Geodésia 1. Introdução A Geodésia é a ciência que estuda o conjunto de métodos e procedimentos adotados para definir a forma e dimensão da Terra. Etimologicamente, a palavra Geodésia é de origem grega Geo-Terra e Daisia-medição significando medição da Terra. Através de observações da superfície terrestre ou fora dela, sua forma e suas dimensões são determinadas através de coordenadas das posições de pontos, comprimentos e direções de linhas da superfície terrestre, bem como as variações de seu campo gravitacional. Atualmente com a revolução da eletrônica aliada a era dos satélites artificiais proporcionaram novos e atraentes rumos à Geodésica. Podem-se enumerar diversas utilidades em outros campos que fogem seu interesse específico como: monitoramento das marés terrestres, controle do movimento de placas tectônicas, detecção de movimentos verticais da crosta, controle de grandes obras de engenharia, tornando difícil definir exatamente geodésica e delimitar seus campos de aplicação. 2. Divisão da Geodésia Para fins de atingir seus objetivos a Geodésia é dividida em três ramos. 2.1. Geodésia Geométrica: determina as coordenadas de pontos, comprimentos e azimutes sobre a superfície da terra (medidas de ângulos e distâncias). 2.2. Geodésia Física: mede o campo de gravidade da Terra ou a direção e magnitude das forças que mantêm os corpos na superfície e atmosfera terrestre. 2.3. Geodésia por Satélite ou Geodésia Celeste: estuda a determinação de pontos da superfície terrestre ou em volta desta, utilizando técnicas espaciais de posicionamento através dos satélites artificiais. 3. Modelos da Terra 3.1. Esfera: O modelo esférico pode ser utilizado para representar a superfície terrestre. Em situações específicas, utiliza uma “esfera particular de adaptação de Gauss” cujo raio é igual o raio médio da curvatura da Terra. 3.1.1. Sistemas de coordenadas esféricas: Um ponto na superfície terrestre, considerando o seu formato esférico é definido através de suas coordenadas curvilíneas, latitude (Φ) e longitude (λ). Figura 3.1: Sistema de coordenadas esféricas Latitude Geográfica (Φ) - é o ângulo (em graus, minutos e segundos) formado pela linha vertical passando perpendicularmente pelo ponto P até o centro de massa da Terra com sua projeção no plano equatorial. No hemisfério norte a latitude é positiva e negativa para o hemisfério sul, variando de 0º a ± 90° tendo como origem o plano do equador. Longitude Geográfica (λ) - é o ângulo (em graus, minutos e segundos) formado pelo meridiano do ponto (meridiano do lugar) com o meridiano origem de Greenwich (meridiano zero), até o seu meridiano oposto chamado de antimeridiano, variando de 0º a ± 180º, considerada positiva a leste e negativa a oeste de Greenwich. 3.2. Elipsóide de Revolução: o estudo de uma figura geométrica com um tratamento matemático menos complexo, levou os geodesista a adotarem o elipsóide de revolução. Esta figura matemática, teórica, sem existência física, apresenta um melhor ajuste em relação à superfície real da Terra (superfície da Terra onde é feito as medições geodésicas) e a figura Geoidal, resultante de medidas da força da gravidade. Figura 3.2: Elipsóide de Revolução Um elipsóide de revolução fica perfeitamente definido por meio de dois parâmetros, o semi-eixo maior a e o semi-eixo menor b figura 3.2. Em Geodésia, o elipsóide é tradicionalmente definido pelos parâmetros a e achatamento f. Sendo α=(a-b)/a f=1/ α O elipsóide Hayford foi durante muito tempo o elipsóide adotado no Brasil, recomendado pela Assembléia Geral da Associação Internacional de Geodésia, IAG, da União de Geodésia e Geofísica Internacional em Madri, no ano de 1974, como o Elipsóide de Referência Internacional. Os parâmetros do Elipsóide de Referência de Hayford são: a=6.378.388m f=1/ α=297 O IBGE, a partir de 1976, passou a recomendar a utilização do Elipsóide de Referência Internacional 1967 (ERI 67), cujos parâmetros são: a=6.378.160m f=1/ α=298.25 O atual Sistema Geodésico Brasileiro é as SIRGAS, Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas, implantado e mantido pelo IBGE, a partir do ano de 2005 em sua realização no ano de 2000 (SIRGAS 2000). Este sistema tem suas coordenadas dos pontos da superfície terrestre obtida através do sistema GPS e associado ao elipsóide GRS 80, apresentando as seguintes características: a=6.378.137m f=1/ α =298,25 Tabela 1: Parâmetros de alguns elipsóides terrestres. Semi-eixo maior a(m) Semi-eixo maior b(m) Achatamento (f) BESSEL (1841) 6.377.397,150 6.356.078,971 299,153 CLARKE (1880) 6.378.249,200 6.356.514,924 293,465 HAYFORD (1924) 6.378.388,000 6.356.911,95 297,000 ERI-1967 6.378.160,000 6.356.774,504 298,250 WGS-84 (1984)* 6.378.137,000 6.356.752,298 298,257 GRS80 (1980)* 6.378.137m Elipsóide 6.356.752,314 298,257 * Elipsóides realizados pelo posicionamento GPS 3.2.1. Sistemas de coordenadas Geodésicas ou Elipsóidicas As coordenadas Geodésica ou Elipsóidica são a latitude geodésica ou elipsódica e a longitude geodésica ou elipsóidica, mostradas na figura abaixo. Figura 3.3: Sistemas de coordenadas Geodésicas ou Elipsóidicas A linha perpendicular que passa pelo ponto P e chega até o ponto O no centro do elipsóide é chamada de normal de P. A latitude geodésica ou elipsóidica φ do ponto P é definida como o ângulo entre a normal ao elipsóide que passa por P e o plano equatorial elipsóidico. A longitude geodésica ou elipsóidica λ do ponto P é o ângulo formado entre o meridiano origem e o meridiano de P. A variação das coordenadas geodésicas é a mesma das coordenadas esféricas. O segmento PP” é dividido em dois segmentos PP’ e PP”. O segmento PP” é chamado de Grande Normal e o segmento PP’ Pequena Normal. 3.2.2. Grande Normal e Pequena Normal Na figura 3.3, o segmento PP’ é a Pequena Normal. Os seus comprimentos variam com a latitude. Podemos observar que, quando a latitude de um ponto situado no elipsóide é igual a zero, ou seja. Quando o ponto se encontra no equador, o comprimento da Grande Normal é igual ao comprimento do semi-eixo maior (a) do elipsóide. À medida que a latitude vai aumentando, o valor da Grande Normal também cresce. A Grande Normal será apresentada por GN ou N, enquanto que a Pequena Normal por PN. Calculamos o comprimento da Pequena e Grande Normal pelas seguintes fórmulas: Sendo PN=Pequena Normal N=Grande Normal λ= Longitude Geodésica Φ= Latitude Geodésica a=Semi-eixo maior e²=Excentricidade ao quadrado A excentricidade traduz a divergência entre a elipse e a circunferência. A excentricidade usada em geodésia é a excentricidade ao quadrado. e²= (a² - b²)/ a² Conhecendo-se o valor de N, para um mesmo elipsóide, pode-se calcular PN multiplicando o valor de N por (1-e²). 3.2.3. Sistemas de coordenadas Geodésicas Cartesianas Tridimensionais e Elipsoidais. Figura 3.4 Sistema de coordenadas cartesianas associadas ao sistema global As coordenadas geodésicas cartesianas tridimensionais de um ponto de coordenadas curvilíneas Φ e λ, são as coordenadas retilíneas referidas a um sistema de eixos cartesianos tridimensionais, conforme a figura a seguir: Figura 3.4 Sistema de coordenadas cartesianas e elipsoidal Um sistema de coordenadas cartesianas está associado ao sistema global e possui as seguintes características: a) Orígem geocêntrica (o), no centro de massa do Elipsóide. b) O eixo Z coincide com o eixo de rotação, ou linha Norte Sul geográfico. c) O plano do equador é perpendicular ao eixo Z e contém os eixos X e Y. d) O eixo X passa pelo meridiano de Greenwich (MGr), sendo que o plano XZ é gerado por este meridiano e pelo eixo de rotação da Terra. e) O eixo Y forma um ângulo de 90°, no sentido anti-horário, com o eixo X. As relações entre as coordenadas cartesianas e geodésicas são dadas pelas fórmulas seguintes, (Silva et al,1997): Para calcular as coordenadas geodésicas cartesianas de um ponto, deve-se conhecer além das coordenadas elipsóidicas do ponto, os valores da Grande e Pequena Normal do mesmo ponto. Antes do desenvolvimento da tecnologia GPS, essas coordenadas não tinha uma aplicação prática. As coordenadas obtidas pelo rastreador de satélites são geocêntricas cartesianas ou tridimensionais, geocêntricas porque são referidas ao centro da Terra, cartesianas tridimensionais porque referidas a um sistema de três eixos X, Y e Z. 3.3 Geóide Figura 3.5 Superfície do Geóide Sabemos que a Terra está em movimento de rotação e sua massa está distribuída de forma irregular. Desta forma existem infinitas superfícies de nível de mesma gravidade chamadas de superfícies equipotenciais terrestres caracterizadas por não ser paralelas e nem tampouco esféricas, achatadas nos pólos. O geóide é uma superfície ondulada, não possui uma forma geométrica conhecida e por isso não é usada para posicionar pontos das redes geodésicas horizontais na superfície terrestre, pois o seu tratamento em termos matemático se torna muito complexo em função de sua geometria irregular. Chamamos de linha de força a linha perpendicular a uma superfície equipotencial. A reta tangente a linha de força num lugar é chamada de vertical do lugar e materializado pelo fio de prumo do teodolito. Podemos definir o Geóide como uma superfície que coincide com o nível médio dos mares, livre de perturbações, prolongado sob os continentes e serve como referência para as altitudes ortométricas. Altitude ortométrica Figura 3.6: Superfície física da Terra e do Geóide é a distância entre o Geóide e a superfície física da Terra, ao longo da vertical do ponto considerado. O ponto de origem para as medidas das altitudes está localizado na cidade de Imbituba, estado de Santa Catarina. A rede geodésica vertical brasileira utiliza este ponto como referência altimétrica para suporte em nivelamentos topográficos. 4. Altitudes Geodésicas Geométrica e Ortométrica Para definir a altura de um ponto situado na superfície topográfica, isto é, a superfície real com suas elevações e depressões onde são realizadas as medições de grandezas, tais como: distâncias, ângulos e coordenadas dos pontos, utiliza-se a altura Geométrica e a Ortométrica. A altura Ortométrica está relacionada com o geóide e é a distância contada ao longo da vertical em um ponto na superfície da Terra até o Geóide, obtida através de nivelamento topográfico. A altitude geométrica ou altura elipsoidal está relacionada com o Elipsóide e é a distância contada ao longo da normal até o Elipsóide, determinada pelo sistema GPS. Figura 3.7: Relação entre as altitudes Geométricas e Ortométricas Onde h=altitude Geométrica elipsoidal H=altitude Ortométrica d=desvio da vertical N=altura ou ondulação geoidal A quantidade N é a medida da separação ou do desnível entre a superfície do Geóide e o Elipsóide. Observando a figura acima, nota-se que a linha que passa pelo ponto A na superfície da Terra chega perpendicularmente ao Elipsóide, já a linha que passa pelo mesmo ponto atinge o Geóide também na perpendicular. Essas linhas não são coincidentes, nem paralelas devido às peculiaridades geométricas de cada superfície, já dito anteriormente (Geóide e Elipsóide). Sendo assim essas duas linhas formam entre si um ângulo δ, chamado desvio da vertical. A relação entre essas alturas é dada através da fórmula: h=N + Hcosd O valor de “δ” é sempre menor que 0°01’00”, causando um erro muito pequeno, próximo de zero (0,4mm). Considerando-se cos(d)=cos(0)=1, pode-se fazer a seguinte aproximação: a normal e a vertical estão numa mesma reta, chamada projeção de Helmert (Simões, 19980), porém pela pequena diferença entre as retas referidas, pode-se considerar: h=N + H 5. Sistemas de coordenadas Geodésicas Cartesianas Tridimensionais e Elipsoidais Espaciais. A altitude geométrica, quando o ponto está situado na superfície física (real) da Terra, deve ser considerada, pois as coordenadas estarão, agora, definidas na superfície topográfica. As coordenadas elipsóidicas espaciais curvilíneas do ponto ficam definidas como Φ, λ e h, latitude, longitude e altitude Geométrica respectivamente. Figura 3.8: Coordenadas Geodésicas Elipsóidicas e cartesianas na superfície real da Terra P a r a o c á l c ulo das coordenadas Cartesianas Tridimensionais para a superfície topográfica, deve-se acrescentar à Grande Normal e à Pequena Normal ao valor de h conforme as fórmulas a seguir: Os receptores GPS fornecem coordenadas cartesianas e na maioria das vezes precisamos das coordenadas elipsoidais. As coordenadas curvilíneas podem ser calculadas em função das cartesianas diretamente por: Φ= arctg((Z+e’² b sen³u)/p-e² a cos³u) u= latitude provisória para h=0, u=arctg(Za/pb) p= raio de paralelo, p=√X² + Y² e²= primeira extremidade ao quadrado, e²= (a² - b²)/a² e’²= segunda extremidade ao quadrado, e’²= (a² - b²)/b² h= (p/cosΦ) – N N= Grande Normal λ= arctg(Y/X)