Centralização não é o fim do vestibular A recente proposta do MEC, principalmente voltada às escolas federais, para unificar os exames vestibulares através de um novo exame geral tem produzido reações confusas e mal-entendidos. Primeiro, um editorial de um grande jornal afirmou que o vestibular atual é uma anomalia. Segundo ele, a unificação viria em boa hora, pois poria fim a este estado de coisas. A unificação é o “fim do vestibular” – proclamou uma revista semanal em sua capa. Os vestibulares que envolvem mais de um milhão de pessoas no país a cada ano, com o poder de decidir quais serão escolhidas para ocupar um reduzido número de vagas nas universidades públicas, têm o poder de despertar sentimentos fortes. Tão fortes que acabam prejudicando a percepção de que um exame nacional unificado, como o proposto pelo MEC, ainda é um exame vestibular, por sinal o maior de todos. Unificar os exames federais de forma alguma indicaria “o fim do vestibular”. E não há o “fim do vestibular” por uma razão – o total de vagas nas escolas superiores oficiais é, em média, 7 vezes inferior ao total de candidatos. A questão poderia se resolver de outro modo. Por exemplo, pelo sorteio das vagas, pelo uso do histórico escolar ou pela escolha em entrevistas. Alternativas ao vestibular que são problemáticas e que dificilmente seriam aceitas pelas universidades, habituadas à natureza meritocrática e transparente dos exames de seleção. Infelizmente, a imensa notoriedade do vestibular acaba desviando para ele responsabilidades que cabem exclusivamente ao sistema de ensino de nosso país. A nova proposta é mudar o Enem para utilizá-lo como vestibular nacional. O novo Enem teria quatro grupos de provas, na forma de testes com 50 itens de múltipla opção por prova. Seriam aplicadas 2 provas (100 questões) por dia. Prova 1 – “linguagens, códigos e suas tecnologias (mais redação)” Prova 2 – “ciências humanas e suas tecnologias” Prova 3 – “ciências da natureza e suas tecnologias” Prova 4 – “matemáticas e suas tecnologias” Reconhecemos nessa estrutura aquilo que corresponde às disciplinas que tradicionalmente são avaliadas nos exames atuais. Segundo o texto distribuído pelo MEC, o novo exame deverá abranger “todo o currículo do ensino médio”. Portanto, como se vê, a proposta não põe nada de pernas para o ar. Trata-se de um grande vestibular com 200 questões. O modo com que se pretende pedir as questões consolida o formato para o qual tem caminhado a aplicação dos grandes vestibulares de São Paulo – questões conceituais e contextualizadas. A pretensão da proposta é grande. Ela permitiria aos estudantes paulistas concorrer a qualquer vaga em universidades federais do país. E, certamente, estudantes de outros estados concorreriam às vagas de São Paulo. Entretanto, considerando apenas uma carreira, Medicina, que aqui tem mais de 10 mil candidatos extremamente dispostos, o movimento maior seria de São Paulo para fora – apenas por uma simples questão aritmética. Por esse motivo não devem ser poucas as resistências das escolas ao modelo – que, deve-se observar, precisa ser aceito voluntariamente pelas universidades federais. (CEB)