CARTA ABERTA SOBRE O ENSINO DE FILOSOFIA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
CARTA ABERTA SOBRE O ENSINO DE FILOSOFIA NO ESTADO DO
AMAZONAS
Nós, estudantes e professores de Filosofia, participantes do Seminário
de Filosofia - Filosofia: formação e transformação, realizado nos dias 12 a
16 de setembro de 2011, na cidade de Manaus, na Universidade Federal do
Amazonas - UFAM, promovido pelo Departamento de Filosofia, refletimos e
dialogamos sobre a situação atual e as perspectivas do ensino de Filosofia
dentro de um contexto mais amplo e, em particular, o do Estado do Amazonas.
No decorrer do seminário, tivemos a oportunidade de refletir e debater
sobre questões inerentes aos processos pedagógicos do ensino de Filosofia,
suas particularidades, dificuldades, desafios e perspectivas em empreender
mediações, que possibilitem processos de ensino-aprendizagem, que cumpram
o papel EFETIVO da Filosofia na formação integral da pessoa.
As experiências compartilhadas nos permitiram perceber que estamos
diante de grandes desafios. Mesmo com a Lei nº 11.684, de 2 de junho de
2008, que alterou o art. 36 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que
estabelece as Diretrizes e Bases da Educação nacional (LDB), para incluir a
Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias em todas as séries do
ensino médio, constatamos ainda certa resistência na implementação
adequada dessa lei, seja de ordem operativa - no que concerne à
proporcionalidade de alunos e professores e condições materiais adequadas
para o ensino de Filosofia -, seja de ordem substancial, no que se refere à
compreensão da importância da Filosofia no ensino médio.
A
realidade
apresentada
por
alguns
participantes
desvela
a
complexidade e as dificuldades da prática docente no ensino de Filosofia:
poucas horas/aulas semanais e a falta de sensibilidade de alguns gestores
escolares quanto à importância do ensino de Filosofia; a imposição da
Secretaria Estadual de Educação (SEDUC), no que diz respeito aos conteúdos,
estratégias e recursos didáticos; a falta de incentivo à formação continuada de
professores de Filosofia; o excesso de turmas para cada professor e o número
elevado de alunos por turmas; a pouca receptividade por parte do corpo
docente das escolas estaduais com relação aos professores de Filosofia; a
necessidade de implementação de orientações pedagógicas apropriadas ao
ensino de Filosofia, dentre outros; além disso, os problemas político-sociais
pertinentes à estrutura do sistema de educação são questões enfrentadas
cotidianamente pelos professores no ensino de Filosofia.
Se, por um lado, temos um longo caminho a percorrer no que tange aos
conteúdos programáticos e mediações pedagógicas, por outro, deparamo-nos
com a precarização do sistema educacional público, voltado para uma
perspectiva mercantilista e de orientação liberal, que não preza pela
valorização profissional docente, mas se volta prioritariamente ao atendimento
quantitativo de determinadas metas estabelecidas, sem a participação da
sociedade e sem a preocupação qualitativa do ensino. Atualmente, os
profissionais da educação estão submetidos a condições inadequadas para
exercer a docência, demonstrando, na prática, que a viabilização de uma
aprendizagem crítica da realidade está distante de sua efetivação legal e
concreta.
Percebemos,
ainda,
dificuldades
acerca
do
estabelecimento
de
consensos em torno dos conteúdos programáticos, que possam atender as
demandas do ensino de Filosofia, bem como mediações pedagógicas, que
possibilitem um processo de aprendizagem adequado ao ensino de Filosofia,
resguardando
suas
particularidades,
mas
também
propiciando
uma
interdisciplinaridade, para cumprir a proposta do ensino de Filosofia no nível
médio e, dessa forma, contribuir na construção de processos educativos
voltados à reflexão crítica da realidade.
Essas inquietações e reflexões nos remetem aos desafios que precisam
ser superados coletivamente, por meio da promoção de espaços de debates e
proposições, que possam acolher as demandas externadas pelos professores
e alunos que vivenciam a prática docente e escolar. Percebemos que
precisamos aprofundar análises sobre o sistema educacional; compreender a
realidade juvenil, tendo presente o seu olhar de mundo; dialogar sobre
processos de aprendizagens adequados ao ensino de Filosofia; refletir sobre
um conjunto de conteúdos que possam representar um programa político-social
e pedagógico; suscitar uma reflexão crítica da realidade e promover espaços
de interações interdisciplinares, que possibilitem construir uma perspectiva de
ensino capaz de promover processos educativos reflexivos críticos.
Considerando os aspectos expostos, frutos, em certa medida, das
intervenções proferidas no decorrer do seminário, parece-nos oportuno
apresentar como caminho possível o diálogo entre as diversas instituições de
ensino superior de filosofia existentes no Estado do Amazonas com as
Secretarias Municipal e Estadual de Educação, com vistas a aprofundar as
reflexões suscitadas durante o evento e empreender debates que promovam o
intercâmbio, a pesquisa e a elaboração de procedimentos que contribuam nos
processos de aprendizagem do ensino de filosofia.
Não ignoramos as dificuldades e os desafios que estão em nosso
horizonte, mas também estamos conscientes de que os obstáculos existentes
são superáveis, desde que haja um esforço coletivo e participativo. Também
estamos conscientes da nossa participação como protagonistas na luta pela
superação das desigualdades sociais e pela participação efetiva de todos os
segmentos da sociedade no exercício pleno da cidadania. Por isso, tornamos
público para a sociedade amazonense e brasileira nossas inquietações, mas
com elas nossas aspirações e anseios, com a certeza de que, por meio de uma
educação de qualidade, poderemos contribuir para a construção de uma
sociedade equitativamente justa e igualitária.
Manaus, 16 de Setembro de 2011.
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