salmonelose em poedeiras - evz

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIENCIA ANIMAL
Disciplina: SEMINÁRIOS APLICADOS
SALMONELOSE EM POEDEIRAS
Édilon Sembarski de Oliveira
Orientadora: Maria Auxiliadora Andrade
GOIÂNIA
2012
ii
ÉDILON SEMBARSKI DE OLIVEIRA
SALMONELOSE EM POEDEIRAS
Seminário apresentado junto à Disciplina
Seminários Aplicados do Programa de
Pós-Graduação em Ciência Animal da
Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade
Federal de Goiás.
Nível: Mestrado
Área de Concentração:
Sanidade Animal, Higiene e Tecnologia de Alimentos.
Linha de pesquisa:
Etiopatogenia, epidemiologia, diagnóstico e controle das doenças infecciosas dos
animais
Orientadora:
Profª. Drª. Maria Auxiliadora Andrade
Comitê de Orientação:
Drª. Eliete Souza Santana
Prof. Marcos Barcelos Café
Goiânia
2012
iii
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................... 1
2 REVISÃO BIBLIOGRAFICA....................................................................................................................... 4
2.1 Salmonella .............................................................................................................................................. 4
2.2 PULOROSE E TIFO................................................................................................................................ 5
2.3 PARATIFOIDES ...................................................................................................................................... 9
2.4 PATOGENIA ......................................................................................................................................... 11
2.5 FATORES PREDISPONENTES ........................................................................................................... 15
2.6 OCORRÊNCIA ...................................................................................................................................... 16
2.7 DIAGNÓSTICO E CONTROLE ............................................................................................................ 24
2.7.2 ANTIBIÓTICOS .................................................................................................................................. 25
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................................... 27
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................... 28
1 INTRODUÇÃO
Avanços nas práticas de produção de aves, mudanças no estilo de vida,
preferências dos consumidores e conscientização nutricional, serviram para colocar os
produtos de origem avícolas entre as principais fontes de proteína animal para o
homem. No entanto, estes produtos, principalmente as carnes e os ovos, podem estar
contaminados e estão entre as fontes mais frequentes de surtos de Salmonella sp. em
humanos (SAIF et al., 2008).
As modernas práticas de pecuária intensiva introduzidas para maximizar a
produção têm levado ao surgimento e aumento da prevalência de sorovares de
Salmonella sp. em rebanhos de animais de produção mais importantes (ROCOURT et
al., 2003). Nos EUA, em 1969, 470.832 granjas de poedeiras comerciais com uma
média de 632 aves por fazenda produziam 67 bilhões de ovos por ano. No ano de 1992
o número de granjas caiu para 70.623, o número de galinhas por exploração aumentou
para 2985 e a produção anual subiu para 70 bilhões de ovos (SOBEL et al., 2002).
No ano de 2007 o número de sorovares de Salmonella sp. identificados
corresponderam a 2610 (GUIBOURDENCHE et al., 2010). A maior parte dos sorovares
possui largo espectro de hospedeiros, ou melhor, não são adaptados a um único
hospedeiro e afetam diferentes espécies animais. Por outro lado, existem sorovares
que apresentam caráter de especificidade.
Dentre os sorovares adaptados para as aves estão Salmonella enterica
sorovar Gallinarum e Salmonella enterica sorovar Pullorum, causadoras do tifo aviário e
pulorose, respectivamente. Estas doenças são de grande importância econômica em
função dos altos custos com programas de controle e por causar perda no
desempenho produtivo das aves, como diminuição da produção de ovos e aumento da
mortalidade. São enfermidades controladas em muitos países que utilizam programas
de controle, como Estados Unidos, Canada, Suécia e a maioria dos países da Europa
ocidental (SHIVAPRASAD, 2000).
Além das infecções provocadas por sorovares de Salmonella adaptados as
aves, existem sorovares que apesar de não provocar alta mortalidade ou queda no
desempenho produtivo, podem provocar, principalmente, gastroenterites em humanos
2
pela ingestão de produtos contaminados, como carne e ovos. Podendo assim ter
caráter zoonotico e representar uma problema para a saúde pública.
Salmonella enterica sorovar Enteritidis emergiu como a principal causa de
infecções em humanos em muitos países, com ovos de galinha sendo a principal fonte
do patógeno. Não é fácil discernir se o aumento é real ou um artefato de mudanças em
outras áreas, tais como a melhor vigilância epidemiológica e melhores métodos de
detecção de microrganismos em alimentos, ou se esse aumento é devido a capacidade
deste sorovar de colonizar tecidos do ovário de galinhas, e se incorporar ao conteúdo
de ovos intactos (WHO, 2002).
Estima-se que ocorram aproximadamente 93 milhões de casos de
gastroenterites provocadas por salmonela todos os anos e estima-se que desses cerca
de 155 mil resultam em morte (MAJOWICZ et al., 2010). Uma letalidade de 0,5% é o
que faz da Salmonella uma das principais causas de morte pelas doenças veículadas
por alimentos nos Estados Unidos (BEHRAVESH et al., 2011). Um alto número de
notificações pode ser resultado de um sistema de vigilância em bom funcionamento,
não significando necessariamente um aumento no número de casos (ROCOURT et al.,
2003).
A presença de salmonelose em produtos avícolas constitui-se ainda, em
barreira sanitária e restringe o comércio tanto de aves como de seus derivados
(GAMBIRAGI et al., 2003). Uma vez que os países importadores evitam a entrada de
produtos contaminados com patógenos em seus sistemas de produção animal
(MOREIRA et al., 2008).
No Brasil o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)
através da portaria número 193 de 19 de setembro de 1994 implementou o Programa
Nacional de Sanidade Avícola (PNSA) (BRASIL, 1994). A partir da INSTRUÇÃO
NORMATIVA nº 78, de 3 de novembro de 2003, o PNSA inicia o controle e certificação
de estabelecimentos e núcleos livres de Salmonella enterica sorovar Gallinarum e
Pullorum e, livres ou controlados para Salmonella enterica sorovar Enteritidis e
Typhimurium, entretanto tais normas atingiam somente núcleos e granjas destinados à
reprodução (BRASIL, 2003).
3
Entretanto se aprovada a PORTARIA Nº 297, DE 15 DE JUNHO DE 2010,
que aprova a norma técnica para certificação sanitária para estabelecimentos avícolas
comerciais, substituindo assim a INSTRUÇÃO NORMATIVA nº 78, de 3 de novembro
de 2003. Dessa forma, granjas e núcleos comerciais farão parte de forma voluntária no
controle destes patógenos, os quais serão controlados ou sob vigilância para
Salmonella enterica sorovar Gallinarum, Salmonella enterica sorovar Pullorum,
Salmonella enterica sorovar Enteritidis e Salmonella enterica sorovar Typhimurium
(BRASIL, 2010).
Pelo exposto, objetivou-se com essa revisão discorrer sobre a infecção
provocada por sorovares de Salmonella sp. que possuem importância econômica e em
saúde publica, em poedeiras comerciais e seu consequente efeito sobre a saúde
humana.
4
2 REVISÃO
2.1 Salmonella
O gênero Salmonella foi nomeado em função de seu descobridor Daniel E.
Salmon (1850–1914) (SAIF et al., 2008). Salmonella é um gênero de bactérias em
forma de bastonetes, que fazem parte da família Enterobacteriacea, não formam
esporos, apresentam coloração negativa em Gram e são formadas principalmente por
sorovares que apresentam motilidade, sendo que as variantes imóveis incluem
Salmonella enterica sorovar Gallinarum e Salmonella enterica sorovar Pullorum. O
gênero Salmonella é dividido em duas espécies: Salmonella bongori e Salmonella
enterica, sendo esta última a de maior preocupação em saúde pública. Salmonella
enterica é composta por seis subespécies. As subespécies de Salmonella sp. ainda
são subdivididas em sorovares (Tabela 1), com base na tipagem de Kaufmann-White.
Até
o ano
de
2007
o número de
sorovares
descobertos era de
2.610
(GUIBOURDENCHE et al., 2010; USFDA, 2012), sendo esta tipagem de sorovares
feita com base nos antígenos somáticos (O) e flagelares (H) (AGBAJE et al., 2011).
TABELA 1 - Posição taxonômica, formato escrito, nomenclatura e número de sorovares
por subespécie até o ano de 2007
Gênero
Espécie Subspécie
Sorovar
Número
Choleraesuis, Enteritidis,
enterica
Salmonella enterica
Paratyphi, Typhi,
(subspécie I)
Typhimurium
1547
salamae
9,46:z:z39
513
(subspécie II)
arizonae
43:z29:100
(subspécie IIIa)
diarizonae
6,7:l,v:1,5,7
341
(subspécie IIIb)
houtenae
21:m,t:73
(subspécie IV)
indica
59:z36:13
(subspécie VI)
Salmonella bongori
(subspécie V)
13,22:z39:23
Fonte: GUIBOURDENCHE et al., 2010; AGBAJE et al., 2011.
5
Salmonella enterica podem ser divididas em dois amplos grupos com base
na patogênese e biologia da infecção, podendo causar a doença clínica ou apenas
colonizar o trato intestinal, determinando o estado de portador, dependendo do sorovar,
da dose infectante, da susceptibilidade da espécie e da idade e do estado imune do
hospedeiro. Além disso, um grupo é constituído por um grande número de sorovares,
incluindo Salmonella enterica sorovar Typhimurium e Salmonella enterica sorovar
Enteritidis, que podem colonizar o tubo digestivo dos animais ou causar doença
gastrointestinal em uma ampla gama de hospedeiros, incluindo os seres humanos. Os
componentes deste grupo são os principais responsáveis pela contaminação de ovos,
e de carcaça durante o processamento de abate (BARROW et al., 1994; BÄUMLER et
al., 2000; WIGLEY et al., 2001; BERCHIERI JR. et al., 2010).
O outro grupo é composto por um pequeno número de sorovares que
causam doenças sistêmicas restritas a determinados espécies, semelhantes à febre
tifóide, tais como: Salmonella enterica sorovar Typhi em seres humanos; Salmonella
enterica sorovar Choleraesuis em suínos; Salmonella enterica sorovar Dublin em
bovinos; Salmonella enterica sorovar Pullorum e Salmonella enterica sorovar
Gallinarum em aves. Vários destes sorovares podem após a doença persistir nos
tecidos durante longos períodos (BARROW et al., 1994; WIGLEY et al., 2001;
BERCHIERI JR. et al., 2010). Estes últimos sorovares adaptados às aves raramente
causam problemas na indústria alimentícia, pois não estão envolvidos em infecção
alimentar em humanos (BERCHIERI JR. et al., 2010).
2.2 Pulorose e tifo
Salmonella enterica sorovar Gallinarum e Salmonella enterica sorovar
Pullorum são microrganismos imóveis causadoras de doenças septicêmicas de aves
domésticas denominadas respectivamente de tifo aviário e pulorose. Estes sorovares
possuem as mesmas características antigênicas (O antígeno 9, 12, mas com diferentes
porcentagens de antígenos 12(1), 12(2), 12(3), e sem flagelos) e diferentes
propriedades bioquímicas (ZANELLA, 2007; LORENZONI, 2010).
6
Apresentam
ainda,
alta
prevalência
em
certas
partes
do
mundo,
particularmente em países com a avicultura ainda em desenvolvimento e acarretam
prejuízos consideráveis principalmente em criações não comerciais (BOUZOUBAA et
al., 1992; WIGLEY et al., 2001). Estes sorovares podem se disseminar para o trato
reprodutivo (WIGLEY et al., 2005; SAIF et al., 2008), causar infecção e propiciar a
contaminação interna ou externa dos ovos durante a sua formação (BERCHIERI JR. et
al., 2010), ou após sua postura (MYAMOTO et al., 1997).
Se a infecção ocorre em ovos férteis, está estabelecida a transmissão
vertical, que aparentemente possui maior importância para a disseminação de
Salmonella enterica sorovar Pullorum. Já para Salmonella enterica sorovar Gallinarum
a transmissão horizontal possui igual importância que a vertical (BERCHIERI JR. et al.,
2010). Com os resultados de experimentos e observações a campo pode se concluir
que aves jovens são altamente susceptíveis para Salmonella enterica sorovar Pullorum
e Salmonella enterica sorovar Gallinarum, enquanto aves adultas são mais
susceptíveis a Salmonella enterica sorovar Gallinarum (SAIF et al., 2008) e infectam
uma pequena variedade de espécies de aves, causando uma doença sistêmica grave
(CHAPPELL et al., 2009).
Estudos sugerem que aves leves, poedeiras comercias, são mais resistentes
a infecções por Salmonella, entretanto se infectadas podem carrear o agente por
semanas sem manifestar sinais clínicos (WIGLEY et al., 2001; OLIVEIRA et al., 2005;
FREITAS NETO et al., 2007; BERCHIERI JR. et al., 2010).
Poedeiras comerciais inoculadas com Salmonella enterica sorovar Pullorum
quando foram infectadas aos quatro dias de idade não demonstraram sinais clínicos da
doença, entretanto ao atingir a maturidade sexual (fase de postura), essas aves
produziram ovos contaminados. Os mesmos autores tentaram reproduzir o mesmo
comportamento da doença com Salmonella enterica sorovar Gallinarum, no entanto,
não conseguiram verificar transmissão para os ovos e consequentemente progênie.
Linhagens de aves resistentes demonstram menos Salmonella enterica sorovar
Pullorum no trato reprodutivo e menor persistência de Salmonella enterica sorovar
Gallinarum no fígado e baço quando comparado a aves de linhagens susceptíveis
(BERCHIERI JR et al., 2010).
7
Foi possível reproduzir a doença em aves marrom com idade de 18
semanas, que é a idade de maturidade sexual, havendo também uma relação dose
dependente, para mortalidade e apresentação da doença (OLIVEIRA et al., 2005).
Indicando que existe uma diferença na suscetibilidade à salmonelose dependendo
idade, da linhagem das aves e fase reprodutiva. O que concorda com outros trabalhos
que indicam a idade de maturação sexual como um fator predisponente para a
bacteremia e aumento do número de Salmonella sp. em órgãos como fígado, baço e
principalmente trato reprodutivo.
As aves infectadas por Salmonella sp. podem manifestar sonolência,
fraqueza, diminuição da ingestão alimentar, baixo crescimento, aderência de excreta a
cloaca e tendência a se agrupar próximos a fontes de calor (SAIF et al., 2008). Em
aves mais velhas infecções por Salmonella estão associadas à anorexia, diarreia e
redução da produção de ovos, geralmente causando baixa mortalidade e com as
mesmas lesões encontradas em aves jovens (ZANELLA, 2007). Destaca-se que aves
infectadas podem carrear o agente sem demonstrar nenhum sinal clínico (RANDALL,
1991).
Casos agudos de tifo aviário podem causar queda brusca no consumo de
ração e as aves podem se apresentar pálidas e com penas eriçadas. Outros sinais
como anorexia, diarreia, depressão, desidratação aumento de mortalidade, queda na
postura, diminuição de fertilidade e eclosão podem ser observadas tanto no tifo aviário
como na pulorose (SHANE, 1997; SHIVAPRASAD, 2000; SAIF et al., 2008).
Segundo FREITAS NETO et al., (2007) ao se realizar a avaliação clínica, as
aves leves apresentaram sinais característicos de tifo aviário antes de morrer, como a
depressão, prostração, anorexia, asas caídas, penas eriçadas, e cloaca suja. Por outro
lado, aves semipesadas morreram subitamente sem apresentar sinais clínicos.
FREITAS NETO et al. (2007) que as lesões macroscópicas geralmente são
restritas ao fígado e baço das aves semipesadas. Que apresentavam-se aumentados
de tamanho e com focos brancos, cinco dias após a inoculação. Foi observado fígado
com uma tonalidade verde-amarelada, que pode estar friável. Não houve evidência de
alterações anatómicas em aves leves neste estudo. Microscopicamente, o fígado e
8
coração foram os órgãos que sofreram maiores danos na sua estrutura celular,
considerando as duas linhagens de aves.
Salmonella enterica sorovar Gallinarum inoculada em linhagens de galinhas
susceptíveis e linhagens resistentes a infecção, apresentou sinais semelhantes nas
duas linhagens, mas os sinais foram mais intensos na linhagem susceptível, assim
como a mortalidade. Entretanto a mortalidade não ocorreu na linhagem resistente. Foi
possível isolar Salmonella enterica sorovar Gallinarum do fígado, baço, ovário, coração
e conteúdo cecal. Várias semanas após a inoculação de ambas as linhagens
resistentes e susceptíveis e aves que não apresentavam sinal da doença. Não foi
possível isolar Salmonella enterica sorovar Gallinarum dos ovos (BERCHIERI JR. et al.,
2000).
Os sinais clínicos observados na pulorose são similares àqueles encontrados
no tifo aviário. As aves podem desenvolver pneumonia, resultantes de extenso
envolvimento dos pulmões, devido a infecção pela Salmonella enterica sorovar
Pullorum, nesses casos com sinais respiratórios evidentes. Outros sinais são que
podem ser observados são cegueira, assim como artrite das articulações tibiotarsal,
humeroradial e articulação ulnar (SHANE, 1997; SAIF et al., 2008; LORENZONI, 2010).
Ainda é possível que parte das aves infectadas não venham a demonstrar nenhum
sinal da doença, permanecendo como carreadores assintomáticos por toda a vida
(LORENZONI, 2010). E podem demonstraram sinais clássicos da doença como
diarréia de coloração esverdeada, entretanto apesar desse sinais, pode não ocorrer
perda na postura e redução da ingestão de alimento inicialmente (OLIVEIRA et al.,
2005).
Fígado aumentado com necrose focal, coloração esverdeada ou coloração
bronzeada, folículos hemorrágicos, deformados e pálidos com leve hemorragia, enterite
catarral ou hemorrágica nos intestinos, petéquias hemorrágicas no coração, fígados
com e hemorragias nas tonsilas cecais são alterações detectadas á necropsia
(RAHMAN et al., 2004; HOSSAIN et al., 2006; ISLAM et al., 2006).
Em galinhas com tifo aviário ou pulorose podem ocorrer, ooforite, salpingite,
peritonite e perihepatite (SHIVAPRASAD, 2000). Linhagens resistentes demonstram
menos lesões post-mortem, não apresentando mudanças anatomopatológicas
9
significativas. Aves suscetíveis apresentaram maior mortalidade, e as lesões pós
mortem se localizavam principalmente fígado, que estava aumentado com coloração
verde amarelado e de consistência friável, pode ser notado também baço aumentado e
com congestão (FREITAS NETO et al., 2007)
Sinais clínicos são semelhantes ás doenças septicêmicas e á necropsia pode
ser detectado congestão hepática, esplênica e por vezes pulmonar. O fígado pode ser
estar aumentado e com petéquias e o ceco com substancia caseosa. Em casos
subagudos e crônicos, sinais de peritonite e pericardite são comuns. Em fêmeas
adultas, os folículos ovarianos podem aparecer deformados e com conteúdo caseoso
podem se desprenderem do ovário e determinar peritonite e pericardite.
2.3 Paratifoides
Salmoneloses paratifóides são causadas por sorovares de salmonelas
móveis, encontrados em todo o mundo e podem afetar uma ampla variedade de aves e
mamíferos, incluindo os seres humanos, com habilidade de produzir a doença em aves
jovens. Animais adultos raramente apresentam sinais clínicos, no entanto animais
imunodeprimidos podem vir a apresentar a doença e em alguns casos de infecção por
algumas cepas de Salmonella enterica sorovar Enteritidis (SAIF et al., 2008;
LORENZONI, 2010).
Algumas cepas de Salmonella sp. como Enteritidis fagotipo 4, podem levar a
alta mortalidade em pintainhos de maneira semelhante a infecção pelo sorovar
Pullorum (SHANE, 1997). Em experimento com inoculação de dois sorovares de
salmonela em pintainhos de um dia, a Salmonella enterica sorovar Kedougou
permaneceu no trato intestinal, enquanto que Salmonella enterica sorovar Typhimurium
atingiu a lamina própria do ceco, que foi o local do intestino com maior colonização, e
também pode ser encontrada no interior de macrófagos (BRITO et al., 1995).
Uma semana após a inoculação por Salmonella enterica sorovar Enteritidis,
a frequência de eliminação deste patógeno pela excreta variou entre 23.8% e 87.5% de
acordo com o número de unidades formadoras de colônia (UFCs) utilizadas como dose
infectante. Aves que receberam a maior dose infectante foram as que apresentaram
10
maior frequência de excreção de Salmonella pela excreta. Verificaram ainda que após
oito semanas da inoculação 2.5% a 5% das poedeiras ainda estavam eliminando a
bactéria pela excreta (GAST et al., 2011b).
Poedeiras experimentalmente infectadas disseminaram Salmonella enterica
sorovar Enteritidis fago tipo 4 para outras poedeiras do mesmo galpão pela água, o que
sugere transmissão horizontal. Em mesmo experimento foram adicionadas novas aves
a mesma gaiola das poedeiras contaminadas e foi retirada a comida e água por um
período de dois dias, o que levou a uma alta excreção de Salmonella enterica sorovar
Enteritidis fagotipo 4 por um curto período de tempo (NAKAMURA et al., 1994).
Em trabalhos desenvolvidos por BARROW et al. (1994 ) e GAST et al.
(2011a) foi verificado que Salmonella enterica sorovar Enteritidis possuem capacidade
de invasão, sendo possível recuperar Salmonella enterica sorovar Enteritidis de 30 a
90% dos fígados analisados cinco dias após a inoculação. Entretanto com menor
duração e patogenicidade, pois em 20 dias após a inoculação esses valores caíram
para 0 e 40 % dependendo da dose infectante. Já para salmonelas adaptadas as aves,
como Salmonella enterica sorovar Pullorum, WIGLEY et al. (2001) verificaram que a
bactéria permanece no organismo por até 40 semanas.
A presença de Salmonella enterica sorovar Enteritidis na porção inferior do
trato reprodutivo pode levar a contaminação dos ovos pela infecção do ovário e pela
contaminação casca e da membrana do ovo no oviduto, na qual é maior quando a
inoculação das aves é realizada por via intravenosa. Já a colonização do ovário não
ocorreu quando estas aves foram inoculadas no oviduto (MYAMOTO et al., 1997).
Embora a doença clínica não seja associada a infecções paratifoides em
aves maduras, algumas cepas de Salmonella enterica sorovar Enteritidis foram
capazes de causar anorexia, diarreia e queda na postura em aves experimentalmente
infectadas (SAIF et al., 2008). Os sinais clínicos incluíram penas eriçadas, relutância
em se movimentar, amontoamento sobe fontes de calor, diarreia e acumulo de excreta
na cloaca, conjuntivite e cegueira são possíveis (LORENZONI, 2010).
Nos surtos agudos pouco ou nenhuma lesão são encontradas e em casos
subagudos os achados mais encontrados são desidratação, emaciação, e congestão
11
do fígado, baço e rins. Em alguns casos o fígado e coração podem apresentar focos
necróticos (LORENZONI, 2010).
2.4 Patogenia
O curso de infecção da Salmonella enterica varia consideravelmente
dependendo do sorovar infectante e da genética do hospedeiro. Sorovares como
Salmonella enterica sorovar Typhimurium e Salmonella enterica sorovar Enteritidis
possuem importante papel na saúde publica, através da infecção de ovos. Ambos
sorovares são capazes de infectar uma ampla variedade de hospedeiros. Na galinha
estes sorovares causam infecção do trato gastrintestinal, localizando-se principalmente
no ceco e podendo persistir por vários meses. A infecção sistêmica por outro lado é
geralmente passageira e com exceção de aves jovens quase não causam sinais
clínicos. Já Salmonella enterica sorovar Gallinarum e Salmonella enterica sorovar
Pullorum infectam uma pequena variedade de espécies de aves, causando uma
doença sistêmica grave (CHAPPELL et al., 2009).
Salmonelose sistêmica das aves possuem três fases distintas, em que há
intensa interação com o sistema imune. A primeira fase é a sobrevivência e invasão
através do trato gastrointestinal. A segunda fase é o estabelecimento da infecção
sistêmica, principalmente pela infecção de macrófagos e disseminação para órgãos
como coração, fígado, baço e trato reprodutivo. Na terceira fase pode ocorrer a
eliminação do agente pelo sistema imune, a morte do animal pela infecção ou o
hospedeiro desenvolver um estado de carreador subclínico (BARROW et al., 1994;
CHAPPELL et al., 2009).
Bactérias de pH neutro como Salmonella ao atravessar o trato gastrintestinal
precisam sobreviver em pH extremamente baixos, como do estomago ou dos
fagossomos no interior de macrófagos. Assim como ácidos graxos voláteis presentes
no intestino e fezes. A indução de tolerância à acidez é um processo de dois estágios,
envolvendo sistemas de proteção ao ácido, desencadeados em diferentes níveis de
acidez. Quando a Salmonella se depara com pH próximos de seis, esta desencadeia a
primeira fase da indução de tolerância, que envolve a síntese de sistemas de
12
emergência de homeostase de pH que alcaliniza o citoplasma durante períodos de
estresse a pH ácido extremo (pH 3). A segunda etapa está envolvida uma vez que o pH
cai abaixo de 4,5. Cerca de 50 proteínas de choque ácido, que se acredita prevenir ou
reparar danos macromoleculares, são induzidas durante este estágio. Várias
descarboxilases de aminoácidos parecem contribuir para a manutenção de emergência
de pH em Salmonella enterica sorovar Typhimurium. Um desses sistemas foi
identificado como lisina descarboxilase (CadA), trabalhando em colaboração com um
antiporter lisina cadaverina (CadB) (BEARSON et al., 1997).
Após a sobrevivência no intestino Salmonella sp. possui como principal
estratégia invadir a mucosa intestinal através das células colunares epiteliais e células
M sobre as placas de Peyer. A interação da Salmonella e do epitélio desencadeia
quimiotaxia e células fagocíticas para o local de infecção. Se os mecanismos de defesa
do hospedeiro obtiverem sucesso em limitar a expansão bacteriana, a infecção
permanece apenas no intestino e tecido linfoide associado ao intestino. Se por outro
lado os macrófagos não forem sucedidos em limitar a disseminação, Salmonella pode
então determinar doença sistêmica (HENDERSON et al., 1999; BÄUMLER et al.,
2000).
Salmonella enterica sorovar Pullorum não é frequentemente associada à
doença em outras espécies. Estudos in vitro têm demonstrado que sinais transepiteliais
são cruciais para que Salmonella sp. determine enterite em humanos. Portanto a
intensidade e o resultado da doença produzida por Salmonella espécie especifica
depende largamente em como esses organismos interagem com a mucosa intestinal
(HENDERSON et al., 1999).
Na invasão a ausência de flagelos das Salmonella enterica sorovar ou
Gallinarum, não causam inflamação significativa, como causada por Salmonella
enterica sorovar Typhimurium ou Salmonella enterica sorovar Enteritidis. A ausência de
flagelos faz com que estas não sejam reconhecidas pelos receptores tipo Toll 5, que
exercem papel chave na iniciação da resposta inflamatória. Salmonella invade então os
macrófagos e provavelmente células dendríticas e são transportados para o baço e
fígado, onde a replicação acontece. A interação com macrófagos é uma componente
chave para que aconteça à infecção sistêmica em ambos mamíferos e aves (BARROW
13
et al., 1994; HENDERSON et al., 1999; IQBAL et al., 2005; BERCHIERI JR. et al.,
2010).
É possível que Salmonella enterica sorovar Typhimurium sobreviva em parte
por inibir a fusão do fagossomo com o lisossomo e em parte por adaptar as condições
do fagolisossomo (BUCHMEIER & HEFFRON, 1991). Ilhas de patogenicidade 2 de
secreção tipo III desempenham papel tanto na colonização do trato gastrintestinal,
como desempenha papel fundamental na infecção sistêmica, sendo que a falta destas
ilhas de patogenicidade resulta na incapacidade da Salmonella sp. em sobreviver no
interior de macrófagos (JONES et al., 2007).
Salmonella sp. se mostrou toxica para macrófagos em observações in vitro.
Após infectar um macrófago ela se multiplica inicialmente no interior destes e após
varias horas determinou sua morte (BÄUMLER et al., 2000). Sorovares de Salmonella
espécie específicas possuem maior capacidade de sobreviver em órgãos do que
sorovares não espécie específicos, não possuindo necessariamente maior capacidade
de invasão que sorovares não específicos (BARROW et al., 1994). Conforme WIGLEY
et al. (2001) Salmonella enterica sorovar Pullorum pode persistir por até 40 semanas
no trato reprodutivo e baço de aves contaminadas.
Quando as poedeiras atingem a maturidade sexual, o número de Salmonella
enterica sorovar Pullorum em órgãos como o baço aumenta e se espalha para o trato
reprodutivo, o que não acontece com os machos. Indicando que tais mudanças estão
relacionadas ao inicio de postura nas fêmeas (WIGLEY et al., 2005).
Durante o início de postura, a resposta de linfócitos T não é específica e os
estímulos mitogênicos caem drasticamente em aves não infectadas e infectadas
(WIGLEY et al., 2005). Achados sugerem que resposta celular, particularmente T
helper 1, desempenha papel crucial na eliminação do estado portador das
salmoneloses aviárias (WITHANAGE et al., 2005).
A queda na resposta de linfócitos T ocasiona o aumento do número de
Salmonella enterica sorovar Pullorum e disseminação desta no trato reprodutivo. Após
três semanas do inicio da postura a resposta de linfócitos T começa a aumentar e
ocorre o declínio do número de Salmonella enterica sorovar Pullorum (WIGLEY et al.,
2005). Unido a isto está o aumento da população de macrófagos durante a maturação
14
sexual nos ovários relacionado ao oestrogenio, visto que os macrófagos são o principal
local de persistência de Salmonella enterica sorovar Pullorum (BARUA et al., 1998;
WIGLEY et al., 2005).
Estudos indicam que Salmonella enterica sorovar Typhimurium é capaz de
induzir depleção linfocítica, atrofia de órgãos do sistema imunes, imunodepressão,
além de prolongar o período da eliminação de Salmonella enterica sorovar
Typhimurium através da excreta de acordo com a dose inoculada (HASSAN et al.,
1994).
A colonização de diferentes partes do trato reprodutivo indica que há a
possibilidade de Salmonella enterica sorovar Pullorum utilizar diferentes mecanismos
de contaminação dos ovos. Apesar de uma forte resposta humoral houve persistência e
aumento do número dessas bactérias no baço, trato reprodutivo e fígado, quando
essas aves atingiram a maturidade sexual, no entanto houve uma diminuição em outros
órgãos como coração (WIGLEY et al., 2001). Durante o período de maturidade sexual,
Salmonella enterica sorovar Pullorum foi capaz de colonizar ambos os ovários e
ovidutos, o que levou a contaminação de 6 % dos ovos por essa bactéria (WIGLEY et
al., 2001).
Após o estabelecimento ou infecção sistêmica a galinha pode eliminar ou
controlar a replicação bacteriana através do sistema imune adaptativo. Se a replicação
bacteriana não é controlada pelo sistema imune inato, Salmonella replica no baço e
fígado levando a hepato e esplenomegalia e a lesões nesses órgãos. Conforme
infecção, particularmente com Salmonella enterica sorovar Gallinarum, anemia
progressiva e septicemia ocorre, com disseminação de Salmonella enterica no trato
intestinal, causando hemorragia, infiltração de células de defesa e ulcerações na
parede intestinal. Carreadores persistentes ocorrem frequentemente com Salmonella
enterica sorovar Pullorum e em menos frequência com Salmonella enterica sorovar
Gallinarum (CHAPPELL et al., 2009).
A presença de sinais clínicos e contaminação dos ovos é dose dependente,
podendo haver a não manifestação da doença e no entanto haver a produção de ovos
contaminados. Entretanto doses de inóculos com maior número de unidades
15
formadoras de colônias mais altas juntamente da produção de ovos contaminados foi
acompanhada de queda de postura e sinais clínicos de salmonelose (COX et al., 2000).
Há a possibilidade de tanto contaminação vertical quanto contaminação
horizontal, visto que galinhas na mesma gaiola e galpão podem se tornar contaminadas
quando uma galinha contaminada está inserida no plantel. Há também a possibilidade
do ovo se contaminar após esse ser posto no ambiente e condições como sujidades e
umidade podem aumentar esse risco (NAKAMURA et al., 1994; COX et al., 2000).
2.5 Fatores predisponentes
O ambiente da granja de postura pode ser uma notável fonte de Salmonella
enterica sorovar Enteritidis e de outros sorovares adaptados às aves, como Salmonella
enterica sorovar Gallinarum. Sorovares de Salmonella sp. têm sido isolados de
diversos animais e insetos que circundam a granja e esta possui condições favoráveis
para a manutenção da Salmonella na granja, como grande quantidade de matéria
orgânica e umidade que podem servir de reservatório para salmonelas por longos
períodos (BRADEN, 2006).
Os fatores de risco associados à salmonelose identificados foram: muda
forçada; processamento de ovos em linha, alojamento de aves de diferentes idades e
ocorrência de Salmonella anteriormente na propriedade (HUNEAU-SALAÜN et al.,
2009; SASAKI et al., 2012).
Um dos fatores de risco muito discutidos é o do tipo de alojamento das aves
(em gaiolas ou no piso), entretanto os trabalhos com enfoque nesse ponto possuem
resultados discordantes, sendo apontado em alguns trabalhos que o sistema de
produção em gaiolas pode ser um fator de riscos por alguns autores e indicado como
protetor por outros (VAN HOOREBEKE et al., 2010).
SASAKI et al. (2012) não observaram diferença da presença de salmonela
em decorrência da idade e do fato do mesmo sorovar ser isolado de diferentes lotes da
mesma fazenda sugere que há uma forte contaminação cruzada. As aves após a morte
são importantes fontes de contaminação e que quando há a retirada rápida e é utilizado
16
composteiras se diminui o risco de disseminação da doença (OLIVEIRA et al., 2005;
HUNEAU-SALAÜN et al., 2009).
A muda forçada é uma prática usada como forma de prolongar a vida
econômica das aves ao final do primeiro ciclo de produção, adiando assim a
necessidade de reposição do lote por 25 a 30 semanas. Existem diversas maneiras de
se induzir muda, entretanto a mais comum é a da retirada do alimento até que a
poedeira atinja determinado peso (RAMOS et al., 1999; HOLT, 2003).
Entretanto diversos estudos demonstraram que a muda forçada pela
restrição total ao alimento causa mudanças na microbiota, ecologia da ave e depressão
do sistema imune, o que leva ao aumento da suscetibilidade de 100 a 1000 vezes à
infecção por Salmonella enterica sorovar Enteritidis, causando consequentemente
aumento da excreção de Salmonella enterica sorovar Enteritidis e dessa forma
disseminando a bactéria para o plantel. Constaram ainda que aves que sofreram muda
forçada excretam uma quantidade significativamente maior de Salmonella enterica
sorovar Enteritidis nas excretas, tiveram maiores UFCs de Salmonella enterica sorovar
Enteritidis nos órgãos e exibiram mais inflamação intestinal (HOLT & PORTER JR.
1992; HOLT, 2003; RICKE, 2003). Além da disseminação pela colonização do trato
gastrintestinal a salmonela pode se multiplicar e disseminar para órgãos como baço,
fígado e ovário (PATWARDHAN & KING, 2011).
2.6 Ocorrência
Sistemas de vigilância são tradicionalmente passivos e em raros casos
ativos, o que significa que notificações abaixo do número real são extremamente
prejudiciais para a interpretação e analise dos dados. Como as pessoas encaram
diarreia como um inconveniente passageiro, mesmo que por vários dias, e não como
um sintoma de doença, poucas pessoas procuram um médico para um diagnóstico.
Ainda para que o sistema funcione o médico necessita confirmar laboratorialmente o
agente etiológico e notificar os casos positivos para os órgãos governamentais
responsáveis pela vigilância (ROCOURT et al., 2003).
17
Investigação bacteriológica feita pelo brac poultry disease diagnostic centre,
Gazipur, encontrou Salmonella sp. em 21,9% de suas amostragem e dessas amostras
positivas 53.25% eram galinhas de postura, 14,55% de pintainhos, 16,10%de frangos
de corte e 16,10% de frangas (RAHMAN et al., 2004)
Em estudo de prevalência realizado pela European Food Safety Authority,
4.797 granjas de postura foram avaliadas. Amostras foram coletadas de lotes de
poedeiras durante as nove últimas semanas de produção. Um lote de cada granja foi
amostrado utilizado cinco amostras de excreta e duas de poeira. Os resultados foram
de que 20,3% das granjas de poedeiras estavam positivos para Salmonella enterica
sorovar Enteritidis ou Salmonella enterica sorovar Typhimurium. Variando nos lotes de
0 a 62,5% de aves positivas. Os sorovares de Salmonella sp. mais encontrados foram:
Salmonella enterica sorovar Enteritidis, Salmonella enterica sorovar Infantus,
Salmonella enterica sorovar Typhimurium, Salmonella enterica sorovar Mbandaka e
Salmonella enterica sorovar Livingstone (EFSA, 2006).
A prevalência de Salmonella sp. observada em granjas de postura no Japão
foi de 20,7% das granjas e 19,5% dos lotes, baseadas em amostras de excreta e de
poeira. Os sorovares mais isolados foram de Salmonella enterica sorovar Cerro,
Salmonella enterica sorovar Braenderup, Salmonella enterica sorovar Infantis,
Salmonella enterica sorovar Corvallis e Salmonella enterica sorovar Enteritidis
respectivamente (SASAKI et al., 2012).
ISLAM et al. (2006) em um trabalho sobre a incidência de Salmonella sp. em
galinhas poedeiras da região de Bangladesh, durante o período de janeiro a maio de
2006, encontraram que 43.4% das galinhas estavam positivas pelo teste de soro
aglutinação rápida em placa para Salmonella enterica sorovar Pullorum. Já para o
isolamento de Salmonella sp. de suabes de cloaca e fígado foi encontrado uma média
de 21.02% de aves positivas. Dos suabes de cloaca positivos 90% foram isolados de
aves soronegativas, o que concorda com a afirmação de BÄUMLER et al.(2000), que
para Salmonella enterica sorovar Pullorum possuem maiores chances de reações
cruzadas com outras salmonelas, devido ao seu peso molecular.
Utilizando se amostras de ambiente de 295 lotes de galinhas poedeiras no
Canadá, 58% foram positivos para Salmonella sp.. Os sorovares mais prevalentes
18
foram respectivamente: Salmonella enterica sorovar Heidelberg, Salmonella enterica
sorovar Infantis, Salmonella enterica sorovar Hadar e Salmonella enterica sorovar
Shwarzengrund (POPPE et al., 1991).
Os dados de prevalência de Salmonella enterica sorovar Pullorum e
Salmonella enterica sorovar Gallinarum no mundo estão nas Figuras 1 e 2,
respectivamente. No Brasil a doença está presente, porem há pouca notificação dos
surtos de pulorose e tifo aviário.
FIGURA 1- Ocorrência de pulorose no mundo de janeiro a junho de 2011 (OFFICE
INTERNATIONAL DES EPIZOOTIES–WORLD ANIMAL HEALTH INFORMATION
DATABASE,, 2012).
HOFER et al. (1997) caracterizaram amostras de Salmonella isoladas de
aves no Brasil entre os anos 1962 e 1991. Pelas sorotipagens foram reconhecidos 90
sorovares, sendo que os mais isolados, representando 65 a 67% dos isolamentos,
foram: Salmonella enterica sorovar Gallinarum, Salmonella enterica sorovar Pullorum,
Salmonella enterica sorovar Typhimurium, Salmonella enterica sorovar Heilderberg,
Salmonella enterica sorovar Enteritidis e Salmonella enterica sorovar Infantis.
19
FIGURA 2- Ocorrência de tifo aviário no mundo de janeiro a junho de 2011 (OFFICE
INTERNATIONAL DES EPIZOOTIES–WORLD ANIMAL HEALTH INFORMATION
DATABASE, 2012).
A baixa prevalência de Salmonella enterica sorovar Gallinarum e Salmonella
enterica sorovar Pullorum, em alguns países pode ser explicada por um programa de
controle bem estabelecidos. Em países como a Suécia um controle rigoroso sobre a
presença de salmonelas se iniciou a mais de 50 anos. O que levou a eliminação dos
agentes da pulorose e tifo aviário no inicio de 1960, não sendo detectado o agente do
tifo aviário desde 1984 e o agente da pulorose desde 2001, quando foi detectado pela
ultima vez em galinhas caipiras (BENGTSSON et al., 2009).
Apesar da baixa prevalência de ovos contaminados há o risco de infecção
pela ingestão desse alimento cru ou mal cozido. O CDC estimou que cerca de 75% dos
surtos de salmonelose são devido ao consumo de ovos crus ou mal cozidos
(WHO/USFDA 2002). Foi estimado estatisticamente nos Estados Unidos, que a chance
de um ovo estar contaminado com Salmonella enterica sorovar Enteritidis está entre
uma em 30.000 a uma em 12,000 com 90% de certeza (EBEL & SCHLOSSER, 2000).
Valores de prevalência de Salmonella no interior e na casca do ovo são diferentes
20
quando se compara diferentes países como Trindade e Tobago e Irlanda, variando de 0
a 9,2% para o interior dos ovos e de 0,04 a 9% para a superfície (Tabela 2).
TABELA 2 - Prevalência de Salmonella sp. na casca e interior de ovos de mesa de
diferentes países
País
Origem
Trindade
Tobago
de Patógeno
Ocorrência
de Fonte
Salmonella
na
superfície do ovo ou
no interior
e Salmonella sp. Superfície:
5.4% ADESIYUN et al. (2005)
positivos
Interior: 9.2% positivos
(N = 184 da amostra)
Reino
unido Salmonella sp. Superfície:
9.0% LITTLE et al. (2006)
(varejo,
positivos
produção não
do
Reino
Unido)
Interior:
0.57%
positivos,
dez ovos
foram intencionalmente
contaminados(N = 1744
)
Salmonella sp. Superfície:
Estados
1.1% JONES & MUSGROVE
Unidos (ovos
positivos
(2007)
com defeitos
na casca)
Interior:
todos
negativos(N = 180)
Fonte: LUBER, 2009.
21
TABELA 2 - Prevalência de Salmonella sp. na casca e interior de ovos de mesa de
diferentes países (Continuação)
Irlanda
Reino Unido
Salmonella sp. Superfície:
positivos
0.04% MURCHIE et al. (2007)
Interior: todos negativos
(N>53)/> 5018 pools de
30.108 amostras de
ovos)
Salmonella sp. Superfície:
0.38%
positivos
LITTLE et al. (2008)
Interior:
0.06%
positivos,
este
ovo
estava
contaminado
internamente
e
externamente(N=1588
pools de 9528 amostras
de ovos)
Reino
Unido Salmonella sp. Superfície:
0.29% FOOD
STANDARDS
(varejo,produzi
positivos
AGENCY (2004)
dos no Reino
Unido)
Interior: todos negativos
(N=4753 amostras de 6
ovos)
Fonte: LUBER, 2009.
22
TABELA 2 - Prevalência de Salmonella sp. na casca e interior de ovos de mesa de
diferentes países (Continuação)
Salmonella sp. Superfície:
positivos
Estados
Unidos
0.8% JONES et al. (2006)
Interior: todos negativos
(N=384 compostos de
três ovos lavados)
Índia (varejo)
Salmonella sp. Superfície:
positivos
6.1% SURESH et al. (2006)
Interior: 1.8% positivos,
este nove ovos estavam
internamente
e
externamente
contaminados (N=492
ovos)
Fonte: LUBER, 2009.
No Brasil dentre os 3.737 surtos, havia informações sobre o tipo de alimento
em 67% deles (2.494 surtos), em que predominaram alimentos preparados com
ovos/maionese (21,1%) (CARMO et al., 2005). Os surtos notificados no Paraná entre
os anos de 1999 e 2008 apontam que 45% desses foram relacionados a ovos e o
principal sorovar isolado dos pacientes foi o Enteritidis com 87,8% (KOTTWITZ et al.,
2010).
Infecções por Salmonella variam de moderada a severa e os casos graves
geralmente estão associados a populações suscetíveis como: idosos, crianças e
imunocomprometidos. Surtos de salmonela em asilos e hospitais nos estados entre os
anos 1985 e 1991 representaram 12% dos casos de salmonelose e 90% dos casos
fatais (WHO/USFDA 2002).
Entre os anos de 1996-2005 houve 121.536 casos de infecções bacterianas
confirmadas laboratorialmente, incluindo 552 (5%) mortes, as quais 215 (39%) eram de
pessoas infectadas com Salmonella, havendo maior mortalidade entre adultos maiores
de 65 anos (BEHRAVESH et al., 2011).
23
O Centers for Disease Control and Prevention (CDC) estimou que ocorram
1,4 milhões de casos de salmonelose ao ano, levando a 16.430 hospitalizações e 582
mortes. Em humanos a salmonelose é caracterizada por diarreia, dor abdominal,
câimbras, vomito, dor de cabeça e náusea. Podendo os sintomas durar por mais de
uma semana (WHO/USFDA 2002). Os principais sorovares apontados como os
responsáveis por pelo menos metade dos casos de salmonelose humana notificados
nos Estados Unidos são: Salmonella enterica sorovar Typhimurium (19%), Salmonella
enterica sorovar Enteritidis (14%), Salmonella enterica sorovar Newport (9%) e
Salmonella enterica sorovar Javiana (5%) (BRADEN, 2006).
O número de casos de salmonelose humana envolvendo Salmonella enterica
sorovar Enteritidis vem aumentado nos últimos 25 anos, se tornando o primeiro ou
segundo sorovar mais comum em diversos países. O principal alimento envolvido em
surtos de Salmonella enterica sorovar Enteritidis são os ovos e a casca do ovo seja o
apontada como o veiculo de maior importância na disseminação do agente (BRADEN,
2006).
Dados indicam que casos de
gastroenterites humanas envolvendo
Salmonella enterica sorovar Enteritidis no Reino Unido têm aumentado dede 1960.
BÄUMLER et al. (2000) sugeriram que isso tenha ocorrido devido a programas para
eliminar os sorovares de Salmonella enterica sorovar Pullorum e Salmonella enterica
sorovar Gallinarum, pois o antígeno O9 que faz parte dos sorovares de Salmonella
enterica sorovar Pullorum e Salmonella enterica sorovar Gallinarum produz títulos de
anticorpos 10 vezes maiores, que os produzidos pelo antígeno O12 possuído pelos
sorovares de Salmonella enterica sorovar Enteritidis e Salmonella enterica sorovar
Thyphimurium. O que indica que o antígeno O9 seja mais imunodominante e que
possui mais chance de reações cruzada contra outras salmonelas.
Entretanto a partir de 1993 iniciou-se um declínio do número de casos.
Provavelmente devido a diversos fatores como, melhorias no controle de infecções e
de higiene da indústria avícola e de granjas e núcleos de reprodução e a vacinação
contra Salmonella enterica sorovar Enteritidis (WARD et al., 2000).
ADHIKARI et al. (2004) estimaram que o custo devido a Salmonella nos
Estados Unidos foi de $2.8 bilhões anualmente, o que gira em torno de $2,472 por caso
24
de infecção por Salmonella. No Brasil, os custos com os casos internados por doenças
transmitidas por alimento chegam a 280 milhões de reais, com média de 46 milhões de
reais por ano. Em alguns Estados e Municípios do País, pouco se conhece da real
magnitude do problema, pois os casos e surtos de DTA não são notificados. Dos 3.737
surtos, 80% foram encerrados sem dados sobre o agente etiológico. Dos casos
identificados pelo clínico laboratorial, 34,7% foram causados por Salmonella sp.
(CARMO et al., 2005).
2.7 Diagnóstico e Controle
O diagnóstico de salmonelose nas aves é baseado no histórico do plantel,
sinais clínicos, lesões, mortalidade e achados sorológicos, mas um diagnóstico
definitivo somente é obtido pelo isolamento (ZANELLA, 2007). Salmonella enterica
sorovar Gallinarum e Salmonella enterica sorovar Pullorum podem ser isoladas
utilizando
meios
seletivos
e
não
seletivos.
Ambas
podem
ser
detectadas
sorologicamente pelo uso de testes de aglutinação em tubo, aglutinação rápida ou teste
de micro aglutinação (SHIVAPRASAD, 2000).
2.7.1 Vacinas
O uso de vacinas é talvez a estratégia mais direta, evitando riscos à saúde
publica e dificuldades em se manter procedimentos de higiene rigorosos na
propriedade. Este procedimento tem se mostrado efetivo em reduzir a disseminação de
Salmonella enterica sorovar Enteritidis em planteis de poedeiras no reino unido, sendo
que a diminuição de casos humanos de Salmonella enterica sorovar Enteritidis também
foi atribuída a esse procedimento (WITHANAGE et al., 2005).
Vários tipos de vacinas inativadas tem sido usadas experimentalmente e a
campo, e embora gerem resposta imune, a proteção causada por elas contra
Salmonella enterica sorovar Gallinarum é variável, sendo que alguns trabalhos indicam
uma proteção não melhor que moderada (ZHANG-BARBER et al., 1999). Para
Salmonella enterica sorovares Enteritidis e Typhimurium vacinas fabricadas a partir de
bactérias mortas, bacterinas, principalmente com adjuvante oleoso, tem sido reportada
25
em diminuir a eliminação e isolamento de Salmonella enterica sorovares Enteritidis e
Typhimurium de vários tecidos, particularmente o ovário. Essas vacinas devem ser
inoculadas antes de 16 a 18 semanas para servir de booster, após o tratamento com
vacinas vivas ou duas a 4 e 6 e 10 12 semanas de vida (ZANELLA, 2007).
A administração parenteral pode ser um requerimento adicional para máxima
proteção. Embora a vacina ideal deva ser avirulenta para as aves, a administração oral,
pode exigir o uso de uma cepa mais invasiva afim de se estimular a máxima resposta
imune, pois a invasividade pode estar relacionada com a imunogenicidade (ZHANGBARBER et al., 1999).
Diversos tipos de vacina tem se mostrado efetivas em promover proteção
contra salmonelas e há diversas opções de vacinas no mercado (WITHANAGE et al.,
2005). No entanto até o momento o uso de vacinas, vivas ou inativadas, tem mostrado
resultados inconsistentes (ZANELLA, 2007).
Estudos recentes sobre a genética da virulência de Salmonella e a tecnologia
de DNA recombinante, oferecem a possibilidade de introduzir atenuações múltiplas e
definitivas e mutações irreversíveis no genoma bacteriano. Isto tem permitido o
desenvolvimento de cepas de Salmonella sem efeitos colaterais significativos, mas
ainda assim capazes de induzir imunidade solida após uma única dose oral.
(MASTROENI et al., 2000)
2.7.2 Antibióticos
O tratamento com antibiótico perdeu em muito sua importância no Brasil,
pois se aprovada a PORTARIA Nº 297, DE 15 DE JUNHO DE 2010, a nova instrução
normativa preverá a eliminação de planteis positivos para Salmonella enterica
sorovares Pullorum, Salmonella enterica sorovar Gallinarum, Salmonella enterica
sorovar Typhimurium e Salmonella enterica sorovar Enteritidis. Podendo haver a
inclusão de outros sorovares caso seja necessário (BRASIL, 2010).
O extensivo uso de antibióticos, não somente em humanos e na medicina
veterinária, mas também na produção animal para a prevenção de doenças ou como
26
promotores de crescimento, tem levado a um sério aumento e disseminação de multe
resistência a antibióticos (CRUCHAGA et al., 2001).
Das salmonelas isoladas de humanos, animais e alimentos na Espanha.
Salmonelas isoladas de animais apresentaram maior resistência e multe resistência
quando comparada com de humanos e de alimentos. Salmonella enterica sorovar
Typhimurium foi o que apresentou mais multe resistência a antibióticos e quase todos
os sorovar de Salmonella enterica sorovar Hadar isolados apresentaram resistência
(CRUCHAGA et al., 2001).
27
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Bactérias do gênero Salmonella podem possuir diferente patogenicidade,
sendo isto dependente de diversos fatores, como a espécie, linhagem e estado imune
do hospedeiro e sorovar e cepas da bactéria. Podendo haver apenas colonização do
trato intestinal pela bactéria ou até a morte do hospedeiro.
As infecções provocadas por Salmonella ainda são um problema para
diversos países, mas principalmente para países em desenvolvimento. Provocando
grande prejuízo, por provocar queda no desempenho produtivo e mortalidade de
animais, e pelos seus custos com hospitalizações e programas de controle em
humanos.
Apesar de diversos programas de controle, ainda são poucos os países que
são considerados livres da doença. O Brasil ainda esbarra em problemas como baixa
notificação, tanto de casos humanos como de animais e por seu programa de controle,
que ainda não engloba estabelecimentos avícolas de postura comercial e frangos de
corte. Dessa forma ficando atrasado, quando comparado com países como a Suécia
que devido ao seu programa, teve seu ultimo registro de tifo aviário em 1984 e de
Pulorose em 2001, ambas em criações de aves caipiras.
28
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estabelecimentos avícolas comerciais para Salmoneloses (Salmonella Gallinarum,
Salmonella Pullorum, Salmonella Typhimurium, Salmonella Enteritidis) e
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