Relato de Caso Reabilitação Vestibular em Síndrome do Roubo da Subclávia Vestibular Rehabilitation in Subclavian Steal Syndrome Daniela Affonso Moreira*, Juliano Marcelo de Nadai**, Edson Carlos Miranda Monteiro***. * Fonoaudióloga Especialista em Audiologia pelo IEAA; Responsável pelo setor de Otoneurologia do Instituto Promur. ** Médico Ex-residente em Otorrinolaringologia do Instituto Promur. *** Mestre e Doutor em Otorrinolaringologia pela UNIFESP-SP; Coordenador da Residência em Otorrinolaringologia do Instituto Promur. Instituição: Instituto Programa Multidisciplinar de Reabilitação (PROMUR). Endereço para correspondência: Daniela Affonso Moreira – Rua Caçador, 409 – São Paulo / SP – CEP 02073-000 – Telefone: (11) 6901-0776 / 9967-6947 – E-mail: [email protected] Artigo recebido em 3 de outubro de 2005. Artigo aceito com modificações em 10 de janeiro de 2006. RESUMO Introdução: A Síndrome do Roubo da Subclávia é uma doença pouco freqüente e apresenta como sintomas comuns a tontura, a síncope e distúrbios visuais, sendo precipitada por exercícios que envolvem os membros superiores. Estes sintomas são causados pelo fluxo retrógrado de sangue através da artéria vertebral para a artéria subclávia. Objetivo: Relatar um caso clínico de Síndrome do Roubo da Subclávia, os aspectos fisiopatológicos, o diagnóstico e a eficácia do tratamento pela abordagem otoneurológica através da reabilitação vestibular. Relato do Caso: Paciente de 56 anos, sexo masculino, com diagnóstico de Síndrome do Roubo da Subclávia, foi encaminhado para a reabilitação vestibular, com queixa de tontura, zumbido e desequilíbrio após tratamento cirúrgico. Paciente evoluiu com uma melhora de 85% do quadro após 6 meses de tratamento. Conclusão: A melhora do quadro clínico mostrou ser a somatória de vários fatores, em que a reabilitação vestibular teve papel de destaque, sendo útil e complementar ao tratamento pós-cirúrgico. Unitermos: síndrome do roubo da subclávia, tontura, reabilitação vestibular, desequilíbrio, testes da função vestibular. SUMMARY Introduction: The subclavian steal syndrome is an unusual pathology that presents with vertigo, syncope and visual disturbances, which are often precipitated by exercises involving upper extremity. These symptoms are caused by retrograde flow of blood through the vertebral artery to the subclavian artery. Objective: To report a clinic case of subclavian steal syndrome, aspects of pathophysiology, diagnosis and efficacy of treatment with a neurotological approach by vestibular rehabilitation. Case Report: A 56 years old male patient with previous diagnosis of subclavian steal syndrome was referred to us for vestibular rehabilitation. His complaints after the surgical treatment of the subclavian steal syndrome were dizziness, tinnitus and imbalance. The patient recovered 85% 6 months after the beginning of the treatment. Conclusion: The improvement of this case was a summation of various factors in which the vestibular rehabilitation had a crucial role being useful and complementary to the post-surgery treatment. Keywords: subclavian steal syndrome, dizziness, vestibular rehabilitation, imbalance, vestibular function tests. 148 Arq. Int. Otorrinolaringol. / Intl. Arch. Otorhinolaryngol., São Paulo, v.10, n.2, p. 148-153, 2006. Moreira DA INTRODUÇÃO A irrigação do labirinto, do nervo vestibulococlear, bem como das vias auditivas e vestibulares do tronco encefálico e cerebelo provém do sistema vertebrobasilar. Seu comprometimento pode causar isquemia no labirinto, no tronco encefálico ou em ambos (1). A artéria subclávia emerge diretamente do arco aórtico à esquerda e do tronco braquiocefálico à direita. A artéria vertebral, primeiro e mais importante ramo da artéria subclávia, corre posteriormente e medialmente penetrando no forame do processo transverso da primeira vértebra cervical (C1). As artérias vertebrais percorrem a superfície anterior da medula, formando a artéria basilar ao nível da ponte. Esta formação única fornece sangue para o cordão espinhal superior, medula, cerebelo, labirinto, cóclea, tálamo, córtex occipital e porções do lobo temporal (2) e transportam aproximadamente 30% da irrigação cerebral (3). A síndrome do roubo da subclávia e os resultantes distúrbios circulatórios cerebrais devem-se à oclusão da artéria subclávia entre a sua origem na aorta e a origem da artéria vertebral (3). Em virtude da redução na pressão da artéria subclávia distalmente à obstrução, o sangue flui anterogradamente pela artéria vertebral contralateral, chega à artéria basilar e desce retrogradamente pela artéria vertebral ipsilateral, para suprir a circulação colateral para a extremidade superior. Dessa forma, o suprimento sangüíneo é seqüestrado do sistema basilar e pode comprometer o fluxo sangüíneo encefálico regional e total (4). A síndrome do roubo de fluxo coronário-subclávia é uma alteração orgânica pouco freqüente, com incidência de 0,4% (5) a 3,4% (6), predominante no sexo masculino na proporção de 3:1, e mais presente na quinta e sexta décadas de vida (7). pacientes (64%), os sintomas não puderam ser claramente categorizados como vertebrobasilar onde se incluía a cefaléia, a turvação visual, a diplopia e a tontura (8). SMITH et al (1994) acompanharam 59 pacientes com sintomas secundários de síndrome do roubo da subclávia por um período de 14 anos, onde observaram que os sintomas mais comuns foram a vertigem, a síncope e a fraqueza (9). A literatura sobre a síndrome do roubo da subclávia é escassa, mas os trabalhos existentes mostram que, apesar da variedade de sintomas destes pacientes, o exame físico é um método fidedigno de triagem para esta desordem (8). Sinais como pulso ausente ou diferenças consideráveis da amplitude dos pulsos e da pressão sangüínea entre os membros superiores podem estar relacionados à síndrome do roubo da subclávia, mas o diagnóstico definitivo é firmado pela arteriografia (2). Os poucos casos relatados na literatura apresentam testes auditivos e vestibulares e nos alerta face aos freqüentes sintomas labirínticos encontrados nas pessoas idosas que podem apresentar esta doença com outras alterações de natureza cerebral (2). O tratamento cirúrgico é indicado para o alívio dos sintomas incapacitantes e para melhorar o fluxo sangüíneo intracraniano. Foi observada uma resposta benéfica em 94% dos pacientes submetidos à cirurgia. Apenas 6% não tiveram resultado, apresentando tontura como sintoma isolado (8). Em virtude da relação entre o sistema vertebrobasilar e o sistema vestibular associado à escassez na literatura com uma múltipla abordagem otoneurológica, o objetivo deste trabalho é apresentar um caso de síndrome do roubo da subclávia e a descrição de todo o processo clínico e terapêutico. RELATO DE CASO HEIDRICH (1968) dividiu as manifestações clínicas do roubo da subclávia em quatro grupos de sintomas: puramente cerebral, cerebral associado a queixas de braço, apenas queixas relacionadas ao braço e casos assintomáticos. Do total, 75% dos pacientes tinham manifestações cerebrais que incluíam tontura (75%), cefaléia (43%), distúrbios visuais (35%), ataque de síncope (25%), ataxia (11%), distúrbio de fala (11%), perda auditiva (8,3%), distúrbio de sono (4,2%) e 15% tinham queixas de braço (7). LAWSON et al (1979), ao estudarem 35 pacientes com oclusão da subclávia, observaram 31 pacientes (88%) com sintomas relacionados ao sistema nervoso central, e que a síncope, a vertigem e a ataxia foram atribuídas a 14 pacientes (45%) por insuficiência vertebrobasilar. Em 20 Arq. Int. Otorrinolaringol. / Intl. Arch. Otorhinolaryngol., São Paulo, v.10, n.2, p. 148-153, 2006. Paciente do sexo masculino, 56 anos de idade, casado, gerente de transportes, hipertenso e obeso, iniciou com episódios de visão dupla como sintoma em várias situações, como televisores ou carros sobrepostos, acompanhado de sensação de flutuação e instabilidade indefinida. O quadro evoluiu para episódios de vertigem fugaz e extrema palidez com duração de aproximadamente trinta segundos. Os sintomas vertiginosos apresentaram-se lentamente progressivos, evoluindo para novo quadro de tontura rotatória associada a enjôo, mal-estar e visão turva, seguido de “dropp-attacks” pós-esforço físico. Foi encaminhado ao pronto socorro, sendo constatada uma diferença da medida da pressão arterial aferida 149 Moreira DA entre membros superiores associados à queixa de síncope. Assim, o paciente foi internado aos cuidados da cirurgia vascular, tendo como hipótese diagnóstica síndrome do roubo da subclávia. A hipótese foi confirmada após realização de eco-doppler e angiografia de carótidas e sistema vertebrobasilar. Imediatamente, foi submetido ao tratamento cirúrgico com anastomose (“shunt”) entre a artéria carótida comum esquerda e a artéria subclávia esquerda. O paciente evoluiu satisfatoriamente e a angioressonância póscirúrgica demonstrou o êxito no restabelecimento do fluxo sanguíneo pela artéria subclávia esquerda. Dez meses após a cirurgia, paciente relatou que as crises vertiginosas e as diplopias cessaram, mas as tonturas e mal-estar ainda persistiam. O paciente procurou, então, a equipe de otorrinolaringologia do nosso serviço, com queixa principal de tontura não-rotatória, com intensidade variável e freqüência estabilizada, náusea, turvação visual, sensação de mal-estar constante e flutuação. Referiu concomitantemente plenitude aural e zumbido bilateral tipo apito esporádico, mais intenso em orelha esquerda, associado à sensação de síncope. Relatou como fator de piora o abaixar da cabeça e em lugares altos e movimentados, e como fator de melhora quando permanecia sentado com os olhos fechados. Apresentava sinais de depressão e insegurança, problemas na memória, na concentração e no contato social. A propedêutica incluiu exame físico geral, provas de equilíbrio estático e dinâmico, provas cerebelares e exame otoneurológico. As provas de equilíbrio estático (Romberg, Romberg-Barré e Unterberger) apresentaramse alteradas com oscilação e lateropulsão para ambos os lados, mais intensos com os olhos fechados. As provas de equilíbrio dinâmico foram positivas e as provas cerebelares normais. A avaliação audiológica revelou perda auditiva a partir de 6000 Hz, com configurações descendentes bilateral, curvas timpanométricas tipo A e reflexos dos músculos estapédios contralaterais presentes bilateralmente. A vectoeletronistagmografia computadorizada apresentouse normal. Foi iniciado tratamento medicamentoso com bloqueadores de canais de cálcio (cinarizina 25 mg VO 8/ 8 hs), vasodilatador direto (piracetam 400 mg VO 8/8 hs), antihistamínico anticolinérgico (dimenidrato 50 mg VO 8/ 8 hs), antiagregante e modulador de fluxo na microcirculaçao (Egb 761- 120 mg VO 12/12 hs). Devido à melhora discreta e insuficiente dos sintomas, o paciente foi encaminhado para o programa de reabilitação vestibular, seguindo o protocolo estabelecido por nosso serviço. 150 Processo de reabilitação vestibular O paciente comparecia na clínica uma vez por semana, com duração de 30 a 45 minutos por sessão e os exercícios eram supervisionados no consultório e realizados em casa 2 a 3 vezes por dia, numa série de 10 movimentos repetitivos. Primeiramente, o paciente recebeu uma explicação sobre o labirinto e sua fisiologia. Recebeu orientação sobre a diminuição da cafeína e uma tentativa de substituição pelo café descafeinado e a correção de erros alimentares, já que referia tomar de 10 a 12 xícaras de café por dia e abusar de comidas gordurosas e temperadas. O paciente iniciou com exercícios de olhos, cabeça, tronco e relaxamento, selecionados do protocolo de CAWTHORNE & COOKSEY (1946) (10). Os exercícios de movimento de cabeça proporcionavam aumento de peso na cabeça e, consequentemente, levava a um aumento da sensação de instabilidade. Foram utilizadas as manobras de Brandt-Daroff e Dix-Hallpike como complementação dos exercícios. Progressivamente, observou-se uma melhora da tontura quanto à intensidade, porém a freqüência permanecia a mesma, assim como o zumbido. Foram introduzidos também exercícios que visassem a estimulação do reflexo vestíbulo-ocular, incluindo a estimulação optocinética com o uso do tambor optocinético nos planos horizontal, vertical e oblíquo, com duração de dez a quinze minutos no final de cada sessão, na tentativa de diminuir os sintomas provocados pela cinetose. No início, paciente relatou desconforto e instabilidade na estimulação optocinética, mas depois passou a executar os movimentos normalmente. Com a melhora gradativa da vertigem e do zumbido, iniciou-se o processo de desmame da medicação. Os exercícios de ganho de equilíbrio estático e dinâmico, baseados no protocolo da Associazione Otologi Ospedalieri Italiani (AOOI), foram preconizados, devido à queixa de instabilidade durante a caminhada. Ao longo do processo da reabilitação, o paciente referiu melhora de 70% em três meses. Eventualmente, apresentava ainda mal-estar indefinido com duração de minutos. Nessas situações, havia uma escuta por parte da terapeuta na tentativa de entender melhor o que estava acontecendo com ele e uma atenção especial era dada quanto ao sono, alimentação e estado psicológico, em que paciente e terapeuta discutiam esses fatores. Após seis meses, obteve uma melhora geral de 85% Arq. Int. Otorrinolaringol. / Intl. Arch. Otorhinolaryngol., São Paulo, v.10, n.2, p. 148-153, 2006. Moreira DA nos aspectos vestibulares e psíquicos. No entanto, com a melhora dos sintomas, o próprio paciente suspendeu os exercícios, voltou a tomar café e alimentar-se inadequadamente, fato que corroborou com retorno dos sintomas, todavia, menos intensos. Novas recomendações foram preconizadas e no momento ele encontra-se bem no estado geral de saúde. Passou a fazer restrição da cafeína e a introdução de exercícios aeróbicos e caminhadas durante meia hora, adaptando os exercícios da terapia na academia. Está com a vida mais regrada e estável fisica e psicologicamente. Atualmente, faz uso de cinarizina associada ao piracetam uma vez ao dia, e mantém-se estável, e sem crises. DISCUSSÃO Podemos observar uma riqueza de sintomas otoneurológicos no caso apresentado de síndrome do roubo da subclávia, provavelmente advindos de uma insuficiência do sistema vertebrobasilar. A diminuição do fluxo sangüíneo no sistema vertebrobasilar pode originar crises vertiginosas, instabilidade, desequilíbrio, tendências à quedas, quedas, incoordenação, perda auditiva, zumbido, confusão mental, cefaléia, fraqueza nas extremidades, pré-síncopes, síncopes, alucinações ou falhas no campo visual, diplopia, disartria, disfagia, etc. Ela pode apresentar-se com uma forma intermitente, em que os sintomas surgem com modificações posicionais da cabeça e/ou do corpo que reduzem o fluxo de sangue para o labirinto (1). No caso relatado, o paciente iniciou com quadro de diplopia e vertigem abrupta de curta duração, associada à náusea, sudorese e “drop-attacks”, sintomas que são provocados pela isquemia de outras áreas supridas pela circulação posterior. O equilíbrio estava comprometido pelo suprimento sangüíneo. A oclusão aguda do sistema arterial e de suas colaterais causa hemiplegia e déficits sensórios unilaterais. Se a oclusão se desenvolver lentamente, ocorrem inicialmente ataques isquêmicos cerebrais tipo “drop attacks”, episódio em que o indivíduo perde o tônus muscular e sofre uma queda, sem, todavia, perder a consciência (3). A vectoeletronistagmografia não mostrou nenhuma evidência de hipofunção unilateral e anormalidade oculomotora. Os testes de equilíbrio acrescentaram com informações valiosas a respeito da disfunção, já que nestes os reflexos vestíbulo-espinhais foram avaliados. Arq. Int. Otorrinolaringol. / Intl. Arch. Otorhinolaryngol., São Paulo, v.10, n.2, p. 148-153, 2006. Nos testes de equilíbrio, o paciente exibiu uma instabilidade postural estática, observada nos testes de Romberg e Romberg-Barré. Embora de maneira não eficiente, ele mantém a capacidade de usar as informações vestibulares para manter uma posição ortostática. Além disso, ele apresentou uma instabilidade postural dinâmica com a rotação cefálica, durante a deambulação. Diante dessas observações, foram selecionados exercícios que provocariam de maneira gradativa um conflito sensorial entre as informações vestibulares, visuais e proprioceptivas. Optou-se por exercícios mais simples e menos estimulantes para os mais complexos, ou seja, aqueles que provocassem maior conflito sensorial. Assim, diante de um conflito sensorial, uma estimulação repetitiva conduz a um processo adaptativo, que é a habituação. Por isso, o paciente foi encorajado e orientado a seguir rigorosamente os exercícios, mesmo que inicialmente eles possam causar a sensação de piora do quadro clínico. Dessa forma, a compensação se torna mais efetiva quando a situação de conflito é apresentada repetitivamente. A compensação é o mecanismo de recuperação funcional do desequilíbrio corporal causado pela lesão vestibular. A compensação ocorre nos núcleos vestibulares do tronco encefálico e é otimizada por fenômenos de plasticidade neural que aumentam a eficiência sináptica, tornando funcionantes sinapses inativas e criando um número maior de sinapses (11). A associação da medicação com os exercícios de reabilitação vestibular acelera esse processo de compensação vestibular, sendo este o objetivo de qualquer tratamento de patologia vestibular. Um dos aspectos cruciais ao iniciar o tratamento é o esclarecimento ao paciente sobre a função vestibular e o prognóstico da patologia. Acreditamos que todo e qualquer paciente deva receber informações e orientações suficientes para que ele saiba o que está acontecendo e, conseqüentemente, para que este possa ter mais aderência ao tratamento. A compreensão ou o conhecimento sobre a função do sistema de equilíbrio e o processo de compensação, que ocorre após uma lesão vestibular, reduz a ansiedade do paciente e o ajuda a entender as causas, o significado e o controle de seus vários sintomas (12). Entendemos não ser apropriado apenas a realização dos exercícios corretamente, se não associado a uma mudança no estilo de vida, no que diz respeito ao uso abusivo da cafeína, ingestão de comidas gordurosas e temperadas, preocupações com a família e o trabalho, 151 Moreira DA estado psicológico depressivo e desanimado e vida sedentária. Dieta inadequada, indisciplina alimentar e alguns hábitos ou vícios também podem ser vetores de comprometimento das funções auditiva e vestibular ou piora de distúrbios otoneurológicos (13). No entanto, proporcionar a alteração de um estilo de vida ou até mesmo da simples correção de um erro alimentar não é uma tarefa simples, pois uma vez o hábito instalado, a modificação desse padrão requer persistência por parte do paciente e dos profissionais envolvidos. Houve períodos de melhora, seguida de piora dos sintomas labirínticos, e isso pode ser traduzido pelo processo de compensação e descompensação do sistema vestibular. Acreditamos que a melhora do quadro clínico, tenha sido, então, o envolvimento de vários fatores, como a correção de vícios e erros alimentares, alteração do estilo de vida e a associação da medicação à reabilitação vestibular personalizada. A importância de uma equipe multidisciplinar e o esclarecimento da doença aos pacientes em relação ao tratamento médico e terapêutico, faz com que o sucesso seja alcançado de forma mais global e eficaz. COMENTÁRIOS FINAIS Acreditamos que a melhora clínica do caso estudado de síndrome do roubo da subclávia tenha sido a somatória de vários fatores, com o correto diagnóstico, a cirurgia e todas as orientações e os processos terapêuticos subseqüentes, em que a reabilitação vestibular teve papel de destaque. Um fator que chamou atenção durante a terapia de reabilitação vestibular foi o impacto negativo e extensivo na qualidade de vida provocada pela tontura. A sensação de dormir e acordar com mal-estar acarretava um comprometimento nas atividades diárias, com interferência em todas as esferas: família, trabalho, lazer e saúde. Assim, a reabilitação vestibular mostrou ser uma arma terapêutica potente e eficaz no tratamento póscirúrgico de Síndrome do roubo da subclávia. Instalava-se, desta forma, um círculo vicioso entre sintomas otoneurológicos e psicológicos, pois a tontura gerava insegurança psíquica, como depressão e pânico, com impacto negativo sobre a qualidade de vida. Ao mesmo tempo, o stress, a ansiedade e o medo provocavam um aumento da sensação de instabilidade e, conseqüentemente, levavam à insegurança física, como desequilíbrio e instabilidade. 1. Ganança MM, Caovilla HH, Munhoz MS, Silva ML, Settani FA, Ganança CF. Insuficiência vertebrobasilar. eM: Silva ML, Munhoz MS, Ganança MM, Caovilla HH. Quadros clínicos otoneurológicos mais comuns. São Paulo: Atheneu, 2000. p.71-9. Possíveis interpretações psicossomáticas deste vínculo levam à concepção de que a ansiedade ou o sofrimento pode provocar ou exacerbar crises de tontura, e à hipótese de que a característica particular da personalidade pode predispor pessoas a qualquer queixa de tontura, ou até mesmo, desenvolver desordens orgânicas que causam a vertigem (14). 3. Becker W, Naumann HH, Plaltz CR. Otorrinolaringologia Prática – diagnóstico e tratamento. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora Revinter, 1999. Enfatizamos a importância de uma reabilitação vestibular personalizada que atenda as necessidades individuais do paciente, proporcionando segurança física e psíquica na realização dos movimentos corporais e no desempenho de tarefas que solicitem o equilíbrio corporal mais refinado. A melhora com a terapia parece ser devida às adaptações neurais multifatoriais, substituições sensoriais, recuperação funcional dos reflexos vestíbulo-ocular e vestíbulo-espinhal, condicionamento global, alteração do estilo de vida e efeito psicológico com a recuperação da segurança física e psíquica (15). 152 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 2. Shapiro SL. Otologic aspects of the subclavian steal syndrome. Eye Ear Nose Throat Mon, 1971, 50(3): 94-6. 4. Whittemore AD, Mannick JA. Sindrome do Sequestro da Subclávia. Em: Sabiston DC, Lyerly HR. Tratado de Cirurgia - As bases biológicas da Prática Cirúrgica Moderna. 15ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. p. 1566-70. 5. 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