UNIV UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM CIÊNCIAS DA SAÚDE Tassiana Mota Mourão Alvarenga Avaliação da qualidade de vida dos pacientes pediátricos com dermatite atópica da cidade de Montes Claros – Minas Gerais – Brasil Montes Claros – Minas Gerais Fevereiro /2009 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM CIÊNCIAS DA SAÚDE MESTRADO ACADÊMICO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE Tassiana Mota Mourão Alvarenga Avaliação da qualidade de vida dos pacientes pediátricos com dermatite atópica da cidade de Montes Claros – Minas Gerais – Brasil Orientador Prof. Dr. Antônio Prates Caldeira Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde, PPGCS, da Universidade Estadual de Montes Claros/ UNIMONTES, como parte das exigências para a obtenção do Título de Mestre em Ciências da Saúde. Montes Claros – Minas Gerais 2009 AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Antônio Prates Caldeira, pela amizade, confiança e orientação acadêmica criteriosa que me levou a superar limites teóricos e práticos, tornando possível a realização deste trabalho. Á meus pais, pelo apoio incondicional em todos os meus projetos de vida. Em especial, a minha mãe, Nena, educadora e grande incentivadora desse projeto. A Jó, companheiro de todos os momentos, com muito afeto. Aos meus irmãos, Daniella e Rodrigo, pelo auxílio em todas as horas. . Aos pacientes e aos seus familiares, por me ajudarem na construção desse novo conhecimento. A Deus, fonte de Saber e de Inspiração! Toda pesquisa cria para si um método adequado, uma lógica própria, cuja generalidade e universalidade consiste apenas em ser ‘conforme ao fim’ (Gramsci, 1999: 234-235). LISTA DE SIGLAS CDLQI ( Children’s Dermatology Life Quality Index) – Índice da Qualidade de Vida em Dermatologia para Crianças CHQ (Child Health Questionnaire) – Questinário da Saúde da Criança DA – Dermatite Atópica DQLI (Dermatology Life Quality Index) - Índice de Qualidade de Vida em Dermatologia DSQL (Dermatology-Specific Quality of Life) –Índice Específico para Dermatologia DFI ( Dermatitis Family Impact Questionnaire) – Impacto da Dermatite Atópica Infantil na Família EASI (Eczema Area and Severity Index ) – Índice de Gravidade do Eczema por Área HRQoL ( Health Related Quality of Life) - Qualidade de Vida Relacionada à Saúde IDQoL ( Infants Dermatitis Quality of Life Index) - Índice de Qualidade de Vida da Dermatite na Infância ISAAC (International Study of Asthma and Allergies in Childhood) – Estudo Internacional de Asma e Alergia na Infância OMS – Organização Mundial da Saúde PedsQL (The Pediatric Quality of Life Inventory ) – Inventário sobre Qualidade de Vida em Pediatria PDI (Psoriasis Disability Index) – Índice de Incapacidade na Psoríase QoLIAD (Quality of Life Index for Atopic Dermatitis ) – Índice de Qualidade de Vida para Dermatite Atópica QV – Qualidade de Vida SCORAD (Severity scoring of atopic dermatitis) - Escore de Severidade em Dermatite Atópica SASSAD (Six Sign Atopic Dermatitis severity score) – Escore de Severidade dos Seis Sinais em Dermatite Atópica SF-36 (The Medical Outcomes Study 36-Item Short Form Health Survey) SPSS ( Statistical Package for the Social Service) – Programa Estatístico para Ciências Sociais WHOQoL (World Health Organization Quality of Life) – Grupo de Estudo em Qualidade de Vida da OMS WHOQoL - Bref ( World Health Organization Quality of Life- Bref) - Questionário Breve de Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde. RESUMO: Introdução: A dermatite atópica (DA) é uma doença inflamatória de curso crônico, caracterizada por episódios de eczema associado a prurido, sendo a dermatose mais frequente na infância. Evidências comprovam que a DA interfere negativamente na qualidade de vida (QV) dos pacientes e de seus familiares. Tal impacto pode ser dimensionado através de instrumentos de mensuração de QV. Objetivos: Avaliar o impacto da DA sobre a QV de pacientes pediátricos e de seus familiares, estabelecendo correlações com escores de severidade da doença. Métodos: A população do estudo consistiu de 42 crianças com DA e 44 com outras dermatoses (controle), com idade variando entre 6 e 59 meses. No momento da primeira consulta, os pais responderam aos questionários IDQoL e DFI. A severidade da DA foi avaliada através do EASI. Resultados: A análise dos dados demonstrou significativa diferença entre a pontuação do grupo com DA e do grupo controle. Os domínios mais comprometidos no IDQoL foram os relacionados ao prurido, alterações de humor e problemas causados pelo tratamento. Quanto ao DFI, os domínios de maior impacto foram relacionados a despesas com o tratamento e alteração do sono de membros da família. A comparação entre a gravidade clínica da doença e sua avaliação pelos pais apresentou fraca correlação. A avaliação clínica demonstrou que a maioria dos pacientes apresentava DA leve (EASI 20), enquanto a maioria dos pais apontou a DA de seu filho como sendo de média severidade. Conclusão: A DA interfere negativamente na QV dos pacientes pediátricos e de seus familiares. Resultados obtidos nos estudos de QV em DA devem nortear a prática clínica, pois o conhecimento acerca da qualidade de vida dos pacientes portadores de dermatoses serve para individualizar as estratégias de tratamento e levar à adoção de medidas que possam minimizar o impacto da doença sobre pacientes e seus familiares. DESCRITORES: Qualidade de vida. Dermatite Atópica. Criança. Abstract Introduction: The atopic dermatitis (AD) is an chronic inflammatory disease, characterized by episodes of itching associated with eczema, the most common skin condition in childhood. Evidences shows that the AD interfere negatively on the quality of life (QOL) of patients and their families. This impact can be scaled using instruments to measure QOL. Objectives: To evaluate the impact of DA on the QOL of pediatric patients and their families, establishing correlations with scores of disease severity. Methods: The study population consisted of 42 children with AD and 44 with other skin diseases (control), aged between 6 and 59 months. At the time of the first consultation, the parents responded to questionnaires IDQOL and DFI. The severity of AD was evaluated by EASI. Results: Data analysis showed significant difference between the scores of the group with AD and the control group. The areas most affected in IDQOL were reported to itching, mood changes and problems caused by the treatment. As for DFI, the areas of greatest impact were related to expenditure on the treatment and sleep lost. The comparison between the clinical severity of the disease and its evaluation by parents showed weak correlation. Clinical evaluation showed that most of the patients had mild AD (EASI 20), while most of the parents pointed to AD as medium severity. Conclusion: The AD interfere negatively in the pediatric patients QOL and their families. Results obtained in studies of QOL for commitment should guide clinical practice, because the knowledge about the quality of life of patients with skin serves to identify the strategies of treatment and lead to the adoption of measures to reduce the impact of disease on patients and their families. KEY-WORDS: Quality of life. Atopic dermatitis. Child. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................ 07 2 REFERENCIAL TEÓRICO........................................................... 2.1 Qualidade de Vida............................................................... 2.1.1 A importância de mensurar Qualidade de Vida................... 2.1.2 Instrumentos de mensuração de Qualidade de Vida.......... 2.1.3 Qualidade de Vida na População Adulta e Infantil.............. 2.1.4 Qualidade de Vida em Dermatologia.................................. 2.2 Dermatite Atópica............................................................... 2.3 Qualidade de Vida em Dermatite Atópica.......................... 11 11 12 15 20 24 27 38 3 JUSTIFICATIVA .......................................................................... 45 4 OBJETIVOS................................................................................. 4.1 Geral....................................................................................... 4.2 Específicos............................................................................. 48 48 48 5 MÉTODOS................................................................................... 5.1 Tipo de Estudo....................................................................... 5.2 Local....................................................................................... 5.3 Casuística............................................................................... 5.4 Aspectos Éticos...................................................................... 5.5 Coleta de Dados..................................................................... 5.5.1 Medida de Avaliação Objetiva da Doença........................... 5.5.2 Medidas de Avaliação Subjetiva da Doença....................... 5.6 Análise Estatística.................................................................. 49 49 49 49 50 51 52 52 53 6 RESULTADOS............................................................................. 54 7 CONCLUSÕES........................................................................... 55 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................ 56 9 REFERÊNCIAS............................................................................ 57 10 APÊNDICE.................................................................................. 76 11 ANEXOS..................................................................................... 1. INTRODUÇÃO Durante muito tempo, o impacto das doenças em termos de saúde pública foi medido simplesmente através dos índices de mortalidade. Na década de 90, a Organização Mundial da Saúde (OMS), em conjunto com o Banco Mundial e a Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, propôs que o ônus causado pelas doenças fosse avaliado em termos de anos de vida perdidos por morte prematura ou vividos com incapacidade importante (1). Neste contexto, nasce o conceito de Qualidade de Vida (QV) como “a percepção do indivíduo da sua posição na vida, dentro do contexto cultural e dos valores em que ele vive, bem como em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (2). Porém, por ser demasiadamente genérica, essa definição de QV da OMS não encontrava aplicação na clínica nem em estudos científicos, tendo, por isso, sido substituída pela “Qualidade de Vida Relacionada à Saúde” (QVRS), conceito mais restrito, mais facilmente mensurável, por abarcar apenas as dimensões relacionadas direta e especificamente com o estado da saúde e excluir elementos como a liberdade, as crenças e o ambiente (2). Atualmente, a QVRS é tema de pesquisa imprescindível na área da saúde, visto que seus resultados contribuem para aprovar e definir tratamentos e avaliar custo/benefício do cuidado prestado (3). A literatura médica afirma que a melhor forma de se medir a qualidade de um tratamento refere-se aos resultados obtidos quanto aos objetivos fundamentais de prolongar a vida, aliviar a dor, restaurar a função e prevenir a incapacidade. Entretanto, pesquisas comprovam que pacientes com uma mesma doença crônica frequentemente apresentam variações acerca dos problemas 13 enfrentados. E ainda que tenham problemas idênticos, a magnitude do impacto dos mesmos sobre a vida dos pacientes é diferente (4). Os instrumentos de mensuração usados para avaliar a extensão e a gravidade de doenças dermatológicas, como a dermatite atópica, são baseados em sinais e sintomas clínicos, mas nem sempre essas informações se correlacionam com as medidas de qualidade de vida (5). O impacto da doença sobre a saúde tem implicações muito maiores no indivíduo sobre um todo, e deve ser avaliado sob diferentes pontos de vista, sobretudo com relação ao paciente, à família e à sociedade. (5) Através de instrumentos de mensuração de QV, pode-se averiguar os efeitos das doenças sobre o indivíduo na perspectiva do próprio paciente. Estudos evidenciam que a percepção do quadro clínico não depende apenas da gravidade da doença, mas também de variáveis como idade, sexo, classe social, etnia, educação, ansiedade e nível de habilidade para exagerar ou minimizar sintomas. A dinâmica familiar, o estilo de vida e as experiências passadas também são fatores importantes e podem modificar tal percepção (7). Doenças cutâneas crônicas causam grande impacto na vida dos pacientes; há cerca de dez anos, esse fato começou a ser avaliado de maneira sistemática por pesquisadores em todo o mundo (8). Desde então diversos instrumentos de mensuração de qualidade de vida específicos para doenças dermatológicas vêm sendo desenvolvidos, tanto para população adulta quanto para a pediátrica. As dermatoses crônicas interferem na QV dos indivíduos de diferentes maneiras, seja pelo prurido, pela aparência inestética ou por restrições causadas pelo próprio tratamento. Comprovadamente causam forte impacto nas relações sociais, no estado psicológico e nas atividades cotidianas desses pacientes (8,9). 14 Bello (2005) infere que a QV é inevitavelmente afetada pelo estado da pele, na saúde e na doença, e que o transtorno psicológico que, por definição, acompanha as dermatoses depende de fatores internos como a imagem corporal e a auto-estima e de fatores externos, decorrentes da dimensão social do ser humano, resultando em estigma e rejeição social (9). Neste contexto, a dermatite atópica (DA), por ser dermatose de curso recidivante e crônico, acarreta significativo impacto na qualidade de vida desses pacientes, afetando tanto suas relações familiares quanto sociais, interferindo com suas atividades recreativas, escolares e profissionais. A sua morbidade e os custos do tratamento não devem ser, portanto, desconsiderados (10). A DA é uma doença inflamatória de curso crônico, caracterizada por episódios de eczema associado a prurido, cujas lesões cutâneas apresentam morfologia e distribuição topográfica típicas, de acordo com a faixa etária acometida. O surgimento dessa dermatose pode ocorrer em qualquer idade, iniciando no primeiro ano de vida em 50 a 60% dos indivíduos (11,12). Trata-se de doença genética, de herança poligênica, com evidente alteração imunológica, fortemente influenciada por fatores ambientais, podendo atingir indivíduos de qualquer idade, predominando na infância e em pacientes com histórico pessoal ou familiar de atopia. Por atopia, entende-se ser uma predisposição hereditária do sistema imune para produzir IgE em resposta a antígenos ambientais comuns (13). A associação de DA com outras formas de atopia, em especial asma e rinite alérgica, é conhecida desde os primeiros relatos sobre a doença. A DA seria a primeira manifestação da denominada “marcha atópica”, podendo o paciente desenvolver asma e/ou rinite alérgica em cerca de 50% dos casos (14). 15 Estudos recentes sugerem que a prevalência da dermatite atópica aumentou durante os últimos 30 anos, atingindo atualmente em torno de 10 a 15% da população mundial. Dados obtidos no International Study of Asthma and Allergies in Childhood (ISAAC) demonstrou em 2003 que, no Brasil, a prevalência dessa afecção é similar à encontrada em outras partes do mundo (15). A dermatite atópica é a doença de pele mais frequente na infância, constituindo 1% de todas as consultas em pediatria e até 20% das consultas em dermatologia pediátrica. O Censo Dermatológico realizado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia em maio de 2006, em diferentes regiões do país, revelou que a dermatite atópica é a segunda causa de procura de atendimento dermatológico na faixa etária até 14 anos, perdendo apenas para a acne (16). Apesar de sua elevada incidência, a dermatite atópica é frequentemente considerada como condição dermatológica de menor importância pela própria sociedade e pela comunidade médica. Entretanto, pesquisas recentes demonstram que essa afecção gera alterações profundas na vida de adultos e de crianças afetadas, e em segundo plano, também de suas famílias (17,18). O presente estudo tem como objetivo avaliar o impacto da dermatite atópica na qualidade de vida das crianças portadoras dessa afecção na cidade de Montes Claros, bem como os efeitos dessa dermatose sobre a vida dos familiares desses pacientes. 16 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1– Qualidade de vida O termo qualidade de vida é originado dos Estados Unidos da América, onde, em 1964, o então presidente Lyndon Jonhson, em discurso sobre a economia norte-americana, declarou que “os objetivos não podem ser mantidos através do balanço dos bancos, eles só podem ser medidos através da qualidade de vida que proporciona às pessoas”. Desde então, definir e mensurar qualidade de vida (QV) tem sido um desafio para estudiosos e pesquisadores no campo das ciências sociais e biológicas (19). O conceito de QV tem sido dividido em vários componentes, incluindo os domínios psicológico, social e físico. Porém, inicialmente, o termo QV era associado à economia e a fatores econômicos, denotando uma correlação entre qualidade de vida e capacidade de adquirir bens de consumo (20,21,22). Em 1993, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu qualidade de vida como: “a percepção dos indivíduos de sua posição na vida, no contexto cultural em seus sistemas de valores como também suas metas, expectativas e preocupações em que vivem” (2). Devido à relevância do tema, a própria OMS criou um grupo para debater QV, e novos conceitos foram incorporados às antigas definições (2). Tal grupo incluiu na definição de QV da OMS seis domínios principais: saúde física, estado psicológico, níveis de independência, relacionamento social, características ambientais e padrão espiritual (2). No campo da saúde, o discurso da relação entre saúde e QV existe desde o nascimento da medicina social, no século XVIII. Porém, somente a partir dos 17 anos 50, com a evolução tecnológica, o conceito de QV passou a ser verdadeiramente incorporado às áreas da saúde e da educação. A partir desse momento, o termo passa a ser considerado como um possível parâmetro de avaliação no âmbito das ciências da saúde. (23,24). Para Minayo (2000), a expressão qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) é definida como “o valor atribuído à vida, ponderado pelas deteriorações funcionais; as percepções e condições sociais que são induzidas pela doença, agravos, tratamentos; e a organização política e econômica do sistema assistencial”. A mesma autora ressalta que o principal foco da QVRS seria a capacidade de viver sem doenças ou de superar as dificuldades dos estados ou condições de morbidade (24). A QVRS é considerada uma área de pesquisa que reconhece a importância das dimensões psicológicas e sociais do espectro saúde/doença. Essa área de pesquisa avalia os vários efeitos que a doença e os tratamentos têm sobre a vida diária e a satisfação de vida das pessoas (25). Apesar de não existir consenso sobre a definição de QV, é possível mensurá-la com o auxílio de instrumentos padronizados e validados para determinada população, desde que sejam observados certos parâmetros aceitos no meio cientifico (parâmetros psicométricos), não sendo a questão conceitual impedimento para se obter resultados importantes na avaliação deste indivíduo (26,27). 18 2.1.1- A importância de mensurar QV A importância de se mensurar QV já é inquestionável na medicina moderna. Detectar qual a percepção que o indivíduo tem sobre si mesmo e sobre seu estado de saúde auxilia na compreensão do processo saúde-doença e de suas conseqüências para o paciente. Guaytt (1997) salienta que as três principais razões para tratar um paciente são: crença de que a intervenção terapêutica aumentará a longevidade, para prevenir morbidade ou fazer com que os pacientes se sintam melhor. As duas primeiras são relativamente de fácil mensuração, porém seria a terceira delas a de maior interesse quando se estuda QV. A medida direta de como os pacientes se sentem quando estão acometidos por determinada moléstia e o quanto suas atividades diárias são afetadas por ela e por seu tratamento tornou-se importante para entendimento da QV enquanto medida de desfecho (4). As pesquisas de QV podem abranger aspectos gerais de vida ou envolver a avaliação da qualidade de vida relacionada à Saúde. Por vezes, QV e QVRS estão interrelacionados e são adotados para descrever um processo de avaliação, utilizando-se de instrumentos que permitam mensurar os efeitos que uma doença, um tratamento ou uma intervenção podem exercer no desempenho físico ou emocional de uma pessoa em suas atividades diárias. Os resultados obtidos nessas pesquisas contribuem para tomada de decisões por parte dos médicos e dos gestores de Saúde. (28, 3). Ainda nesse contexto, Favarato (2006) destaca que a necessidade de avaliar a efetividade das intervenções médicas justifica-se pela proliferação de diferentes formas de tratamento das doenças e pelo custo elevado das 19 intervenções. A autora reitera que ao tratar de pacientes com doença aguda, a cura da mesma pode servir para avaliar o efeito do tratamento. Porém, ao lidar com doenças crônicas e/ou recorrentes, deve-se procurar outras perspectivas de avaliação dos resultados que não focalizem apenas a dimensão médica de redução da morbi-mortalidade. Nesses casos, o estado clínico, impacto sobre a família, custo, alocação de recursos limitados e qualidade de vida devem ser considerados (1). Mensurar QV é especialmente relevante em condições crônicas, especialmente aquelas que apresentam tratamento difícil, curso prolongado e que são incapacitantes. Pesquisas recentes apontam que também há impacto significativo sobre a QV dos familiares de portadores de doenças crônicas. Problemas emocionais, sociais e financeiros são relacionados à presença de um membro da família cronicamente doente (29,30). Estudo realizado por Mugno et al. na Itália em 2007, cujo objetivo foi mensurar o impacto da QV em pais de crianças com moléstias neurológicas, demonstrou que houve significativa correlação entre o nível de stress paterno e o grau de incapacidade física e mental apresentado pelo paciente (31). São, portanto, diversas as aplicações dos instrumentos de medida de QV: estudos populacionais sobre percepção de estados de saúde; auditoria médica; medidas de resultados em serviços de saúde; triagem e monitoramento de problemas psicossociais no cuidado individual; ensaios clínicos e análises econômicas que enfocam o custo monetário necessário para garantir melhor QV custo-utilidade (32,33). Guillemin (1995) destaca que a necessidade de mensurar QV, apesar da complexidade do tema, tem levado ao desenvolvimento de diversos instrumentos 20 e índices. Reitera que desenvolver escalas psicometricamente válidas é atualmente o grande desafio dos pesquisadores, visto que a maioria deles tem sua criação em países de língua inglesa, com posterior tradução para os demais idiomas (34). 2.1.2- Instrumentos de mensuração de Qualidade de Vida Existem variados instrumentos e métodos de mensuração de QVRS desenvolvidos para serem utilizados em diversas populações. Há diferenças no foco de cada um deles: alguns objetivam medir a satisfação individual em relação às expectativas do indivíduo; outros focalizam domínios físicos; sociais e mentais; há aqueles que descrevem o estado de saúde desse indivíduo. Logo, tendem a enfatizar diferentes dimensões da saúde (35). Denomina-se “domínio” ou “dimensão” ao conjunto de itens que se deseja estudar. O domínio pode ser referente ao emocional (ansiedade, depressão), ao físico (atividades de vida diária, mobilidade), ao social (convivência familiar, contato social), trabalho, dor e outros sintomas (6,35). Segundo Bello (2005), as escalas de QV avaliam quatro dimensões básicas do sujeito: o estado físico, através da capacidade física e autonomia; as sensações somáticas, na forma de sintomas, sequelas de traumatismos e dores; o estado psicológico, enfatizando emotividade, ansiedade, depressão; e, finalmente, as relações sociais, nos domínios familiar, profissional e social (9). De uma maneira geral, podemos classificar os instrumentos de pesquisa de QV como sendo instrumentos genéricos e instrumentos específicos, tendo cada qual características próprias. A maioria dos estudos tem utilizado questionário 21 genérico associado a um questionário doença-específico, comparando os resultados de ambos, aumentando assim a acurácia dos resultados (9,35). Os instrumentos genéricos têm como vantagens a possibilidade de avaliação simultânea de várias áreas ou domínios, a possibilidade de serem usados em qualquer população e o fato de permitirem comparações entre pacientes com diferentes patologias (6,32). Tais instrumentos procuram englobar todos os aspectos importantes relacionados à saúde e refletem o impacto de uma doença sobre o indivíduo. Podem ser usados para estudar indivíduos da população geral ou de grupos específicos, como portadores de doenças crônicas. Assim, permitem comparar a QV de indivíduos sadios com doentes ou de portadores da mesma doença, vivendo em diferentes contextos sociais e culturais. Sua utilização é apropriada em estudos epidemiológicos, planejamento e avaliação do sistema de saúde. Como desvantagem, não são sensíveis na detecção de aspectos particulares e específicos da QV de uma determinada doença (24,32,36). Os questionários genéricos podem ser divididos em dois subtipos: “perfil de saúde” e medidas de utility. O primeiro avalia o estado de saúde do indivíduo, e o último traduz a preferência do indivíduo por determinado estado de saúde. As medidas de utility são derivadas de teorias da área das ciências econômicas, e medem custos associados ao tratamento do doente (36). De acordo com Leynaert (2003), o perfil de saúde avalia diferentes aspectos relativos à QV do paciente, é desenvolvido para uso na população em geral. Pode ser utilizado em diversas doenças, servindo para comparar efeitos de uma intervenção terapêutica em diferentes patologias (37). Tem como exemplos mais utilizados: Avaliação da Qualidade de Vida da Organização Mundial da 22 Saúde (WHOQOL-100) e The Medical Outcomes Study 36-Item Short Form Health Survey (SF-36). Um dos instrumentos mais utilizados em publicações científicas, o WHOQOL-100, tem seus parâmetros psicométricos avaliados em todo o mundo. O WHOQOL-100 foi desenvolvido pelo Grupo de Qualidade de Vida da OMS, em 1994, que, através de um estudo multicêntrico, escolheu as dimensões de maior relevância, dando a ele um enfoque transcultural. Consiste em cem perguntas referentes a seis domínios: físico, psicológico, nível de independência, relações sociais, meio ambiente e espiritualidade/religiosidade/crenças pessoais. A necessidade de um instrumento mais curto, que demandasse pouco tempo para o preenchimento e que preservasse características psicométricas satisfatórias, fez o mesmo grupo criar uma versão abreviada do WHOQOL-100, o WHOQOL-Bref, que se resume a apenas 26 questões (2,27,37). The Pediatric Quality of Life Inventory – PedsQL – instrumento genérico desenvolvido em 1998 por Varni et al. inicialmente para uso em crianças com câncer. O PedsQL é composto por quatro domínios (físico, emocional, social, comportamento escolar) e está disponível para crianças de 5 ou mais anos de idade e adolescentes. Apresenta atualmente uma versão curta composta por 15 questões. A validade do PedsQL foi firmemente estabelecida em diversas publicações; foi aplicado em diversos subgrupos clínicos, incluindo, por exemplo, doenças reumatológicas e diabetes mellitus. (38,39). A versão brasileira do PedsQL foi publicada em 2008 por Klatchoian et al., em estudo com crianças com doenças reumatologicas crônicas em São Paulo (40). O Child Health Questionnaire – CHQ, também genérico, foi desenvolvido em 1998 para pesquisa em crianças entre 5 e 18 anos por Landgraf e 23 colaboradores. Abrange aspectos físicos e psico-sociais, devendo ser respondido pelos pais/cuidadores. Sua aplicação em pesquisa é ampla, principalmente devido ao fato de ter passado por projeto de validação transcultural que envolveu 32 países e por ser de fácil compreensão. Pode ser usado em diferentes doenças, tais como asma e fibrose cística (41,42). Estudos recentes, contudo, afirmam que questionários genéricos não são sempre sensíveis ao impacto sobre a qualidade de vida de uma condição específica e também apresentam pouca sensibilidade no que concerne a mudanças após intervenção médica (41). Sempre que possível, o pesquisador deve utilizar uma medida genérica e uma específica, para que possa ter uma visão fidedigna da situação pesquisada (40,41,42). Os instrumentos específicos têm como vantagem a capacidade de detectar particularidades da QV em determinadas situações. São destinados a estudar doenças como diabetes, asma, doença coronariana em populações (crianças, adultos, idosos) e/ou avaliar certas funções (capacidade funcional ou função sexual, por exemplo). Eles avaliam de maneira individual e específica alguns aspectos de QV como as funções física, sexual, o sono, a fadiga. Apresentam capacidade de detectar se houve ou não melhora na QV do paciente após intervenção, sendo esse seu grande diferencial em relação aos questionários genéricos (37,43). Apesar de serem clinicamente mais sensíveis, esses questionários específicos não permitem comparações entre patologias distintas e são restritos aos domínios de relevância do aspecto a ser avaliado. Vários desses instrumentos incluem indicadores para aspectos subjetivos da convivência com doenças e lesões, como sentimentos de vergonha e culpa, que trazem 24 conseqüências negativas para a percepção da qualidade de vida por parte dos indivíduos acometidos e suas famílias (43). Alguns desses questionários têm sido desenvolvidos pela dermatologia, particularmente para doenças como a psoríase e para a dermatite atópica. O Dermatology Life Quality Index (DLQI) é um instrumento específico para doenças dermatológicas, foi desenvolvido por Finlay e Khan, em 1994 (44). O instrumento contém 10 questões e serve tanto para medir, quanto para comparar a qualidade de vida entre diferentes doenças cutâneas. Os escores variam de 0 a 30, escores maiores traduzindo maior grau de incapacidade (5, 6, 44). Para que os resultados obtidos em estudos que utilizam esses instrumentos de mensuração de QV sejam confiáveis e verdadeiros, os mesmos devem apresentar três características fundamentais: reprodutibilidade, validade e sensibilidade a mudanças (45 46). Reprodutibilidade é definida como a consistência ou concordância dos resultados quando a mensuração ou o exame se repete, em condições idênticas. A reprodutibilidade poder ser expressa por confiabilidade ou precisão, quando um alto grau de confiabilidade significar a obtenção de resultados semelhantes, quando o diagnóstico se repete. A falta de reprodutibilidade pode resultar da divergência entre observadores ou instrumentos de medida, ou pela instabilidade do atributo que está sendo medido (45 46). Entende-se por validade o grau pelo qual uma mensuração é capaz de medir o que se propõe a medir, ou seja, o grau pelo qual o instrumento utilizado na mensuração é capaz de determinar o verdadeiro valor daquilo que está sendo medido. Um sinônimo utilizado para validade é acurácia (45,46). 25 O termo sensibilidade à mudança refere-se à habilidade do instrumento para medir alterações provocadas por um tratamento ou pelo próprio curso da doença estudada (45,46). Para Ciconelli (2006), há duas perspectivas importantes quanto à utilidade e contribuição dos resultados obtidos nos estudos de QV. A primeira seria a perspectiva populacional, devendo os instrumentos de avaliação de QV permitir a vigilância epidemiológica, a avaliação do efeito das políticas públicas e a alocação de recursos conforme as necessidades de saúde. A segunda, uma perspectiva individual, infere que os instrumentos devem potencializar a avaliação diagnóstica da natureza e da severidade das doenças, traçar prognósticos, avaliar a eficácia terapêutica e levantar fatores etiológicos (32). É olhar importante para possíveis quando se avalia co-morbidades que o impacto podem de explicar uma doença parcialmente o comprometimento da qualidade de vida. Isso é particularmente verdade nas doenças alérgicas, nas quais muitas vezes coexistem vários transtornos. Por exemplo, pacientes asmáticos que podem apresentar também sintomas de rinite; estudos comprovam que esses sintomas podem, em parte, explicar os efeitos sobre a QV dos pacientes com asma (37). 2.1.3- Qualidade de Vida na População Adulta e Infantil Questionários de qualidade de vida têm sido utilizados em população adulta há um longo período de tempo, porém para a população infantil, estudos 26 de QV são recentes. Os primeiros instrumentos desenvolvidos datados de 1990 e criados para estudos na área da Oncologia (47). Adultos e crianças não compartilham o mesmo ponto de vista sobre a doença que os acomete, tendendo a interpretar de diferentes maneiras uma mesma questão e tendo, portanto, diferentes perspectivas em relação ao curso de sua doença e ao impacto provocado por ela em sua QV. Logo, os instrumentos de pesquisa em QV e QVRS utilizados para a população adulta não são adequados para a mensuração na população infantil (38,41). Hutchings et al. (2008) inferem que as diferenças entre os instrumentos de mensuração de QV utilizados em pesquisa com adultos e com crianças são significativas e impedem a utilização de um só instrumento em populações tão distintas. Tais diferenças recaem principalmente nos domínios e dimensões estudados, por exemplo, temas relacionados à sexualidade, emprego e renda não apresentam relevância na população infantil. Outra questão é que na população infantil se faz necessária uma adequação da escala utilizada, levando em consideração a idade e o desenvolvimento físico e mental da criança (48). Sobre a variação das dimensões relevantes em relação à idade da população-alvo, Frisén (2007) conclui que as escalas de avaliação usadas em adolescentes negligenciam peculiaridades importantes, visto que a maior parte dos estudos utiliza aquelas desenvolvidas para adultos ou para crianças. O autor considera essencial avaliar a relação entre QV e os seguintes domínios: maturação física, imagem corporal, intimidade e sexualidade (22). Alguns pacientes que são muito jovens ou estão gravemente doentes não apresentam condições de responder aos questionários de QV, porém são um grupo de grande interesse para estudos sobre o impacto das doenças no 27 indivíduo. Para tais situações, utilizam-se questionários respondidos por médicos, pais ou cuidadores (proxy). Essa é uma forma de mensuração importante para crianças com idade abaixo dos nove anos, pois revela-se útil na obtenção de informações relevantes sobre a QVRS desses pacientes. Alguns autores, porém, inferem que há dificuldade em separar a visão da criança daquela percebida pelos pais, no que concerne aos eventos estudados (41,48,49). Nesse contexto, Eiser et al., em revisão sistemática da literatura no ano de 2001, evidenciaram que os pais estão mais aptos a julgar os domínios relacionados a sintomas físicos (dor, prurido, cansaço, etc), porém não têm a mesma acurácia em julgar domínios emocionais e psicológicos, como os sentimentos ansiedade e tristeza (50). Os estudiosos relatam ainda que os pais em geral apresentam uma visão mais negativa da doença (curso, evolução) e de suas conseqüências sobre os filhos (50,51). A visão médica também foi amplamente estudada e merece atenção o fato de as pesquisas revelarem que profissionais tendem a superestimar sintomas, como a dor, e subestimar alterações emocionais, como os níveis de ansiedade e depressão, ao responderem tais instrumentos (51). Na tentativa de melhorar a congruência entre as respostas obtidas por pais/cuidadores/médicos pesquisadores têm e as dadas desenvolvido respondidas por ambos. pelas instrumentos próprias com crianças, questões a muitos serem Sempre que possível, uma combinação de escalas respondidas pela criança e pelos pais deve ser aplicada. A força da correlação entre as escalas é dada por testes estatísticos e auxilia na validade desses instrumentos (38,50). 28 Pode-se concluir que apesar de distintas, tanto a visão dos pais quanto a das crianças fornecem diferentes perspectivas sobre a QV na infância. Ambas as opiniões são úteis para proporcionar uma imagem completa do impacto da doença sobre a QVRS da população infantil em estudo e também sua interferência na vida dos familiares. Em relação aos instrumentos desenvolvidos para pesquisa da QV em crianças, Grange et al., em revisão sistemática da literatura no ano de 2007, apontaram doenças crônicas como o câncer, a asma e as doenças neurológicas como as que possuem maior número de estudos e de instrumentos validados sobre o tema. Tal revisão também identificou que a maioria dos instrumentos desenvolvidos é do tipo genérico e são respondidos pelos pais e/ou cuidadores. Os pesquisadores tiveram como foco principal a população em idade escolar, sendo ainda pouco exploradas as populações entre 0 e 5 anos e os adolescentes (45). As dimensões pesquisadas em crianças se referem àquelas relacionadas à QVRS, a saber: física, social, emocional e cognitiva. Porém, em pesquisas com crianças em idade escolar, alguns domínios são adicionados, tais como comportamento e estado geral de saúde (33,45). Quanto ao impacto de doenças crônicas na infância, numerosas publicações têm demonstrado a importância do tema. Os resultados dessas publicações enfatizam que tais afecções estão associadas à significativa comorbidade psicossocial e a prejuízo substancial na qualidade de vida dos pacientes pediátricos (13,37,45). Marsac et al. (2006), em pesquisa com crianças asmáticas norteamericanas, concluíram que o impacto da asma na QV deve-se aos sintomas 29 físicos, aos problemas relacionados ao tratamento e à limitação de atividades físicas e sociais (52). Outro estudo, realizado por Larsson et al., em 2006, demonstrou a correlação entre a severidade da asma e a Escala SF-36, particularmente no que se refere a alterações físicas e percepção de saúde geral (53). Para Eiser (2007), a QV de crianças portadoras de câncer pode estar comprometida de muitas maneiras. Problemas como disfunção endócrina, cardiomiopatia, osteopenia e obesidade são comuns após os primeiros anos de tratamento da neoplasia. Acrescido a isso, os pacientes – e seus familiares – têm receio de recidivas, da morte, das restrições físicas e sociais impostas pela própria doença e pelo tratamento. Em recente estudo, a autora expõe que houve melhora na pontuação das escalas de QV desses pacientes quando realizaram regularmente acompanhamento médico e psicológico. Tal fato deve-se principalmente à melhoria do conhecimento dos pais acerca da doença, à segurança que sentem referente a uma detecção precoce e um rápido tratamento de possível recidiva (33). 2.1.4- Qualidade de Vida em Dermatologia As pesquisas de QVRS em Dermatologia são recentes e seu desenvolvimento crescente na última década foi impulsionado pela necessidade de se conhecer melhor os aspectos da relação paciente-doença, assim como para satisfazer as necessidades da medicina baseada em evidências e para garantir resultados mais abrangentes em estudos clínicos (5,54,55). Apesar das pequenas taxas de mortalidade por doenças dermatológicas, as dermatoses originam, frequentemente, um grande impacto no estado 30 emocional, nas relações sociais e nas atividades cotidianas dos doentes, principalmente naqueles que apresentam manifestações cutâneas crônicas (54). Neste contexto, Bello (2005) infere que existem diversos modos de uma doença cutânea afetar negativamente a QV. O autor destaca que a presença de lesões visíveis causa alteração da imagem corporal e das relações interpessoais, resultando em medo da rejeição social. O prurido, as escoriações e o desconforto levariam a alterações do sono e das relações íntimas. O tratamento tópico crônico causaria desconforto, consumo de tempo e oneraria o paciente. O tratamento sistêmico, devido aos efeitos colaterais, levaria à sonolência diurna e a faltas no trabalho (9). A literatura científica evidencia significativa correlação entre doenças de pele e morbidade psicológica. As afecções dermatológicas em que há maior força de associação com distúrbios psicológicos são a acne, a psoríase e a dermatite atópica. As principais morbidades psicológicas encontradas são depressão, ansiedade, vergonha, embaraço, e alterações de imagem corporal (56). Assim como em outras especialidades médicas, a Dermatologia possui instrumentos genéricos, que podem ser utilizados para qualquer condição dermatológica, e específicos, que consideram manifestações exclusivas de uma determinada dermatose, sendo, portanto, mais sensíveis quando comparados aos genéricos. A escolha do instrumento depende do objetivo do estudo, das características dos pacientes e das medidas psicométricas do questionário escolhido (57,58). Os questionários genéricos validados e mais utilizados atualmente são: DLQI (Dermatology Life Quality Index), Skindex e DSQL (Dermatology-Specific Quality of Life). Esses instrumentos são auto-aplicáveis, reprodutíveis e possuem 31 validade e confiança satisfatórias, podem ser utilizados em pacientes com acne, vitiligo, psoríase, ulceras cutâneas, alopecia areata, dentre outras. O Dermatology Life Quality Index (DLQI) – Índice de QV para Dermatologia – foi desenvolvido por Finlay et al. em 1994, a partir de estudos com pacientes ambulatoriais de um hospital universitário na Inglaterra. Tem como finalidade permitir uma avaliação simples, compacta e uniforme de pacientes com doenças dermatológicas em geral. As questões se referem ao ocorrido na semana anterior à aplicação do questionário e devem ser aplicadas a uma população de idade entre 15 e 75 anos. O instrumento consiste de 10 itens, divididos em seis categorias: sintomas e sentimentos, atividades diárias, lazer, trabalho/escola, relações pessoais e tratamento. Pode ser usado tanto para medir quanto para comparar a qualidade de vida entre diferentes doenças cutâneas. O DLQI foi traduzido e validado para o português em 2004, por Martins et al. e vem sendo aplicado em várias dermatoses, como psoríase, dermatite atópica, urticária, acne e hanseníase (5,21,44,59). O Skindex foi desenvolvido em 1997 por Chren et al. em Cleveland, com sua versão inicial composta por 61 itens, subdivididos em oito escalas – efeitos cognitivos, efeitos sociais, depressão, medo, constrangimento, raiva, desconforto físico e limitações físicas. Existe uma versão simplificada, o Skindex-29, que leva em média 5 minutos para ser completado. Essa versão possui 29 itens e um item adicional relacionado a efeitos adversos do tratamento, dividido em três subescalas diferentes: sintomas, funcionalidade e emoções (5,44,60). O Índice de QV Específico para Dermatologia (DSQL) foi desenvolvido por Morgan et al., em 1997. É um instrumento mais elaborado e com maior tempo para sua aplicação (15 minutos) em relação aos anteriores. Possui 52 itens, 32 sendo 43 específicos e nove relacionados ao bem-estar emocional, em geral, retirados do questionário SF-36. Inclui sete escalas diferentes: sintomas físicos, atividades do dia-a-dia, funcionalidade social, saúde mental geral, vitalidade, funcionalidade no trabalho e na escola (5,54). No âmbito da pediatria, o primeiro questionário validado foi o Children’s Dermatology Life Quality Index – Índice de QV em Dermatologia para Crianças (CDLQI) – desenvolvido em 1995 por Lewis-Jones e Finlay (43). Destinado a crianças de 4 a 16 anos, portadoras de diferentes dermatoses. É derivado do DLQI usado em adultos, composto por dez questões e seis domínios (sintomas e sentimentos, lazer, escola e férias, relações pessoais, sono e tratamento) acerca dos acontecimentos da última semana. Uma versão ilustrada foi desenvolvida, em 2003, para torná-lo mais atrativo. A comparação entre as versões demonstrou que elas produzem resultados semelhantes, sugerindo que são equivalentes. Pode ser aplicado a diversas dermatoses, como psoríase, eczema, acne e nevos e já está traduzido para o português brasileiro (30,43,61). Beattie e Lewis-Jones, em 2006, usando o CDLQI, demostraram que o prejuízo na QV de crianças com dermatoses crônicas é, no mínimo, equivalente ao vivenciado por crianças com outras doenças crônicas da infância (paralisia cerebral, enurese noturna, epilepsia e asma). Os maiores escores alcançados foram em ordem decrescente nas crianças com paralisia cerebral, seguida por DA e por psoríase (51). Em relação aos questionários doença-especifícos, inicialmente o interesse neste ramo de pesquisa foi dado ao desenvolvimento de instrumentos de mensuração de QV em pacientes com psoríase, acne e dermatite atópica. 33 Atualmente o impacto sobre a QV em outras dermatoses, como vitiligo, alopecia areata, hanseníase, dermatite de contato e melasma está sendo estudado. 2.2– DERMATITE ATÓPICA A dermatite atópica (DA) é uma doença inflamatória cutânea crônica, de caráter genético, caracterizada pela presença de episódios recorrentes de eczema associado a prurido, muitas vezes intenso, apresentando como substrato alterações imunológicas cutâneas que produzem inflamação; podendo estar eventualmente associada a outras formas de atopia, como a asma e a rinite alérgica (10,62). Embora a dermatologia considere a DA como doença cutânea, deve-se levar em consideração que a mesma pode evoluir para uma forma sistêmica, com acometimento de órgãos respiratórios. Acredita-se que a pele seja o primeiro alvo da atopia, manifestando-se através de DA geralmente nos primeiros anos de vida (0 a 5 anos de idade). Acometimento respiratório como rinite e asma podem surgir posteriormente. Essa evolução é denominada de marcha atópica. Tal associação de doenças tem sido confirmada por diversos estudos e apontam para mecanismos etiopatogênicos comuns (14,63). O termo “atopia” foi criado em 1923 por Coca e Cooke para descrever um fenômeno de hiperreatividade, caracterizado por asma e rinite alérgica. Posteriormente, em 1933, os mesmos autores incluíram a DA nesse grupo, de modo a distingui-la de outras doenças cutâneas (Coca e Cooke apud Tincopa, 1997, p.104). Segundo uma visão atual, a atopia seria uma predisposição hereditária do sistema imune a privilegiar reações de hipersensibilidade mediada por IgE, em resposta a antígenos comuns na alimentação, no ambiente intra e 34 extradomiciliar, conceito que situa a dermatite atópica como uma das manifestações das doenças da marcha atópica (13,64). A hipótese para a teoria da “marcha atópica” é a de que a pele seja a primeira porta de entrada para o desencadeamento da resposta inflamatória. O paciente atópico, por apresentar uma alteração na barreira cutânea, teria maior propensão à penetração de alérgenos ou estímulos ambientais. A sensibilização a estes fatores seria responsável pela resposta sistêmica quando da entrada desses fatores desencadeadores através da via respiratória (14,64,65). De fato, 50% dos pacientes com DA podem evoluir para a asma, sendo que este risco maior em crianças com história familiar de eczema. Isso confirma que, embora haja um bom prognóstico para a DA, essas crianças apresentam mais probabilidade em desenvolver doenças com morbidade significativa, como são a asma e a rinite alérgica (63). Quanto à dermatite atópica, incide sobre ambos os sexos, com pequena predileção pelo sexo feminino em uma relação de 1,5/1 (66) e pode ocorrer em qualquer idade, iniciando no primeiro ano de vida em 50 a 60% dos indivíduos, sendo que 75 a 90% dos casos surgem antes dos 5 anos de idade. A duração da doença é variável, apresentando melhora significativa dos sintomas após a adolescência em 60% dos casos (67,68). A DA acomete de 10 a 15% das crianças em idade escolar nos Estados Unidos da América, Europa, Ásia e regiões do hemisfério sul, enquanto na América Latina atinge de 15-20%, sua prevalência é de 13% no Brasil (15,67,68). Na população adulta, sua prevalência é de 2 a 7% (67,68). Dados brasileiros, obtidos através do Censo Dermatológico realizado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, em 2006, apresentam a DA como a segunda causa de procura 35 para atendimento dermatológico na faixa etária até 14 anos, perdendo apenas para a acne (16). A prevalência da DA vem aumentando cerca de 2 a 3 vezes, desde a segunda guerra mundial. Tal fato parece associado à ocorrência de mudanças nos hábitos da vida social e econômica da população, principalmente nas sociedades industrializadas e na classe econômica alta. Existem, provavelmente, várias razões para isso, incluindo maior exposição à poluição do ar; famílias menores com menor exposição a infecções; maior uso de antibióticos e vacinas; maior presença de animais de estimação; idade materna superior a 35 anos; uma gama maior de alimentos, incluindo uso maior de alimentos industrializados e com conservantes (66,69,70). A etiopatogenia da DA é complexa e multifatorial. Fatores genéticos, alterações do sistema imunológico e da barreira cutânea, fatores ambientais, colonização da pele pelo Staphylococcus aureus e fatores psicológicos são os principais elementos envolvidos no desencadeamento dessa doença (70,71). Apesar de importante papel das alterações genéticas, estudos têm demonstrado que apenas a presença de mutações genéticas não é suficiente para predispor à DA e que há um importante papel da alteração na barreira epidérmica na gênese dessa dermatose (70). Caracterizar o padrão genético desta dermatose é um grande desafio, tendo em vista os diferentes fenótipos e a heterogeneidade genética e imunológica. É certo que há uma alta incidência familar e que em gêmeos univitelinos a taxa de concordância chega a 77%, contrastando com 15% encontrados em bivitelinos (66). Em estudo europeu, realizado no ano 2000, com 36 200 familias apresentando irmãos afetados, observou-se predominância de uma região de maior ligação gênica no cromossomo 3q21 (72). A presença de pais atópicos é um dos maiores fatores de risco para o desenvolvimento da DA. O risco do acometimento da prole é quatro vezes maior no caso de a mãe ser atópica, em relação ao risco atribuível somente à presença do pai com atopia. As razões para que os riscos de desenvolvimento da atopia associados à doença materna e paterna serem diferentes não são conhecidas (73,74). Defeitos genéticos em genes codificadores de proteínas de cornificação da pele, assim como mutações no gene da Filagrina são apontados como principais responsáveis pelos defeitos da barreira cutânea. Os genes mais estudados estão nos cromossomos 1q21, 17q25 e 18q11-12. Porém, as alterações genéticas assim como a patogênese da DA são complexas e necessitam de melhor entendimento (69,72). A alteração da barreira cutânea está presente nas áreas lesadas e não lesadas da pele, e parece resultar de defeito primário na diferenciação da epiderme. Esse defeito teria origem genética e levaria a uma alteração da composição lipídica do estrato córneo. Lipídios como o colesterol, os ácidos graxos e as ceramidas, essenciais para retenção da água, estariam diminuídos na pele de pacientes com DA. Como conseqüência, há uma perda da integridade dessa barreira, com conseqüente aumento da permeabilidade a alergenos ambientais e a microorganismos (70,75). Alterações imunológicas da DA incluem um predomínio de linfócitos TH2 sobre os linfócitos TH1. As citocinas TH2 (IL-4, IL-5 e IL-13) são responsáveis pelo aumento na produção de IgE e pela eosinofilia. Uma reposta TH2, 37 resumidamente, resultaria em: estimulação de receptores de IgE nas células apresentadoras de antígenos da pele (Células de Langerhans), quimiotaxia de eosinofilos através de expressão de moléculas de adesão (69). Existem duas formas descritas de dermatite atópica: forma “intrínseca” e forma “extrínseca”, classificadas de acordo com suas características imunológicas. Clinicamente, os pacientes apresentam tanto lesões cutâneas quanto padrões de distribuição das lesões similares em ambas as formas, diferindo nos níveis séricos de IgE, em seu mecanismo fisiopatológica e sua evolução (70,76). A forma “intrínseca”, também chamada de DA não-atópica, está presente em 10 a 20% da população atópica, e se caracteriza por produção menor de interleucinas TH2, como a IL-4 e Il-13, resultando em menor produção de IgE. Raramente há progressão dessa forma de DA para asma e/ou rinite alérgica (70,76). A forma “extrínseca” é a mais comumente apresentada nos pacientes com DA, caracterizando-se pelos altos níveis séricos de IgE, devido à completa resposta TH2. Está associada à sensibilização por alergenos ambientais e à progressão para rinite e asma na maioria dos casos (70,76). A doença apresenta diferente distribuição morfológica das lesões, de acordo com a idade dos pacientes. Em relação aos sintomas, o prurido e a xerose estão presentes em todos os pacientes. O prurido é o principal sintoma na DA e pode ser definido como uma sensação subjetiva e desagradável, que provoca o desejo de coçar. Ocorre em todos os pacientes e em qualquer fase da doença, sendo o ato de coçar responsável pelo surgimento e pela manutenção de grande parte das lesões da pele (77). 38 Esse sintoma pode estar presente durante todo o dia, porém pode ser mais intenso à noite, sendo um dos responsáveis pela perda de sono dos pacientes. No entanto, embora prurido seja um sintoma cardinal da DA, seu mecanismo etiopatogênico ainda não está completamente esclarecido. As terminações nervosas responsáveis pelo prurido estão situadas na junção dermo-epidérmica, próximas aos receptores de dor. Elas respondem a estímulo mecânico direto e também a mediadores químicos, como histamina, serotonina, prostaglandinas, citoquinas e leucotrienos (78,79). A pele do paciente atópico apresenta alterações estruturais e neurofisiológicas, assim como resposta exagerada a estímulos pruritogênicos, resultando em um limiar reduzido para o prurido. Como conseqüência, alergenos, baixa umidade, suor, contato com irritantes como lã e sabões podem facilmente desencadear o sintoma (78,79). Compreender e manejar as situações que desencadeiam e pioram o prurido nos atópicos pode levar a melhora bastante significativa do quadro clínico e à redução da gravidade da doença (78). Como fatores desencadeantes, ressaltamos: estresse (indutor de alterações imunológicas); alergenos alimentares (ovo, leite, amendoim, trigo, soja) e aeroalergenos (ácaros domésticos, pêlos de animais, fungos); irritantes (sabões, roupas de lã e nailon, água quente); clima (temperaturas extremas, umidade ou sequidão excessivas); microorganismos (particularmente Staphylococcus aureus) (62,70). Em 1930, Sulzberger e Hill classificaram o eczema atópico em 3 fases: do lactente (ate 2 anos), da infância ( 2 até 12 anos) e do adolescente e adulto (acima de 12 anos) (80). 39 Na fase do lactente, as lesões são mais agudas, com eritema, edema, secreção e crostas na face, poupando caracteristicamente a região médio facial. No couro cabeludo, alguns pacientes têm eczema inicialmente difícil de ser distinguido do eczema seborreico. Algumas crianças já podem apresentar acometimento das dobras flexurais. A xerose não é significativa nessa fase (80). Na fase infantil, as lesões são menos agudas e exsudativas, com pápulas e placas liquenificadas, acometendo principalmente as flexuras anticubitais e poplíteas. Alguns pacientes apresentam lesões crônicas de aspecto numular (em forma de moeda). A xerose e o prurido são significativos (80). Em maiores de 12 anos as lesões são crônicas, com distribuição flexural, acometendo face (área periorbital), região cervical, membros, dorso, mãos (dermatite crônicas das mãos) e dorso dos pés. As lesões cutâneas crônicas caracterizam-se por xerose e liquenificação, resultantes de remodelamento epidérmico devido à coçadura e da perda trasepidérmica de água (65,80). Em pacientes adultos, a apresentação mais comum é o eczema flexural, com liquenificação. Entretanto, 11% deles apresentam variantes morfológicas atípicas, assemelhando-se ao eczema numular, dermatite seborreica e prurigo, dificultando o diagnóstico correto (80). Não há um padrão ouro para diagnosticar DA. Para tanto, o médico deve se basear em achados clínicos sugestivos da doença, associados a dados obtidos de anamnese compatíveis com essa dermatose (81). O diagnóstico é particularmente difícil e impreciso nos primeiros meses de vida, especialmente devido à dificuldade de reconhecer um dos principais sintomas da doença, o prurido (74). Autores como Jøhnke (2005) propõem inclusive que, em crianças 40 pequenas, o diagnóstico de certeza deveria ser obtido através de exames clínicos sequenciais e não de uma única consulta (81). Com a finalidade de facilitar o reconhecimento da DA e para diferenciá-la de outras dermatoses, foram criados grupos de critérios diagnósticos, cujos parâmetros compreendem desde a presença de sinais e sintomas, até história pessoal e familiar. O diagnóstico por meio de critérios foi proposto pela primeira vez por Hanifin e Rajka, em 1980. Os quatro critérios maiores/principais e os 23 menores/secundários foram baseados no consenso entre experientes dermatologistas da época (82). Para obter o diagnóstico de DA, o paciente deve apresentar pelo menos três critérios principais e três secundários. Os critérios diagnósticos de Hanifin e Rajka são apresentados abaixo. Critérios principais: Prurido, lesões cutâneas crônicas e recorrentes, topografia e morfologia clássicas, antecedentes familiares ou pessoais de atopia. Critérios secundários: Xerose, ictiose, ceratose pilar, reatividade imediata a testes cutâneos, imunoglobina E elevada, início precoce, tendência a infecções cutâneas, dermatite não-específica nas mãos e pés, eczema do mamilo, queilite, conjuntivite recorrente, dupla prega de Dennie-Morgan, ceratocone, cataratas subcapsulares anteriores, órbita opaca, pitiríase alba, pregas anteriores do pescoço, prurido ao suar, intolerância aos alimentos, dermografismo branco. Em 1994, os critérios diagnósticos de U.K (The U.K. Working Party’s diagnostic criteria) foram desenvolvidos por Williams et al. como um refinamento dos critérios de Hanifin e Rajka. Esses critérios foram concebidos para clínicos e estudos epidemiológicos e consistem de um parâmetro principal e de cinco outros 41 critérios. O critério principal é obrigatório – prurido cutâneo presente nos últimos 12 meses – e o paciente deve apresentar mais três dos quatro seguintes: idade de início inferior a 2 anos; envolvimento flexural; xerose cutânea no último ano; história pessoal de atopia (asma ou rinite) ou familiar caso seja menor de 4 anos; dermatite visível diagnosticada por médico ou com documentação fotográfica (82,83). Quanto à gravidade, a DA pode ser classificada em leve, moderada e grave. Para tanto, utiliza-se escalas específicas, que associam sintomas e extensão das lesões, sendo a primeira dessas escalas datada de 1989. Desde então, há um interesse crescente no desenvolvimento de métodos para avaliar a gravidade da doença, tais como o SCORAD, o EASI, o Six Sign Atopic Dermatitis severity score (SASSAD) e o Nottingham Eczema Severity Score (84). Das escalas mencionadas, as mais utilizadas em pesquisa são o SCORAD – Escore de Severidade em Dermatite Atópica e o EASI – Índice de Gravidade do Eczema por Área (84,85,86). . O SCORAD combina parâmetros objetivos – intensidade e extensão das lesões – com outros subjetivos – prurido e perda de sono. As regiões corporais são avaliadas quanto à presença de pápulas, eritema, crostas, escoriações e xerose. A extensão corporal afetada é definida pela “regra dos nove”, mesma utilizada na avaliação de queimados. A pontuação obtida nos diferentes parâmetros pode variar de 0 a 103 pontos e classifica a DA em leve ( 15), moderada (15-40) ou grave (>40). Foi desenvolvido em 1993 por um grupo de dermatologistas europeus, em um movimento denominado European Task Force on Atopic Dermatitis (6,85,87). 42 O EASI – Índice de Gravidade do Eczema por Área – desenvolvido por Hanifin et al., em 2001, afere a gravidade da dermatose baseando-se na associação entre a presença de sinais clínicos – eritema, pápulas, escoriação e liquenificação – e a área de superfície corpórea acometida, dividindo o corpo em 4 regiões – cabeça/pescoço, membros superiores, membros inferiores, tronco. A pontuação pode variar de 0 a 72, apresentando correlação entre uma maior pontuação e a gravidade da doença (88). Estudos comprovam que o EASI e o SCORAD são os sistemas de avaliação de gravidade de maior confiabilidade e têm como vantagem a facilidade de aplicação e o fato de poderem ser empregados em ensaios clínicos (88,89). A intensidade do prurido também é usada como parâmetro de gravidade em diversos instrumentos de mensuração de QV e como parâmetro de eficácia terapêutica em estudos de novos medicamentos. Devido ao forte impacto na qualidade de vida, a maioria dos pacientes associa a gravidade do eczema pela intensidade do prurido e não pelo aparecimento de lesões cutâneas (86,89). Segundo Soares (2004), o tratamento dessa dermatose se faz através de medicações tópicas e/ou sistêmicas e tem como objetivos: a melhora dos sinais e sintomas, especialmente do prurido, através do uso de anti-histamínicos; o tratamento da inflamação por meio do uso de corticosteróides ou de inibidores da calcineurina tópicos; o reestabelecimento da barreira cutânea, com a utilização de emolientes; o controle dos fatores desencadeantes sejam eles irritantes, infecções ou alergenos ambientais; a prevenção de recorrências e de exacerbações a longo prazo (90). A inserção desses pacientes e de seus pais em grupos de apoio vem despontando como medida não-medicamentosa importante no controle da DA. 43 Tais grupos buscam aumentar o conhecimento acerca da doença, melhorar a adaptação psicológica e com isso diminuir os sintomas físicos e os efeitos colaterais. Os resultados são considerados positivos, especialmente em pacientes com DA grave e prurido incontrolável (91). Maior compreensão sobre os mecanismos etiopatogênicos da DA tem levado a novas propostas de tratamento. Para escolha adequada do tipo de tratamento é importante a valorização da história clínica, com ênfase em fatores desencadeantes, de piora ou melhora do quadro. A estratégia terapêutica personalizada deve ser adaptada às diferentes necessidades do paciente, à idade da criança, à extensão e à localização da DA (92). 2.3 – Qualidade de vida em Dermatite Atópica Dermatite atópica é erroneamente considerada uma dermatose de pequena morbidade, quando, ao contrário, se apresenta como um verdadeiro transtorno, com significativo potencial de impacto pessoal, social, financeiro e com conseqüências para o paciente, familiares e para a sociedade (68). O ônus da DA é difícil de mensurar, devido às múltiplas áreas de impacto potenciais. Estas incluem custos diretos – honorários profissionais, exames, medicamentos e internação hospitalar – e custos indiretos - dor e sofrimento, faltas e diminuição do desempenho no trabalho e na escola. Em revisão sistemática da literatura, em 2008, Mancini e colaboradores concluíram que os custos da DA são comparáveis a doenças como psoríase e asma, sendo estimados em cerca de um bilhão anual nos Estados Unidos (68). 44 O impacto da DA sobre a QV dos pacientes parece depender de fatores como idade, estrutura familiar, severidade dos sintomas, especialmente do prurido (7). Estudos evidenciam que a percepção sobre seu quadro clínico não depende apenas da gravidade da doença, mas também de variáveis como idade, sexo, classe social, etnia, educação, a ansiedade e o nível de habilidade exagerar ou minimizar sintomas. A dinâmica familiar, o estilo de vida e as experiências passadas são também importantes fatores que podem modificar tal percepção (7). Com relação à idade, a DA em adolescentes e adultos resulta em distúrbios psicológicos como a estigmatização, o isolamento social e afetivo (7). Os pacientes relatam discriminação causada pela aversão instintiva à doença da pele. Além disso, muitos pacientes tornam-se frustrados com a ineficácia e complexidade do tratamento ministrado. Como resultado, tendem a apresentar prejuízo em sua QV e mais sofrimento psíquico do que indivíduos com outras condições médicas (6). A presença dessa dermatose em crianças pode ter conseqüências maiores em sua qualidade de vida, afetando tanto suas relações familiares quanto sociais, interferindo em suas atividades recreativas e escolares (29). Anormalidades psicológicas em crianças de idade escolar com DA incluem problemas de comportamento, dependência excessiva dos pais, e desconforto provocado pelo prurido e pelo próprio tratamento. Há relatos de alterações na qualidade e na quantidade do sono desses pacientes, ocasionando cansaço, irritabilidade, dificuldade de concentração e aprendizagem, mau desempenho escolar (93). Concomitante com esse impacto sobre as crianças doentes existe também um impacto social, emocional e financeiro sobre a família desses pacientes. Pais de crianças acometidas relatam dificuldades na disciplina e no cuidado de seus 45 filhos, devido principalmente à privação do sono, exaustão, dificuldades no custo e na administração de medicação tópica e sistêmica (93). Há relatos de que a sobrecarga de cuidar desses pacientes gera conflitos na estrutura familiar, tanto entre os pais quanto em relação aos filhos saudáveis do casal (47,51). A correlação entre prurido e QV já está bem estabelecida e comprovada por diversos estudos. Há uma relação significativa entre a freqüência do prurido e a gravidade da DA, sendo que mais de 90% dos pacientes graves apresentam prurido intenso diariamente. Em estudo realizado em Porto Alegre, em 2004, Weber et al. demonstraram que esse sintoma estava presente diariamente em 74,2% da população estudada. Concluiu também que pacientes com DA grave apresentam prurido mais intenso e freqüente do que os com doença leve e moderada (77,91). As pesquisas de QV em dermatite atópica inicialmente eram realizadas utilizando instrumentos genéricos, devido principalmente à escassez de instrumentos dermatose-específicos. Nesse contexto, os mais usados em âmbito mundial eram o SF-36 e o DLQI. Atualmente, existe um número considerável de questionários específicos para DA, tanto para população adulta quanto para a pediátrica. Há, entretanto, atualmente uma tendência de se comparar resultados entre instrumentos específicos e genéricos em uma mesma população, tornando os resultados mais confiáveis (21). Em 1994, Finlay e Khan avaliaram 112 casos de dermatoses na Inglaterra, dentre elas a DA, com aplicação do Dermatology Life Quality Index (DLQI). Demonstraram que a dermatite atópica, a psoríase e o prurido generalizado tiveram maior impacto na QV do que doenças como acne, carcinoma basocelular 46 e verrugas virais. A dermatite atópica apresentou o escore mais alto – significando um maior impacto na QV – nos instrumentos da avaliação do estudo (94). Também em 1994, Whalley et al. elaboraram o Quality of Life Index for Atopic Dermatitis – Índice de QV para DA (QoLIAD). É composto por 25 itens, cada um com um sistema de resposta simples dicotômica – verdaderio/falso – tornando sua utilização fácil e rápida. O QoLIAD é considerado o instrumento mais específico para análise de QV de pacientes adultos com DA. Está disponível em inglês, alemão, francês, espanhol, italiano e holandês. Entre os instrumentos correlacionados no estudo inicial, foi o que apresentou maior correlação com o DLQI (95). O estudo australiano de Su et al., realizado em 1997, mostrou o impacto sobre pais e familiares das crianças portadoras de dermatite atópica moderada ou grave, concluindo que cuidar desses pacientes é mais estressante do que cuidar de crianças com diabetes tipo 1. O estudo demonstrou também que o manejo de pacientes com DA é complexo e dispendioso, sendo os custos mensais similares aos de pacientes com asma e diabetes (93). Em 1998, Lawson et al., validaram o questionário Dermatitis Family Impact Questionnaire (DFI), avaliando 56 familiares de crianças com dermatite atópica. Os autores observaram que as famílias apresentaram problemas emocionais e financeiros na prática diária. O DFI identificou impacto em onze principais áreas do funcionamento familiar, particularmente cuidados práticos (74%), restrição na vida familiar e social, além de pressão psicológica – 71% dos pais relataram sentimentos como culpa, frustração e exaustão (47). O DFI é usado como medida complementar em estudos clínicos, auxilia no manejo do paciente portador de dermatite atópica, documentando os efeitos da 47 mesma na vida familiar. É composto de 10 questões referentes à última semana; deve ser respondido pelos pais. O DFI é validado para o português do Brasil (47,51,30,96). Lewis et al., em 2001, validaram o questionário Infant´s Dermatitis Quality Of Life Index (IDQOL), que mede o impacto da dermatite atópica na infância, avaliando 89 crianças com menos de 4 anos. O mais alto impacto encontrado na QV está relacionado ao prurido e escoriações, mudança no humor e distúrbios no sono. Nesse estudo, também foi avaliado o impacto da dermatite atópica na família, por meio do DFI. Novamente, o maior impacto na QV foi relacionado aos distúrbios do sono, cansaço exaustão e problemas emocionais (97). O IDQOL é utilizado em crianças de 0 meses a 4 anos, portadoras de dermatite atópica. Avalia a sobrecarga da dermatite na vida do paciente do ponto de vista dos pais. É composto de 10 questões referentes à última semana do paciente e dos familiares. Aborda dificuldades com sono, com banho, alterações de humor, reação ao tratamento, e participação nas atividades recreativas e na vida familiar. O questionário tem versões em diferentes línguas, validadas pelos próprios autores, inclusive para o português do Brasil (96, 97). Em 2004, Chamlin et al. publicaram resultado de estudo sobre efeitos da DA em crianças norte-americanas. Através de entrevista com os pais das mesmas, concluíram que a DA interfere em diversos domínios: a saúde física, por causa da presença de prurido, de distúrbios do sono, de dor durante banho e de restrição dietética; a saúde mental, resultando em problemas disciplinares e de comportamento, com hiperatividade, irritabilidade e choro durante uso de medicações tópicas e sistêmicas, e possível ganhos secundários com a doença. Os autores detectaram ainda interferência no funcionamento físico, devido a 48 restrições na prática de esportes, nas atividades sociais, no uso de determinados tipos de roupas, e na interrupção das atividades recreativas, causados pelos sintomas da DA. Finalmente, relataram o efeito sobre a função social, representada por redução da interação do doente com outras crianças e com os próprios parentes (29). No Brasil, Coghi et al. (2007) estudaram 79 pacientes adultos com DA na cidade de São Paulo, utilizando dois instrumentos: o SF-36 e o DLQI. Os resultados demonstraram que os domínios relacionados a aspectos emocionais e à saúde mental do SF-36 foram os de maior impacto na QV. Em relação ao DLQI, os de maior impacto foram: sintomas, sentimentos e atividades diárias. Tais resultados foram semelhantes aos de estudos internacionais e confirmaram a influência negativa da DA sobre a QV desses pacientes (6). Em pesquisa realizada na Suíça, em 2007, Gånemo et al. avaliaram a QV de crianças e seus familiares utilizando simultaneamente o IDQOL, o CDLQI e o DFI. Os resultados mostraram concordância entre os scores obtidos dos três questionários, apontando prurido, perda de sono, alteração de humor, custo do tratamento e sentimento de culpa paternos como principais responsáveis pelo impacto sobre a QV (18). Ricci et al., também em 2007, correlacionaram QV de crianças italianas com DA e de seus familiares com o índice de severidade SCORAD. Obtiveram resultados semelhantes aos do estudo de Gånemo, quanto ao que se refere aos principais fatores que interferem negativamente na QV. Destacaram uma tendência paterna em supervalorizar a gravidade da doença da criança, com divergência significativa entre SCORAD e a avaliação paterna da gravidade da DA (17). 49 Weber et al., em 2008, utilizaram o DFI e o CDLQI em estudo com familiares e pacientes brasileiros com DA, comparando a alteração dos escores de ambos após participação em grupos de apoio. Encontraram melhora no padrão de prurido no grupo de intervenção, e consideraram a abordagem não farmacológica válida no controle da DA (30). Os estudos são unânimes em inferir que a DA gera alterações profundas na vida dos adultos e das crianças afetadas e, em segundo plano, de suas famílias. As conseqüências podem ter um impacto imediato e a longo prazo no desenvolvimento e na vida desses pacientes. A utilização de instrumentos que permitam mensurar tal impacto e também a percepção que o paciente tem de sua própria doença auxilia o dermatologista na escolha de terapêutica adequada, melhorando a relação médico-paciente, fator importante na melhora da QV desses indivíduos (17,18,30) . 50 3- JUSTIFICATIVA Até recentemente, a QV era definida apenas em termos de tempo de sobrevida e frequência dos sintomas que os doentes suportavam, sem considerar as consequências psico-sociais da doença ou os efeitos do tratamento no cotidiano dos pacientes. No entanto, o crescente reconhecimento da relevância desses fatores impõe a inclusão da avaliação da QV como medida de desfecho em saúde, paralelamente aos clássicos parâmetros eficácia clínica/perfil de segurança/custos. Tal fato é relevante no contexto das doenças cutâneas alérgicas, especialmente a DA, que, apesar de baixa mortalidade, podem interferir negativamente na QV do paciente de diversas maneiras. A presença de lesões visíveis causa alteração da imagem corporal e interfere nas relações interpessoais, resultando em estigmatização e medo de rejeição social. O prurido, as escoriações e o desconforto levam a alterações no sono e nas relações com o parceiro. O tratamento tópico crônico resulta em desconforto, consumo de tempo e onera o paciente. O tratamento sistêmico, devido aos efeitos colaterais, potencialmente leva à sonolência diurna, baixo rendimento nas atividades escolares e profissionais. Apesar disso, a dermatite atópica frequentemente é vista como uma desordem dermatológica de menor importância. Entretanto, sua alta prevalência e a cronicidade de seus sintomas resultam em custos financeiros e sociais significativos, considerando custos médico-hospitalares e dias de trabalho perdidos por pacientes adultos e, no caso das crianças, também por seus 51 familiares. Segundo Sehra (2008), os custos de tratamento são comparáveis aos de doenças como enfisema, psoríase e epilepsia. O impacto da DA sobre a saúde tem implicações muito maiores no indivíduo como um todo, e deve ser avaliado de diferentes pontos de vista, sobretudo com relação ao paciente, à família e à sociedade (COGHI, 2007). Segundo Finlay (1994, 2004), medidas mais apuradas de qualidade de vida podem auxiliar na escolha da estratégia de tratamento, como por exemplo, a introdução de medicamentos de alto custo ou de alto risco. A ocorrência de anormalidades psicológicas em crianças portadoras de DA tem sido demonstrada através dos estudos de QV sobre o assunto. Há relatos de alterações de sono, dificuldade de concentração e baixo rendimento escolar nesses pacientes. Tais fatos se devem não só às manifestações clínicas da dermatose, mas também ao tratamento instituído, especialmente uso de antihistamínicos sedantes para controle da doença. Concomitante com esse impacto sobre as crianças doentes existe também um impacto social, emocional e financeiro sobre a família desses pacientes. Pais de crianças acometidas relatam dificuldades na disciplina e no cuidado de seus filhos, devido principalmente à privação do sono, exaustão, dificuldades no custo e na administração de medicação tópica e sistêmica. A utilização de instrumentos para estudar a QV dos portadores de DA proporciona ao paciente e aos familiares a oportunidade de exporem sua percepção sobre a doença, demonstrando a influência não só da doença em si, mas também aquela relacionada à terapêutica sobre seu bem-estar. Os resultados obtidos nos estudos de QV em DA devem nortear a prática clínica, pois o conhecimento acerca da qualidade de vida dos pacientes 52 portadores de dermatoses serve para individualizar as estratégias de tratamento e, desse modo, levar à adoção de medidas que possam minimizar o impacto da doença na vida desses pacientes e de seus familiares. Nesse contexto, a mensuração da QV dos portadores de DA e de seus familiares na cidade de Montes Claros se faz necessária para que, ao diagnosticar claramente a dimensão desse impacto sobre essa população, possamos adotar medidas terapêuticas eficazes no controle da dermatose e na melhora do bem estar desses pacientes. Em Montes Claros, não existem estudos prévios sobre o tema, sendo que os resultados alcançados no presente estudo deverão ser levados aos profissionais da área da saúde, assegurando, assim, melhora da atenção aos pacientes portadores de dermatite atópica. 53 4. OBJETIVOS 4.1- Geral 4.1.1 - Avaliar o impacto da dermatite atópica na qualidade de vida de pacientes pediátricos da cidade de Montes Claros. 4.2 - Específicos 4.2.1 - Analisar a população pediátrica portadora de dermatite atópica quanto às alterações do cotidiano associadas ao curso crônico da dermatose. 4.2.2 - Analisar o impacto da dermatite atópica sobre a qualidade de vida dos doentes e de seus familiares. 4.2.3 - Descrever os achados cutâneos mais prevalentes ao exame físico da população estudada. 54 5. MÉTODOS 5.1.Tipo de estudo Esta pesquisa tem o delineamento de um estudo analítico e exploratório, com abordagem quantitativa e transversal. 5.2. Local Montes Claros é um município de porte médio, localizado no norte do Estado de Minas Gerais, Brasil. A população, segundo dados do IBGE de 2007 é de aproximadamente 352.348 habitantes. A cidade é o pólo de uma região de aproximadamente 1.500.000 habitantes, que inclui o sul da Bahia e todo o norte de Minas Gerais, uma das áreas mais pobres do país. 5.3. Casuística A população do estudo são crianças entre 6 e 59 meses de idade, divididas em dois grupos – um caso e um controle – atendidos no Sistema Único de Saúde (SUS) da cidade de Montes Claros e referenciadas ao Ambulatório de Dermatologia do Centro de Especialidades Tancredo Neves da UNIMONTES, no período compreendido entre setembro de 2007 e agosto de 2008. O grupo de casos foi composto por crianças portadoras de dermatite atópica, diagnosticada através dos critérios diagnósticos de Hanifin e Rajka. O grupo controle foi formado por crianças de faixa etária semelhante à do grupo acima, composto por crianças com outras dermatoses, e que não preenchiam os critérios para dermatite atópica. 55 Critérios de Inclusão: 1. Idade entre 06 meses e até 59 meses de idade; 2. Diagnóstico de dermatite atópica segundo os Critérios de Hanifin e Rakja para grupo de casos; 3. Presença de dermatoses que não preenchiam os critérios diagnósticos de dermatite atópica para grupo controle; 4. Concordância dos pais ou responsável pela criança em participar da pesquisa. Critérios de Exclusão: 1. Idade abaixo de 06 meses ou acima de 60 meses de idade; 2. Pacientes cujos pais ou responsáveis não concordassem em participar do estudo. 5.4. Aspectos éticos O projeto foi submetido à aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES – em julho de 2007, obtendo um parecer favorável para sua execução. (ANEXO A) Durante a coleta dos dados, os pais ou responsáveis legais pelos pacientes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que versa sobre os objetivos e procedimentos da pesquisa, concordando assim em participar, juntamente com o paciente, do estudo em questão. (ANEXO B) 56 Os pacientes receberam orientações quanto ao tratamento da doença e também tiveram acompanhamento dermatológico mensal durante os doze meses da pesquisa. 5.5. Coleta de dados Após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIMONTES, foi enviada carta aos médicos generalistas, aos pediatras e dermatologistas atuantes na rede pública da cidade de Montes Claros, informando sobre o projeto de pesquisa, seus objetivos e os procedimentos da pesquisa, foilhes solicitado referenciar até o local da pesquisa pacientes com dermatite atópica entre 06 e 59 meses de idade. As consultas foram realizadas em ambulatório de Dermatologia no Centro de Especialidades Médicas Tancredo de Almeida Neves. O período de coleta de dados se estendeu por 12 meses, entre setembro de 2007 e setembro de 2008. Os pacientes foram submetidos à anamnese – geral e específica – e ao exame dermatológico, ambos realizados pela pesquisadora. Na anamnese, foram avaliados dados básicos de identificação, idade, cor, idade de início da dermatose, tratamentos utilizados e tempo de evolução da doença. No exame dermatológico, a gravidade da doença foi avaliada através do EASI (Índice de Gravidade do Eczema por Área), quando também foram observados sinais e sintomas da dermatose. Após exame, foram aplicados dois questionários estruturados sobre Qualidade de Vida, ambos respondidos pelos pais ou responsáveis legais pelas crianças. Foram utilizados como instrumentos de mensuração de Qualidade de 57 Vida: o Índice de Qualidade de Vida da Dermatite Atópica em Crianças –IDQOL – e o Impacto da Dermatite Atópica na Família – DFI. Antes de iniciar a coleta de dados, foi encaminhado e-mail para os autores dos intrumentos que concederam autorização para sua utilização (ANEXO C). 5.5.1- Medidas de avaliação objetiva da doença A avaliação da gravidade da doença foi realizada através do Índice de Gravidade do Eczema por Área – EASI. Este instrumento, desenvolvido por Hanifin et al.em 2001, afere a gravidade da dermatose baseando-se na associação entre a presença de sinais clínicos – eritema, pápulas, escoriação e liquenificação – e a área de superfície corpórea acometida. A pontuação atingida pode variar de 0 a 72, apresentando correlação entre uma maior pontuação e a gravidade da doença (ANEXO D). 5.5.2- Medidas de avaliação subjetiva da doença Neste estudo foram utilizados dois instrumentos específicos para a mensuração de qualidade de vida – o DFI e o IDQOL. Ambos são de fácil aplicação e compreensão, além de apresentarem diversos estudos que comprovam sua eficácia e validade, esses fatos motivaram a escolha de tais instrumentos. Índice de Qualidade de Vida da Dermatite na Infância (IDQOL) 58 Trata-se de questionário específico desenvolvido para pacientes com dermatite atópica com idade entre 0 e 4 anos. É composto de dez questões, sendo a primeira relacionada à gravidade da dermatite e as demais associadas ao impacto da doença na qualidade de vida dos pacientes. O IDQOL aborda os seguintes aspectos: alterações de sono, de humor, dificuldades em participar de atividades recreativas ou da vida familiar, desconforto durante banho, vestuário e refeições. Tais domínios são referentes à última semana do paciente. O IDQOL é calculado através da soma das pontuações de cada questão, resultando no máximo de 30 e no mínimo de 0 pontos. Uma maior pontuação implica em maior impacto na qualidade de vida do paciente. A gravidade do eczema pontua separadamente e pode ser relacionado com o IDQOL (ANEXO E). O Impacto da Dermatite Atópica Infantil na Família (DFI) Questionário desenvolvido para mensurar os efeitos da dermatite atopica sobre os familiares do doente. Composto por dez perguntas referentes aos efeitos da dermatose sobre diversos domínios da vida familiar – distúrbios emocionais, alterações do sono, alterações na limpeza da residência, na alimentação, nas atividades de lazer, no relacionamento dos pais e custos do tratamento. As questões devem ser respondidas levando-se em conta a ultima semana e sua pontuação pode variar de 0 a 3 pontos. A pontuação máxima é de 30 pontos e a 59 mínima de 0 pontos. Quanto maior o escore alcançado, maior o impacto sentido pelos familiares (ANEXO F). 5.6- Análise estatística Para a análise estatística dos dados, utilizou-se o programa SPSS, versão 15.0. Windows. Para avaliar a relação entre os índices de gravidade da doença e os índices de QV, utilizou-se o Índice de Correlação de Pearson. Para realizar a comparação entre os grupos de pacientes com DA e outras dermatoses segundo a percepção de qualidade de vida foi realizado o Teste de Mann-Witney. O nível de significância do presente estudo foi de 5% (p< 0.05). 60 6. RESULTADOS Atendendo às normas do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, o resultado será apresentado na forma de artigo científico (Apêndice A). O presente artigo está formatado segundo as normas do Jornal de Pediatria, periódico indexado e classificado como Qualis A nacional segundo a CAPES. 61 7. CONCLUSÕES A análise dos resultados do presente estudo nos permitiu chegar às seguintes conclusões: 1. Os pacientes com dermatite atópica estudados, assim como seus familiares, apresentaram um comprometimento da qualidade de vida medido através dos questionários IDQOL e DFI. 2. Os domínios avaliados pelo IDQOL que tiveram maior impacto sobre a qualidade de vida desses pacientes foram os relacionados ao prurido, a alterações de humor, a problemas com o tratamento e ao desconforto durante o banho. 3. O comprometimento da dermatose sobre a dinâmica familiar, medido através do DFI, foi maior em relação às despesas com o tratamento, aos efeitos sobre as compras da família, às alterações de sono dos familiares e à presença de cansaço e exaustão dos pais. 4. Houve uma discordância entre a avaliação clínica da gravidade da doença, medida pelo EASI, e a avaliação da gravidade segundo o ponto de vista dos pais. Segundo o EASI, a maioria dos pacientes apresentava DA leve, e os pais consideraram que a dermatose era de média gravidade. 5. O grupo controle apresentou escores abaixo dos encontrados no grupo com DA em ambos os questionários. 6. Os resultados obtidos nesse estudo estão em concordância com outros estudos internacionais no que se refere à correlação entre a gravidade da 62 DA e o impacto dessa dermatose sobre a qualidade de vida dos pacientes e de seus familiares. 63 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS A DA, por suas características clínicas, frequentemente interfere no dia-adia dos pacientes e de sua família. Devido ao início precoce, por vezes no primeiro ano de vida, essa interferência pode se refletir no desenvolvimento global do indivíduo acometido por essa dermatose; e também em toda a dinâmica familiar. Os resultados obtidos neste estudo reiteram o significativo impacto da DA sobre os pacientes pediátricos e a necessidade de utilizar instrumentos que permitam mensurar a intensidade do mesmo. Porém, visto as limitações do presente estudo e a escassez de outros de igual delineamento em território brasileiro, inferimos que há necessidade de novas pesquisas sobre o tema, para melhor esclarecimento acerca da intensidade e das maneiras pelas quais a DA interfere na QV desses pacientes. Faz-se cada vez mais necessário conhecer a doença sobre o ponto de vista dos pacientes e de seus familiares, utilizando tal conhecimento como ferramenta auxiliar para o médico na escolha da terapêutica adequada, beneficiando assim a relação médico-paciente e sendo fator importante na melhoria da QV desses indivíduos. 64 9. REFERÊNCIAS 1. Favarato MECS, Favarato D, Hueb WA, Aldrighi JM. Qualidade de Vida em portadores de doença arterial coronária: comparação entre gêneros. Rev Assoc Med Bras. 2006;52(4):236-41. 2. WHOQOL Group. The World Health Organization Quality of Life assessment (WHOQOL): position paper from the World Health Organization. Soc Sci Med. 1995; 41(10):1403-9. 3. 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Os domínios mais comprometidos no IDQOL foram relacionados ao prurido, alterações de humor e problemas com o tratamento. Quanto ao DFI, os domínios de maior impacto foram relacionados a despesas com o tratamento e perturbação do sono de membros da família. Conclusão: A dermatite atópica interfere negativamente na QV dos pacientes pediátricos e de seus familiares. Dados obtidos nos estudos de QV em DA devem nortear a prática clínica, pois o conhecimento acerca da qualidade de vida dos pacientes portadores de dermatoses serve para individualizar as estratégias de tratamento e levar à adoção de medidas que possam minimizar o impacto da doença sobre pacientes e seus familiares. PALAVRAS-CHAVE: Qualidade de vida. Dermatite Atópica. Criança. 77 ABSTRACT: Objective: The aim of this study is measure the impact of atopic dermatitis on the quality of life of pediatric patients and their families, establishing correlations with scores of disease severity. Methods: Observational study with correlation between clinical indicators of severity and two questionnaires on quality of life: IDQOL and DFI. The study also included scoring of eczema severity - EASI. Forty-two children with atopic dermatitis, fulfilling established diagnostic criteria, and forty-four children with others dermatologic diseases were investigated for the effect of eczema on quality of life. Results: Data analysis showed significant difference between the scores of the group with atopic dermatitis and the control group. The median score in group eczema was 9,2 (range 1–19) for IDQOL and 8.5 (range 0–17) for DFI. The highest scoring questions for IDQOL referred to itching and scratching, mood change and problems caused by treatment. For the FDI they were expenditure and parental sleep disturbance. Conclusions: The atopic dermatitis affect negatively the pediatric patients QOL and their families. Data obtained in studies of QOL for commitment should guide clinical practice, because the knowledge about the quality of life of patients with skin help to identify strategies of treatment and lead to the adoption of measures to reduce the impact of disease on patients and their families. KEY-WORDS: Quality of life. Atopic dermatitis. Child. 78 INTRODUÇÃO Durante muito tempo, o impacto das doenças sobre as pessoas foi medido simplesmente através dos índices de mortalidade. A partir da concepção ampliada de saúde, outras medidas têm sido desenvolvidas e aplicadas para aferir o comprometimento de determinadas doenças sobre a vida dos indivíduos. Nesse contexto surgiram os conceitos de Qualidade de Vida (QV) e de Qualidade de Vida Relacionada à Saúde (QVRS)1,2,3 . Atualmente, estas medidas têm sido amplamente utilizadas e são consideradas imprescindíveis na área da saúde para aprovar e definir tratamentos e avaliar custo/benefício do cuidado prestado4. O interesse despertado pelo tema propiciou o desenvolvimento de vários instrumentos, em todo o mundo, com o objetivo de avaliar a qualidade de vida de populações em geral (instrumentos genéricos) ou direcionados a grupos de indivíduos que sofrem de alguma doença aguda ou crônica (instrumentos específicos)5,6. De modo geral, o principal enfoque para as avaliações sobre qualidade de vida é direcionado às doenças crônicas, que causam grande impacto na vida dos pacientes7,8. Entre essas, as doenças dermatológicas se destacam porque interferem profundamente na vida dos indivíduos de diferentes maneiras, seja pelo prurido, pela aparência inestética ou por restrições causadas pelas lesões e pelo próprio tratamento. Comprovadamente causam forte impacto nas relações sociais, no estado psicológico e nas atividades cotidianas destes pacientes9. Assim, diversos instrumentos de mensuração de qualidade de vida específicos para doenças dermatológicas vêm sendo desenvolvidos, tanto para população adulta quanto para a pediátrica10-12. Neste contexto, a Dermatite Atópica (DA), pela cronicidade e caráter recidivante, pela elevada prevalência, pelo prurido intenso, pela perturbação do sono e das atividades diárias, pela associação potencial com a asma brônquica, é dermatose social e psicologicamente relevante, envolvendo o próprio paciente e também, de forma decisiva, todo o ambiente familiar e profissional13. Concomitante aos agravos da doença em si, existe também um impacto social, emocional e financeiro sobre a família dos pacientes. Pais de crianças acometidas relatam dificuldades na disciplina e no cuidado de seus filhos, devido principalmente à 79 privação do sono, exaustão, dificuldades no custo e na administração de medicação tópica e sistêmica14,15. A sobrecarga causada por cuidar desses pacientes gera conflitos entre os pais e também entre os filhos saudáveis do casal, alterando a estrutura familiar16,17. Considerando a relevância do tema e a carência de estudos nacionais, o presente estudo teve como objetivo avaliar a qualidade de vida de pacientes pediátricos acometidos por DA, estabelecendo correlações com escores de severidade da doença. MÉTODOS Este estudo foi desenvolvido em Montes Claros, ao Norte do Estado de Minas Gerais. A cidade representa o principal pólo urbano da região, contando com uma população de aproximadamente 360 mil habitantes. Trata-se de uma região carente e com indicadores socioeconômicos semelhantes às áreas mais pobres do País. A coleta de dados foi realizada ao longo de um ano (setembro/2007 a agosto/2008), quando foram recrutados pacientes com idade entre 6 e 59 meses, atendidos no Ambulatório de Dermatologia do Hospital Universitário Clemente de Faria, da Universidade Estadual de Montes Claros. Os pacientes foram divididos em dois grupos: um composto por crianças com DA, segundo os critérios diagnósticos de Hanifin e Rakja18 e outro grupo composto por crianças com outras dermatoses, estabelecido como controle. Não houve cálculo amostra, sendo os elementos alocados por conveniência, após divulgação do projeto entre os profissionais de saúde do município e solicitação de encaminhamentos específicos. Foram alocados apenas pacientes de primeira consulta, assistidos pelo Sistema Único de Saúde, cujos pais ou responsáveis concordassem com a participação no estudo. Para a coleta de dados os pacientes foram submetidos a um exame clínicodermatológico realizado por um dos pesquisadores e, em seguida, seus pais ou responsáveis responderam a dois questionários estruturados de QV. 80 A severidade da doença foi avaliada através do Eczema Area and Severity Index – EASI (Índice de Gravidade do Eczema por Área). O EASI foi desenvolvido por Hanifin et al. em 200119, e afere a gravidade da dermatose baseando-se na associação entre a presença de sinais clínicos – eritema, pápulas, escoriação e liquenificação – e a área de superfície corpórea acometida. A pontuação pode variar de 0 a 72, apresentando correlação entre uma maior pontuação e a gravidade da doença. Para o presente estudo, pacientes cujos índices EASI fossem iguais ou inferiores a 20 foram classificados como DA leve e pacientes com índices EASI acima de 20 foram classificados como DA grave. Foram utilizados como instrumentos de mensuração de QV: o Índice de Qualidade de Vida da Dermatite Atópica em Crianças – IDQOL – e o Impacto da Dermatite Atópica na Família – DFI, ambos validados para uso em língua portuguesa20,21. O IDQOL aborda os seguintes aspectos: alterações de sono, de humor, dificuldades em participar de atividades recreativas ou da vida familiar, desconforto durante banho, vestuário e refeições. É composto de dez questões, referentes à última semana do paciente, sendo respondido pelos pais dos pacientes20,22. O DFI é também composto por dez perguntas referentes aos efeitos da DA sobre diversos domínios da vida familiar – distúrbios emocionais, alterações do sono, alterações na limpeza da residência, na alimentação, nas atividades de lazer, no relacionamento dos pais e custos do tratamento e as questões também referemse à última semana15,20. A análise estatística foi realizada usando o software de SPSS, versão 15.0. A relação entre índices de gravidade da doença e os índices de qualidade de vida foi realizada através da correlação de Pearson. A comparação entre os grupos de pacientes com DA e outras dermatoses segundo a percepção de qualidade de vida foi realizada através do Teste de Mann-Witney. O nível de significância do presente estudo foi de 5% (p< 0.05). 81 O desenvolvimento da pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES) e os pais ou responsáveis assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, concordando em participar do estudo. RESULTADOS Foram incluídos no estudo 42 crianças com Dermatite Atópica, sendo 19 (45,2%) do gênero masculino e 23 do gênero feminino (54,8%). Para o grupo controle foram alocadas 44 crianças com outras dermatoses, sendo 20 (45,5%) do gênero masculino e 24 (54,5%) do gênero feminino. A idade mediana das crianças que participaram do estudo foi de 25,2 meses. As principais afecções dermatológicas do grupo controle foram dermatomicoses, impetigo, molusco contagioso, verruga vulgar e desordens das glândulas sudoríparas. A tabela 1 apresenta a classificação da gravidade da doença na percepção dos pais, permitindo identificar uma nítida diferença entre os dois grupos estudados. A correlação entre a qualidade de vida aferida pelo IDQOL e gravidade da dermatose segundo a avaliação dermatológica (EASI) bem como a correlação entre o impacto da DA sobre a família aferida pelo DFI e a avaliação dermatológica (EASI) são apresentadas no Gráfico 1. Os coeficientes de correlação de Pearson para as análises realizadas foram de r =0,219 (EASI x IDQOL) e r = 0,337 (EASI x DFI). Os valores dos escores apresentados para IDQOL, DFI e EASI são apresentados na Tabela 2, acompanhados dos respectivos valores mínimos, máximos, médias e seus desvios-padrão. A avaliação clínica da gravidade da DA, realizada através do EASI, demonstrou que a maioria dos pacientes apresentava formas leves da dermatose, com escores <20 pontos (Média: 9,2). A avaliação da gravidade segundo o ponto de vista dos pais revelou que a maioria considerava a doença como de média gravidade. 82 A análise do questionário de IDQOL dos pacientes com DA revelou que os domínios mais acometidos foram os que avaliam o prurido, a alteração de humor, os problemas com o tratamento e o desconforto durante o banho. Os domínios com menores escores foram os relacionados à interferência na participação de atividades familiares e ao tempo que a criança levou para conseguir dormir. A pontuação mínima foi um e a máxima 19 (média: 9,2). Em relação à pontuação do questionário DFI, observou-se maior impacto para os domínios que avaliam despesas com o tratamento, efeito sobre as compras da família, alteração do sono em outros membros da família e o eczema como causa de cansaço e exaustão para os familiares. Os menores escores foram relacionados aos efeitos sobre a relação do casal, sobre o trabalho doméstico e sobre a preparação de alimentos. A pontuação mínima foi um e a máxima 17 (média: 8,5). O grupo Controle apresentou para o IDQOL os maiores escores nos domínios prurido, dificuldades no tratamento e tempo para iniciar o sono. Os menores escores foram obtidos nos seguintes domínios: perturbação do sono, interferência em participação em atividades familiares e problemas na hora das refeições. A pontuação mínima foi zero e a máxima foi 9 (média:2,0). Quanto ao DFI, os maiores escores foram relacionados aos custos com a doença. Os domínios de maior impacto na QV dos pacientes com DA e dos pacientes do grupo controle estão apresentados na Tabela 3. DISCUSSÃO A dermatite atópica (DA) é uma doença inflamatória cutânea crônica, de caráter genético, caracterizada pela presença de episódios recorrentes de eczema associado a prurido, apresentando como substrato alterações imunológicas cutâneas que produzem inflamação, podendo estar eventualmente associada a outras formas de atopia, como asma e a rinite alérgica23,24. Embora os efeitos da DA sobre crianças e suas famílias sejam bem estabelecidos em diversos países, estudos desse tipo ainda são escassos no Brasil, especialmente em crianças menores de 5 anos. O presente estudo enfatizou a avaliação dessa população, 83 determinando através do uso de questionários de QV, o impacto da DA sobre os doentes e seus familiares. É necessário destacar que a interpretação dos resultados deste estudo deve ser realizada com a cautela diante das limitações encontradas. A primeira delas refere-se a amostra de conveniência alocada para o estudo, em um centro de referência, recém-implantado. O grupo de pacientes possuía, em sua maioria quadros leves de DA, não sendo, assim representativos de todos os pacientes com a doença. A limitação do estudo aos pacientes do Sistema Único de Saúde também representa uma limitação, pois não permitiu a inserção de pacientes de melhores níveis socioeconômicos. Em oposição às referidas limitações cumpre destacar que o perfil estudado é compatível com a maioria dos pacientes com DA em outros estudos25,26. A comparação entre a gravidade clínica da doença e sua avaliação pelos pais apresentou fraca correlação (r=0,306). A avaliação clínica demonstrou que a maioria dos pacientes apresentava DA leve (EASI ≤ 20), enquanto a maioria dos pais apontou a DA de seu filho como sendo de média severidade. Essa discrepância é evidenciada em alguns estudos, dentre eles, o realizado por Eiser et al27 , que relata que os pais em geral apresentam uma visão mais negativa da doença (curso, evolução) e de suas conseqüências sobre os filhos. O mesmo estudo evidenciou que os pais estão mais aptos a julgar os domínios relacionados a sintomas físicos (dor, prurido, cansaço, etc), porém não têm a mesma acurácia em julgar domínios emocionais e psicológicos (ansiedade, tristeza, etc)27. A análise do Gráfico 1 revela que, apesar de se observar uma correlação positiva entre a avaliação da gravidade aferida pelo EASI e a percepção familiar da QV, não se registra uma inclinação significativa das curvas (IDQOL ou DFI). Esse fato, já registrado em outro estudo nacional28, pode ser decorrente de uma amostra restrita (apenas 42 pacientes) ou pode ser decorrente do fato do grupo contar com a maioria dos seus pacientes classificados como DA leve. A maioria dos trabalhos publicados recentemente utilizando o IDQOL refere que as questões com mais altos escores, consideradas portanto como de maior 84 impacto na QV, são as relativas ao prurido (coçar/arranhar), alterações de humor e distúrbios do sono. As questões de menor impacto referem-se à interferência da DA nas atividades familiares e ao desconforto em vestir e despir a criança25,26. No presente estudo, o domínio do IDQOL que apresentou maiores escores foi também aquele relacionado ao prurido, estando em concordância com a literatura mundial, que tem como bem estabelecida a correlação entre prurido e QV. O prurido noturno acarretaria alterações na qualidade e quantidade do sono desses pacientes, ocasionando cansaço, irritabilidade, dificuldade de concentração e aprendizagem, mau desempenho escolar13. Em estudo realizado em Porto Alegre em 2004, Weber et al. demonstraram que esse sintoma estava presente diariamente em 74,2% da população estudada, sendo que pacientes com DA grave apresentam prurido mais intenso e freqüente do que os com doença leve e moderada29. O domínio relacionado à influência da DA sobre o humor também demonstrou ter impacto significativo na QV da população estudada. Esse fato corrobora com outros resultados internacionais, que apontam a existência de alteração de humor, hiperreatividade, irritabilidade e choro durante o dia e no momento da administração de medicações tópicas e sistêmicas30,31. Em relação ao DFI, o domínio relacionado ao custo econômico no manejo da doença (tratamento, consultas, roupas especiais, etc) foi o de maior impacto na QV dos familiares. Tal resultado difere de outros estudos, que apontam distúrbios do sono e cansaço/exaustão como sendo os domínios responsáveis pelo maior impacto32,33. Esta discrepância pode ser explicada pelas características socioeconômicas e regionais presentes em nossa amostra, visto que a mesma é formada por pacientes atendidos no Sistema Único de Saúde (SUS) de uma das regiões mais pobres do país. Apesar de não ser o fator de maior impacto na QV, o ônus do manejo desses pacientes é significativo e seus custos são comparáveis ao de doenças como psoríase e asma, sendo estimados em cerca de um bilhão anual nos Estados Unidos15,34. 85 Os domínios referentes ao cansaço/exaustão dos pais e às alterações de sono de outros membros da família também apontaram significativo impacto. O estudo australiano de Su et al., utilizando o DFI, concluiu que cuidar de pacientes com DA moderada e grave é mais estressante do que cuidar de crianças com diabetes insulino-dependente. Em pesquisa realizada na Suíça, Gånemo et al. avaliaram a QV de crianças e seus familiares utilizando simultaneamente o IDQOL, o DFI e o Índice de QV em Crianças (CDLQI). Os resultados mostraram concordância entre os escores obtidos nos três questionários, apontando prurido, perda de sono, alteração de humor, custo do tratamento e sentimento de culpa paternos como principais responsáveis pelo impacto sobre a QV (Gånemo, 2007). Os resultados do grupo controle para o IDQOL mostraram os maiores escores relacionados ao prurido e aos problemas relacionados ao tratamento, porém a pontuação alcançada nesses domínios foram significativamente menores que as dos pacientes com DA. A presença de dermatoses que cursam com prurido e desconforto físico, como escabiose, miliária e impetigo nos pacientes do grupo controle pode explicar esses resultados. Os resultados obtidos neste estudo estão em concordância com outros estudos internacionais, no que se refere à correlação entre a gravidade da DA e o impacto dessa dermatose sobre a QV dos pacientes e familiares. Reitera-se, portanto, o significativo impacto da DA sobre os pacientes pediátricos e a necessidade de utilizar instrumentos que permitam mensurar tal impacto. Faz-se cada vez mais necessário conhecer a percepção dos pacientes e seus familiares sobre sua própria doença, como ferramenta auxiliar para o médico na escolha de terapêutica adequada, melhorando a relação médico-paciente e sendo fator importante na melhora da QV desses indivíduos. REFERÊNCIAS 1. Minayo MCS, Hartz ZMA, Buss PM. Qualidade de vida e saúde: um debate necessário. Ciência & Saúde Coletiva. 2000;5(1):7-18. 86 2. Frisén, ANN. Measuring health-related quality of life in adolescence. Acta Paediatrica, 2007;96:963-68. 3. Martins GA, Arruda L, Mugnaini ASB. Validação de questionários de avaliação da qualidade de vida em pacientes de psoríase. An bras Dermatol. 2004;79(5):521-35. 4. Dantas RAS, Sawada NO, Malerbo MB. 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Archives of Disease in Childhood. 1997, 76: 15962. 90 TABELAS E GRÁFICOS Tabela 1 – Percepção dos pais sobre a gravidade do quadro dermatológico de seus filhos, segundo o grupo de patologias Dermatite Atópica Controle* Gravidade (n) (%) (n) (%) Nenhuma 1 2,4 21 47,4 Relativamente bem 12 28,6 18 40,9 Médio 18 42,9 5 11,4 Grave 8 19,0 0 0,0 Extremamente grave 3 7,1 0 0,0 (*) Outras doenças dermatológicas (ver texto) 91 Tabela 2 - Descrição do Impacto na família (DFI) Impacto na criança (IDQOL), Gravidade da Dermatite segundo grupo e do Índice EASI. Variável IDQOL DFI Gravidade EASI# Grupo Média Mediana Mínimo Máximo D.P Caso 9,2 9,0 1,0 19,0 5,0 Controle 2,0 1,0 0,0 9,0 2,2 Caso 8,5 8,5 1 17 4,4 Controle 1,0 1,0 0 5 1,3 Caso 2,0 2,0 0 4 0,9 Controle 0,6 1,0 0 2 0,7 Caso 8,7 2,8 22 4,1 9,2 Valor-p* 0,000 0,000 0,000 (*) teste Mann-whitney (#) Teste aplicável apenas ao grupo de pacientes com DA. 92 Tabela 3 - Domínios de maior impacto na Qualidade de Vida no IDQOL e DFI, segundo o grupo de afecções dermatológicas. IDQOL Domínio Prurido Grupo Controle* DA** Média 0,55 1,62 Desvio-Padrão 0,59 0,70 Alteração de Humor Controle DA 0,23 1,05 0,42 0,66 Dificuldades com Tratamento Controle DA 0,48 1,10 0,55 0,66 Grupo Controle DA Média 0,55 1,33 Desvio-Padrão 0,59 0,65 Controle DA 0,11 1,24 0,32 0,62 Controle 0,07 DA 1,12 (*) Outras dermatoses; (**) Dermatite atópica 0,25 0,77 DFI Domínio Despesas Compras da Família Alterações no Sono 93 30 25 IDQOL / DFI 20 15 10 EASI 5 IDQOL EASI 0 DFI 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 EASI Gráfico 1- Distribuição dos escores IDQOL/DFI em relação ao nível de severidade da dermatite atópica através do EASI. ANEXO A Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da UNIMONTES ANEXO B Consentimento Livre E Esclarecido Para Participação Em Pesquisa Título da pesquisa: Avaliação da qualidade de vida dos pacientes pediátricos com dermatite atópica da cidade de Montes Claros – Minas Gerais – Brasil ________________________________________________________________ Instituição promotora: Unimontes ________________________________________________________________ Patrocinador: A pesquisadora – Tassiana Mota Mourão Alvarenga ________________________________________________________________ Orientador: Dr. Antônio Caldeira Prates ________________________________________________________________ Atenção: Antes de aceitar participar desta pesquisa, é importante que você leia e compreenda a seguinte explicação sobre os procedimentos propostos. Esta declaração descreve o objetivo, metodologia/procedimentos, benefícios, riscos, desconfortos e precauções do estudo. Também descreve os procedimentos alternativos que estão disponíveis a você e o seu direito de sair do estudo a qualquer momento. Nenhuma garantia ou promessa pode ser feita sobre os resultados do estudo. 1- Objetivo Analisar o impacto da dermatite atópica na qualidade de vida de pacientes pediátricos da cidade de Montes Claros, através de instrumentos de avaliação específicos para esta dermatose. 2- Metodologia/procedimentos Este é um estudo analítico, transversal e faz uso de questionários de qualidade de vida para coletar informações de uma amostra específica. Será realizada com pacientes portadores de dermatite atópica que tenham entre 06 meses e 04 anos de idade. Este projeto coletará dados para compor uma tese de mestrado vinculada ao Programa de Pós-graduação em Ciênicas da Saúde da Unimontes. Inicialmente foi encaminhado ao Comitê de Ética da Unimontes, para aprovação tendo recebido parecer favorável para sua realização. Será encaminhado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em Pesquisa e todos os participantes deverão assinar o termo (incluindo a situação dos menores), mantendo o seu anonimato em todas as fases da coleta de dados. 3- Justificativa Este estudo pretende analisar o impacto da dermatite atópica na qualidade de vida de seus portadores, bem como de seus familiares. A avaliação da qualidade de vida é um método utilizado para descrever o quanto determinada doença – no caso, a dermatite atópica – interfere no cotidiano dos pacientes. 4- Benefícios A determinação e compreensão do impacto sobre a qualidade de vida nos portadores de dermatite atópica é importante no contexto de individualização do atendimento e do tratamento desses pacientes. Sua mensuração é importante instrumento para avaliar o real impacto da doença estudada sobre o dia-a-dia dos doentes e seus familiares, servindo como orientador das medidas necessárias para a melhora da qualidade de vida nessa população estudada. 5- Desconfortos e riscos Esta pesquisa não apresenta procedimentos que possam causar quaisquer danos a saúde física, mental e psicológica dos participantes. 6- Danos Nenhuma ação desta pesquisa causa danos aos sujeitos. 7-Metodologia/procedimentos alternativos disponíveis O estudo é simples, objetivo, não necessitando de nenhum procedimento que não esteja descrito anteriormente. 8-Confidencialidade das informações A pesquisa será desenvolvida tendo como centro a avaliação do grupo, sendo que nenhuma informação individual será divulgada. Os instrumentos não solicitam nomes dos envolvidos mantendo assim a confidencialidade e anonimato dos indivíduos. 9-Compensação/indenização Como a pesquisa não demanda nenhum tipo de risco físico, mental ou psicológico, não justifica cláusula sobre este item. 10- Outras informações pertinentes Os resultados serão divulgados na Tese de Mestrado da pesquisadora Tassiana Mota Mourão Alvarenga e em artigos científicos em parceria com o orientador desse trabalho. 11- Consentimento: Li e entendi as informações precedentes. Tive oportunidade de fazer perguntas e todas as minhas dúvidas foram respondidas a contento. Este formulário está sendo assinado voluntariamente por mim, indicando meu consentimento para participar nesta pesquisa, até que eu decida o contrário. Receberei uma cópia assinada deste consentimento. __________________________ Nome do participante __________________________ Nome da testemunha __________________________ __________________________ Assinatura do participante __________________________ Assinatura da testemunha ______ Data __________________________ Nome do coordenador da pesquisa Assinatura ______ Data Data ______ ANEXO C Autorização Formal Para Utilização dos Questionários IDQOL e DFI Dear Dr Alvarenga Thank you for your e-mail dated 9 December, I am interested to hear about your research work. I am pretty sure that they (IDQOL and DFI) have been used by Brazilian researchers, I would suggest you do a literature search to see whether you can identify any published abstracts or articles. I am happy to give you formal permission for you to use the Infants Dermatology Quality of Life Index and the Family Dermatology Quality of Life Index in your research project. Yours sincerely Professor Andrew Y Finlay Department of Dermatology School of Medicine Cardiff University Heath Park CARDIFF - CF14 4XN - Wales UK Tel: +44 (0)29 20 744721 Fax: +44 (0)29 20 744312 ANEXO D EASI – Índice de Gravidade do Eczema por Área É uma pontuação que considera: eritema, induração/pápulas, escoriação e liquenificação (0 a 3: 0 = nenhum, 3 = grave) e áreas de superfície corpórea comprometida (0 = nenhuma, 6 = 100%), dividindo-se o corpo em 4 áreas. Região corporal Pontuação EASI Cabeça/pescoço (E+I+Ex+L)x Área x 0,1 Membros superiores (E+I+Ex+L)x Área x 0,2 Tronco (E+I+Ex+L)x Área x 0,3 Membros inferiores (E+I+Ex+L)x Área x 0,4 EASI = Soma das pontuações das 4 regiões corporais. 1. Para crianças de 0 até 7 anos, as áreas proporcionais são: − cabeça/pescoço, 20%: membros superiores, 20%; tronco, 30%; membros inferiores, 30%. 2. E = Eritema, I = Induração/pápulas, Ex = escoriação, L = liquenificação. 3. A área afetada é definida em uma escala ordinal de 7 pontos: 0 = ausência de erupção; 1 = menor de 10%; 2 = ≥ 10%-29%; 3 = ≥ 30%-49%; 4= ≥ 50%-69%; 5 = ≥ 70%-89%; 6 = ≥ 90%-100% ANEXO E Índice de Qualidade de Vida Da Dermatite em Crianças (IDQOL) Gravidade da dermatite Ao longo da semana passada, quão grave você acha Extremamente grave que tem estado a dermatite de seu filho? Grave Ou seja, quão vermelha, descamativa, inflamada, Média espalhada. gravidade Relativamente bem Nenhuma Índice de Qualidade de Vida 1. Ao longo da semana passada, quanto seu Todo o tempo filho tem estado se coçando e se arranhando? Muito Um pouco Nada 2. Ao longo da semana passada, como tem Chorando sempre, estado o humor de seu filho? Extremamente dificil Muito irritável Levemente irritável Feliz 3. Ao longo da semana passada, aproximadamente quanto Mais de 2 horas tempo em média levou para conseguir que seu filho fosse 1 a 2 horas dormir a cada noite? 15 minutos/1hora 0-15 minutos 4. Ao longo da semana passada, quanto tempo, em média, 5 horas ou mais o sono de seu filho foi perturbado a cada noite? 3 - 4 horas 1 - 2 horas Menos de 1 hora 5. Ao longo da semana passada, o eczema de seu filho Muitíssimo interferiu com as atividades de brincar ou nadar? Muito Um pouco Nada 6. Ao longo da semana passada, o quanto o eczema de Muitíssimo seu filho interferiu com a participação de seu filho ou na Muito apreciação de outras atividades familiares? Um pouco Nada 7. Ao longo da semana passada, houve problemas com seu filho em na hora das refeições por causa do eczema? Muitíssimo Muito Um pouco Nada 8. Ao longo da semana passada, houve problemas Muitíssimo com seu filho por causa do tratamento? Muito Um pouco Nada 9. Ao longo da semana passada, o quanto vestir-se e Muitíssimo despir-se era desconfortável para seu filho por Muito causa do eczema? Um pouco Nada 10. Ao longo da semana passada, quanto seu filho Muitíssimo com eczema teve problemas na hora do banho? Muito Um pouco Nada Pontuação IDQOL Trata-se de questionário desenvolvido para uso em crianças com dermatite atópica de 0 a 4 anos de idade. É auto-explicativo e deve ser respondido pelos pais ou cuidadores regulares da criança. Ele pode ser completado em 2 a 3 minutos. A pontuação de cada questão segue o padrão abaixo: 1. Gravidade da dermatite (esta questão é pontuada separadamente do Índice de Qualidade de Vida) Extremamente grave 4 pontos Grave 3 pontos Médio 2 pontos Relativamente bem 1 ponto Nenhum 0 ponto 2. Índice de Qualidade de Vida Questões 1 e 5-10 Questão 2 Todo o tempo 3 pontos Chorando sempre Muito 2 pontos Extremamente difícil 2 pontos 1 ponto Nada 3 pontos Muito irritável 0 ponto Questão 3 Levemente irritável 0 ponto Questão 4 Mais de 2 hs 3 pontos 5 hs ou mais 3 pontos 1 - 2 horas 2 pontos 3-4 horas 2 pontos 15 min– 1 h 1 ponto 1-2 horas 1 ponto 0-15 minutos 0 ponto Menos de 1 h 0 ponto O IDQOL é calculado através da soma das pontuações de cada questão, resultando no máximo de 30 pontos. A gravidade do eczema pontua separadamente e pode ser relacionado com o a pontuação obtida no questionário IDQOL. ANEXO F O Impacto da Dermatite Atópica Infantil na Família (DFI) 1- Durante a ÚLTIMA SEMANA, qual foi o efeito provocado pela criança com eczema no trabalho de casa, por exemplo: lavar e limpar. [ ] muitíssimo [ ] muito [ ] um pouco [ ] nenhum 2- Durante a ÚLTIMA SEMANA, qual o efeito provocado pela criança com eczema na preparação e na alimentação. [ ] muitíssimo [ ] muito [ ] um pouco [ ] nenhum 3- Durante a ÚLTIMA SEMANA, qual foi o efeito provocado pela criança com eczema no sono dos outros membros da família. [ ] muitíssimo [ ] muito [ ] um pouco [ ] nenhum 4-Durante a ÚLTIMA SEMANA, qual foi o efeito provocado pela criança com eczema nas atividades de lazer da família, ex: natação. [ ] muitíssimo [ ] muito [ ] um pouco [ ] nenhum 5- Durante a ÚLTIMA SEMANA, qual foi o efeito provocado pela criança com eczema nas compras para a família. [ ] muitíssimo [ ] muito [ ] um pouco [ ] nenhum 6- Durante a ÚLTIMA SEMANA, qual foi o efeito provocado pela criança com eczema nas despesas, ex: custos com o tratamento, roupas, etc. [ ] muitíssimo [ ] muito [ ] um pouco [ ] nenhum 7- Durante a ÚLTIMA SEMANA, qual o efeito provocado pela criança com eczema ao causar cansaço ou exaustão nos pais ou responsáveis por ela. [ ] muitíssimo [ ] muito [ ] um pouco [ ] nenhum 8- Durante a ÚLTIMA SEMANA, qual o efeito provocado pela criança com eczema ao causar distúrbios emocionais tais como depressão, frustração ou culpa nos seus pais ou responsáveis. [ ] muitíssimo [ ] muito [ ] um pouco [ ] nenhum 9- Durante a ÚLTIMA SEMANA, qual o efeito provocado pela criança com eczema nas relações entre o principal responsável e o parceiro ou entre o principal responsável e as outras crianças na família. [ ] muitíssimo [ ] muito [ ] um pouco [ ] nenhum 10- Durante a ÚLTIMA SEMANA, qual o efeito provocado pela ajuda com o tratamento de seu filho na vida do principal responsável. [ ] muitíssimo [ ] muito [ ] um pouco [ ] nenhum Pontuação do DFI Questionário composto de 10 perguntas dirigidas aos pais dos pacientes portadores de dermatite atópica. A pontuação máxima é de 30 pontos e a mínima de 0 pontos. Quanto maior o escore alcançado, maior o impacto sentido pelos familiares. A pontuação varia de 0 a 3 pontos, sendo: − 0 referente à resposta Nenhum , − 1 à resposta Um pouco, − 2 à resposta Muito − 3 à resposta Muitíssimo. 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