SÍNDROME DO ROUBO DA SUBCLÁVIA MARCUS VINÍCIUS SILVA FERREIRA1; PAULA MARQUES MIGOWSKI CARVALHO1; ANA ROSA COSTA MELO1; JOÃO MARCOS IBRAHIM DE OLIVEIRA1; MARCELO ALENCAR DA FONSÊCA1; ANTÔNIO CARLOS DE SOUZA2. 1.UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA, BRASÍLIA - DF - BRASIL. 2.UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA E CLÍNICA ANGIOMEDI, BRASÍLIA - DF - BRASIL. INTRODUÇÃO A estenose aterosclerótica nas artérias subclávias e braquiocefálica tem incidência em torno de 0,5% a 4% na população geral e de 11 % a 18% nos pacientes com doença arterial periférica.4,8 A causa mais comum de estenose subclávia é a aterosclerose, com a maioria dos casos ocorrendo à esquerda (4:1) e em homens (2:1) com mais de 50 anos. Lesões no segmento proximal da artéria subclávia são as mais prevalentes (70-90%) e mais propensas a desencadear sintomas neurológicos vertebrobasilares ou isquemia no membro superior.2,4,8 OBJETIVO Relatar o caso de um paciente com sintomas neurológicos vertebrobasilares decorrentes de estenose na origem da artéria subclávia, enfatizando os achados que corroboram à suspeita clínica de Síndrome do Roubo da Subclávia (SRS), e a importância do diagnóstico diferencial adequado para a indicação cirúrgica. RELATO DO CASO Homem de 79 anos começou a apresentar perda do equilíbrio há 6 meses, associada a tontura e ataxia, desencadeada por esforços no braço esquerdo, que determinou sua queda sem perda de consciência em duas ocasiões. Não apresentava náuseas, vômitos ou sintomas visuais. O paciente era portador de hipertensão arterial sistêmica leve e dislipidemia em uso de aspirina 100mg ao dia e rosuvastatina 20 mg ao dia. Ao exame físico, apresentava-se em bom estado geral, corado, hidratado e com marcha atáxica. A aferição bilateral da pressão arterial em membros superiores demonstrou no braço direito pressão arterial sistólica e diastólica de 140 x 85 mmHg e no braço esquerdo de 80 x 50 mmHg. O ritmo cardíaco avaliado pelo exame físico e Router de 24h apresentava-se irregular, com extra-sístoles frequentes (8.000 extrassístoles em 24 horas). Foi solicitada uma angiorressonância de troncos supra-aórticos que demonstrou estenose de mais de 70% na origem da artéria subclávia esquerda (Figura 1). Foi realizado em seguida Doppler transcraniano que evidenciou a presença de um fluxo reverso na artéria vertebral esquerda. Figura 1. Angioressonância de aorta e troncos supraórticos evidenciando estenose do segmento proximal da artéria subclávia esquerda. SÍNDROME DO ROUBO DA SUBCLÁVIA MARCUS VINÍCIUS SILVA FERREIRA1; PAULA MARQUES MIGOWSKI CARVALHO1; ANA ROSA COSTA MELO1; JOÃO MARCOS IBRAHIM DE OLIVEIRA1; MARCELO ALENCAR DA FONSÊCA1; ANTÔNIO CARLOS DE SOUZA2. 1.UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA, BRASÍLIA - DF - BRASIL. 2.UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA E CLÍNICA ANGIOMEDI, BRASÍLIA - DF - BRASIL. RELATO DO CASO Previamente a qualquer abordagem, o paciente foi encaminhado para tratamento da arritmia cardíaca, o qual resultou melhora significativa da sintomatologia, porém sem remissão da tontura. Apresentou ao ecodoppler de carótidas persistência do fluxo reverso em artéria vertebral (Figura 2) e presença de lesão aterosclerótica em artéria carótida interna esquerda (Figura 3). O paciente foi orientado em relação à indicação para intervenção vascular cirúrgica ou percutânea, contudo decidiu pelo tratamento conservador por não julgar significativa a sintomatologia atual. DISCUSSÃO O Roubo da Subclávia consiste na presença de um fluxo retrógrado através da artéria vertebral, resultante de uma estenose de alto grau na artéria subclávia ipsilateral proximal à origem da artéria vertebral (Figura 4).1,2 A Síndrome do Roubo da Subclávia (SRS) pode ser desencadeada na vigência de uma circulação colateral vertebrobasilar insuficiente em suprir um aumento da demanda, entretanto a presença isolada de fluxo retrógrado não determina a presença de sintomas na maioria dos casos.1,3 Os pacientes podem manifestar sintomas de insuficiência vertebrobasilar (cefaleia, ataxia, tontura, diplopia, nistagmo, acúfenos e Drop Attacks), diminuição/retardo dos pulsos no membro, sopro supraclavicular ou occipital ipsilaterais e diferença entre as pressões sistólicas dos membros superiores (gradiente transversal) maior que 20 mmHg.1-4,9 O ecodoppler com mapeamento de fluxo de cores deve ser realizado na suspeita de SRS, estando a angioressonância, a angiotomografia e a angiografia (padrão-ouro) indicadas na avaliação de estenoses ou oclusões da artéria subclávia e confirmação de casos com exames sonográficos inconclusivos.1,5 Figura 2. Ecodoppler com mapeamento de fluxo de cores demonstrando fluxo invertido através da artéria vertebral esquerda com paciente em repouso. Figura 3. Ecodoppler com mapeamento de fluxo de cores demonstrando presença de placa hiperecoica homogênea de superfície regular com presença de sombra acústica sem repercussão hemodinâmica na artéria carótida interna esquerda. SÍNDROME DO ROUBO DA SUBCLÁVIA MARCUS VINÍCIUS SILVA FERREIRA1; PAULA MARQUES MIGOWSKI CARVALHO1; ANA ROSA COSTA MELO1; JOÃO MARCOS IBRAHIM DE OLIVEIRA1; MARCELO ALENCAR DA FONSÊCA1; ANTÔNIO CARLOS DE SOUZA2. 1.UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA, BRASÍLIA - DF - BRASIL. 2.UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA E CLÍNICA ANGIOMEDI, BRASÍLIA - DF - BRASIL. DISCUSSÃO Terapia medicamentosa profilática para eventos isquêmicos com uso de aspirina ou clopidogrel está indicada a todos os pacientes com estenose subclávia, pois mesmo os pacientes assintomáticos apresentam aumento da morbidade e da mortalidade associado a aterosclerose em outros territórios.2-4 A intervenção cirúrgica ou percutânea está indicada apenas para aqueles com sintomas limitantes ou de risco (e.g. quedas de pacientes idosos) ou na perspectiva de realização de revascularização miocárdica por ponte de mamária. As técnicas cirúrgicas (enxerto subcláviocarotídeo, transposição carotídea/subclávia ou derivação axilo-axilar) apresentam taxa de sucesso entre 90-100% e taxa de patência em 5 anos entre 95-96%, porém com maiores taxas de complicações perioperatórias (4-28,9%). A intervenção percutânea por angioplastia por balão e stent apresenta taxa de sucesso similar com menor taxa de complicações (2-11,4%), porém com taxa de patência em 5 anos entre 65%-85% e de reestenose de 10-20%. Apesar de possuir menor patência a longo prazo, a terapia endovascular vem sendo utilizada como primeira escolha devido ao menor risco aparente e à predileção atual por uma via menos invasiva.7,8 Figura 4. Ilustração esquemática da circulação colateral envolvida no fenômeno do Roubo da Subclávia. Adaptado de Circulation. 2014; 129:2320-2323. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONCLUSÃO A suspeita de SRS deve entrar no diagnóstico diferencial de pacientes idosos com sintomas de insuficiência vertebrobasilar devido à alta prevalência de doença ateroesclerótica nessa faixa etária. A realização de um bom exame físico neurológico e a aferição bilateral da pressão arterial são avaliações de baixo custo que conseguem reforçar a hipótese clínica com sensibilidade adequada para triagem. O tratamento cirúrgico deve ser proposto para os pacientes sintomáticos ou para os revascularizados com ponte de mamária, entretanto a discussão da relação risco/benefício e a decisão final compartilhada. 1. Lord RSA, Adar R, Stein RL. Contribution of the Circle of Willis to the Subclavian Steal Syndrome. Circulation. 1969;40:871-878. 2. Osiro S, Zurada A, Gielecki J, Shoja MM, Tubbs RS, Loukas M. A review on subclavian steal syndrome with clinical correlation. Med Sci Monit. 2012;18(5):RA57-63. 3. Potter BJ, Pinto DS. Subclavian Steal Syndrome. Circulation. 2014; 129:2320-2323 4. Ochoa VM, Yeghiazarians Y. Subclavian artery stenosis: a review for the vascular medicine practitioner. Vascular Medicine. 2010;16(1):29-34. 5. Jung K-H, Kim J-M, Lee S-T, Chu K, Roh J-K. Brain response characteristics associated with subclavian steal phenomenon. J Stroke Cerebrovasc Dis. 2014;23(3):e157-61. 6. Ernemann U, Bender B, Melms A, Brechtel K, Kobba J, Balletshofer B. 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