AÇAÍ (Euterpe oleracea Mart.) Maria do Socorro Padilha de Oliveira1 José Edmar Urano de Carvalho1 Walnice Maria Oliveira do Nascimento1 1. CENTROS DE DIVERSIDADE GENÉTICA O açaizeiro ocorre espontaneamente, no Brasil, nos Estados do Amapá, Maranhão, Pará (Calzavara 1972; Cavalcante, 1991), Tocantins (Balick, 1986a) e no Mato Grosso (Macedo, 1995). Rompendo as fronteiras brasileiras, é encontrado na Guiana, Guiana Francesa, Suriname, Venezuela (Calzavara 1972; Roosmalen, 1985; Cavalcante, 1991) e Colômbia (Balick, 1986b). Distribuição mais ampla é apresentada por Henderson & Galeano (1996), que assinalam a presença dessa palmeira, também, no Panamá, Equador e Trinidad. As maiores áreas ocupadas com essa espécie, porém, encontram-se na Amazônia Oriental brasileira, mas precisamente na região do estuário do rio Amazonas, considerada como seu centro de origem e onde encontram-se densas e diversificadas populações, ocupando, com maior freqüência, terrenos que, em função do fluxo e refluxo das marés, estão submetidos à inundações periódicas. É também encontrado em áreas permanentemente alagadas e em terra firme (Cavalcante, 1991), embora em densidades bem menores. Somente no estuário do grande rio, densas populações nativas de açaizeiro, ocupam área em torno de 1.000.000ha (Calzavara, 1972). Considerando-se os centros e subcentros de origem propostos por Vavilov (León, 1987), o açaizeiro pode ser considerado como originário do centro Sul-americano, subcentro BrasilParaguai. __________________________________________ 1 . Eng. Agr., MSc., Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental. Caixa Postal 48, CEP 66017-970- – Belém, PA. E-mails: [email protected]; [email protected]; [email protected]. 1 Na concepção de Lleras et al. (1983), o gênero Euterpe possui dois centros de diversidade: o primeiro localizado no noroeste da Colômbia, com espécies distribuídas desde o nível do mar até 3000m de altitude, na costa ocidental úmida dos Andes; e, o segundo, na região compreendida pelo escudo das Guianas e alto rio Negro, em áreas bastante úmidas. Para Oliveira (1995) a região do estuário do rio Amazonas além de ser o centro de origem também se constitui no centro de diversidade genética do açaizeiro, pois nessa região são encontradas numerosas populações com variações bem acentuadas entre e dentro delas, no que concerne às características morfológicas, fenológicas, fisiológicas e agronômicas das plantas. 2. BOTÂNICA E ECOLOGIA 2.1. Taxonomia e Denominações O açaizeiro pertence à família Arecaceae, que engloba, aproximadamente, 200 gêneros e cerca de 2600 espécies, cuja distribuição é predominantemente tropical e subtropical (Jones, 1995). Na Amazônia esta família está representada por 39 gêneros e um número de espécies estimado entre 150 e 180 (Kahn, 1997). Dentro dessa família são consideradas domesticadas somente cinco espécies: a arequeira (Areca catechu), o coqueiro (Cocos nucifera), o dendezeiro (Elaeis guineensis), a tamareira (Phoenix dactylefera) (Johnson, 1983) e a pupunheira, Bactris gasipaes (Clement, 1992). No sistema de Classificação de Cronquist (1981) o açaizeiro está ordenado na seguinte seqüência hierárquica: Divisão: Magnoliophyta Classe: Liliopsida 2 Subclasse: Arecidae Ordem: Arecales Família: Arecaceae Subfamília: Arecoidae Gênero: Euterpe Espécie: Euterpe oleracea Mart. O epíteto genérico é uma homenagem a Euterpe, deusa da mitologia grega (Marchiori, 1995) e traduzido do grego significa “elegância da floresta” (Hodge, 1965), em alusão à beleza da planta (Strudwick & Sobel, 1986). Já o nome específico “oleracea” significa que parece ou exala odor semelhante ao do vinho, devido à cor e ao aroma da polpa, principalmente quando em início de fermentação. O número de espécies do gênero não está claramente definido e tem sido objeto de constantes revisões. Os primeiros trabalhos englobavam, além do açaizeiro, mais 48 espécies, distribuídas na América do Sul e na América Central (Glassman, 1972). Na revisão proposta por Uhl & Dransfield (1986) o gênero está representado por 28 espécies, enquanto Henderson & Galeano (1996) consideram apenas sete espécies como componentes do táxon Euterpe, estando presentes na Amazônia brasileira as seguintes espécies e variedades: E. oleracea, E. precatoria var. precatoria, E. precatoria var. longevaginata, E. catinga var. catinga, E. catinga var. roraimae e E. longibracteata. Dentro das espécies nativas do Brasil as mais importantes, do ponto de vista agroindustrial são E. oleracea, E. edulis e, bem secundariamente, E. precatoria. A primeira, popularmente conhecida como palmiteiro constituiu-se, durante muitos anos, na principal fonte de matéria-prima para a indústria de palmito em conserva e continua sendo explorada, embora em baixa intensidade, em decorrência da exaustão das reservas naturais, até os dias 3 atuais. A segunda, apresenta multiplicidade de usos, destacando-se atualmente no setor agroindustrial como a principal fonte de extração de palmito e pela utilização de seus frutos por expressivo contigente populacional da Amazônia brasileira, particularmente dos Estados do Pará e Amapá. A última espécie também produz frutos com o mesmo uso do açaí e palmito de boa qualidade (Khan, 1986; Villachica et al., 1996). Embora na terminologia vulgar seja mais conhecida como açaí, outras denominações são de uso freqüente nas áreas de ocorrência na Amazônia brasileira, porém de forma mais restrita, destacando-se os seguintes nomes: açaí do pará, açaí do baixo amazonas, açaí de touceira, açaí de planta, juçara e juçara de touceira (Calzavara, 1972; Cavalcante, 1991; Villachica et al., 1996). Os dois últimos nomes são bastante usados no Estado do Maranhão. Convém ressaltar, ainda, que as outras espécies, do mesmo táxon genérico, ocorrentes na Amazônia, são igualmente denominadas de açaí, daí E. oleracea ser também chamada, em alguns locais , de açaí verdadeiro. Em outros países, nas áreas de dispersão natural, recebe as seguintes denominações: chapil, maquenque, murrapo, naidí e palmicha, na Colômbia; bambil e palmicha, no Equador; manicola palm, na Güiana; assai, pinot e wassaïe, na Güiana Francesa; baoenpina, kiskis pina, manaka, pina, prasara, wapoe, wapa, wasei, no Suriname; manac, em Trinidad; manaca, morroque e uassi, na Venezuela (Roosmalen, 1985; Cavalcante, 1991; Henderson & Galeano, 1996; Khan, 1997). Nas línguas espanhola, inglesa e francesa é, com maior freqüência, grafado como asaí, euterpe palm, e palmier pinot, respectivamente. A palavra açaí é de origem tupi – yá-çai - e significa fruto que chora, ressuma ou deita água (Soares, citado por Braga, 1976), provavelmente relacionado ao fato de que durante o processo de extração da polpa, esta flui lentamente, em forma de grandes gotas, tanto 4 quando extraída manualmente como quando extraída em pequenas máquinas despolpadoras, de largo uso na Amazônia. 2.2. Descrição da planta É uma palmeira cespitosa, com até 25 estipes por touceira em diferentes estádios de desenvolvimento (Foto 1). Os estipes das plantas adultas apresentam altura e diâmetro variando entre 3m e 20m e 7cm e 18cm, respectivamente, sustentando, em sua porção terminal, um conjunto de 8 a 14 folhas, sendo cilíndricos, externamente lisos, de cor cinza, com manchas de líquens. Em toda extensão dos estipes são encontradas cicatrizes, distanciadas, entre si, em cerca de 11cm, deixadas pelas folhas que senescem e caem. Eventualmente são encontrados indivíduos desprovidos da capacidade de emitir perfilhos e, nesse caso apresentam caule solitário (Henderson & Galeano, 1996; Oliveira et al., 1998). As folhas, são compostas, pinadas de arranjo espiralado, com 40 a 80 pares de folíolos, opostos ou sub-opostos e inseridos em intervalos regulares. Os folíolos são pendentes nos indivíduos adultos e ligeiramente horizontais nos indivíduos jovens, com base obtusa e extremidade apical pontiaguda, apresentando comprimento entre 20cm e 50cm e largura entre 2cm e 3cm. Em cada folíolo encontra-se uma nervura central, proeminente na face adaxial e mais dois conjuntos com duas ou três nervuras, proeminentes na face abaxial, uniformemente distribuídos em relação ao plano divisório da nervura central. O comprimento médio da bainha foliar gira em torno de 1,0m, podendo, no entanto, variar de 0,6m a 1,5m (Prance & Silva, 1975; Henderson & Galeano, 1996). As folhas apresentam comprimento de até 278,8cm (Nogueira, 1997). A inflorescência é infrafoliar, desenvolvendo-se em maior intensidade após a queda da folha e quando aberta apresenta-se disposta quase horizontalmente (Foto 2). Possui 5 pedúnculo, com comprimento entre 5cm e 15cm e diâmetro entre 2,7cm e 4,0cm (Henderson & Galeano, 1996). É envolvida totalmente por duas brácteas: uma espatela ligular e uma espata de formato navicular e de consistência cartáceo-coriácea. Após a abertura da espata, a espatela cai, concomitantemente, com esta ou um pouco antes, expondo a inflorescência propriamente dita, do tipo cacho, contendo número variável de ráquilas, onde as flores estaminadas e pistiladas, encontram-se inseridas em alvéolos A disposição das flores é ordenada em tríades, de tal forma que cada flor feminina fica ladeada por duas flores masculinas (Cavalcante, 1991; Henderson & Galeano, 1996), com exceção do terço terminal de cada ráquila que apresenta, na maioria dos casos, somente flores masculinas, o que proporciona a presença de 80,5% de flores masculinas e apenas 19,5% de flores femininas na inflorescência (Calzavara, 1972). O fruto do açaizeiro é uma drupa globosa ou levemente depressa, apresentando resíduo do estigma lateralmente, com diâmetro variando entre 1cm e 2cm e pesando, em média, 1,5g. O epicarpo, na maturação, é roxo ou verde, dependendo do tipo. O mesocarpo, com cerca de 1mm espessura, é polposo, envolvendo um endocarpo volumoso e duro que acompanha, aproximadamente, a forma do fruto e contém em seu interior uma semente, com embrião diminuto e endosperma abundante e ruminado (Cavalcante, 1991, Henderson & Galeano, 1996; Oliveira et al., 1998). O sistema radicular é do tipo fasciculado relativamente denso, com raízes emergindo do estipe da planta adulta em altura de 30cm a 40cm acima da superfície do solo e, apresentando, nessa situação coloração avermelhada e aproximadamente 1cm de diâmetro (Henderson & Galeano, 1996). As raízes são providas de lenticelas e aerênquimas (Anderson, 1986; Menezes Neto, 1994) e prolongam-se, superficialmente, por até cerca de 3,0m a 3,5m da base do estipe, em indivíduos com três anos de idade, podendo, em plantas com mais de dez anos, atingir 5m a 6m de extensão. 6 2.3. Sistema reprodutivo Em uma mesma inflorescência, a antese das flores masculinas (estaminadas) e femininas (pistiladas) são gradativas, ocorrendo em fases com separação temporal, iniciando sempre com a abertura das flores estaminadas (Oliveira & Fernandes, 1993). Convém ressaltar que a protandria, no açaizeiro, dificulta a autogamia mas não a impede totalmente, pois as flores, de uma mesma inflorescência, não se abrem simultâneamente o que possibilita, em alguns genótipos, a sobreposição parcial das fases masculina e feminina (Oliveira, 1995). Além disso, existe a possibilidade de flores masculinas fecundarem flores femininas de outras inflorescências da mesma planta, devido, também, a sobreposição de fases entre elas. Não obstante as possibilidades de ocorrência de autofecundação, a espécie é considerada predominantemente alógama (Jardim, 1991), provavelmente devido a existência de mecanismo de autoincompatibilidade genética (Oliveira, 1995). Em alguns casos, a incompatibilidade genética manifesta-se, também, bilateralmente entre genótipos. Por outro lado, há de se considerar também a possibilidade de que determinados genótipos sejam totalmente autocompatíveis, pois não é raro encontrar-se plantas isoladas de açaizeiro com altas taxas de vingamento de frutos. Além da reprodução sexuada, o açaizeiro, multiplica-se, abundantemente, também por via assexuada, através da emissão de perfilhos na base das plantas. Considerando-se o número de plantas regeneradas, esse sistema de multiplicação, em açaizais nativos manejados para a produção de frutos e palmito, é mais importante que a regeneração por sementes (Nogueira, 1997). 2.4. Fenologia 7 Na região Amazônica, o açaizeiro flora e frutifica praticamente durante todo o ano. Porém, os picos de floração e frutificação ocorrem com maior freqüência, nos períodos de janeiro a maio e setembro a dezembro, respectivamente. O período de floração mais intensa coincide com a época de maior precipitação de chuvas, enquanto o de frutificação predomina na época mais seca do ano (Calzavara, 1972; Oliveira & Fernandes, 1993).). Algumas populações naturais apresentam dois picos de frutificação, durante o ano (Jardim & Anderson, 1987; Jardim & Kageyama, 1994). O aparecimento do ramo florífero está diretamente relacionado com a queda da folha. Convém ressaltar que nem todo ramo completa seu ciclo. Independente da época do ano, é comum observar-se inflorescências secas ou cachos que, mesmo tendo flores fecundadas, apresentam-se vazios em decorrência da queda prematura dos frutos (Oliveira, 1995). Em Ubatuba, no litoral de São Paulo, o açaizeiro apresenta dois picos de florescimento, o primeiro nos meses de abril e junho e o segundo no período de outubro a dezembro, com produção de frutos praticamente durante todo o ano (Bovi et al., 1986). 2.3 Ecologia Em grande parte das áreas de ocorrência dessa palmeira, particularmente nos terrenos de várzea baixa, a floresta é do tipo oligárquica, tendo como espécie dominante o açaizeiro (Prance, 1994). O caráter oligárquico dessa floresta é determinado pelo regime de inundações (Lima, 1956), pois reduzido número de espécies arbóreas dispõem de mecanismos adaptativos para sobreviverem em solos com baixa tensão de oxigênio (Anderson, 1986). No caso do açaizeiro, esses mecanismos estão representados por adaptações morfológicas e anatômicas, tais como: raízes que emergem do estipe acima da 8 superfície do solo, presença de lenticelas (Anderson, 1986) e de aerênquimas nas raízes (Menezes Neto, 1994). Além disso, a espécie dispõe de estratégias fisiológicas que permitem manter as sementes viáveis e as plântulas vivas, mesmo em condição de anoxia total, por até 20 e 16 dias, respectivamente, de tal forma que, quando o suprimento de oxigênio se torna adequado, as sementes germinam e as plântulas retomam seu crescimento (Menezes Neto, 1994). Em função de estratégias adaptativas a abertura dos estômatos, do açaizeiro depende mais da radiação solar que do défice de pressão de vapor e inundações temporárias não afetam a absorção de água, quando as raízes estão submetidas a condições de hipoxia (Carvalho et al., 1998a). O fato da sementes não germinarem e as plântulas paralisarem ou reduzirem o crescimento em ambiente anóxio, explica a menor freqüência da espécie em áreas permanentemente alagadas, pois nessa situação, o estabelecimento de novas plantas está limitado à possibilidade das sementes, por ocasião da dispersão natural, atingirem sítios com cota ligeiramente superior ao da lâmina de água, onde encontram condições de oxigenação suficiente para o desencadeamento do processo de germinação e crescimento das plântulas. Esses sítios, são representados por restos de árvores que tombam naturalmente e possibilitam a acumulação de sedimentos e detritos vegetais (Calzavara, 1972) Nos locais de ocorrência natural e de cultivo, na Amazônia brasileira, a espécie pode ser encontrada em áreas submetidas aos tipos climáticos Afi, Ami e Awi, (classificação de Köppen). Esses tipos climáticos caracterizam-se por serem quentes e úmidos, com pequenas amplitudes térmicas, geralmente, com temperaturas médias e médias das mínimas e das máximas anuais em torno de 26°C, 22°C e 31,5°C, respectivamente e com umidade relativa do ar variando entre 71% e 91% (Calzavara 1972; Nascimento & Homma, 1984; Bastos et al., 1986). 9 O total de chuvas e, principalmente, sua distribuição nos meses do ano constituem-se nos fatores diferenciais entre os três tipos climáticos. No tipo Afi, onde se concentram grandes populações nativas de açaizeiros e considerável área plantada com a espécie, caracteriza-se por total anual de chuvas superior a 2000mm e por sua distribuição mais uniforme, sendo que nos meses de menor precipitação o total mensal é sempre superior a 60mm. O tipo Awi, embora apresentando total anual de chuvas semelhante ao do Afi, a distribuição é menos uniforme com períodos de dois a três meses de estiagem. Já no tipo Awi o total de chuvas é menor, com período de estiagem que abrange cinco a seis meses do ano (Nascimento & Homma, 1984). No litoral paulista onde o açaizeiro vem sendo cultivado experimentalmente, visando à produção de palmito, está sujeito à temperaturas médias anuais mais baixas, em torno de 21°C, considerada por Aguiar (1988) como provavelmente próxima do limite mínimo de exigência térmica para a cultura. No habitat natural e em áreas de cultivo, é encontrado tanto em solos eutróficos como em solos distróficos. No primeiro caso, ocupa predominantemente Gleissolos em áreas de várzea. Esses solos, são fortemente ácidos, argilo-siltosos pouco profundos e com boa fertilidade natural, em decorrência da deposição de detritos contidos em suspensão nas águas das marés No segundo caso, é encontrado em Latossolo Amarelo textura média, que caracterizam-se por serem profundos, friáveis, porosos e pela elevada acidez e baixa fertilidade natural (Calzavara, 1972). 3. UTILIZAÇÃO ATUAL E POTENCIAL O fruto do açaizeiro somente é consumido após processamento, pois apresenta escasso rendimento de parte comestível e sabor relativamente insípido, quando comparado 10 com a maioria das frutas tropicais tradicionalmente consumidas como fruta fresca. Além disso, o consumo direto dos frutos, devido a presença acentuada de antocianinas deixa nos lábios, dentes e gengivas manchas de coloração arroxeada bem acentuadas e de aspecto desagradável, embora facilmente removíveis. Na Amazônia brasileira o fruto é usado principalmente na obtenção da bebida açaí, um refresco de consistência pastosa, obtido por extração mecânica, em máquinas despolpadoras ou manualmente. Essa bebida é obtida com a adição de água durante o processamento dos frutos, o que facilita, sobremaneira, as operações de despolpamento e filtração. Dependendo principalmente da quantidade de água utilizada no processo de extração, a polpa é classificada, segundo as normas do Ministério da Agricultura e do Abastecimento (Ministério...,1998) como: a) Açaí grosso ou especial, quando apresenta teor de sólidos totais superior a 14%; b) Açaí médio ou regular, quando apresenta teor de sólidos totais entre 11% e 14%; c) Açaí fino ou popular, é o produto com teor de sólidos totais entre 8% e 11%. Quando o despolpamento é efetuado sem a adição de água, obtém-se a polpa integral de açaí, que deve conter, no mínimo, 40% de sólidos totais (Ministério, 1998). Essa forma de obtenção do produto, tem sido usada apenas experimentalmente, visa basicamente o atendimento de mercados distantes dos centros de produção, por possibilitar redução substancial nos custos de congelamento e de transporte. No entanto, nenhuma das despolpadoras disponíveis no mercado processa com eficiência o fruto sem adição de água. Além da forma tradicional de consumo, a polpa de açaí também é largamente usada na produção industrial ou artesanal de sorvetes. Nos últimos anos diversas outras formas de apresentação do produto têm surgido no mercado tais como: o açaí pasteurizado, o açaí com xarope de guaraná, o açaí em pó, o 11 doce de leite com açaí, a geléia e o licor de açaí (Foto 3). O primeiro, embalado em latas contendo 1000ml de polpa já açucarada ou em potes de vidro contendo 580ml ou 325ml. O segundo, embalado em potes de vidro também contendo 580ml ou 325ml de açaí misturado com xarope de guaraná. Esses produtos apresentam vida de prateleira de três anos, mesmo quando mantidos à temperatura ambiente. Já o açaí em pó, que tem prazo de validade de apenas dois meses é apresentado em potes de plástico, contendo 100g do produto e é indicado para o preparo de sorvetes, pudins, tortas, bolos, biscoitos e doces. O doce de leite com açai, a geléia e o licor são comercializados em embalagens de vidro, contendo 465g, 215g e 750ml do produto, respectivamente. O doce e a geléia apresentam prazo de validade de um ano, enquanto o licor tem prazo indeterminado. Além desses usos, são grandes as perspectivas de utilização na indústria de corantes naturais (Nazaré et al., 1996) e de bebidas isotônicas. Na culinária doméstica também apresenta multiplicidade de usos sendo usada na elaboração de bolos, tortas, cremes, pudins e musses. Nas regiões centro-oeste, sul, sudeste e nordeste do Brasil, o padrão de consumo é completamente diferente da Amazônia, onde o açaí é, para grande considerável parte da população, componente importante da refeição principal e bebido puro ou misturado com farinha de mandioca. Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, o açaí é consumido, com maior freqüência, misturado com xarope de guaraná ou com xarope de guaraná e outras frutas, tais como banana, laranja, morango, acerola, mamão, abacaxi, manga, maracujá, abacate e quiwi (Guimarães, 1998). 4. COMPOSIÇÃO E VALOR NUTRICIONAL 12 A parte comestível do açaí, ou seja o epicarpo e o mesocarpo, representa, em média, 26,54% do peso do fruto, apresentando, no entanto, variações acentuadas, em função da planta-matriz A maior parte do fruto é composta pelo volumoso endocarpo (Tabela 1)., o qual contém em seu interior uma com tecido de reserva rico em lipídios Tabela 1. Participação relativa do endocarpo e da parte comestível (epicarpo + mesocarpo) na composição do fruto de dez plantas-matrizes da coleção de germoplasma de Açaizeiro da Embrapa Amazônia Oriental. Endocarpo Epicarpo + mesocarpo Matriz (%) (%) 311-5 71,66 28,34 416-1 78,31 21,69 417-8 69,25 30,75 419-3 71,92 28,08 424-8 69,52 30,48 430-5 71,63 28,37 464-7 75,49 24,51 477-9 82,51 17,49 468-8 70,64 29,36 547-3 73,63 26,37 Média 73,46 26.54 Fonte: CARVALHO, J.E.U. de & OLIVEIRA, M. do S. P. de (dados não publicados). Com relação à composição química tanto da porção comestível como da polpa industrializada, os resultados disponíveis são discrepantes. Tal fato é explicado, em parte, pela alta variabilidade genética existente no açaizeiro (Caroline, 1999). Outro aspecto que deve ser considerado é que alguns autores incluem parte da fibras alimentares dentro dos açucares totais. Como, durante o processamento da polpa, parte das fibras ficam retidas na peneira, permitindo porém a passagem dos lipídios, é comum encontrar-se dados onde o teor de lipídios na polpa industrializada é maior que na parte comestível do fruto. O contrário ocorre com os açucares totais (Rogez et al., citados por Caroline, 1999). A parte comestível do fruto apresenta valor calórico de 262kcal/100g (Aguiar et al., 1980), enquanto que na polpa industrializada, dependendo, principalmente da quantidade de 13 água adicionada durante o processamento, o valor energético é menor, atingindo 182,4kcal/100g, para a polpa com 60,4% de água (Franco, 1992). Esse valor energético é determinado basicamente pelo elevado conteúdo de lipídios, haja vista que as quantidades de proteínas e, principalmente, de açucares totais são baixas (Tabela 2). Além do valor energético, a polpa de açai também é um alimento relativamente rico em minerais, principalmente em potássio, cálcio, fósforo, magnésio e ferro (Tabela 2) e em vitaminas E e B1 (Rogez et al., citados por Caroline, 1999). Tabela 2. Componentes químicos encontrados em um litro de polpa de açaí com 12,5% de matéria seca. Procedência1 Componente Pará Maranhão Lipídios totais (g) 62,4 40,7 Proteínas (g) 14,5 19,8 Açúcares totais (g) 3,8 4,8 Fibras totais (g) 32,1 43,8 Cálcio (mg) 417,5 596,3 Fósforo (mg) 210,0 322,5 Magnésio (mg) 161,3 157,5 Sódio (mg) 123,8 235,0 Potássio (mg) 915,0 1000,0 Cobre (mg) 1,8 2,8 Ferro (mg) 3,7 6,4 Zinco (mg) 1,9 3,7 Manganês (mg) 10,8 10,2 1. Frutos oriundos de acessos conservados na Coleção de germoplasma de açaizeiro da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém, PA. (Fonte: Caroline, 1999) 5. DISPONIBILIDADE DE RECURSOS GENÉTICOS Não obstante o fato da espécie, em algumas populações naturais, se encontrar bastante erodida em sua base genética (Clement et al., 1982; Calzavara, 1988) a maior fonte de variabilidade genética ainda se encontra nos açaizais nativos. 14 A maior coleção de germoplasma dessa fruteira encontra-se instalada na Embrapa Amazônia Oriental, em Belém, PA, estando, presentemente, representada por 140 acessos, envolvendo 136 acessos de açaizeiro, três híbridos interespecíficos e uma espécie afim (Tabela 3). Essa coleção está estabelecida em Latossolo Amarelo textura média, no espaçamento de 5m x 3m, sendo a quase totalidade dos acessos procedentes dos Estados do Amapá, Pará e Maranhão, os quais foram plantados no ano de 1985 (Lima & Costa, 1991). Tabela 3. Acessos de açaizeiro e espécies afins disponíveis na coleção de germoplasma da Embrapa Amazônia Oriental, Belém, PA, 2000 Procedência Característica ou tipo Número de acessos Benevides – Pará Benfica – Pará Breves – Pará Cametá – Pará Castanhal – Pará Chaves – Pará Igarapé-Miri – Pará Ilha do Mosqueiro – Pará Ilha do Combu – Pará Gurupá – Pará Melgaço – Pará Muaná – Pará Prainha – Pará Santa Maria do Pará – Pará Santarém – Pará Santo. Antônio do Tauá – Pará São João do Araguaia – Pará Macapá – Amapá Oiapoque – Amapá Alcântara – Maranhão Carutapera – Maranhão Cururupu – Maranhão Precoce Precoce Açaí Branco Açaí-açu Açaí-açu Precoce Açaí espada Paxiúba Sangue de boi Temporão Sangue de boi Precoce Temporão - 04 02 34 05 02 17 03 01 02 05 01 13 01 01 02 10 02 06 10 02 01 Temporão 01 Maracaçumé – Maranhão Guimarães – Maranhão Mirinzal – Maranhão Santa Inez – Maranhão Santa Luzia – Pará Temporão Turiaçu – Maranhão Zé Doca – Maranhão Temporão Vitória – Espírito Santo Híbrido Vitória – Espírito Santo E. espriritosantense Total Fonte: OLIVEIRA, M. do S.P de (dados não publicados). 02 02 02 01 01 02 01 03 01 140 15 Nos acessos da Coleção de Germoplasma da Embrapa Amazônia Oriental têm sido registradas expressivas variações fenotípicas no que concerne aos seguintes caracteres: tipo de caule (monocaule e multicaule); número de perfilhos por touceira (1 a 16); comprimento da bainha foliar (0,76m a 1,36m), altura do estipe (4,21m a 9,55m), comprimento do entrenó (7,2cm a 16,4cm); circunferência do estipe (19cm a 43cm), duração de fases de floração (masculina de 12 dias a 17 dias; feminina 5 dias a 9 dias); intervalo entre fases de floração (1dia a 2 dias), número de cachos por planta (1 a 16); peso do cacho (0,28kg a 12kg), peso de frutos por cacho (0,10kg a 10,0kg), peso do fruto (0,5g a 2,3g), cor do fruto quando maduro (roxo e verde), formato do fruto (arredondado e obovado), número de frutos por cacho (100 a 5681), número de ráquilas por cacho (54 a 144), comprimento da ráquis (24,0cm a 75cm), rendimento de frutos por cacho (35,7% a 85,5%) e produção de frutos por planta (0,10kg a 50, 9kg), segundo Oliveira (1995), Oliveira & Müller (1998) e Oliveira et al. (1998). A partir de avaliações de produção de frutos, efetuadas durante três safras sucessivas, foram selecionadas 25 progênies para instalação de pomar de sementes. Esses genótipos estão, também, subsidiando pesquisas com melhoramento genético e manejo nessa instituição (Oliveira & Müller, 1998). A segunda coleção bem representada dessa espécie, pertence ao Instituto Agronômico de Campinas – IAC (Tabela 4), sendo constituída por 90 acessos instalados em três municípios da região litorânea de São Paulo. Todavia, nessa coleção os acessos vêm sendo caracterizados e avaliados visando à produção de palmito (Bovi et al., 1997). Nessa coleção vêm sendo empregados descritores vegetativos, reprodutivos e de propagação para caracterizar os acessos de açaizeiro disponíveis, tendo sido detectado grande variabilidade entre e dentro dos acessos para a maioria dos caracteres, principalmente para ausência e presença de perfilhamento, comprimentos da bainha, ráquis 16 e folíolos, bem como para coloração, posição e nervação desses caracteres (Bovi et al., 1997). Outras instituições possuem um menor número de acessos, os quais vêm sendo conservados em nível de campo, juntamente com outras fruteiras, na forma de pomar experimental (Tabela 4). Tabela 4. Acessos de E. oleracea e de espécies afins conservados pelo Instituto Agronômico de Campinas e por outras instituições do Brasil. Institução Espécies Material Nº acessos IAC (Ubatuba, SP) E. oleracea e outras Tradicional e 90 INPA (Manaus, AM) FUA (Manaus, AM) UFAC (Rio Branco, AC) UEMA (São Luís, MA) UFTO (Palmas, TO) E. oleracea; E. precatoria EMCAPA (Vitória, ES) UFSC (Florianópolis, SC) UFBA (Salvador, BA) UFMT (Cuiabá, MT) FCAP (Belém, PA) E. oleracea e outras E. oleracea; E. edulis E. oleracea E. oleracea E. oleracea melhorado Tradicional E. oleracea; E. precatoria E. oleracea; E. precatoria E. oleracea E. oleracea Melhorado Tradicional Tradicional Tradicional Tradicional 02 04 05 12 ? 14 ? 10 10 02 Fonte: Clement et al. (1982); GENAMAZ (dados não publicados); Bovi et al. (1997); Paiva (1999); Leite (1988); Wetzel & Bustamante (1999) 6. PROPAGAÇÃO E MANEJO AGRONÔMICO 6.1. Propagação O processo mais comum de propagação do açaizeiro é através de sementes, embora a propagação assexuada possa ser também utilizada através da retirada de brotações que surgem de forma espontânea, na região logo abaixo do coleto da planta (Calzavara, 1972). A quantidade dessas brotações, depende do genótipo (Oliveira, 1998) e do ambiente e, inicialmente surgem na base do estipe principal e, posteriormente, nas dos estipes 17 secundários. Embora de forma rara, algumas plantas, independente do ambiente, não exibem a capacidade de emitir brotações. O processo de propagação assexuada, através da retirada de brotações, por demandar bastante mão-de-obra, é de uso limitado, sendo presentemente usado somente quando se deseja quantidade reduzida de mudas de determinado genótipo. Em plantas com cinco anos de idade, mantendo-se quatro estipes por touceira, o número máximo de brotações passíveis de serem aproveitadas na formação de mudas não atinge a dez unidades, decrescendo bastante esse número nos anos subseqüentes (Nogueira et al., 1998) pois, à medida que se retiram essas brotações a planta vai perdendo a capacidade de emiti-las (Calzavara, 1972). Assim sendo, a taxa de multiplicação é muito baixa, quando comparada com a propagação sexuada em que, de uma única planta, é possível obter-se quantidade superior a 6000 sementes (Oliveira et al., 1998), com germinação igual ou superior a 90%. A propagação “in vitro” tem tido sucesso apenas com a utilização de embriões zigóticos (Rocha, 1995), não se dispondo de protocolos que possibilitem a obtenção de plântulas através da cultura de tecidos somáticos. A estrutura usada como semente corresponde ao endocarpo que contém em seu interior uma semente, com eixo embrionário diminuto e abundante tecido endospermático. O endocarpo é aproxidamente esférico com comprimento e diâmetro médio de 1,23cm e 1,45cm, respectivamente, e representa 73,46% do peso do fruto (Tabela 1). O peso de 100 endocarpos, com grau de umidade de 39,4%, é de 108g (Carvalho et al., 1998b), portanto, um quilograma de endocarpo de açaí contém cerca de 1080 sementes, que apresentam percentagem de germinação superior a 90%, quando oriundas de frutos 18 maduros e semeadas imediatamente após a remoção da polpa (Moreira, 1989; Villachica et al., 1996; Carvalho et al., 1998b). O processo germinativo é relativamente rápido, porém desuniforme, iniciando-se a emergência das plântulas 22 dias após a semeadura e estabilizando-se aos 48 dias, quando as sementes são semeadas logo após a remoção da polpa. A redução do grau de umidade, mesmo para níveis ainda altos, implica em comprometimento na percentagem e Germinação (%) 100 90 39,4% de um idade 80 19,7% de um idade 70 60 50 40 30 20 10 0 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 Dias após a semeadura retardamento de germinação (Figura 1). Quando o grau de umidade é reduzido para valor em torno de 14,0% as sementes perdem completamente a capacidade de germinação. Figura 1. Curso da germinação de sementes de açaí com graus de umidade de 39,4% e 19,7%. (Fonte: Carvalho, J.E.U. de, dados não publicados). Além da sensibilidade ao dessecamento, as sementes também não suportam baixas temperaturas, havendo comprometimento da viabilidade quando mantidas em ambientes com temperaturas igual ou inferiores a 15°C (Nogueira, et al., 1995; Villachica et al., 1996). 19 Em decorrência desses fatos, a conservação do poder germinativo das sementes não pode ser efetuada pelos processos convencionais de armazenamento, que têm como prérequisitos básicos a secagem e o armazenamento em temperaturas baixas. Para curtos períodos de armazenamento, em condições de ambiente natural da Amazônia, ou quando se deseja transportar as sementes para locais distantes, dois sistemas podem ser usados. No primeiro as sementes são estratificadas ou misturadas em substrato úmido, que tanto pode ser serragem, como vermiculita e acondicionadas em caixas de madeira, isopor ou em sacos de plástico. Areia ou solo não são recomendados como substrato por apresentarem maior densidade. Nesse sistema, as sementes são dispostas em camadas alternadas com o substrato úmido ou simplesmente misturadas com este e acondicionadas em caixas de madeira, isopor ou em sacos de plástico. Na Embrapa Amazônia Oriental tem-se adotado a proporção volumétrica de uma parte de sementes para uma parte de substrato. No outro sistema, as sementes são embaladas em sacos de plástico com capacidade para 4kg de sementes, havendo necessidade de tratamento com fungicida (Benomyl a 0,1%, durante 10 minutos) e de enxugamento superficial das sementes, de tal forma que o grau de umidade seja reduzido para 35,0%. Em ambos os casos, o período de armazenamento não deve ultrapassar a 20 dias, pois muitas sementes poderão completar a germinação dentro da embalagem, o que dificulta a retirada das mesmas e condiciona o aparecimento de plântulas anormais. O armazenamento em sacos de plástico, por período um pouco maior, é possível desde que as sementes sejam mantidas em ambiente com temperatura de 20°C. Nessa situação apresentam 58% de germinação após 45 dias de armazenamento (Moreira, 1989). A semeadura pode ser efetuada tanto em sementeiras, como diretamente em sacos de plástico, com dimensões de 15cm de largura e 25cm de altura. Na Embrapa Amazônia 20 Oriental tem sido utilizado como substrato para as sementeiras areia e pó de serragem, misturados na proporção volumétrica de 1:1, enquanto que para os sacos de plástico é utilizada a mistura de 60% de solo, 20% de esterco e 20% de pó de serra. O período compreendido entre a semeadura até a muda está em condições de ser plantada no local definitivo, se situa entre seis e oito meses, dependendo dos tratos culturais durante a fase de viveiro. Durante a fase de formação, as mudas devem ser mantidas em viveiro com 50% de interceptação de luz. A Comissão Estadual de Sementes e Mudas do Pará estabelece as seguintes normas e padrões para mudas fiscalizadas de açaizeiro, obtidas por sementes (Comissão...,1997): • Apresentar altura uniforme, aspecto vigoroso, cor e folhagem harmônicas; • Possuir , no mínimo, cinco folhas fisiologicamente ativas (maduras), pecíolos longos e as folhas mais velhas com folíolos separados. O coleto deve apresentar a espessura da base maior que a da extremidade das mudas; • Ter quatro a oito meses de idade, a partir da emergência das plântulas; • Apresentar altura de 40cm a 60cm, medidos a partir do colo da planta; • Apresentar sistema radicular bem desenvolvido e ter suas extremidades aparadas quando ultrapassar o torrão; • Isentas de pragas e moléstias (Regulamento da Defesa Sanitária Vegetal). • A comercialização das mudas somente será permitida em torrões, acondicionadas em sacos de plástico, sanfonados e perfurados ou equivalentes, com no mínimo 15cm de largura e 25 cm de altura. 6.2. Manejo Agronômico 6.2.1. Variedades 21 Não existem variedades nem clones definidos e devidamente avaliados e caracterizados de açaizeiro, embora Calzavara (1972), baseado unicamente na coloração dos frutos, quando maduros, tenha estabelecido duas variedades: o açaí Roxo e o açaí Branco (Foto 6, respectivamente com epicarpo de cor roxa e verde-escuro. A definição de variedades de açaizeiro, com base apenas na cor do fruto não é válida, haja vista que existem, nas populações silvestres e mesmo em pomares comerciais expressivas variações dentro de cada uma das variedades estabelecidas por Calzavara (1972), principalmente no que concerne ao tamanho do fruto, diâmetro e altura do estipe, comprimento do entrenó, coloração e comprimento da bainha foliar, capacidade de emissão de perfilhos, tamanho do cacho, características fenológicas, precocidade de produção, rendimento de polpa e produtividade de frutos (Lima & Costa, 1998; Oliveira, 1998; Caroline, 1999). Assim sendo, o mais correto é considerar como tipos o que foi definido como variedades. Ressalte-se, ainda que o cruzamento recíproco entre o açaí roxo e o açaí branco, ocorre com grande freqüencia. Assim sendo, plantas muitas vezes consideradas como da variedade roxo podem na verdade ser híbridos intertipos, pois a cor do fruto maduro é determinada por fatores genéticos qualitativos, sendo o roxo dominante em relação verde. Tal fato, foi observado no Banco de Germoplasma de Açaizeiro da Embrapa Amazônia 22 Oriental, quando sementes oriundas de matrizes do tipo Roxo deram origem a plantas do tipo Branco. O açaí branco é assim denominado porque os frutos, mesmo em completo estádio de maturação, apresentam epicarpo de coloração verde-escuro, e mesocarpo de coloração creme. A polpa oriunda de frutos desse tipo apresenta coloração creme bem claro, bastante diferente da polpa oriunda do açaí roxo. Em alguns locais o açaí branco é também denominado de açaí tinga, palavra de origem tupi que significa branco. Outros tipos ocorrentes na Amazônia são: o açaí-açu, o açaí espada e o açaí sangue de boi, que apresentam as seguintres características diferenciais: Açaí-açu - É um tipo com frutos de cor roxa, ocorrente em populações nativas cujos cachos são bem mais pesados, com maior número de frutos por ráquilas e diâmetro dos estipes maior que dos tipos comuns de açaí roxo; Açaí espada - Tipo que ocorre principalmente na ilha do Combu, no município de Acará, difere dos tipos comuns, principalmente no formato do cacho, por apresentar ráquilas primárias, secundária e terciárias. Açaí sangue-de-boi - Presente em populações nativas de açaizeiro no baixo Amazonas, mais precisamente no município de Santarém. Caracteriza-se pela coloração avermelhada dos frutos, semelhante ao sangue de boi, quando maduros e por apresentar polpa com consistência bem menos pastoja que os tipos de ocorrência mais generalizada. A polpa dos frutos desse tipo tem pouca aceitação, tanto por sua consistência fina como pelo sabor que é bastante diferente, dos tipos com frutos de cor roxa. 6.2.2.Escolha e Preparo da Área 23 Na implantação de pomares de açaizeiro deve-se utilizar, preferencialmente, áreas anteriormente ocupadas com culturas anuais ou semiperenes. Alternativamente, pode-se implantar a cultura em áreas com vegetação secundária de pequeno porte (Nogueira et al., 1995). A utilização de áreas com vegetação primária não é aconselhável, devido aos danos ambientais e ao maior custo com a derrubada da vegetação. No caso da utilização de áreas anteriormente ocupadas com culturas anuais, o preparo do terreno consiste basicamente na roçagem da vegetação, aração e gradagem. Na Amazônia brasileira é comum a implantação da cultura em áreas cultivadas com pimenteirado-reino ou com maracujazeiro no final de ciclo. Em ambos os casos, o preparo da área consiste basicamenete na roçagem das linhas onde serão plantados os açaizeiros e posterior remoção dos tutores. 6.2.3. Espaçamento A maioria das indicações de espaçamento para a cultura do açaizeiro, visando a produção de frutos, são baseadas em observações de natureza prática. Geralmente tem sido indicado o espaçamentos de 5m x 5m com três ou quatro estipes (Nogueira et al.,1995, Villachica et al., 1996), que corresponde a densidades de 1.200 plantas/ha e 1.600 plantas/ha, respectivamente. A implantação da cultura em espaçamento mais fechado, como 4m x 4m, implica em baixa produtividade em decorrência da competição por água e por nutrientes que se estabelece entre as plantas (Nogueira et al., 1998) Os espaçamentos mais abertos, como 5m x 5m, têm a vantagem de facilitar sobremaneira a colheita até dez anos após o plantio. Pois nessa situação, as plantas não estão submetidas à competição por luz o que reduz bastante o crescimento em altura e favorece o crescimento em diâmetro, reduzindo os riscos de tombamento de plantas pela 24 ação de ventos fortes. Nesse espaçamento, os primeiros cachos, surgem em altura altura inferior a 1,5m. Além disso os tratos culturais, especialmente as capinas podem ser efetuadas mecanicamente. Convém ressaltar, no entanto, que espaçamentos mais abertos também favorecerem o crescimento de plantas daninhas, em particular nos primeiros três anos após o plantio, quando o sombreamento da superfície do solo pelos açaizeiros ainda é reduzido. Em sistemas agroflorestais ou em consórcios com outras espécies perenes, os espaçamentos recomendados são bem maiores, sendo os mais indicados 14m x 7m (Nogueira et al., 1991) e 10m x 10m (Carvalho et al., 1999). Um dos consórcios mais interessantes do ponto de vista biológico e econômico envolve o cupuaçuzeiro como cultura principal e o açaizeiro como cultura secundária (Müller & Carvalho, 1997). Nesse caso, o açaizeiro, uma espécie heliófila é usado para o sombreamento definitivo do cupuaçuzeiro que, devido ao seu caráter umbrófilo, suporta nível de sombreamento em torno de 25% (Venturieri, 1993). No consórcio do cupuaçuzeiro com o açaizeiro, a primeira espécie deve ser plantada no espaçamento de 5m x 5m e a segunda no espaçamento de 10m x 10m (Carvalho et al., 1999). 6.2.4. Plantio O plantio em áreas não-irrigadas deve ser efetuado no início do período de chuvas, em covas com dimensões de 40cmx40cmx40cm (Nogueira et al.,1995), previamente adubadas com 10 a 15 litros de esterco bovino ou 2 a 3 litros de esterco de galinha (Calzavara, 1987) e 200g de superfosfato triplo. É conveniente, após o plantio, o uso de cobertua morta em volta da muda. Esse procedimento visa minimizar os efeitos de possíveis veranicos, que possam ocasionar défice hídrico acentuado nas mudas recém-plantadas. 25 Além disso, a cobertura morta serve também para controlar, parcialmente, as plantas daninhas em volta da muda. Em áreas irrigadas o plantio pode ser efetuado em qualquer época do ano, adotandose os mesmos procedimentos indicados para o plantio em áreas não-irrigadas, em termos de tamanho da cova, adubação e cobertura morta. 6.2.5. Nutrição e adubação Os estudos sobre nutrição e adubação do açaizeiro são ainda extremamente incipientes, não se dispondo de resultados consistentes que permitam avaliar com precisão o estado nutricional das plantas e, principalmente, estabelecer recomendações de adubação. Os resultados obtidos por Haag et al. (1992) evidenciaram que os macronutrientes interferem na produção de matéria seca, em plantas jovens de açaizeiro, na seguinte ordem: K > Mg > P > N > Ca > S. Além disso, a determinação dos teores desses nutrientes, nas folhas e raízes de plantas com e sem sintomas de deficiência forneceram indicação preliminar para avaliação do estado nutricional do açaizeiro, em termos de macronutrientes (Tabela 5). Tabela 5. Concentração (%) de macronutrientes em folhas e raizes de plantas jovens de açaizeiro cultivados em solução completa e com omissão de macronutrientes. Sem omissão Com omissão Nutriente Folha Folha Raiz Folha Folha Raiz nova velha nova velha N 1,95 1,66 1,73 1,22 0,95 0,79 P 0,14 0,13 0,11 0,06 0,08 0,07 K 1,06 1,96 1,97 1,17 1,07 1,20 Ca 0,69 0,68 0,61 0,44 0,54 0,30 Mg 0,26 0,35 0,31 0,20 0,19 0,27 S 0,30 0,29 0,31 0,21 0,30 0,26 Fonte: Adaptado de Haag et al., 1992. 26 Com relação à adubação os seguintes procedimentos têm sido indicados para solos de baixa fertilidade natural da Amazônia brasileira, não se podendo, no entanto discriminar qual o mais eficiente: a) No primeiro ano, efetuar duas aplicações de 300g de NPK, formulação 10-28-20, no quinto e nono mês após o plantio. A partir do segundo ano, efetuar três aplicações de 300g do mesmo adubo, no início, meio e fim do período de chuvas (Siqueira et al., 1998). b) Nos dois primeiros anos após o plantio aplicar 100g de sulfato de amônio, 100g de superfosfato triplo e 100g de cloreto de potássio por planta, parcelados duas vezes. A partir do terceiro ano duplicar a quantidade de adubo, divididos, também, em duas aplicações. Além da adubação mineral, aplicar em intervalos de dois anos, cinco litros de esterco de curral (Nogueira et al., 1995). c) Aplicar, no primeiro e segundo ano, 10 a 15 litros de esterco de curral ou dois a três litros de esterco de galinha por touceira e 100g da mistura, em partes iguais, de sulfato de amônia, superfosfato triplo e cloreto de potássio. O adubo mineral deve ser aplicado em duas parcelas de 50g, a primeira no início e a segunda no final do período de chuvas. A partir do terceiro ano utilizar a mesma quantidade de adubo orgânico e utilizar a mistura de 150g de sulfato de amônia, 220g de superfosfato triplo e 250g de cloreto de potássio, dividido, também, em duas parcelas iguais, aplicadas, no início e final do período de chuvas (Calzavara, 1987). 6.2.6. Manejo de Perfilhos e Capinas O número excessivo de perfilhos em uma touceira reduz o crescimento da planta-mãe, pois parte considerável dos fotossintatos são mobilizados para a formação do sistema radicular dos perfilhos (Oliveira, 1995). Assim sendo, é necessário efetuar o desbaste dos 27 mesmos de tal forma que cada touceira apresente, no máximo, cinco plantas (Calzavara, 1987). Outro aspecto relacionado com o manejo das touceiras está relacionado a altura dos estipes. Quando um estipe atinge altura que dificulte sobremaneira a colheita dos frutos, é conveniente eliminá-lo e deixar um novo perfilho crescer para substituir o que foi derrubado (Calzavara, 1972 e 1987) No primeiro ano após o plantio o crescimento da planta é bastante lento, situação esta que aliada ao espaçamento aberto favorece o crescimento de plantas daninhas. Nos três primeiros anos após a implantação do pomar, são necessárias três ou quatro roçagens a cada ano. Complementando as roçagens é necessário o coroamento em volta das touceiras (Nogueira et al., 1995). Essa ultima operação pode ser efetuada com herbicidas a base glifosate ou paraquat. O glifosate tem a vantagem de não provocar danos na planta de açaizeiro, nas dosagens indicadas para o controle de plantas daninhas. Convém ressaltar, porém, que esses produtos ainda não estão registrados para uso na cultura do açaizeiro. 6.2.7. Irrigação A irrigação da cultura, na Amazônia brasileira, tem sido utilizada empiricamente, pois não existem estudos específicos sobre os requerimentos hídricos do açaizeiro. Normalmente é utilizada somente durante o período de estiagem, na forma de irrigação suplementar, em pomares estabelecidos em solos de terra firme e submetidos aos tipos climáticos Ami e Awi. Em algumas situações, como nos anos de ocorrência do fenômeno “El niño”, é também necessária, mesmo em locais com tipo climático Afi, particularmente se o pomar estiver instalado em solos com teor de argila inferior a 30%. 28 No Estado do Ceará, onde a cultura foi recentemente introduzida, está sendo utilizado o sistema de irrigação por micro-aspersão. Nos ecossistemas de várzea inundável do estuário amazônico as plantas não demonstram sintomas de défice hídrico pois, nesse ambiente, mesmo durante a estação seca, quando em muitas ocasiões a camada superficial do solo seca bastante e apresenta rachaduras, provocando mesmo a quebra de raízes finas, a planta apresenta status de água adequado, em decorrência de ter suprimento hídrico garantido através da absorção de água pela porção mais profunda do sistema radicular (Carvalho et al., 1998a). Não obstante ser uma planta típica de habitats muito úmidos o açaizeiro comporta-se como planta mesófila. Plantas jovens mesmo submetidas a estresse por falta de água, durante dois meses, mantêm-se vivas e recobram suas atividades fisiológicas 14 dias após a reidratação (Calbo, 1996). Como na maioria das palmeiras, o primeiro sintoma visível do défice de água na planta manifesta-se pelo retardamento no ritmo de abertura das folhas. Assim é que em plantas com estresse por falta d’água é comum encontrar-se no ápice duas ou mais folhas não completamente abertas e em forma de flecha. Esse fenômeno, em muitos casos também está associado à deficiência de boro, pois a absorção desse nutriente fica limitada pela deficiência de água no solo. 6.2.8. Produtividade Os dados sobre produtividade de frutos do açaizeiro são ainda inconsistentes, pois não estão devidamente consolidadas as práticas culturais e de manejo mais eficientes para a cultura. Além disso, não existem clones nem variedades definidas, sendo a totalidade dos 29 pomares estabelecidos com sementes de polinização aberta, oriundas de plantas de populações naturais, na maioria dos casos sem nenhum critério de seleção. O açaizeiro inicia seu ciclo de produção de frutos quatro anos após o plantio. Eventualmente, algumas plantas entram em fase de produção aos três anos de idade (Oliveira & Frenandes,1993). Dentro de uma touceira, a planta-mãe é a primeira a entrar em fase de produção. A produção dos dois primeiros anos é insignificante, crescendo bastante a partir do sexto ano após o plantio. Em pomar implantado em Latossolo Amarelo textura leve, no espaçamento de 6m x 6m, manejado com três plantas por touceira com adubação orgânica e mineral observou-se incrementos significativos na produção até o décimo primeiro ano, quando a produção de frutos por touceira atingiu valor de 42,2kg, decrescendo nos anos subseqüentes (Figura 2). Produtividade (kg/touceira) 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Idade da planta (ano) Figura 2. Produtividade de frutos (kg/touceira) de açaizeiro, em função da idade da planta. (Fonte: Villachica et al., 1996). Na Coleção de Germoplasma de Açaizeiro da Embrapa Amazônia Oriental, implantada também em Latossolo Amarelo, no espaçamento de 5m x 3m, sem desbaste de 30 estipes, a produção, dez anos após o plantio, variou de 0,1kg a 50,9kg de frutos por touceira, evidenciando, nesse caso, a influência do genótipo (Oliveira, 1995). Em açaizais nativos, manejados para a produção de frutos, com densidade de 1500 plantas/ha e cerca de 53% delas em fase de produção foi registrada produtividade de até 9.000kg de frutos/ha. Por outro lado, para açaizais não-manejados a produtividade foi de apenas 4.500kg de frutos/ha, em decorrência da baixa densidade de plantas por hectare (Nogueira, 1997). 7. PRAGAS E DOENÇAS 7.1. Pragas Diversos insetos atacam o açaizeiro mas, presentemente, poucos são os que exigem medidas efetivas de controle. A maior parte dos insetos ou formas afins que causam danos ao açaizeiro também são pragas de outras palmeiras ou mesmo de outras espécies frutíferas ou madeireiras de famílias diferentes. Ressalte-se que, atualmente, não existe nenhum produto registrado no Ministério da Agricultura e do Abastecimento do Brasil, para o controle de pragas do açaizeiro. Como pragas principais podem ser citadas: Rhynchophorus palmarum (Coleoptera: Curculionidae) - Constitui-se na principal praga do açaizeiro, atacando principalmente a região da coroa foliar. É praga de outras palmeiras cultivadas na Amazônia, dentre as quais o coqueiro (Cocos nucifera) e o dendezeiro (Elaeis guineensis), onde também causa sérios dano e é considerado como vetor do nematódeo Bursaphelencus cocophilus, causador da doença conhecida como anel vermelho. O adulto é um besouro de hábito diurno e cor negra com cerca de 5cm de comprimento, cabeça pequena e alongada para frente terminando em forma de rostro. As 31 larvas são ápodas e de cor branca (Moura & Vilela, 1996). A larva no último instar mede 75mm de comprimento por 25 mm de largura (Ferreira et al., 1998). As recomendações para o controle dessa praga propostas por Souza & Oliveira (1999) são baseadas nos métodos de controle indicados por Moura & Vilela (1996) e por Ferreira et al. (1998) para as culturas do dendezeiro e do coqueiro, respectivamente, conforme discriminadas a seguir: a) Controle preventivo na colheita: Pincelar o local onde foi cortado o cacho com uma solução de piche mais nematicida; b) Controle comportamental – Uso de iscas atrativas e ferormônios. Toletes de canade-açúcar podem ser usados como iscas em armadilhas tipo alçapão. A adição de feromônios às iscas constitui-se, presentemente, no método mais eficiente de controle; Cerataphis latanie (Homoptera: Aphididae) – O pulgão-preto é um minúsculo sugador que ataca folhas em desenvolvimento, bainhas foliares (Foto 7), inflorescências e frutos. Em plantas com três a cinco anos de idade quando o ataque é severo pode causar a morte da planta. Nas inflorescências, ocasionam queda precoce das flores ou mesmo de frutos em início de formação (Souza & Oliveira, 1999). O controle do pulgão preto pode ser efetuado com pulverizações de óleo mineral na concentração de 1%, misturado com inseticida fosforado na concentração de 0,1% (Siqueira et al., 1998). Xylosandrus compactus (Coleoptera: Scolytidae) – Conhecido como broca das mudas é um inseto originário da Ásia, polífago e bastante conhecido como praga do cafeeiro (Coffea arabica) e de numerosos arbustos. A fêmea mede entre 1,5mm e 1,8mm de comprimento e apresenta coloração enegrecida, brilhante. O macho é de coloração marron e um pouco menor (Couturier et al. 1994). Na Amazônia brasileira, tem sido encontrado atacando diversas espécies frutíferas e madeireiras (Carvalho et al., 1999). 32 Não existem medidas de controle efetivamente testadas para o combate dessa praga em mudas de açaizeiro. No entanto, a aplicação de inseticidas de contato, com alto poder residual pode se constituir em alternativa de controle. Nesse caso, deve-se considerar o hábito crepuscular dos adultos (Mendes et al., 1979) e pulverizar as mudas ao entardecer, a fim de combater os insetos durante o vôo. A destruição de mudas infestadas pelo fogo constitui-se em outra alternativa para o controle dessa praga. No açaizeiro, essa praga ataca mudas em diferentes fases de crescimento. As fêmeas penetram na região do coleto, onde efetuam a oviposição e depositam um fungo que se constitui no alimento dos adultos e das larvas. Esse fungo não apresenta patogenicidade para a planta, sendo os principais danos decorrentes das galerias abertas pelo inseto, que causam a morte das mudas. Duas outras coleobrocas não-identificadas, têm sido registradas atacando o açaizeiro. Uma delas, de ocorrência mais freqüente no período de maior intensidade de chuvas, realiza perfurações na parte basal do estipe até 1,30m de altura que, dependendo da severidade do ataque, pode ocasionar a morte da planta (Souza & Oliveira, 1999). A outra, faz galerias nas inflorescências, danificando completamente as ráquilas e as flores. Os endocarpos que caem no solo são atacadas por uma broca (Cocotrypes sp.) que, dependendo da intensidade do dano, causam perda de viabilidade das sementes (Calzavara, 1987). 7.2. Doenças A única doença registrada, até o momento, no açaizeiro, é a antracnose, cujo o agente etiológico é o fungo Colletotrichum gloeosporoides. Essa doença, no entanto, tem 33 causado problemas somente na fase de viveiro, já tendo ocorrido perdas de até 70% de mudas. (Bovi et al., 1988). O controle da antracnose pode ser feito com pulverizações de oxicloreto de cobre a 0,15%, intercalados com Benomyl a 0,1%, em intervalos de dez a quinze dias. No entanto, tais produtos ainda não estão registrados no Ministério da Agricultura e do Abastecimento para uso no açaizeiro Um distúrbio, provavelmente, de origem fisiológica que tem sido constatado em plantas da Coleção de germoplasma de açaizeiro é a rachadura do estipe. Esse distúrbio caracteriza-se por uma ou mais fendas longitudinais no caule com comprimento em torno de 0,70 m. Essas rachaduras representam porta de entrada para fungos saprofíticos, o que ocasiona o apodrecimento e o tombamento do estipe (Foto 8). 8. COLHEITA E PÓS-COLHEITA A colheita do fruto do açaizeiro é efetuada aproximadamente 180 dias após a antese (Oliveira et al., 1998), ocasião em que o epicarpo apresenta cor roxa escuro recoberta por uma camada acinzentada (Calzavara, 1972) nos tipos com frutos de cor roxa e coloração verde-escuro brilhante, nos tipos denominados de açaí branco. Nas áreas de extrativismo de açaí a colheita é efetuada no horário matinal e constituise em operação onerosa e difícil de ser realizada, especialmente em plantas com altura superior a dez metros. É efetuada escalando-se o estipe e cortando o cacho em sua base, o qual é trazido para a superfície do solo pelo próprio escalador. Durante a colheita cuidados especiais são necessários para que não haja desprendimento de quantidade elevada de frutos das ráquilas. 34 A colheita é realizada durante a manhã visando evitar que seja processada no momento de ocorrência de chuvas que, com maior freqüência, ocorrem no horário vespertino, pois nessa situação é mais difícil escalar as árvores tanto pela ação direta das chuvas, que torna os estipes mais escorregadios, como pela ocorrência de ventos. Outro fator determinante para o horário de colheita está relacionado ao transporte. Os frutos colhidos têm que chegar aos grandes centros consumidores, principalmente Belém, PA, nas primeiras horas do dia seguinte ao da colheita. Escaladores habilidosos são capazes de passar de um estipe para outro de uma mesma touceira , sem descer para o solo (Cavalcante, 1991), colhendo de três a cinco cachos em uma única escalada, desde que o peso total destes não ultrapasse a 15kg. Normalmente um escalador experiente é capaz de colher cerca de 150kg a 200kg de frutos em uma jornada de seis horas de trabalho. Com a intensificação e racionalização do cultivo do açaizeiro, a operacionalização da colheita precisa ser substancialmente melhorada, tendo em vista que em muitas áreas onde a cultura está sendo implantada, há carência de pessoal habilitado em escalar árvores e o sistema tradicional de colheita é bastante oneroso e com baixo rendimento de mão-de-obra. Provavelmente, um equipamento testado com relativo sucesso, na Embrapa Amazônia Oriental, para a colheita de frutos de pupunheira (Bactris gasipaes), uma palmeira também de porte elevado, possa ser utilizado na colheita de frutos de açaizeiro. Esse equipamento consiste em uma vara de alumínio, com seis metros de comprimento, contendo na sua extremidade superior uma lâmina para corte do cacho, um recipiente para a recepção dos frutos e uma roldana que permite a descida e a subida do recipiente. Após a colheita os frutos são removidos manualmente das raquilas e acondicionados em cestos confeccionados com fibras vegetais (Foto 9), que oferecem boa aeração, o que 35 favorece a conservação. Esses cestos, embora apresentando capacidade variável, normalmente comportam 15kg ou 30kg de frutos. Caixas plásticas com aberturas laterais, como as usadas na colheita de acerola e de outras frutas tropicais também se prestam para essa finalidade, tendo a vantagem de ocupar menor espaço e de serem mais facilmente transportadas. Esse tipo de embalagem, no entanto, muito raramente é usado na Amazônia, em virtude da maior facilidade de aquisição de cestos. Os frutos após a colheita são bastante perecíveis, sendo o ideal que sejam processados no prazo máximo de 24 horas após a colheita pois, sofrem fermentação facilmente, condição esta favorecida pelas temperaturas elevadas prevalecentes nas áreas de produção e de comercialização. A proteção dos frutos contra a radiação solar direta é importante para evitar a perda excessiva de água, pois o despolpamento de frutos nessa situação é mais difícil, o rendimento de polpa é menor e o produto obtido apresenta coloração fora do padrão. Não existem estudos sobre a conservação dos frutos em ambiente refrigerado mas, provavelmente, a exemplo de outras frutas tropicais, a vida pós-colheita poderia ser prolongada mantendo os mesmos em ambiente com temperatura em torno de 10°C. Convém ressaltar que em alguns casos, especialmente quando em decorrência da distância o produto tem que ser conservado por período superior a 48 horas, os frutos são transportados em sacos de polipropileno, com capacidade para 50kg ou 60kg, recobertos com gelo (Nascimento & McGrath, 1996). 9. INDUSTRIALIZAÇÃO 36 O processo mais comum de extração da polpa de açaí envolve a utilização de pequenas máquinas despolpadoras (Foto 10), amplamente disseminadas nos grandes centros urbanos dos Estados da Amazônia. Somente na cidade de Belém, estima-se a existência de 2.500 postos de processamento da bebida açaí (Lacerda, 1992). Ressalte-se que, embora a maioria desses postos disponham somente de uma unidade despolpadora, em alguns deles podem ser encontradas até dez máquinas trabalhando simultâneamente. Nesse último caso, podem processar até cerca de 2t de frutos por dia, o que permite a obtenção de aproximadamente 1.000 litros de polpa de açaí. Esse tipo de máquina, não obstante a baixa capacidade operacional, permite extração eficiente da polpa, ao contrário das despolpadoras com alta capacidade de processamento, usadas na extração de polpa de acerola, cacau, cupuaçu e outras frutas tropicais, que em decorrência da maior velocidade das paletas, provocam acentuada retirada de fibras do endocarpo, conferindo à polpa de açaí sabor adstringente. A obtenção da polpa de açaí obedece as etapas mostradas na Figura 3. Após a recepção, os frutos são lavados em solução de hipoclorito de sódio (30 a 50ppm de cloro) e, em seguida, em água filtrada, para remoção do excesso de cloro. Posteriormente, são imersos em água à temperatura ambiente, durante uma hora ou, alternativamente, em água à temperatura de 45°C, durante 20 minutos. Esse procedimento visa facilitar o despolpamento. Na operação de despolpamento há necessidade de adição de água para que a polpa possa fluir através da peneira. A água deve ser adicionada em cinco parcelas, cada uma delas obedecendo a proporção de uma parte de água para dez partes de frutos (Caroline, 1999). O que se denomina de polpa de açaí é a mistura constituída da parte comestível dos frutos e a água adicionada durante o processamento, sendo que para cada quilograma de frutos processado são obtidos 400g a 550g de polpa. 37 A polpa é comercializada em embalagem de sacos de plástico, podendo ser consumida imediatamente após o processamento ou após congelamento. Recepção dos frutos Lavagem Imersão em água Despolpamento Semente Polpa Finisher Embalagem Congelamento Figura 3 – Fluxograma para obtenção da polpa congelada de açaí. 10. MERCADO POTENCIAL Atualmente o principal mercado para o açaí é a Amazônia brasileira, onde o consumo de frutos, não obstante as estatísticas contraditórias, ultrapassa a barreira de 180.000t por ano somente no Estado do Pará, que se constitui, segundo Coral (1988) no maior produtor e maior consumidor, respondendo por cerca de 93% da produção nacional. Na cidade de Belém, PA, estima-se em 360.000 litros o consumo diário da bebida açaí (Mourão, 1996). Nessa cidade, assim como em outros locais da Amazônia brasileira, a polpa é comercializada, na maioria dos casos, imediatamente após o seu processamento, sem resfriamento ou congelamento. 38 A partir de meado da década de 1990, a polpa congelada de açaí começou a ser comercializada em outras regiões do Brasil, havendo estimativas de que a quantidade consumida, somente na cidade do Rio de Janeiro, RJ, atinge a marca de 200t/mês (Guimarães, 1998), procedente, na sua totalidade do Estado do Pará. Convém ressaltar que outras grandes cidades, principalmente as capitais dos Estados das regiões nordeste, centrooeste, sudeste e sul do Brasil têm demandado expressivas quantidades de polpa de açaí, não se dispondo, no entanto, de estatísticas sobre o consumo real e potencial. Os produtos oriundos do açaí têm sido apresentados em feiras internacionais, na Europa e na América do Norte, despertando o interesse do público em geral. Amostras da polpa e de seus derivados têm sido remetidas para outros países, especialmente para a Áustria, Alemanha, Estados Unidos e Japão, não tendo porém se concretizado, até o momento, nenhuma exportação para esses países. A empresa Muaná Alimentos está articulando a comercialização do açaí para o mercado norte-americano e europeu, com perspectivas de concretizar a primeira exportação do produto no ano 2001 (De Marajó, 2000). A utilização do fruto como fonte de corante para a indústria de alimentos, é outro aspecto que tem recebido atenção, haja vista a tendência mundial de proibição de muitos corantes sintéticos, particularmente os que apresentam efeitos cancerígenos. Os corantes extraídos do açaí têm sido utilizados, experimentalmente, no preparo de bombons tipo “hard candies” e de gelatina, com excelentes resultados (Nazaré & Ribeiro, 1998). Com relação ao segmento de bebidas isotônicas, o produto com sabor artificial de açaí já é encontrado nas prateleiras das grandes redes de supermercado que atuam no Brasil, sendo um bom indicativo de aceitação do açaí pelo público. Outro aspecto que merece ser evidenciado é que pequenos plantios experimentais já começam a ser implantados em diferentes locais situados fora da Amazônia, particularmente, 39 nos Estados da Bahia, Ceará, Rio de Janeiro, Goiás e São Paulo, o que demonstra também o interesse pelo açaí. 12. REFERÊNCIAS AGUIAR, C.J.S. 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