Educação em saúde como estratégia para o enfrentamento da hipertensão arterial e diabetes mellitus em São Francisco do Conde, BA. Alyne Mascarenhas Souza1; Kaio Vinicius Freitas de Andrade 2; Felipe Ferreira Ribeiro3 1. Bolsista PIBEX, Graduanda em Medicina, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: [email protected] 2. Professor Adjunto, Departamento de Farmácia, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: [email protected] 3. Participante do projeto, Departamento de Medicina, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: [email protected] PALAVRAS-CHAVE: hipertensão arterial, adesão, tratamento. INTRODUÇÃO A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) trata-se de uma condição clínica caracterizada pela persistência na elevação dos níveis de pressão arterial sistólica (≥140mm/Hg) e diastólica (≥90mm/Hg), que apresenta relação com vários fatores de risco modificáveis, como dieta inadequada, tabagismo e sedentarismo; e não modificáveis, como hereditariedade, idade e raça. Frequentemente, associa-se a alterações funcionais de órgãosalvo como coração, encéfalo, vasos sanguíneos e rins (Brasil, 2013; Lopes, 2010). A HAS tem alta prevalência e baixas taxas de controle. É considerada um grave problema de saúde pública no Brasil e no mundo. No Brasil, sua prevalência varia entre 22% e 44% para adultos, chegando a mais de 50% para indivíduos com 60 a 69 anos (Brasil, 2013). Diabetes mellitus (DM) é um transtorno metabólico de crescente prevalência, frequentemente associado à HAS e dislipidemia, sendo caracterizado por hiperglicemia, devido a defeitos na secreção e/ou ação da insulina. É um problema de saúde considerado como condição sensível à atenção primária. O DM tipo 1 corresponde a aproximadamente 8% dos casos e acomete principalmente crianças e adolescentes sem excesso de peso, apresentando tendência à hiperglicemia grave e cetoacidose. O DM tipo 2 abrange cerca de 90% dos casos de diabetes na população e costuma manifestar-se em adultos com excesso de peso e história familiar, apresentando início insidioso e sintomas mais brandos (Brasil, 2013). Várias instituições de ensino e pesquisa vêm promovendo atividades voltadas para a identificação e controle do quadro de hipertensos e diabéticos em diferentes comunidades, dentre elas a Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), através de projetos de pesquisa e extensão, como o projeto “Adesão ao tratamento anti-hipertensivo e fatores associados na área de abrangência da estratégia de saúde da família, São Francisco do Conde, Bahia”, a partir do qual têm sido desenvolvidas atividades como a descrição do perfil sociodemográfico dos indivíduos hipertensos e ações educativas, abordadas neste resumo. Este trabalho tem como objetivo descrever as experiências vivenciadas através de ações de promoção da saúde, em especial de intervenções educativas para controle da HAS e DM junto à comunidade da área de abrangência das USF Baixa Fria e São Bento, no município de São Francisco do Conde, Bahia, verificando, principalmente, o perfil (epidemiológico e socioeconômico) dos hipertensos da comunidade, conscientizando-os acerca da importância da adesão ao tratamento medicamentoso e não-medicamentoso para o controle dos agravos. METODOLOGIA Inicialmente, foi realizada a apresentação da proposta à Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de São Francisco do Conde, Bahia, aos profissionais de saúde que atuavam na Estratégia de Saúde da Família (ESF) do município e a lideranças comunitárias. Posteriormente, o projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP/UEFS), seguindo as recomendações formais. Em seguida, realizou-se um levantamento dos indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos, cadastrados no Sistema de Cadastramento e Acompanhamento dos Hipertensos e Diabéticos (Hiperdia), que estivessem em tratamento anti-hipertensivo, para a realização de visitas domiciliares em conjunto com os Agentes Comunitários de Saúde (ACS). As visitas ocorreram nos meses de novembro e dezembro do ano de 2013. Foram visitados domicílios de 126 indivíduos hipertensos que aceitaram participar das atividades mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), residentes em cinco microáreas cobertas pela USF Baixa Fria. Durante as visitas, realizou-se a aferição da pressão arterial e medidas antropométricas (peso, altura e circunferência da cintura), preenchimento de formulário, levantamento dos medicamentos anti-hipertensivos e demais medicamentos utilizados pelos indivíduos. As medidas educativas consistiram em orientações verbais e distribuição de material educativo, sendo abordados os seguintes temas associados a HAS e DM: “importância da adesão ao tratamento anti-hipertensivo e antidiabético”; “cuidados com os medicamentos”; “o que é uma alimentação saudável” e “consequências da não adesão terapêutica”. Realizou-se também uma palestra educativa no auditório da USF São Bento abordando o tema “Diabetes Mellitus: dicas e informações para uma vida melhor”, no intuito de prestar esclarecimentos acerca dos sintomas de DM, bem como importância da adoção de hábitos de vida saudáveis para prevenção das complicações. RESULTADOS E DISCUSSÃO .Durante as visitas, foram coletados dados epidemiológicos e socioeconômicos dos 126 indivíduos hipertensos residentes na área de abrangência da USF Baixa Fria. Observou-se que a maioria dos indivíduos era formada por negros (50,8%; n=64), do sexo feminino (78,6%; n=99), estudou até apenas a 1ª à 4ª séries do Ensino Fundamental (31,7%; n=40), sendo que 25,4% (n=32) não eram alfabetizados. Em relação aos hábitos de vida, a maior parte dos indivíduos alegava não fumar (85,7%; n=108), não consumir bebidas alcoólicas (59,5%; 75) e não praticar exercícios físicos (61,9%; 78). O Índice de Massa Corpórea (IMC) prevaleceu na faixa do sobrepeso (32,5%; n=41) e obesidade grau 1 (23,8%; n=30). Dentre os indivíduos entrevistados, 48,4% (n=61) alegaram apresentar outras doenças. 41,3% (n=52) têm colesterol alto, 23,8% (n=30) têm diabetes e 16,7% (n=21) já sofreram algum episódio de Acidente Vascular Cerebral (AVC). Embora uma porcentagem alta de indivíduos (97,6%; n=123) tenham afirmado que recebem orientação dos profissionais de saúde em relação ao uso correto dos medicamentos e mudança de hábitos de vida, a maioria (57,9%; n=73) não consome regularmente os medicamentos, o que pode acarretar possíveis complicações. Durante as visitas domiciliares realizadas, os indivíduos foram orientados sobre a importância da adesão terapêutica farmacológica e não-farmacológica, possíveis complicações da não adesão, uso correto dos medicamentos, bem como da dieta mais adequada para controle dos níveis pressóricos. Foram distribuídos e explicados folhetos, contendo orientação alimentar e informações acerca dos benefícios das mudanças dos hábitos de vida, ressaltando a redução do consumo do sal nos alimentos, a ingestão diária de frutas e verduras, bem como a prática de atividades físicas. A HAS constitui um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de complicações cardiovasculares, cerebrovasculares e renais. A identificação e controle da HAS têm relevância para redução dessas complicações. Para isso é fundamental informar e educar o paciente hipertenso, sendo que a manutenção da motivação do paciente em não abandonar o tratamento pode ser considerada uma das batalhas mais árduas enfrentadas pelos profissionais de saúde (Brasil, 2006). O mesmo se aplica aos pacientes diabéticos, cuja cronicidade, curso muitas vezes assintomático da doença e necessidade de mudanças no estilo de vida podem desmotivar os pacientes quanto à continuidade do tratamento. A abordagem conjunta dos dois agravos se justifica por se apresentarem muitas vezes associados, além de apresentarem muitos aspectos em comum, relacionados à etiopatogenia, cronicidade, tratamento não medicamentoso propondo mudanças nos hábitos de vida, repercussões danosas sobre as funções cardiovascular e renal, bem como fatores de risco passíveis de controle como obesidade, dislipidemia e sedentarismo (Santos et. al, 2012). As ações de saúde e o intuito informativo deste trabalho contribuem para a manutenção da motivação dos pacientes hipertensos e diabéticos, susceptíveis a recaídas em velhos hábitos de vida prejudiciais à saúde, reforçando a importância da mudança no estilo de vida e do uso correto dos medicamentos, mesmo nos casos assintomáticos, visando a prevenção das possíveis complicações da HAS e DM, e a melhoria na qualidade de vida dos seus portadores. CONCLUSÃO A hipertensão arterial é uma comorbidade comum do diabetes, sendo que o tratamento deve incluir intervenção alimentar, exercícios e controle de peso (SBD, 2014), de modo que muitas pessoas precisarão associar mudanças no estilo de vida o uso de medicamentos de forma regular a fim de manter os níveis pressóricos e glicêmicos adequados e prevenir complicações. A educação em saúde consiste na principal estratégia para adesão terapêutica, pois além de proporcionar o acesso ao conhecimento, pode capacitar e motivar o indivíduo para o autocuidado (SBD, 2014), permitindo mudanças comportamentais tanto em relação às doenças quanto aos fatores de risco cardiovascular, à medida que oportuniza o diálogo com as pessoas, viabilizando o esclarecimento de questionamentos e levantando o grau de conhecimento sobre suas condições de saúde e fatores que podem contribuir para a melhoria ou a piora do quadro clínico (Minas Gerais, 2006). REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. 2006. Hipertensão Arterial Sistêmica. Cadernos de Atenção Básica. Brasília, DF. n. 15, 58p. BRASIL. Ministério da Saúde. 2013. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: hipertensão arterial sistêmica. Cadernos de atenção Básica. Brasília, DF. n.37, 128p. BRASIL. Ministério da Saúde. 2013. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica : diabetes mellitus. Cadernos de Atenção Básica. Brasília, DF. n.36, 160 p. MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Saúde. 2006. Atenção a saúde do adulto: hipertensão e diabetes. Belo Horizonte: SAS/MG. NOBRE, F. 2010. Tratamento medicamentoso. In: VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão – DBH VI, (eds.) F. Nobre et al.. Rev. Bras. Hipertens. 17(1): 7-10. SANTOS, J.C., MOREIRA, T. M. M. 2012. Fatores de risco e complicações em hipertensos/diabéticos de uma regional sanitária do nordeste brasileiro. Rev. esc. enferm. USP. 46(5): 1125-1132. SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES (SBD). 2014. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes: 2013-2014; [organização José Egidio Paulo de Oliveira, Sérgio Vencio]. – São Paulo: AC Farmacêutica.