História da Igreja 1ª parte Assuntos principais: 1. Porque estudar a história? 2. Os Primeiros Desafios da Igreja 3. Controvérsia sobre o uso de imagens nas igrejas. 4. Pais da Igreja (Ante-Nicenos e Pós-Nicenos) 5. Desenvolvimento da Igreja Católica (mundial) 6. Concílios da Igreja 7. Idade das Trevas (600 até 1517) – Idade Média 8. Atividade missionária do primeiro milênio 9. Desafios 10. Divisão na Igreja 11. Papado 12. Cruzadas 13. Monastecismo 14. Movimentos de Reavivamento Leigos 15. As Ordens Mendicantes 16. Escolástica 17. Declínio do Papado 18. Misticismo 19. Inquisição 20. Precursores da Reforma Porque estudar a história? 1. A história nos explica porque as coisas são como são hoje. A história sempre deixa marcas e influencia os séculos seguintes. Se estudarmos a história, compreenderemos melhor porque as coisas hoje são como são. 2. A história nos da uma identidade, pois ela nos mostra de onde viemos e como chegamos até aqui. 3. A história é uma grande fonte de ensino. Ela nos mostra o que deu errado e porque e nos mostra também o que deu certo e porque. Devemos aprender com os erros e os acertos do passado. 4. A história da igreja nos fornece o exemplo de muitos cristãos que 1º século Jesus – o fundador da Igreja Sentidos da palavra “igreja” Expansão da Igreja: Jerusalém, Samaria, Antioquia, Chipre, Ásia Menor, Europa, Acaia, Roma, Espanha, expansão p/ África do Norte, Mesopotâmia, Pérsia, etc. Centros do Cristianismo: Jerusalém, Antioquia, Éfeso, Roma, e mais tarde Alexandria e Constantinopla Os Primeiros Desafios da Igreja: 1) Perseguição (primeiro pelos judeus, depois pelo Estado – o Império Romano) Primeiro do judeus: Jesus crucificado, Pedro e João presos e ameaçados pelo Sinédrio (At. 4 e 5), martírio de Estevão (At. 6 e 7), perseguição generalizada (At. 8:1-4; 9:1-2; 11:19); martírio de Tiago, irmão de João (At. 12:2), Pedro novamente preso (At. 12:319) 1 Pelo Imperador Nero (54-58): provavelmente só na cidade de Roma No segundo século: as regras do Imperador eram que não devia-se usar os recursos do Estado para caçar os cristãos, mas se fossem denunciados por alguém, deveriam ser trazidos diante dos juízes e dados uma oportunidade para adorarem os deuses romanos e renunciarem a Cristo. Se não o fizessem, deveriam ser castigados. Em um grande número de casos isto significava a morte. A perseguição era portanto geralmente esporádica e limitada, mas muitos foram os mártires. O martírio de Inácio de Antioquia (+/- 107): era bispo de Antioquia. Foi denunciado e levado para Roma para morrer. Na viagem escreveu 7 cartas que sobreviveram. O martírio de Policarpo (155): aos 86 anos de idade. Após ter recusado negar a sua fé e ser condenado à morte, ele fez a seguinte oração enquanto ascendiam o fogo: “Senhor Deus Soberano... dou-te graças, porque me consideraste digno deste momento, para que, junto a teus mártires, eu possa ser parte no cálice de Cristo. (...) Por isso te bendigo e te glorifico. (...) Amém.”1 O martírio da viúva Felicidade e seus sete filhos (durante o reinado de Marco Aurélio: 161-180): Quando ameaçada com morte pelo prefeito da cidade se não renunciasse à sua fé, ela respondeu: “viva, eu te vencerei; e se me matas, em minha própria morte vencer-te-ei ainda mais”. 2 O martírio de Blandina (mesma época): Mulher frágil, ela mostrou muita resistência na hora do suplício. “Quando vários dos mártires foram levados ao circo, Blandina foi pendurada num madeiro em meio deles, e dali ela os encorajava. Como as feras não a atacaram, os guardas a levaram de novo ao cárcere. Por fim, neste dia de tão bárbaros espetáculos, Blandina foi torturada em público de diversas maneiras. Primeiro a açoitaram; depois a fizeram ser mordida por feras; em seguida fizeram-na assentar-se em um assento de ferro quente; e ainda a encerraram em uma rede e fizeram com que um touro bravio a chifrasse. Como em meio de tais tormentos Blandina seguia firme em sua fé, finalmente as autoridades ordenaram que fosse degolada.”3 A perseguição que o imperador Décio (249-251) trouxe contra os cristãos foi diferente. Ele exigiu que todos do império fizessem sacrifícios ao imperador. Ao fazerem-no receberam certificados. Todos que não possuíam certificados eram colocados na prisão e torturados. Os cristãos mais fiéis que não aceitaram fazer os sacrifícios sofreram muita perseguição e tortura e passaram a ser chamados de “confessores”. A perseguição de Dioclesiano e Galério (302-311) – foi a pior e mais abrangente das perseguições sob o império romano. Os cristãos eram obrigados a sacrificar aos deuses romanos. Os que não o faziam eram torturados e executados. As propriedades cristãs eram confiscadas, incluindo-se locais de culto e cemitérios. Galério outorgou o Edito de Tolerância em 311, que liberou os cristãos e parou com a tortura e as execuções na maior parte do império. O Edito de Milão, resultado de um acordo entre Constantino e Licínio, devolveu as propriedades aos cristãos e acabou com a perseguição. Constantino se “converteu” ao cristianismo e o império romano passou a ser “cristão”.4 2) Cristianismo como religião reconhecida: A “conversão” de Constantino (em 313) parece ter sido uma manobra política cômoda. Ele se simpatizou pelo cristianismo e a abraçou, mas não foi batizado (senão 1 GONGALEZ, Justo L. Uma História Ilustrada do Cristianismo: A Era dos Mártires (vol. 1). Trad. YUASA, Key. Edição Religiosa Vida Nova, 1980, p. 72 2 Idem. p. 74 3 Idem. p. 76 4 Idem, cap. XII 2 no seu leito de morte), nem catequizado, e continuou os sacrifícios pagãos. Ele aceitava conselho religioso, mas se via acima dos bispos. Com a “conversão” de Constantino, o cristianismo virou moda e um grande número de pessoas se “converteu” por razões de prestígio e prosperidade, e não por razões de fé. Isto trouxe um novo desafio para a igreja, pois havia cristãos que não tinham passado pela purificação da perseguição e eram apenas cristãos nominais. Muitos mantinham também as suas práticas pagãs e surgiu o sincretismo. Agora que o cristianismo tinha liberdade e incentivo de Constantino, igrejas e catedrais começaram a ser construídas. O culto começou a sofrer as influências do protocolo imperial. Passou de um culto simples a um culto muito mais ritualístico. Aparição do uso do incenso (até então usado só no culto ao imperador), uso de roupas litúrgicas bastante ornamentadas, gestos de respeito imperial, procissão no início do culto e coros. A participação do público diminuiu e passou praticamente a simples espectadores. Surgiu também a confecção de estátuas para representar personagens bíblicos e mártires. A arte começou a ser usada para a decoração interna das igrejas. Da celebração do aniversário dos diferentes mártires passou-se a dar importância as suas relíquias e em seguida a veneração e a sua adoração, associando-se poderes milagrosos às relíquias. Houve o surgimento de uma aristocracia clerical, semelhante e paralela à aristocracia imperial, e frequentemente tão distante do crente comum como os cidadãos comuns dos poderosos do Império.5 Os ricos e os poderosos pareciam dominar a vida da igreja. Os que se frustraram com a apostasia e a libertinagem na igreja foram praticar uma vida acética nos desertos da Síria e do Egito, começando assim os movimentos monásticos (Monaquismo ). 3) Heresias Judaizantes: Judeus que queriam exigir que os gentios convertidos ao cristianismo se conformassem com leis cerimoniais do AT como circuncisão, conformação com a leis dietéticas, cerimônias de purificação, segregação racial nas refeições, etc. Gnosticismo: uma crença não unificada com muitas ramificações diferentes. o O termo “gnosticismo” vem da palavra grega “gnosis”, que quer dizer “conhecimento”. A doutrina deles era um conhecimento especial, reservado para quem tinha verdadeiro entendimento. o Tudo o que é matéria é necessariamente mau – o corpo humano é mau. o O espírito humano está preso em um corpo mau e precisa ser liberto o É necessário um mensageiro espiritual para nos dar o segredo (conhecimento especial) para nossa libertação – este mensageiro seria Cristo e ele passou o segredo para um dos seus apóstolos (segundo alguns seria Tomé). o Cristo, sendo o mensageiro espiritual, não se encarnou em corpo humano. Uns diziam que ele apenas aparentava ter um corpo (fantasma) e outros diziam que o seu corpo era espiritual (não como o humano). o Deus não criou este mundo mau – foi outro(s) ser(es) espiritual(ais) inferior(es) Docetismo 5 GONGALEZ, Justo L. Uma História Ilustrada do Cristianismo: A Era dos Mártires (vol. 2). Trad. FUCHS, Hans Udo. Edição Religiosa Vida Nova, 1980, p. 54 3 o Um tipo de gnosticismo, afirmava que o Salvador foi um mensageiro vindo do alto. A sua forma humana, ou carne física, era pura aparência. Jesus não era humano. Marcionismo (Segundo os ensinos de Marcião ou Marciom): o O mundo é mau e foi criado por um deus mau ou ignorante – Jeová. o O Deus supremo é o Deus do NT, pai de Jesus Cristo, pai dos cristãos, amoroso, não vingativo, não requer nada de nós, nos dá tudo gratuitamente (inclusive a salvação), não criou leis e não haverá julgamento, pois ele perdoa tudo. o Jesus foi enviado pelo Deus supremo para nos salvar. Não nasceu de Maria, mas apareceu repentinamente já como adulto. o O AT é a palavra de deus (Jeová), um deus ciumento e arbitrário (escolheu um povo acima dos outros), julgador e vingativo. O AT não é para os cristãos. o Os únicos livros válidos são o evangelho de Lucas (não era judeu) e as cartas de Paulo (ele era menos judeu do que os outros e o único dos apóstolos que entendeu o evangelho). Montanismo (Segundo os ensinos de Montano) o Montano se converteu por volta de 155 e por volta de 170 disse ter sido possuído pelo Espírito Santo. Nele começava uma nova era, a era do fim. o Duas mulheres se uniram a ele e passaram a ser suas profetizas: Priscila e Maximila. o Grande ênfase na vida piedosa e desconsiderava a organização da Igreja. o Considerada heresia, pois minimiza a vinda de Cristo como o início de uma nova aliança e o Pentecoste. Arianismo (segundo o ensino de Ário) o Esta controvérsia surgiu em Alexandria (Egito) a respeito da natureza do Logos (Verbo), e por extensão da natureza de Jesus. o A teologia de Alexandria foi muito influenciada pelos filósofos gregos e a idéia se desenvolveu que Deus, sendo imutável, era estático, distante da humanidade. Deus teria usado o Logos para se comunicar com a humanidade. o Um dos presbíteros de mais prestígio e popularidade na cidade era Ário. Ele ensinava que o Logos, o Filho de Deus, foi a primeira criação de Deus (não era divino) e que Deus o usou como intermediário com a humanidade. o Alexandre, Bispo de Alexandria, discordava e ensinava que o Logos (Filho de Deus) não era uma criatura, mas era eternamente co-existente com Deus e tinha natureza divina. Se o Logos fosse criado, a adoração de Jesus seria uma blasfêmia, pois seria a adoração de uma criatura. o Ário retrucava que a posição de Alexandre repudiava o monoteísmo, pois se Deus e o Logos eram divinos, então existiriam dois deuses. O Arianismo não crê na trindade. Alexandre condenou as doutrinas de Ário e o depôs de todas as suas funções na igreja de Alexandria. o Esta controvérsia se alastrou e ameaçava uma divisão na igreja em geral. O Imperador Constantino convocou um concílio de Bispos de toda a igreja (Concílio de Nicéia, 325) para pôr fim a esta controvérsia e colocar a igreja em ordem. O Arianismo foi condenado e os bispos arianos depostos. O Arianismo foi novamente condenado no Concílio de Constantinopla, 381. o O Arianismo ainda permaneceu por muito tempo, pois através do trabalho missionário feito por arianos, muitos povos “bárbaros” que estavam fora do Império Romano (e, portanto, fora do alcance da igreja organizada) tinham se convertido. Com as invasões do Império Romano pelos bárbaros nas décadas 4 seguintes, o arianismo seria reintroduzido na metade ocidental do Império e continuaria a causar divisão por muito tempo. Apolinarismo (segundo o ensino de Apolinário) o Segundo se cria na época, o ser humano era formado por 3 partes: físico, “alma animal” (princípio de vida) e “alma racional” (mente, emoções, vontade). o Apolinário ensinava que Jesus Cristo, o Verbo divino, assumiu a “alma racional” de um ser humano. o Este ser humano tinha o físico e a “alma animal” que nasceram de Maria. o Se isto fosse verdade, faria com que Jesus não tivesse sido realmente humano, pois não teria que lidar com as emoções humanas, os dilemas da escolha humana e dos pensamentos humanos. Ele não teria sido completamente humano. o Esta doutrina foi condenada pelo Concílio de Constantinopla de 428. Nestorianismo (segundo os ensinos de Nestor) o Nestor ensinou que em Jesus Cristo, Deus se uniu a um ser humano. Este ser humano seria o que nasceu de Maria. o Jesus Cristo seria uma conjunção (ou acordo ou “união moral”) de um ser humano e de um ser divino. Jesus Cristo = 2 pessoas e 2 naturezas o O nestorianismo foi condenado pelo Concílio de Éfeso em 431 e o de Calcedônia em 451. o O nestorianismo não desapareceu por completo com a condenação. Os nestorianos foram obrigados a deixarem o Império Romano, mas se mudaram para a Pérsia e de lá se estendeu à Ásia Central, Índia, Arábia e finalmente à China. o Infelizmente muita desta expansão não sobreviveu à oposição da China e dos muçulmanos. Um pequeno número de nestorianos sobrevivem no Irã, Iraque, Síria e entre os que se imigraram deste lugares para os Estados Unidos. Monofisitismo o Negam que Jesus Cristo tivesse (tenha) duas naturezas. A divindade seria pura demais para se contaminar, coabitado em uma mesma pessoa com a natureza humana. Jesus teria sido só a natureza divina. o A maioria das igrejas fora do Império Romano era monofisista ou nestoriana. Monotelismo o Ensina que Jesus Cristo havia duas naturezas, mas uma só vontade, a divina. o Condenado no Concílio de Constantinopla de 680-681. Pelagianismo (segundo do ensino de Pelágio) o Pelágio era um monge de origem britânica. o Ele dava ênfase ao livre arbítrio e ensinava que o ser humano não nasce com pecado original e tem a capacidade de escolher pecar ou não pecar. o Segundo Pelágio, o ser humano pode alcançar a salvação através de seu esforço pessoal em que escolhe deixar de pecar. o Um dos teólogos mais importantes que refutou os ensinos de Pelágio foi Agostinho de Hipona (“Santo Agostinho”). Ele defendeu o ensino bíblico da condição de pecado original ao nascer. Ele também defendeu o livre arbítrio do homem, mas com uma ressalva: que o ser humano em sua condição natural não consegue dizer não ao pecado. Só o ser regenerado é capaz de escolher não cometer o pecado. o O pelagianismo foi condenado por um dos concílios. 5 Respostas da Igreja contra as heresias: O cânon foi reconhecido. Os ensinos de Marcião trouxeram um desafio direto ao cânon, tanto do AT como do NT. Havia-se uma necessidade de definição. O Credo dos Apóstolos. Serviu como uma declaração sucinta da fé evangélica que era aceita por todas as igrejas ocidentais e servia de crivo para reconhecer heresias. A sucessão apostólica. Jesus não passou segredos a um apóstolo ou outro. Ele confiou a direção da igreja a todos os apóstolos. As igrejas se identificaram com o ensinamento (doutrina) transmitido pelo conjunto de apóstolos. Mais tarde este conceito foi modificado para significar que o poder de ordenação do clero era transmitido de uma geração a outra, e só alguém nesta sucessão tinha o direito para ordenar. Também serviu para conferir maior autoridade ao bispo de Roma como sucessor legítimo do Apóstolo Pedro. O Credo Niceno, desenvolvido no Concílio de Nicéia, passou a ser a confissão de fé mais bem aceita em toda a igreja, tanto na sua parte ocidental quando oriental. 4) Controvérsias entre os ramos oriental e ocidental da Igreja (dia da celebração da Páscoa, Donatistas, etc.) Controvérsia sobre o uso de imagens nas igrejas. A igreja antiga, dos primeiros séculos, usou imagens (principalmente pinturas) para decoração dos locais de culto (mesmo antes de existirem templos). Quando houve um influxo grande de pessoas ao cristianismo, conseqüência da conversão de Constantino, muitos começaram a ficar preocupados com a adoração das imagens por pagãos “convertidos”. Houve um movimento pela abolição das imagens nas igrejas. Este grupo passou a ser conhecido pejorativamente como “iconoclasta” (destruidores de imagens). Outros argumentavam que como a maior parte do povo era iletrada, as imagens serviam como ajuda visual para que o povo pudesse aprender as estórias da Bíblia (a maior parte das pinturas retratava estórias bíblicas). O argumento era chamado “livro dos incultos”. Este grupo passou a ser conhecido pejorativamente como “iconódulo” (adoradores de imagens). Os imperadores Leão III e seu filho Constantino V começaram uma campanha contra as imagens e proibiram o seu uso. O concílio de Nicéia de 787 (último concílio ecumênico) restaurou o uso das imagens nas igrejas, mas considerou-as não dignas de adoração. As imagens (e relíquias) deveriam simplesmente ser veneradas (honradas). Pais da Igreja (Ante-Nicenos): antes de 325 Pais apostólicos: Clemente de Roma, Inácio, Policarpo (70-156) – foi bispo de Smirna. Tinha sido discípulo do Apóstolo João. Pregou com veemência contra o paganismo. Foi acusado pelos pagãos de ser ateísta, pois não viam o seu deus. Criam que ele adorava um homem morto. Aos 86 anos, durante uma fase de perseguição dos cristãos, foi preso e exigiram que ele negasse a sua fé. Quando se recusou, foi queimado vivo e morreu como mártir. Papias, Justino Mártir – filósofo, mestre de uma escola de filosofia em Roma, um dos grandes apologistas do século 2, tinha passado por várias religiões antes de se converter. Defendeu o cristianismo com muita habilidade. Por isto foi denunciado por um filósofo 6 rival, condenado a morte junto com 6 de seus discípulos. Foram açoitados e depois decapitados. Apologistas (129-190): em defesa da fé cristã contra falsas acusações dos inimigos que alegavam ateísmo, canibalismo, incesto, e ações anti-sociais. Mostraram a superioridade do cristianismo sobre o judaísmo, o paganismo, e a adoração do imperador. Aristides, Justino Mártir, Tácito, Atenágoras, Teófilo, Tertuliano Polemicistas (190-250): combatiam os falsos mestres e heresias dentro da Igreja. Ênfase no NT como fonte de doutrina. Irineu de Leão – escreveu defesas da fé contra os gnosticos; era pastor; procurou expor a fé como a aprendeu e de maneira sistemática. Morreu como mártir. Clemente de Alexandria, mestre, procura convencer os intelectuais pagãos de que o cristianismo não é absurdo, como alegam. Procura provar que boa parte dos ensinos do cristianismo tem apoio em Platão. Defendia que o texto sagrado tem sempre mais de um sentido. Quem fica só no sentido literal é como uma criança que só toma leite. É preciso ser um verdadeiro sábio para se encontrar os outros sentidos. Gera muita alegoria. A fé é o ponto de partida sobre o qual a razão constrói os seus edifícios. Teologia elitista. Orígenes de Alexandria – foi aluno de Clemente e segue a sua maneira de desenvolver a teologia. Ele reafirma as doutrinas básicas da igreja, mas vai além em especulações sobre coisas que não são mencionadas na Bíblia. Estas idéias estão bastante ligadas ao neo-platonismo. As vezes ele parece mais platônico do que cristão. Orígenes morreu pouco após ter sido solto da prisão em conseqüência às torturas que sofreu por ter se recusado à oferecer sacrifícios ao imperador. Tertuliano de Cartago (também apologista). Usava argumentos baseados em formulações legais. Ao contrário de Clemente, não via utilidade na filosofia grega. Deu grande contribuição a formulação da doutrina da trindade (uma essência, três pessoas) e da natureza de Cristo (uma pessoa, duas naturezas). Desenvolvimento da organização na Igreja e mais a doutrina da sucessão apostólica (Cipriano) levou a uma maior honra do bispo de Roma, um sistema mais elaborado de liturgia (313-590), centralização do poder em Roma e finalmente à formação do papado em 452. “O credo dos apóstolos” – credo mais antigo Desenvolvimento da Igreja Católica (mundial) Igreja sob o Império: 313 – Constantino proclama o Edito de Milão que concedeu liberdade religiosa a todas as religiões, devolução de propriedades confiscadas e até subsídio do Estado. Teodósio I tornou o cristianismo a única religião legal em Roma em 380. Começo dos conflitos entre Igreja/Estado. As Invasões Bárbaras (375-1066): desafio de evangelizar os bárbaros. Visigotas, Vândalos, Ostrogotas, Francos, Mongóis, Vikings e muitos outros. Até 590 a Igreja tinha evangelizado todos os invasores do Império. Mas tantos tinham se convertido e tão rapidamente, que muitos mantiveram suas práticas pagãs e as misturaram ao cristianism, criando um sincretismo. Concílios da Igreja (disputas teológicas maiores de 300-450): foram 7 concílios representativos de toda a igreja – levam o nome da cidade onde se realizaram. Resolveram disputas teológicas – definição dos principais dogmas da Igreja. 7 Nicéia (325); Constantinopla (381); Éfeso (431); Calcedônia (451); Constantinopla (553); Constantinopla (680); Nicéia (787) Os dois primeiros concílios lidaram principalmente com a questão do Arianismo e aperfeiçoaram a explicação trinitária. Pais da Igreja (Pós-Nicenos): entre 325-451 Na igreja oriental: Crisóstomo (ou João), Mopsuestia e Eusébio de Cesárea (pai da história da igreja). Na igreja ocidental: Jerônimo; Ambrósio; Agostinho Idade das Trevas (600 até 1517 – início da Reforma) Fatores que contribuíram para a decadência da igreja: Institucionalização da igreja e centralização do poder (em Roma) com a criação do papado. Politização da igreja (acumulação de poder eclesiástico e político) Introdução de elementos pagãos nos cultos da igreja Materialização da liturgia e introdução da veneração de santos e relíquias Desenvolvimento dos 7 sacramentos como meios de graça – igreja vira agência que distribui salvação pela observância dos sacramentos A ascenção de Gregório I como Bispo de Roma (Papa) em 590 Atividade missionária do primeiro milênio: Inglaterra: Agostinho (não o teólogo) enviado pelo Papa Gregório I para evangelizar o sul da Inglaterra em 597 Irlanda: Evangelizada pelo trabalho de Patrício (389-461), um cristão celta (sem vínculo com a Igreja Romana). O cristianismo celta cresceu muito entre 590 e 800. O papa canonizou Patrício em 664 e eventualmente a Igreja da Irlanda passou a ser submissa à Igreja Romana. Escócia: Evangelizada por Columba (521-597), cristão celta da Irlanda. Burgândia: Evangelizada por Columbanos Pérsia, Índia, China, Mongólia, Tibete e outros países asiáticos: Evangelizados pelos cristãos nestorianos, conhecidos também como Igreja Assíria do Oriente. O fundador Nestor foi excomungado da Igreja em 430 e foi exilado com seus seguidores na Assíria (hoje oeste do Iraque e Irã). Vestígios atuais comprovam a presença de atividades destes cristãos na China nos séculos 7 e 8. No século 8 já existia uma grande comunidade cristã no Tibete. Norte da Inglaterra: da Escócia, Aidã evangelizou o norte da Inglaterra Povo teutônico (Alemanha): evangelizados pelos ingleses. Bonifácio (680-755) foi a figura maior. Escandinavos (Dinamarca, Noruega, Suécia, Islândia): Ansgar (801-865) foi enviado como missionário a estes povos que foram cristianizados ao Catolicismo Romano até o século onze. Desafios: O avanço Muçulmano: Maomé é o fundador do Islã. Ele nasceu em Meca, na Arábia Saudita, em 570. Os árabes desta época eram politeístas e idólatras (diz-se que tinham 365 deuses, um para cada dia do ano). Em 610, Maomé, que era analfabeto, diz ter tido uma visão onde 8 recebeu uma ordem de Deus para pregar o que estava escrito em um livro sagrado que o anjo Gabriel trouxe para ele – o Alcorão. Maomé pregava contra a idolatria e a favor de um único deus, Alá. Ele teve que sair correndo de Meca em 622 (ano em que os muçulmanos começam o seu calendário). Ele se refugiou em Medina enquanto juntava um exército, pregava e ganhava muitos adeptos. Em 630 ele voltou a Meca e a conquistou em batalha. Ele destruiu a Kaaba (templo em que estavam expostos os ídolos), deixando apenas uma pedra negra para adoração (existe até hoje). Quando morreu, em 632, a maioria dos árabes tinha se convertido ao Islã. A religião se espalhou rapidamente entre 632 e 732, conquistando a Síria, a Palestina, a Pérsia (Irã atual), o Egito e toda África do Norte (onde o cristianismo era muito forte até então) e a Espanha. Isto enfraqueceu principalmente a Igreja Oriental que perdeu espaço para a Igreja Romana. Os cinco “pilares do Islã”, necessários para ser um bom muçulmano: 1) repetição do credo (“Há um só Deus; seu nome é Alá e seu profeta é Maomé”) – a repetição deste credo é a única coisa necessária para se converter; 2) oração cinco vezes por dia (em horas determinadas e com todo um ritual; 3) dar esmolas – 2% da renda; 4) observância do Ramadan – jejum (do nascer ao pôr do sol) anual de um mês lunar; 5) peregrinação à Meca (Hadj) pelo menos uma vez na vida (para os que têm condições financeiras). Migração do poder político. O poder do Império Romano foi se transferindo de Roma para a região dominada pelos Francos. Dos anos 500 a 1054, houve muita guerra no continente europeu com muita troca de alianças. Os papas passaram a depender de alianças com os homens fortes de cada época para se manterem em posição de força. Alguns dos mais conhecidos são: Clóvis (à partir de 496), Charles Martel (derrotou o avanço dos exércitos muçulmanos em 732 na batalha de Tours), Carlos o Magno (768-814) e Príncipe Otto à partir de 962. Durante este período houve uma luta política constante entre o Imperador e o Papa pelo poder. Divisão na Igreja Entre 800 e 1054, diferenças importantes começaram a surgir entre os ramos Oriental e Ocidental da Igreja até que a divisão definitiva em 1054 criou a Igreja Ortodoxa no oriente e deixou a Igreja Católica Romana no ocidente. Esta divisão foi gradual, começando com a divisão do Império Romano, e depois agravado por desavenças entre os bispos de Constantinopla e de Roma e diferenças quanto a doutrina e práticas. Houve divergência sobre quando a Páscoa deveria ser celebrada, celibato dos padres, divergência sobre a relação do Espírito Santo para com o Pai e o Filho e uma divergência quanto ao uso de ícones e imagens. O Papado. O poder do ofício de papa foi se fortificando através dos tempos até atingir seu auge com Inocêncio III em 1198. O termo “papa” significa simplesmente “papai”. Nos primeiros séculos foi empregado para qualquer bispo de quem se tinha afeição. Apesar dos historiadores concordarem da probabilidade de que Pedro esteve em Roma e até dele ter morrido ali, isto não prova que ele teria sido Bispo de Roma. Não se sabe praticamente nada sobre os bispos de Roma do último terço do primeiro século. Se esta sucessão apostólica de Pedro fosse realmente tão importante assim, os escritores desta época deveriam ter comentado a este respeito. Durante os primeiros séculos, o centro do Cristianismo não era Roma e nem o ocidente, mas o oriente com os seus centros de Antioquia e Alexandria. Mesmo no 9 ocidente de fala latina, os centros do cristianismo na África do Norte tinham mais importância. Esta situação começou a mudar quando o Império aceitou a fé cristã em 313. Como Roma era, pelo menos de nome, a capital do Império, a igreja e o bispo desta cidade logo se viram em posição de destaque. Em todo o Império a igreja começou a se organizar de acordo com os padrões estabelecidos pelo estado, e as cidades que tinham jurisdição política sobre uma região logo tinham também jurisdição eclesiástica. O império romano do ocidente começou a desmoronar com as invasões dos bárbaros e o bispo de Roma começou a ocupar o vazio do poder cível. O bispo de Roma, Leão I, “O Grande”, foi o primeiro papa no sentido corrente do termo. Após a derrota do exército romano frente aos hunos, sob o comando de Átila, foi o Papa Leão I que negociou com Átila para evitar que Roma fosse saqueada. Com a anarquia política, o papado começou a acumular terras, nomear reis e fazer alianças políticas. O papado se organizou da mesma forma que o Império Romano tinha se organizado e o papa passou a exercer a função de um imperador, apesar de não levar este nome. A medida que o antigo bispado de Roma começou a se transformar em um papado imperial, ele começou a se corromper com o poder e as riquezas. Alguns papas se destacaram pelos seus ideais e fervor religioso, mas a maioria se destacou pela luxúria, vícios morais, ganância, amor pelo poder e intrigas. Durante um certo período houve uma sucessão de assassinatos de papas e usurpações do trono papal. Durante a idade média, o sistema feudal de poder estava em vigor. Vassalos entravam em acordo com um senhor feudal. Este, em troca da lealdade do vassalo e de impostos anuais, oferecia proteção ao mesmo. O Papa passou a ser um grande senhor feudal, recebendo inclusive vários reis da Europa como vassalos. Vários dogmas que fortaleceram a posição do papado foram desenvolvidas: o A doutrina da sucessão dos apóstolos, isto é, o papas são sucessores diretos do Apóstolo Pedro e governam a igreja sob sua autoridade; o A autoridade para nomear o Imperador do Santo Império Romano vinha de Deus através do papa (o papa nomeava um imperador que agia em nome da Igreja); o a infalibilidade da Igreja Católica Romana (a igreja e o papa não poderiam errar quando estivessem em concílio ou quando o papa fala “na qualidade de pastor e doutor supremo de todos os fiéis e encarregado de confirmar seus irmãos na fé” – Catecismo da Igreja Católica); o a obrigatoriedade da confissão a um padre; o a transubstanciação (na Santa Ceia, o pão e o vinho se tornam literalmente no corpo e no sangue de Cristo) – (e o sacerdote é o único autorizado a realizar esta cerimônia que dá vida). o Apesar do papado ter entrado em decadência e atingido o seu ponto mais baixo com o Papa Bonifácio VIII (1294-1303), as doutrinas já tinha sido estabelecidas e continuariam a influenciar a Igreja Católica. As Cruzadas A principal motivação das cruzadas foi religiosa, mas existiam também motivações políticas e econômicas, pois a fome e a peste eram prevalentes na Europa. Os árabes (muçulmanos) tinham conquistado a Palestina. Depois, os turcos (também muçulmanos) tomaram a Palestina dos árabes e perseguiam os cristãos que vinham à Terra Santa em peregrinação. 10 O bispo de Constantinopla (ala oriental da Igreja) pediu ajuda à Igreja da ala ocidental para derrotar os turcos muçulmanos que ameaçavam o seu reino. 1ª Cruzada (1095-1099) –Em 1095 um milhão de camponeses europeus se lançaram em cruzada para reconquistar a Palestina em resposta a um apelo do papa. Estes camponeses não tinham treinamento militar e partiam de forma desorganizada. A maioria ou morreu ainda na viagem ou foram massacrados pelos turcos ou foram capturados e vendidos como escravos. Na passagem pela Europa oriental, muitas atrocidades foram cometidas, pois sem provisões, se viram obrigados a lutarem por suprimentos contra outros cristãos. Além do mais, com o fervor religioso excessivo, mataram milhares de judeus nas cidades pelas quais passavam. Uma segunda leva mais organizada conseguiu capturar Jerusalém em 1099 massacrando homens, mulheres e crianças. 2ª Cruzada (1145-1149) – uma segunda cruzada foi organizada para ajudar a combater uma ameaça à Jerusalém. Dela participaram o rei Luis XV da França e o imperador alemão Conrado III com um total de 200 mil homens. A empreitada foi desastrosa com derrotas seguidas e terminou com uma tentativa desastrada de captura de Damasco. 3ª Cruzada (1189-1192) – Jerusalém foi recapturada em 1187 pelos muçulmanos. A terceira cruzada, da qual participaram o rei Felipe Augusto da França e o rei Ricardo Coração de Leão da Inglaterra, também foi desastrosa. Não conseguiu recapturar Jerusalém, mas conseguiu garantias dos muçulmanos de que os cristãos poderiam visitar Jerusalém livremente. 4ª Cruzada (1202-1204) –– O grande pregador da quarta cruzada foi o Papa Inocêncio III, no apogeu do papado. O resultado desta cruzada foi um desvio dos objetivos iniciais resultando na captura da capital Bizantina, Constantinopla (saqueada em 1204), com o retorno temporário (durante 50 anos) da Igreja Oriental ao controle de Roma. Cruzada das Crianças – 1212 – foi uma cruzada de 37.000 crianças da França e da Alemanha que acreditavam que poderiam conquistar a Terra Santa com sua inocência. O resultado foi muito trágico. As crianças acabaram morrendo de fome pelo caminho ou sendo vendidas como escravas antes de chagarem à Palestina. 5ª Cruzada (1217-1221) – Jerusalém foi recapturada temporariamente em uma primeira fase. Em uma segunda fase o Egito foi invadido. 6ª Cruzada (1228-1229) – Não foi uma verdadeira guerra. Através da diplomacia o Imperador Frederico II conseguiu negociar um tratado em 1229 que colocou sob controle cristão Jerusalém, Belém, Nazaré e um corredor com acesso ao mar por um período de 10 anos. Resultados das cruzadas: 1) a longo prazo, as cruzadas foram um fracasso no que diz respeito ao controle da Terra Santa; 2) enfraquecimento do feudalismo e fortalecimento de um sistema mais eficiente de governo; 3) o papado fortaleceu o seu prestígio, mas foi afetado por sentimentos de nacionalismo; 4) abertura do comércio entre a Europa e o oriente; 5) houve um estímulo ao conhecimento e a alfabetização e isto permitiu ao povo conhecer a Palavra de Deus. 6) a formação das ordens militares – estas eram ordens monásticas que se dedicavam à guerras: Ordem de S. João de Jerusalém ou “hospitaleiros” (originalmente encarregados de um hospital) e depois “cavaleiros de Malta”; a ordem dos templários; a ordem dos cavaleiros teutônicos. 7) fomentou uma crescente inimizade entre o cristianismo latino e oriental. 8) antes das cruzadas, os muçulmanos eram relativamente tolerantes dos cristãos que vinham em peregrinação à Terra Santa, mas com as cruzadas houve muito menos 11 tolerância e maiores restrições às poucas igrejas que sobrviveram em países muçulmanos. 9) aumento do interesse dos cristãos da Europa pelos personagens bíblicos que viveram na Terra Santa. Houve também um aumento do culto de relíquias. Muitos cruzados voltavam com supostos pedaços da Santa Cruz, ossos dos patriarcas e apóstolos, leite da Virgem, etc. Monastecismo O monastecismo surgiu de homens piedosos que desejavam se colocar à parte do mundo para meditação e comunhão com Deus. Eles criaram então os monastérios (mosteiros) onde viviam e de onde saíam para servir a população. Os monges se tornaram os missionários da igreja antiga. Surgiram movimentos importantes nos séculos 4, 6, 10 e 11. Até ao final do século 10 os monastérios tinham se tornado ricos e corruptos. A idéia de serviço tinha se transformado em luxo. Entre os que estavam fartos dos excessos da Igreja, havia os que queriam voltar a uma vida de devoção a Deus, vida simples e serviço aos pobres. Muitos viram uma reforma da vida monástica como a solução para a reforma religiosa. Entre os mais importantes destes movimentos de reforma podemos citar a do Mosteiro de Cluny nos séculos X e XI. No século seguinte temos o movimento de reforma cisterciense, sendo o seu destaque Bernardo de Claraval. Houve várias reformas para combater a decadência dos monastérios e surgiram especializações entre os monges. 1) Cavaleiros Hospitaleiros – surgiu no começo do século 12. Formado por mongessoldados para defender os cruzados (expedicionários das cruzadas) e cuidar dos enfermos – precursores da Cruz Vermelha; 2) Cavaleiros Templários – organização surgida em 1118 para defender a Terra Santa dos invasores muçulmanos; 3) freis – surgiram também no século 12. Faziam votos de castidade, pobreza e obediência e viviam entre o povo para ajudá-los e evangelizá-los. “Frei” significa “irmão” e se tornou sinônimo com serviço na Igreja Romana. 4) Ordem dos Franciscanos – fundada por Francisco de Assis (1182-1226) em 1209. Organização dedicada ao serviço (ação social). 5) Ordem dos Dominicanos – fundada por Dominique (1170-1221) em 1215. Organização dedicada ao ensino. Usada pelo papa durante a Inquisição. 6) Ordem dos Carmelitas, etc. Mesmo estes movimentos de reavivamento dentro da Igreja perderam o seu zelo e se corromperam com a riqueza até os meados do século 14. Movimentos de Reavivamento Leigos Houve tentativas de reavivamento espiritual iniciadas dentro da Igreja com as reformas nos monastérios e a criação de novas ordens. Mas houve um movimento muito maior de reavivamento espiritual com iniciativa leiga. A falta de espiritualidade, a corrupção e o poder político e econômico da Igreja levaram o povo a uma revolta contra a igreja institucionalizada. Os Albigenses – Os Cátaros da região de Albi, no sul da França (também conhecidos como albigenses), colocavam ênfase na Bíblia como fonte de doutrina e foram perseguidos pelo Papa Inocêncio III. Eles foram massacrados e quase exterminados. Os Waldenses – Um comerciante rico de Lyon, França, Pedro Waldo, conseguiu uma cópia da Bíblia. Ele ficou tão impressionado com sua leitura que se desfez de todas as suas 12 posses e começou a pregar o evangelho. Ele e seus seguidores ensinavam que só a Bíblia tem autoridade. Memorizaram trechos longos da Bíblia e pregavam diretamente dela. Denunciavam a corrupção dentro da Igreja institucionalizada e negavam a autoridade da Igreja Romana. Ele foi excomungado em 1184 da Igreja Romana, pois leigos não podiam pregar. Os que se converteram pela sua pregação passaram a ser chamados de “Waldenses” e foram perseguidos violentamente pela Igreja Romana, sendo massacrados. Os que conseguiram fugir se refugiaram nos vales dos Alpes Italianos. As Ordens Mendicantes Já falamos sobre o monastecismo e a sua influência sobre a igreja em geral. O monastecismo sempre foi um refúgio para os cristãos que estavam descontentes com a política e a pompa que existia dentro da igreja. Os que desejam viver uma vida mais separada, de santificação, sempre recorriam aos monastérios ou à vida ascética. No século 13 surgiram alguns movimentos que buscavam uma maior santificação e que se preocupavam com as missões para a realização do evangelismo mundial. Dois serão mencionados aqui pela sua importância e repercussão e por terem sido incorporados na estrutura da igreja. A Ordem dos Franciscanos foi iniciada por São Francisco de Assis. Seu nome verdadeiro era Giovanni (João). Seu pai era comerciante italiano e sua mãe francesa. Ficou sendo conhecido como “Francisco” (pequeno francês). Francisco tinha mais de vinte anos de idade quando houve uma mudança total em sua vida após ter voltado de uma expedição militar no sul da Itália. Depois de um longo período de reflexão, ele decidiu seguir o caminho dos ascéticos religiosos. Ele não se importava com os negócios do pai e nem com as possessões mundanas. Ele fez um voto de pobreza e começou a pregar esta pobreza como um meio de alcançar a felicidade. Tudo que recebia de sua família ele dava aos pobres, até que renunciou à fortuna da família. Francisco, com a aprovação do papa, fundou a “ordem dos irmãos menores”, que mais tarde seria conhecida como Ordem dos Franciscanos. Ele fundou também uma ordem para as mulheres, as “clarissas”. Em vez de ter um monastério em um local retirado, ele queria que os monges tivessem contato com o povo simples para servi-los. Por isso ele fundou as ordens em cidades com grandes centros populacionais. Além de servirem ao povo, tinham que fazer voto de pobreza. Não podiam ter bem algum. Para evitar que as ordens se enriquecessem, Francisco proibiu que elas tivessem qualquer propriedade. Isto mudou alguns anos após a sua morte. Outro destaque da ordem de Francisco é que foi iniciada com o alvo de levar o evangelho até os confins da terra. Os franciscanos se tornaram grandes missionários quando o restante da igreja não estava dando importância às missões. Francisco morreu em 3 de outubro de 1226 A Ordem dos Dominicanos foi fundada por São Domingos. Domingos seguiu muitos dos mesmos princípios de S. Francisco de Assis, mas não era tão dogmático quanto ao voto de pobreza. Para ele, o voto de pobreza servia para evitar as distrações do mundo, mas os bens materiais poderiam ser usados para alcançar os objetivos da ordem. A ordem foi conhecida como Ordem dos Pregadores, pois era isto que os monges faziam. Eles pregavam. E para preparar os pregadores, eles passavam por uma formação rigorosa que permitia combater a pregação dos hereges. A pregação e a propagação da Palavra de Deus era o primeiro objetivo dos dominicanos. O segundo grande objetivo era o ensino. Eles se especializaram no ensino dos pobres como um dos meios de combate às heresias. Os dominicanos logo tiveram professores nos dois centros universitários mais importantes que nasciam nesta época na Europa: 13 Paris e Oxford. Esta ordem deu à Igreja Católica alguns dos seus teólogos mais importantes. Os Dominicanos se distinguiram também na sua pregação para muçulmanos e judeus. Escolástica Escolástica foi um movimento intelectual que teve seu auge entre 1050 e 1350. A escolástica usava o pensamento filosófico no estudo da religião, procurando produzir fé através de um processo lógico. Isto resultou na racionalização da teologia. Este movimento influenciou muito a teologia Católica Romana até aos dias de hoje. As maiores expressões deste movimento foram: Anselmo (1033-1109) – desenvolveu sua posição quanto à expiação: o homem tinha uma dívida com Deus que era impossível de pagar. Cristo pagou esta dívida, liberando assim os seres humanos. Abelardo (1079-1142) – desenvolveu um método racionalista de analisar duas posições contrárias sobre um mesmo assunto para uso em debates. Tomás de Aquino (1225-1274) – Escreveu o livro Summa Theologica que se tornou a exposição clássica da teologia Católica Romana e que continua até hoje a formar a base desta teologia. A partir dele, a Igreja tem uma teologia (fundada na revelação) e uma filosofia (baseada no exercício da razão humana) que se fundem numa síntese definitiva: fé e razão, unidas em sua orientação comum rumo a Deus. Guilherme de Occam (ou Ockham) (1285-1349) – enunciou uma teoria filosófica de que só a experiência pessoal permite conhecer as causas das coisas. Verdades são formuladas a partir de intuição humana, não de revelação divina. Declínio do Papado (1300-1450) Causas: 1) A corrupção, a política e o grande abismo que existia entre o povo pobre e a Igreja rica. 2) A imoralidade dos padres. A proibição do casamento levou muitos padres a manterem concubinas e gerarem filhos ilícitos. Isto arruinou a reputação da Igreja e refletiu na queda de prestígio do papado. 3) A lealdade dividida dos padres entre a autoridade do papa e a autoridade dos governantes locais. 4) A mudança da sede do papado de Roma para Avinhão, na França, entre 1309 e 1377. O papado passou a ser visto como submisso ao rei da França. 5) Quando o papado foi novamente mudado para Roma, houve uma disputa com a eleição de dois papas rivais (um para Roma e outro para Avinhão) até 1418, conhecido como O Grande Cisma do Ocidente. Isto enfraqueceu o papado. 6) A imposição pelo papado de muitas formas diferentes de taxas e impostos que se tornaram pesados para o povo e mesmo para os governos europeus. Misticismo O formalismo frio da Igreja institucional colocou o povo em uma posição de espectador de um ritual frio de adoração onde eles eram representados pelos sacerdotes, sem uma participação pessoal. O movimento místico procurava um contato direto com Deus no ato de adoração. A escolástica tinha colocado a razão acima das emoções e enfatizava o indivíduo como fonte de realidade e a experiência como o meio de se adquirir conhecimento. O misticismo surgiu como uma reação à escolástica e procurava uma experiência com Deus. 14 A peste negra de 1348 e 1349 dizimou um terço da população da Europa e em 1381 houve uma grande revolta dos plebeus (povo comum). Existia uma crescente onda de insatisfação entre o povo com as autoridades que também facilitou a sua adesão ao misticismo. Catarina de Siena (Santa Catarina) (1347-1380) – passou grande parte de sua vida enclausurada em um convento. Ela diz ter mantido conversas com Deus em visões e advertia o povo, a Igreja e mesmo o papa contra o pecado. Meister Eckhart (1260-1327) – ensinava que o objetivo do que tem fé deve ser a união com Deus através de uma fusão da essência humana com a essência divina em uma experiência extática. O fruto desta união com Deus seria o serviço (boas obras). John Tauler (1282-1361) – discípulo de Eckhart, insistia que a experiência interior é mais importante que a cerimônia externa. Uma das contribuições mais importantes deste grupo foi o livro escrito (ou compilado) por Thomas de Kempis, A Imitação de Cristo (Shedd Publicações). Este livro não só desafia à uma renúncia ao mundo, mas conclama à prática do amor de Cristo e ao serviço em seu nome. O misticismo antecipou a abordagem mais pessoal à religião que voltaria com a Reforma. Um de seus grandes perigos foi sua tendência de dar mais valor à experiência pessoal do que à autoridade da Bíblia. O misticismo deu pouco valor à doutrina. Inquisição Precursores da Reforma Outro grupo de pessoas surgiu, com um desejo fervoroso de retornar ao ideal da igreja expresso no Novo Testamento. John Wyclif (ou Wycliffe) (1320?-1384) – grande intelectual da Universidade Oxford na Inglaterra. Até 1378 era crítico da imoralidade do clero e da riqueza da Igreja Romana. A partir desta data começou também a criticar o dogma da Igreja, como a transubstanciação, as ordens monásticas e a autoridade do papa. Ele defendia a Bíblia como única autoridade para o cristão em matéria de fé e prática. A sua maior contribuição foi o projeto da primeira tradução do Novo Testamento em inglês. Este trabalho foi todo feito à mão, pois ainda não existia a imprensa. A hierarquia da Igreja Romana tentou destruí-la. Em 1415 o Concílio de Constança condenou Wyclif e ordenou que seus ossos fossem desenterrados e queimados. Jan Hus (John Huss) (1369-1415) – seguidor dos ensinos de Wyclif na Boêmia (hoje República Checa), pregava com muita ousadia. Ele condenava a venda de indulgências, a opulência da Igreja Romana, a autoridade do papa e a imoralidade do clero. A doutrina que pregava foi condenada pela Igreja Romana em 1413 e ele foi excomungado. Foi-lhe prometido um salvo-conduto ao Concílio de Constança em 1415 para expor as suas idéias. Apesar disto ele foi condenado à morte pelo Concílio e queimado vivo. Ele enfrentou a morte com muita serenidade. Savonarola (1452-1498) – se tornou monge dominicano em 1474 e no final de sua vida foi transferido para Florença onde tentou reformar tanto a Igreja quanto o Estado. Ele não hesitou em condenar até a iniqüidade do papa. Foi condenado à morte por enforcamento. 15