UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Wagner Felipe Costa Vaz ESTABILIZACÃO DE GATO DOMÉSTICO COM OBSTRUCÃO URETRAL-RELATO DE CASO CURITIBA 2013 Wagner Felipe Costa Vaz ESTABILIZACÃO DE GATO DOMÉSTICO COM OBSTRUCÃO URETRAL-RELATO DE CASO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Medicina Veterinária como requisito parcial para obtenção do título de Médico Veterinário. Sob a orientacao do Professor M.V Diogo da Motta Ferreira CURITIBA 2013 TERMO DE APROVAÇÃO Wagner Felipe Costa Vaz ESTABILIZACÃO DO PACIENTE GATO DOMESTICO COM OBSTRUCÃO URETRAL RELATO DE CASO Este trabalho foi julgado e aprovado para a obtenção do título de Médico Veterinário no curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 09, dezembro de 2013. Orientador: Mv. Diogo da Motta Ferreira UTP - Disciplina de Anestesiologia e Farmacologia Professor 2 Msc. Fabiana Monti UTP – Disciplina de Clínica Medica de Pequenos Animais Professor 3 Dra. Maria aparecida Alcântara UTP – Disciplina de Anatomia dos Animais Domésticos. À minha família, que sempre acreditou nos meus sonhos, mesmo abdicando dos proporcionar seus a para graduação me como Médico Veterinário. Em Arcenio especial Machado ao Vaz meu e à pai Mãe Regiane de Fátima Costa Vaz, os quais sempre me durante esta trajetória. incentivaram AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus pela sabedoria que proporcionou o que me fez chegar até aqui. A minha família que esteve do meu lado em todos os momentos nessa trajetória e minha namorada Flavia que aguentou meus momentos de estresse durante o desenvolvimento do Trabalho de Conclusão de Curso . A meus amigos e colegas de classe, com os quais dividi muitos momentos especiais nestes cinco anos, principalmente Nicole, Franciel, David e Ercilho. A todos os professores que nos auxiliaram no processo de conhecimento e no domínio de técnicas, utilizando de métodos de fácil compressão, moldando, desde cedo os futuros profissionais. Em memória a o saudoso Professor Funayama o qual tivemos a honra de cursar a disciplina de Bioquímica e a professora Maria Aparecida de Alcântara, a qual em um momento de dificuldade, quando eu pensava em desistir do curso, foi a pessoa que me motivou a perseverar e continuar os estudos. À equipe de residentes e aos professores Lourenço e Fabiana, com os quais tive o privilégio de fazer monitoria e, dessa forma, poder participar da rotina da clínica-escola durante 1 ano. À equipe SAVE - em especial a Drika, Adriana, Elaine, Galeb, Eduardo e a Luiza - onde tive a oportunidade de ser estagiário por quase dois anos e ainda fazer o estágio curricular. A todos vocês, a minha gratidão e o reconhecimento pelo importante papel que tiveram nesta etapa da minha vida. Pai, quero que os que me deste estejam comigo onde eu estou e vejam a minha glória, a glória que me deste porque me amaste antes da criação do mundo (João 17:24). RESUMO O presente trabalho aborda a estabilização de um paciente gato doméstico com obstrução uretral na forma de um relato de caso que, teve como objetivo ser revisão literária para constatar os fatores predisponentes e as alterações presentes nesta síndrome. O estudo foi realizado na Clínica Veterinária SAVE (Serviço de Atendimento Veterinário Especializado), em Curitiba-PR, num total de 360 horas, durante o período de 29 de julho a 10 de outubro de 2013, sob a supervisão da Médica Veterinária Adriana Mylla Pavone Galeb (CRMV – PR: 8168). , e a orientação acadêmica do Professor. Diogo Ferreira (CRMV – PR: 9149). Nesse período foi possível acompanhar a rotina da clínica, que é mais voltada para a medicina intensiva, e participar de procedimentos ligados ao internamento, recebimento e conduta aos pacientes críticos. Consultas, cirurgias, profilaxias dentárias, exames radiológicos, ultrassonográficos e ecocardiografias também foram acompanhados durante o estágio. O estudo realizado compreende um caso clínico de obstrução uretral em um gato doméstico, cujas revisões foram baseadas na literatura.Conclui-se que felinos obesos, sedentários que recebem dietas com altos índices de magnésio são propensos à obstrução uretral que não sendo tratada pode acarretar uma série de alterações hemodinâmicas que podem culminar ao óbito. Palavras-chave: Gato doméstico, Obstrução uretral, Alterações hemodinâmicas. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 CLÍNICA VETERINÁRIA SAVE.................................................. 3 FIGURA 2 RECEPÇÃO DA CLÍNICA VETERINÁRIA SAVE....................... 4 FIGURA 3 CONSULTÓRIO 1...................................................................... 4 FIGURA 4 CONSULTÓRIO E SALA PARA ULTRASSONOGRAFIA.......... 5 FIGURA 5 SALA PARA ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIAS................... 5 FIGURA 6 SALA DE INTERNAMENTO 1.................................................... 5 FIGURA 7 SALA DE INTERNAMENTO 2.................................................... 5 FIGURA 8 BERÇO PARA PACIENTES FILHOTES E DEBILITADOS........ 6 FIGURA 9 SALA MULTIUSO....................................................................... 6 FIGURA 10 CENTRO CIRÚRGICO............................................................... 7 FIGURA 11 APARELHOS DE GLICEMIA, LACTATO E TRIGLICERIDES E DE HEMOGASOMETRIA.......................................................... 8 FIGURA 12 APARELHO DE HEMOGASOMETRICA (EPOC)...................... 8 FIGURA 13 SALA DE ESTERILIZAÇÃO CIRÚRGICA.................................. 8 FIGURA 14 ÁREA DE RECREAÇÃO “A”....................................................... 9 FIGURA 15 ÁREA DE RECREAÇÃO “B”....................................................... 9 FIGURA 16 CANIS EXTERNOS PARA HOSPEDES ................................... 9 FIGURA 17 URETRA FELINO MACHO......................................................... 19 LISTA DE ABREVIAÇÕES mEq = Miliequivalentes Kg = Quilograma UI = Unidade Internacional pH = Potencial Hidrogeniônico BID = A cada 12 horas IV = Intravenoso SID = A cada 24 horas SC = Subcutanêo TID = A cada 8 horas Mmol = Milimoles Pco2 = Pressão parcial gás carbônico Po2 = Pressão parcial de oxigênio pH(t). = Potencial Hidrogeniônico corrigido pela temperatura pO2(t). = Pressão parcial de oxigênio corrigido pela temperatura CSo2 = Conteúdo sanguíneo de oxigênio Na+ = Sódio K+ = Potássio Ca++ = Cálcio Cl- = Cloro Hct = Hematocrito PPT = Proteina porção total ALT= alanina aminotransferase FA= fosfatase alcalina L= Litro dl = Decilitro μl = Mililitro RCP = Ressuscitação Cardiopulmonar TCC = Trabalho de Conclusão de Curso SAVE = Serviço de Atendimento Veterinário Especializado PIF = Peritonite infecciosa felina DTUIF = Doença do trato urinário inferior felino LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 PROCEDIMENTOS E EXAMES COMPLEMENTARES ACOMPANHADOS NO PERIODO DE 1 DE AGOSTO A 5 DE OUTUBRO NA CLINICA VETERINÁRIA SAVE ......................... 12 GRÁFICO 2 RELAÇÃO DE CASOS CLÍNICOS POR SISTEMAS EM CÃES ACOMPANHADOS DURANTE O PERÍODO DE 1 NA CLÍNICA VETERINÁRIA SAVE .................................................. 14 GRÁFICO 3 RELAÇÃO DE CASOS CLÍNICOS POR AFECÇÕES EM GATOS ACOMPANHADOS DURANTE O PERÍODO DE 1 DE AGOSTO A 5 DE OUTUBRO NA CLÍNICA VETERINÁRIA SAVE........................................................................................... 15 GRÁFICO 4 PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS REALIZADOS NO PERÍODO DE 30 DE JULHO A 5 DE OUTUBRO NA CLÍNICA VETERINÁRIA SAVE................................................................. 17 LISTA DE TABELAS TABELA 1 PROCEDIMENTOS E EXAMES COMPLEMENTARES ACOMPANHADOS NO PERIODO DE 1 DE AGOSTO A 10 DE OUTUBRO NA CLINICA VETERINÁRIA SAVE ................ 11 TABELA 2 RELAÇÃO DE CASOS CLÍNICOS POR AFECÇÕES EM CÃES ACOMPANHADOS DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO NA CLÍNICA VETERINARIA SAVE......................... 14 TABELA 3 RELAÇÃO DE CASOS CLÍNICOS POR AFECÇÕES EM GATOS ACOMPANHADOS DURANTE O PERÍODO 1 DE AGOSTO A 5 DE OUTUBRO NA CLÍNICA VETERINARIA SAVE......................................................................................... 15 TABELA 4 PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS REALIZADOS NO PERÍODO DE 1 DE AGOSTO A 5 DE OUTUBRO NA CLÍNICA VETERINÁRIA SAVE................................................ 16 TABELA 5 HEMOGASOMETRIA VENOSA DO PACIENTE REALIZADA 03 SETEMBRO DE 2013 NA PRIMEIRA ABORDAGEM ........ 32 TABELA 6 HEMOGASOMETRIA VENOSA DO PACIENTE REALIZADA 03 SETEMBRO DE 2013 REALIZADA DUAS HORAS APÓS A PRE ESTABILIZAÇÃO.......................................................... 33 TABELA 7 LEUCOGRAMA E BIOQUÍMICOS DO DIA 03 SETEMBRO DE 2013 DO PACIENTE GORDO............................................ 34 TABELA 8 EXAMES BIOQUÍMICOS DO PACIENTE GORDO DO DIA 05 DE SETEMBRO................................................................... 35 TABELA 9 EXAME RELAÇÃO PROTEINA CREATININA URINÁRIA DO PACIENTE GORDO DO DIA 05 DE SETEMBRO.................... 35 TABELA 10 URINALISE POR CISTOCENTESE DO PACIENTE GORDO DO DIA 05 DE SETEMB........................................................... 36 TABELA 11 EXAMES BIOQUÍMICOS DO PACIENTE GORDO DO DIA 07 DE SETEMBRO................................................................... 37 TABELA 12 LEUCOGRAMA DO DIA 07 SETEMBRO DE 2013 DO PACIENTE GORDO.................................................................. 37 TABELA 13 EXAMES BIOQUÍMICOS DO PACIENTE GORDO DO DIA 07 DE SETEMBRO.................................................................. 37 TABELA 14 LEUCOGRAMA DO DIA 13 SETEMBRO DE 2013 DO PACIENTE GORDO.................................................................. 38 TABELA 15 EXAMES BIOQUÍMICOS DO PACIENTE GORDO 13 DE SETEMBRO............................................................................. 38 TABELA 16 ANTIBIOGRAMA PACIENTE GORDO DO DIA 10 DE OUTUBRO 39 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................ 1 2 CARACTERÍSTICAS DO LOCAL DO ESTAGIO................................... 3 2.1 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS........................................................... 10 2.2 CASUÍSTICA………………………………………………………………… 11 3 REVISÃO DE LITERATURA.................................................................. 18 3.1 ANATOMIA DA URETRA........................................................................ 18 3.2 INERVAÇÃO DA VESÍCULA URINARIA................................................ 19 3.3 OBSTRUÇÃO URETRAL EM GATOS DOMESTICOS.......................... 20 3.4 ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA........................................................... 20 3.5 OBSTRUÇÃO URETRAL........................................................................ 21 3.6 FATORES PREDISPONENTES............................................................. 22 3.7 ABORDAGEM EMERGENCIAL............................................................. 24 3.8 TRATAMENTO CLÍNICO: PRINCIPAIS ALTERAÇÕES SISTÊMICAS.. 26 3.9 EXAMES NECESSÁRIOS....................................................................... 27 3.10 BLOQUEIO DO NERVO PUDENDO....................................................... 27 3.11 TRATAMENTO CIRÚRGICO.................................................................. 29 4 RELATO DE CASO................................................................................ 31 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................. 40 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 42 REFERÊNCIAS.................................................................................................. 43 1 1 INTRODUÇÃO Este trabalho descreve os resultados do estudo de caso acompanhado durante as atividades realizadas no período de estágio curricular, iniciado no dia 29 de julho a 10 de outubro de 2013. Estas atividades foram desenvolvidas na área de clínica médica de pequenos animais, na Clínica Veterinária SAVE-Serviço de Atendimento Veterinário Especializado, situada na Rua Dr. Lauro Wolff Valente, 176, Bairro Portão – Curitiba/PR. O referido estágio teve como objetivo colocar em prática o conhecimento adquirido durante a graduação, por meio de auxilio no atendimento, cuidados com os internados e acompanhamento de casos cirúrgicos na rotina da clínica. A SAVE foi inaugurada em 2009, voltada ao atendimento emergencial, internações clínicas, cirurgias e terapia intensiva. Para isso, a clínica conta com profissionais treinados e com especialização, tecnologia avançada e suporte diagnóstico. Trabalha também em parceria com outros profissionais autônomos e consultórios de Curitiba e região metropolitana. Possui um quadro de funcionários de 13 médicos veterinários, três estagiários e uma auxiliar de limpeza. A estrutura da clínica é composta por dois consultórios, sendo um deles para exames diagnósticos e outro utilizado como consultório, uma recepção, um almoxarifado, cozinha e sala para os plantonistas, três internamentos, sendo um deles para gatos e para suspeita de doenças contagiosas , sala de atendimentos emergenciais, centro cirúrgico, sala multiuso, ofertando também serviços terceirizados de exames radiográficos e ecocardiográficos. A escolha do local de estágio foi motivada pela infraestrutura da clínica, casuística e pelo modo de atuação dos profissionais. 2 Neste relatório constam informações sobre o local de realização do estágio, as atividades desenvolvidas, a casuística da clínica dentro desse período, e dentre os casos clínicos que foram objeto de estudo, um foi escolhido para discussão. Portanto, o trabalho está organizado em 5 partes, sendo Capítulo 1, introdutório, onde são apresentados o objetivo do estudo e sua metodologia; Capítulo 2, com a descrição das características do local do estágio; Capítulo 3, a revisão literaria; Capítulo 4, relato do caso cliníco; e capítulo 5, resultados e discussão. 3 2 CARACTERÍSTICAS DO LOCAL DE ESTÁGIO O estágio curricular foi realizado na Clínica Veterinária SAVE- Serviço de Atendimento Veterinário Especializado (Figura 1), localizado na Rua Dr. Lauro Wolff Valente, 176, Bairro Portão, na cidade de Curitiba, Estado do Paraná. FIGURA 1 – CLÍNICA VETERINÁRIA SAVE FONTE: O AUTOR (2013) Na entrada da SAVE há uma sala de recepção (Figura 2), onde são feitos os cadastros para os atendimentos clínicos e expostas alguns medicamentos, como vermífugos, probióticos, antipulgas, antibióticos e anti-inflamatórios em comprimidos. Esta recepção dá acesso a dois consultórios, sendo que um deles é utilizado para exames de imagem, além dos consultórios (Figura 3) para o atendimento médico veterinário. 4 FIGURA 2 – RECEPÇÃO DA CLÍNICA VETERINÁRIA SAVE FIGURA 3 – CONSULTÓRIO 1 FONTE: O AUTOR (2013) A clínica conta com um consultório dotado de equipamento de ultrassonografia (Figura 4) e uma sala de atendimento emergencial (Figura 5), equipada com uma mesa própria para ressuscitação cardiopulmonar (RCP), concentrador de oxigênio, traqueotubos à disposição, monitor multiparâmetro, dosadores de glicemia, lactato e triglicérides, aparelhos para aferição de pressão arterial, soluções para fluidoterapia, um carrinho com seringas, agulhas, catéter, sondas e demais materiais utilizados no atendimento emergencial, organizados em seus respectivos lugares e de fácil acesso. . 5 FIGURA 4 – CONSULTÓRIO E SALA PARA ULTRASSONOGRAFIA FIGURA 5 – SALA PARA ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIAS FONTE: O AUTOR (2013) São três áreas de internamento (Figuras 6 e 7), contendo gaiolas com porta de vidro, o que favorece a manutenção da higiene e possibilita observar melhor o animal internado. FIGURA 6 – SALA DE INTERNAMENTO 1 FIGURA 7– SALA DE INTERNAMENTO 2 FONTE: O AUTOR (2013) 6 E conta ainda com quatro berços para filhotes ou animais pequenos debilitados (Figura 8) e uma área isolada para os felinos e para os casos de suspeita de doenças infecto-contagiosas. Todas as gaiolas são revestidas em cerâmica e possuem ralos separados para lavagem e limpeza. Há uma sala de estoque de medicamentos e materiais, dois banheiros, sala para plantonistas equipada com cozinha e cama, uma sala multiuso (Figura 9) onde são feitos os procedimentos odontológicos e procedimentos como acupuntura, radiografias, consultas com especialistas e exames citológicos. FIGURA 8 - BERÇO PARA PACIENTES FILHOTES E DEBILITADOS FIGURA 9 - SALA MULTIUSO FONTE:O AUTOR (2013) 7 A clínica conta com um centro cirúrgico equipado com mesa pantográfica, foco de teto, aparelho de anestesia inalatória, concentrador de oxigênio, monitor multiparâmetro, aparelho de oximetria, bombas de infusão, aparelho para aquecer o fluido, dentre outros recursos (Figuras 10, 11 e 12), e medicamentos necessários para intercorrências durante o procedimento FIGURA 10 – CENTRO CIRÚRGICO FONTE: O AUTOR (2013) Para os exames rápidos, a clínica dispõe de aparelhos de glicemia, lactato e triglicérides e de hemogasometria (EPOC), demonstrados nas Figuras 11 e 12, na sequência. 8 FIGURA 11 – APARELHOS DE GLICEMIA, LACTATO E TRIGLICERIDES E DE HEMOGASOMETRIA FIGURA 12 – APARELHOS DE HEMOGASOMETRIA EPOC FONTE: O AUTOR (2013) Anexo ao centro cirúrgico encontra-se uma sala onde é feita a esterilização dos materiais cirúrgicos. FIGURA 13 - SALA DE ESTERILIZAÇÃO CIRÚRGICA FONTE: O AUTOR (2013) 9 Na parte externa há uma área cercada e com grama (Figuras 14 e 15), onde os cães são soltos em determinada hora para que possam urinar, defecar ou participar de atividades de recreação fora do ambiente hospitalar, o que favorece a melhora do paciente. FIGURA 14 – ÁREA DE RECREAÇÃO “A” FIGURA 15 – ÁREA DE RECREAÇÃO “B” FONTE: O AUTOR (2013) Nesse espaço estão instalados, também, três canis (Figura 16), equipados com cobertura e plataforma para o animal não ficar em contato com o chão, e é nesse local que, geralmente, os animais ficam hospedados durante o dia. FIGURA 16 – CANIS EXTERNOS FONTE: O AUTOR (2013) 10 2.1 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS Durante o período de estágio pôde-se aprimorar a capacidade de identificar, avaliar e solucionar diversos casos clínicos por meios diagnósticos e de interpretação de exames complementares e indicação de terapias, cuidados de enfermagem e acompanhamento na orientação aos responsáveis pelos pacientes. Pôde-se ainda observar as consultas e procedimentos cirúrgicos, desde a preparação dos pacientes até o retorno anestésico. Vivenciando também a abordagem ao paciente crítico na emergência, sendo esta a principal rotina da Clínica SAVE, bem como a abordagem ao responsável pelo paciente. A SAVE trabalha, na grande maioria das vezes, com pacientes oriundos de outras clínicas e pet shops. As consultas são conduzidas de acordo com a queixa dos responsáveis pelo paciente, e o estado clínico do animal. Também eram realizadas as prescrições de medicamentos, e quando necessário eram solicitados exames complementares e internamento. Alguns exames são terceirizados como os laboratoriais, radiograficas, endoscopias, ecocardiograficas. Os exames de ultrassonografia são feitos na própria clínica, tendo uma preparação prévia do paciente com jejum alimentar de, no mínimo, quatro horas, e administração de dimeticona com finalidade de diminuir os gases do trato gastrointestinal e facilitar o exame. Nos pacientes internados são feitos exames seriados para ver a resposta aos tratamentos. Os pacientes internados recebem uma atenção especial tendo uma ficha clínica na qual está instituída as medicações e as dosagens as quais são distribuídas durante as 24 horas, sendo aferidos parâmetros fisiológicos periodicamente a cada duas horas e sempre antes dos horários das medicações. 11 As rotinas cirúrgica e anestesiológica foram acompanhadas desde o preparo dos pacientes, a medicação pré-anestésica (MPA), indução, como também no auxílio de alguns procedimentos cirúrgicos e durante a anestesia, até os cuidados no pós-operatório. 2.2 CASUÍSTICA Foram acompanhados ao longo desses dois meses, 128 procedimentos, entre consultas, vacinas e exames complementares (ultrassonografia, ecocardiografias e radiografias), citadas na Tabela 1 e no Gráfico 1. TABELA 1 – PROCEDIMENTOS E EXAMES COMPLEMENTARES ACOMPANHADOS NO PERIODO DE 1 DE AGOSTO A 10 DE OUTUBRO NA CLINICA VETERINÁRIA SAVE Procedimentos e Exames Consulta Clínicas Ultrassonografia Radiografias Ecocardiografia Endoscopia Vacinação Desverminação TOTAL Nº de casos 25 50 15 10 3 20 8 128 FONTE: O AUTOR (2013) % 21,8 39 11,7 7,8 2,6 15,6 6,3 100 12 GRÁFICO 1 - PROCEDIMENTOS E EXAMES COMPLEMENTARES ACOMPANHADOS NO PERIODO DE 1 DE AGOSTO A 5 DE OUTUBRO NA CLINICA VETERINÁRIA SAVE FONTE: O AUTOR (2013) Neste período foram acompanhados 186 casos clínicos no internamento, sendo 159 (85,4%) cães (Tabela 2) e (Gráfico 2) e 27 (14,6%) gatos (Tabela 3) e (Gráfico 3). Dentre os cães atendidos observou-se que as afecções mais frequentes estavam relacionadas ao aparelho digestório, sendo 16 casos de gastroenterite alimentar (10,1%), quatro casos de gastrite (2,5%), oito casos de pancreatite (5,0%), 12 casos de hepatopatia (7,5%), três casos de colangite (1,9% ). Um caso de suspeita de cirrose hepática (0,6%) e quatro casos de presença de corpos estranhos (2,5%). Não estão incluídas neste grupo as afecções infectocontagiosas com sinais gastroentéricos. Dentre elas, foram diagnosticadas 18 casos de parvovirose (11,3%) e quatro casos de cinomose (2,5%). 13 No sistema urinário verificou-se, com maior frequência, as insuficiências renais em 10 cães (6,3%) e dois casos de cistites (1,3%). Dos pacientes com endocrinopatias destacaram-se diabetes mellitus presentes em quatro cães (2,5%) e hiperadrenocorticismo em dois cães (1,3%). Nos atendimentos ao aparelho reprodutor foram frequentes os quadros de piometra em cinco fêmeas (3,1%) e um caso de cesariana (0,6%). No sistema cardiorrespiratório destacaram-se pacientes com pneumonia em um cão (0,6%) e dois (1,3%) casos de broncopneumonia, em quatro (2,5%) cães cardiomiopatia dilatada e oito (5,0%) com doença degenerativa da valva mitral. Foram diagnosticadas cinco casos (3,1%) de hemoparasitoses causada por erliquiose. As enfermidades do aparelho locomotor acompanhadas foram luxação patelar em dois cães (1,3%), três casos (1,9%) de displasia coxofemoral. Acometendo o sistema nervoso foram observados discopatias em dois cães (1,3%), quatro casos (2,5%) de epilepsia idiopática, dois animais (1,3%) com trauma craniocefálico, cinco cães (3,1%) com lesão toracolombar, quatro (2,5%) com trauma por mordedura e três (1,9%) por traumas automobilísticos, além de três casos de intoxicação (1,9%). Afecções oncológicas foram 14, sendo dois casos (1,3%) de hemangioma esplênico, dois casos (1,3%) de linfoma intestinal, 2 animais (1,3%) com osteosarcomas, 2 casos (1,3%) de carcinoma espinocelular(1,3%) e 6 casos (3,8%) de adenocarcinoma mamário. 14 TABELA 2 – RELAÇÃO DE CASOS CLÍNICOS POR SISTEMAS EM CÃES ACOMPANHADOS DURANTE O PERÍODO NA CLÍNICA VETERINARIA SAVE Nº de casos CARDIORESPIRATORIO DIGESTÓRIO HEMOPARASITOSE INFECTOCONTAGIOSAS INTOXICACÃO NEUROLOGICOS ONCOLOGICOS ORTOPEDICOS UROGENITAIS Total de cães % 12 48 5 22 3 19 14 12 18 159 7,6 30,2 3,1 13,4 1,9 12,0 8,8 7,6 11,3 100 FONTE: O AUTOR (2013) GRÁFICO 2 - RELAÇÃO DE CASOS CLÍNICOS POR SISTEMAS ACOMPANHADOS DURANTE O PERÍODO DE 1 NA CLÍNICA VETERINÁRIA SAVE FONTE: O AUTOR (2013) Durante os atendimentos dos pacientes felinos destacaram-se as afecções do sistema urinário, sendo 12 casos (44,4%) de insuficiências renais, quatro casos (14,%) de cistites, três casos (11,1%) de hepatopatias, três casos (11,1%) de trauma 15 e dois casos (7%) de cardiomiopatia hipertrófica. além de um caso (3,7%) de tromboembolismo aórtico. Das doenças infectocontagiosa apenas dois casos (7%) de Peritonite infecciosa felina (PIF). TABELA 3 – RELAÇÃO DE CASOS CLÍNICOS POR AFECÇÕES EM GATOS ACOMPANHADOS DURANTE O PERÍODO 1 DE AGOSTO A 5 DE OUTUBRO NA CLÍNICA VETERINARIA SAVE Cardiomiopatia hipertrófica Cistites Hepatopatias PIF Trauma Tromboembolismo Insuficiências renais Total de Gatos Nº de casos 2 4 3 2 3 1 12 27 % 7,4 14,8 11.,1 7,4 11,1 3,6 44,4 100 FONTE: O AUTOR (2013) GRÁFICO 3 - RELAÇÃO DE CASOS CLÍNICOS POR AFECÇÕES EM GATOS ACOMPANHADOS DURANTE O PERÍODO DE 1 DE AGOSTO A 5 DE OUTUBRO NA CLÍNICA VETERINÁRIA SAVE FONTE: O AUTOR (2013) 16 Dos procedimentos cirúrgicos foram acompanhadas 31 procedimentos cirúrgicos, sendo 8 procedimentos de ovário-salpingo-histerectomia (25,8%), 4 procedimentos de profilaxias dentárias (12,9%), 3 casos de nodulectomia (9,8%), 3 procedimentos de orquiectomias (9,8%), 2 casos de laparotomia exploratória (6,5%), 2 procedimentos de síntese de ferimentos (6,5%), 2 casos de enterectomia (6,5%), 1 procedimentos de exodontia (5%), 1 procedimentos de herniorrafia perineal (3,2%), 1 casos de cesariana (3,2%), 1 procedimento de denervação acetabular (3,2%), 1 caso de eventração (3,2%) e 1 caso de colocefalectomia (1%), 1 caso de uretrostomia perineal seguida de penectomia (Tabela 4) e (Gráfico 4). TABELA 4 – PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS REALIZADOS NO PERÍODO DE 1 DE AGOSTO A 5 DE OUTUBRO NA CLÍNICA VETERINÁRIA SAVE Procedimentos Cirúrgicos Ovário-salpingo-histerectomia (OSH). Nº de casos 8 % 25,8 Orquiectomia 3 9,8 Cesariana 1 3,2 Profilaxia dentária 4 12,8 Exodontia 1 3,2 Enterectomia Laparotomia Exploratória 2 2 6,5 6,5 Nodulectomia 3 9,8 Hérniorrafia perineal Eventração Colocefalectomia 2 1 1 6,5 3,2 3,2 Denervação acetabular Uretrostomia perineal+ penectomia 1 1 3,2 3,2 Síntese de ferimentos TOTAL 1 31 3,2 100 FONTE: O AUTOR (2013) 17 GRÁFICO 4 - PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS REALIZADOS NO PERÍODO DE 30 DE JULHO A 5 DE OUTUBRO NA CLÍNICA VETERINÁRIA SAVE FONTE: O AUTOR (2013) 18 3 REVISÃO DE LITERATURA Os estudos realizados por autores como Dyce (1997); Nelson e Couto (2001); Alves (2006); Corgozinho e Souza (2006); KINTOPP (2006); Rosenfeld (2012); ÁVILLA (2008), dentre outros tomados como referência permitem aprofundar conhecimentos sobre a anatomia da uretra de gatos domésticos e aspectos relacionados à obstrução uretral, como sua etiologia e fisiopatologia, fatores predisponentes e formas de tratamento, abordados neste capítulo. 3.1 ANATOMIA DA URETRA O trato urinário inferior do gato doméstico é formado pela vesícula urinária e pela uretra. A vesícula urinária é separada em três porções, sendo elas o ápice, que forma a parte cranial, o corpo situado entre o ápice e o colo; e o colo localizado entre as junções vesicouretrais e as uretrovesicais (ROSENFELD, 2010; ALVES, 2006). 3.1.1 Uretra de machos: gato doméstico A uretra dos gatos domésticos machos é dividida em quatro segmentos: uretra pré-prostática, uretra prostática, uretra pós-prostática e uretra peniana. Sendo uretra pré-prostática desde o colo da vesícula urinária até a glândula prostática (DYCE, 1997). A uretra prostática situa-se na região correspondente à próstata até as glândulas bulbouretrais, e a uretra peniana situa-se entre as glândulas bulbouretrais e a extremidade do pênis (CORGOZINHO e SOUZA, 2006). A uretra possui diâmetro interno de 2,4 mm na junção vesicouretral, 2,0mm na porção pré- 19 prostática, 2,3 mm na porção pós-prostática, 1,3mm na região das glândulas bulbouretrais e de 0,7 mm na porção peniana, o que explica a maior incidência de obstrução na região das glândulas bulbouretrais (CORGOZINHO e SOUZA, 2006). FIGURA 17 – URETRA FELINO MACHO Próstata Colun Reto Pênis Uretra Vesícula Ur Testículo FONTEAnimal-veter 2010 inaria A mucosa uretral dos machos é predominantemente constituída por um epitélio de transição apresentando um epitélio pavimentoso estratificado perto do orifício uretral externo (DYCE, 1997). 3.2 INERVAÇÕES DA VESÍCULA URINÁRIA O nervo hipogástrico e responsável pela inervação simpática da vesícula urinária e da uretra (KINTOPP, 2006). As inervações parassimpáticas colinérgicas são realizadas pelo nervo pélvico. O nervo pélvico tem ação sobre o músculo detrusor estimulando a contração vesical. O nervo pudendo tem origem entre as 20 raízes nervosas S1 e S3 e é responsável pela inervação somática da uretra e pela inervação do esfíncter uretral externo (CORGOZINHO e SOUZA, 2006). 3.3 OBSTRUÇÃO URETRAL NOS GATOS DOMÉSTICOS Segundo ÁVILLA (2008), a obstrução uretral é considerada relativamente comum nos gatos, e a principal causa de obstrução uretral são plugs mucosos gerados pela DTUIF.Outra causa importante são os urólitos de estruvita e os de oxalato de cálcio, gerados principalmente por alterações no pH urinário (OSBORNE, 2004). Outras causas a considerar são neoplasias e estenoses, porém apresentam uma baixa incidência (KAUFMAN et all, 2009). 3.4 ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA 3.4.1 Etiologia A obstrução uretral em gatos domésticos pode ser gerada por causas mecânicas, anatômicas e funcionais, com as mecânicas apresentando maior incidência através da formação de urólitos e tampões (NELSON e COUTO, 2001). A cistite idiopática felina é uma afecção de fundo neurogênico, representando o principal fator que leva a obstrução uretral em felinos (KINTOPP, 2008). Traumas iatrogênicos, causados em sua maioria por cateterização uretral, podem levar a uretrites ou inflamação periuretral levando a estenose uretral (KAUFMAN et al., 2009) 21 Já as causas de obstrução funcional, definidas pela incapacidade de micção devido à contração inapropriada dos músculos envolvidos na micção, ocorrem, por exemplo, nos animais que sofreram distensão excessiva da musculatura vesical por retenção urinária prolongada como também, nos animais com espasmos da musculatura uretral no período pós desobstrutiva (ALVES, 2010). 3.5 OBSTRUÇÃO URETRAL A obstrução uretral é considerada uma emergência clínica devido a possibilidade de desenvolvimento de azotemia, acidose metabólica e hipercalemia podendo levar o paciente ao óbito. Segundo Pessoa (2008), quase 1% de todos os casos clínicos que atendidos nos hospitais e clínicas veterinárias de todo o mundo são de gatos domésticos apresentando quadro clínico de obstrução uretral. É uma injúria comum, sendo a causa mais comum os plugs uretrais gerados na DTUIF, cerca de 59%, porém, estenoses e neoplasias também podem gerar obstrução. O aumento de pressão gerado pela obstrução uretral pode promover lesão ao urotélio, músculo detrusor e até a inervação vesical podendo gerar falência renal aguda (ÁVILLA et al., 2008). Obstruções completas podem gerar distensão excessiva da vesícula urinária,resultando em aumento de pressão retrógrado, hidroureter e dilatação da pelve renal promovendo hidronefrose (OSBORNE, 2004). Após 24 horas de obstrução se iniciam anormalidades tubulares, como a redução da capacidade de concentração da urina, da reabsorção de solutos e água e a da excreção urinaria de íon H+ e PO4 -3 (ÁVILLA et al., 2008). Depois de 30 horas de obstrução iniciam-se 22 sinais como atrofia tubular, espessamento intersticial, fibrose e perda de néfrons gerando lesões irreversíveis ao parênquima renal e acúmulo de compostos nitrogenados e toxinas orgânicas, com consequente azotemia (HORTA, 2006). Segundo Horta (2006), os rins são órgãos vitais para a homeostase do organismo exercendo um papel de suma importância no controle hidro-eletrolítico. Por isto quanto maior o tempo de obstrução maior serão as conseqüências, conduzindo o animal a óbito em três a seis dias pós obstrução. 3.6 FATORES PREDISPONENTES 3.6.1 Idade A literatura cita que a maior ocorrência de obstrução uretral esta entre gatos adultos jovens de dois a seis anos de idade, e raramente acomete animais com menos de 12 meses (NELSON e COUTO, 2001; OSBORNE, 2004; TILLEY, 2008). 3.6.2 Gênero Os machos são mais suscetíveis à obstrução uretral pela menor elasticidade e diâmetro da uretra, e nota-se maior incidência em animais castrados( MARTIN et al., 2011; SMITH,1998). 3.6.3 Dieta Segundo Nelson e Couto (2001), gatos que recebem dietas com altos teores de magnésio, tem maior predisposição a obstrução. Porém alguns estudos mostram maior incidência em animais que consomem ração seca industrializada. 23 3.6.4 Estilo de vida Felinos obesos e sedentários que não tem acesso a rua apresentam um maior risco. Nota-se um aumento na incidência no final do outono e no inverno. Além de condições de estresse como introdução de novos animais na casa em especial fatores que alteram a ingestão de comida e água (OSBORNE, 2004; KINTOPP, 2006). Quase 50% dos animais que obstruem por tampões ou urolitos apresentam recediva em um período de 4 a 12 mês após a primeira obstrução (PESSOA, 2010). 3.6.5 Histórico e Sinais clínicos O histórico e os sinais clínicos dos felinos dependem da duração da obstrução, O felino permanece por um longo período na posição de micção, dentro da liteira sanitária ou lugares inapropriados da casa, o que leva o responsável relata que o animal está constipado outros sinais clínicos são anorexia, letargia, vômito, estrangúria, polaciúria e iscúria (KIRK e BISTNER, 2002). Entre as repetidas tentativas de urinar a dor fica evidenciada, geralmente lambem o pênis ou o abdome, em cifose e vocaliza alto (DIBARTOLA e MORAIS.,2007; SMITH,1998; RABELO e PIMENTA, 2012). Segundo KINTOPP (2006), podemos observar na inspeção clínica o pênis hiperêmico e edemaciado. Na palpação,uma vesícula urinária bem distendida gerando desconforto ao animal. Geralmente quando a obstrução é total o felino não permite o exame clínico demonstrando dor grave e ausência de fluxo urinário. Deve- 24 se tomar cuidado com a pressão exercida sobre a bexiga em virtude da fragilidade da musculatura, podendo ocorrer uma ruptura iatrogênica (SMITH,19987; CORGOZINHO e SOUZA, 2006). A desidratação é observada nos animais mais debilitados, com presença de pulso fraco ou filiforme, hipotermia, mucosas pálidas e ressecadas. Na auscultação cardiopulmonar, podemos evidenciar a presença de bradicardia ou arritmias, derivadas das alterações eletrolíticas como hipercalemia e hipocalcemia (MARTIN et al., 2010). 3.7 ABORDAGEM EMERGENCIAL Segundo RABELO e PIMENTA (2012) a maioria dos animais chegam ao serviço de urgência apresentando um histórico de anorexia, letargia, êmese e ou coma e quanto menor o tempo de obstrução menores serão as consequências e melhor será o prognostico. Fatores como o local, grau da obstrução e a presença de infecções bacterianas secundárias podem influenciar o prognostico do paciente (ÁVILLA et al., 2008 ). 3.7.1 Tratamento clínico As principais metas do tratamento de gatos com obstrução urinária são a restauração de uma uretra patente, viabilizando a excreção urinária, e a correção das alterações sistêmicas geradas para retomar o equilíbrio hemodinâmico (ALVES, 2010). As principais complicações durante a obstrução uretral são desidratação que leva ao quadro hipovolêmico seguido de choque; azotemia com acidose metabólica; 25 hiperfosfatemia e hipercalemia; e hipocalcemia que são desequilíbrios gerados nesta síndrome (RABELO e PIMENTA, 2012). Como em qualquer paciente na emergência, deve-se primeiro corrigir o que levaria o paciente ao óbito primeiro, nesses casos hipovolemia e hipercaliemia. Devendo se garantir acesso venoso, coletar sangue para análise laboratorial e iniciar fluidoterapia. A fluidoterapia é fundamental para garantir novamente a perfusão tissular e auxilando a reduzir o potássio em felinos hipercaliêmicos (BOJRAB e CONSTANTINESCU, 1996; ALVES, 2010). A eletrocardiografia é de suma importância para avaliar os efeitos funcionais da hipercalemia em felinos.(NELSON e COUTO, 2006). A Fluidoterapia deve ser iniciada em todos os pacientes complicados antes da anestesia ou da tentativa de desobstrucao. Deve-se administrar rapidamente solução fisiológica de Cloreto de Sódio a 0,9% (10 – 20ml/kg). e depois reavaliar o paciente. Após esta pré estabilização começa-se a desobstrução (ALVES, 2010). 3.8 TRATAMENTO CLÍNICO: PRINCIPAIS ALTERAÇÕES SISTÊMICAS 3.8.1 Hipotermia A hipotermia é um distúrbio comum em gatos urêmicos que devem ser aquecidos com colchão térmico, bolsas de água quente e fluidos intravenosos mornos(PLUNKET, 2006). 3.8.2 Azotemia Pós-Renal 26 Felinos azotêmicos devem receber fluidoterapia para restabelecer a homestase corporia e corrigir eventuais perdas hídricas geradas pela diurese pósobstrutiva que ocorre dentro de 12 a 24 horas após a desobstrução (HORTA, 2010; MATTHEWS, 2008). 3.8.3 Hipercalemia A incapacidade de o rim eliminar o excesso do íon potássio torna um achado comum nos animais obstruídos, sendo uma ameaça para a vida do paciente, pois o excesso leva a arritmia cardíacas que se não corrigidas podem levar o paciente a óbito (DIBARTOLLA 2006). Em casos mais graves usa se Bicarbonato de sódio na dosagem de 1 a 2 mEq/kg, por via intravenosa, durante 5 a 15 minuto, fazendo com que o potássio do espaço extracelular entre no meio intracelular. A terapia com insulina regular é indicada quando há risco de vida pela hipercalemia, e pode ser feita 1 UI/kg, associada a 2 gramas de glicose para cada unidade de insulina por em “bolus” endoflebico. A literatura também sita o uso de gluconato de cálcio a 10% com objetivo de antagonizar os efeitos do potássio nas células cardíacas podendo ser injetada pela via intravenosa de forma lenta,porem não excedendo a dosagem de 1mL/kg (RABELO e PIMENTA, 2012). 3.9 EXAMES NECESSÁRIOS 3.9.1 Exames Laboratoriais 27 Deve se solicitar hematócrito, uréia, creatinina, potássio, gasometria, urinalise glicemia e se possível solicitar um eletrocardiograma. Geralmente se faz um hemograma completo dosagem de outros eletrólitos e gasometria. Segundo Horta (2006), os resultados mais encontrados são azotemia leve a moderada, hipercalcemia e acidemia. 3.9.2 Diagnóstico por Imagem Deve se solicitar ultrassom abdominal para pesquisas de possíveis urólitos, dilatação de uretra e liquido livre em cavidade e para avaliar a vesícula e a possibilidade de irregularidades na parede (MATTHEWS, 2008). 3.10 BLOQUEIO DO NERVO PUDENDO Segundo Klauman (2012), o uso da técnica de bloqueio do nervo pudendo é de grande serventia para pacientes com obstrução uretral, principalmente aqueles que estão bem deprimidos o que inviabiliza o uso de anestésicos por via sistêmica. A técnica consiste em introduzir agulha na região dorsal ao anus , tendo como referência o esfíncter anal externo, em coincidência com os quadrantes superior esquerdo e direito, no sentido craniodorsal até tocar teto da pelve. Utilizando 0,1 ml/kg de lidocaína 2% sem vasoconstritor em cada um dos pontos com uma agulha 25G x 1´´. 3.10.1 Tratamento 28 A equipe deve promover a inspeção da uretra peniana à procura de urolitos ou tampões uretrais, deve se tentar uma massagem suave na região do pênis com objetivo de remoção da obstrução. Em casos de falhas no procedimento, deve-se promover a cateterização uretral (BOJRAB e CONSTANTINESCU,1996 ; ALVES, 2010), introduzindo um cateter ou uma sonda flexível de diâmetro adequado para o lúmen uretral, realizando manobra de hidropropulsão com solução fisiológica 0,9% com objetivo de fazer com que o material obstrutivo volte para vesícula urinaria, deve se promover a pressão no momento em que a sonda chega até o ponto de oclusão (ÁVILLA et all, 2008). Caso não se obtém sucesso com a manobra, a literatura indicam a realização da manobra de cistocentese com o intuito de diminuir a pressão dentro da vesícula (BOJRAB e CONSTANTINESCU, 1996; OSBORNE, 2004). Já algumas literaturas citam o uso da cistocentese antes de tentar a cateterização uretral (BATTAGLIA, 1998; RABELO e PIMENTA, 2012). Porém, deve se tomar cuidado na realização, pois pode promover ruptura da bexiga, ocasionada pela fragilidade de parede frente ao processo inflamatório e a tensão causada pela afecção vesical (ROSENFELD, 2010; BATTAGLIA,1998). Caso seja realizada a cistocentese, deve-se submeter a urina à cultura e antibiograma para eventual necessidade de antibioticoterapia pos obstrutiva (ÁVILLA et al, 2008). Cerca de 30 a 40% dos felinos obstruídos apresentam recidivas obstrutivas,nestes casos são indicado a cirurgia de uretrostomia associada ou não à penectomia. Sempre deve-se considerar a possibilidade de complicações pósoperatórias, como nova obstrução uretral a curto ou longo prazo (HORTA 2010). 3.11 TRATAMENTO CIRÚRGICO 29 Deve se promover antibióticoterapia pré-operatório utilizando antibióticos de amplo espectro. Além de uma tricotomia ampla envolvendo toda área genital e perineal do paciente. O animal é levado para a sala cirúrgica onde é anestesiado e posicionado na mesa cirúrgica em decúbito ventro esternal em cima de uma calha cirúrgica angulando em 30 (BOJRAB e.CONSTANTINESCU, 1996; PESSOA, 2008). A sondagem uretral durante o procedimento é indispensavel, pois assim permite a excreção continua de urina eliminando os metabólicos constantemente e facilitando a homeostase, outra vantagem é de servir como referencial para a incisão da uretra peniana (FOSSUM, 2005). Segundo SMITH (2008), a técnica mais recomendada e a uretrostomia perineal seguida de penectomia esta técnica tem objetivo de criar um novo orifício para saída da urina e evitar a recidiva obstrutiva, pois a abertura e feita na parte onde a uretra tem um bom diâmetro. Indica-se esta técnica para evitar recorrência de obstrução ou tratar uma obstrução que não possa ser aliviada pela sondagem uretral, também e útil para estenoses que ocorrem após obstrução e cateterização uretral, porem animais com uretrostomia tem alta incidência de infecção bacteriana no trato urinário isto devido as alterações anatômicas do meato urinário (FOSSUM, 2005). Outras complicações também são comuns no pós-operatório são: estenose, hemorragias, deiscências, extravasamento de urina nos tecidos perineais, não eliminação de urina incontinência urinaria e ou fecal, atonia vesical (ÁVILLA , 2008) 30 31 3 RELATO DE CASO Foi atendido na clinica dia 02 de setembro às 16 horas, um paciente, gato doméstico, macho, sem raça definida de 15 anos de idade, pesando 8 Kg, após ter sido encaminhado de outra clinica onde a veterinária tinha constatado a obstrução uretral aonde promoveu uma associação anestésica com quetamina xilazina e midazolan, porém, não conseguiu desobstruir, promovendo uma cistocentese e encaminhando o paciente pelo proprietário ainda sobre efeito da sedação. Na clínica o paciente chegou em hipotermia (33,4) com uma desidratação bem pronunciada, muita dor abdominal e uma bexiga super distendida, com pulso filiforme e bradicardico e, imediatamente a equipe realizou o “abc” do trauma quando foi verificada a patencia das vias aéreas, momento em que instituiu-se oxigenioterapia com máscara (animal apresentou se relutante), foi promovido um acesso venoso (cefálica direita com um cateter 20g) e promoveu analgesia com cloridrato de fentanil dose de bolus com 5 microgramas (0,1 ml kg). Começou a fluidoterapia com solução fisiológica a 0,9%(solução previamente aquecida) e foi feito o bloqueio do nervo pudendo o qual faz a inervação visceral da uretra. Realizando posteriormente a depilação e antissepsia da região para a realização da cistocentese, visando diminuir a pressão na vesícula urinária. Neste momento foi coletado sangue venoso e feito um exame de hemogasometria (Tabela 5) o qual evidenciou um ph 7,23, hipercalemia, hiponatremia, hipocalcemia, aumento de creatinina sérica (6,09) e hiperglicemia (286) que pode estar ligado, em parte pela xilazina e pelo estresse. 32 TABELA 5 – HEMOGASOMETRIA VENOSA DO PACIENTE REALIZADA 03 SETEMBRO DE 2013 NA PRIMEIRA ABORDAGEM Teste Resultado Valores de referência PH Pco2 Po2 Ph(t). pO2(t). cHco3CSo2 Na+ K+ Ca++ cl- 7,23 43,4, mmHg 47,6 mmHg 7,24 44,4 mmol/L 18,3 mmol/L 75,5% 146 mmol/L 4,8 mmol/L 1,17 mmol/L 123 mmol/L 7,310 - 7,462 47,9 a 56,3 mmHg 18 a 23 mmol/L 7,2 a 7,4 47,9 a 56,3 mmHg 18 a 23 mmol/L >95% 145 a 157 mmol/L 3,6 a 5,5 mmol/L 1,8 a 3,0 mmol/L 115 a 130 mmol/L Hct Glicemia 37% 159 mg/dl 27% a 46% 60,0 - 120,0 Lactato Creatinina 1,24 mmol/L 6,09 mg/dL < 2,5 mmol/L 1,2 a 1,8 mg/dl FONTE: O AUTOR (2013) Foram calculados os déficits eletrolíticos e infundidos. Enquanto o paciente estava sendo estabilizado, foi realizada uma tentativa de sondagem uretral com objetivo de deslocar o corpo obstrutivo em direção a vesícula. O pênis apresentava se bem hiperêmico edemaciado pelo auto traumatismo da lambedura e pela tentativa de desobstrução anterior. Nesse momento o animal começou apresentar relutância, por essa razão foi realizado um bolus de propofol 2mg/kg com objetivo de sedação permitindo a sondagem. Após a sondagem a vesícula urinária foi lavada com solução fisiológica a 0,9% até o conteúdo vir limpo, então foi fixada a sonda com nylon 3,0 e sutura de sapatilha chinesa fixada no prepúcio. A temperatura foi corrigida durante os procedimentos utilizando se um colchão térmico e um secador com toalha formando um túnel de ar neste paciente; também foi colocado plástico bolha na superfície corpórea o que diminui a perda de 33 calor. Após 2 horas de fluidoterapia foi repetida a hemogasometria, que mostrou que ainda havia um aumento do K+ de CL- e um ph 7,33, porém os outros eletrólitos já estavam dentro da referência e a creatinina que no exame anterior estava em 6.09 diminuiu para 2,2 como vistos na Tabela 12. A terapia instituída para o internamento foi a prescrição de cloridrato de Ranitidina 2mg/kg protetor gástrico (BID,IV), tramadol 2mg/kg (opioide analgesia), (SID, SC), dipirona 25mg/kg(SID,SC), meloxican 0,2mg/kg no primeiro dia e continuar com 0,1 mg/kg(SID, SC); antibioticoterapia com ampicilina+ subactam na dose de 10 mg/kg (TID, IV). TABELA 6 – HEMOGASOMETRIA VENOSA DO PACIENTE REALIZADA 03 SETEMBRO DE 2013 REALIZADA DUAS HORAS APÓS A PRE ESTABILIZAÇÃO Teste Resultado Valores de referência PH Pco2 Po2 7,38 36,9 mmHg 40,3 mmHg 7,310 - 7,462 47,9 a 56,3 mmHg 18 a 23 mmol/L Ph(t). pO2(t). cHco3CSo2 Na+ K+ Ca++ 7,31 45,1 mmol/L 19,8 mmol/L 72,4% 153 mmol/L 8,8 mmol/L 1,32 mmol/L 7,2 a 7,4 47,9 a 56,3 mmHg 18 a 23 mmol/L >95% 145 a 157 mmol/L 3,6 a 5,5 mmol/L 1,8 a 3,0 mmol/L clHct 132 mmol/L 35% 115 a 130 mmol/L 27% a 46% Glicemia Lactato 159 mg/dl 1,05 mmol/ 60,0 - 120,0 < 2,5 mmol/L Cretinina 243 mmol/ 1,2 a 1,8 mg/dl FONTE: O AUTOR (2013) 34 Devido a desidratação foi instituido fluidoterapia com ringer com lactato na dose de 6 ml kg hora e feita a lavagem do cateter urinário e esvaziamento da vesícula urinaria. Foi colocado ração seca, porém, o paciente não quis comer durante a primeira noite de internamento. Na manhã do dia 03/09 foram realizados exames (Tabela 7) de hemograma no quais foram encontrada apenas diminuição da PPT e um desvio à esquerda porém sem neutrofilia e nem leucocitose. O exame bioquímico mostrou diminuição da albumina caracterizando uma hipoproteínemia, além das alterações no perfil renal, com uréia e creatinina aumentadas, gerados pela azotemia pós-renal. TABELA 7 – LEUCOGRAMA E BIOQUÍMICOS DO DIA 03/09/2013 DO PACIENTE GORDO Teste Resultado Valores de referência PPT Leucócitos Neutrófilos Segmentados 5,40 17.300 /μl 14013 /μl 5,8 a 8.0 g/dl 5500 – 19.500 /μl 2500 - 12500 /μl Albumina Bilirrubina total Bilirrubina direta Creatinina ALT FA Ureia Bilirrubina Indireta 2,32 g/dl 0,26 mg/dl 0,13 mg/dl 2,0 mg/dl 57 UI/L 41UI/L 51 mg/dl 0,13 mg/dl 2,3- 3,8 g/dl 0,1 – 0,6 mg/dl 0,1 – 0,3 mg/dl 0,8 – 1,8 mg/dl 10,0 – 80 UI/L 10,0 – 88 UI/L 10 – 50 mg/dl 0,0 – 0,3 mg/dl FONTE: O AUTOR (2013) No primeiro dia de internamento a paciente se manteve estável com os parâmetros normais e continuou sondado em um sistema coletor fechado comeu um pouco de alimentação hipercalórica A/d da Hills, porém não defecou. Já no segundo dia o paciente continuou na fluidoterapia comeu ração seca 2x, mais acabou arrancando a sonda porém estava urinado após leve compressão. 35 No terceiro dia do internamento o paciente urinou várias vezes na liteira neste dia coletamos sangue para realização de hemograma no qual todos os parâmetros estavam dentro dos valores de referência para espécie, nos bioquímicos evidenciou se ainda uma hipoalbuminemia, melhora no perfil renal, porém o perfil hepático ouve uma piora com aumento nas enzimas hepáticas e alteração na bilirrubina (Tabela 8). TABELA 8 – EXAMES BIOQUÍMICOS DO PACIENTE GORDO DO DIA 05 DE SETEMBRO Teste Albumina ALT Bilirrubina direta Creatinina Uréia Resultado 2,23 g/dl 99 UI/L 0,43 mg/dl 1,9 mg/dl 53 mg/dl Valores de referência 2,3- 3,8 g/dl 10,0 – 80 UI/L 0,1 – 0,3 mg/dl 0,8 – 1,8 mg/dl 10 – 50 mg/dl FONTE: O AUTOR (2013) E como havia suspeita de alteração renal foi pedida relação proteína/creatinina urinaria e uma urináise onde observou a urina hipostenúrica, presença de sangue oculto na urina e um ph alcalino e a relação proteína creatinina dentro da normalidade (Tabelas 9 e 10). TABELA 9 – EXAME RELAÇÃO PROTEINA CREATININA URINÁRIA DO PACIENTE GORDO DO DIA 05 DE SETEMBRO Teste Creatinina urinaria Proteína urinaria Relação proteína creatinina urinaria Resultado 62,5 mg/dl 5,4 mg/dl 0,09 mg/dl Valores de referência 16,0- 40,0 mg/dl 6,0 – 241,00 mg/dl Relação proteína creatinina>1,97= Real lesão glomerular Relação proteína creatinina<0,57= Paciente saudável Relação proteína creatinina 0,57 a 1,97= paciente em risco FONTE: O AUTOR (2013) 36 TABELA 10 – URINALISE POR CISTOCENTESE DO PACIENTE GORDO DO DIA 05 DE SETEMBRO Teste DENSIDADE Sangue oculto PH Células transisionais Cristais Resultado 1.012 + 8 4 a 6 por campo Amorfo + Valores de referência 1.015 a 1.045 Negativo 5,5 a 7,5 Ate 2 por campo Negativo FONTE: O AUTOR (2013) No 4º dia de internamento o paciente votou a obstruir, portanto, foi novamente sondado e por ser recidiva foi optado pela realização da uretrostomia perineal + penectomia sendo marcada para o dia seguinte onde também seria realizado alguns exames pré operatórios (hemograma +uréia+ creatinina). No 5º dia foi coleta sangue para realização de hemograma , uréia e creatinina com todos os valores dentro da referencia, foi realizado um eletrocardiograma pelo anestesista que também não apresentava alterações sendo assim passou pela cirurgia de uretrostomia perineal + penectomia as 10 horas da manha Para indução da anestesia foi utilizado cateter n° 20 na cefálica esquerda com propofol (5mg/kg, IV), usando uma sonda 5,5 para intubação endotraqueal com uso de lidocaína 0,1ml direto nas aritenoides e manutenção com isoflurano e bloqueio do nervo pudendo. O procedimento durou em torno de 60 minutos e não aconteceram intercorrências durante a anestesia. O paciente continuou sondado no pós operatório com sistema fechado para evitar que a bexiga ficasse cheia. E foi instituído a protocolo terapêutico o metronidazol15 mg/kg (BID/IV) e o uso de rifocina na lesão cirúrgica (BID/tópico ). 37 TABELA 11 – EXAMES BIOQUÍMICOS DO PACIENTE GORDO DO DIA 07 DE SETEMBRO Teste Creatinina Uréia Resultado 1,5 mg/dl 39 mg/dl Valores de referência 0,8 – 1,8 mg/dl 10 – 50 mg/dl FONTE: O AUTOR (2013) No dia 7º dia de internação a sonda foi removido e exames foram repetidos (Tabela 8) que mostrou uma leucocitose, neutrofilia, linfopenia e uma eosinofilia.e no bioquímico alteração no perfil renal (Tabela 9). TABELA 12 – LEUCOGRAMA DO DIA 07 SETEMBRO DE 2013 DO PACIENTE GORDO Teste PPT Leucócitos Neutrófilos Segmentados Linfócitos Eosinófilos Resultado Valores de referência 5,80 21.700 /μl 18662 /μl 5,8 a 8.0 g/dl 5500 – 19.500 /μl 2500 - 12500 /μl 868 1.736 1000 a7000 0 a 1500 FONTE: AUTOR (2013) TABELA 13 – EXAMES BIOQUÍMICOS DO PACIENTE GORDO DO DIA 07 DE SETEMBRO Teste Creatinina Ureia Resultado 1,5 mg/dl 39 mg/dl Valores de referência 0,8 – 1,8 mg/dl 10 – 50 mg/dl FONTE: O AUTOR (2013) No dia 8º dia de internamento foi notado que a vesícula urinaria estava ficando repleta e o paciente tinha urinado pouco. Dessa forma foi adicionado ao tratamento compressão vesical a cada 4 horas. No dia 9º dia de internação foi introduzido a protocolo terapêutico amitripitilina (BID /V.O) com intuito de relaxar e facilitar a saída da urina da bexiga. No 10° dia a antibioticoterapia foi finalizada pois animal apresentava placas pelo corpo compatíveis com farmacodermia e estava a 10 dias com ampicilina e 5 dias com metronidazol e ainda estava com leucocitose. 38 No 11° dia foram repetidos os exames tendo no hemograma (Tabela 11). leucocitose, neutrofilia,desvio neutrofisario a esquerda, monocitose e eosinofilia. No bioquímico presente hipoalbumenemia,aumento da uréia e da bilirubina direta como vistas no (Tabela 12). Também foi retirado a amitriptilina pois animal apresentava sialoreia após a administração e substituído pelo benzodiazepínico diazepan (SID/IV), e deixado o paciente sondado - novamente com sonda n 4 e esvaziamento a cada 4 horas. TABELA 14 – LEUCOGRAMA DO DIA 13/09/2013 DO PACIENTE GORDO Teste PPT Resultado Valores de referência 7,20 5,8 a 8.0 g/dl 26.700 /μl 5500 – 19.500 /μl Neutrófilos bastonetes 801 0 - 300/μl Neutrófilos Segmentados 868 2500 - 12500 /μl Monócitos 1.602 0 a 850 Eosinófilos 1.869 0 a 1500 Leucócitos FONTE: O AUTOR (2013) TABELA 15 – EXAMES BIOQUÍMICOS DO PACIENTE GORDO DO DIA 13/09/2013 Teste Albumina Bilirrubina direta Ureia Resultado 1,60 mg/dl 0,5 mg/dl 57 mg/dl Valores de referência 2,3- 3,8 mg/dl 0,1 – 0,3 mg/dl 10 – 50 mg/dl FONTE: O AUTOR (2013) No 12° dia o paciente apresentou hematuria e com estava com hipoalbuminemia foi instituído o uso de colóide voluvem 10ml kg durante 1 hora duas vezes ao dia. No 13° dia o paciente enquanto recebia uma carga de colóide apresentou um episódio de vômito e teve febre durante um dos parâmetros. No 14° dia foi removida a sonda e o paciente começou a urinar sozinho sem compressão; então foi removido o tramadol e a rifocina, entrando com enrofloxacina 5mg/kg(BID/SC) e com a pomada nebacetin ao redor da uretra. 39 No 15° dia foram retirados o diazepan e o colóide, pois havia previsão de alta para outro dia, porém o animal teve dois episódios de vômito. No 16° dia o paciente começou a receber cerênia como antiemetico e lactulona para facilitar a defecação. No 17° dia o paciente recebeu alta, porém continuou vindo para fazer as medicações por mais 7 dias. Foi retirada a enrofloxacina no 21 dia, passando mais 4 dia com meloxican 0,1mg/kg (Sid/SC). No dia 07/10 foi feita outra urinálise com cultura e antibiograma sendo isolado na cultura o microorganismo Streptococcus spp e os antibióticos que são sensíveis e resistentes descritos no Tabela12. TABELA 16 – EXAME BACTERIOLÓGICO E ANTIBIOGRAMA DO PACIENTE GORDO DO DIA 10/10/2013 Antibiotico Penicilina Ampicilina Amoxicilina + Ac. Clavulonico Resultado Sensível Sensível Sensível Cefdroxil Sensível Cefalotina Resistente Cefalexina Resistente Ceftriaxona Resistente Gentamicina Resistente Neomicina Resistente Estreptomicina Resistente Azitromicina Resistente Tetraciclinas Resistente Doxiciclinas Sensível Ciprofloxacino Resistente Enrofloxacino Resistente Norfloxacino Resistente Sulfazoprin Resistente Levofloxacino Resistente Lincomicina Resistente Eritomicina Resistente Rifanpicina Sensível FONTE: O AUTOR (2013) 40 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO O paciente do relato tinha quinze anos, um pouco acima do grupo de risco que e de 1 a 10 anos citados por Nelson e Couto ( 2011) e Osborne (2004). Porém era um animal obeso, sedentário, e com fatores estressantes dentro do seu ambiente fatores relatados por Osborne (2004) e Kintopp (2006). Outro fator salientado por Rabelo e Pimenta (2012) e a importância de tratar a obstrução uretral como uma emergência, fator que e negligência por alguns colegas e proprietários, pois este paciente que já estava obstruído a 24 horas foi atendido em outro clinica onde não recebeu fluidoterapia apenas anestesia dissosiativa que pode em alguns casos piorar o quadro clinico e depois de não conseguir sondar o animal encaminhou para o serviço de emergência onde o paciente chegou bradicárdico com hipotermia e gravemente desidratado o que pode ter culminado para a necessidade de uretrostomia perineal pois segundo Kaufman (2011) o traumatismo ureteral iatrogênico e a manutenção da sonda de espera são as principais causas de estenoses ureterais os quais tem necessidade de criação de um novo caminho. Horta (2009) destaca os danos gerados pela obstrução podem acarretar distúrbios na função renal e circulatórios que podem ser catastróficos ou levarem o paciente ate ao óbito dependendo do tempo da obstrução. Por isto destaca a importância de uma equipe prepara para proceder as manobras necessárias para restabelecer a patência via urinaria o que para com a progressão dos distúrbios que deixam o paciente em um quadro de azotemia pos renal que se não tratados o mais rápido podem levar a insuficiência renal aguda. A cirurgia de uretrostomia perineal e uma ótima opção para tratar uma obstrução principalmente aquelas que não são possíveis serem revertidas pela 41 cateterizacão ou para evitar futuras recidivas, porem Fossum (2005) relata que o animal deve estar apto para receber uma anestesia e ser submetida a esse procedimento sendo de suma importância que os distúrbios eletrolíticos e bioquímicos já tenham sido normalizados para que sejam capazes de receber uma anestesia. O paciente apresentou cistite bacteriana no pós operatório complicação relatada por Smith (1998) onde foi isolado o microrganismo Streptococcus spp e na cultura que e recomendado por MATTHEWS (2008) mostrou se resistente a vários antibióticos que são usados para o trato urinaria. Esta afecsao deve ter uma provável origem pela ascendência de microrganismos causada pela falta de proteção do novo orifício e pela proximidade com o anus. ÁVILLA (2008) ainda cita outras complicações como deiscência de pontos estenose, hemorragias, deiscências, extravasamento de urina nos tecidos perineais, não eliminação de urina incontinência urinaria e ou fecal, atonia vesical. Porém o paciente apresentou apenas atonia vesical a qual após o uso de diazepan voltou a ter contração .Nelson e couto recomendam o uso de betanecol porém esta medicação já foi usada em outros pacientes na clinica não apresentando os efeitos desejados 42 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao término desta jornada conclui se, que o estágio curricular e de suma importância para formação do profissional aonde adquirisse experiências e conhecimento para toda a vida profissional. E que uma abordagem diferenciada pode aumentar as chances de sobrevida do paciente seguindo metas deixando um pouco do empirismo. Outro fator importante e a estabilização do paciente antes de pensar em uma cirurgia mesmo as vezes esta cirurgia. E a obstrução uretral mesmo sendo classificada como simples do ponto de vista técnico como trazer complicações graves como alterações hidroeletrolíticas serias que podem resultar em arritimias podendo gerar morbidade e em alguns casos podendo ser letal. E não devemos esquecer de que este paciente deve receber o atendimento emergencial garantindo uma via área patente, boa respiração geralmente utilizando oxigenioterapia e garantindo perfusão tissular geralmente e necessário iniciar uma fluidoterapia porem não esquecendo que esta animal esta com muita dor e hipotérmico necessitando também de elevar a temperatura e analgesia e geralmente faz a manobra de cistocentese a qual diminuirá a distensão vesical. 43 REFERÊNCIAS ALVES, A.M. Tratamento clínico e cirúrgico de obstrução uretral em doença do trato urinário inferior dos felinos. Monografia (Pós-Graduação Lato Sensu em clínica médica e cirurgia em pequenos animais). UCB, Rio de Janeiro, 2006 ANIMAL VETER Uretra do gato macho disponível em animalveter.blogspot.com.br /2010/08/suf-sindrome-urologica-felinna.html acessado 20/09/13. ÁVILLA , A.; JOVINO E TONINI, P.L.; FERREIRA, P.C.C in SANTOS, M. M.; in SANTOS, M.M.; FRAGATA, F.S.L. 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