9 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 30-29, dez. 2012 A importância do Programa Hiperdia em uma Unidade de Saúde da Família do município de Serra Talhada - PE, para adesão dos hipertensos e diabéticos ao tratamento medicamentoso e dietético The importance of Hiperdia Program in a Family Health Unit of the municipality of Serra Talhada – PE for adhesion of hypertension and diabetes pacients to drug and dietary treatment Aisleide de Souza Lima¹; Edviges de Souza Magalhães Gaia1; Micherllaynne Alves Ferreira1* ¹Faculdade de Integração do Sertão, Serra Talhada - PE. Resumo: O objetivo do presente estudo foi analisar a importância do Programa Hiperdia em uma Unidade de Saúde da Família do município de Serra Talhada – PE. Realizando descrição sobre a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), Diabetes Melittus (DM) e do Sistema de Informação Hiperdia. Trata-se de um estudo exploratório com elementos descritivos e quantitativos, tendo como base para sua elaboração um questionário semiestruturado com 13 perguntas realizadas no domicílio do paciente. A amostra foi constituída por 70 usuários registrados no Programa Hiperdia da USF. Os resultados demonstram que o sexo feminino 76,92% e idades acima de 50 anos 89,23% predominaram na pesquisa. Desses, 89,23% relataram que houve melhora na qualidade de vida após o acompanhamento e 92,31% referem que o Programa Hiperdia contribui para a adesão aos tratamentos farmacológicos e não farmacológicos. Diante do exposto, é evidente a importância deste, no acompanhamento em Unidades Ambulatoriais, oferecendo assim a população, uma melhoria na qualidade de vida. Palavras chave: Hipertensão Arterial Sistêmica. Diabetes Melittus. Programa Hiperdia. Abstract: The aim of this study was analyze the importance of the Hiperdia Program in Family Health Unit of the municipality of Serra Talhada - PE. Performing description of the Systemic Arterial Hypertension (SAH), diabetes mellitus (DM) and information Hiperdia System. One is about an exploratory study with descriptive and quantitative elements, having a half-structuralized questionnaire with 13 questions as the basis, performed in the patient’s home. The sample consisted by 70 users registered on Hiperdia Program of USF. Results show that the female (76, 92%), and ages over 50 years (89, 23%) had a bigger prevalence. It was found in the population interviewed, 89,23% reported an improvement in quality of life after monitoring, and 92,31% report that the program contributes to adherence to pharmacological and non-pharmacological treatment. Given the above, the importance of program is evident in the follow-up in Outpatient Services Unit, thus offering a better quality of life to population. Keywords: Systemic Arterial Hypertension. Diabetes Mellitus. Hiperdia Program. *Autor para Correspondência: Micherllayne Alves Ferreira. Rua João Luiz de Melo, nº 2110. Bairro Tancredo Neves. CEP: 56909-205. Serra Talhada – PE. E-mail: [email protected] 10 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 30-29, dez. 2012 1 INTRODUÇÃO Segundo Silva et al. (2008), as doenças cardiovasculares constituem a principal causa de morbimortalidade na população brasileira. A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e o Diabetes Mellitus (DM) representam um dos principais fatores de risco para o agravamento desse cenário, por estarem relacionados ao surgimento de outras doenças crônicas não transmissíveis, que trazem repercussões negativas para a qualidade de vida (ROCHA, 2010). De acordo com Brasil (2006), o número de pacientes portadores de HAS e DM tende a aumentar nos próximos anos, não somente devido ao envelhecimento da população e à crescente urbanização, mas, sobretudo, pelo estilo de vida pouco saudável. A HAS, mais popularmente chamada de "pressão alta", está relacionada com a força que o coração faz para impulsionar o sangue para o corpo todo. No entanto, para ser considerado hipertenso, é preciso que a pressão arterial além de mais alta que o normal, 120x80mmHg, ela também permaneça elevada durante um período prolongado de tempo independente da hora, dia ou tipo de atividade desenvolvida. Assim, é necessário fazer um controle maior, medindo frequentemente os níveis da pressão arterial (MONTENEGRO; FRANCO, 2003). Brito e Volp (2008), afirmam que, DM é o nome de um respectivo grupo de disfunções crônicas que interrompe o modo com que o organismo aproveita os alimentos para fabricar a energia necessária para a vida, o qual é uma modificação no metabolismo dos carboidratos, que também altera lipídeos e proteínas. Sendo assim, há duas formas principais de diabetes (Tipo 1 e Tipo 2), bem como estados de intolerância à glicose, diabetes gestacional e diabetes causada por doenças pancreáticas. Essas patologias por serem, na maior parte do seu curso, assintomáticas, seu diagnóstico e tratamento são frequentemente negligenciados, somandose a isso a baixa adesão, por parte dos pacientes, às orientações e aos tratamentos prescritos. As complicações mais frequentes da HAS e do DM são: infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, doença renal crônica, amputações de membros inferiores e cegueira; além de acarretarem dor, ansiedade, menor qualidade de vida e menor expectativa de vida aos doentes, familiares e amigos. Consideradas, também, a maior causa de partos prematuros e mortalidade materna. O grande impacto da morbimortalidade cardiovascular na população brasileira, que tem o DM e a HAS como importantes fatores de risco, traz um desafio para o sistema público de saúde: a garantia de acompanhamento sistemático dos indivíduos identificados como portadores desses agravos, assim como o desenvolvimento de ações referentes à promoção da saúde e à prevenção de doenças crônicas não transmissíveis. Este desafio é, sobretudo, da Atenção Básica, notadamente da Saúde da Família, espaço prioritário e privilegiado de atenção à saúde que atua com equipe multiprofissional e cujo processo de trabalho pressupõe vínculo com a comunidade e a clientela adscrita, levando em conta diversidade racial, cultural, religiosa e os fatores sociais envolvidos (BRASIL, 2006). Visando um acompanhamento constante, e devido ao aumento dos agravos em pacientes portadores de doenças cardiovasculares, foi criado em 2002, um Plano de Reorganização da Atenção à HAS e DM, denominado Hiperdia. Este programa objetiva atacar a fundo estes agravos, estabelecendo metas e diretrizes para ampliar ações de prevenção, diagnóstico, tratamento e controle dessas patologias, através da reorganização do 11 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 30-29, dez. 2012 trabalho de atenção à saúde, das unidades da rede básica dos Serviços de Saúde (BRASIL, 2002). O bom relacionamento entre a equipe da Unidade de Saúde da Família (USF) e os pacientes cadastrados nesta, irá de maneira expressiva, melhorar o funcionamento deste programa. A presente pesquisa buscou demonstrar a importância do Programa Hiperdia na adesão aos tratamentos farmacológicos e não farmacológicos, na prevenção de complicações e no cumprimento desses como preconiza o Ministério da Saúde. Levando-se em consideração o quantitativo de doentes crônicos com as patologias citadas e as complicações que estas podem causar, como também, o custo aos sistemas de saúde e aos seus portadores, a pesquisa referenciou a importância do Programa na realização do acompanhamento aos usuários, beneficiando leitores e profissionais para uma melhor atenção à saúde, e dessa forma a população em geral poderá adquirir com os demais programas do Ministério da Saúde, em destaque o Hiperdia, uma melhor qualidade de vida. 2 METODOLOGIA A presente pesquisa foi realizada no município de Serra Talhada (PE), na Mesorregião do Sertão Pernambucano no Vale do Pajeú, a 415 km do Recife, no trajeto da principal rodovia ligando a capital ao interior. De acordo com o IBGE (2009) Serra Talhada tem uma população estimada em 83.245 habitantes, dentre estes 6.418 são hipertensos e 1.238 diabéticos, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde de Serra Talhada (2011). A pesquisa ocorreu em uma USF, localizada na zona urbana no bairro da Cohab. Esta unidade possui 234 hipertensos e 46 diabéticos, todos cadastrados e acompanhados pelo Programa Hiperdia. A pesquisa realizada foi do tipo exploratória quantitativa, e teve como instrumento principal um questionário semi-estruturado com 13 perguntas direcionadas para 25% do total dos usuários portadores de Hipertensão e/ou Diabetes cadastrados no Hiperdia da USF descrita. A percentagem foi escolhida pelo método estatístico de amostragem do tipo estratificada, possuindo 95% de confiança. Participaram da pesquisa os hipertensos e diabéticos cadastrados no Programa Hiperdia da referida USF, com idades variadas, todos acima de 18 anos, orientados e em condições mentais para responder o questionário. Os dados foram coletados no domicílio dos hipertensos e/ou diabéticos no período de 12 a 30 de setembro de 2011, a entrevista foi norteada por um questionário, lido e apresentado pelas pesquisadoras e quando permitido pelo participante, constando de assinatura ou impressão digital no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para liberação da pesquisa do cliente. Por se tratar de pesquisa envolvendo seres humanos, os preceitos ético-legais, enunciados na Resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde foram seguidos, garantindo o sigilo com relação à identidade e às informações. Os indivíduos que fizeram parte da pesquisa não sofreram danos. Pelo contrário, foram beneficiados com a reflexão sobre a realidade dos problemas do diabetes e hipertensão. A pesquisa foi deliberada pela Instituição por meio da Carta de Anuência e aprovada pelo Comitê de Ética da Faculdade de Integração de Patos - PB com protocolo nº 088/2011. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A saúde no Brasil apresentou mudanças expressivas nas últimas décadas, com incrementos na expectativa de vida, redução da mortalidade materna e infantil, aumento da cobertura em programas de imunização e atenção às doenças crônicas, 12 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 30-29, dez. 2012 e incorporação de tecnologias de ponta e resolutivas. Todas essas transformações evoluíram com efeitos profundos nos indicadores epidemiológicos e econômicos do País. Dessa forma, o presente estudo aponta parte dessa realidade no que se diz ao cuidado integral das doenças crônicas, como já citado a Hipertensão Arterial e o Diabetes Mellitus. Os resultados da pesquisa demonstram que dentre os participantes, 23,08% são do sexo masculino e 76,92% do sexo feminino. Esse percentual mais elevado do gênero feminino é confirmado por Miranzi et al. (2008): Na área de abrangência estudada, o perfil epidemiológico dos indivíduos com DM e HAS caracteriza-se pelo predomínio do sexo feminino, pois, no planeta, a população feminina é maior que a masculina, segundo dados mundiais. Este fato explica, em parte, a maior proporção de mulheres acometidas, e ainda que são diagnosticadas por procurarem mais frequentemente os serviços de saúde. Outro motivo de relevância na apresentação desse dado corroborando com Zaitune et al. (2006) que as mulheres geralmente têm maior percepção das doenças, pois apresentam maior tendência para o autocuidado e buscam mais assistência médica do que os homens, o que tenderia a aumentar a probabilidade de ter a HAS e/ou DM diagnosticados. Com relação à faixa etária dos entrevistados foi constatada uma prevalência de pacientes com idade igual ou superior aos 50 anos (89,23%) (figura 1), o que mostra muita semelhança com dados do Ministério da Saúde (2006) que estipula que aproximadamente 65% dos idosos são hipertensos o que demonstra mais uma vez a presença de altas prevalências de HAS e DM nas faixas etárias mais velhas. Há uma relação diretamente proporcional entre idade e o desenvolvimento de doenças crônico- degenerativas; quanto mais próximo o individuo chega ou ultrapassa a senilidade, maior será a chance de desenvolver complicações cardiovasculares, interferindo negativamente na sua qualidade de vida (FINOTTI et al., 2008). FIGURA 1 - Faixa etária de Hipertensos e Diabéticos cadastrados no Programa Hiperdia, na área de abrangência da USF – Cohab, no município de Serra Talhada – PE, 2011. Fonte: As autoras, 2012. A figura 2 apresenta o percentual dos entrevistados por patologia, confirmando uma maior prevalência de pacientes com HAS (69,23%). Deve-se levar em consideração, também, o significativo percentual de pessoas que possuem ambas as patologias (26,15%), pois é comprovado que o indivíduo que apresenta uma das referidas patologias tem uma probabilidade maior de desenvolver a outra. FIGURA 2 - Entrevistados por patologia, na área de abrangência da USF – Cohab, no município de Serra Talhada – PE, 2011. Fonte: As autoras, 2012. Dentre os entrevistados, 66,15% afirmaram ter iniciado o tratamento em menos de 10 anos. Este resultado demonstra que os usuários são 13 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 30-29, dez. 2012 diagnosticados e cadastrados precocemente pela Unidade de Saúde, pois o tratamento farmacológico e não-farmacológico para HAS e/ou DM deve ser iniciado o mais precocemente possível, para que se evitem complicações, que levam os pacientes a internações, diminuição da qualidade de vida e aposentadoria precoce, onerando não só o Sistema de Saúde, mas, também, a Previdência Social. Os tratamentos de doenças crônicas que implicam em manutenção de um quadro clínico e não usa a cura, tem-se apresentado como um grande desafio, tanto para o paciente como para a equipe de saúde. O tempo prolongado torna-se assim um dos fatores predisponentes para a não adesão ao tratamento (NOBRE et al., 2001). Com relação à frequência de atendimento na USF, 66,15% dos entrevistados relataram que realizam o acompanhamento do programa mensalmente e 13,85% realizam o mesmo a cada 2 meses (Figura 3). A regularidade do acompanhamento ao paciente pela equipe de saúde da família é de suma importância, mas devem seguir uma ordem quanto à gravidade da patologia. Segundo Turrini (2001), “a resolutividade dos serviços e a satisfação do cliente são maneiras de se avaliar os serviços de saúde, a partir dos resultados obtidos no atendimento ao usuário”. Sabe-se que somente o diagnóstico e cadastro precoce não fazem com que os usuários realizem os tratamentos medicamentoso e dietético adequadamente, é necessário que exista o monitoramento deste paciente através do acompanhamento mensal, fazendo com que este fique motivado a manter os tratamentos. De acordo com o relato de 58,46% entrevistados, os profissionais da referida USF, durante o atendimento do Programa Hiperdia, realizam apenas orientações individuais; 29,23% afirmam que além das orientações individuais é realizado palestras educativas sobre o tema e 12,31% afirmam não existir nenhum tipo de atendimento (Figura 4). FIGURA 3 - Hipertensos e Diabéticos cadastrados no Programa Hiperdia que frequentam a Unidade de Saúde, na área de abrangência da USF – Cohab, no município de Serra Talhada – PE, 2011. Fonte: As autoras, 2012. O tratamento do DM e da HAS inclui orientação e educação em saúde, modificações no estilo de vida e, se necessário, o uso de medicamentos. As orientações são necessárias, tanto no que se refere ao tratamento medicamentoso quanto ao não medicamentoso. A educação em saúde é imprescindível, pois não é possível o controle adequado da glicemia e da pressão arterial se o paciente não for instruído sobre os princípios em que se fundamentam seu tratamento. A participação ativa do indivíduo é a única solução eficaz no controle das doenças e na prevenção de suas complicações (BRASIL, 2002). FIGURA 4 - Tipo de atividade realizada pelos profissionais da Unidade de Saúde, na área de abrangência da USF – Cohab, no município de Serra Talhada – PE, 2011. Fonte: As autoras, 2012. De acordo com o fornecimento de orientações pelos profissionais enfermeiro 14 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 30-29, dez. 2012 e médico da USF aos usuários quanto o uso correto e diário da medicação antihipertensiva e/ou hipoglicemiante; observa-se que 92,31% dos entrevistados afirmam receber orientações dos profissionais quanto ao uso correto das medicações utilizadas. O tratamento medicamentoso é indicado quando o usuário mesmo realizando adequadamente o tratamento não farmacológico, não ocorra a redução da pressão arterial para níveis inferiores à 140x90mmHg ou redução da glicemia para níveis inferiores a 126 mg/dL. Para que o usuário faça uso correto da medicação antihipertensiva ou hipoglicemiante é necessário que o profissional de saúde forneça orientações frequentes quanto ao uso correto e diário desses, diminuindo os níveis tensionais e glicêmicos ou estabilizando esses e evitando-se, assim, o surgimento de complicações (BEZERRA et al., 2009). Foi questionado aos entrevistados quanto ao fornecimento de informações dos profissionais enfermeiro e médico da USF para a realização de alguma atividade física, como caminhada, natação, etc; 70,77% afirmam receber este tipo de informação e 29,23% relatam não receber nenhum tipo de informação sobre o assunto. A ausência de atividade física é considerada fator de risco para o desenvolvimento de HAS e DM, sendo fundamental sua prática para prevenir as referidas patologias e reduzir a morbimortalidade, já que a mesma existe em maior prevalência na população, independente do gênero (HALPERN; MANCINI, 2000). Se não está apresentando melhores resultados se conclui que a mesma não está sendo realizada de forma sistemática. Um fator que recebe maior atenção e cuidado é a prática de atividade física entre os idosos, pelas possíveis limitações e decorrentes de outras patologias ou pelas alterações fisiológicas, em consequência da idade (MANIDI; MICHEL, 2001). Dessa forma, indicar uma determinada atividade física pode significar apenas uma orientação dada do profissional legitimando sua consulta, porém se a mesma não for orientada de forma correta, obedecendo a limitações, poderá trazer lesões ao idoso, em vez de uma melhor qualidade de vida. A figura 5 trata do fornecimento de orientações pelos profissionais da Unidade de Saúde relacionado à dieta alimentar. Esse mostra que 90,77% afirmam receber orientações para uma alimentação saudável. Os profissionais de saúde da rede básica têm grande importância nas estratégias de controle dessas patologias, com relação às modificações da dieta alimentar, pois somente a medicação não proporcionará resultados significativos quanto aos níveis de pressão arterial e glicemia e ao aparecimento de complicações (BRASIL, 2006). FIGURA 5 - Orientações fornecidas pelos profissionais da USF quanto à dieta alimentar, aos Hipertensos e Diabéticos cadastrados no Programa Hiperdia, na área de abrangência da USF – Cohab, no município de Serra Talhada – PE, 2011. Fonte: As autoras, 2012. Foi avaliada a situação dos entrevistados após o acompanhamento do Programa Hiperdia, 89,23% relataram que houve melhora na qualidade de vida após o acompanhamento. Nota-se através dos resultados que a USF referida promove um acompanhamento adequado dos seus usuários e adesão aos tratamentos medicamentoso e dietético, de forma que, a maioria não apresentou nenhuma 15 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 30-29, dez. 2012 complicação aguda ou crônica após o mesmo. No Brasil, estudos recentes demonstraram que as intervenções educativas e as orientações farmacêuticas, dentro do serviço de Atenção Farmacêutica e Atenção Básica, contribuem para melhorar a adesão ao tratamento em cerca de 70% dos casos. Em outros países, as intervenções farmacêuticas mostram resultados positivos, reduzindo custos, melhorando as prescrições, controlando o risco de reações adversas e promovendo maior adesão dos idosos ao tratamento (BEZERRA et al, 2009 apud ROMANOLIEBER et al., 2002). Foi proposto aos entrevistados que escolhessem alternativas para expressar sua maior dificuldade com relação à adesão ao tratamento, onde: 29,23% relataram a dieta alimentar adequada, 27,69% relatou ser a prática de atividade física, 20% o uso correto da medicação, 15,38% não relataram dificuldades para adesão e realização do tratamento e 7,69% a falta de informações dos profissionais da USF quanto à(s) patologia(s) (Figura 6). FIGURA 6 - Dificuldades que os Hipertensos e Diabéticos cadastrados no Programa Hiperdia encontradas para adesão ao tratamento, na área de abrangência da USF – Cohab, no município de Serra Talhada – PE, 2011. Fonte: As autoras, 2012. A dieta alimentar se torna uma das dificuldades mais citadas pelos entrevistados, referenciado também pela figura 5, a situação de saúde alimentar é um problema de saúde pública em todo o mundo. Como exemplo a obesidade, um fator complicador que requer muita determinação para ser controlada, pois está relacionado também à prática de atividade física com regularidade e a alimentação equilibrada. Como o hábito alimentar é passado de geração a geração, torna-se um costume de família incorporado à identidade do sujeito, dificultando assim o seu processo de mudança. A alimentação está presente em eventos comemorativos, faz parte da história cultural dos povos, assim, ela é rica em significados, portanto não se deve tratar deste assunto pensando apenas nos aspectos nutricionais. Hábitos e padrões de comportamentos são desenvolvidos durante a vida e se tornam parte constitutiva do ser humano (CASTRO et al., 2002). Verifica-se que a dieta alimentar e a prática de atividade física são as maiores dificuldades dos usuários entrevistados, mesmo sabendo que ocorram orientações sobre as mesmas pelos profissionais da USF. Percebe-se, a dificuldade que o profissional possui para que seus usuários modifiquem seus hábitos de vida. Foi questionado aos entrevistados se os mesmos consideravam que o Programa Hiperdia contribuía para a adesão ao tratamento da HAS e/ou DM; 92,31% relataram que este contribui para a adesão aos tratamentos. Esse resultado confirma a importância deste Programa para a adesão aos tratamentos medicamentoso e dietético destinados à população, pois antes da sua implantação não existia um registro do quantitativo de hipertensos e/ou diabéticos, acompanhamento, ou a dispensação dos medicamentos. Dessa forma, o presente estudo pôde demonstrar que a enfermagem em conjunto com a equipe multiprofissional de saúde atua na provisão, manutenção e preparo psicológico do paciente, tendo em vista que à prevenção dos problemas dessas patologias é fundamental para se ter uma sociedade saudável. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 16 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 30-29, dez. 2012 Após a abordagem realizada no presente estudo e seus respectivos resultados, constatou-se a importância do Programa Hiperdia na adesão aos tratamentos farmacológico e não farmacológico, bem como, o papel fundamental deste, na redução dos possíveis agravos aos usuários acometidos pelo DM e/ou HAS, ao atuar na prevenção e controle dessas patologias. Constatado a importância do Programa Hiperdia, pode-se identificar as dificuldades que os usuários hipertensos e/ou diabéticos da referida USF, possuem em relação à adesão aos tratamentos, sendo a dificuldade mais citada pelos mesmos à realização de uma dieta alimentar adequada. É notável então o valor da equipe multiprofissional, pois seria de suma importância à presença de um nutricionista para o acompanhamento desses, e que esteja inserido na USF. Sabe-se da necessidade de um acompanhamento mensal para esses usuários, conscientizando-os sobre as mudanças no estilo de vida para prevenir essas patologias e a importância na adesão aos tratamentos propostos, para que possuam uma melhor qualidade de vida e evitem o aparecimento de complicações. De acordo com as descrições realizadas pode-se perceber que a melhor forma de conscientização para a adesão aos tratamentos é através de palestras educativas e/ou orientações individuais, explicando e esclarecendo a população da importância da prevenção e do controle dessas doenças pelo cumprimento correto dos tratamentos. Este estudo poderá servir de base para outros estudos futuros e ainda incentivar os profissionais de saúde a realizar uma melhor assistência nas suas Unidades de Saúde; a população também será beneficiada quanto às informações importantes apresentadas nesse estudo. Considerando os dados pesquisados, enquanto acadêmicas de enfermagem, e devido aos altos índices de hipertensos e diabéticos que frequentam as Unidades de Saúde, surgiu o interesse de pesquisar sobre esta problemática, tendo em vista que em breve, como futuras profissionais da área da saúde teremos a responsabilidade de desenvolver ações de prevenção que sejam eficazes e que venham a produzir algum impacto na melhoria do Programa Hiperdia. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Hiperdia – Sistema de Cadastramento e Acompanhamento de Hipertensos e Diabéticos – Manual de Operação. Rio de Janeiro, 2002. _______. _______. Secretaria de Atenção a Saúde. Hipertensão Arterial Sistêmica. Caderno de Atenção Básica, Brasília DF, n. 15, 2006a. _______. _______. ______. Diabetes Melittus Caderno de Atenção Básica, Brasília – DF, n. 16, 2006b. _______. _______. ______. Critérios, diagnósticos e classificação. Caderno de Atenção Básica, Brasília – DF, n.18, Cap. 3, p. 1, 2006c. BEZERRA, D. S.; SILVA, A. S.; CARVALHO, A. L. M. Avaliação das características dos usuários com Hipertensão Arterial e/ou Diabetes Mellitus em uma Unidade de Saúde Pública no Município de Jaboatão dos Guararapes - PE, Brasil. Revista de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada, v. 30, n. 1, p. 69-73. 2009. BRITO, C. J.; VOLP, A. C. P. Nutrição, Atividades Físicas e Diabetes. 2008. Universidade Federal de Viçosa. Brasil. Revista Digital Buenos Aires: n. 3, p. 119, 2008. CASTRO, F. A. F. et al. Educação Nutricional: A importância da prática 17 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 30-29, dez. 2012 dietética. Revista Nutrição em Pauta, São Paulo, n. 52, p. 9-15, 2002. FINOTTI, V.; RIZZO, E.; FREITAS, G. K. Avaliação da qualidade de vida de indivíduos hipertensos submetidos ou não à assistência fisioterapêutica em unidades básicas de saúde no Município de Vila Velha – ES. Faculdade Novo Milênio. 2008. Disponível em: <http://www.webartigos.com/articles>. Acesso em 15 set. 2011. HALPERN, A.; MANCINI, M. C. O tratamento da obesidade no paciente portador de hipertensão arterial. Rev. Bras. Hipertensão, [S.I.], v.7, n.2, p.16671, 2000. MANIDI, M. J.; MICHEL, J. P. Atividade física para adultos com mais de 55 anos. 1. ed. São Paulo: Manole, 2001 MIRANZI, S. S. C. et al. Qualidade de vida de indivíduos com diabetes mellitus e hipertensão acompanhados por uma equipe de saúde da família. Texto contexto enferm., Florianópolis, v. 17, n. 4, p. 672– 679, 2008. MONTENEGRO, M. R.; FRANCO, M. Patologia – Processos Gerais: 4 ed. São Paulo: Atheneu, 2003. NOBRE, F.; PIERIN, A.; MION, D. J. Adesão ao tratamento: o grande desafio da hipertensão. São Paulo: Lemos Editorial, 2001. ROCHA, A. A Importância do Hiperdia na Redução dos Agravos em Pacientes Cadastrados no PSF IV, do Município de Barreiras-BA, e a significância do Profissional de Enfermagem neste Programa. Centro de Ciência e Saúde. Departamento de Fisiologia e patologia. PROBEX. 2010. [online]. Disponível em: <http://www.webartigos.com/articles>. Acesso em: 15 maio 2011. ROMANO-LIEBER et al. Revisão dos estudos de intervenção do farmacêutico no uso de medicamentos por pacientes idosos. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro. v. 18, n. 6, p.1499-1507, nov-dez. 2002. SILVA, C. A. et al. Hipertensão em uma unidade de saúde do SUS: orientação para o autocuidado. Rev. Baiana de Saúde Pública. v. 30, n. 1, 2008. TURRINI, R. N. T. Percepção dos usuários sobre a resolutividade e a satisfação pelos serviços de saúde na região sudoeste da Grande São Paulo. São Paulo: Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo; 2001. ZAITUNE, M. P. A. et al. Hipertensão Arterial em idosos: prevalência, fatores associados e práticas de controle no município de Campinas, São Paulo, Brasil. Cad. Saúde Pública. v. 22, n.2, Rio de Janeiro, 2006.