BIOINVASÃO MEDIADA POR EMBARCAÇÕES DE RECREIO NA

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Categoria 3: Comunicação sobre projetos em andamento
BIOINVASÃO MEDIADA POR EMBARCAÇÕES DE RECREIO NA BAÍA DE
PARANAGUÁ, PR E SUAS IMPLICAÇÕES PARA CONSERVAÇÃO
Carolina S. Neves1 & Rosana M. Rocha
2
INTRODUÇÃO
Invasões de organismos marinhos têm ocorrido em virtualmente todas as regiões do
mundo e seus impactos sobre as comunidades locais podem ser deletérios (Ruiz et al. 2000,
Hayes & Sliwa 2003, Occhipinti-Ambrogi & Savini 2003). Espécies introduzidas podem alterar
profundamente a estrutura das populações e comunidades já existentes, promovendo, na
maioria dos casos, perda da biodiversidade, que pode ser ainda mais acentuada quando
espécies endêmicas são atingidas (Stachowicz et al. 1999, Kado 2003).
Dentre os processos causadores da diminuição da diversidade pode-se destacar a
exclusão competitiva de espécies nativas, a predação de espécies naturais, a hibridização e a
alteração na estrutura de cadeias tróficas (Berman et al. 1992, Huxel 1999, Grosholz 2002).
Além disso, os prejuízos causados por espécies exóticas para diversas atividades comerciais
podem exigir medidas mitigadoras de alto custo.
Atividades de navegação constituem um dos principais meios de transporte e posterior
introdução de espécies em novas áreas (Lewis et al. 2003). A água de lastro, a qual é
bombeada para os navios em um porto e descartada em outro, constitui atualmente um dos
principais mecanismos de introdução, uma vez que pode transportar rapidamente organismos
de uma região a outra. Embarcações de recreio exercem papel fundamental na distribuição de
espécies exóticas, pois permite o transporte de organismos sedentários e incrustantes para
longe dos portos onde foram primeiramente introduzidos (Wasson et al. 2001).
Neste contexto, esta proposta pretende promover, no período de Março de 2004 a
Dezembro de 2005, o levantamento das espécies incrustantes que ocorrem na marina do Iate
Clube de Paranaguá - PR, local de intenso tráfego de embarcações de recreio, inclusive vindas
do exterior, a fim de detectar possíveis espécies marinhas que tenham sido introduzidas.
Para tanto, as faunas existentes entre as estruturas fixas da marina (colunas de
concreto e flutuadores de fibra de vidro) e os cascos dos barcos que a freqüentam estão sendo
comparadas. A distribuição geográfica conhecida das espécies encontradas e suas ocorrências
em regiões portuárias, obtidas por meio de consulta à literatura, é um dos critérios utilizados
na definição do status da espécie (nativa, introduzida ou criptogênica).
Como resultado deste trabalho, está sendo produzida uma Proposta de Manejo para a
marina do Iate Clube de Paranaguá, que incluirá a lista das espécies, suas classificações e
sugestões de manejo para exclusão ou controle das populações das espécies exóticas. A
Proposta de Manejo será apresentada à Diretoria do Iate Clube, ao órgão de meio ambiente da
prefeitura de Paranaguá e ao Instituto Ambiental do Paraná, a fim de que estes órgãos possam
se inteirar do problema relacionado à contaminação biológica. Este projeto também visa a
produção de um site na Internet, que abrigará um banco de dados com a lista das espécies
encontradas e seus status, juntamente com a Proposta de Manejo, já que estas informações
poderão ser úteis para pesquisas sobre o assunto em outras regiões do Brasil.
Como este é o primeiro estudo sobre bioinvasão de organismos marinhos bênticos a ser
desenvolvido nesta região do país, esta proposta consiste em um primeiro passo para o
conhecimento e monitoramento de possíveis espécies marinhas introduzidas, com o intuito de
proteger e conservar a biodiversidade local.
1
Pós-graduação em Ecologia e Conservação, Universidade Federal do Paraná; [email protected]
2
Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Paraná; [email protected]
Categoria 3: Comunicação sobre projetos em andamento
METODOLOGIA
A coleta dos organismos foi realizada em abril de 2004 (uma única coleta), utilizando
mergulho autônomo. O procedimento de coleta seguiu os mesmos protocolos e diretrizes
utilizados internacionalmente e que foram desenvolvidos pelo Center of Research on
Introduced Marine Pests (CRIMP), da Austrália (Hewitt & Martin 1996 2001).
Os organismos incrustantes foram coletados por meio de raspagem da superfície das
estruturas fixas da marina (colunas de concreto e flutuadores de fibra de vidro) e dos cascos
das embarcações, no primeiro 0,5 m de profundidade. A área raspada foi delimitada por
amostrador de ferro de 0,04 m2. Foram coletadas 10 amostras de cada tipo de substrato,
perfazendo um total de 30. Todo o material coletado foi acondicionado em sacos plásticos,
anestesiado com cristais de mentol e mantidos em baixa temperatura dentro de caixas
isolantes, para sua melhor conservação. Em laboratório, as amostras foram fixadas em formol,
acondicionadas em frascos com tampa de rosca e etiquetadas com código sugerido pelo
protocolo CRIMP.
O material foi triado e separado de acordo com morfo-espécies e, em função da grande
abrangência de táxons envolvidos, foi enviado aos taxonomistas especialistas em cada grupo
para a identificação final até espécie. O status de cada espécie está sendo avaliado a partir de
dados bibliográficos a respeito de sua distribuição geográfica conhecida, ocorrência em regiões
portuárias e substratos artificiais. Listas das espécies invasoras já produzidas por diversos
países também estão sendo consultadas.
RESULTADOS PARCIAIS
As espécies coletadas na marina do Iate Clube, identificadas até o momento, estão
incluídas no Anexo 1. Dentre estas, 8 espécies são classificadas como introduzidas e
criptogênicas: Striatobalanus amaryllis, cirripédio considerado nativo do Índico e Pacífico
oeste, foi registrada no litoral do Piauí (Young 1987), Pernambuco e Bahia (Young 1998), sem
nenhuma referência de ocorrência desta espécie para o Sul e Sudeste do país; Amphibalanus
reticulatus, cirripédio considerado cosmopolita e introduzido recentemente no Brasil, foi citada
inicialmente para Pernambuco (Farrapeira-Assunção 1990) e Bahia (Young 1998), e coletada
na Baía de Sepetiba, RJ em 1997 (Fábio Pitombo, comunicação pessoal), não havendo registro
até então para as regiões Sudeste e Sul do Brasil; Amphibalanus amphitrite e A. improvisus,
também consideradas cosmopolitas e introduzidas há muito tempo no Atlântico sul ocidental,
ocorrendo atualmente em toda a costa brasileira (Young 1995); Corophium acherusicum,
anfípode nativo do Atlântico norte oriental, é considerada introduzida na região Sul do Brasil
(NIMPIS 2002); Neanthes cf. succinea, poliqueta considerado nativo do Atlântico norte
oriental, é classificada como criptogênica no Sudeste e Sul do Brasil (NIMPIS 2002); Garveia
franciscana, hidrozoário citado como introduzido em várias regiões do mundo, foi relatada na
costa brasileira primeiramente para o Pernambuco, em 1998 (Calder & Maÿal, 1998). Obelia
dichotoma, hidrozoário tido como nativo do Atlântico norte oriental, é classificada como
criptogênica na costa brasileira (NIMPIS 2002), ocorrendo nas regiões Sul e Sudeste do país.
REFERÊNCIAS
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Gulf of Maine: three contrasting ecological histories. Conservation Biology, 6(3): 435441.
Calder, D.R.; Maÿal, E.M. Dry season distribution of hydroids in a small tropical estuary,
Pernambuco, Brazil. Zool. Verh. Leiden, 323: 69-78.
Farrapeira-Assunção, C.M. 1990. Ocorrência de Chyrona (Striatobalanus) amaryllis Darwin,
1854 e de Balanus reticulatus Utinomi, 1967 (Cirripedia, Balanomorpha) no Estado de
Pernambuco. In: Resumos do XVII Congresso Brasileiro de Zoologia, p: 7.
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Grosholz, E. 2002. Ecological and evolutionary consequences of coastal invasions. Trends in
Ecology and Evolution, 17(1): 22-27.
Hayes, K. R.; Sliwa, C. 2003. Identifying potential marine pests – a deductive approach
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Hewitt, C. L. E.; Martin, R. B. 1996. Port surveys for introduced marine species: background
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Hewitt, C. L. E.; Martin, R. B. 2001. Revised protocols for baseline port surveys for introduced
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Huxel, G. R. 1999. Rapid displacement of native species by invasive species: effects of
hybridization. Biological Conservation, 89 143-152.
Kado, R. 2003. Invasion of japanese shores by the NE Pacific barnacle Balanus glandula and its
ecological and biogeographical impact. Marine Ecology Progress Series, 249: 199-206.
Lewis, P. N.; Hewitt, C. L.; Riddle, M.; McMinn, A. 2003. Marine introductions in the Southern
Ocean: an unrecognized hazard to biodiversity. Marine Pollution Bulletin, 46: 213-223.
NIMPIS (2002). Alitta succinea species summary. National Introduced Marine Pest Information
System (Eds: Hewitt C.L., Martin R.B., Sliwa C., McEnnulty, F.R., Murphy, N.E., Jones T.
& Cooper, S.). Web publication <http://crimp.marine.csiro.au/nimpis>
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Information System (Eds: Hewitt C.L., Martin R.B., Sliwa C., McEnnulty, F.R., Murphy,
N.E., Jones T. & Cooper, S.). Web publication <http://crimp.marine.csiro.au/nimpis>
Occhipinti-Ambrogi, A.; Savini, D. 2003. Biological invasion as a component of global change in
stressed marine ecosystems. Marine Pollution Bulletin, 46: 542-551.
Ruiz, G. M.; Fofonoff, P. W.; Carlton, J. T.; Wonham, M. J.; Hines, A. H. 2000. Invasion of
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Annual Review of Ecology and Systematics, 31: 481-531.
Stachowicz, J. J.; Whitlatch, R. B.; Osman, R. W. 1999. Species diversity and invasion
resistance in a marine ecosystem. Science, 286: 1577-1579.
Young, P.S., 1987. Taxonomia e Distribuição da Subclasse Cirripedia no Atlântico Sul
Ocidental. Doutorado em Ciências Biológicas (Zoologia), Universidade de São Paulo. 315
pp., 48 figs.
Young, P. S., 1995. New interpretations of South American patterns of barnacle distribution:
229-253. In: F. R. Schram & J. T. Hoeg (eds.). New frontiers in barnacle evolution.
Crustacean Issues 10. AA Balkema, Leiden.
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Wasson, K.; Zabin, C.J.; Bedinger, L.; Diaz, L.; Pearse, J.S. 2001. Biological invasions of
estuaries without international shipping: the importance of intraregional transport.
Biological Conservation, 102: 143-153.
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Anexo 1. Espécies que ocorrem na marina do Iate Clube de Paranaguá, PR, identificadas até o
momento.
Classificação
Chlorophyta
Espécie
Status
Enteromorpha lingulata J. Agardh, 1883
Ulva sp
Nativa
―
Cladophora sp
―
Caloglossa leprieurii (Montagne) G. Martens 1869
Porphyra sp
Nativa
―
Polysiphonia sp
―
Bostrychia radicans (Montagne) Montagne 1842
Nativa
Colpomenia sinuosa (Mertens ex Roth) Derbès & Solier
Nativa
Clythia hemisphaerica (Alder, 1856)
Obelia bidentata Clarke, 1875
―
―
Obelia dichotoma (Linnaeus, 1758)
Garveia franciscana (Torrey, 1902)
Criptogênica
Introduzida
Spionidae
Polydora sp.
Pseudopolydora sp.
―
―
Cirratulidae
Sabellidae
Dodecaceria sp.
Jasmineira sp.
Perkinsiana sp.
―
―
―
Syllidae
Autolytus sp.
Pseudosyllides sp.
―
―
Syllis sp.
―
Rhodophyta
Phaeophyta
Cnidaria
Hydrozoa
Annelida
Polychaeta
Terebellidae
Nereididae
Capitellidae
Typosyllis sp.
―
Terebella sp.
Nereis sp.
Nereis oligohalina (Rioja, 1946)
―
―
―
Perinereis vancaurica (Ehlers, 1868)
―
Perinereis anderssoni Kinberg 1866
―
Neanthes cf. succinea (Frey & Leuckart, 1847)
Criptogênica
Capitella sp.
Capitella capitata
―
Criptogênica
(Fabricius, 1740)
Arthropoda
Crustacea
Amphipoda
Isopoda
Decapoda
Caprellidae
Elasmopus brasiliensis (Dana, 1853)
Quadrimaera miranda (Ruffo, Krapp & Gable, 2000)
―
―
Parahyale hawaiensis (Dana, 1853)
―
Gitanopsis sp.
―
Corophium acherusicum Costa, 1851
Introduzida
Pseudosphaeroma jackobii (Loyola & Silva, 1959)
Hexapanopeus paulensis Rathbun, 1930
Hexapanopeus schmidtti Rathbun, 1930
Nativa
Nativa
Nativa
Panopeus astrobesus Williams, 1983
Nativa
Caprella equilibra Say, 1818
Fallotritella montoucheti Quitete, 1971
―
―
Caprella scaura Templeton, 1836
―
Tanaidacea
Sinelobus stanfordi (Richardson, 1901)
Paratanais (oculatus?) (Vanhoeffen, 1914)
―
―
Cirripedia
Fistulobalanus citerosum (Henry, 1973)
Chthamalus proteus Dando & Southward, 1980
Nativa
Nativa
Amphibalanus amphitrite (Darwin, 1854)
Introduzida
Amphibalanus improvisus (Darwin, 1854)
Introduzida
Amphibalanus reticulates (Utinoni, 1967)
Introduzida
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Bryozoa
Striatobalanus amaryllis Darwin, 1854
Introduzida
Alcyonidium polyoum (Hassall, 1841)
Conopeum reticulum (Linnaeus, 1767)
―
―
Hippoporina pertusa (Esper, 1796)
―
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