Notas Sobre História da Igreja

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História da Igreja
1ª parte
Assuntos principais:
1. Porque estudar a história?
2. Os Primeiros Desafios da Igreja
3. Controvérsia sobre o uso de imagens nas igrejas.
4. Pais da Igreja (Ante-Nicenos e Pós-Nicenos)
5. Desenvolvimento da Igreja Católica (mundial)
6. Concílios da Igreja
7. Idade das Trevas (600 até 1517) – Idade Média
8. Atividade missionária do primeiro milênio
9. Desafios
10. Divisão na Igreja
11. Papado
12. Cruzadas
13. Monastecismo
14. Movimentos de Reavivamento Leigos
15. As Ordens Mendicantes
16. Escolástica
17. Declínio do Papado
18. Misticismo
19. Inquisição
20. Precursores da Reforma
Porque estudar a história?
1. A história nos explica porque as coisas são como são hoje. A história sempre deixa
marcas e influencia os séculos seguintes. Se estudarmos a história, compreenderemos
melhor porque as coisas hoje são como são.
2. A história nos da uma identidade, pois ela nos mostra de onde viemos e como
chegamos até aqui.
3. A história é uma grande fonte de ensino. Ela nos mostra o que deu errado e porque e
nos mostra também o que deu certo e porque. Devemos aprender com os erros e os
acertos do passado.
4. A história da igreja nos fornece o exemplo de muitos cristãos que
1º século
Jesus – o fundador da Igreja
Sentidos da palavra “igreja”
Expansão da Igreja: Jerusalém, Samaria, Antioquia, Chipre, Ásia Menor, Europa, Acaia,
Roma, Espanha, expansão p/ África do Norte, Mesopotâmia, Pérsia, etc.
Centros do Cristianismo: Jerusalém, Antioquia, Éfeso, Roma, e mais tarde Alexandria e
Constantinopla
Os Primeiros Desafios da Igreja:
1) Perseguição (primeiro pelos judeus, depois pelo Estado – o Império Romano)
 Primeiro do judeus: Jesus crucificado, Pedro e João presos e ameaçados pelo Sinédrio
(At. 4 e 5), martírio de Estevão (At. 6 e 7), perseguição generalizada (At. 8:1-4; 9:1-2;
11:19); martírio de Tiago, irmão de João (At. 12:2), Pedro novamente preso (At. 12:319)
1
 Pelo Imperador Nero (54-58): provavelmente só na cidade de Roma
 No segundo século: as regras do Imperador eram que não devia-se usar os recursos do
Estado para caçar os cristãos, mas se fossem denunciados por alguém, deveriam ser
trazidos diante dos juízes e dados uma oportunidade para adorarem os deuses romanos
e renunciarem a Cristo. Se não o fizessem, deveriam ser castigados. Em um grande
número de casos isto significava a morte. A perseguição era portanto geralmente
esporádica e limitada, mas muitos foram os mártires.
 O martírio de Inácio de Antioquia (+/- 107): era bispo de Antioquia. Foi denunciado e
levado para Roma para morrer. Na viagem escreveu 7 cartas que sobreviveram.
 O martírio de Policarpo (155): aos 86 anos de idade. Após ter recusado negar a sua fé
e ser condenado à morte, ele fez a seguinte oração enquanto ascendiam o fogo:
“Senhor Deus Soberano... dou-te graças, porque me consideraste digno deste
momento, para que, junto a teus mártires, eu possa ser parte no cálice de Cristo. (...)
Por isso te bendigo e te glorifico. (...) Amém.”1
 O martírio da viúva Felicidade e seus sete filhos (durante o reinado de Marco Aurélio:
161-180): Quando ameaçada com morte pelo prefeito da cidade se não renunciasse à
sua fé, ela respondeu: “viva, eu te vencerei; e se me matas, em minha própria morte
vencer-te-ei ainda mais”. 2
 O martírio de Blandina (mesma época): Mulher frágil, ela mostrou muita resistência
na hora do suplício. “Quando vários dos mártires foram levados ao circo, Blandina foi
pendurada num madeiro em meio deles, e dali ela os encorajava. Como as feras não a
atacaram, os guardas a levaram de novo ao cárcere. Por fim, neste dia de tão bárbaros
espetáculos, Blandina foi torturada em público de diversas maneiras. Primeiro a
açoitaram; depois a fizeram ser mordida por feras; em seguida fizeram-na assentar-se
em um assento de ferro quente; e ainda a encerraram em uma rede e fizeram com que
um touro bravio a chifrasse. Como em meio de tais tormentos Blandina seguia firme
em sua fé, finalmente as autoridades ordenaram que fosse degolada.”3
 A perseguição que o imperador Décio (249-251) trouxe contra os cristãos foi
diferente. Ele exigiu que todos do império fizessem sacrifícios ao imperador. Ao
fazerem-no receberam certificados. Todos que não possuíam certificados eram
colocados na prisão e torturados. Os cristãos mais fiéis que não aceitaram fazer os
sacrifícios sofreram muita perseguição e tortura e passaram a ser chamados de
“confessores”.
 A perseguição de Dioclesiano e Galério (302-311) – foi a pior e mais abrangente das
perseguições sob o império romano. Os cristãos eram obrigados a sacrificar aos
deuses romanos. Os que não o faziam eram torturados e executados. As propriedades
cristãs eram confiscadas, incluindo-se locais de culto e cemitérios. Galério outorgou o
Edito de Tolerância em 311, que liberou os cristãos e parou com a tortura e as
execuções na maior parte do império. O Edito de Milão, resultado de um acordo entre
Constantino e Licínio, devolveu as propriedades aos cristãos e acabou com a
perseguição. Constantino se “converteu” ao cristianismo e o império romano passou a
ser “cristão”.4
2) Cristianismo como religião reconhecida:
 A “conversão” de Constantino (em 313) parece ter sido uma manobra política
cômoda. Ele se simpatizou pelo cristianismo e a abraçou, mas não foi batizado (senão
1
GONGALEZ, Justo L. Uma História Ilustrada do Cristianismo: A Era dos Mártires (vol. 1). Trad. YUASA,
Key. Edição Religiosa Vida Nova, 1980, p. 72
2
Idem. p. 74
3
Idem. p. 76
4
Idem, cap. XII
2
no seu leito de morte), nem catequizado, e continuou os sacrifícios pagãos. Ele
aceitava conselho religioso, mas se via acima dos bispos.
 Com a “conversão” de Constantino, o cristianismo virou moda e um grande número
de pessoas se “converteu” por razões de prestígio e prosperidade, e não por razões de
fé.
 Isto trouxe um novo desafio para a igreja, pois havia cristãos que não tinham passado
pela purificação da perseguição e eram apenas cristãos nominais. Muitos mantinham
também as suas práticas pagãs e surgiu o sincretismo.
 Agora que o cristianismo tinha liberdade e incentivo de Constantino, igrejas e
catedrais começaram a ser construídas. O culto começou a sofrer as influências do
protocolo imperial. Passou de um culto simples a um culto muito mais ritualístico.
Aparição do uso do incenso (até então usado só no culto ao imperador), uso de roupas
litúrgicas bastante ornamentadas, gestos de respeito imperial, procissão no início do
culto e coros. A participação do público diminuiu e passou praticamente a simples
espectadores. Surgiu também a confecção de estátuas para representar personagens
bíblicos e mártires.
 A arte começou a ser usada para a decoração interna das igrejas.
 Da celebração do aniversário dos diferentes mártires passou-se a dar importância as
suas relíquias e em seguida a veneração e a sua adoração, associando-se poderes
milagrosos às relíquias.
 Houve o surgimento de uma aristocracia clerical, semelhante e paralela à aristocracia
imperial, e frequentemente tão distante do crente comum como os cidadãos comuns
dos poderosos do Império.5 Os ricos e os poderosos pareciam dominar a vida da
igreja.
 Os que se frustraram com a apostasia e a libertinagem na igreja foram praticar uma
vida acética nos desertos da Síria e do Egito, começando assim os movimentos
monásticos (Monaquismo ).
3) Heresias
 Judaizantes: Judeus que queriam exigir que os gentios convertidos ao cristianismo se
conformassem com leis cerimoniais do AT como circuncisão, conformação com a leis
dietéticas, cerimônias de purificação, segregação racial nas refeições, etc.
 Gnosticismo: uma crença não unificada com muitas ramificações diferentes.
o O termo “gnosticismo” vem da palavra grega “gnosis”, que quer dizer
“conhecimento”. A doutrina deles era um conhecimento especial, reservado
para quem tinha verdadeiro entendimento.
o Tudo o que é matéria é necessariamente mau – o corpo humano é mau.
o O espírito humano está preso em um corpo mau e precisa ser liberto
o É necessário um mensageiro espiritual para nos dar o segredo (conhecimento
especial) para nossa libertação – este mensageiro seria Cristo e ele passou o
segredo para um dos seus apóstolos (segundo alguns seria Tomé).
o Cristo, sendo o mensageiro espiritual, não se encarnou em corpo humano. Uns
diziam que ele apenas aparentava ter um corpo (fantasma) e outros diziam que
o seu corpo era espiritual (não como o humano).
o Deus não criou este mundo mau – foi outro(s) ser(es) espiritual(ais)
inferior(es)
 Docetismo
5
GONGALEZ, Justo L. Uma História Ilustrada do Cristianismo: A Era dos Mártires (vol. 2). Trad. FUCHS,
Hans Udo. Edição Religiosa Vida Nova, 1980, p. 54
3
o Um tipo de gnosticismo, afirmava que o Salvador foi um mensageiro vindo do
alto. A sua forma humana, ou carne física, era pura aparência. Jesus não era
humano.
 Marcionismo (Segundo os ensinos de Marcião ou Marciom):
o O mundo é mau e foi criado por um deus mau ou ignorante – Jeová.
o O Deus supremo é o Deus do NT, pai de Jesus Cristo, pai dos cristãos,
amoroso, não vingativo, não requer nada de nós, nos dá tudo gratuitamente
(inclusive a salvação), não criou leis e não haverá julgamento, pois ele perdoa
tudo.
o Jesus foi enviado pelo Deus supremo para nos salvar. Não nasceu de Maria,
mas apareceu repentinamente já como adulto.
o O AT é a palavra de deus (Jeová), um deus ciumento e arbitrário (escolheu um
povo acima dos outros), julgador e vingativo. O AT não é para os cristãos.
o Os únicos livros válidos são o evangelho de Lucas (não era judeu) e as cartas
de Paulo (ele era menos judeu do que os outros e o único dos apóstolos que
entendeu o evangelho).
 Montanismo (Segundo os ensinos de Montano)
o Montano se converteu por volta de 155 e por volta de 170 disse ter sido
possuído pelo Espírito Santo. Nele começava uma nova era, a era do fim.
o Duas mulheres se uniram a ele e passaram a ser suas profetizas: Priscila e
Maximila.
o Grande ênfase na vida piedosa e desconsiderava a organização da Igreja.
o Considerada heresia, pois minimiza a vinda de Cristo como o início de uma
nova aliança e o Pentecoste.
 Arianismo (segundo o ensino de Ário)
o Esta controvérsia surgiu em Alexandria (Egito) a respeito da natureza do
Logos (Verbo), e por extensão da natureza de Jesus.
o A teologia de Alexandria foi muito influenciada pelos filósofos gregos e a
idéia se desenvolveu que Deus, sendo imutável, era estático, distante da
humanidade. Deus teria usado o Logos para se comunicar com a humanidade.
o Um dos presbíteros de mais prestígio e popularidade na cidade era Ário. Ele
ensinava que o Logos, o Filho de Deus, foi a primeira criação de Deus (não era
divino) e que Deus o usou como intermediário com a humanidade.
o Alexandre, Bispo de Alexandria, discordava e ensinava que o Logos (Filho de
Deus) não era uma criatura, mas era eternamente co-existente com Deus e
tinha natureza divina. Se o Logos fosse criado, a adoração de Jesus seria uma
blasfêmia, pois seria a adoração de uma criatura.
o Ário retrucava que a posição de Alexandre repudiava o monoteísmo, pois se
Deus e o Logos eram divinos, então existiriam dois deuses. O Arianismo não
crê na trindade. Alexandre condenou as doutrinas de Ário e o depôs de todas
as suas funções na igreja de Alexandria.
o Esta controvérsia se alastrou e ameaçava uma divisão na igreja em geral. O
Imperador Constantino convocou um concílio de Bispos de toda a igreja
(Concílio de Nicéia, 325) para pôr fim a esta controvérsia e colocar a igreja
em ordem. O Arianismo foi condenado e os bispos arianos depostos. O
Arianismo foi novamente condenado no Concílio de Constantinopla, 381.
o O Arianismo ainda permaneceu por muito tempo, pois através do trabalho
missionário feito por arianos, muitos povos “bárbaros” que estavam fora do
Império Romano (e, portanto, fora do alcance da igreja organizada) tinham se
convertido. Com as invasões do Império Romano pelos bárbaros nas décadas
4
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
seguintes, o arianismo seria reintroduzido na metade ocidental do Império e
continuaria a causar divisão por muito tempo.
Apolinarismo (segundo o ensino de Apolinário)
o Segundo se cria na época, o ser humano era formado por 3 partes: físico,
“alma animal” (princípio de vida) e “alma racional” (mente, emoções,
vontade).
o Apolinário ensinava que Jesus Cristo, o Verbo divino, assumiu a “alma
racional” de um ser humano.
o Este ser humano tinha o físico e a “alma animal” que nasceram de Maria.
o Se isto fosse verdade, faria com que Jesus não tivesse sido realmente humano,
pois não teria que lidar com as emoções humanas, os dilemas da escolha
humana e dos pensamentos humanos. Ele não teria sido completamente
humano.
o Esta doutrina foi condenada pelo Concílio de Constantinopla de 428.
Nestorianismo (segundo os ensinos de Nestor)
o Nestor ensinou que em Jesus Cristo, Deus se uniu a um ser humano. Este ser
humano seria o que nasceu de Maria.
o Jesus Cristo seria uma conjunção (ou acordo ou “união moral”) de um ser
humano e de um ser divino. Jesus Cristo = 2 pessoas e 2 naturezas
o O nestorianismo foi condenado pelo Concílio de Éfeso em 431 e o de
Calcedônia em 451.
o O nestorianismo não desapareceu por completo com a condenação. Os
nestorianos foram obrigados a deixarem o Império Romano, mas se mudaram
para a Pérsia e de lá se estendeu à Ásia Central, Índia, Arábia e finalmente à
China.
o Infelizmente muita desta expansão não sobreviveu à oposição da China e dos
muçulmanos. Um pequeno número de nestorianos sobrevivem no Irã, Iraque,
Síria e entre os que se imigraram deste lugares para os Estados Unidos.
Monofisitismo
o Negam que Jesus Cristo tivesse (tenha) duas naturezas. A divindade seria pura
demais para se contaminar, coabitado em uma mesma pessoa com a natureza
humana. Jesus teria sido só a natureza divina.
o A maioria das igrejas fora do Império Romano era monofisista ou nestoriana.
Monotelismo
o Ensina que Jesus Cristo havia duas naturezas, mas uma só vontade, a divina.
o Condenado no Concílio de Constantinopla de 680-681.
Pelagianismo (segundo do ensino de Pelágio)
o Pelágio era um monge de origem britânica.
o Ele dava ênfase ao livre arbítrio e ensinava que o ser humano não nasce com
pecado original e tem a capacidade de escolher pecar ou não pecar.
o Segundo Pelágio, o ser humano pode alcançar a salvação através de seu
esforço pessoal em que escolhe deixar de pecar.
o Um dos teólogos mais importantes que refutou os ensinos de Pelágio foi
Agostinho de Hipona (“Santo Agostinho”). Ele defendeu o ensino bíblico da
condição de pecado original ao nascer. Ele também defendeu o livre arbítrio
do homem, mas com uma ressalva: que o ser humano em sua condição natural
não consegue dizer não ao pecado. Só o ser regenerado é capaz de escolher
não cometer o pecado.
o O pelagianismo foi condenado por um dos concílios.
5
Respostas da Igreja contra as heresias:
 O cânon foi reconhecido. Os ensinos de Marcião trouxeram um desafio direto ao
cânon, tanto do AT como do NT. Havia-se uma necessidade de definição.
 O Credo dos Apóstolos. Serviu como uma declaração sucinta da fé evangélica que era
aceita por todas as igrejas ocidentais e servia de crivo para reconhecer heresias.
 A sucessão apostólica. Jesus não passou segredos a um apóstolo ou outro. Ele confiou
a direção da igreja a todos os apóstolos. As igrejas se identificaram com o
ensinamento (doutrina) transmitido pelo conjunto de apóstolos. Mais tarde este
conceito foi modificado para significar que o poder de ordenação do clero era
transmitido de uma geração a outra, e só alguém nesta sucessão tinha o direito para
ordenar. Também serviu para conferir maior autoridade ao bispo de Roma como
sucessor legítimo do Apóstolo Pedro.
 O Credo Niceno, desenvolvido no Concílio de Nicéia, passou a ser a confissão de fé
mais bem aceita em toda a igreja, tanto na sua parte ocidental quando oriental.
4) Controvérsias entre os ramos oriental e ocidental da Igreja (dia da celebração da Páscoa,
Donatistas, etc.)
Controvérsia sobre o uso de imagens nas igrejas.
 A igreja antiga, dos primeiros séculos, usou imagens (principalmente pinturas) para
decoração dos locais de culto (mesmo antes de existirem templos).
 Quando houve um influxo grande de pessoas ao cristianismo, conseqüência da
conversão de Constantino, muitos começaram a ficar preocupados com a adoração das
imagens por pagãos “convertidos”. Houve um movimento pela abolição das imagens
nas igrejas. Este grupo passou a ser conhecido pejorativamente como “iconoclasta”
(destruidores de imagens).
 Outros argumentavam que como a maior parte do povo era iletrada, as imagens
serviam como ajuda visual para que o povo pudesse aprender as estórias da Bíblia (a
maior parte das pinturas retratava estórias bíblicas). O argumento era chamado “livro
dos incultos”. Este grupo passou a ser conhecido pejorativamente como “iconódulo”
(adoradores de imagens).
 Os imperadores Leão III e seu filho Constantino V começaram uma campanha contra
as imagens e proibiram o seu uso.
 O concílio de Nicéia de 787 (último concílio ecumênico) restaurou o uso das imagens
nas igrejas, mas considerou-as não dignas de adoração. As imagens (e relíquias)
deveriam simplesmente ser veneradas (honradas).
Pais da Igreja (Ante-Nicenos): antes de 325
Pais apostólicos:
Clemente de Roma,
Inácio,
Policarpo (70-156) – foi bispo de Smirna. Tinha sido discípulo do Apóstolo João. Pregou
com veemência contra o paganismo. Foi acusado pelos pagãos de ser ateísta, pois não
viam o seu deus. Criam que ele adorava um homem morto. Aos 86 anos, durante uma
fase de perseguição dos cristãos, foi preso e exigiram que ele negasse a sua fé. Quando se
recusou, foi queimado vivo e morreu como mártir.
Papias,
Justino Mártir – filósofo, mestre de uma escola de filosofia em Roma, um dos grandes
apologistas do século 2, tinha passado por várias religiões antes de se converter.
Defendeu o cristianismo com muita habilidade. Por isto foi denunciado por um filósofo
6
rival, condenado a morte junto com 6 de seus discípulos. Foram açoitados e depois
decapitados.
Apologistas (129-190): em defesa da fé cristã contra falsas acusações dos inimigos que
alegavam ateísmo, canibalismo, incesto, e ações anti-sociais. Mostraram a superioridade do
cristianismo sobre o judaísmo, o paganismo, e a adoração do imperador. Aristides, Justino
Mártir, Tácito, Atenágoras, Teófilo, Tertuliano
Polemicistas (190-250): combatiam os falsos mestres e heresias dentro da Igreja. Ênfase no
NT como fonte de doutrina.
 Irineu de Leão – escreveu defesas da fé contra os gnosticos; era pastor; procurou
expor a fé como a aprendeu e de maneira sistemática. Morreu como mártir.
 Clemente de Alexandria, mestre, procura convencer os intelectuais pagãos de que o
cristianismo não é absurdo, como alegam. Procura provar que boa parte dos ensinos
do cristianismo tem apoio em Platão. Defendia que o texto sagrado tem sempre mais
de um sentido. Quem fica só no sentido literal é como uma criança que só toma leite.
É preciso ser um verdadeiro sábio para se encontrar os outros sentidos. Gera muita
alegoria. A fé é o ponto de partida sobre o qual a razão constrói os seus edifícios.
Teologia elitista.
 Orígenes de Alexandria – foi aluno de Clemente e segue a sua maneira de
desenvolver a teologia. Ele reafirma as doutrinas básicas da igreja, mas vai além em
especulações sobre coisas que não são mencionadas na Bíblia. Estas idéias estão
bastante ligadas ao neo-platonismo. As vezes ele parece mais platônico do que cristão.
Orígenes morreu pouco após ter sido solto da prisão em conseqüência às torturas que
sofreu por ter se recusado à oferecer sacrifícios ao imperador.
 Tertuliano de Cartago (também apologista). Usava argumentos baseados em
formulações legais. Ao contrário de Clemente, não via utilidade na filosofia grega.
Deu grande contribuição a formulação da doutrina da trindade (uma essência, três
pessoas) e da natureza de Cristo (uma pessoa, duas naturezas).
Desenvolvimento da organização na Igreja e mais a doutrina da sucessão apostólica
(Cipriano) levou a uma maior honra do bispo de Roma, um sistema mais elaborado de liturgia
(313-590), centralização do poder em Roma e finalmente à formação do papado em 452.
“O credo dos apóstolos” – credo mais antigo
Desenvolvimento da Igreja Católica (mundial)
Igreja sob o Império: 313 – Constantino proclama o Edito de Milão que concedeu liberdade
religiosa a todas as religiões, devolução de propriedades confiscadas e até subsídio do Estado.
Teodósio I tornou o cristianismo a única religião legal em Roma em 380. Começo dos
conflitos entre Igreja/Estado.
As Invasões Bárbaras (375-1066): desafio de evangelizar os bárbaros.
Visigotas, Vândalos, Ostrogotas, Francos, Mongóis, Vikings e muitos outros.
Até 590 a Igreja tinha evangelizado todos os invasores do Império. Mas tantos tinham se
convertido e tão rapidamente, que muitos mantiveram suas práticas pagãs e as misturaram ao
cristianism, criando um sincretismo.
Concílios da Igreja (disputas teológicas maiores de 300-450): foram 7 concílios
representativos de toda a igreja – levam o nome da cidade onde se realizaram. Resolveram
disputas teológicas – definição dos principais dogmas da Igreja.
7
Nicéia (325);
Constantinopla (381);
Éfeso (431);
Calcedônia (451);
Constantinopla (553);
Constantinopla (680);
Nicéia (787)
Os dois primeiros concílios lidaram principalmente com a questão
do Arianismo e aperfeiçoaram a explicação trinitária.
Pais da Igreja (Pós-Nicenos): entre 325-451
Na igreja oriental: Crisóstomo (ou João), Mopsuestia e Eusébio de Cesárea (pai da história da
igreja).
Na igreja ocidental: Jerônimo; Ambrósio; Agostinho
Idade das Trevas (600 até 1517 – início da Reforma)
Fatores que contribuíram para a decadência da igreja:
 Institucionalização da igreja e centralização do poder (em Roma) com a criação do
papado.
 Politização da igreja (acumulação de poder eclesiástico e político)
 Introdução de elementos pagãos nos cultos da igreja
 Materialização da liturgia e introdução da veneração de santos e relíquias
 Desenvolvimento dos 7 sacramentos como meios de graça – igreja vira agência que
distribui salvação pela observância dos sacramentos
 A ascenção de Gregório I como Bispo de Roma (Papa) em 590
Atividade missionária do primeiro milênio:
Inglaterra: Agostinho (não o teólogo) enviado pelo Papa Gregório I para evangelizar o sul da
Inglaterra em 597
Irlanda: Evangelizada pelo trabalho de Patrício (389-461), um cristão celta (sem vínculo com
a Igreja Romana). O cristianismo celta cresceu muito entre 590 e 800. O papa canonizou
Patrício em 664 e eventualmente a Igreja da Irlanda passou a ser submissa à Igreja
Romana.
Escócia: Evangelizada por Columba (521-597), cristão celta da Irlanda.
Burgândia: Evangelizada por Columbanos
Pérsia, Índia, China, Mongólia, Tibete e outros países asiáticos: Evangelizados pelos cristãos
nestorianos, conhecidos também como Igreja Assíria do Oriente. O fundador Nestor foi
excomungado da Igreja em 430 e foi exilado com seus seguidores na Assíria (hoje oeste
do Iraque e Irã). Vestígios atuais comprovam a presença de atividades destes cristãos na
China nos séculos 7 e 8. No século 8 já existia uma grande comunidade cristã no Tibete.
Norte da Inglaterra: da Escócia, Aidã evangelizou o norte da Inglaterra
Povo teutônico (Alemanha): evangelizados pelos ingleses. Bonifácio (680-755) foi a figura
maior.
Escandinavos (Dinamarca, Noruega, Suécia, Islândia): Ansgar (801-865) foi enviado como
missionário a estes povos que foram cristianizados ao Catolicismo Romano até o século
onze.
Desafios:
O avanço Muçulmano:
 Maomé é o fundador do Islã. Ele nasceu em Meca, na Arábia Saudita, em 570. Os
árabes desta época eram politeístas e idólatras (diz-se que tinham 365 deuses, um para
cada dia do ano). Em 610, Maomé, que era analfabeto, diz ter tido uma visão onde
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recebeu uma ordem de Deus para pregar o que estava escrito em um livro sagrado que
o anjo Gabriel trouxe para ele – o Alcorão. Maomé pregava contra a idolatria e a
favor de um único deus, Alá. Ele teve que sair correndo de Meca em 622 (ano em que
os muçulmanos começam o seu calendário). Ele se refugiou em Medina enquanto
juntava um exército, pregava e ganhava muitos adeptos. Em 630 ele voltou a Meca e a
conquistou em batalha. Ele destruiu a Kaaba (templo em que estavam expostos os
ídolos), deixando apenas uma pedra negra para adoração (existe até hoje). Quando
morreu, em 632, a maioria dos árabes tinha se convertido ao Islã.
 A religião se espalhou rapidamente entre 632 e 732, conquistando a Síria, a Palestina,
a Pérsia (Irã atual), o Egito e toda África do Norte (onde o cristianismo era muito
forte até então) e a Espanha. Isto enfraqueceu principalmente a Igreja Oriental que
perdeu espaço para a Igreja Romana.
 Os cinco “pilares do Islã”, necessários para ser um bom muçulmano: 1) repetição do
credo (“Há um só Deus; seu nome é Alá e seu profeta é Maomé”) – a repetição deste
credo é a única coisa necessária para se converter; 2) oração cinco vezes por dia (em
horas determinadas e com todo um ritual; 3) dar esmolas – 2% da renda; 4)
observância do Ramadan – jejum (do nascer ao pôr do sol) anual de um mês lunar; 5)
peregrinação à Meca (Hadj) pelo menos uma vez na vida (para os que têm condições
financeiras).
Migração do poder político. O poder do Império Romano foi se transferindo de Roma para a
região dominada pelos Francos. Dos anos 500 a 1054, houve muita guerra no continente
europeu com muita troca de alianças. Os papas passaram a depender de alianças com os
homens fortes de cada época para se manterem em posição de força. Alguns dos mais
conhecidos são: Clóvis (à partir de 496), Charles Martel (derrotou o avanço dos exércitos
muçulmanos em 732 na batalha de Tours), Carlos o Magno (768-814) e Príncipe Otto à
partir de 962. Durante este período houve uma luta política constante entre o Imperador e
o Papa pelo poder.
Divisão na Igreja
Entre 800 e 1054, diferenças importantes começaram a surgir entre os ramos Oriental e
Ocidental da Igreja até que a divisão definitiva em 1054 criou a Igreja Ortodoxa no
oriente e deixou a Igreja Católica Romana no ocidente.
Esta divisão foi gradual, começando com a divisão do Império Romano, e depois agravado
por desavenças entre os bispos de Constantinopla e de Roma e diferenças quanto a
doutrina e práticas. Houve divergência sobre quando a Páscoa deveria ser celebrada,
celibato dos padres, divergência sobre a relação do Espírito Santo para com o Pai e o
Filho e uma divergência quanto ao uso de ícones e imagens.
O Papado. O poder do ofício de papa foi se fortificando através dos tempos até atingir seu
auge com Inocêncio III em 1198.
 O termo “papa” significa simplesmente “papai”. Nos primeiros séculos foi empregado
para qualquer bispo de quem se tinha afeição.
 Apesar dos historiadores concordarem da probabilidade de que Pedro esteve em
Roma e até dele ter morrido ali, isto não prova que ele teria sido Bispo de Roma.
 Não se sabe praticamente nada sobre os bispos de Roma do último terço do primeiro
século. Se esta sucessão apostólica de Pedro fosse realmente tão importante assim, os
escritores desta época deveriam ter comentado a este respeito.
 Durante os primeiros séculos, o centro do Cristianismo não era Roma e nem o
ocidente, mas o oriente com os seus centros de Antioquia e Alexandria. Mesmo no
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ocidente de fala latina, os centros do cristianismo na África do Norte tinham mais
importância.
Esta situação começou a mudar quando o Império aceitou a fé cristã em 313. Como
Roma era, pelo menos de nome, a capital do Império, a igreja e o bispo desta cidade
logo se viram em posição de destaque. Em todo o Império a igreja começou a se
organizar de acordo com os padrões estabelecidos pelo estado, e as cidades que
tinham jurisdição política sobre uma região logo tinham também jurisdição
eclesiástica.
O império romano do ocidente começou a desmoronar com as invasões dos bárbaros e
o bispo de Roma começou a ocupar o vazio do poder cível.
O bispo de Roma, Leão I, “O Grande”, foi o primeiro papa no sentido corrente do
termo. Após a derrota do exército romano frente aos hunos, sob o comando de Átila,
foi o Papa Leão I que negociou com Átila para evitar que Roma fosse saqueada.
Com a anarquia política, o papado começou a acumular terras, nomear reis e fazer
alianças políticas. O papado se organizou da mesma forma que o Império Romano
tinha se organizado e o papa passou a exercer a função de um imperador, apesar de
não levar este nome.
A medida que o antigo bispado de Roma começou a se transformar em um papado
imperial, ele começou a se corromper com o poder e as riquezas. Alguns papas se
destacaram pelos seus ideais e fervor religioso, mas a maioria se destacou pela
luxúria, vícios morais, ganância, amor pelo poder e intrigas. Durante um certo período
houve uma sucessão de assassinatos de papas e usurpações do trono papal.
Durante a idade média, o sistema feudal de poder estava em vigor. Vassalos entravam
em acordo com um senhor feudal. Este, em troca da lealdade do vassalo e de impostos
anuais, oferecia proteção ao mesmo. O Papa passou a ser um grande senhor feudal,
recebendo inclusive vários reis da Europa como vassalos.
Vários dogmas que fortaleceram a posição do papado foram desenvolvidas:
o A doutrina da sucessão dos apóstolos, isto é, o papas são sucessores diretos do
Apóstolo Pedro e governam a igreja sob sua autoridade;
o A autoridade para nomear o Imperador do Santo Império Romano vinha de
Deus através do papa (o papa nomeava um imperador que agia em nome da
Igreja);
o a infalibilidade da Igreja Católica Romana (a igreja e o papa não poderiam
errar quando estivessem em concílio ou quando o papa fala “na qualidade de
pastor e doutor supremo de todos os fiéis e encarregado de confirmar seus
irmãos na fé” – Catecismo da Igreja Católica);
o a obrigatoriedade da confissão a um padre;
o a transubstanciação (na Santa Ceia, o pão e o vinho se tornam literalmente no
corpo e no sangue de Cristo) – (e o sacerdote é o único autorizado a realizar
esta cerimônia que dá vida).
o Apesar do papado ter entrado em decadência e atingido o seu ponto mais
baixo com o Papa Bonifácio VIII (1294-1303), as doutrinas já tinha sido
estabelecidas e continuariam a influenciar a Igreja Católica.
As Cruzadas
A principal motivação das cruzadas foi religiosa, mas existiam também motivações políticas
e econômicas, pois a fome e a peste eram prevalentes na Europa.
Os árabes (muçulmanos) tinham conquistado a Palestina. Depois, os turcos (também
muçulmanos) tomaram a Palestina dos árabes e perseguiam os cristãos que vinham à
Terra Santa em peregrinação.
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O bispo de Constantinopla (ala oriental da Igreja) pediu ajuda à Igreja da ala ocidental para
derrotar os turcos muçulmanos que ameaçavam o seu reino.
1ª Cruzada (1095-1099) –Em 1095 um milhão de camponeses europeus se lançaram em
cruzada para reconquistar a Palestina em resposta a um apelo do papa. Estes camponeses
não tinham treinamento militar e partiam de forma desorganizada. A maioria ou morreu
ainda na viagem ou foram massacrados pelos turcos ou foram capturados e vendidos
como escravos. Na passagem pela Europa oriental, muitas atrocidades foram cometidas,
pois sem provisões, se viram obrigados a lutarem por suprimentos contra outros cristãos.
Além do mais, com o fervor religioso excessivo, mataram milhares de judeus nas cidades
pelas quais passavam. Uma segunda leva mais organizada conseguiu capturar Jerusalém
em 1099 massacrando homens, mulheres e crianças.
2ª Cruzada (1145-1149) – uma segunda cruzada foi organizada para ajudar a combater uma
ameaça à Jerusalém. Dela participaram o rei Luis XV da França e o imperador alemão
Conrado III com um total de 200 mil homens. A empreitada foi desastrosa com derrotas
seguidas e terminou com uma tentativa desastrada de captura de Damasco.
3ª Cruzada (1189-1192) – Jerusalém foi recapturada em 1187 pelos muçulmanos. A terceira
cruzada, da qual participaram o rei Felipe Augusto da França e o rei Ricardo Coração de
Leão da Inglaterra, também foi desastrosa. Não conseguiu recapturar Jerusalém, mas
conseguiu garantias dos muçulmanos de que os cristãos poderiam visitar Jerusalém
livremente.
4ª Cruzada (1202-1204) –– O grande pregador da quarta cruzada foi o Papa Inocêncio III, no
apogeu do papado. O resultado desta cruzada foi um desvio dos objetivos iniciais
resultando na captura da capital Bizantina, Constantinopla (saqueada em 1204), com o
retorno temporário (durante 50 anos) da Igreja Oriental ao controle de Roma.
Cruzada das Crianças – 1212 – foi uma cruzada de 37.000 crianças da França e da Alemanha
que acreditavam que poderiam conquistar a Terra Santa com sua inocência. O resultado
foi muito trágico. As crianças acabaram morrendo de fome pelo caminho ou sendo
vendidas como escravas antes de chagarem à Palestina.
5ª Cruzada (1217-1221) – Jerusalém foi recapturada temporariamente em uma primeira fase.
Em uma segunda fase o Egito foi invadido.
6ª Cruzada (1228-1229) – Não foi uma verdadeira guerra. Através da diplomacia o Imperador
Frederico II conseguiu negociar um tratado em 1229 que colocou sob controle cristão
Jerusalém, Belém, Nazaré e um corredor com acesso ao mar por um período de 10 anos.
Resultados das cruzadas:
1) a longo prazo, as cruzadas foram um fracasso no que diz respeito ao controle da Terra
Santa;
2) enfraquecimento do feudalismo e fortalecimento de um sistema mais eficiente de
governo;
3) o papado fortaleceu o seu prestígio, mas foi afetado por sentimentos de nacionalismo;
4) abertura do comércio entre a Europa e o oriente;
5) houve um estímulo ao conhecimento e a alfabetização e isto permitiu ao povo conhecer
a Palavra de Deus.
6) a formação das ordens militares – estas eram ordens monásticas que se dedicavam à
guerras: Ordem de S. João de Jerusalém ou “hospitaleiros” (originalmente
encarregados de um hospital) e depois “cavaleiros de Malta”; a ordem dos templários;
a ordem dos cavaleiros teutônicos.
7) fomentou uma crescente inimizade entre o cristianismo latino e oriental.
8) antes das cruzadas, os muçulmanos eram relativamente tolerantes dos cristãos que
vinham em peregrinação à Terra Santa, mas com as cruzadas houve muito menos
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tolerância e maiores restrições às poucas igrejas que sobrviveram em países
muçulmanos.
9) aumento do interesse dos cristãos da Europa pelos personagens bíblicos que viveram
na Terra Santa. Houve também um aumento do culto de relíquias. Muitos cruzados
voltavam com supostos pedaços da Santa Cruz, ossos dos patriarcas e apóstolos, leite
da Virgem, etc.
Monastecismo
O monastecismo surgiu de homens piedosos que desejavam se colocar à parte do mundo para
meditação e comunhão com Deus. Eles criaram então os monastérios (mosteiros) onde
viviam e de onde saíam para servir a população.
Os monges se tornaram os missionários da igreja antiga.
Surgiram movimentos importantes nos séculos 4, 6, 10 e 11.
Até ao final do século 10 os monastérios tinham se tornado ricos e corruptos. A idéia de
serviço tinha se transformado em luxo.
Entre os que estavam fartos dos excessos da Igreja, havia os que queriam voltar a uma vida
de devoção a Deus, vida simples e serviço aos pobres. Muitos viram uma reforma da vida
monástica como a solução para a reforma religiosa.
Entre os mais importantes destes movimentos de reforma podemos citar a do Mosteiro de
Cluny nos séculos X e XI. No século seguinte temos o movimento de reforma
cisterciense, sendo o seu destaque Bernardo de Claraval.
Houve várias reformas para combater a decadência dos monastérios e surgiram
especializações entre os monges.
1) Cavaleiros Hospitaleiros – surgiu no começo do século 12. Formado por mongessoldados para defender os cruzados (expedicionários das cruzadas) e cuidar dos enfermos
– precursores da Cruz Vermelha;
2) Cavaleiros Templários – organização surgida em 1118 para defender a Terra Santa dos
invasores muçulmanos;
3) freis – surgiram também no século 12. Faziam votos de castidade, pobreza e
obediência e viviam entre o povo para ajudá-los e evangelizá-los. “Frei” significa
“irmão” e se tornou sinônimo com serviço na Igreja Romana.
4) Ordem dos Franciscanos – fundada por Francisco de Assis (1182-1226) em 1209.
Organização dedicada ao serviço (ação social).
5) Ordem dos Dominicanos – fundada por Dominique (1170-1221) em 1215.
Organização dedicada ao ensino. Usada pelo papa durante a Inquisição.
6) Ordem dos Carmelitas, etc.
Mesmo estes movimentos de reavivamento dentro da Igreja perderam o seu zelo e se
corromperam com a riqueza até os meados do século 14.
Movimentos de Reavivamento Leigos
Houve tentativas de reavivamento espiritual iniciadas dentro da Igreja com as reformas nos
monastérios e a criação de novas ordens. Mas houve um movimento muito maior de
reavivamento espiritual com iniciativa leiga. A falta de espiritualidade, a corrupção e o
poder político e econômico da Igreja levaram o povo a uma revolta contra a igreja
institucionalizada.
Os Albigenses – Os Cátaros da região de Albi, no sul da França (também conhecidos como
albigenses), colocavam ênfase na Bíblia como fonte de doutrina e foram perseguidos pelo
Papa Inocêncio III. Eles foram massacrados e quase exterminados.
Os Waldenses – Um comerciante rico de Lyon, França, Pedro Waldo, conseguiu uma cópia
da Bíblia. Ele ficou tão impressionado com sua leitura que se desfez de todas as suas
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posses e começou a pregar o evangelho. Ele e seus seguidores ensinavam que só a Bíblia
tem autoridade. Memorizaram trechos longos da Bíblia e pregavam diretamente dela.
Denunciavam a corrupção dentro da Igreja institucionalizada e negavam a autoridade da
Igreja Romana. Ele foi excomungado em 1184 da Igreja Romana, pois leigos não podiam
pregar. Os que se converteram pela sua pregação passaram a ser chamados de
“Waldenses” e foram perseguidos violentamente pela Igreja Romana, sendo massacrados.
Os que conseguiram fugir se refugiaram nos vales dos Alpes Italianos.
As Ordens Mendicantes
Já falamos sobre o monastecismo e a sua influência sobre a igreja em geral. O monastecismo
sempre foi um refúgio para os cristãos que estavam descontentes com a política e a
pompa que existia dentro da igreja. Os que desejam viver uma vida mais separada, de
santificação, sempre recorriam aos monastérios ou à vida ascética.
No século 13 surgiram alguns movimentos que buscavam uma maior santificação e que se
preocupavam com as missões para a realização do evangelismo mundial. Dois serão
mencionados aqui pela sua importância e repercussão e por terem sido incorporados na
estrutura da igreja.
A Ordem dos Franciscanos foi iniciada por São Francisco de Assis. Seu nome verdadeiro era
Giovanni (João). Seu pai era comerciante italiano e sua mãe francesa. Ficou sendo
conhecido como “Francisco” (pequeno francês). Francisco tinha mais de vinte anos de
idade quando houve uma mudança total em sua vida após ter voltado de uma expedição
militar no sul da Itália. Depois de um longo período de reflexão, ele decidiu seguir o
caminho dos ascéticos religiosos. Ele não se importava com os negócios do pai e nem
com as possessões mundanas. Ele fez um voto de pobreza e começou a pregar esta
pobreza como um meio de alcançar a felicidade. Tudo que recebia de sua família ele dava
aos pobres, até que renunciou à fortuna da família.
 Francisco, com a aprovação do papa, fundou a “ordem dos irmãos menores”, que mais
tarde seria conhecida como Ordem dos Franciscanos. Ele fundou também uma ordem
para as mulheres, as “clarissas”. Em vez de ter um monastério em um local retirado,
ele queria que os monges tivessem contato com o povo simples para servi-los. Por
isso ele fundou as ordens em cidades com grandes centros populacionais. Além de
servirem ao povo, tinham que fazer voto de pobreza. Não podiam ter bem algum.
 Para evitar que as ordens se enriquecessem, Francisco proibiu que elas tivessem
qualquer propriedade. Isto mudou alguns anos após a sua morte.
 Outro destaque da ordem de Francisco é que foi iniciada com o alvo de levar o
evangelho até os confins da terra. Os franciscanos se tornaram grandes missionários
quando o restante da igreja não estava dando importância às missões.
 Francisco morreu em 3 de outubro de 1226
A Ordem dos Dominicanos foi fundada por São Domingos. Domingos seguiu muitos dos
mesmos princípios de S. Francisco de Assis, mas não era tão dogmático quanto ao voto de
pobreza. Para ele, o voto de pobreza servia para evitar as distrações do mundo, mas os bens
materiais poderiam ser usados para alcançar os objetivos da ordem. A ordem foi conhecida
como Ordem dos Pregadores, pois era isto que os monges faziam. Eles pregavam. E para
preparar os pregadores, eles passavam por uma formação rigorosa que permitia combater a
pregação dos hereges.
 A pregação e a propagação da Palavra de Deus era o primeiro objetivo dos
dominicanos.
 O segundo grande objetivo era o ensino. Eles se especializaram no ensino dos pobres
como um dos meios de combate às heresias. Os dominicanos logo tiveram professores
nos dois centros universitários mais importantes que nasciam nesta época na Europa:
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Paris e Oxford. Esta ordem deu à Igreja Católica alguns dos seus teólogos mais
importantes.
 Os Dominicanos se distinguiram também na sua pregação para muçulmanos e judeus.
Escolástica
Escolástica foi um movimento intelectual que teve seu auge entre 1050 e 1350. A escolástica
usava o pensamento filosófico no estudo da religião, procurando produzir fé através de
um processo lógico. Isto resultou na racionalização da teologia. Este movimento
influenciou muito a teologia Católica Romana até aos dias de hoje. As maiores
expressões deste movimento foram:
Anselmo (1033-1109) – desenvolveu sua posição quanto à expiação: o homem tinha uma
dívida com Deus que era impossível de pagar. Cristo pagou esta dívida, liberando assim
os seres humanos.
Abelardo (1079-1142) – desenvolveu um método racionalista de analisar duas posições
contrárias sobre um mesmo assunto para uso em debates.
Tomás de Aquino (1225-1274) – Escreveu o livro Summa Theologica que se tornou a
exposição clássica da teologia Católica Romana e que continua até hoje a formar a base
desta teologia. A partir dele, a Igreja tem uma teologia (fundada na revelação) e uma
filosofia (baseada no exercício da razão humana) que se fundem numa síntese definitiva:
fé e razão, unidas em sua orientação comum rumo a Deus.
Guilherme de Occam (ou Ockham) (1285-1349) – enunciou uma teoria filosófica de que só a
experiência pessoal permite conhecer as causas das coisas. Verdades são formuladas a
partir de intuição humana, não de revelação divina.
Declínio do Papado (1300-1450)
Causas:
1) A corrupção, a política e o grande abismo que existia entre o povo pobre e a Igreja
rica.
2) A imoralidade dos padres. A proibição do casamento levou muitos padres a manterem
concubinas e gerarem filhos ilícitos. Isto arruinou a reputação da Igreja e refletiu na
queda de prestígio do papado.
3) A lealdade dividida dos padres entre a autoridade do papa e a autoridade dos
governantes locais.
4) A mudança da sede do papado de Roma para Avinhão, na França, entre 1309 e 1377.
O papado passou a ser visto como submisso ao rei da França.
5) Quando o papado foi novamente mudado para Roma, houve uma disputa com a
eleição de dois papas rivais (um para Roma e outro para Avinhão) até 1418,
conhecido como O Grande Cisma do Ocidente. Isto enfraqueceu o papado.
6) A imposição pelo papado de muitas formas diferentes de taxas e impostos que se
tornaram pesados para o povo e mesmo para os governos europeus.
Misticismo
O formalismo frio da Igreja institucional colocou o povo em uma posição de espectador de
um ritual frio de adoração onde eles eram representados pelos sacerdotes, sem uma
participação pessoal. O movimento místico procurava um contato direto com Deus no ato
de adoração.
A escolástica tinha colocado a razão acima das emoções e enfatizava o indivíduo como fonte
de realidade e a experiência como o meio de se adquirir conhecimento. O misticismo
surgiu como uma reação à escolástica e procurava uma experiência com Deus.
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A peste negra de 1348 e 1349 dizimou um terço da população da Europa e em 1381 houve
uma grande revolta dos plebeus (povo comum). Existia uma crescente onda de
insatisfação entre o povo com as autoridades que também facilitou a sua adesão ao
misticismo.
Catarina de Siena (Santa Catarina) (1347-1380) – passou grande parte de sua vida
enclausurada em um convento. Ela diz ter mantido conversas com Deus em visões e
advertia o povo, a Igreja e mesmo o papa contra o pecado.
Meister Eckhart (1260-1327) – ensinava que o objetivo do que tem fé deve ser a união com
Deus através de uma fusão da essência humana com a essência divina em uma
experiência extática. O fruto desta união com Deus seria o serviço (boas obras).
John Tauler (1282-1361) – discípulo de Eckhart, insistia que a experiência interior é mais
importante que a cerimônia externa. Uma das contribuições mais importantes deste grupo
foi o livro escrito (ou compilado) por Thomas de Kempis, A Imitação de Cristo (Shedd
Publicações). Este livro não só desafia à uma renúncia ao mundo, mas conclama à prática
do amor de Cristo e ao serviço em seu nome.
O misticismo antecipou a abordagem mais pessoal à religião que voltaria com a Reforma.
Um de seus grandes perigos foi sua tendência de dar mais valor à experiência pessoal do
que à autoridade da Bíblia. O misticismo deu pouco valor à doutrina.
Inquisição
Precursores da Reforma
Outro grupo de pessoas surgiu, com um desejo fervoroso de retornar ao ideal da igreja
expresso no Novo Testamento.
John Wyclif (ou Wycliffe) (1320?-1384) – grande intelectual da Universidade Oxford na
Inglaterra. Até 1378 era crítico da imoralidade do clero e da riqueza da Igreja Romana. A
partir desta data começou também a criticar o dogma da Igreja, como a transubstanciação,
as ordens monásticas e a autoridade do papa. Ele defendia a Bíblia como única autoridade
para o cristão em matéria de fé e prática. A sua maior contribuição foi o projeto da
primeira tradução do Novo Testamento em inglês. Este trabalho foi todo feito à mão, pois
ainda não existia a imprensa. A hierarquia da Igreja Romana tentou destruí-la. Em 1415 o
Concílio de Constança condenou Wyclif e ordenou que seus ossos fossem desenterrados e
queimados.
Jan Hus (John Huss) (1369-1415) – seguidor dos ensinos de Wyclif na Boêmia (hoje
República Checa), pregava com muita ousadia. Ele condenava a venda de indulgências, a
opulência da Igreja Romana, a autoridade do papa e a imoralidade do clero. A doutrina
que pregava foi condenada pela Igreja Romana em 1413 e ele foi excomungado. Foi-lhe
prometido um salvo-conduto ao Concílio de Constança em 1415 para expor as suas
idéias. Apesar disto ele foi condenado à morte pelo Concílio e queimado vivo. Ele
enfrentou a morte com muita serenidade.
Savonarola (1452-1498) – se tornou monge dominicano em 1474 e no final de sua vida foi
transferido para Florença onde tentou reformar tanto a Igreja quanto o Estado. Ele não
hesitou em condenar até a iniqüidade do papa. Foi condenado à morte por enforcamento.
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