Acidulação De Rochas Fosfáticas Para Obtenção De àcido

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Acidulação de Rochas
Fosfáticas para Obtenção
de Ácido Fosfórico
Adão Benvindo da Luz
Fernando Antonio Freitas Lins
1. Introdução
O objetivo do presente trabalho foi estudar a obtenção de ácido fosfórico pela
acidulação com ácido sulfúrico, de rochas fosfáticas . O ácido fosfórico a ser produzido
deverá aproximar-se das características de um produto comercial.
A importância do ácido fosfórico na indústria de fertilizantes , tem aumentado
bastante nos últimos anos . A principal aplicação está na indústria de fertilizantes , tais
como superfosfato triplo e fertilizantes combinados.
Basicamente existem dois métodos comerciais para a fabricação de ácido fosfórico:
processo a forno elétrico e o processo por via úmida. Entre estes dois, o processo por
via úmida tem exercido um papel mais importante na indústria de fertilizantes. Em vista
disso, este processo tem se difundido mais rapidamente do que o processo a forno
elétrico.
O processo a forno elétrico, produz um ácido de alta pureza, porém bastante caro,
tornando sua utilização proibitiva na manufatura de fertilizantes sólidos . É usado
principalmente na indústria de detergente, na fabricação de fertilizantes líquidos e em
outros produtos mais caros.
O processo via-úmida normalmente produz um ácido fosfórico com impurezas,
porém mais barato, daí ser um processo mais difundido .
Processo a Fomo Elétrlco
Neste processo o elemento fósforo é produzido pela redução eletrotérmica com
carbono (coque). A silica adicionada ao forno. comporta-se como um ácido forte a altas
83
'I
li,I
ii
temperaturas (1500°C) e combina com o cálcio , proveniente da rocha fosfática , para
formar silicato de cálc io .
A reação principal , negligenciando os constituintes não fosfáticos: pode ser
expressa desta forma :
2
ca 3
(Po,i ) 2 + 6 sio 2 + 10 c
----7 P 4 +
6 ( eao. Sio ) + 10 co
2
Na produção do ácido fosfórico , o elemento fósforo condensado é queimado ao ar e
o vapor de óxido de fósforo (P4 o10 ) formado , reage com água para produzir ácido
fosfórico , segundo as reações :
ar
p4
r)
P Lfé'-··10
_....
P 0 O + 6 H O
2
4 1
/ 4 H Po
3
4
A vartagem deste processo está na sua habilidade de usar concentrado de baixo
teor, onde a principal impureza é sílica. Além do mais, as impurezas de AI203 e Fe203
são menos detrimentais no processo a forno elétrico do que no processo a úmido.
Um concentrado com fosfato silicoso com mais de 24% P2 0s e contendo até 7% de
(AI203 e Fe203) é aceitável. Como inconveniente , acrescenta-se que normalmente
esses concentrados não possuem granulometria e re.>istência mecânica adequadas para
carga de forno . Daí a necessidade de uma etapa de aglomeração , geralmente sinterização ou nodu llzação, antes de carregar o forno, concorrendo assim para encarecer
mais o processo .
Processo Via-úmida
O objetivo básico de qualquer método para produção de ácido fosfórico a partir de
rochas fosfáticas, usando ácidos diversos, normalmente o sulfúrico, é obter ácido
fosfórico com a máxima concentração possível , com o máximo rendimento. Este
depende principalmente da interação da rocha com o ácido e a eficiência de separação
do ácido fosfórico na filtração. As características de tamanho e forma dos cristais de
sulfato de cálcio, formados durante as reações de acidulação com H2S04, são fatores
de fundamental importância na filtração e, conseqüentemente, na produção do ácido
fosfórico. Quando a rocha é atacada com o ácido, a rede cristalina dos minerais de
fosfato é destruída e o fosfato t solubilizado, dando como produto o ácido fosfórico .
Embora o ácido fosfórico possa ser produzido pela ação do ácido clorídrico ou do
ác ido nítrico sobre fosfatos naturais , a natureza solúvel dos sais contidos nos produtos
resultantes faz com que a separação do ácido fosfórico seja difícil ou comercialmente
impraticável. As reações que descrevem a ação destes ácidos no material fosfático são :
ca (P0 ) F 2 + 20 HN0 •
10
3
4 6
Ca
10
(P0 ) F + 20 HC1
4 6 2
o) 10 Ca (N0)
)10 CaCl
2
2 + 2 HF + 6 H3Po 4
+ 2 HF + 6 H Po
3 4
.,ii
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Por outro lado, os produtos obtidos quando a rocha fosfática é tratada com ácido
sulfúrico são ácido fosfórico e su lfato de cálcio . O último sendo um composto
relativarrfê'hte insolúvel, pode ser mais facilmente separado do ácido por filtração . Por
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84
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esta razão, do ponto de vista prático, o ácido sulfúrico é o único ácido inorgânico
considerado comercialmente aplicàvel na manufatura de ácido fosfórico por via-úmida.
A acidulação com ácido sulfúrico, consiste da reação deste com rochas fosfáticas
e Fe203 no material a ser atacado, sejam reduzidos
É d.esejável que os teores de セQ R PS@
previamente a menos de 4,5%. ·
A reação de obtenção do H3P04 poderia ser assim apresentada:
+ co +
ca10 (l'0 4 ) 6 F2 caco + 11 n 2 so ---711caso + 2 HF + H o
3
4
2
4
2
+ 6 H Po
3
4
O CaS04 formando nesta reação pode se apresentar de três formas:
Anidrita -
CaS04
Sarni-hidratado -
CaS04. 1/2 H20
Di-hidratado- CaS0 4 2 H20
Cada uma das formas em que se apresenta o CaS04, ou combinação desses,
constitui-se num processo, o qual depende da temperatura da reação e da concentração
de P205 no ácido fosfórico (fig. 1).
Entre esses três processos básicos de acidulação com H2S04, o mais usado é
aquele em que o sulfato de cálcio se apresenta na forma di-hidratada.
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Processo di-hidratado
A maior parte do ácido fosfórico produzido no mundo é obtido segundo este
processo. Consiste em atacar, セoGA@
_Hz,l?Q4 (93% ), rochas fosfáticas, as quais セ・カュ@
ter
granuiometria adequada (5 - 55%) abaixo de 200 malhas. A mistura é mantida em
agitação durante 4 - 6 h para que se tenha a completa digestão dos minerais de fosfato.
A temperatura e a concentração (28 - 32% P105 nO\ fase liquida) devem ser controladas
85
de modo a assegurar uma completa reação, bem como o. çresc..imen_to !;!Qs .cristais de
sulfato de cálcio a uma tamanho e forma convenientes, indispensáveis a uma boa
filtração .
Principais parâmetros que infuenciam o processo:
a) Características da rocha: rochas fosfáticas de diferentes depósitos variam
bastante na sua composição . Estas variações têm Importantes efeitos na fabricação de
ácido fosfórico. O efeito das Impurezas na produção do ácido fosfórico tem sido muito
discutido. Existem impurezas que são detrimentais e outras que deixam de ser. A
verdade é que, para certos tipos de Impurezas, é difícil prever os efeitos pelo simples
conhecimento da composição química e mineralógica da rocha. Vejamos o efeito de
algumas impurezas:
CaO - A relação CaO: P205 determina o ácido necessário. O CaO, poderá ser
proveniente do minerais de fosfato ou de carbonato de cálcio. Este, quando em
quantidades elevadas, se não for removido por calcinação, poderá provocar a formação
de espumas, diminuindo assim a capacidade efetiva desses reatares. Para evitar essas
espumas teria que ser usado anti-espumante.
Impurezas orgânicas - Quando presentes a partir de uma certa quantidade provocam a
formação de espuma e interferem na filtração. Nesse caso teria que ser removido por
calcinação. Por outro lado, pequenas quantidades podent melhorar o crescimento dos
cristais.
Si0 2 - Partículas muito finas(< 50)-l) podem interferir na filtração, particularmente se
estas reagirem com o ácido, formando um precipitado gelatinoso.
Fluor- Pode causar a corrosão do sistema e a formação de lodo . Alguns compostos de
fluor podem interferir na filtração.
Fe203 e AI203- Os compostos de ferro e alumríio geralmente são considerados como
indesejáveis devido à formação de lodo (sludge) no ácido produzido e possíveis efeitos
adversos na filtração.
í ,-·;··
b) Excesso de ácido sulfúrico: A quantidade de H2S04 no sistema afeta o tamanho e
a forma dos cristais de CaS04 formados na reação. Acima de um certo limite pode
causar a cristalização da gipsita na superflcie das partlculas da rocha, bloqueando a
reação.
c) Temperatura: Baixas temperaturas aumentam a viscosidade da polpa e prejudicam
o crescimento dos cristais. Altas temperaturas eliminam essas inconveniências, mas
por outro lado, provocam a formação do semi-hldratado, aumentando a corrosão e a
solubilidade das impurezas, que mais tarde se precipitam como lodo.
d) Densidade da mistura: A polpa deverá ser extremamente uniforme e a sua
densidade pode variar de 25 a 40% dependendo das condições de operação. O controle
da densidade poderá ser feito pela reciclagem do ácido diluído (18 a 20% P20 5),
proveniente da lavagem do resíduo .
e) Eficiência do processo: A recuperação Incompleta do fosfato pode ser atrlbulda a
uma ou mais das .s eguintes causas:
dissolução Incompleta da rocha
lavagem Incompleta do reslduo (cake)
substituição de rons de fosfato na rede cristalina de glpsita
perdas mecânicas (gás, derramamento de liquido).
Normalmente a principal perda é devido à substituição do fosfato na rede cristalina dá
glpslta. Esta pode ser minimizada, mantendo-se um excesso ótlmo de H2S04 tão alto
quanto possível e uma vigorosa agitação a fim de evitar pontos localizados <ie baixa
concentração de H2S04.
86
f) Corrosão: Normalmente cohstitui-se num grande problema devido à natureza
corrosiva do ácido e dos vapores envolvidos. Há, portanto, necessidade do uso de
equipamento especial anti-corrosivo, o que pode em alguns casos, causar problemas
quanto a economicidade do processo.
2. Material e Métodos
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Dentre os diversos processos descritos na introdução desse trabalho, elegeu-se para
estudo o processo di-hidratado. É um processo via úmida que consiste na acidulação de
rochas fosfáticas, com ácido sulfúrico, onde a sua característica principal é a cristalização de sulfato de cálcio na forma di-hidratada. A reação poderia ser representada
pela equação:
,1(rOA ), :E'r, + lO lL,SOii
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O
1-
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r
+ 20 II 2 0 --710 Caso _. 2H 2 ü + 2 HF
4
n3Po 4
+ 6
Nos ensaios realizados foi utilizado amostra do Fosfato Patos de Minas, previamente
concentrado or flotação. O mineral portador de fosfato é a fluor-apatita. A análise
química dos concen rados apresentou os seguintes resultados:
IP2051 ;eo
27,6
TESTE A
TESTE B
I 27 ' 7
I
Sio
34,0
l-;e 2 o 3
2
24,0
PJ.203
2,7
l
6,0
I
36,0 1 25,0
.
i
-
2,3
5,4
Os experimentos foram conduzidos em reator, mantendo-se a temperatura em torno
de 63°C, agitação contínua da polpa, fluxo contínuo de ácido sulfúrico e ácido fosfórico
diluído para o reator (fig. 2), com adições periódicas do concentrado de fosfato. O
concentrado foi adicionado ao reator em quantidade um pouco inferior à requerida para a
reação completa, a fim de se manter um leve excesso de ácido. sulfúrico no sistema. O
H3P04 adicionado ao reato r, chamado de "heel", tem a função de prover a formação da
polpa inicial e determina a concentração do ácido a ser produzido. As quantidades dos
componentes da polpa foram estequiometricamente calculadas de modo a se obter
ácido fosfórico comerciável, na solubilização completa dos minerais fosfáticos.
As principais etapas na obtenção do ácido fosfórico consistiram de:
a) Reação da rocha fosfática com o ácido sulfúrico para a formação do ácido
fosfórico (H3P04) e sulfato de cálcio (gipsita);
b) Separação dos resíduos (sulfato de cálcio e sílica) do ácido fosfórico por filtração;
c) Lavagem dos resíduos sólidos para remover o ácido fosfórico residual.
Decorridas quatro horas, tempo suposto necessário para a digestão dos minerais de
fosfato, a polpa era filtrada, obtendo-se um primeiro filtrado (filter acid) e através da
lavagem do resíduo, um segundo filtrado. O primeiro e segundo filtrados e o resíduo
foram dosados para P205, Fe203 e AI203.
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Fig_ 2- Aparelhagem usada nos experimentos
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3. ·Resultados e Di:..cussão
Neste trabalho pretendeu-se, a priori , levantar o problema da tecnologia de obtenção
de ácido fosfórico , pela acidulação de concentrados de rocha fosfática. Os ensaios
real izados tiveram caráter exploratório , não havendo, nesta oportunidade , preocupação
de investigar a otimização do processo. Assim sendo, apesar dos resultados terem se
apresentado promissores , não se pretende afirmar que um concentrado fosfático com
essas características químicas seja viável para a produção de ácido fosfórico. Há,
portanto, necessidade de aprofundar mais o estudo, a fim de melhorar a velocidade de
filtração, concentração do ácido em P205 e outros itens que se fizerem necessários tais
como, densidade e viscosidade da polpa, índ ice de reatividade, excesso de H2S04,
temperatura, corrosão , eficiência do processo , etc .
P!)los resultados obtidos (tab. 1 ), puderam ser feitas as seguintes considerações
finais:
a) A extração de P205 de 91-95%(tab . 3) pode ser considerada satisfatória e
demonstrando por outro lado, a alta reatividade da rocha;
b) Os resultados de filtração de 96 a 130 kg P205/ m21h (tab. 3) , estiveram nos
limites inferiores dos valores requeridos para filtração , quando da acidulação de um
concentrado (segundo Slack3, a velocidade adequada de filtração varia de 140 a valores
superiores a 1000kg P20slm21h) ;
c) O ácido fosfórico obtido , aproxima-se das características de um ácido fosfórico
comercial (tab. 2), excessão feita a concentração em P205;
d) O objetivo de solubilizar o mínimo possível as impurezas (AI203 e Fe203) foi
aparentemente alcançado, principalmente o AI203, mostrando assim que o processo
di-hidratado seria recomendado.
Tabela 1 セ
M M
Balanço Metalúrgico dos Diversos Constituintes
M
M M
M
M MM
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Alimentação
- concentrado
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734,0 6,8 49,7
0,2
2a filtrado
238,0 1,2
2,9 . 3,8
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resÍduo
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2,6
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0,5
5,9
0,2
Tabela 2 -
Comparação dos Produtos Obtidos com um Ãcido Fosfórico Comercial
PRODUTO COMERCIAL
%P205
(FLÓRIDA)
30.0
l!l Filt. (TESTE·A)
24-5
2!l Filt. (TESTE B)
Mセ
M
M
セM
Tabela 3 -
セ
M
M
M
,.
セ@
22.8
M
%F
%Al203
%Fe 2o
0.5
2.5
o.g
1.1
0.1
0.1
0.3
0.5
0.4
0.5
CaO
O.l
L...____ _ _ _ セ⦅@
M
M
セ@
0.2
Mセ
セ
3
M
Velocidade de Filtração do Ãcido Fosfórico nos Experimentos Realizados
EX!l'RAÇIO P2o
5
TESTE
J.
TESTE
B
VELOCIDADE DE FimRAÇlO
2
96kgP20.jm /h
Yセ@
l.30kgP2o ;m2/h
5
91."
4. Bibliografia
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90
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