A EDUCAÇÃO NA ALTA IDADE MÉDIA – MARIO ALIGHIERO

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A EDUCAÇÃO NA ALTA IDADE MÉDIA – MARIO ALIGHIERO MANACORDA, 1999
Luiz Antonio de Oliveira
O poder na Alta Idade Média se estabeleceu concentrou nos reinos bárbaros romanos, na Igreja e no
Império Romano do Oriente.
1 DECADÊNCIA DA CULTURA CLÁSSICA
O que marcou da decadência da cultura clássica? A fragmentação do poder romano e o contato com as
culturas bárbaras.
Neste contexto a escola cristã substituiu a escola clássica grego-romana (alfabetização, leitura e leitura
dos clássicos gregos e romanos). A escola cristã manifestou de duas formas: a escola episcopal nas
cidades e escola cenobítica nos mosteiros. O nível cultural do princípio da Idade Média foi muito baixo,
seja entre os bárbaros, homens da Igreja ou os membros dos impérios.
O rei dos bárbaros ostrogodos Teodorico procurou manter as contribuições anonárias 1 aos que
ensinavam parte das artes honestae (gramática e retórica). Sendo que a cultura das artes liberais o
mesmo rei mantinha como ensino para os romanos, ou seja o conjunto do trivium e quadrivium. Enfim,
os bárbaros se dedicavam à formação guerreira.
O empobrecimento cultural também estava entre os homens de igreja (padres, monges, bispos). Em
seus princípios a Igreja era contrária à cultura clássica, como se expressou oficialmente no Concílio de
Cartago em 400 d.C. que proibiu aos bispos sua leitura.
Já o Concílio de Roma em 463 d.C. discutiu o problema da total ignorância dos eclesiásticos proibindo
que analfabetos buscassem pelas ordens sagradas. A situação levou o papa Gelásio I em 495 d.C. a
confirmar a proibição do acesso ao sacerdócio dos que não conhecessem as letras e possuíssem defeito
físico.
O mesmo posicionamento se deu em relação aos candidatos a monges. Mesmo assim Cassiodoro
informa que no Sínodo de Roma de 499 existiam bispos que não sabiam assinar o próprio nome.
Segundo Manacorda essa situação se estenderá por mil anos e é reveladora da condição de retorno da
cultura ocidental à barbárie após atingir o auge clássico na Grécia e Roma. A decadência não se deu
somente nas regiões do decante Império Romano do Ocidente. Esteve presente também no Império do
Oriente, como se percebe em 529 quando o imperador Justiniano sistematiza as leis romanas, e ao
mesmo tempo fechava a escola filosófica de Atenas. Segundo informações contidas em “História
Secreta” de Procópio de Cesaréia a ignorância era forte na corte oriental. O governante anterior a
Justiniano, seu tio Justino, tinha uma forma usada para assinar os documentos. O próprio Justiniano,
embora não analfabeto, era de estilo, aparência e mentalidade rude.
O esquecimento da cultura clássica estava consolidado. As escolas de artes liberais permaneceram em
alguns lugares, que por ação de governantes bárbaros como Teodorico na Itália. Como o fim da guerra
grega-gótica2 (do oriente contra o ocidente bárbaro), Justiniano atendeu ao pedido do papa Virgílio e em
sua Pragmática Sansão, de 554, reafirmou as contribuições anonárias que Teodorico havia estabelecido
para que os jovens fossem instruídos nos estudos liberais.
1
Que se refere contribuir com os mestres com uma espécie de salário expresso em mantimentos, ou seja, das
provisões mínimas necessárias à sua alimentação e outras necessidades. Tratava-se de pagamento com produtos
pelo trabalho de ensinar.
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O imperador Justiniano do Império Romano do Oriente (527 – 565) travou a Guerra Gótica contra os ostrogodos
na Itália (535 – 554).
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Entretanto Cassiodoro e mesmo Teodorico reclamava que após os estudos das letras os jovens se
descuidavam da cultura clássica, internando-se em mosteiros ou voltando para casa. Um estudar para
esquecer. Não cultivavam a referida cultura.
Os primeiros bárbaros, que eram em grande parte cristãos se se aculturaram às culturas clássicas gregoromanas. Já no século VI a situação era diferente dos anos 300: a tradição de acultura despareceu
quando Justiniano venceu os ostrogodos na Itália e is vândalos na África. Assim, a cultura clássica
quando da conversão dos francos já estará morta. Seu renascimento terá ação exatamente do rei Franco
Carlos Magno e, e depois por ação de seus filhos.
2 A ESCOLAS CRISTÃ MORE SINAGOGAE (114).
A reorganização da sociedade nos tempos medievos coloca o problema do dualismo entre Estado e
Igreja. Com o poder de Estado enfraquecido algumas ações se concentraram nas mãos da Igreja.
Naquele contexto falar de Igreja significava falar dos romanos organizados politicamente em torno de
sua Igreja: nas mãos deste permaneceram os aspectos administrativos e culturais. Por isso, a
reorganização da escola e cultura foram obras da Igreja no medievo. Por questões administrativas e
culturais muitos bispos foram funcionários dos governantes bárbaros.
Em torno da dupla estrutura da Igreja Medieval (clero secular: bispados e paróquias; e clero regular:
mosteiros) organizou-se a nova educação cristã e consequentemente a escola medieval em tempos dos
domínios bárbaros (Alta Idade Média).
A vida nos mosteiros, pelo próprio movimento de afastamento do mundo para viver outra vida longe da
sociedade, repercutiu em rejeição da cultura clássica, considerada cultura mundana. Foram os padres das
cidades que conservaram mais tempo a cultura clássica. Mas, foram estes e os mosteiros que
contribuíram para a reorganização da cultura e da escola.
O papa Zózimo em 418 instituiu as escolas religiosas para ensinar os sacerdotes e depois estes
ensinassem. O ato de ensinar passa à condição de grupo eleito, não mais leigo como em Grécia e Roma.
Formar sacerdotes-mestre era a primeira missão das escolas nas paróquias e bispados. Essas escolas se
pautaram pela separação entre o dizer e o fazer (separação entre trabalho intelectual e trabalho físico).
Seguiu-se o modelo que se instaurou após a destruição do Templo de Jerusalém e da Diáspora (tempo
do exílio no século VI a. C., e da dispersão dos judeus pelo mundo), quando se tornou predominante a
influência das Sinagogas por meio da MIDRASH (trata-se de comentários dos textos sagrados
transmitidos, sobretudo de forma oral). As escolas da Igreja assumiram o modelo da Midrash nas
sinagogas.
Estabeleceu-se uma nova ordem mental que promovia a aculturação institucionalizada que caracterizava
a escola dos sacerdotes, cujo objetivo era a preparação para o dizer os princípios bíblicos da fé. O
método era ouvir e depois repetir, para em seguida demonstrar o que se aprendera ao mestre. Assim,
grande peso se dava à memorização.
3 AS ESCOLAS NOS BISPADOS E MOSTEIROS (116).
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Em torno do Concílio de Roma (464), o papa Gelásio, São Ferréolo e São Cesário constataram a
ignorância do clero (especialmente), e dos leigos. Neste tempo a instrução se deu nos bispados e nos
mosteiros.
Contribuição dos bispados: Ao tratar da instrução ministrada nos bispados e paróquias, Manacorda
(1999) chama atenção para o fato de se darem pelas possibilidades que as situações daquele tempo
permitiram segundos alguns concílios nacionais3:
 Espanha: Concílio de Toledo (527): a primeira ação da Igreja em relação às crianças entregues
pelos pais ao sacerdócio era a instrução pelo pessoa (clérigo) indicada pelo bispo;
 França: Concílio de Vaison: todos os padres deveriam acolher em suas próprias casas os jovens e
realizar sua formação espiritual e sua instrução na leitura bíblica e nos princípios da Igreja. Com
o objetivo de formar sucessores.
Na medida em que os concílios estabeleciam que os 18 anos os meninos podiam escolher entre
matrimônio e sacerdócio, abriam-se as escolas também para a formação dos leigos.
A contribuição dos mosteiros: a organização monástica cristã ocidental se deu por ação de Cassiodoro,
São Cesário, São Ferréolo, São Bento e São Colombano. Nas regulas e as Consultudines monasticae
(regras dos mosteiros) o tema escola é quase ausente, embora elas tratem de algum tipo de instrução.
O oferecimento que famílias realizavam de seus filhos quando ainda crianças aos mosteiros indicam
uma atividade de instrução e instrução religiosa. Esses eram os oblatos, os iniciados na vida monástica.
Nas Regulas de São Bento (540), a grande preocupação era como a educação moral e a participação na
liturgia, Hás indicações também da instrução literária, como indica a regra 38: a leitura durante as
refeições por monge que soubesse “edificar os que ouvem.” (= os que lessem bem).
A presença do instrumento de escrever (grafhium) e do material no qual se escrevia (tabulae)
providenciados pelo abade aos oblatos informa a presença da instrução em sua formação.
As regras monásticas prescrevem punições para os adultos que vão desde a advertência secreta, à
pública, a excomunhão do trabalho, da mesa e da liturgia, até a expulsão.
A contribuição do cristianismo em relação à educação dos jovens e crianças: as regras monásticas
determinam em relação aos mais jovens e crianças (os oblatos): que se tenha paciência, considerando a
idade infantil, lentamente foi se reforçando a defesa de uma relação mais afetuosa e menos punitiva. A
disciplina, com moderação e prudência, mesmo com a relação pedagógica onde os aprendizes deviam
sempre calar-se e ouvir.
Uma situação contraditória, uma vez que o costume durante boa parte da Alta Idade Média ainda se
valorizava diante de qualquer erro: o jejum prolongado e os açoites. A compreensão era de que quando a
persuasão não funciona se usasse do castigo. O sadismo pedagógico era uma tradição nas culturas
ocidentais. Prevalecia essa pedagogia. Porém, isso não invalida a contribuição do cristianismo, que daria
seus frutos mais tarde. A regra 70 de São Bento procura enfrentar esse sadismo quando trata de seu
moderado e da punição dos abusos.
Isidoro de Sevilha (560 – 636) indicava que se usasse a leitura silenciosa porque ele permitiria a
articulação da língua.
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Concílios de uma determinada região. Isso significa que outras regiões poderiam ter decidido de forma de diferente.
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4 A NOVA CULTURA ESCOLÁTICA (122).
A nova cultura escolástica formou a base para o ensino eclesiástico, fosse dos futuros pares ou dos
leigos cristãos. Embora, o primeiro objetivo fosse a formação dos padres.
A instrução promovida pelos padres e monges nos primeiros cem anos do medievo alterou os conteúdos,
de modo que os clássicos grego-romanos foram substituídos pela cultura bíblica: salmos e Sagradas
Escrituras, as leis da Igreja, e a vida de Santos importantes. Tal ensino exigia conhecer o ler, o escrever
e o contar. A gramática ensinada era somente a necessária para os estudos religiosos, conforme
defenderam Cassiodoro e Isidoro de Sevilha. O acesso à cultura clássica era só o necessário para a
compreensão e ensino da cultura bíblica e dos fundamentos da Igreja. Tratava-se das didascálias: o
ensino das primeiras letras, e sua articulação aos significados das imagens do sagrado.
A escola cristã em seus primeiros tempos era arredia à cultura clássica, daí o controle na indicação das
leituras que se permitia realizar, como estabelecia os Statuta ecclesiaae em 475.
Cassiodoro ao fundar um mosteiro em Vivarum (Calábria) buscou uma posição mais equilibrada no
trato com a cultura clássica, no sentido de conciliar com o cristianismo. Procurou mostrar aos mestres
não cristãos a identificarem nas Sagradas Escrituras as figuras retóricas (formas de literatura e
gramática) que ensinavam. Além disso, defendia que os papas não haviam decretado a rejeição da
cultura secular
Papa Gregório I (540 – 604) promoveu a vida cultural, um dos maiores críticos da cultura clássica no
medievo, afirmava que se uso deveria estar na condição de ajudar na compreensão das escrituras.
Assim, a nova cultura escolástica é medieval. O que isso significa? Uma cultura que herdou a língua
latina e os aspectos formais (formas de estilo e argumentos) da tradição clássica (não seus conteúdos, a
não serem aqueles que serviam para sustentar os fundamentos religiosos da nova sociedade), mas de
fontes já da decadência romana. A centralidade de nova cultura são os textos bíblicos da tradição
hebraica do Velho Testamento e o Novo Testamento, buscando pelo sentido histórico, moral e espiritual
dos textos sagrados [conforme defendia São Cesário (São Cesário (470 – 543)].
O movimento da instrução na Alta Idade Média conduzido pela Igreja promoveu a sistematização
definitiva das disciplinas em trivium (gramática, dialética, retórica) e quadrivium (aritmética, geometria,
astronomia e música), denominadas de sete artes liberais.
5 AS ESCOLAS CANÔNICAS URBANAS (128).
As escolas paroquiais respondem à necessidade de segurança da Igreja. Assim, O Concílio de Toledo,
em 633 recomenda a formação de padres que conheçam as Escrituras e as leis da Igreja, para a direção
de suas futuras igrejas. Desta forma, o recrutamento de meninos para serem padres e mesmo servos
instruídos na fé. Estes ficavam sob a orientação de m mestre clérigo. (129).
Na medida em que acontecia a reelaboração da cultura (a nova cultura escolástica) promovia-se também
a preocupação de levá-la às crianças de classes sociais subalternas. Os discípulos são as crianças mais
humildes e escravas de ultramar resgatas pelos conventos.
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Trata-se da abertura da educação a todos, ou de sua aculturação ao modo de pensar predominante.
Assim, aos discípulos das escolas paroquiais e cenóbicas se impunha maior preocupação com
aculturação que com instrução, conforme as definições dos Concílios espanhóis do século VII. (128):
- Concilio de Toledo, 633: disciplinamento e adequação do comportamento das famílias dedicadas à
igreja para a formação sacerdotal aos cuidados de ancião (mestre de doutrina e exemplo de vida). (128).
- tais princípios e orientações se confirmam nas regulae das ordens monásticas. (128).
Configuram-se como escolas paroquiais, com alunos recrutados nas famílias que pertencem à própria
organização eclesiástica local. Assim, o Concílio de Merida em 666 recomenda que todos os padres de
paróquias formem clérigos. (128).
A iniciativa mais rica de conseqüências para o cristianismo ocidental deu-se pela ação de monges
irlandeses no século VII, por ação de discípulos de São Colombano (534 -615) que em 614 fundaram o
mosteiro de Bobbio que estabelecia como mínimo a leitura com maior incidência da cultura clássica
antiga (Grega e Romana). Propagou-se o surgimento de novos mosteiros comprometidos com o
compromisso cultural.
O novo empenho educativo da Igreja nos mosteiros e igrejas identificou-se nas novas regras das escolas
canonicais ou reinterpretações das antigas regras cenobiais, como a regra de Chrodegango, bispo de
Metz de 742 a 765: os reitores das igrejas devem nutrir e instruir os meninos a eles confiados,
submetidos à disciplina eclesiástica de forma a não pecar em sal idade sensual tendenciosa. Para tal
deverá nomear um irão absolutamente exemplar. Também entregues a ancião exemplar... Evidencia a
preocupação com a formação moral e co m a instrução, como maior preocupação com a moral. (129130).
No Período carolíngio (130), Paulo Diácono procurou reinterpretar as regras de São Bento, de forma a
evidenciar mais a preocupação também com a com a cultura: Bento afirma que os meninos em grupos
de mais ou menos dez devem ter entre três e quatro mestres, nunca serem deixados a sós, instruídos com
muito cuidado, e colocados em contato com hóspedes doutos sob orientação do Prior que observaram
como se comportaria, e se suas repostas foram inadequadas.
A época carolíngia e o renascimento medieval – o que se conservou das tradições clássicas. A nona
organização política no Império de Carlos Magno foi o instrumento para o crescimento e renovação das
tradições culturais. (131).
6 A ÉPOCA CAROLÍNGIA: A ESCOLA ENTRE O PAPADO E O IMPÉRIO (131).
A época carolíngia é definida por Manacorda como a “consolidação das sociedades que surgiram do
encontro de romanos e bárbaros germânicos e também de um grande despertar no campo da cultura e da
escola. Centro deste processo [...] é a dinastia carolíngia do reino franco, protagonista daquela renovatio
imperii que repropõe os territórios de cultura latina como potência euromediterrânea ao lado do império
romano bizantino e dos árabes.” (131).
O novo poder estatal se consolidou em torno dos guerreiros e dos intelectuais, monges e clérigos que
pensaram a política cultural e escolástica do novo império. O acolhimento de intelectuais na corte de
Carlos Magno (131) promoveu um Estado que assumiu a responsabilidade pela instrução (embora
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permaneça na Igreja e pela Igreja). O que resultou em diversos documentos, os chamados Capitulares,
como o Capitular de 787, pretendendo orientar a função de ensino dos eclesiásticos: não negligenciar os
estudos literários, mas aprender para com eles penetrar mais corretamente os mistérios das páginas
sagradas. (131 – 132).
A grande referência se tornou a tradição anglo-saxônica de Alcuíno (735 – 804), beneditino, que
promoveu a superação da polêmica entre o pensamento de Juliano, o Apostata (361 – 363) e Gregório de
Nazianzo (329 – 389): a aceitação da cultura clássica para usos melhores, como pensava Isidoro de
Sevilha. (132).
O Império carolíngio cuida da preparação profissional dos sacerdotes, na condição de profissão de
governo. Igreja subordinada ao Estado também num campo que lhe é próprio. (132), com o lugar de
formação definido na residência episcopal.
Estabeleceu-se um conflito no qual a Igreja passa a reivindicar o controle da formação não só de seus
quadros, mas também dos demais jovens. Assim, Carlos Magno concedeu permissão que os pais
mandassem seus filhos aos mosteiros para aprender o Pater, o /Credo, mesmo em seus dialetos. (132133).
Seu filho, Ludovico, o Pio – Luis, o piedoso (778 – 840), em documento de 817, prescreveu que nos
mosteiros deveria se manter somente a escola para os oblatos. Há uma proibição de outro tipo de escola
e freqüência nos mosteiros. (133).
Lotário (795 – 855), em 825, liberou a Igreja da obrigação de instruir os leigos, consolidando a escola
pública de Estado que pretendeu organizar em sedes mais importantes (centros urbanos da época). A
iniciativa ficou por conta dos bispos, como os italianos e franceses que solicitaram a Lotário o
afastamento da obrigação da instrução dos leigos, conforme Concílio de Paris de 829. (133).
A Igreja logo em seguida reivindica o papel da instrução. Quais os motivos de tal alteração? A
formação dos clérigos, o problema se arrastará e só terá encaminhamento mais definitivo quando o
Concílio de Trento (1545 – 1564) definirá o seminário como lugar de formação dos padres. Enquanto
isso, o Concílio de Roma, em 826, constatando a falta de mestres e interessados nos estudos das letras,
impõe em todos os bispados, nas suas paróquias, e onde fosse necessário e possível, providências para
nomeação de mestres e doutores para ensinar as letras, as artes liberais e os dogmas sagrados, as
sagradas escrituras. (133 – 134).
E a instrução dos leigos? O Concílio de Roma, de 853, sob orientação do papa Leão IV, reafirmou as
escolas episcopais para os clérigos, e propõe as escolas paroquiais, de nível inferior, abertas também aos
leigos, para o ensino noções da doutrina cristã. (134).
As três modalidades de escolas: 1) do Estado para leigos nas principais cidades; 2) as eclesiásticas
paroquiais, abertas também aos leigos, e, eclesiásticas episcopais para a formação exclusiva dos padres;
3) dos mosteiros, para os oblatos, sem necessariamente excluir o acesso de leigos. Tais escolas estavam
sob a temporária e frágil direção do Estado. (134).
7. A EXPERIENCIA DE VIDA NUMA ESCOLA CENOBIAL (134).
O relato “Lembranças de escola de Walafried Strato” na segunda parte do século IX – abade de
Reichenau:
Edifícios imponentes; acolhimento amigável de “grande número de companheiros”; confiado a um
mestre, juntamente com outros meninos da mesma idade (mas mais adiantados), para aprender a ler;
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enfrentou com zelo as tarefas, aprendeu rápida a leitura do que escreviam para sua leitura, como os
livros em latim; iniciado no alemão; aprendeu a ler e compreender o que lia.
Em seguida aprendeu a conversação em latim (aprendeu frases de cor para se fazer entender aos seus
colegas, que por estarem mais adiantados tinham de conversar só em latim; na sequência foi iniciado na
gramática de Donato sob a orientação de um aluno mais experiente até que decorasse todas as
declinações e as regras de uso das mesmas; nas duas primeiras horas o mestre orientava como fazer para
aprender, depois só voltava para conferir com ao instrutor como tinha acontecido a tarefa. (135 – 136).
Observe-se que o aprendiz era colocado com os textos; tratava-se de uma espécie de método mútuo
(mestre e instrutor) com base na memorização, sob controle do mestre. (136).
8. A EDUCAÇÃO FÍSICA E GUERREIRA (136).
Trata-se do fazer das classes dominantes: libertar os meninos dos medos dos anciões e dos mestres e
formá-los na coragem e nos atributos e uso das armas. Os bárbaros eram contrários à aculturação
romana, sobretudo aquela que se dava nas escolas (escolas das letras humanas). Essas escolas
representavam para a elas a submissão do espírito e do corpo, representada na ação das punições do
chicote. O que criaria homens sem capacidade de reação para enfrentar o perigo da espada e da lança,
portanto, contrários aos princípios de coragem e valentia próprios dos bárbaros. (136). Vide o repúdio da
comunidade dos nobres godos contra Amalasunta por sua atitude de aculturação romana na educação de
futuro rei, seu filho Atalarico.
Manacorda observa nos tempos romanos-bárbaros a separação entre o dizer e o fazer, as letras e o valor:
a resistência bárbara em constituir um lugar separado onde se ensina e a concepção da educação como
treinamento guerreiro. Destaque-se a resistência bárbara à educação repressiva (o sadismo pedagógico
das pancadas gera covardes!). (137).
Carlos Magno estabeleceu uma relação diferenciada na formação de seus filhos, instruindo-os nas artes
liberais e nas leis mundanas. De um Aldo os fez instruir por doutos clérigos da Corte. De outro, os
adestrava na caça e na equitação conforme os costumes dos francos, portanto preparação militar.
Entretanto, predominam as virtudes dos nobres: as da paz e as das guerras (caça, pesca conhecimento
das regras da Corte e leis do Estado). (138).
9 A PREPARAÇÃO PARA OS OFÍCIOS ARTESANAIS (138).
O aprendizado das atividades produtivas na Idade Média se dava pela observação e imitação, assim
como no mundo antigo, como já observará Platão, mas também pela iniciação e aprimoramento por
meio de um mestre.
Assim se deu na sobrevivência das corporações artesanais nas cidades, representadas na atividade de
ensino configuradas na relação entre os magistri e os discipuli. Não se trata somente de preservação de
uma tradição romana, mas também se encontra presente entre os bárbaros.
Lei do rei Astolfo, de 750 menciona: negocaitores (maiores, seqüentes e minores). Trata-se dos graus
dos artífices. Os documentos do período (século XIII) apresentam: ourives, pintores, caldereiros,
alfaiates, saboeiros, artífices de cobre, e os incisores. Dividem-se me mestres e discípulos.
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Luiz Antonio de Oliveira
Sobreviveram as relações produtivas nos campos – segundo uma nova divisão do trabalho feudal:
lavradores, pastores servos ministeriais (os trabalhos na Corte senhorial). Não se tem notícias de
documentos que indiquem o treinamento em tais atividades.
Ressalta ainda Manacorda, as atividades independentes da Corte e dos mosteiros, como os construtores,
sobre as quais não existem registros de sua aprendizagem.
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