 kg irá necessitar de 35 ovos por dia para manter seu estado nutricional. Anemia Comumente se desenvolve anemia e hipoproteinemia depois de queimaduras extensas. Isto pode ser minimizado através de uma dieta hiperproteica e hipercalórica. Também devem ser administrados suplementos vitamínicos e precursores do sangue. A tr ansfusão sangüínea só de ve ser consider ada quando houver sinais indicando transfusão deve considerada liber ação inadequada de oxigênio. liberação Cirurgia O debridamento e enxerto de pele freqüentemente é necessário em queimaduras graves. No entanto, o debridamento extenso pode causar perda sangüínea considerável. Isto pode ser minimizado através da limitação 330 QUEIMADURAS da área a ser debridada em cada procedimento, e pelo uso de técnicas para reduzir a perda sangüínea cirúrgica, tais como o uso de torniquetes (Seção 12.2: Técnicas para Reduzir a Perda Sangüínea Cirúrgica). Também devem ser administrados elementos precursores do sangue nestes pacientes, entre os procedimentos cirúrgicos. Escarotomia A escarotomia é o corte longitudinal das queimaduras circunferenciais, para aliviar o edema, a pressão, e restaurar a circulação distal (pernas e dedos). Pode ser utilizada de urgência para aliviar compressão das vias aéreas resultante de queimaduras circunferenciais de tórax. Este procedimento é pouco doloroso, e pode ser realizado no centro cirúrgico sob condições estéreis, se necessário. Transferência Pacientes com queimaduras graves freqüentemente necessitam de cuidados especiais durante um longo período, e são melhor tratados em unidades especializados em queimados, se houver disponibilidade destas. Os pacientes devem ser transferidos somente após a estabilização, geralmente 36 ou mais horas após o incidente. Fisioterapia A fisioterapia é muito importante para prevenir pneumonia, incapacidade e contratura, devendo ser iniciada nos estágios mais precoces. 14.5 Prevenção de queimaduras Está além do escopo deste módulo a inclusão de um relatório de passos importantes da prevenção de queimaduras. No entanto, campanhas de educação pública e programas de prevenção de incêndios podem reduzir significativamente a incidência da gravidade de queimaduras. Programas de educação em prevenção de queimaduras são mais efetivos antes e durante o inverno. Devem incluir educação sobre os primeiros cuidados nos queimados. ATIVIDADE 52 Quais as causas mais comuns de queimaduras em seu serviço? Converse com seus superiores sobre as maneiras de contribuir para redução da incidência de queimaduras, como treinamentos dos trabalhadores de saúde para organizar um programa de primeiros cuidados nas escolas. 331 Par te 3 arte O uso apropriado de sangue: colocando em prática 15 Fazendo acontecer ue acontecer:: o q que eu posso fazer? Pontos chave 1 Os pr of issionais de saúde em qualquer nível no sis prof ofissionais sisttema de saúde podem tomar a iniciativ tr atégias ef as par ar o uso estr tratégias efeetiv tivas paraa aument aumentar iniciativaa de desenvolver es clínico apr opriado de sangue. apropriado ormação precisa ser cole 2 A inf maneiraa informação colettada de uma maneir maneiraa sis sisttemática, de maneir a av aliar o uso clínico de sangue dentr al. avaliar dentroo do hospit hospital. 3 Um comitê tr ansfusional hospit alar é essencial na es tr atégia de gar antir o transfusional hospitalar estr tratégia garantir uso apr opriado de sangue. apropriado 4 Manuais de uso clínico de sangue são essenciais na minimização de tr ansfusão desnecessária, e na pr omoção do uso apr opriado de sangue e transfusão promoção apropriado pr odut os sangüíneos. Os manuais de vem ser baseados em re visões produt odutos devem revisões sis vidência da ef sisttemáticas da eevidência efeetividade clínica. Seu desenvolviment desenvolvimentoo requer o envolviment erent es depar os, especialidades e níveis do envolvimentoo de dif diferent erentes departtament amentos, sis sisttema de saúde. 5 A implement ação ef implementação efeetiv tivaa de manuais do uso clínico de sangue depende da educação e treinament odo o pessoal envolvido no pr ocesso de clínica treinamentoo de ttodo processo tr ansfusional. transfusional. 335 S E Ç Ã O 15 Introdução Os desafios que você encontra atualmente ao prescrever o sangue são como encontrar maneiras de aumentar a disponibilidade e a eficiência do uso de produtos sangüíneos, alternativas à transfusão, testes diagnósticos, e o tratamento para anemia e depleção da volemia. Os profissionais da saúde em qualquer nível do sistema podem tomar a iniciativa de desenvolver estratégias efetivas para promover o uso clínico apropriado de sangue. O objetivo é melhorar os serviços transfusionais e a utilização de sangue e produtos sangüíneos dentro das políticas e procedimentos aceitos em sua região ou país. Objetivos do estudo Quando completar esta seção, você deverá estar apto a: 1 Obter maiores informações sobre o uso clínico do sangue em seu hospital, através de revisão dos registros existentes, e conversando com seus colegas sobre suas experiências e problemas. 2 Desenvolver um plano para aumentar a prática clínica transfusional em seu hospital. 3 Promover o estabelecimento de um comitê transfusional dentro de seu serviço. 4 Promover e contribuir ao desenvolvimento, implementação e monitorização de manuais locais no uso clínico de sangue. 5 Em conjunto com seus superiores, preparar um programa educacional para a equipe relevante dentro de seu hospital no uso clínico de sangue. 336 FAZENDO ACONTECER 15.1 Por onde começo? Como você tem trabalhado neste módulo, não possui dúvidas relacionadas às informações observadas em sua própria situação. Em particular, seus trabalhos nas atividades devem ajudá-lo a avaliar a prática e procedimentos de seu serviço, e maneiras de identificar melhorias que possam ser implementadas. Você pode, por exemplo, já ter começado a trabalhar nos procedimentos operacionais padrão ou nos manuais de clínica transfusional em relação à sua especialidade. Uma vez que este módulo foi designado para um uso global, ele cobre diversas situações clínicas, incluindo as de alta tecnologia e terapêuticas especializadas. Portanto, a chave para utilizar este módulo corretamente é: 1 Avaliar a segurança e adequação dos estoques de sangue, produtos sangüíneos e alternativas à transfusão disponíveis em seu serviço. 2 Avaliar a prática clínica transfusional em seu serviço, e identificar qualquer alteração ao uso apropriado clínico do sangue. 3 Identificar como a utilização clínica do sangue pode ser melhorada em seu serviço, como por exemplo uma melhor organização, educação e supervisão. Embora você possa necessitar de recursos adicionais, é importante lembrar que mudanças simples e baratas podem aumentar o impacto do uso clínico do sangue. O propósito deste módulo é auxiliar você, como prescritor de sangue, a compreender a importância de evitar transfusões desnecessárias ou que possam ser prevenidas, e fornecer maneiras de fazê-lo. No entanto, lendo este módulo isoladamente, não haverá mudanças práticas. Você precisa tomar a iniciativa, fazer acontecer e talvez, convencer os outros a auxiliá-lo para os fatos acontecerem. Nada irá acontecer se o processo não se iniciar. Agora, é com você. Identificar problemas Do seu trabalho neste módulo, você pode identificar algumas maneiras de modificar sua prática transfusional. Você pode identificar a necessidade de uma avaliação mais sistemática de decisão clínica transfusional, através do desenvolvimento de manuais sobre o uso clínico do sangue e educação continuada para a equipe envolvida em diversos aspectos no processo transfusional. No entanto, você irá perceber que necessitará de suporte clínico de colegas do laboratório, farmácia e administração, e talvez precise de um envolvimento nos programas de saúde pública relacionados à prevenção e tratamento da anemia. 337 S E Ç Ã O 15 O primeiro passo é evocar a sua experiência para identificar as necessidades, de maneira a minimizar transfusões desnecessárias e reduzir os riscos transfusionais para seus pacientes. Seu trabalho nas atividades fornece um ponto de início para esta análise. Discussões formais e informais com seus colegas irão fornecer idéias sobre os problemas que precisam ser resolvidos. Informações importantes sobre a necessidade de transfusões podem ser obtidas a partir da revisão de registros existentes, como por exemplo, pedidos de transfusão. Mudanças e soluções para a prevenção de anemia, e o uso apropriado do sangue variam entre os países e entre os diferentes níveis do sistema de saúde. Alguns pontos que precisam ser discutidos são: Disponibilidade de estoques adequados de sangue seguro para transfusão imediata Disponibilidade de pessoal no banco de sangue e de reagentes para compatibilizar o sangue do paciente, e obter sangue para a área clínica, quando necessário. Disponibilidade de soluções de reposição intravenosa. Disponibilidade de drogas para prevenir e tratar as causas da anemia em sua área: por exemplo, ferro, antimaláricos, antihelmínticos. Disponibilidade de suporte laboratorial para avaliar a anemia entre pacientes internados e ambulatoriais. Uso apropriado de serviços diagnósticos disponíveis. Disponibilidade de equipos estéreis para coleta de amostras e infusão de soluções de reposição intravenosa Disponibilidade de equipe treinada para garantir um transporte imediato de espécimes do banco de sangue, a administração correta da administração de produtos sangüíneos, e a monitorização de pacientes transfundidos. ATIVIDADE 53 Identificar as principais especialidades e categorias de pessoas envolvidas no processo clínico transfusional em seu serviço. Através de discussões formais ou informais, avalie a prescrição e administração de sangue e produtos sangüíneos, identificando problemas relacionados ao uso apropriado do sangue. Dados coletados Quando você trabalhar no desenvolvimento de um plano de ação, irá perceber que necessita de diversas informações para capacitá-lo a avaliar a eficácia da prática clínica transfusional, e identificar locais onde houver melhorias a serem implantadas. Uma revisão dos registros hospitalares é importante para avaliar como os pacientes estão sendo avaliados antes da transfusão, e se o sangue está sendo prescrito com base em indicações 338 FAZENDO ACONTECER clínicas e laboratoriais. Isto poderá ajudá-lo a avaliar a eficácia do diagnóstico e tratamento precoce da anemia no nível primário do sistema de saúde. Uma revisão dos registros deve enfocar as informações rotineiramente documentadas, registros hematológicos e farmacêuticos, de enfermaria e do paciente. Exemplos dos registros que podem ser utilizados nesta revisão são: 1 Registros do banco de sangue Número de unidades pedidas por categoria de paciente Número de unidades compatibilizadas Número de requisições não atendidas Número de cirurgias canceladas devido ao estoque de sangue Número de unidades utilizadas para transfusão por categoria de paciente Número de unidades utilizadas e devolvidas ao estoque por não utilização Número de unidades descartadas Número de unidades utilizadas sem pesquisa de marcadores de doenças infecciosas (HIV, hepatite, sífilis e outros testes requeridos nacionalmente) Número de unidades utilizadas sem testes de compatibilidade Indicações para transfusão que estejam compiladas de acordo com manuais nacionais, regionais ou hospitalares. 2 Registro de pacientes internados Número de pacientes transfundidos por categoria Indicações clínicas e laboratoriais para transfusão Complicações da transfusão: — Complicações agudas e tardias — Mortalidade 3 Registro de pacientes ambulatoriais (em áreas onde houver alta prevalência de anemia): Número de pacientes atendidos Número de pacientes avaliados para anemia (clinicamente, ou através da mensuração da hemoglobina) durante: — Atendimentos pré-natais — Atendimento de crianças saudáveis — Atendimento de crianças doentes. 4 Registros da farmácia para avaliar a adequação e a disponibilização do estoque de: 339 S E Ç Ã O 15 Soluções de reposição intra intravvenosa Soluções cristalóides, incluindo solução salina normal ( 0.9% de cloreto de sódio) Soluções colóides. Dr ogas utilizadas em : Drogas Anemia Malária Trabalho de parto Choque Pré-natal (redução de anemias associadas à gravidez) Doença hemolítica do recém nascido ( imunoglobulina anti-D). Disponibilização de de: Recuperação de sangue Maximização de volume intravascular (cuffs de pressão) Eq uipament os estéreis disponív eis: Equipament uipamentos disponíveis: Tubos de amostras Seringas Equipos de transfusão, incluindo agulhas e cânulas. Quando houver manuais nacionais, regionais, ou hospitalares disponíveis, deve-se definir o critério da transfusão para monitorar o uso de sangue e produtos sangüíneos. Garantir a precisão e o preenchimento correto dos registros existentes é um importante passo na avaliação da prática transfusional hospitalar. Freqüentemente são mantidos registros, mas que não são úteis como informações para a rastreabilidade da indicação. Nestas circunstâncias, os registros devem ser avaliados para aumentar sua eficácia. Por exemplo, ao se extrair dados de uma revisão de um paciente, necessita-se de um considerável tempo e recurso, porém, se os registros forem disponíveis, pode-se realizar avaliações periódicas da prática transfusional. ATIVIDADE 54 Enumere alguns exemplos de critérios clínicos e laboratoriais para o uso apropriado de sangue que possam ser utilizados na revisão da prática clínica transfusional em seu serviço. Identifique os registros de seu serviço que possam ser utilizados para avaliar a proporção de transfusões que ocorreram, de acordo com este critério. A seguir, identifique outras fontes de informação que você necessitaria para revisar e avaliar a prática transfusional em seu serviço. Junto a colegas de departamentos associados, organize um revisão de registros. Há variações significativas no uso de sangue entre diferentes 340 FAZENDO ACONTECER especialidades e equipes? Há necessidade de outros registros ou modificações destes? A partir da revisão de registros, deve ser possível iniciar a monitorização do uso clínico de sangue em seu serviço, e identificar mudanças necessárias para minimizar as transfusões desnecessárias. Monitorização e avaliação do uso clínico do sangue Como você começou a identificar problemas e soluções em seu serviço, torna-se óbvia a necessidade de revisões periódicas das práticas transfusionais, da capacidade do laboratório, a disponibilidade de sangue seguro, soluções de reposição intravenosas, drogas e equipamentos essenciais. A monitorização sistemática e avaliação são necessárias para garantir que: 1 Os pacientes estejam sendo avaliados adequadamente. 2 Estejam disponíveis alternativas à transfusão de componentes sangüíneos, inclusive soluções cristalóides e colóides. 3 Sangue não seja usado desnecessariamente. 4 Quando necessário, sejam utilizados componentes sangüíneos necessários. 5 Componentes sangüíneos seguros estejam disponíveis, de maneira a atender as demandas do hospital. As avaliações periódicas serão necessárias na rotina com o desenvolvimento de critérios de padronização da prática clínica transfusional e serviços hospitalares. Defina claramente os critérios padronizados para registro hospitalar, de sorte a facilitar a revisão. 15.2 Desenvolvimento de um plano de ação Uma vez que tenha sido feita a avaliação preliminar da situação atual, e a identificação dos fatores que determinem como estão sendo utilizados os componentes sangüíneos, o próximo passo é iniciar o planejamento das ações necessárias a melhorar a prática clínica transfusional. Você pode sentir que esta ação é necessária em diversos níveis: Para modificar sua própria prática clínica Para melhorar as práticas entre membros de sua equipe: por exemplo, através de ensino e monitorização da prática Dentro do hospital, como o estabelecimento de um comitê transfusional hospitalar, ou o desenvolvimento de manuais de uso clínico do sangue, se não existirem manuais nacionais ou locais 341 S E Ç Ã O 15 Em bases regionais ou nacionais, com a inclusão da área de medicina transfusional no currículo de escolas médicas e de enfermagem. Você pode tentar utilizar suas idéias, mas outros necessitarão de mais tempo e esforço para cooperação e suporte de outras pessoas e departamentos. Portanto, é importante identificar as prioridades. Você provavelmente não poderá colocar suas idéias em prática sozinho, e será necessário trabalhar com outros para planejar e implementar as ações que identificou como necessárias e factíveis. 1 Faça uma lista das atividades, mas coloque prioridades: Selecione objetivos a curto e a longo prazo Faça uma programação de tempo para atingir estes objetivos, mas seja realista Não descarte qualquer possível oportunidade. Soluções de baixo custo freqüentemente estão disponíveis. 2 Mantenha suas expectativas altas, e pense de forma criativa. Como uma situação pode ser melhorada sem maiores recursos ou recursos bem limitados? Por exemplo: Estabelecimento de um comitê hospitalar transfusional Desenvolvimento de manuais de uso clínico do sangue Desenvolvimento de um pedido padronizado de sangue e procedimentos operacionais padrão para cada fase do processo transfusional Encontros clínicos e sessões de treinamento para todos os médicos envolvidos no processo transfusional A expansão da educação nutricional nos atendimentos rotineiros da maternidade Revisões periódicas da prática transfusional, e reavaliação nos encontros periódicos de equipe Uma revisão da lista de drogas farmacêuticas para identificar soluções de reposição essenciais, aparelhos médicos, equipamentos, e para remover produtos mais caros ou desnecessários. Um estoque de drogas a nível regional ou nacional tende a ser menos caro e fornece uma oportunidade de se testar a qualidade, a esterilidade de drogas, soluções de reposição e outras soluções. Informações sobre o Programa de Manejo de Drogas da OMS podem ser obtidas nos Escritórios Regionais da OMS. 3 Planejar uma estratégia de defesa. Quais comitês e suportes serão necessários para modificar a prática clínica transfusional, o registro, ou para obtenção de maiores recursos para equipamentos, descartáveis ou pessoal? Diretor médico hospitalar Corpo clínico, do banco de sangue, do laboratório e da farmácia Administradores e gerentes do hospital 342 FAZENDO ACONTECER Autoridades locais, regionais e nacionais da área de saúde Escolas médicas e de enfermagem Organizações não governamentais. 4 Avaliação continuada através da reavaliação de recursos, revendo prioridades e estratégias, e fixando novos prazos para atingir os objetivos, se necessário. ATIVIDADE 55 Observe em seu serviço as atividades deste módulo, e identifique as áreas onde você acredita que ações sejam necessárias para melhorar a prática clínica transfusional. Faça uma lista da ações necessárias e divida suas sugestões em duas categorias. 1 Ações que você possa realizar. Escolha os itens que você acredita que são mais importantes, e coloque-os em ordem de prioridade. Anote a ação que você planeja ter, e os resultados esperados. 2 Ações que necessitem de colaboração com outros, dentro ou fora do hospital. Identifique as pessoas e os departamentos que possam auxiliá-lo quando necessário, e anote suas sugestões para a ação, colocando-as numa seqüência lógica de prioridades. Prepare um esquema realista de planejamento e implementação de suas idéias, e identifique recursos que sejam necessários. 15.3 Comitê de transfusão hospitalar Não há dúvidas que todos, independente do nível do sistema de saúde que atuem, podem fazer diferença quanto à prática clínica transfusional de seu serviço. Muitas inovações pequenas e baratas podem causar um impacto significativo no uso apropriado do sangue, na prevenção e tratamento de quadros anêmicos, e de outras condições que possam levar à necessidade transfusional. No entanto, há um limite onde um indivíduo sozinho possa alcançar, sendo necessária uma mudança na prática clínica e na alocação de recursos. Por esta razão, todo hospital deve estabelecer um comitê hospitalar para monitorar e revisar a prática clínica transfusional de seu serviço. O comitê hospitalar transfusional deve ter autoridade dentro da estrutura hospitalar para determinar a política do hospital em relação à transfusão, e resolver os problemas identificados. O papel do comitê transfusional hospitalar deve ter as seguintes funções: 1 Monitorar a segurança, confiança e adequação da oferta de sangue, componentes sangüíneos e alternativas à transfusão, como soluções de reposição intravenosa e drogas essenciais. 343 S E Ç Ã O 15 2 Estabelecer procedimentos para uma prática transfusional eficaz dentro do serviço, incluindo o desenvolvimento de uma requisição padronizada de pedido de sangue, procedimentos operacionais padrão, e manuais sobre o uso clínico do sangue, se não existirem a nível nacional. 3 Coordenar a educação e o treinamento de todos os clínicos e pessoal do banco de sangue envolvido no processo transfusional. 4 Revisar efeitos adversos graves, ou erros associados à transfusão, e identificar medidas corretivas necessárias. Além disso, o comitê deve revisar assuntos relacionados, como a disponibilidade de suporte laboratorial e eficácia de programas de saúde pública de prevenção e tratamento de anemias, além dos relacionados à perda sangüínea. Relatos da equipe hospitalar sobre seus problemas e sugestões podem auxiliar na avaliação sistemática de um aspecto particular da prática clínica transfusional. O comitê deve ser multidisciplinar e envolver todos os departamentos do hospital envolvidos na obtenção e prescrição de sangue e componentes sangüíneos. Estes podem incluir: 1 Representantes de especialidades clínicas que prescrevam sangue. 2 Responsável pelo banco de sangue, e quando aplicável, um representante do hemocentro que forneça o sangue e componentes sangüíneos. 3 Responsáveis da equipe hospitalar de fornecimento de soluções de reposição intravenosa, medicamentos, equipamento médico e equipos descartáveis 4 Enfermeira responsável. Em áreas onde houver prevalência de anemia crônica, membros do nível primário do sistema de saúde devem ser incluídos no comitê, para garantir que as estratégias de prevenção de quadros anêmicos estejam sendo implantadas efetivamente, tendo um suporte adequado. Por exemplo, a Escala Colorimétrica da OMS é um método simples e barato de pesquisa das gestantes. Embora os membros do comitês hospitalar sejam clínicos, eles podem envolver em algumas ocasiões outros departamentos, como o administrador, diretor financeiro e o pessoal dos registros hospitalares. Todos os níveis do sistema de saúde podem procurar melhorar as práticas transfusionais em seu serviço e trabalhar para estabelecer um comitê transfusional. Porém, este comitê terá mais sucesso ser for liderado por um clínico mais antigo, que seja entusiasta da promoção do uso apropriado de sangue e componentes sangüíneos. 344 FAZENDO ACONTECER ATIVIDADE 56 Identifique as pessoas chave que devem ser representadas no comitê transfusional hospitalar, se não houver um em seu serviço. Converse com estas pessoas sobre a importância de um comitê transfusional hospitalar para monitorar e avaliar a prática clínica transfusional. Discuta o papel do comitê e a proposta da formação deste. 15.4 Normas sobre uso clínico do sangue Manuais sobre o uso clínico do sangue geralmente representam um consenso ou avaliação especializada, de acordo com critérios clínicos e laboratoriais para o uso de componentes sangüíneos e soluções de reposição. Servem para: 1 Definir os padrões ótimos de cuidados do paciente para clínicos, banco de sangue e administradores hospitalares. 2 Proteger o recurso escasso do sangue, e conter custos dos serviços transfusionais. 3 Embasar o comitê sobre o uso apropriado e seguro de sangue, que facilita o desenvolvimento de políticas, alocação de recursos, e monitorização do uso do sangue. Quando existirem manuais nacionais ou regionais, estes devem ser a base dos locais. Onde não existirem manuais nacionais, o comitê transfusional deve ficar responsável pela preparação de manuais simples com objetivo de: Promover a prevenção, diagnóstico precoce e tratamento de quadros anêmicos. Promover a disponibilidade e o uso de soluções de reposição Definir critérios laboratoriais e clínicos para transfusão, de maneira a minimizar o número de transfusões desnecessárias Garantir disponibilidade de sangue seguro a pacientes no tempo correto. Aumentar a precisão dos registros para auxiliar a monitorização do uso clínico de sangue. Envolvendo as pessoas certas Quando, a nível local ou nacional, o desenvolvimento e a implementação dos manuais transfusionais necessitam do envolvimento e o suporte de várias pessoas, incluindo: 345 S E Ç Ã O 15 1 Profissionais do sistema de saúde: Diferentes especialidades médicas: — Cirurgia — Cuidados intensivos e anestésicos — Ginecologia/ obstetrícia — Pediatria — Trauma e emergências — Medicina interna — Hematologia/oncologia — Medicina transfusional Diferentes experiências e formação educacional: — Médicos — Enfermeiras — Nível médio, incluindo assistente de médicos e auxiliares de enfermagem. 2 Equipes do: Serviço de transfusão hospitalar/ banco de sangue Laboratório de hematologia. 3 Administradores Administradores e gerentes hospitalares Gerentes de programas de saúde materno-infantil, nutrição e de controle de malária. 4 Organizações não-governamentais envolvidas da transfusão sangüínea: Cruz Vermelha Nacional ou Liga do Vermelho Crescente Nacional Organizações de doadores de sangue Organizações de voluntários: Associação de hemofílicos e talassêmicos. O envolvimento de indivíduos de programas relacionados, como o de saúde materno-infantil, nutrição e controle de malária irá garantir que os manuais sejam consistentes com a política existente, e facilitará a coordenação com os programas de saúde primária. É importante reconhecer que está na hora de desenvolver manuais abrangentes sobre o uso clínico do sangue, seja a nível nacional, regional ou local. Quando possível, devem ser baseados na melhor evidência de efetividade clínica. No entanto, diferentes perspectivas, experiências e treinamento de indivíduos de diferentes especialidades e níveis do sistema de saúde são importantes na definição de padrões de cuidados dos pacientes. Se não houver registros disponíveis, manuais devem ser feitos através de consenso, até que existam maiores informações disponíveis. Os manuais devem ser revisados periodicamente, e quando surgirem novas informações. 346 FAZENDO ACONTECER Devem ser desenvolvidos com o envolvimento de autoridades de saúde locais e/ou nacionais. A aprovação dos manuais transfusionais por estas autoridades irá assegurar o comprometimento de organizações governamentais e não-governamentais, que são essenciais na implantação destes com sucesso. Os manuais devem cobrir todas as atividades necessárias à optimização da prática clínica transfusional. Devem incluir seções sobre: 1 Prevenção de anemia e condições que possam levar à necessidade transfusional, como: Medidas de saúde pública Diagnóstico precoce Tratamento efetivo (incluindo lista de drogas essenciais). 2 Formulário de requisição de sangue 3 Previsão de consumo transfusional 4 Procedimentos operacionais padrão para todas as fases do processo transfusional, incluindo o laboratório, e serviços do banco de sangue. 5 Critérios clínicos e laboratoriais para transfusão, e alternativas nas principais especialidades. 6 Planos de implementação: estratégias de disseminação, implementação e monitorização dos manuais. ATIVIDADE 57 Procure em seu serviço atividades deste módulo que sugiram o desenvolvimento de manuais em relação a diversos aspectos da prática transfusional. Faça uma lista dos locais onde estes manuais são necessários, ou possam ser melhorados. Identifique o pessoal chave dentro de seu serviço ou região que possa ter um papel importante no desenvolvimento dos manuais. Organize um encontro para planejar o processo de desenvolvimento, implementação e monitorização dos manuais sobre o uso do sangue. Para maiores detalhes leia o documento: Recommendations on Developing a National Policy and Guidelines on the Clinical Use of Blood (1998). 15.5 Educação e treinamento sobre o uso clínico do sangue O desenvolvimento e a disseminação de manuais isolados são insuficientes para alterar práticas já instaladas. A prescrição da transfusão de acordo 347 S E Ç Ã O 15 com manuais também dependerá do desenvolvimento de programas educacionais para todos os clínicos, equipe técnica do laboratório e outras pessoas envolvidas no processo transfusional. Exemplos de oportunidade para educação do uso clínico de sangue incluem: 1 Programas de graduação e pós-graduação Escolas médicas e hospitais-escola Instituições de treinamento de tecnologia médica e hospitalar Escolas de enfermagem Escolas de paramédicos 2 Treinamento em serviço Clínicos Enfermeiras Equipe do banco de sangue 3 Educação médica continuada Sessões educacionais dentro da área clínica Encontros clínicos Seminários e conferências Publicações médicas. Membros do comitê transfusional hospitalar e clínicos respeitados podem servir como educadores eficazes nos encontros hospitalares. Revisão da prática clínica atual com encontros para equipe e discussão sobre os resultados destas revisões são valiosas no acúmulo de experiência para auxiliar a melhoria da prática. A longo prazo, a incorporação da medicina transfusional dentro das escolas de graduação e pós-graduação médica, e programas de enfermagem serão maneiras importantes de promover o uso clínico apropriado do sangue em todos os níveis do sistema de saúde. ATIVIDADE 58 Converse com membros de sua equipe para identificar áreas onde a educação continuada possa auxiliar em relação ao uso clínico do sangue. Depois, converse com colegas de outros departamentos para identificar prioridades na educação sobre a prática transfusional. Quais oportunidades estão disponíveis em seu serviço? Proponha ao comitê transfusional que um programa estruturado de ensino para todas as equipes relevantes deva ser planejado para desenvolver e implementar manuais clínicos sobre transfusão. Sugira ao comitê hospitalar contato com as escolas médicas e de enfermagem para estimular a inclusão de medicina transfusional dentro da grade curricular da graduação e pós-graduação. 348 FAZENDO ACONTECER Ao terminar este módulo, e ter a oportunidade de refletir a prática transfusional na sua área clínica e dentro de seu serviço, você está apto a reconhecer a parte que possa promover quanto ao uso clínico apropriado de sangue e componentes sangüíneos. Lembre-se que até mesmo pequenas mudanças nos sistemas, procedimentos e práticas, podem produzir efeitos significativos na diminuição de transfusões desnecessárias, e reduzir o risco de pacientes que necessitem de transfusão. Você pode encontrar dificuldades para convencer algumas pessoas que a mudança seja necessária, principalmente quando os recursos financeiros e humanos são limitados. Seja realista no planejamento e implementação do seu plano de ação, e reconheça a importância de assegurar a cooperação e o suporte das equipes de todos os níveis, através do compartilhamento de informações e troca de idéias, experiências e problemas. O progresso inicial pode ser lento, mas uma revisão sistemática e periódica das práticas transfusionais deve demonstrar a eficácia da mudança, e as áreas que precisam ser melhoradas posteriormente. 349 Glossário Aférese Procedimento que envolve a remoção do plasma, separação ex-vivo de um componente (p. ex. plasma e plaquetas) e reinfusão dos outros componentes. Veja Plasmaférese Albumina A principal proteína do plasma humano. Anemia descompensada Anemia clinicamente grave: anemia com um nível tão baixo que o transporte de oxigênio se torna inadequado, mesmo com todas as respostas compensatórias normais já ativadas. Anisocitose Grau anormal de variação do tamanho das hemácias, observado em um esfregaço sangüíneo Buffy coat A camada de leucócitos que forma a interface entre as hemácias e o plasma quando o sangue é centrifugado Coagulação intravascular disseminada (CIVD) Ativação dos sistemas da coagulação e fibrinolítico, levando a deficiências dos fatores de coagulação, fibrinogênio e plaquetas. Encontram-se também os produtos de degradação da fibrina no sangue. Podem também causar lesões teciduais, por falta de oxigênio e obstrução dos pequenos vasos. Clinicamente, caracteriza-se geralmente por sangramento microvascular. Componentes eritrocitários Qualquer componente que contenha hemácias: p. ex. concentrado de hemácias, hemácias em solução aditiva. Curva de dissociação do oxigênio Um gráfico que demonstra a relação entre o conteúdo de oxigênio na hemoglobina e o conteúdo de oxigênio no plasma (“pressão parcial”). Veja Figura 2.9 350 G LO S S Á R I O Derivados plasmáticos Proteínas plasmáticas humanas preparadas sob condições farmacêuticas de manufatura. Incluem a albumina, imunoglobulinas e fatores da coagulação VIII e IX. Desferrioxamina (Desferal) Um agente quelante (que se liga) de ferro, que aumenta a excreção do ferro. Dextran Uma macromolécula que consiste numa solução de glicose, utilizada em algumas soluções colóides sintéticas. Doadores familiares ou de reposição Um doador que doe sangue quando for requisitado por um membro da família do paciente ou da comunidade. Isto pode envolver um sistema remunerado de doação obscuro, em que o doador seja pago por membros familiares do paciente. Doadores remunerados ou profissionais Um doador que dê seu sangue por dinheiro, ou outra forma de pagamento Doadores voluntários, não remunerados Um doador que doe livremente seu sangue, sem receber dinheiro ou qualquer outra forma de pagamento. Esfregaço sangüíneo dimórfico Um esfregaço sangüíneo que mostre tanto hemácias microcíticas, hipocrômicas e hemácias macrocíticas, sugerindo a deficiência de ferro e folato (ou folato e vitamina B12 ) Fibrinogênio A principal proteína coagulante do plasma. Convertido em fibrina (insolúvel) pela ação da trombina. Fluidos de manutenção Soluções cristalóides utilizadas para reposição das perdas fisiológicas através da pele, pulmões, fezes e urina. Fluidos de reposição Fluidos utilizados para reposição de perdas anormais de sangue, plasma ou outros fluidos extracelulares. Utilizados para tratar hipovolemia e manter o volume normal de sangue. Gelatina Um polipeptídeo de origem bovina que é utilizado em algumas soluções colóides sintéticas. Hematócrito (Ht) Uma medida equivalente ao volume eritrocitário, derivada da análise de aparelhos automatizados de hematologia, a partir dos índices eritrocitários. Ver volume eritrocitário. 351 G LO S S Á R I O Hemoconcentração Hematócrito elevado, devido à redução do volume plasmático Hemodiluição Hematócrito reduzido. Hemodiluição aguda causada pela perda eritrocitária e reposição pela infusão de cristalóides ou colóides. Hipertônico Fluido que exerça uma pressão osmótica maior do que os fluidos corpóreos normais. Hipocromia Conteúdo reduzido de ferro nas hemácias, indicado pela redução da cor da hemácia. Uma característica da anemia por deficiência de ferro. Ver microcitose. Hipovolemia Redução do volume de sangue circulante. Hipóxia anêmica Oferta reduzida de oxigênio aos tecidos, devido a um baixo nível de hemoglobina nas hemácias. Hipóxia estagnante Oferta reduzida de oxigênio devido à redução do fluxo sangüíneo (perfusão). Hipóxia hipóxica Oferta reduzida de oxigênio aos tecidos, devido a uma oferta inadequada de oxigênio dos pulmões para as hemácias. Hipóxia tissular Deficiência de oxigênio nos tecidos e órgãos corporais. HLA Antígeno leucocitário humano. IgG, IgM, IgA, IgE Veja Imunoglobulina. Imunoglobulina (Ig) Proteína produzida pelos linfócitos B e plasmócitos. Todos os anticorpos são imunoglobulinas. As principais classes de imunoglobulinas são IgG, IgM (principalmente no plasma), IgA (protege as superfícies mucosas) e IgE (causa reações alérgicas). Imunoglobulina anti-D Preparado de imunoglobulina G humana contendo um alto nível de anticorpos contra o antígeno D. Incidência A proporção de uma população definida que se torna infectada por um agente infeccioso dentro de um determinado período de tempo. 352 G LO S S Á R I O Índices eritrocitários Volume corpuscular médio (VCM) Hemoglobina corpuscular média (HCM) Concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) Infecção transmissível por transfusão Uma infecção que seja potencialmente capaz de ser transmitida por transfusão de sangue. Infecção transmitida por transfusão Uma infecção que foi transmitida por transfusão de sangue. Isotônico Fluido que exerça a mesma pressão osmótica que os fluidos corpóreos normais. Kernicterus Lesão dos gânglios da base cerebral, ocasionada pela bilirrubina lipossolúvel. Causa espasticidade. Pode ser ocasionada pela doença hemolítica do recém nascido. Macrocitose Hemácias maiores do que o normal. Uma característica das hemácias, por exemplo, na anemia por deficiência de ácido fólico ou vitamina B12. Megaloblastos Precursores de hemácias anormais. Geralmente decorrem da deficiência de vitamina B12 e/ou folato, desenvolvendo-se em hemácias macrocíticas (aumentadas). Microcitose Hemácias menores do que o normal. Uma característica da anemia por deficiência de ferro. Ver também Hipocromia. Normovolemia Volume circulante normal de sangue. Período de janela O período entre o momento da infecção por um vírus (p.ex. HIV) e o desenvolvimento de anticorpos detectáveis. Plasmaférese O método utilizado para remover o plasma do sangue, ao separar-se as hemácias, retornando-as suspensas em salina ao paciente, e retendo-se o plasma. Veja Aférese Pressão oncótica Pressão osmótica exercida por soluções colóides. Também denominada de “pressão colóido-osmótica”. Prevalência A proporção de uma população definida que se infecta com um agente infeccioso em qualquer período de tempo. 353 G LO S S Á R I O Produtos da degradação de fibrina Fragmentos da molécula de fibrina formados pela ação de enzimas fibrinolíticas. Níveis elevados no sangue são uma característica da coagulação intravascular disseminada. Produtos sangüíneos Qualquer produto terapêutico proveniente de doações de sangue ou plasma humano Razão normatizada internacional (INR) Mede o efeito anticoagulante da warfarina. Algumas vezes denominado de tempo de protrombina (TP) Refratário Uma baixa resposta à transfusão plaquetária. A contagem plaquetária do paciente não se eleva em pelo menos 10 x 109 /L 18-24 horas após uma transfusão de plaquetas. Geralmente devido a fatores clínicos: p. ex. febre, infecção, CIVD, esplenomegalia, antibióticos. Também ocorre se os componentes plaquetários transfundidos forem de má qualidade. Reticulócitos Hemácias jovens que ainda contêm RNA. Indicam taxa elevada de produção eritrocitária pela medula óssea. RhD O antígeno mais imunogênico do sistema Rh. Anticorpos ao RhD são uma causa importante de doença hemolítica do recém nascido. Salina normal Uma solução salina isotônica a 0,9%. Sangramento microvascular Sangramento de membranas mucosas: extravasamento de catéteres que persistem após a aplicação de pressão; extravasamento contínuo de incisões cirúrgicas e tecidos cruentos, petéquias generalizadas ou aumento no tamanho das equimoses. Indica uma grave insuficiência hemostática. Veja Coagulação Intravascular Disseminada. Sangue (como um produto para terapia) Neste módulo, refere-se a qualquer componente que contenha hemácias, exceto aqueles especificados de outra maneira. Veja Componentes eritrocitários Solução aditiva (solução aditiva de hemácias) Fórmulas patenteadas destinadas à reconstituição das suspensões de hemácias após a separação do plasma, conferindo condições ideais de armazenamento. São soluções salinas com alguns aditivos: p. ex. adenina, glicose e manitol. Solução colóide Uma solução contendo grandes moléculas, que têm uma passagem restrita através das membranas capilares. Utilizada como fluido de reposição intravenoso. As soluções colóides incluem gelatinas, dextrans e hidroxietilamido. 354 G LO S S Á R I O Solução cristalóide Solução aquosa de pequenas moléculas, que facilmente atravessam as membranas capilares: p. ex. solução salina, solução salina balanceada. Solução salina balanceada Geralmente uma solução salina com uma composição eletrolítica que se assemelha ao fluido extra-celular: p. ex. Ringer lactato, solução de Hartmann. Tempo de protrombina (PT) Um teste do sistema de coagulação. Aumentado pelas deficiências dos fatores de coagulação VIII, X, V e fibrinogênio. Ver também razão normatizada internacional (INR). Tempo de tromboplastina parcial ativado (TTPA) Um teste do sistema de coagulação. Aumentado nas deficiências plasmáticas dos fatores de coagulação XII, XI, IX, VIII, X, V, II e fibrinogênio. Também conhecido como tempo de tromboplastina parcial ativado pelo caolim (K-TTP). Tempo parcial de tromboplastina ativado pelo caolim (K-TTP) Ver tempo parcial de tromboplastina ativado (TTPA). Teste de Kleihauer Eluição ácida nas hemácias num esfregaço, permitindo a contagem de hemácias fetais no sangue materno. Volume eritrocitário Determinado pela centrifugação de um pequeno volume de sangue num tubo capilar anticoagulado, e medindo-se o volume das hemácias como uma porcentagem do volume total. Ver também Hematócrito. 355 Índice remissivo A ACD 85 Acesso intravenoso 305 crianças 314 Ácido fólico, tratamento de 183, 191 Ácido tranexâmico 219, 284 Acidose 163 Adenina 80 ADH (hormônio anti-diurético) Aférese 19, 80, 88 citaférese 135 coleta de células progenitoras 135 leucaférese 135 plaquetaférese 88, 135 plasmaférese 88, 97, 134 terapêutica 133 complicações 135 indicações 134 Agentes infecciosos transmissíveis pelo sangue 16, 152 AIDS (verificar também HIV) 196 Albumina 26, 80, 97, 266 Aldosterona 55, 57 Aloimunização 203 Analgesia 218, 298, 329 em crianças 316 Anemia 175. Verificar seções: 3, 9, 10 e 11 aplástica 200 características no esfregaço 180 causas 50, 231 cirurgia e anemia 277 crônica 176 tratamento 183 crônica agudizada 176 normocítica, normocrômica 189 por perda sangüínea aguda 52 queimaduras 330 Anemia falciforme 204, 233, 260 Anemias hemolíticas 189 Antígeno D 244, 267 Aprotinina 284 Aquecimento de sangue 130 Armazenamento de sangue 121 concentrado de plaquetas 122 hemácias e glóbulos brancos 122 plasma fresco congelado (PFC) 122 Aspirina 183, 218, 281 Avaliação de necessidades transfusionais 170 B Beta-bloqueadores 288 Bolo de fluídos 309 em adultos 309 em crianças 316 Brucelose 152, 157 Buffy coat 86 C Cadeia de frio 121 Choque séptico 150 tratamento em crianças 266 Cirurgia 275, 277, 301 cirurgia e anemia 277 grandes cirurgias 279 nível de hemoglobina 278 pacientes anticoagulados 282 perda de fluídos 290 perda sangüínea cirúrgica 286 estimativa 286 técnicas de redução de 281 Cirurgia e INR 281 Citaférese 135 Citomegalovírus (CMV), infecção por 86, 92, 156, 201 Citrato 80 toxidade 163 CIVD Verificar coagulação Cloreto de sódio 0,9% 65, 73 Coagulação 30 distúrbio no sistema de 214 adquiridos 221, 263, 279 congênitos 215, 280 crianças 263 na gravidez 230 Coagulação intravascular disseminada (CIVD) 164, 221, 241, 280 causas 221 dispnéia 171 reação transfusional 147, 149 situação obstétrica 241 transfusão maciça 164 tratamento 243 Coleta de sangue 120 Colóides 66 albumina 71, 88, 197 características 70 derivados de plasma 75 dextran 76 gelatinas 75 hidroxi-etil-start 77 pressão osmótica 67 soluções 65, 66, 75 Comitê transfusional hospitalar 103, 105, 109, 292, 343 Compartimentos Verificar fluidos Compartimentos de fluídos 25 extracelular 25 intersticial 25 intracelular 25 Compatibilização por computador 119 Concentração de bilirrubina em crianças 268, 271 357 Concentrado de complexo protrombínico 99 Concentrado de hemácias 122, 128, 129, 201, 271 Concentrado de plaquetas 87, 93, 94, 122, 128, 265 Contaminação bacteriana de hemocomponentes 150 Corpúsculo de Heinz 199 CPDA 80 Crianças acesso venoso 314 analgesia 316 anemia Verificar seção 11 anemia falciforme 261 concentração normal de hemoglobina 249 deficiência de vitamina K 263 equipos de infusão 259 exsanguineo-transfusão 269 necessidade eletrolítica 64, 290 necessidade hídrica 64 perda de calor 316 perda sanguinea cirurgica, estimativa de 286 sinais vitais normais pela idade 254 transfusão 256, 257 tratamento de hipovolemia 315 volume sanguineo 286 Crioprecipitado 80, 96, 220 na doença de Von Willebrand 220 na hemofilia A 219 Cuidados pós cirúrgicos 297 D Débito cardíaco 47, 60 na gravidez 229 reestabelecimento após perda sanguinea 285 Débito urinário 310 Deficiência de G6PD 182, 198 Desmopressina (DDAVP) 218, 220 Dextran 76 Dextrose e soluções eletrolíticas 74 Doação autóloga pré-cirúrgico 294 Doadores de sangue 13 doadores profissionais ou pagos 15 doadores voluntários não remunerados 13 familiares ou doadores de reposição 14 Doença de Chagas 155 Doença de Creutzfeldt-Jakob 157 Doença de Lymes 152, 157 Doença de Von Willebrand 220 Doença enxerto-versus-hospedeiro (GVHD) 200 Doença Gerstmann-Strussler 158 Doença hemolítica do recém nascido 243 DPG 165 Drogas anti-fibrinolíticas 283 E Edema 66, 278 Eletrólitos necessidades 64, 290 Epstein-Barr, vírus 152 Equilíbrio ácido básico 311 Eritrócitos Verificar sangue Eritropoetina 21, 55, 57, 98 358 recombinante 273 Escala colorimétrica de hemoglobina da OMS 46, 334 Esfregaço sanguineo 180 dimórfico 180 na anemia 178 Esplenectomia 211, 214 Etiqueta de compatibilização 124 Evaporação das cavidades corpóreas 219 Exemplos em Estudo de Casos 299, 300 F Falência de medula 200 Fator de Von Willebrand 220 Fator V 87, 123 Fator VIII 81, 87, 88, 98, 215, 218, 219, 230 DDAVP 218, 284 deficiência 215 Fator IX 30, 99, 230 deficiência de 215 Fator X 215 Fatores de coagulação 58 dependentes da vitamina K 222, 263 depleção de 163 desordens congênitas 315 Ferritina 187 na gravidez 235 no recém nascido 230 Ferro 51 deficiência 186, 230, 231, 250 fontes da dieta 234 ingestão diária na comida 51 metabolismo 51, 229 necessidades na gravidez 229 sobrecarga 161, 213, 262 tratamento da deficiência 183, 187 Fibrina 30 Fibrinogênio 30 concentração normal ao nascimento 242 depleção de 163 na CIVD 222 Fibrinólise 30 na CIVD 222 na gravidez 230 Filtração de hemácias e plaquetas 129 de leucócitos 129 de microagregados 129 Fluídos 25 aquecimento de soluções intravenosas 289 corporais 25 distribuição no corpo 67 extracelular 64 manutenção de fluídos 64 cirurgia 287 necessidades 290 queimaduras 326 restauração 309 composição 26 soluções de reidratação oral 69, 70 soluções de reposição 64 características 70 escolhas 68, 289, 328 intravenosa 65 soluções intra-ósseas 69 soluções orais e nasogástricas 69 soluções retais 70 soluções subcutâneas 70 vias de administração 69 Fluídos de reposição 64 Fluídos retais 70 Fluídos subcutâneos 70 Folato crianças 251 deficiência 178, 187 deficiência na gravidez 232 tratamento 235 suplementos 181 tratamento com ácido fólico 191 tratamento da deficiência 189, 191, 235 Formulário de requisição de transfusão 103, 111, 113 Fosfato 80 G Gelatinas 71, 75 Gelofusine 71 Glóbulos brancos 29. Verificar também sangue: componentes neutrófilos hipersegmentados 178 que os hemocomponentes contém 84 transfusão 86 Glóbulos vermelhos 28 concentrado 83 características 91 vantagens e desvantagens 84 leuco-reduzidos 86, 201 macrocítica 178 massa na gravidez 229 microcítica 178 riscos 12 suspensão 84 características 91 vantagens e desvantagens 84, 85 teste de compatibilidade 116 Gravidez 229 anemia 231 ectópica 238 mudanças fisiológicas 229 transfusão 195, 235 Grupos sanguineos ABO 117 H Hemacel 71 Hemácias Verificar glóbulos vermelhos Hemartrose 216, 218 Hematócrito medição 47 nível mais baixo aceitável 288 Hemoconcentração 48 Hemodiluição 48, 285 aguda normovolêmica 295 Hemofilia criança 262 hemofilia A e B 215 Hemoglobina 33 afinidade pelo oxigênio 34 concentração 46 cálculo do suprimento de oxigênio 39 durante a gravidez 44, 231 métodos de medição 46 normal de neonatos 44, 249 pré-cirúrgico 279 variação da referência 45 variação normal 44 fetal 204, 261, 267 livre de estroma 77 nível mais baixo aceitável 288 período pós-operatório 298 saturação 33 Hemoglobina A (HbA) 29, 204 Hemoglobina C, D e E 208 Hemoglobina F (HbF) 204 Hemoglobinômetro 46 Hemoglobinopatias 208 Hemorragia aguda 52 CIVD 241 deficiência de vitamina K 224 resposta compensatória 53 sangramento gastrintestinal 224 trauma 304 controle no trauma 304 crônicas 56 resposta compensatória 57 sinais clínicos 215 distúrbios da hemostasia 30 estimativa de perda sanguinea 286, 288 obstétrica com CIVD 241 perda sanguinea cirúrgica 286 técnicas para redução 281 período peri-parto 238 sinais e sintomas 176 tolerância a perda sanguinea 171, 288 Heparina 223, 282 Hepatite 16, 154 vacina para 211 HES 77 Hetastarch 77 Hipercalemia 163 Hiperviscosidade 212 Hipocalemia 163 Hipotermia 165, 289 Hipovolemia 52, 304 causas 304, 314 classificação adultos 305 crianças 315 correção da 165 crianças 314 estimativa 286 período pós-cirúgico 297 sinais 238, 286 Hipóxia anemia hipóxica 34, 53 hipóxia estagnada 33, 53 hipóxia hipóxica 32, 53 período pós-cirúrgico 297 HIV 16, 153, 196, 200, 232, 242 HIV-1 e HIV-2 17 359 Hidroxietilamido 71, 77 Hormônio anti-diurético 55 HTLV-I e II 154 armazenamento 31, 33, 53 curva de dissociação 34, 37 peculiaridades/mudanças 37, 54, 57 difusão 32 equação de fluxo 39 liberação 31, 36 saturação 33, 53 suplementação pós cirúrgica 297 transferência 31, 33, 53 transporte 31, 33, 35, 52 I Icterícia 178, 221 neonatal 267 Imunoglobulina anti-Rh D 100, 245, 267 Imunossupressão 161 Incidência de infecções 16 Infecções transmissíveis por transfusão 16, 152 Insônia familiar fatal (FFI) 158 Insuficiência cardíaca 171, 278 J Janela imunológica 17, 153 K Kernicterus 199, 267 L Leucaférese 135 Leucócitos Verificar glóbulos brancos Lista de verificação para sangue prescrito 172 M Malária 16, 156, 171, 178, 188, 192 crianças 251 na gravidez 232 Manuais anemia na gravidez 237 requisição de transfusão sanguinea 292 uso clínico do sangue 293 Manuais nacionais de uso clínico do sangue 20, 345 Manutenção de fluídos 290 Mecanismo de Frank-Starling 35 Mielofibrose 200 Monitorização análise e processamento do sangue 12 de pacientes queimados 328 monitorização do paciente transfundido 131 no período pós cirúrgico 298 N Necessidade de sódio 290 Neonato Verificar crianças Normovolemia 65, 285, 289, 310 sinais de reestabelecimento 311 O Osmose 26 Oxigênio aporte 31, 53 cálculo do 39 na anemia crônica 57 360 P Pacientes pediátricos Verificar crianças Padrão de pedido de sangue 109, 292 Padrões nacionais de produtos sanguíneos 13 Pancitopenia 200 PCV 47 Pentastarch 77 Perda sangüínea Verficar hemorragia Perfluocarbonados 77 Pesquisa na gravidez 244 pesquisa no sangue 104 Pesquisa em mulheres gravidas 237 Picada de cobra 68 Plaquetas 29, 31 depleção de 164 função nas unidades de sangue 81 pool 87 risco de transmissão de doenças 87 separação por aférese 88 Plasma 33, 75, 87 composição 26 derivados definição 80 produção 88 fracionamento 88 risco de doenças transmissíveis pelo sangue 12, 90 volume na gravidez 49, 229 restauração de 53 Plasmaférese 13, 88 Plasma fresco congelado 75, 87, 95, 122, 128, 135, 219, 282 Plasmina 31 Policitemia crianças 273 Polítca nacional de uso clínico do sangue 20 Posição de Trendelenburg 283 Potássio concentração na unidade de sangue 81 necessidades 64, 290 Pré-eclâmpsia 239 Preenchimento capilar 171, 304, 311, 315 Pressão do pulso 305, 315 Pressão hidrostática 27 Pressão oncótica 27 Pressão parcial 31 Pressão venosa central 34 Prevalência de infecções 17 Prevenção anemia na gravidez 234 princípios 60 anemia pediátrica 252 malária 194, 195 Produtos sanguineos sintéticos 77 Protrombina 99 Púrpura pós transfusional 160 trombocitopênica idiopática (PTI) 281 trombocitopênica trombótica 134 Q Queimaduras Verificar seção 14 anemia 330 área da suprfície queimada 322, 323 avaliando a gravidade da 322 critérios de queimaduras graves 325 lesão de vias aéreas 321 lesão inalatória 321 necessidade de fluídos 326, 327 prevenção 331 profundidade da queimadura 324 queimaduras por fósforo 322 regra dos 9 322, 323 ressucitação por fluídos 325 transfusão sanguinea 226, 330 Quelação de ferro em politransfundidos 213 R Radiação ionizante 200 Razão internacional normalizada (INR) 164, 222 Reações transfusionais aguda 132, 138, 145 anafilática 151 febril não hemolítica 212 hemolítica 118, 148 lesão pulmonar aguda associada a transfusão 152 monitorização para 131, 139 prevenção 145 tardia 152 transfusão ABO incompatível 144 tratamento 139, 141 Recuperação de sangue 296 Recuperadoras de sangue autólogo 297, 300 Regras transfusionais glóbulos vermelhos 118 plasma 118 Reidratação oral 69, 70 Reposição de fluídos período pós-cirúrgico 298 trauma 309 Reposição de sangue planejamento 290 Requisição de sangue 107 cirurgias eletivas 109 política 108 urgências 110 Restauração de fluídos 309, 314 Reticulócitos 182 Retorno venoso 36 RhD incompatibilidade 240 Ringer lactato 65, 69, 73, 289, 309 Risco de infecção transmissível por transfusão 16, 152 S Sangue 27 coagulação 30 componente 82 concentrado de hemáceas 83, 91 concentrado de plaquetas 87, 93, 94 definição 80 glóbulos brancos 86 plasma 87, 95, 96 separação 19, 82 suspenção de hemáceas 84, 91 o uso apropriado do 11, 19 Sangue aquecido 130 Sangue leuco-reduzido 86 Sangue total 80, 90 características 90 efeitos de armazenamento 81 vantagens e desvantagens 81 Segurança do sangue 12 Sepsis 67, 171 Sífilis 16, 155 Sinais viatais crianças e neonatos 254 Sistema cardiovascular avaliação 304 Sistema fibrinolítico 254 Sistema nervoso central avaliação 309 Sobrecarga volêmica 151 Solução anticoagulante 80 Solução de Darrow 74 Solução de Hartmann 65, 73 Soluções cristalóides características 309 Soluções salinas balanceadas 65, 71, 73 Soluções salinas normais 65, 71, 73, 309 Sulfato de cobre, método do 46 Sulfato de protramina 282 Sulfato ferroso 183, 187, 235, 251 T Talassemia 208, 261 Tamponamento cardíaco 313 Tempo de protrombina (PT) 164, 355 Tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) 164, 218, 221, 223, 280 Tendência a sangramento 214 Testemunhas de Jeová 108 Tipagem sanguinea e pesquisa 110, 112 Tipagem, triagem de anticorpos e aguardo 120 Toxoplasmose 157 TRALI 152 Transfusão anemia falciforme 216 crianças 261 anemia grave crônica 185 anemia hemolítica 191 anemia na gravidez 235 áreas endêmicas de malária 173, 196 autóloga 294 361 CIVD 222, 223, 241, 243 crianças 256, 259 determinação das necessidades 170, 171 doença hemolítica do recém nascido 268 efeitos adversos 136 estratégias 292 exsanguineotransfusão 99, 206 fetal 244 glóbulos vermelhos crianças 271 gravidez 273 hemorragia obstétrica com CIVD 243 HIV/AIDS 198 incisão da cesárea 237 indicações crianças 257 infecções transmissíveis 16, 152 intra-uterina 246, 265 lista de verificação para clínicos 172 maciça 162, 292, 314 malária 194, 195 na gravidez 237 monitorização 131, 133 neonatal 199, 259, 165, 272 patologias malignas 262 período pós cirúrgico 298 plaquetas cirurgia 281 CIVD 223 crianças 264 falência de medula óssea 200 prática clínica transfusional 21 pré-operatório 278 riscos 11 sangue O RhD negativo 292 supressão de medula óssea 200 talassemia major 211 urgência 309 crianças 316 via cordão umbilical 245 Transfusão de plaquetas 164, 264 Trauma Verificar seção 13 Troca plasmática 139 indicações 139 Trombocitopenia cirurgia 281 em crianças 263, 273 Trombose 31 U Uso apropriado do sangue 11, 19 Uso de torniquete em cirurgia 284 V Varizes esofágicas 224 Vasodilatação 35 Vasopressina 55 Via intraóssea para infusão 69, 315 Vírus da imunodeficiência humana (HIV) 16, 153, 196, 200, 232, 252 Viscosidade sanguinea 57 Vitamina A 251 362 Vitamina B12 187, 251 deficiência na gravidez 232 tratamento da deficiência 183, 187 Vitamina C 211, 213, 234, 251 Vitamina D 211 Vitamina K 222, 224, 263 deficiência 224 neonatos 263 Volume sanguineo 36 cálculo do 28, 286 crianças e neonatos 267, 286 gravidez 229 W Warfarina 207, 282 problemas de sangramento 223