Nota sôbre a hidratação enzimática do ácido aconítico POR Kurt P. Jacobsohn e João Tapadinhas Numa série de trabalhos, JACOBSOHN e seus colaboradores (L) demonstraram a especificidade pronunciada da fumàrico-hidratase estabelecendo com ela e com outros fermentos activos sôbre o ácido fumarico o grupo das fumarases (2). Entre outros ácidos alifaticos não saturados, também, o ácido aconítico (3) se mostrou resistente à acção de várias preparações fermentativas; a sua hidratação com formação de ácido cítrico só recentemente foi efectuada por MARTIUS e KNOOP (4) que empregaram, como substrato, em vez do ácido aconítico trans, o composto isómero eis (5). Porém, estes autores supõem que essa hidratação, realizada, em presença dum extrato de fígado, obtido segundo JACOBSOHN, seja efectuada por um fermento ou seja uma hidratase idêntica à fumàrico-hidratase, hipótese essa que nos parece pouco provável em virtude da especificidade estrutural dêste enzima, já mencionada. E, de facto conseguimos demonstrar a presença dum novo enzima, duma aconitase. Verificámos que uma aconitase não se encontra só em muitos orgãos e humores animais de que se obtêm preparações sêcas activas, mediante tratamento com acetona e éter, mas que êsse enzima deve ter um importante papel, também, no metabolismo vegetal, podendo ser pesquisada a sua presença nas sementes de muitos cereais e outros vegetais. Também as bactérias Coli contêm o fermento. O que demonstra, todavia a existência duma aco- A HIDRATAÇÃO ENZIMÁTICA DO ÁCIDO ACONÍTICO 11 nitase específica é o facto da hidratação do ácido aconítico eis pelas folhas de Mespihis germanica, L, que não contêm a fumarico-hidratase (6). Resulta esta conclusão também do comportamento diferente da fumarase e da aconitase para com certos tóxicos celulares: ao passo que a acção da fumàrico-hidratase (7) quási não é atingida pelo fluoreto de sódio, êste tóxico paralisa quási completamente a aconitase, e, vive-versa, a fumarase é inactivada em presença do ácido mono-iodo-acético e isto em concentrações (6) em que a transformação do ácido acônítico em ácido cítrico se realiza fàcilmente. A hidratação enzimática do ácido fumárico foi demonstrada por determinação polarimétrica do ácido 1-málico formado (8). O ácido cítrico foi doseado segundo PUCHEK, SHERMAN e VicKERY (9) por via colorimétrica. Não se fizeram por emquanto, observações cinéticas, visto que o equilíbrio enzimático entre o ácido cítrico e o ácido aconítico é alterado, em virtude da transformação simultânea do segundo em ácido isocítrico, que não dá reacção corada, e além disto, por isomerização não específica do ácido aconítico eis no derivado trans. Quanto ao papel fisiológico da fermentação cítrica, estudada já há muito, MARTIUS e KNOOP admitem o esquema seguinte: H 'I HO — C - C O O H I H2C-COOH ácido cítrico I HC-COOH H,C —COOH 11 —» C-COOH I H1C-COOH ácido aconítico HO-C-COOH 4X- -H 2 I HC-COOH I H2C-COOH ácido isocítrico O = C COOH I -CO2 H2 C I H2-CCOOH ácido a-ceto-glutárico Explica-se, por consequência, o aparecimento do ácido a-ceto-glutárico pela hidratação do ácido aconítico com formação do ácido isocítrico que é deshidrogenado e decarboxilado em seguida. Deve admitir-se, portanto não só a existência duma aconitase /3 que estabelece o equilíbrio entre o ácido aconítico e o ácido cítrico que é um /j-hidroxiácido, mas ainda, por emquanto a título hipotético, a duma aconitase a que produz a formação do ácido isocítrico fixando o grupo hidroxilo na posição a. R E V I S T A D E QUÍMICA P U R A E A P L I C A D A 12 BIBLIOGRAFIA 1) Ver C. OPPENHEIMER, die Fermente und ihre Wirkungen, Suplem. S. 1540, 1938. 2) K. P . JABOBSOHNj Soe. Biol., 124, 1028, 1937; K . P . JACOBSOHN e M . S O A R E S Enzymologia, 3, 164, 1937. 3) A . DA C R U Z e J . T A P A D I N H A S , S o e . B i o l . , 1 1 0 , 1 0 6 1 , 4) C . MARTIUS e F . KNOOP, ZS. phys. Chem., 2 4 6 , 1 , 1 9 3 6 ; 2 4 7 , 1 0 4 , 1 9 3 7 ; ver 1932. 5) R . MALACHOWSKI, Ber. Chem. Ges , 6 1 , 2 5 2 4 , 6) A . DA CRUZ, Soe. Biol., 1 0 8 , 1 9 8 , 1 9 3 1 . 7) K . P . JACOBSOHN e J . T A P A D I N H A S , S o e . B i o l . 1 1 8 , 1 1 1 0 , 8) G . W . PUCHER, C. C. SHERMAN e H . B . V I C K E R Y , J l . uf. Biol. Chem , 1 1 3 , 2 3 5 , K . BERNHAUER, N. Bockl, Bioch. Zs., 253, 25, 1932. 1936. 1928. 1955.