O MERCADO 1 Eficiência e tipos de mercado Bruno Pereira Rezende 1. EFICIÊNCIA DE MERCADO1 Como você já sabe, mercado é, em uma definição econômica simples, o espaço de encontro entre ofertantes e demandantes em uma determinada economia, ou seja, onde os produtores oferecem seus produtos e os demandantes compram esses produtos. Você deve se lembrar também que, em economias chamadas “economias de mercado”, a oferta e a demanda se ajustam de modo a determinar o preço e a quantidade de equilíbrio. Dessa maneira, o mercado aloca de maneira satisfatória os seus recursos escassos. Mas fica aí uma dúvida: no equilíbrio de mercado, os preços e quantidades são realmente os desejáveis? Inicia-se aqui o estudo da economia do bem-estar, que envolve a análise de como a alocação dos recursos escassos afeta o bem-estar econômico. Sem dúvida, produtores e consumidores se beneficiam por participarem do mercado, uma vez que aqueles conseguem vender aí seus produtos e estes conseguem aí os bens e serviços cujo consumo consideram necessários. Mas, reformulando a pergunta feita acima, é possível dizer que o equilíbrio de mercado maximiza o bem-estar econômico de uma sociedade? Surgem aqui dois conceitos importantes para ajudar-nos a responder a essa pergunta: o de excedente do consumidor e o de excedente do produtor. 1.1 O Excedente do Consumidor A disposição de um consumidor para pagar por um produto depende de suas preferências individuais. Assim, o “excedente do consumidor” lida com o valor máximo que o consumidor pagaria por um determinado bem ou serviço. Envolve, portanto, a medida do valor que um consumidor atribui a esse produto. 1 Esse texto é baseado em MANKIW, Gregory. Introdução à Economia. Cap. 7, 14, 15, 16 e 17. 2 Tomemos como exemplo as preferências de três compradores diferentes, Cláudia, Maísa e Pedro, por um prato de sushi. Considere que, ao se perguntar a cada um deles quanto estariam dispostos a pagar por um prato de sushi, eles respondam, respectivamente, que estariam dispostos a pagar R$50, R$30 e R$20 (observe o quadro ao lado). A noção de excedente do consumidor leva em conta essa Consumidor Cláudia Maísa Pedro Disposição para Pagar R$50 R$30 R$20 disposição para pagar por um determinado produto em relação ao valor efetivamente pago. Assim, temos que: Excedente do Consumidor = Disposição para Pagar – Valor Efetivamente Pago Dessa maneira, caso os três consumidores fossem a um restaurante japonês e cada um consumisse, por exemplo, um prato de sushi no valor de R$20 reais, teríamos como Excedente do Consumidor: R$30 para Cláudia, R$10 para Maísa e R$0 para Pedro. O excedente do consumidor pode também ser calculado a partir da curva de Preço demanda. Imagine que o quadro ao lado tenha Nº de Potenciais Compradores por referência o mesmo prato de sushi referido acima, com a relação existente entre o preço do prato, o número de potenciais consumidores e a quantidade demandada do produto. Acima de R$50 R$30 a R$50 R$20 a R$30 R$20 ou menos 0 1 2 3 Quantidade Demandada 0 1 2 3 Podemos representar essa situação graficamente da seguinte maneira 2: Preço R$50 Disposição para pagar de Cláudia Disposição para pagar de Maísa R$30 Disposição para pagar de Pedro R$20 Demanda 0 2 1 2 3 Quantidade ATENÇÃO: Essa é apenas uma representação didática da situação apresentada, visto que há apenas três consumidores aqui representados. Você viu em textos anteriores que as curvas de oferta e demanda são normalmente representadas por retas (ou curvas), e não por meio de escadas. Isso porque elas representam a oferta e a demanda agregadas, ou seja, de todos os produtores e consumidores desse mercado (e não de apenas alguns, como nesse exemplo). Portanto, continue utilizando retas (ou curvas) para representar a oferta e a demanda em um dado mercado! 3 Vimos acima que podemos calcular o excedente do consumidor por meio da diferença Preço Preço: R$30 entre a disposição para pagar e o valor efetivamente pago por um produto. R$50 Graficamente, também podemos medir o valor desse excedente por meio da área do polígono R$30 formado entre a curva de demanda e um preço R$20 P determinado. Vejamos os exemplos abaixo Demanda para compreender melhor. Para qualquer preço acima de R$30 e 0 1 2 3 Quantidade abaixo de R$50, temos um consumidor disposto a pagar pelo prato de sushi (Cláudia). O excedente do consumidor é, portanto, equivalente à diferença entre R$50 (disposição para pagar de Cláudia) e o valor do prato. A R$30, temos que o excedente do consumidor de Cláudia será igual à área sombreada. Temos, assim, um excedente do consumidor igual a R$20. Isso significa que Cláudia pagou R$20 a menos pelo prato de sushi do que estaria disposta a pagar. Analisemos agora qual o excedente do consumidor ao preço de R$20. Veja o gráfico a seguir. Nesse gráfico, está representada uma Preço situação em que o preço do prato de sushi é igual a R$20. A esse preço, sabemos que os três consumidores estariam dispostos Preço: R$20 R$50 a consumir o prato de sushi, mas como a disposição para pagar de Pedro é igual a R$20, não temos excedente do consumidor para R$30 R$20 Pedro a esse preço. Pelo gráfico, podemos perceber que o excedente do consumidor de Cláudia, aqui representado pela Demanda 0 1 2 3 Quantidade área sombreada mais clara, seria igual a R$30. Da mesma maneira, o excedente do consumidor de Maísa, representado pela área sombreada mais escura, é igual a R$10. Temos, portanto, que o excedente do consumidor total, ao preço de R$20, é igual à soma das duas áreas sombreadas, ou seja, é igual a R$30 + R$10 = R$40. Vimos aqui uma representação didática do excedente do consumidor, considerando-se que temos apenas três consumidores demandando o produto oferecido no mercado (o prato de sushi). 4 Entretanto, a situação da maioria dos mercados que encontramos no dia-a-dia é bem diferente, com inúmeros consumidores demandando os bens e serviços ofertados pelos produtores. Assim, a representação gráfica do excedente do consumidor a um determinado preço P 1, em uma curva de demanda agregada, seria a seguinte: Preço A Excedente do Consumidor para o preço P1 P1 B C Demanda Q1 Quantidade O excedente do consumidor na situação representada no gráfico ao lado pode ser facilmente identificado como a área sombreada acima de P1. Isso porque, ao preço P1, há Q1 consumidores dispostos a pagar pelo bem em questão. À medida que esse preço aumentar, a quantidade demandada certamente diminuirá, até que se atinja o ponto A, acima do qual nenhum comprador está disposto a pagar por esse produto por qualquer que seja o preço. Temos, portanto, que a área sombreada nesse gráfico representa o excedente do consumidor total para esse mercado ao preço P1, isso é, a soma dos excedentes do consumidor de cada agente econômico demandante desse bem a esse preço. Assim, o excedente do consumidor total ao preço P1 pode ser calculado por meio da área do triângulo ABC. Considere agora outra situação, com referência ao mesmo mercado, em que se estabelece um preço P2, menor que o preço P1. Assim, teremos que: Como demonstrado acima, o excedente Preço A Excedente do Consumidor para o preço P2 do consumidor inicial, a um dado preço P1, era igual à área sombreada mais clara, correspondente à área do triângulo ABC. Agora, a P1 P2 B D D C um preço P2 menor que P1, temos que o C E E F F excedente do consumidor para os compradores iniciais (isso é, aqueles que compravam esse Demanda Q1 Q2 Quantidade produto quando o preço era igual a P1) aumentou, como se pode ver pela área 5 sombreada mais escura, correspondente ao retângulo BCED. Além disso, há uma nova quantidade de compradores (Q2 – Q1) disposta a também adquirir esse produto, caso seja comercializado ao preço P 2. Temos, assim, que o excedente do consumidor para os novos compradores corresponde à área quadriculada no gráfico, correspondente à área do triângulo CEF. Desse modo, temos que o excedente do consumidor total a um preço P2 equivale ao somatório das áreas do triângulo ABC, do retângulo BCED e do triângulo CEF, ou simplesmente à área do triângulo maior ADF. Como vimos acima, o excedente do consumidor mede objetivamente o benefício que o consumidor recebe ao adquirir um bem, de acordo com o seu próprio ponto de vista. O excedente do consumidor é, portanto, uma medida do bem-estar econômico, e quanto maior o seu valor, maior o benefício aos consumidores desse mercado. 1.2 O Excedente do Produtor Da mesma maneira como temos para os consumidores um excedente que indica a diferença entre o preço que se estava disposto a pagar e o preço efetivamente pago, temos também essa relação para os produtores, que indica a diferença entre o valor ao qual um determinado produto foi vendido no mercado e o seu custo3 de produção. É o que chamamos de excedente do produtor. Assim, temos que: Excedente do Produtor = Valor Recebido – Custos de Produção O excedente do produtor, portanto, mede os benefícios que os produtores recebem ao participar do mercado. Considere, por exemplo, a produção de pratos de sushi por três diferentes restaurantes, Natural, Saboroso e Mestre Cuca. O custo de Restaurante Natural Saboroso Mestre Cuca produção dos três restaurantes é, respectivamente, igual a R$20, Custos de Produção R$20 R$15 R$10 R$15 e R$10 (observe o quadro). Preço Acima de R$20 R$15 a R$20 R$10 a R$15 Abaixo de R$10 Nº de Potenciais Vendedores 3 2 1 0 Quantidade Ofertada 3 2 1 0 O excedente do produtor pode ser avaliado a partir da curva de oferta. Assim, imagine que o quadro ao lado tenha por referência a produção desse prato de sushi, com a relação existente entre o preço do prato, o número de potenciais vendedores e a quantidade ofertada do produto. 3 O custo de produção inclui o lucro “normal”, ou seja, a remuneração suficiente para manter os produtores no mercado. 6 Para melhor visualizar essa situação, vamos construir um gráfico que a ilustre. Observe abaixo. Preço Oferta Custo total do restaurante Natural R$20 Custo total do restaurante Saboroso R$15 Custo total do restaurante Mestre Cuca R$10 0 1 2 3 Quantidade Da mesma forma que o excedente do consumidor, o excedente do produtor também pode ser calculado por meio do gráfico. Teremos, desse modo, que o excedente do produtor equivale à área do polígono determinado pela curva de oferta e um determinado preço de comercialização. Assim, temos que o valor mínimo para que haja excedente do produtor é igual ao menor custo de produção dentre os três restaurantes (R$10). Portanto, acima de R$10 existe excedente do produtor para quaisquer preços determinados. Vamos proceder agora à análise gráfica do excedente do produtor. Ao preço de R$15, temos que há dois Preço Oferta restaurantes dispostos a ofertar seus produtos no R$20 mercado: Mestre Cuca e Saboroso. Entretanto, o excedente do produtor para o R$15 Preço: R$15 Saboroso é igual a zero, visto que, a esse preço, o preço ao qual o prato de sushi é comercializado é R$10 igual ao seu custo de produção. Portanto, nessa situação o excedente do produtor total diz 0 1 2 3 Quantidade respeito apenas ao excedente do produtor do restaurante Mestre Cuca. Assim, o excedente do produtor do restaurante Mestre Cuca é igual à área sombreada no gráfico, ou seja, igual a R$5. Analogamente, analisemos agora qual será o excedente do produtor ao preço de R$20. 7 Conforme o gráfico ao lado, ao preço de Preço Oferta R$20 todos os produtores estariam dispostos a ofertar seus pratos de sushi no mercado (embora R$20 o restaurante Natural não possua excedente do R$15 Preço: R$20 produtor, visto que seus custos de produção seriam iguais ao seu preço de comercialização). R$10 Assim, temos que o excedente do produtor total, ao preço de R$20, seria igual à soma do excedente 0 1 2 3 Quantidade do produtor do restaurante Mestre Cuca (sombreado mais claro no gráfico ao lado) e do excedente do produtor do restaurante Saboroso (sombreado mais escuro no gráfico ao lado). Nessa situação, temos que, ao preço de R$20, o excedente do produtor total é igual a R$10 + R$5 = R$15. Do mesmo modo que podemos mensurar Preço o excedente do consumidor em um mercado maior por meio das relações estabelecidas entre Oferta preço e quantidade no gráfico que representa a curva de demanda, conforme mostrado acima, P1 B C Excedente do Produtor para o preço P1 podemos também calcular o valor do excedente do produtor por meio das relações entre preço e quantidade no gráfico que representa a curva de oferta agregada. Temos, portanto, que o A Q1 Quantidade excedente do produtor ao preço P1 é igual à área delimitada pela curva de oferta e esse preço, ou seja, corresponde à área do triângulo ABC. Estabelecendo-se um novo preço P2, Preço maior que P1, temos que: P2 D E F F Oferta O excedente adicional em P2 para os primeiros produtores, ou seja, aqueles que já P1 B possuíam excedente do produtor em P1 (Q1), é C Excedente do Produtor para o preço P2 A igual à área do retângulo BCED, sombreado mais escuro. O excedente do produtor para os novos produtores, ou seja, aqueles que não produziam Q1 Q2 Quantidade em P1 (Q2 – Q1), é igual à área quadriculada, que é correspondente à área do triângulo CEF. Temos, 8 portanto, que o excedente do produtor total em P2 é igual à soma das áreas do triângulo ABC, do retângulo BCED e do triângulo CEF, ou simplesmente à área do triângulo maior ADF. Dessa maneira, o excedente do produtor mede objetivamente o benefício que o produtor recebe ao vender um bem, de acordo com o seu próprio ponto de vista. O excedente do produtor também é, portanto, uma medida do bem-estar econômico, e quanto maior o seu valor, maior o benefício aos produtores desse mercado. 1.3 A Eficiência de Mercado Vimos acima como são calculados o excedente do consumidor e o excedente do produtor, e como podemos mensurá-los por meio das representações gráficas de oferta e demanda que já conhecemos. Analisaremos agora as duas situações de maneira simultânea. Relembrando, temos que: Excedente do Consumidor = Disposição para Pagar – Valor Efetivamente Pago Excedente do Produtor = Valor Recebido – Custos de Produção Se somarmos o excedente do consumidor e o excedente do produtor, chegaremos ao excedente total do mercado, visto que levaremos em consideração, dessa maneira, os excedentes tanto dos demandantes quanto dos ofertantes. Temos, assim, que: Excedente Total = Excedente do Consumidor + Excedente do Produtor Excedente Total = Disposição para Pagar – Valor Efetivamente Pago + Valor Recebido – Custos de Produção Como o valor pago pelos compradores é igual ao valor recebido pelos vendedores, esses dois valores irão se anular na fórmula do excedente total descrita acima, e teremos, assim, que: Valor Efetivamente Pago = Valor Efetivamente Recebido Logo, Excedente Total = Disposição para Pagar – Custos de Produção Dessa maneira, temos que o excedente total do mercado corresponde à diferença entre a disposição para pagar e os custos de produção. 9 Um mercado é considerado eficiente quando a alocação de recursos maximiza o excedente total e seu resultado, para a sociedade, é o maior possível. Entretanto, isso não significa que esse resultado seja dividido de maneira igual entre seus participantes. Pelo contrário. Como visto na unidade 1 dessa apostila, há uma diferença importante entre os conceitos de igualdade e equidade. O que ocorre aqui é a equidade, ou seja, uma imparcialidade na distribuição desse resultado da alocação de recursos para a sociedade. Em outras palavras, todos os participantes desse mercado são beneficiados em uma situação de eficiência de mercado, mas nem todos são beneficiados de maneira igual. Mas afinal, qual é essa situação na qual se maximiza o excedente total? Em que situação podemos dizer que chegamos à “eficiência de mercado”? Você viu, ao longo dos demais textos da unidade 2, que a oferta e a demanda de um bem em um determinado mercado podem ser representadas por duas curvas, uma crescente e outra decrescente, em um gráfico cujos eixos são preço e quantidade, como mostrado abaixo. De acordo com o que vimos acima, Preço referente aos excedentes do consumidor e do produtor a determinados preços P1 e P2, por Oferta exemplo, podemos dizer que, no ponto em que as curvas de oferta e demanda se cruzarem no Preço de Equilíbrio E espaço (ou seja, no ponto de equilíbrio), teremos Demanda uma situação que maximiza o excedente total desse mercado, representação como gráfica ao demonstrado lado. Na na área QE Quantidade sombreada mais escura, temos o excedente do consumidor e, na área sombreada mais clara, o excedente do produtor. O excedente total corresponde, portanto, à soma dessas duas áreas. Assim, podemos afirmar que é no Preço equilíbrio de mercado que alcançamos a Oferta eficiência. Isso nos permite dizer que o mercado livre aloca a oferta aos compradores que Preço de Equilíbrio atribuem um valor máximo a um bem e a Preço máx demanda aos produtores com o mínimo custo de Demanda produção. Para preços maiores que o preço de equilíbrio, o valor para os compradores é maior Q Quantidade que o custo para os produtores. Para preços 10 menores que o preço de equilíbrio (como no gráfico ao lado, que representa a imposição de um preço máximo pelo Governo), o valor para os compradores é menor que o custo para os produtores. Pelo gráfico, percebe-se que a quantidade Q que será comercializada é inferior à quantidade de equilíbrio (uma vez que, a esse preço, os ofertantes desejam vender uma quantidade menor do produto). O excedente total, portanto, corresponde à soma das áreas dos trapézios representadas no gráfico (e é, claramente, menor que aquele em uma situação de equilíbrio de mercado). Em ambas as situações, não temos uma situação de eficiência de mercado. Assim, é a quantidade de equilíbrio que maximiza a soma dos excedentes do produtor e do consumidor. Quando os mercados não são perfeitamente competitivos, um único comprador ou vendedor (ou um pequeno grupo) pode controlar os preços, e essa capacidade de influenciar os preços é chamada de poder de mercado. O poder de mercado pode resultar em ineficiência, porque pode manter preços e quantidades fora do ponto de equilíbrio. Passaremos agora à discussão acerca das estruturas de mercado existentes, que dizem respeito à forma de organização dos mercados, começando pela já mencionada estrutura de concorrência perfeita. 2. ESTRUTURAS DE MERCADO 2.1 Concorrência Perfeita Em um mercado de concorrência perfeita, há quatro pressupostos básicos: 1) Existem inúmeros compradores e vendedores, e cada um deles sem influência sobre a determinação dos preços (são tomadores de preço); 2) Os vendedores oferecem produtos homogêneos, isso é, produtos sem diferenciação entre si; 3) A entrada e a saída de empresas do mercado são livres. 4) Compradores e vendedores, em um mercado de concorrência perfeita, possuem também livre acesso à informação, sem quaisquer custos. Dessa maneira, em um mercado de concorrência perfeita, a ação individual de um comprador ou de um vendedor tem impacto negligenciável sobre os preços, dado o pressuposto 1 citado acima. Os compradores e vendedores, nesse tipo de estrutura, entendem os preços como um dado do mercado, e têm que aceitar os preços praticados nele. O pressuposto número 2 é fundamental para que se caracterize um mercado de concorrência perfeita. A existência de diferenciações entre os produtos oferecidos já não o caracteriza mais como tal, mas sim como uma concorrência monopolística, como se verá melhor abaixo. O pressuposto número 3 indica que não há barreiras (como a formação de trustes e cartéis) que impeçam a entrada de outros vendedores e compradores nesse tipo de mercado. 11 2.2 Monopólio A característica mais importante em um monopólio é o número de empresas: há apenas uma. Nessa situação, não há curva de oferta. O monopolista apenas observa a curva de demanda do mercado e ajusta o preço de maneira a alcançar o lucro máximo. Assim, o monopolista detém o mercado de um determinado produto ou serviço, e pode impor preços aos que o comercializam. Existe monopólio quando se tem apenas um vendedor de um determinado bem para o qual não existem substitutos próximos. Além disso, como forma de proteção contra possível concorrência, há barreiras à entrada de empresas que queiram vender o mesmo bem ou um bem substituto a ele, como por exemplo: - Economias de escala: geralmente, empresas novas tendem a entrar no mercado com níveis de produção inferiores aos das empresas já ali estabelecidas. Dessa maneira, devido às “economias de escala” (os custos médios de produção decrescem com o aumento do volume de produção), os custos médios da empresa nova serão mais altos que os de uma empresa já estabelecida e, assim, aquela empresa não consegue entrar no mercado de maneira competitiva. - Lobby político: ocorre quando as condições de um monopólio são dadas por influência política. - Proteção legal: garantindo ao detentor exclusividade no mercado, proteções legais tais como o direito autoral e as patentes protegem os produtores contra possíveis empresas concorrentes. - Propriedade exclusiva de matéria-prima: por meio do controle de recursos necessários à produção de determinado bem, pode-se proteger o mercado da entrada de novas empresas concorrentes. É fato que, da mesma forma como na concorrência perfeita, os casos de monopólios “puros” são raros, mas a “teoria do monopólio” trata do comportamento de empresas que se aproximam dessas condições de monopólio puro. Dessa maneira, ter o poder de monopólio significa o fato de o vendedor ter capacidade de controlar o preço do produto, sem uma curva de oferta. Os monopólios podem surgir de três formas. A primeira delas é quando há recursos monopolísticos, ou seja, quando apenas uma empresa tem um recurso exclusivo, quando tem um direito exclusivo de propriedade ou quando os custos de produção a tornam o único produtor, por ser mais eficiente que os demais e, dessa forma, criar uma barreira à entrada de outras empresas no mercado. A segunda se refere aos monopólios criados pelo governo, como pelos direitos autorais, pela lei das patentes ou mesmo por questões políticas, quando se trata de interesse público. Os benefícios da criação de tal monopólio estão no incentivo à atividade criadora. 12 A terceira forma refere-se a uma situação que será estudada em um dos próximos textos: é o chamado “monopólio natural”. Essa é uma situação de mercado na qual os investimentos iniciais para entrada no mercado são extremamente elevados e os custos marginais são muito baixos, o que inviabiliza a existência de concorrência. Assim, tem-se por sua característica que o custo total diminui com o aumento de uma unidade produzida. As políticas públicas podem servir para melhorar os resultados nos mercados monopolísticos por meio de quatro formas principais de interferência. Como principais políticas públicas, temos: as leis antitrustes impedem fusões e desmembram empresas (no entanto, deve-se analisar o custo social dos monopólios com os benefícios das sinergias a serem impedidas); a regulamentação dos preços, comum nos monopólios naturais, tem por maior problema a falta de incentivos à redução de custos; a privatização das empresas, ou seja, a administração das empresas pelo governo (e não mais pela iniciativa privada); e não intervir, pois, de acordo com os defensores desse pensamento, a definição do papel apropriado do governo na economia requereria julgamentos tanto sobre política quanto sobre economia. Uma das estratégias de maximização dos lucros do monopolista se chama discriminação de preços. Por meio dela, fomenta-se uma separação dos compradores pela sua disposição a pagar. A discriminação de preços aumenta o bem-estar econômico, pois gera um maior excedente do produtor. Alguns exemplos dessa situação são os ingressos de cinema mais baratos para crianças, diferenças nos preços das passagens aéreas em função das “classes” do avião etc. A estrutura de mercado que se situa entre os mercados competitivos e os monopólios representa uma situação em que as empresas não enfrentam o mesmo grau de competição dos mercados competitivos e não são tomadoras de preço. Trata-se da chamada “competição imperfeita”, que compreende a concorrência monopolística e os oligopólios (explicados abaixo). 2.3 Concorrência Monopolística Na concorrência monopolística, há um grande numero de empresas com livre entrada e saída do mercado, cada uma oferecendo produtos que não são similares ou idênticos. Dessa maneira, os vendedores têm alguma liberdade sobre a escolha de preço, visto que cada produto é único. Dessa maneira, o preço tende a ser maior que o custo marginal de produção. A existência desses produtos diferenciados é fundamental para a existência desse tipo de mercado. Assim, como já mencionado na parte sobre a concorrência perfeita, a principal diferença entre o mercado de concorrência perfeita e o mercado de concorrência monopolística é que, neste, há essa diferenciação entre os produtos oferecidos. 13 Exemplos possíveis seriam: - Revistas: há várias revistas que tratam de temas específicos comuns, como esportes, mas cada uma delas é diferenciada, não há homogeneidade dos produtos ofertados; - Softwares: da mesma maneira, há vários softwares disponíveis no mercado, mas cada um possui uma singularidade, algo que o diferencia dos demais e que torna esse mercado uma concorrência monopolística; - Bebidas: ocorre com todos os tipos de bebida, sejam elas refrigerantes, cervejas, vinhos etc. Ainda que as diversas marcas existentes dessas bebidas, em teoria, produzam um mesmo produto, vemos na prática que cada um deles é diferenciado, seja pelo sabor, aspecto ou qualquer outra característica. Sendo assim, temos aí mais um exemplo de mercado de concorrência monopolística. - Bares/restaurantes: todos servem aos mesmos propósitos (oferecer comidas e bebidas), mas há diferenciações nos produtos e serviços oferecidos, e isso os caracteriza como um mercado de concorrência monopolística. As empresas nesse tipo de mercado, apesar de oferecerem produtos diferenciados, assemelhamse à situação de monopólio na definição do preço. Com relação ao bem-estar social, o excedente total não é maximizado nessa situação, pois pode haver entrada insuficiente ou excessiva de empresas no mercado. Esse mercado produz consequências tanto positivas quanto negativas (que você verá posteriormente se tratar de externalidades), tais como a variedade de produtos e o roubo de negócios, que não existiriam sob competição perfeita. Temos assim que a publicidade é um fator-chave na competição monopolística, por tornar os mercados menos competitivos e a demanda menos sensível a variações de preço. Os críticos da publicidade alegam que ela manipula as preferências, criando um desejo através de mensagens subliminares que não falam da qualidade ou do preço do produto, o que dificulta a competição. Desse modo, tenta convencer que os produtos são mais diferentes do que realmente o são (veja, por exemplo, as roupas de grifes famosas). Seus defensores dizem que ela permite maior entrada de empresas e reduz o poder de mercado, fazendo com que os clientes aproveitem melhor as diferenças de preços, fornecendo-lhes informações valiosas a respeito do produto de cada empresa. Assim, torna-se mais fácil encontrar empresas que vendem mais barato e aumenta-se a competitividade. 2.4 Oligopólio Nos oligopólios, há um pequeno número de vendedores, cada um oferecendo produtos similares ou idênticos. Devido a esse pequeno número de competidores, a principal característica dos oligopólios 14 é a tensão entre competição (interesse próprio) e cooperação. As empresas são, portanto, interdependentes. As empresas podem concordar em agir como um monopólio. Assim, temos: Conluio ou Colusão: acordo entre empresas para evitar a concorrência, estabelecendo quantidades a serem produzidas ou preços a serem cobrados. Cartel: grupo de empresas agindo explicitamente como se fossem um monopólio. Subdividem-se entre cartéis perfeitos e cartéis imperfeitos. Nos primeiros, há acordos formais de preços e volumes entre as empresas. Nos segundos, não existem acordos formais; a empresa líder fixa os preços e é seguida pelas demais. Embora os oligopólios gostassem de agir como cartéis e ter lucros de monopólio, leis proíbem acordos de preços entre as empresas, para proteger o interesse público. Além disso, acordos desse tipo são difíceis devido ao comportamento oportunista das empresas. Dessa maneira, o equilíbrio do oligopólio se dá da seguinte maneira. As empresas estabelecem suas estratégias de produção e preços observando as estratégias de seus concorrentes. Quando as empresas em um oligopólio escolhem suas estratégias procurando maximizar o resultado individual, elas produzem uma quantidade maior que o monopólio, porém menor que o mercado competitivo. Os preços são menores que no monopólio e maiores que no mercado competitivo. Os lucros são, assim, menores que no monopólio. No caso dos oligopólios, pode-se ver uma clara aplicação da chamada “economia da cooperação”, que envolve a Teoria dos Jogos, ou seja, o estudo de como as pessoas se comportam em situações estratégicas, nas quais devem decidir considerando como os outros participantes reagirão à sua decisão. Como o número de empresas em um oligopólio é pequeno, cada uma deve decidir estrategicamente (isto é, considerando a reação das outras empresas). Cada empresa sabe que seus lucros dependem não só da quantidade que ela produz, mas das quantidades produzidas pelos outros. Empresas em oligopólios enfrentam um sério dilema. Mesmo que elas tenham feito um conluio, por exemplo, é preciso confiar que nenhuma vai quebrar o acordo. Isso é complicado, pois um comportamento oportunista de uma empresa irá lhe trazer lucros maiores. Quando cada vendedor escolhe para si a melhor estratégia, dadas as estratégias escolhidas pelos outros, temos aí que aumentar a própria oferta acima disso reduziria seu lucro. As políticas públicas tratam dos oligopólios através das leis antitrustes, de modo a induzir os oligopolistas a competir e não a cooperar, por meio se uma série de práticas de mercado. A primeira delas é a fixação do preço de revenda, que visa evitar que outros revendedores possam fomentar um comércio injusto. A segunda é a determinação de preços predatórios, que é um corte de preços para 15 acabar com a concorrência, mas que pode ser combatido se a outra empresa reduzir sua oferta. A terceira são as vendas casadas, que são uma forma de discriminação de preços. 2.5 Monopsônio O monopsônio é a estrutura de mercado que se caracteriza pela existência de um único comprador (chamado monopsonista) para um determinado produto e inúmeros vendedores. Ao contrário da situação de monopólio, aqui não há curva de demanda. Há apenas a curva de oferta, e o monopsonista ajusta o preço e a quantidade que irá demandar de acordo com ela, de modo a minimizar o custo total da compra de um determinado produto. Dessa maneira, o monopsonista tem poder de mercado, na medida em que pode influenciar os preços de um determinado bem, por meio apenas da variação da quantidade comprada. Assim, seus ganhos dependem da elasticidade da oferta, ou seja, da sensibilidade da oferta à variação de preços. 2.6 Oligopsônio O oligopsônio é a estrutura de mercado que se caracteriza pela existência de um pequeno grupo de compradores. É, portanto, um tipo de competição imperfeita inverso ao oligopólio. Assim como na situação de oligopólio, é necessário haver cooperação entre os oligopsonistas para que se possa chegar a uma situação mais favorável a todos. Cada empresa sabe que seus custos dependem não só da quantidade que ela demanda, mas das quantidades demandadas pelos demais. Os ganhos dos oligopsonistas estão, assim como na situação anterior, atrelados à elasticidade da oferta de bens. Em microeconomia, os oligopsonistas e os monopsonistas são determinados como maximizadores de lucros e, devido à restrição de quantidade adquirida, levam a falhas de mercado (o que não ocorre em uma competição perfeita). Hoje em dia, exemplos de monopsônios são muito comuns, especialmente no mercado de trabalho (veja, por exemplo, cidades que vivem em função de uma única atividade produtiva, e que toda a mão-de-obra ofertada é absorvida por um só comprador). Oligopsônios também são facilmente identificáveis, como, por exemplo, na produção de eucaliptos em Minas Gerais e na Bahia, onde três firmas (Aracruz, Suzano Bahia Sul e Cenibra) compram praticamente toda a produção local para fabricar celulose.