TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Econômica ROBÔS: A NOVA

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TRABALHOS TÉCNICOS
Divisão Econômica
ROBÔS: A NOVA FRONTEIRA
Luiz Claudio de Pinho Almeida
Economista
Robôs: amigos úteis e parceiros da humanidade?
Ou sinistros observadores, pacientemente controlando posições na indústria pesada,
militar, na agricultura e nos lares, preparando-se para tomar o poder de seus criadores?
As questões relacionadas à robótica, suas consequências econômicas e sociais, foram,
pela primeira vez, tratadas com maestria pelo escritor – e também PhD em Bioquímica e um
dos grandes mestres de ficção científica do século passado – Isaac Asimov, judeu russo por
nascimento, radicado nos EUA desde menino. Dentre outras obras, talvez a mais conhecida e
posteriormente levada às telas, seja Eu, Robô. Nesse livro, são apresentadas as Três Leis da
Robótica, criadas como condição de coexistência dos robôs com os seres humanos, como
prevenção contra qualquer perigo que a inteligência artificial pudesse representar à
humanidade.
São elas:
1ª Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano
sofra algum mal.
2ª Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto em
casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei.
3ª Um robô deve proteger a sua própria existência, desde que tal ato não entre em conflito
com a Primeira e Segunda Leis.
O livro, escrito em 1950 e que retrata um mundo em 2035, é sem dúvida uma das
obras mais visionárias já produzidas, principalmente quando observamos o atual estado de
evolução da robótica, quer para uso na área industrial, como na médica, domiciliar e
experimental – no último caso, com ensaios que já levam o robô a “pensar” e a “decidir” a
partir de uma cadeia lógica de sua unidade de inteligência artificial. Mas, conquanto esse
desenvolvimento do robô autônomo – como o apresentado em Guerra nas Estrelas, por
exemplo – ainda seja incipiente, nas outras áreas se traduz por uma realidade em que os países
desenvolvidos vêm apostando, utilizando-a nas cadeias de produção, com excelentes
resultados.
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Especificamente em relação a robôs industriais, estima-se que 2,1 milhões de unidades
foram colocados no mercado desde 1961, quando o primeiro e emblemático modelo, o
“Unimate” (na verdade, um braço de metal móvel) passou a fazer parte da linha de montagem
da GM, na fábrica de Nova Jersey. Hoje, 50 anos depois, existem 1,1 milhões de robôs em
operação no mundo inteiro e a produção de novos modelos atinge 115 mil unidades por ano,
oriundos de fabricantes com, no máximo, 15 anos em atividade. Ou seja, é uma atividade
ainda muito nova e que, conjugada com o avanço da informática, tem um imenso e
inexplorado campo pela frente.
O Japão é o país com o maior número de robôs industriais em operação, somando 276
mil; os EUA ocupam a segunda posição, com 210 mil, seguidos pela Alemanha, com 153 mil,
e Coreia, com 123 mil. A China opera com 100 mil robôs, mas tem uma taxa de inclusão de
novas unidades tão expressiva que irá ultrapassar a Alemanha já em 2015. Grande parte dos
robôs industriais é utilizada na indústria automotiva, que vem instalando 40 mil novas
unidades por ano, ao lado das indústrias de produtos eletrônicos e metalúrgicos, que são
outras grandes demandantes do equipamento. Embora sem estatísticas confiáveis, estima-se
que o Brasil tenha hoje apenas 4 mil robôs em uso.
O uso intensivo de robôs também é uma meta que vem sendo perseguida pelos setores
militares de muitos países, especialmente nos EUA. Desde aviões espiões a robôs que
desmontam minas terrestres, as aplicações são inúmeras e a produção já atinge 14 mil
unidades por ano. Mas, nesse setor, as estrelas, ainda em fase experimental, são robôs
construídos com ligas de carbono e outros materiais, que os tornam flexíveis e capazes de se
deslocar em terrenos alagados, de se comprimir e camuflar em pequenos buracos e,
principalmente, de constituir o exoesqueleto a ser “vestido” por soldados, dotando-os de
força, velocidade e resistência, antes impensáveis.
Já os robôs domésticos – sonho de consumo das donas de casa no mundo inteiro –, se
ainda estão muito longe de se parecer com o modelo imortalizado no desenho animado “Os
Jetsons”, já cumprem múltiplas tarefas simples, como varrer, aspirar e encerar o chão, assim
como lavar janelas. Já existem modelos que cortam grama e outros que controlam a
iluminação e a temperatura de uma casa. Mas a maioria não tem a aparência idealizada de um
robô, sendo, na verdade, equipamentos programados para fazer as tarefas determinadas,
seguindo modelos de sequência lógica. Já no campo do entretenimento, os robôs apresentamse como figuras idealizadas e, dependendo da sofisticação dos programas instalados, são
capazes de “falar” e até de “responder” a perguntas, como também demonstram outras
habilidades relacionadas à mobilidade. Outra geração, que já está no mercado e é objeto de
intenso desenvolvimento, compõe-se de máquinas que podem andar, correr, mover objetos,
vigiar a casa e até tomar conta de crianças.
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Conforme já observado, no Brasil, o uso dos robôs ainda é muito restrito. De acordo
com Jackson Matsuura, professor da área de Sistemas de Controle do ITA (Instituto
Tecnológico de Aeronáutica) e coordenador da seleção brasileira de robótica, “o país tem
qualidade de pesquisa teórica muito boa, mas aplicação industrial muito restrita”. Ou seja, os
projetos não saem do papel. Segundo ele, “isto se deve à falta de atuação da indústria no
segmento e ao pouquíssimo investimento feito pelo governo”. Explica ainda que “faltam
verbas específicas e políticas de desenvolvimento para o setor e tudo o que é feito de pesquisa
e projetos no Brasil está ligado às universidades”.
Diferentemente daqui, o Japão está em outro patamar em relação à robótica. Lá, não só
as indústrias participam do desenvolvimento e da pesquisa como são as maiores
patrocinadoras, lançando no mercado vários modelos de robôs. Além disso, o Estado também
tem atuação muito forte, trabalhando em conjunto com as universidades.
Um bom exemplo de atuação do Estado no financiamento está na cidade japonesa de
Osaka. Lá, o poder municipal é um dos que mais investe no setor. A universidade municipal
de Osaka criou a ‘Cidade dos Robôs’, um prédio habitado por robôs e humanos, que será
utilizado para pesquisar a interatividade entre as máquinas e os homens.
Ainda milhas distante dessa realidade, a cidade de São Carlos, no interior paulista,
que alberga um dos campos da Universidade de São Paulo (USP), receberá o primeiro centro
de robótica no País. Segundo Marco Henrique Terra, coordenador do futuro centro, “existem
vários laboratórios brasileiros que fazem pesquisa em robótica, mas falta um instituto
nacional, uma referência”. A sede do centro deverá ficar pronta em 2013 e a proposta
inicial é aglutinar, em um mesmo espaço, pesquisadores e estudantes da Escola de
Engenharia de São Carlos (EESC) e do Instituto de Ciências Matemáticas e
de Computação (ICMC), num total de 10 profissionais. Entretanto, como nos países
referência no campo, a contratação de profissionais pela indústria deve ser um objetivo
central.
Até que a sede do centro fique pronta, os esforços estarão centrados na unificação
das pesquisas que já ocorrem nos laboratórios da universidade, principalmente para que
os pesquisadores promovam o intercâmbio de resultados. O coordenador do centro defende
que não há condições de o País tentar competir com os centros de pesquisa nos EUA, Europa
e Japão. “Porém, será um enorme avanço se conseguirmos criar condições apropriadas para o
intercâmbio de pesquisadores com esses centros e se atuarmos para desenvolver nichos
específicos que se ajustem às nossas necessidades, como a agricultura e a exploração do présal.” Aliás, cabe um parêntese para ressaltar que a Petrobras mantém um laboratório de
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robótica internamente e se sabe que projetos de robôs vêm sendo desenvolvidos, visando sua
utilização na exploração do petróleo em profundidades extremas, especialmente abaixo da
camada do pré-sal. No entanto, não se tem nenhuma informação mais específica do projeto.
O novo centro também agregará esforços em campos que já estão sendo desenvolvidos
pelos laboratórios da universidade, como o de reabilitação médica. A propósito, alguns
avanços vêm sendo verificados – no Brasil – na área de saúde, e quatro anos após a chegada
dos robôs para cirurgia minimamente invasiva em hospitais particulares do Brasil, o Inca
(Instituto Nacional de Câncer), no Rio, também terá a tecnologia. Será o primeiro hospital
público do País (e o primeiro fora de São Paulo) a fazer cirurgias robóticas, o que deve
ocorrer a partir do segundo semestre de 2012.
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