proposta de formulações para excipientes

Propaganda
1
PROPOSTA DE FORMULAÇÕES PARA EXCIPIENTES-PADRÃO DE
FÁRMACOS CLASSIFICADOS PELO SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO
BIOFARMACÊUTICA
MIRANDA, Letícia Paula (Farmácia Unitri, letí[email protected])
CARDOSO, Mayara Gois (Farmácia Unitri, [email protected])
MORAES, Anamaria Junqueira de (Docente Farmácia Unitri, Correspondência:
[email protected])
RESUMO
O Sistema de Classificação Biofarmacêutica, SCB, estabelecido por AMIDON et
al. (1995) organizou fármacos em quatro classes, de classe I com altas
solubilidade e permeabilidade, de classe II com baixa solubilidade e alta
permeabilidade, de classe III com alta solubilidade e baixa permeabilidade e de
classe IV com baixas solubilidade e permeabilidade. A biodisponibilidade dos
fármacos via oral é influenciada por diversos fatores, principalmente
solubilidade e permeabilidade, sendo necessário minimizar esta influência
através da incorporação de substâncias que os melhorem (BRASIL, 2007). Os
excipientes farmacêuticos possuem inúmeros representantes com funções
variadas (ANSEL et al.,2000), sendo adequado para seleção, estudos das
características dos fármacos, dos próprios excipientes e da estabilidade gerada
nas formulações (BRASIL, 2007). O objetivo desse trabalho é propor quatro
formulações para serem usadas como excipientes-padrão para as classes do
SCB para manipulação em cápsulas, a fim de favorecer a biodisponibilidade
destes. A metodologia seguida foi leitura, análise e documentação bibliográfica
sobre diversos excipientes, suas funções e compatibilidades, além de estudo
aprofundado e comparativo do material analisado e posterior proposição das
fórmulas. Dentre os excipientes selecionados estão: celulose microcristalina,
aerosil, lauril sulfato de sódio, amido, amido glicolato de sódio, dióxido de silício
coloidal, manitol, polissorbato 80 e docusato sódico.
Palavras – chaves: excipientes, cápsulas, biodisponibilidade
2
INTRODUÇÃO
O setor magistral tem tido a necessidade de aperfeiçoamento constante
quanto à qualidade, tanto de produtos, de processos quanto de relações
humanas. A ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, tem dado
atenção especial para o setor através das resoluções que dispõem sobre as
Boas Práticas de Manipulação, BPM. A RDC 87/2008 que dá novas alterações
à RDC 67/2007, instrui os estabelecimentos quanto as diretrizes a serem
seguidas para a execução das BPM, além de preconizar especificamente que
os excipientes utilizados na manipulação de medicamentos devem ser
padronizados de acordo com embasamento técnico-científico (BRASIL, 2008).
Os excipientes têm papel importante na qualidade, segurança e no
desempenho dos medicamentos e exercem influência in vitro e in vivo na
liberação dos fármacos a partir das cápsulas (VILLANOVA, 2009).
A biodisponibilidade é um dos fatores determinantes da eficácia clínica
de um fármaco e depende diretamente das propriedades de solubilidade e
permeabilidade deste fármaco. Baseado nestas propriedades, o Sistema de
Classificação Biofarmacêutica (SCB), consolidou-se como ferramenta de auxílio
na predição da biodisponibilidade de fármacos. O SCB tem sido empregado no
desenvolvimento de formas farmacêuticas devido às limitações técnicas e
econômicas, assim sendo a avaliação das propriedades de solubilidade e
permeabilidade dos fármacos oferece indicações sobre a eficácia dos
medicamentos, sem trazer riscos à população (DEZANI, 2010). O SCB
estabelece quatro classes de fármacos, classes I, II, III, IV. Os de classe I
apresentam alta solubilidade e alta permeabilidade, os de classe II baixa
solubilidade e alta permeabilidade, os de classe III alta solubilidade e baixa
permeabilidade e os de classe IV baixa solubilidade e permeabilidade
(CAMPOS, 2008).
Os fármacos, raras vezes são administrados isoladamente, geralmente
fazem parte de uma formulação combinada com um ou mais agentes não
farmacológicos com funções de solubilizar, suspender, espessar, diluir,
emulsificar, estabilizar, conservar, colorir, flavorizar, enfim possibilitar a
obtenção de formas farmacêuticas estáveis, eficazes e atraentes. O uso
seletivo desses agentes não farmacológicos, denominados excipientes
farmacêuticos, resulta em formas farmacêuticas variadas. Os excipientes são
adicionados às formulações para melhorar e possibilitar sua ação terapêutica,
podendo atuar permitindo a mudança físico-química dos fármacos, como por
exemplo, aumentando a solubilidade (ANSEL et al.,2000).
Este trabalho tem como objetivo propor quatro formulações para serem
usadas como excipientes-padrão para a manipulação de cápsulas contendo os
fármacos pertencentes às quatro classes do SCB, a fim de favorecer a
biodisponibilidade destes.
3
METODOLOGIA
A metodologia seguida foi leitura, análise e documentação bibliográfica
sobre as diversas classes de excipientes, suas funções e compatibilidades,
além de estudo aprofundado e comparativo do material analisado e posterior
proposição de quatro formulações.
Para a coleta de informações foram utilizados artigos publicados em
periódicos relacionados à saúde, farmácia magistral e aos medicamentos
contidos na base de dados SCIELO, literaturas clássicas de farmácia,
dissertações de mestrado e doutorado, artigos técnicos e pesquisas em
entidades coletivas: ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
4
O SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO BIOFARMACÊUTICA
O Sistema de Classificação Biofarmacêutica, SCB, foi proposto por
Amidon et al. em 1995 para distinguir os fármacos em relação à sua
solubilidade fisiológica (alta ou baixa) e permeabilidade intestinal (alta ou baixa).
Esta classificação se tornou uma ferramenta importante para prever o
comportamento “in vivo” de um fármaco formulado levando-se em conta o
ensaio de dissolução “in vitro” deste, sendo também decisivo no
desenvolvimento de metodologias para os testes de dissolução. Baseado na
solubilidade, permeabilidade gastrintestinal e consequentemente na absorção
de fármacos, o SCB subdivide os fármacos em quatro classes.
Classe I: composta por fármacos com alta solubilidade e alta permeabilidade,
que se dissolvem rapidamente quando administrados em formas farmacêuticas
de liberação imediata e são também, transportados rapidamente pela parede do
intestino (AULTON, 2005). Alguns dos fármacos pertencentes à classe I estão
demonstrados no quadro 1.
Quadro 1: Fármacos pertencentes à classe I.
Fármacos
Alprazolam
Amitriptilina
Azitromicina
Besilato de Amlodipina
Cloridrato de Diltiazem
Cloridrato de Fluoxetina
Cloridrato de Labetalol
Cloridrato de Paroxetina
Cloridrato de Propranolol
Cloridrato de Sertralina
Cloridrato de Verapamil
Digoxina
Domperidona
Isoniazida
Lorazepam
Maleato de Enalapril
Prednisona
Ramipril
Tartarato de Metoprolol
Fonte: Adaptado VILLANOVA (2009).
5
Classe II: esta classe é composta por fármacos que apresentam baixa
solubilidade e alta permeabilidade, sendo sua velocidade de dissolução a etapa
limitante da velocidade de absorção oral (AULTON, 2005). Esse grupo tem sido
o alvo principal de estudos em tecnologia farmacêutica justamente por
apresentarem problemas de dissolução e não de permeabilidade membranar,
em se tratando de administração via oral. Alterações podem então ser feitas na
formulação do medicamento para melhorar esta solubilidade, sem partir para
modificações moleculares (LIRA, 2004). O quadro abaixo cita alguns fármacos
pertencentes à classe II e a sua solubilidade em água e solventes auxiliares.
Quadro 2: Fármacos pertencentes à classe II.
Fármacos
Albendazol
Carvedilol
Cetoprofeno
Cloroquina
Dexametasona
Diazepam
Espironolactona
Fenitoína Sódica
Itraconazol
Lamotrigina
Loratadina
Lorazepam
Lovastatina
Nifedipina
Nimesulida
Ritonavir
Ursodil
Fonte: FERREIRA, 2008.
Classe III: os fármacos da classe III se caracterizam por apresentar alta
solubilidade e baixa permeabilidade, sendo a permeação do fármaco através da
membrana intestinal a etapa limitante no processo de absorção (FLACH
&DALLA, 1999). Apesar de apresentarem boa solubilidade, têm dificuldade de
passar através da parede do intestino com uma velocidade suficiente para que
haja uma absorção completa (AMARAL, 2003). O quadro 3 mostra alguns
fármacos da classe III.
6
QUADRO 3 - Fármacos pertencentes à classe III.
Fármacos
Acetominofeno
Acido ascórbico
Acetilcisteína
Atenolol
Captopril
Cefaclormonoidratado
Cimetidina
Ciprofloxacina cloridrato
Codeína fosfato
Ranitidina cloridrato
Salbutamol (albuterol)
Lamivudina
Lisonopril desidratado
Losartana potássica
Metaclopramida cloridrato
Metildopa
Fonte: Adaptado de VILLANOVA (2009)
Classe IV: são fármacos que apresentam baixa solubilidade e baixa
permeabilidade, sendo classificados como escassamente solúveis e pouco
permeáveis e apresentando baixa biodisponibilidade oral (AULTON, 2005).
Alguns dos fármacos pertencentes a esta classe estão elencados no quadro 4:
Quadro 4: Fármacos pertencentes à classe IV do SCB
Acetazolamida
Ácido nalidíxico
Allopurinol
Amoxicilina triidratada
Azatioprina
Carbocisteína
Dapsona
Doxiciclina
Eritromicina
Famotidina
Furosemida
Glicazida
Glipizida
Griseofulvina
Meloxicam
Mesalazina
7
Nitrofurantoína
Oxcarbazepina
Oxicodona
Paracetamol
Pirimetamina
Propiltiouracil
Ritonavir
Sulfadiazina
Sulfametoxazol
Teofilina
Trimeotoprima
Fonte: FERREIRA, 2008
A solubilidade de um fármaco pode ser determinada através da sua
dissolução em meio aquoso. Este fenômeno é importante pois é condicionante
para se ter absorção sistêmica. Para que um fármaco se solubilize e possa ser
absorvido, inicialmente deve ocorrer a desintegração da forma farmacêutica
sólida em pequenas partículas contendo os fármacos e excipientes (BONAMICI,
2009).
A velocidade de dissolução pode ser o fator limitador da absorção, pois a
solubilização no meio é condição essencial para a ocorrência do processo. A
molécula de um fármaco deve ter hidrossolubilidade suficiente para se dissolver
nos líquidos do local de absorção do organismo (BARCELLOS, 1998). Quando
a velocidade de dissolução de um fármaco no organismo é o fator limitante,
tudo que a afeta influenciará também a absorção, consequentemente a
velocidade de dissolução poderá alterar o início, a intensidade e a duração da
resposta, além de controlar a biodisponibilidade (ANSEL et al., 2000). Se a
solubilidade de um fármaco for menor que a desejada, é preciso considerar seu
aprimoramento, através da adição ou substituição de excipientes que
aumentem a solubilidade.
A permeabilidade dos fármacos é baseada diretamente na extensão da
absorção intestinal em humanos ou indiretamente, por medidas de taxas de
transferências de massa através da membrana intestinal humana, sendo
definida teoricamente como a permeabilidade efetiva do fármaco na parede do
jejuno (BRASIL, 2002). Quando se administra por via oral, as formas
farmacêuticas são inicialmente deglutidas, ocorrendo pouca absorção até que o
fármaco alcance o intestino delgado (RANG E DALE, 2001). O processo de
absorção do fármaco está relacionado com a permeabilidade do mesmo através
das membranas biológicas, sendo esta portanto influenciada por características
físico-químicas como a sua lipossolubilidade (BARCELLOS, 1998). Fármacos
de alta permeabilidade são geralmente aqueles estáveis nas condições do trato
gastrintestinal e que apresentam biodisponibilidade absoluta maior que 90%, ou
aqueles para os quais essa propriedade foi determinada experimentalmente
(BRASIL, 2002).
8
EXCIPIENTES FARMACÊUTICOS
O conceito tradicional de excipiente farmacêutico postula-os como
substâncias que não apresentam funções farmacológicas e que são inseridos
em uma formulação para facilitar sua administração e promover sua
preservação. A qualidade destes excipientes está intimamente ligada à
qualidade do medicamento e sua ação terapêutica esperada no organismo
(LIRA, 2004).
As fórmulas farmacêuticas podem ser compostas por diversas classes de
excipientes como diluentes, absorventes, veículos, agentes suspensores,
revestimentos, agentes estabilizantes, flavorizantes, corantes, edulcorantes,
agentes molhantes, desagregantes, deslizantes, dentre outros (FERREIRA,
2008). Porém as que apresentam importância para as formas farmacêuticas
sólidas de uso oral são: dessecantes, desintegrantes, diluentes, lubrificantes e
molhantes.
Os dessecantes, são substâncias que por serem higroscópicas,
protegem a formulação contra umidade. Os desintegrantes ou desagregantes
são utilizados para acelerar a desintegração das formas farmacêuticas sólidas
em água ou nos líquidos do organismo. A presença do agente desintegrante na
formulação visa facilitar a desagregação da forma farmacêutica, aumentando a
área superficial e promovendo a dissolução do fármaco (VILLANOVA, 2009).
Os diluentes são substâncias geralmente inertes, adicionadas ao fármaco com
a finalidade de fornecer formas farmacêuticas sólidas com volume adequado. A
presença de diluentes muito hidrofílicos como a lactose, pode aumentar a
captura de líquidos e, conseqüentemente aumentar a molhabilidade das
partículas, acelerando a velocidade de liberação dos fármacos. Os lubrificantes
favorecem o fluxo dos pós, facilitando seu deslocamento no momento do
preparo. Os agentes molhantes quando adicionados à formulação, aumentam a
molhabilidade do ativo e promovem o aumento da velocidade de dissolução do
fármaco. (FERREIRA, 2008).
9
PROPOSIÇÃO DAS FÓRMULAS DE EXCIPIENTE-PADRÃO PARA OS
FÁRMACOS CLASSIFICADOS PELO SCB
1. Seleção de excipientes
Foi realizada uma pesquisa dos medicamentos industrializados e
comercializados na forma farmacêutica cápsula que contivessem fármacos de
cada uma das classes. As fórmulas foram analisadas e a partir destas foram
relacionados, no quadro 5, os excipientes mais utilizados e que tivessem
alguma relação com os aspectos de solubilidade e permeabilidade.
Quadro 5 – Excipientes pré-selecionados para compor a fórmula padrão.
Amido Glicolato de Sódio
Lactose Anidra
Amido de Milho
Lactose Monoidratada
Carragenina
Lauril Sulfato de Sódio
Celulose Microcristalina
Manitol
Croscarmelose Sódica
Metabissulfito de Sódio
Dióxido de Silício Coloidal – Aerosil
Metilcelulose
Docusato sódico
Polissorbatos 20, 60, 80
Edetato Dissódico – EDTA
Sacarose
Goma Xantana
Sorbato de Potássio
Glicolato sódico de amido
Talco
2. Proposição das formulações
Através da pré-seleção dos excipientes, foram escolhidos os mais
adequados a cada classe do SCB, a fim de melhorar a permeabilidade e
solubilidade dos fármacos. Além disso, a concentração de cada excipiente
selecionado foi proposta de acordo com as faixas usuais descritas em literatura.
A. Para os fármacos da Classe I
Devido os poucos problemas de biodisponibilidade apresentados pelos
fármacos da classe I, a escolha dos excipientes para compor a formulação
padrão se tornou mais simples. Foram levados em consideração apenas os
10
aspectos técnicos comuns às cápsulas, isto é, foram selecionados excipientes
das classes dessecante, lubrificante e diluente. O aerosil foi escolhido por
contribuir na diminuição da higroscopia, aumentando a estabilidade do fármaco
frente à umidade, além de manter a distribuição do pó uniforme e auxiliar na
encapsulação. O talco foi selecionado, pois, além de ser ótimo lubrificante e
facilitar o fluxo dos pós, tem também efeito secante, favorecendo a estabilidade
da fórmula. Já o amido foi escolhido devido a não toxicidade, por não causar
irritação, além de ser um diluente hidrofílico que contribui com a dissolução e
não apresentar nenhum relato de incompatibilidades.
A fórmula para o excipiente padrão para os fármacos da classe I do SCB
está representada no tabela 1.
Tabela 1: Fórmula padronizada para os fármacos da classe I
Excipientes
Quantidade (% p/p)
Classe
Aerosil (dióxido de
silício coloidal)
1,0
Dessecante
Talco
30,0
Diluente/Lubrificante
Amido
q.s.p. 100,0
Diluente
B. Para os fármacos da Classe II
Os fármacos dessa classe têm um fator limitante da absorção que é a
solubilidade. Para estes fármacos que apresentam baixa solubilidade e alta
permeabilidade é recomendável optar por excipientes que favoreçam a
dissolução, isto é, diluentes solúveis, dessecantes, agentes molhantes e
agentes desintegrantes. Os estudos realizados mostraram que os agentes
molhantes e agentes desintegrantes são os principais excipientes que afetam a
biodisponibilidade dos fármacos. Foram então escolhidos de forma a
proporcionar o aumento da solubilidade e conseqüente aumento na
biodisponibilidade.
O aerosil foi escolhido como dessecante e facilitador do fluxo. Como
agente molhante foi selecionado o lauril sulfato de sódio por ser um tensoativo
que diminui a tensão superficial e melhora a molhabilidade dos fármacos em
água, apresentando capacidade de aumentar sua solubilidade. A partir das
análises sobre os agentes desintegrantes, foi possível perceber que o amido
glicolato de sódio interfere na formulação aumentando a solubilidade dos
fármacos e facilitando a desintegração dos mesmos, sendo então um excipiente
facilitador da dissolução. O manitol apresentou-se como melhor opção para ser
usado como diluente em cápsulas de baixa solubilidade, por apresentar
compatibilidade com os demais excipientes da formulação, ser solúvel e auxiliar
na desintegração (VILLANOVA; SÁ, 2009).
11
A fórmula para o excipiente-padrão para os fármacos da classe II do SCB
está representada no tabela 2.
Tabela 2: Fórmula padronizada para os fármacos da classe II
Excipientes
Quantidade (% p/p)
Classe
Aerosil (dióxido de
silício coloidal)
0,5
Dessecante
Lauril sulfato de sódio
1,5
Agente molhante
Amido glicolato de
sódio
3,0
Desintegrante
Manitol
q.s.p. 100,0
Diluente
C. Para os fármacos da Classe III
A permeabilidade à membrana biológica é considerada como passo
limitante do processo de absorção dos fármacos da classe III. Foram sugeridos
para composição da fórmula de excipiente-padrão excipientes que favoreçam a
permeabilidade dos fármacos, aumentando assim, sua biodisponibilidade.
O pequeno tamanho das partículas do aerosil/dióxido de silício coloidal e
sua grande área de superfície proporcionam características desejáveis de fluxo,
sendo selecionado como adsorvente, dessecante e deslizante. O lauril sulfato
de sódio é empregado como agente molhante e lubrificante de cápsulas. Tem
sido empregado como agente molhante para aumentar a dissolução e
biodisponibilidade de fármacos veiculados em formas farmacêuticas sólidas e
também para neutralizar forças eletrostáticas e aumentar moderadamente a
permeabilidade dos fármacos por três horas. A celulose microcristalina pode ser
usada tanto como diluente, quanto como lubrificante, desagregante e
adsorvente. Apesar de ser insolúvel na água, auxilia na desagregação da forma
farmacêutica sem interferir na solubilidade do fármaco no meio dissolvente.
Como diluente, foi escolhido o amido, um polissacarídeo de origem vegetal, que
apesar de insolúvel em água, não interfere na solubilidade do fármaco
veiculado. O amido é um diluente de primeira escolha por não apresentar
incompatibilidade entre os fármacos. É necessário associá-lo a outro diluente
por ser coesivo e apresentar pobre característica de fluxo. Nessa fórmula, ele é
associado com a celulose microcristalina, que é um bom diluente para cápsulas
que apresentam fluxo livre, facilitando o processo de preenchimento e
auxiliando na desagregação da forma farmacêutica.
A fórmula para o excipiente-padrão para os fármacos da classe II do SCB
está representada na tabela 3.
12
Tabela 3: Fórmula padronizada para os fármacos da classe III
Excipientes
Quantidade (% p/p)
Classe
Aerosil (dióxido de
sílicio coloidal)
0,5
Dessecante/Deslizante
Lauril sulfato de sódio
2,0
Agente Molhante
Celulose
microcristalina
25,0
Diluente
Amido
q.s.p. 100,0
Diluente
D. Para os fármacos da Classe IV
Foram selecionados excipientes com características para favoráveis
tanto à solubilidade quanto à permeabilidade pois, os fármacos desta classe IV
tem estas características desprivilegiadas.
Foi determinado que a melhor composição para este excipiente-padraão
seria a partir de dessecante, desintegrantes, diluentes e molhantes.
Tabela 4: Fórmula padronizada para os fármacos da classe IV
Excipientes
Quantidade (% p/p)
Classe
Aerosil(Dióxido de
silício coloidal)
0,5
Deslizante
Polissorbato 80
2,0
Agente molhante
Lauril Sulfato de Sódio
2,0
Agente molhante
Docusato sódico
0,5
Desintegrante e agente
molhante
Amido
q.s.p 100,0
Diluente
O aerosil /dióxido de silício coloidal foi selecionado na classe dos
agentes dessecantes na concentração de 0,5%, por ter função dessecante e
antiaderente. Na classe dos agentes molhantes foi escolhido o lauril sulfato de
sódio, que é um tensoativo solúvel em água, usado para aumentar a dissolução
e biodisponibilidade dos fármacos além de favorecer a permeabilidade cutânea.
Também o docusato sódico que além de molhante também agiria como
13
desintegrante. Ainda na classe dos molhantes, foi selecionado o polissorbato
80, que é um bom solubilizante e tanto o lauril sulfato de sódio, quanto o
docusato sódico e o polissorbato 80, favorecem a dissolução dos fármacos e
melhoram a solubilidade e absorção. Por fim, como diluente foi escolhido o
amido que não possui relato de incompatibilidades e é amplamente utilizado no
preparo de cápsulas, além de ter um custo interessante.
CONCLUSÃO
A utilização de excipientes específicos que ajam favorecendo a liberação
e absorção dos fármacos é essencial ao bom desempenho terapêutico dos
medicamentos.
Através do SCB, do agrupamento dos fármacos, a elaboração de
excipientes que pudessem favorecer características desprivilegiadas se tornou
menos trabalhosa. Para a elaboração de uma fórmula de excipiente-padrão, as
características dos fármacos e principalmente dos excipientes devem ser
exaustivamente analisadas.
Dentre todas as classes de excipientes existentes e seus inúmeros
constituintes, foram selecionados aqueles que mais contribuíram quanto a
solubilidade e/ou permeabilidade dos fármacos, os quais foram: celulose
microcristalina, aerosil, lauril sulfato de sódio, amido, amido glicolato de sódio,
aerosil (dióxido de silício coloidal), manitol, polissorbato 80 e docusato sódico.
Logo, a padronização de excipientes se torna um fator importante para
que os medicamentos tenham maior segurança e qualidade final.
14
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL, M. H. A. Modulação da cedência de fármacos - Efeito das
características tecnológicas nos modelos de liberação. Dissertação de
doutorado - Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. 2003
AMIDON, G.L.; LENNERNÃS, H.; SHAH, V.P.; CRISON, J.R. A theoretical
basis for a biopharmaceutic drug classification: the correlation of in vitro drug
product dissolutionand in vivo biovaibility. Pharmaceutical Research. 1995. v 12
n 3 . p 413 - 420.
ANSEL, H. C.; POPOVICH, N. G.; ALLEN JUNIOR, L. V. Farmacotécnica:
formas farmacêuticas e sistema de liberação de fármacos. 6. ed. São Paulo:
Premier, 2000. 568p.
AULTON, M. E. Delineamento de formas farmacêuticas. 2. ed. Porto Alegre:
Editora Artmed, 2005. cap. 18, p. 264 -284.
BARCELLOS,
N.M.S.
Farmacocinética.
1998.
Disponível
em:
http://www.farmacia. ufmg.br/ cespmed/text7.htm. Acesso em: 19 de agosto de
2011.
BONAMICI, D. Sistema de classificação biofarmacêutica e bioisenções. 171 p.
Dissertação de Mestrado. São Paulo, Faculdade de Ciências Farmacêuticas da
Universidade de São Paulo, 2009.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Recomendações para
realização de ensaios de dissolução para formas farmacêuticas sólidas orais de
liberação imediata (FFSOLI). Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/
medicamentos/recomenda/recomenda_dissolucao2.pdf. Acesso em: 17 de
agosto de 2011.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Consulta Pública nº 89, de
22 de outubro de 2002. Guia Para Realização de alterações, inclusões e
notificações pós-registro de medicamentos similares e novos. Disponível em:
<http://www4.anvisa.gov.br/base/visadoc/CP/CP[2925-1-0].PDF>. Acesso em:
16 de agosto de 2011.
BRASIL. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC
n° 67, de 8 de Outubro de 2007. Dispõe sobre boas práticas de
manipulação de preparação magistrais e oficinais para uso humano em
farmácias.
Disponível
em:
http://www.farmacia.ufg.br/uploads/130/original_RDC_67_de_2007.pdf. Acesso
em: 27 de abril de 2013.
DEZANI, A. B. Avaliação in vitro da solubilidade e da permeabilidade da
lamivudina e da zidovudina. Aplicações na classificação biofarmacêutica. 2010.
15
140 p. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Faculdade de Ciências
Farmacêuticas da Universidade de São Paulo, 2010.
Farmacopéia
Brasileira.
2.ed.
1959.
Disponível
em:
<http://www.anvisa.gov.br/hotsite/farmacopeia/publicacoes/2_edicao/monografi
as.pdf>. Acesso em: 23 de agosto de 2011.
FERREIRA, A.O. Guia prático da farmácia magistral. 3.ed. São Paulo:
Pharmabooks, 2008.
FLACH, A.O.P.; DALLA COSTA, T. Avaliação dos critérios de insenção de
estudos de bioequivalência in vivo para medicamentos orais em forma
farmacêutica sólida de liberação imediata. Departamento de Produção e
Controle de Medicamentos, Faculdade de Farmácia – UFRGS . Caderno de
Farmácia, v. 15, n. 2, p. 49-58, 1999.
LIRA, L. M. Avaliação de sistemas nanoparticulados baseados em bentonita
sódica purificada como incrementadores de dissolução em comprimidos
preparados por granulação úmida. 137 p. Dissertação – Universidade federal do
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2004.
PRISTA, L. N.; ALVES, A. C.; MORGADO, R. Tecnologia Farmacêutica. 4. ed.
Porto Alegre: Editora Fundação Calouste Gulbenkian, 1996a. v. 2. 1450 p.
PRISTA, L. N.; ALVES, A. C.; MORGADO, R. Tecnologia Farmacêutica. 4.ed.
Porto Alegre: Editora Fundação Calouste Gulbenkian, 1996b. v. 3. cap. 19, p.
2165 – 2191.
RANG, H. P.; DALE, M. M.; Ritter, J. M. Farmacologia. 4.ed. Editora Guanabara
Koogan S.A: Rio de Janeiro, 2001.
SERRA, C. H. dos R. Avaliação in vitro da permeabilidade de fármacos em
tecido intestinal de rato. Aplicações na classificação biofarmacêutica.
Faculdade de Ciências Farmacêuticas - Universidade de São Paulo (USP).
2011
SERRA, C. H. dos R. Avaliação in vitro da permeabilidade de fármacos por
meio do modelo da membrana artificial paralela (PAMPA) - aplicação na
classificação biofarmacêutica. Faculdade de Ciências Farmacêuticas Universidade de São Paulo (USP). 2011
SOUZA, J.; FREITAS, Z. M. F.; STORPIRTIS S. Modelos in vitro para
determinação da absorção de fármacos e previsão da relação
dissolução/absorção. Escola de Farmácia - Universidade Federal de Ouro
Preto; Faculdade de Farmácia - Universidade Federal do Rio de Janeiro;
Faculdade de Ciências Farmacêuticas - Universidade de São Paulo. 2007.
16
SOUZA, K.J.; ALÉSSIO, P.V.; & GOMES, A.J.P.S. Desenvolvimento de
excipiente específico para cápsulas de nifedipina preparadas magistralmente:
parte I. 6 p. Trabalho de conclusão de curso – Universidade do oeste paulista.
2009.
VIÇOSA, A. L. Estudo da utilização de incrementadores de dissolução para
compressão direta: enfoque no desenvolvimento de medicamentos genéricos.
2003. 125 p. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: UFRJ / Faculdade de
Farmácia, 2003.
VILLANOVA, J.C.O. & SÁ, V.R. Excipientes, guia prático para padronização.
São Paulo: Pharmabooks, 2009.
Download