SERÁFICO PEREIRA CABRAL JÚNIOR ALTERAÇÕES DA FUNÇÃO VESICAL EM MENINOS SUBMETIDOS À CORREÇÃO CIRÚRGICA DE VÁLVULA DE URETRA POSTERIOR Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Saúde Materno-Infantil do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira, como parte dos requisitos necessários para obtenção do Grau de Mestre. Orientador: Prof. Dr. João Guilherme Bezerra Alves Co-Orientador: Prof. Dr. Adriano Almeida Calado. Recife 2008 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. SERÁFICO PEREIRA CABRAL JÚNIOR ALTERAÇÕES DA FUNÇÃO VESICAL EM MENINOS SUBMETIDOS À CORREÇÃO CIRÚRGICA DE VÁLVULA DE URETRA POSTERIOR Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Saúde Materno-Infantil do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira, como parte dos requisitos necessários para obtenção do Grau de Mestre. BANCA Prof. Dr. José Eulálio Cabral Filho Pós-doutor em Neurofarmacologia Massachussets Institute of Tecnology (MIT) EUA Vice-Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Saúde Materno-Infantil do IMIP Prof. Dr. Aurélio Antonio Ribeiro da Costa Doutor em Tocoginecologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Docente do Programa de Pós-Graduação em Saúde Materno-infantil do IMIP Prof. Dr. Geraldo Cavalcanti Doutor em urologia pela Unifesp-Escola Paulista de Medicina- (São Paulo) Coordenador serviço Urologia Hospital Universitário Oswaldo Cruz Recife 2008 Dedicatória À minha esposa Patricia Guedes e minha querida filha Manuela Cabral , que suportaram minhas ausências neste período. Aos meus pais, fonte de tudo que sou e que perderam noites de sono para me proteger e educar. . Em especial ao vovô Seráfico, que neste período nós deixou, do alto dos seus cem anos, sempre com muita lucidez e cheio de ensinamentos. III Agradecimentos À Deus que me da saúde para prosseguir nesta bela jornada que é a vida. À minha esposa patrícia e minha filha Manuela Guedes fontes inesgotáveis de motivação e felicidade, que sempre me apoiaram na formulação desta tese. Aos meus pais que me educaram, em especial ao meu pai com quem tive o prazer de aprender a beleza de ser médico. Ao Dr. Antonio Figueira pela confiança e ao Dr. José Pacheco e todos que fazem a nefrologia pediatríca , que me abriram as portas daquele organizado serviço. Ao Dr. Eleazar Araujo pela ajuda nas urodinâmicas e no pós operatório dos pacientes. As surpreendentes Daniela Vieira e Lícia Moreira, estudantes da Escola Pernambucana de Medicina, jovens trabalhadoras que mostraram uma maturidade e dedicação que poucas vezes eu vi na vida , sem elas absolutamente esta tese não seria possível. apoio irrestrito. Ao meu chefe Dr. Evandro Falcão pelo Aos amigos Roberto Cohen , Ana Karla Arraes e sua mãe Dalva Arraes , pela grande ajuda. A confiança nunca esquecida do dia em que pedi para o Dr. João Guilherme um tema urológico. aceitar ser meu orientador em Ao amigo Dr. Adriano Calado(que tanto incomodei ) que há muito tempo já me incentivava para as atividades de pesquisa. IV Sumário Pág. Dedicatória III Agradecimentos IV Sumário v 1-Introdução 1 2-Considerações anatômicas 2 3-Apresentação clínica 2 4-Fisiopatologia 3 5-Diagnóstico 4 5.1-pré-natal 4 5.2- pós-natal 4 6- Diagnóstico diferencial 5 7-Fatores prognósticos 5 7.1- pré-natal 5 7.2- pós-natal 6 8-Tratamento 7 8.1- pré-natal 7 8.2- pós-natal 7 9-Disfunção vesical pós Válvula 8 10-Considerações finais 11 11-Referências Bibliográficas 12 V ARTIGO DE REVISÃO Válvula de Uretra Posterior: Conceitos Atuais Seráfico P. Cabral Júnior*1; Lícia Moreira Medeiros*2;Daniela Raposo Vieira de Oliveira*3; José Pacheco Martins Ribeiro Neto*4;João Guilherme Bezerra Alves*5; Adriano Almeida Calado*6. Setor de Nefrologia Pediátrica do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira; Recife, Brasil Setor de Urologia Pediátrica do Hospital Universitário Oswaldo Cruz; Recife, Brasil *1 - Coordenador Serviço urologia IMIP, Mestrando Saúde Materno Infantil IMIP * 2,3 - Estudantes 3o ano Escola Pernambucana de Medicina *4 - Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFPE, Coordenador da Unidade Renal Pediátrica do IMIP *5 - Doutor em medicina pela UFPE, Diretor ensino e coordenador pós-graduação do IMIP *6 - Doutor em medicina(urologia) pela UNIFESP , Professor adjunto de urologia da UPE _______________________________________________________________ A válvula de uretra posterior (VUP) é uma anomalia congênita caracterizada por uma estrutura membranosa, localizada na mucosa do assoalho da uretra prostática. É uma entidade anatômica que gera dificuldade ao fluxo urinário por um mecanismo valvular a qual dificulta o fluxo anterógrado da urina. Ocorre em média em 1/4000 a 1/8000 nascidos vivos, do sexo masculino.(1) É a principal causa de obstrução do trato urinário inferior em meninos (1) e a causa mais comum de insuficiência renal e transplante renal em crianças.(2) A embriologia da uretra não é totalmente esclarecida, sabe-se que a uretra posterior surge da diferenciação do seio urogenital.(3) A porção prostática e membranosa não são totalmente dependentes dos androgênios , porém a ação androgênica gera profundas modificações nos tecidos da próstata e ductos mesonéfricos( esboços embrionários dos ductos genitais masculinos).(3) Várias teorias tentam explicar a presença da VUP como por exemplo: que ela ocorre devido a junção anormal entre o ducto ejaculatório e o utrículo prostático; fusão do colículo seminal com o teto da uretra; devido a estruturas Millerianas.(3 ) Porém a teoria mais aceita para a VUP, é que ela ocorre em conseqüência da inserção e persistência da extremidade mais distal do ducto de Wolf.(4 ) 01 CONSIDERAÇÕES ANATÔMICAS A primeira descrição falando sobre VUP foi realizada em cadáveres por Morgagni em 1717(5), porém Young(6) é o autor da primeira descrição clara de VUP. Ele descreveu a VUP em três tipos (tipo 1, 2 , 3 ); de acordo com a sua relação com o verumontanum e o seu aspecto. Na atualidade se aceita apenas o tipo 1, que é a presença de pregas mucosas que vão desde lateral e distalmente ao verumontanum, presas as paredes laterais da uretra, gerando alteração anterógrada do fluxo urinário, sem gerar obstáculo a manipulação da uretra de forma retrógrada.(3) APRESENTAÇÃO CLÍNICA De acordo com o grau de obstrução e idade, podem surgir diferentes apresentações clínicas.(3) Nos recém nascidos pode ser palpado massa na região infra umbilical durante o exame abdominal(bexiga) ; além de poder se palpar massa na topografia da loja renal(rins).(3) Existe a presença de ascite em aproximadamente 40% dos casos de VUP, devido a obstrução do trato urinário gerando transudação de urina para o peritôneo.(7) Observa-se diminuição do número de micções diárias, gotejamento, jato fraco e partido.(3) Comumente o diagnóstico é dado devido a um episódio de infecção do trato urinário(ITU), a qual durante investigação se chega ao diagnóstico de VUP.(3) Em alguns pacientes o primeiro evento é maiores de 3 anos podem uma sepse urinária. Crianças apresentar incontinência urinária , urgência miccional e enurese.(3) A presença de hipoplasia pulmonar associada a VUP é comum e possivelmente ocorre devido ao oligohidrâmnio que dificulta a mobilização torácica e sua expansão intra útero e esta associada a mau prognóstico, podendo gerar dispnéia e insuficiência respiratória no recém nascido.(8) 02 FISIOPATOLOGIA As conseqüências de uma obstrução vesical intra-útero afetam diretamente o funcionamento da bexiga desde o início da sua morfogênese, assim como podem gerar danos a musculatura ureteral e ao parênquima renal e apesar da posterior desobstrução do trato urinário muitas vezes o dano permanece, pois estes órgãos foram gerados sobre aumento de pressão intraluminal.(9) Em relação a filtração glomerular a sua preservação é o principal objetivo diante de um paciente com VUP e a displasia renal é a anormalidade mais importante em relação a função renal. A displasia é provavelmente conseqüência da maturação do blastema metanéfrico primitivo devido a alta pressão luminal.(10 Gonzalez e cols. (11) mostraram a presença de displasia renal em rins de ovelhas submetidos a obstrução urinária durante a gestação. Nos recém nascidos e em crianças pequenas a desobstrução urinária pode gerar crescimento do parênquima renal com melhora da função renal.(12) A primeira zona a ser atingida quando é gerado aumento da pressão intra luminal é a região mais distal do nefroma, sendo mais comum a dificuldade em concentrar a urina, que problemas em relação ao volume urinário produzido.(13) A presença de hidronefrose pode promover uma alteração na musculatura do ureter e muitas vezes mesmo após a desobstrução, o ureter se torna incapaz de se contrair adequadamente e gerar adequado transporte da urina até a bexiga.(14) O refluxo vesico ureteral esta presente entre 33-50% dos meninos com VUP. Normalmente o refluxo é secundário ao aumento de pressão vesical, porém em alguns pacientes pode ser devido a um defeito primário da junção vesicoureteral.(15) Dos pacientes com refluxo, 33% se resolvem espontaneamente pós desobstrução da VUP, 33% vão evoluir com refluxo; porém apenas vai ser necessário acompanhamento clínico e os outros 33% vão evoluir com necessidade de re-implante do ureter.(15) A função vesical pode estar comprometida mesmo após a desobstrução da VUP e isso é um importante fator de mau prognóstico. A alta pressão vesical durante a gestação nos pacientes com VUP, pode gerar alterações histológicas como: aumento colágeno, aumento muscular e hipertrofia na parede da bexiga. As fibras colágenas são responsáveis pela tensão vesical, observa se aumento 03 das fibras colágenas tipo 1 e tipo 3, porém nota se aumento desproporcional do tipo1, o aumento dessas fibras gera como conseqüência diminuição da complacência vesical. (16) DIAGNÓSTICO Pré-natal Nos países desenvolvidos a grande maioria dos pacientes é diagnosticado na fase pré-natal através da ultra-sonografia (USG),que além de suspeitar do diagnóstico pode avaliar fatores prognósticos e até uma indicação de intervenção cirúrgica precoce. O diagnóstico pode ser feito pela USG normalmente a partir da 20ª semana de gestação.(17) Os achados característicos são a presença em fetos do sexo masculino de hidronefrose bilateral, dilatação ureteral bilateral , bexiga dilatada com paredes espessadas e em alguns casos se observa a dilatação da uretra prostática, podendo ainda ser observado diminuição da espessura do parênquima renal.(18) indireto que pode ser visto é a diminuição Um sinal do líquido amniótico(oligohidrâminio).(17) A manutenção da bexiga dilatada quando se realiza nova USG reforça a suspeita diagnóstica. Atualmente nos casos duvidosos pode se fazer uso de ressonância nuclear magnética(RNM) , que apresenta um grande potencial diagnóstico sem riscos para o feto.(19) Pós-natal A presença da manutenção, na ultra-sonografia da hidronefrose bilateral, com bexiga repleta e com paredes espessadas após o nascimento sugere a presença de VUP. (18) Todos os pacientes suspeitos devem realizar a uretrocistografia micçional para confirmar a presença da VUP. Os achados característicos na uretrocistografia são: bexiga irregular, com paredes espessadas, trabeculações , podendo haver divertículos, hipertrofia do colo vesical , presença de pouco fluxo na uretra distal ureteral(40- 50%).(18) e refluxo vesico Também são avaliados quanto a função renal(uréia, creatinina, clearence urinário) e cintilografia renal(DMSA),além de colherem urina tipo 1 e cultura de urina. 04 Normalmente a cintilografia deve ser realizada a partir da segunda semana de vida. Todos os pacientes devem ser submetidos ao estudo urodinâmico, a partir do terceiro mês após realização da fulguração da VUP. Inicialmente o estudo urodinâmico confirma que a disfunção vesical está presente em grande parte dos pacientes portadores de VUP e que esta, na maioria dos casos, não desaparecera após a cirurgia.(20) As alterações da função vesical tem um papel significativo na continência urinária e na função renal destes pacientes à longo prazo. Estima-se que até 75% dos meninos com VUP desenvolvam disfunções vesicais.(20,21) Peters e cols.(20) publicaram os achados urodinâmicos em pacientes que eram portadores de válvula de uretra posterior após o tratamento da VUP. Foram analisados 41 meninos e os autores dividiram os achados urodinâmicos em três padrões principais: hiperreflexia detrusora, baixa complacência e falência detrusora. Nesta série apenas três pacientes apresentaram o estudo urodinâmico normal. Segundo Maternik 50-80% das crianças com VUP apresentarão alterações vesicais.(22) DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O diagnóstico diferencial é feito com: síndrome de Prune-Belly, estenose bilateral da junção uretero-pélvica(JUP) e com o refluxo bilateral de grande grau ,porém neste caso não se observa espessamento da bexiga na USG. (03) É importante também realizar diagnóstico diferencial com crianças que apresentam disfunção vesical neurogênica , dando uma especial atenção as disrafias neuro-espinhais , principalmente a meningomielocele.(03) FATORES PROGNÓSTICOS Pré-natal Um Fator de pior prognóstico é a presença de grave oligohidrâmnio.(17) Alteração da relação cortico medular com afilamento do parênquima renal na USG também é um fator de mau prognóstico em 80% dos casos.(17) O diagnóstico antes da 24ª semana de gestação também é considerado um fator de gravidade.(17) 05 Pós-natal A presença de hipoplasia pulmonar associada a VUP é um fator de prognóstico ruim, podendo levar ao óbito logo após o nascimento, devido a insuficiência respiratória e acidose metabólica.(8) Alterações micçionais( enurese , urge-incontinência ) são fatores de mau prognóstico, principalmente após os cinco anos de idade. (02) A melhora da uretero-hidronefrose sem a melhora da função renal sugere a presença de grave dano renal(displasia).(03) A persistência da dilatação renal pós fulguração da válvula geralmente ocorre secundária a alterações vesicais: diminuição da complacência vesical, contração vesical não inibida(CVNI), aumento da pressão de micção, falência detrusora.(23) Parece haver uma maior presença de incontinência urinária, assim como uma maior alteração da complacência nos paciente submetidos a vesicostomia em relação aos que realizaram fulguração no primeiro tempo.(24) A queda inicial da creatinina sérica pós cateterismo ou cirurgia da VUP é um bom fator prognóstico, porém a manutenção da creatinina maior que 1mg/dl, após tratamento da VUP sugere alteração da função renal com uma taxa filtração glomerular(TFG)<70ml/min)] e perspectiva de perda de função renal a longo prazo.(25) Mitchell(26) utilizou pela primeira vez o consagrado termo “Síndrome da bexiga de válvula” que enfatiza a íntima relação entre a função vesical alterada, a progressiva hidronefrose e a deterioração da função renal pós tratamento da VUP. Atualmente pode-se dizer que existe um consenso que os marcadores mais importantes de prognóstico desfavorável nos pacientes portadores de VUP são: a presença de refluxo vesico-ureteral e o grau de alteração da função vesical.(25) Alguns estudos apontam como pior prognóstico em longo prazo para a função renal a presença de baixa complacência e a falência detrusora. (27,28) Gennaro e cols(29), confirmaram que a disfunção vesical em meninos com VUP pode mudar de bexiga instável/ hipercontrátil , encontrada no inicio da infância, para posteriormente uma hipocontratilidade, a qual pode evoluir para uma verdadeira falência miogênica vesical na puberdade; podendo ser este o estagio final da disfunção vesical. Segundo Parkhouse(02) a presença de incontinência urinária aos 5 anos de idade foi observada em pacientes e todos eles 19-81% dos apresentaram alterações urodinâmicas, 46% dos 06 pacientes incontinentes evoluíram na adolescência com alteração da função renal, enquanto apenas 5% do grupo continente apresentou alteração da função renal. TRATAMENTO Pré-natal É importante aconselhar os pais quando da suspeita pré natal de VUP ,e mostrar que os dados da grande maioria dos trabalhos evidenciam que não há vantagem em realizar intervenções intra útero pois estas cirurgias não melhoraram o prognóstico deste pacientes. Porém devem-se acompanhar com atenção as ultra-sonografias, pois em pacientes com grande afinamento do parênquima renal ou severo oligohidrâmnio pode ser necessário a antecipação do parto.(003) Pós-natal Logo após o diagnóstico deve se realizar sondagem vesical e iniciar antibioticoterapia profilática. Dar suporte clínico para os recém-nascidos graves, que evoluirem com insuficiência respiratória, acidose e distúrbios hidroeletrolíticos.(03) O tratamento inicial da VUP passou por diferentes fases, intimamente relacionado com o desenvolvimento de instrumental endoscópico que permitisse a abordagem da uretra de uma criança de poucos dias de vida. Desde o surgimento de materiais endoscópicos adequados a estratégia mais aceita é a de se realizar a fulguração da VUP ainda no período neonatal como tratamento primário.(30) inconvenientes Com a fulguração primária se evita os de manter a criança com vesicostomia ou outra forma de desvio urinário por longos períodos, além de diminuir o número de cirurgias. Além disso parece haver uma maior presença de incontinência urinária, assim como uma maior alteração da complacência vesical nos paciente submetidos a vesicostomia ,comparado aos que realizaram fulguração no primeiro tempo.(24) A fulguração consiste em incisar a válvula postero-lateralmente as 4 e 8h, podendo também realizar uma incisão as 12 h com um endoscópio infantil , a destruição da membrana também pode ser realizada com holmium laser. (31) 07 eletrodo ou Em crianças muito pequenas ou em caso de material endoscópio inadequado, a ressecção pode ser realizada por via anterógrada, que é muito pouco usada.(32) Em crianças com importante alteração da função renal ou em casos que não se dispõe de material endoscópico adequado, pode se discutir a possibilidade de utilizar a vesicostomia como primeira opção terapêutica. A vesicostomia consiste na drenagem vesical supra-púbica na porção mais inferior da bexiga,é uma forma de desvio incontinente e temporária. (33) DISFUNÇÃO VESICAL PÓS TRATAMENTO (“BEXIGA DE VÁLVULA”) Como é demonstrado na literatura que um grande número de pacientes, 75% em média, irá evoluir com algum grau de disfunção vesical e alguns desses pacientes irão progredir para perda da função renal , é de fundamental importância identificar esses pacientes para tentar gerar medidas que possam vir a alterar a evolução negativa da função renal.(21) A vesicostomia após a fulguração endoscópica da válvula deve ser realizada quando se observa a manutenção de grande resíduo pós-micçional , após comprovado que a ressecção tenha sido realizada com êxito; em especial se observamos perda da função renal com hidronefrose mantida. Existem 3 causas para dificuldade na obstrução do fluxo a nível uretral pós ressecção : ressecção parcial da válvula, problemas uretrais e hipertrofia colo vesical.(34) Deve se realizar vídeo-cistoscopia nos pacientes com suspeita de obstrução do colo vesical ou obstrução uretral; e quando for encontrado o colo semi fechado, esta situação sugere hipertrofia do colo e ausência de falência miogênica , sendo assim poderemos administrar alfa bloqueadores ou até ressecção do colo com melhora do fluxo urinário.(35) O desvio urinário do trato urinário superior hoje em dia é uma medida de exceção que deve ser reservada a raros casos de ausência de melhora da função renal , infecções e hidronefrose persistente após desvio vesical e de preferência deve ser realizada através de uma Walker pielostomia.(36) Segundo (37) não se observa diferença na evolução dos pacientes que realizaram fulguração primária, vesicostomia ou desvio do trato urinário alto. Calculamos a capacidade cistométrica máxima pela seguinte formula[idade(anos)+2]x 30 ml.(38) Muitas vezes se hiper diagnóstica a presença de falha miogênica pela presença de resíduo pós miccional elevado; porém em muitos casos isto é resultado de urina que estava acumulada no trato urinário 08 superior durante a contração vesical, devido a presença de refluxo vesicoureteral. Devido a este fato o ideal seria a realização do estudo urodinâmico com a prensença de um aparelho de imagem, para assim aumentar a sensibilidade diagnóstica. A literatura considera resíduo aumentado a partir de 15-30% da CCM.(39) O estudo urodinâmico pode ter uma grande utilidade tanto no prognóstico, como para indicar o tempo certo para a realização de intervenção medicamentosa ou cirúrgica. É importante ter o conhecimento que pacientes com achados urodinâmicos normais podem evoluir para alteração da função renal e que os achados urodinâmicos muitas vezes se modificam com o passar do tempo, por exemplo passando de uma bexiga com pouca contratilidade para uma falência detrusora.(22,29) Até o momento a urodinâmica é o principal instrumento para identificar os casos desfavoráveis no intuito de determinar um seguimento mais rigoroso para estes pacientes. Nos pacientes com bexiga de válvula deve se iniciar um tratamento direcionado de acordo com os achados urodinâmicos , de imagem e com a evolução da função renal; com o objetivo de tentar inicialmente reabilitar esta bexiga. A grande maioria destas bexigas apresentam baixa complacência e hiperatividade detrusora, e como conseqüência tem uma tendência a apresentarem aumento da pressão vesical com presença de refluxo vesicoureteral e evolução para dano renal.(23) Deve se tentar inicialmente reduzir a pressão intravesical com uso de anticolinérgicos(oxibutinina, tolterodena),(35) com o objetivo de melhorar a complacência e evitar danos renais. Na ausência de respostas a estas medidas ,com manutenção da hidronefrose e alteração da função renal, deve ser optado pelo inicio do cateterismo intermitente limpo. O cateterismo vesical limpo pode gerar diminuição da hidronefrose, diminuição da incontinência e diminuição da hiperdistensão vesical, gerando assim um efeito terapêutico.(40) Deve se iniciar cateterismo limpo de forma precoce no primeiro ano de vida, pois pode diminuir a perda da função renal.(40) O grupo que não melhorar com o cateterismo e apresentar piora progressiva da função renal, terá que se submeter a um desvio urinário que a principio deve ser uma vesicostomia.(03) Algumas crianças evoluírâo como conseqüência desta diminuição da complacência com importante diminuição da CCM e será preciso partir para uma ampliação vesical. Segundo Koff e colaboradores(41) , a síndrome de válvula parece ser resultado de uma 09 série de fatores pós natais como: hiperdistensão vesical secundária a poliúria , que ocorre devido a nefropatia ,diminuição da sensibilidade da bexiga e grande resíduo pós miccional , que assim impedem a restauração da função vesical, eles propuseram que, após realização de diário miccional que comprove esta poliúria , deve se realizar sondagem vesical noturna em uma dupla fralda ,para assim evitar esta hiperdistensão vesical e a manutenção do quadro. Nos casos que precisam de transplante renal e apresentem diminuição da CCM, deve ser realizado primeiro a ampliação vesical. Glassberg(34) avaliou 32 unidades renais, em 20 pacientes que apresentavam dilatação pós ablação da válvula eles foram acompanhadas por uma média de 31 meses, todos em uso de anticolinérgicos, 4 associaram cateterismo limpo, e um foi submetido a ampliação vesical , ele observou diminuição da hidronefrose em 20 unidades renais. Não se deve esperar melhora imediata da hidronefrose que pode demorar até anos para sua normalização.(42) Os que apenas apresentarem hiperatividade detrusora com complacência normal devem ser tratados com uso de anticolinérgicos. pacientes com dificuldade de esvaziamento da bexiga podem se beneficiar com uso de alfa-bloqueadores(tansulosina),(35) que são drogas utilizadas com o objetivo de diminuir o tônus do colo vesical e assim facilitar a micção. Nos com falência detrusora, deve ser realizado o estudo urodinâmico junto com a USG para evitar hiperdiagnóstico. Deve se iniciar cateterismo intermitente limpo e acompanhamento da função renal , o próprio cateterismo pode como já foi dito vir a gerar uma melhora da função vesical. (41) Em alguns casos ,em crianças maiores deve ser realizado um desvio urinário continente e definitivo, podendo assim evitar os inconvenientes sociais de uma incontinência urinária, utilizamos de rotina a técnica proposta por Macedo ou Mitrofanoff.(43,44) Todos devem ser acompanhados no ambulatório de nefrologia e urologia pediátrica, realizando monitoramento da função renal com dosagens sanguíneas e exames de imagem rotineiros. Estes pacientes devem realizar uma urodinâmica anual, pois como já foi dito, muitos apresentarão alteração da evolução do quadro vesical com o passar dos anos. Como já foi visto anteriormente, a urodinâmica gera uma série de informações , que associada a exames de imagem criam um arsenal importante para tentarmos melhorar o prognóstico destes pacientes. 10 Considerações finais Como se observa um grande número desses pacientes apresenta alterações da função vesical e que mais de 1/3 irá evoluir para insuficiência renal com o passar dos anos, por isso deve se seguir estes pacientes de perto com realização de estudos urodinâmicos em todos. Com os achados urodinâmicos associados a exames de imagem e laboratorial podem ser gerados intervenções que venham a mudar a evolução negativa da função renal. É importante que os pais e os pacientes de maior idade estejam bem informados e motivados para o bom acompanhamento desta patologia. 11 Referências Bibliográficas 1-Hutton, K A R ,Thomas, D F M, Arthur,R J et al. Prenatally detected posterior urethral valves: is gestational age at detection a predictor of outcome? J. 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Setor de Nefrologia Pediátrica do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira; Recife, Brasil Setor de Urologia Pediátrica do Hospital Universitário Oswaldo Cruz; Recife, Brasil *1 - Coordenador Serviço urologia IMIP, Mestrando Saúde Materno Infantil IMIP * 2,3 - Estudantes 3o ano da Escola Pernambucana de Medicina *4 - Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFPE, Coordenador da Unidade Renal Pediátrica do IMIP *5 - Doutor em medicina pela UFPE, Diretor ensino e coordenador pós-graduação do IMIP *6 - Doutor em medicina(urologia) pela UNIFESP , Professor adjunto de urologia da UPE Endereço para Correspondência: Dr. Seráfico Pereira Cabral Júnior Rua 13 de Maio, n° 232 - Boa vista – Recife – PE CEP-500000 E-Mail: [email protected] RESUMO Objetivo: Avaliar a função vesical em pacientes que eram portadores de válvula de uretra posterior (VUP), através de estudo urodinâmico, após o tratamento cirúrgico. Métodos: O estudo foi realizado no período de agosto de 2007 a setembro de 2008. Foram incluídos pacientes do sexo masculino, portadores de VUP e submetidos a cirurgia. A avaliação urodinâmica foi realizada com tempo mínimo de três meses após a cirurgia, pelo mesmo médico, e consistiu de cistometria de enchimento e curva fluxo-pressão. Nenhum paciente recebeu sedativo ou anestesia geral para a realização do exame. Foram coletados os dados de capacidade cistométrica máxima(CCM), complacência vesical, contrações involuntárias do detrusor (CNI), volume residual e fluxo urinário. Foram correlacionados os achados clínico-laboratoriais com as alterações urodinâmicas encontradas. Resultados: Dos 52 pacientes submetidos à urodinâmica, 23(44.2%) apresentaram função vesical normal e 29(55.8%) apresentaram alterações urodinâmicas. Os principais achados foram: 26 pacientes com CC normal(50%), 15 com capacidade vesical diminuída(28.8%) e 11 apresentaram capacidade aumentada(21.2%). Em 66% dos pacientes com capacidade diminuída também havia baixa complacência e em todos os 11 pacientes(100%) com capacidade aumentada foi observado resíduo elevado. Onze pacientes com capacidade normal tiveram contrações involuntárias (42%) em comparação com 10 daqueles com capacidade diminuída (66.6%). Nenhum paciente com capacidade aumentada apresentou CNI. Dos 10 pacientes que foram submetidos inicialmente à derivação urinária seguida de fulguração, todos apresentaram alterações urodinâmicas. Nos 42 pacientes que realizaram inicialmente fulguração, 23(54,7%) apresentaram urodinâmica normal. Apenas 9.6% dos pacientes foram diagnosticados antenatal Conclusão: A função vesical apresentou-se alterada em mais da metade dos pacientes estudados. A urodinâmica foi de fundamental importância para definição das alterações e estabelecimento do tratamento. Palavras- chave: obstrução uretral; derivação urinária; doenças da bexiga; urodinâmica; urologia. 01 INTRODUÇÃO A válvula de uretra posterior (VUP) é uma anomalia congênita caracterizada anatomicamente por uma estrutura membranosa, localizada na mucosa do assoalho da porção prostática da uretra masculina. Esta membrana determina obstrução ao fluxo urinário anterógrado, podendo ocasionar repercussões na bexiga e no trato urinário superior. Ocorre de 1/4000 a 1/8000 nascidos vivos do sexo masculino.(1) É a principal causa de obstrução do trato urinário inferior em meninos (1) e a principal causa de insuficiência renal e transplante renal na infância.(2) Com os avanços na compreensão da patologia, diagnóstico precoce e manuseio pós-natal adequado o prognóstico geral dos pacientes portadores de VUP tem apresentado significativa melhora na ultima década.(2,3) Diversos estudos têm tentado identificar fatores prognósticos na tentativa de reduzir a progressiva perda de função renal nestes pacientes.(4,5) Vários estudos publicados associam o grau de disfunção vesical com a ocorrência de insuficiência renal e parece que quanto maior o período de seguimento destes pacientes maiores são os índices de insuficiência renal crônica.(2,6) Em um clássico estudo que acompanhou 114 crianças portadoras de VUP até a adolescência, Parkhouse e cols. demonstraram que em um terço dos casos houve progressão para insuficiência renal crônica.(2) As conseqüências de uma obstrução vesical intra-útero afetam diretamente o funcionamento da bexiga desde o início da sua morfogênese. No músculo detrusor, em resposta ao mecanismo obstrutivo, ocorre inicialmente hipertrofia e posteriormente deposição de colágeno e fibrose.(7) Outro estudo evidenciou que a alta pressão vesical durante a gestação nos pacientes com VUP, pode gerar alterações histológicas como: aumento do colágeno, aumento muscular e hipertrofia na parede da bexiga. Nos pacientes portadores de VUP nota-se aumento desproporcional das fibras colágenas do tipo1, gerando como conseqüência diminuição da complacência vesical.(8) 02 Este processo pode resultar em elevadas pressões de armazenamento,que levam a dilatação e deterioração progressiva do trato urinário superior. A hidronefrose e o refluxo vesico-ureteral são a tradução clínica destas alterações que ocorrem na bexiga.(9) Estima-se que até 75% dos meninos com VUP desenvolvem disfunções vesicais. (2,10,11) O tratamento inicial da VUP passou por diferentes fases, intimamente relacionadas com o desenvolvimento tecnológico dos instrumentais endoscópicos que permitissem a abordagem da uretra de crianças com poucos dias de vida. A estratégia atualmente mais aceita é a de realizar a fulguração da válvula no período neonatal como tratamento primário, evitando as derivações temporárias, como a vesicostomia.(12,13) Porém o tratamento cirúrgico da VUP é apenas uma das etapas na condução clinica destas crianças. O seguimento com acompanhamento nefrológico, urológico e pediátrico é de extrema importância para o sucesso do tratamento podendo vir a minimizar ou retardar as seqüelas renais. De acordo com as evidências apresentadas, a investigação urodinâmica do comportamento funcional vesical após a fulguração da VUP tem importância fundamental no prognóstico destes pacientes.(14,15) As estratégias de tratamento da “bexiga de válvula” baseiam-se no comportamento vesical após a cirurgia. As intervenções preconizadas variam desde orientações comportamentais e uso de medicações para o relaxamento vesical até procedimentos cirúrgicos de ampliação vesical. Alguns autores tem preconizado o cateterismo intermitente limpo como terapia para os casos identificados como de alto risco.(16) Para se atingir os objetivos a longo prazo no acompanhamento dos portadores de VUP se faz necessário que possa se dispor de avaliação urodinâmica em todos os pacientes tratados. A urodinâmica permitirá a identificação das alterações vesicais mais freqüentes, e além disso permitirá associar as alterações do exame com a evolução clínica das crianças. Portanto, este trabalho teve como objetivo avaliar a função vesical em pacientes que eram portadores de válvula de uretra posterior, através de estudo urodinâmico,após o tratamento cirúrgico. 03 MÉTODOS Estudo descritivo, tipo série de casos, com 52 pacientes. O estudo teve como objetivo avaliar as alterações vesicais pós cirurgia, em pacientes que eram portadores de VUP. O estudo foi realizado nos setores de nefrologia pediátrica e urologia pediátrica e o período de execução foi de 13 meses(agosto 2007 a setembro de 2008). Foram incluídos pacientes do sexo masculino; portadores de válvula de uretra posterior (documentada através de uretrocistografia) que foram submetidos a tratamento cirúrgico para correção da VUP. Foram excluídos os pacientes que apresentavam tempo de seguimento após a cirurgia menor que três meses. Este projeto foi aprovado pelo Comitê de ética em Pesquisa da instituição(anexo 1). Inicialmente todos os pacientes portadores de VUP foram convocados a partir do banco de dados do Setor de Nefrologia Pediátrica e todos os responsáveis pelas crianças foram informados sobre o estudo clínico e assinaram o consentimento informado. Os prontuários foram revisados e foram recuperados os dados de interesse como: idade ao diagnóstico, tratamento inicial realizado (vesicostomia, derivação alta ou fulguração endoscópica), idade na época do tratamento, avaliação da função renal, presença de hidronefrose, presença de refluxo vesico-ureteral, presença de infecções urinárias e presença de incontinência urinária. Todos os pacientes incluídos tiveram a função vesical avaliada através do estudo urodinâmico realizado pelo mesmo investigador. A avaliação urodinâmica consistiu de cistometria de enchimento e curva fluxo-pressão. Todas as definições estavam em acordo com a terminologia padronizada pela Sociedade Internacional de Continência.(17) Nenhum paciente recebeu sedativo ou anestesia para a realização do exame urodinâmico. A solução salina utilizada para o enchimento vesical foi utilizada na temperatura ambiente e o enchimento foi realizado através de bomba de infusão. A capacidade cistométrica máxima esperada foi calculada de acordo com a idade do paciente pela seguinte fórmula: Cap (ml) = [(idade(em anos)+2) X 30].(18) 04 A definição de hiperatividade detrusora foi caracterizada como a contração vesical não inibida (CNI), que cause incontinência urinária ou significativa urgência miccional, com contração maior que 10 cmH2O. A complacência vesical foi considerada normal quando o valor obtido estava superior a 20 ml/cmH2O, a faixa intermediaria entre 10-20ml/cmH2O foi considerada como normal e diminuida quando estava menor ou igual a 10ml/cmH2O. Quanto ao resíduo pós-miccional consideramos como significativo qualquer valor acima de 10% da capacidade cistométrica máxima calculada para a idade (19) A partir dos dados coletados os pacientes foram classificados em 5 grupos de acordo com a complacência e a atividade detrusora durante o enchimento vesical: Grupo 1 – baixa complacência + hiperatividade detrusora; Grupo 2 – Complacência normal + ausência de hiperatividade detrusora (normal) Grupo 3 – Complacência normal + hiperatividade detrusora; Grupo 4 – Baixa complacência + ausência de hiperatividade detrusora Grupo 5 – falência detrusora Foram associados as alterações da função vesical com os achados clínico-laboratoriais. Os dados e as médias foram calculadas pelo programa estatístico Epi Infotm versão 3.5.1 ,os resultados foram apresentados em tabela 2x2 e em gráfico. 05 Resultados Dos 52 pacientes submetidos à urodinâmica pós tratamento cirúrgico de VUP, 23 destes (44.2%) apresentaram função vesical normal (CCM normal, complacência normal e ausência de CNI) e 29 (55.8%) apresentaram alterações da função vesical. O tempo médio entre a realização da fulguração primária da VUP ou fechamento da vesicostomia e fulguração da VUP e a realização do estudo urodinâmico foi de 8 meses (variando de 3 a 15 meses), e a média de idade dos pacientes no momento da realização do exame foi de 2,2 anos(variando de 0-10 anos). As principais alterações vesicais encontradas foram:10 pacientes apresentavam características do grupo 1 , 23 ao grupo 2, 11 ao grupo 3 , 1 paciente foi classificado no distribuição dos pacientes 4, e sete no grupo 5. de acordo com as A figura 1 ilustra a principais alterações urodinâmicas. Observamos ainda os seguintes achados: 26 tiveram capacidade cistométrica máxima normal (50%), quinze com capacidade diminuída (28.8%) e onze apresentaram capacidade aumentada (21.2%). Em 10 pacientes com capacidade diminuída (66.6%) também havia baixa complacência e em todos os pacientes(100%) com capacidade aumentada foi observado resíduo elevado. Onze pacientes com capacidade normal tiveram contrações não- inibidas (42%) em comparação com 10 daqueles com capacidade diminuída (66.6%). Nenhum paciente com capacidade aumentada apresentou contrações vesicais não-inibidas. A figura 2 ilustra o exame de um paciente portador de CNI como principal achado urodinâmico (grupo 3). 06 Figura 1. Distribuição dos pacientes em grupos de acordo com as alterações principais do estudo urodinâmico baixa complacência/ hiperatividade detrusora 1 7 normal 11 10 complacência normal/hiperatividade detrusora baixa complacência 23 falência detrusora 07 Figura 2. Exame de paciente portador de CNI como principal achado urodinâmico 08 Dos 10 pacientes que foram submetidos inicialmente à derivação urinária (vesicostomia) e posterior fechamento da vesicostomia com fulguração endoscópica da VUP, todos apresentaram alteração da função vesical na urodinâmica. Por outro lado, dentre os 42 pacientes que realizaram tratamento cirúrgico primário através da fulguração endoscópica, 23(54,8%) apresentaram urodinâmica normal. Os dados dos achados urodinâmicos dos pacientes estratificados de acordo com o tratamento cirúrgico inicial estão sumarizados na tabela 1. Tabela 1. Principais achados urodinâmicos nos 52 pacientes estudados de acordo com o tratamento cirúrgico inicial da VUP Urodinâmica normal Urodinâmica alterada CCM normal CCM aumentada CCM diminuida Complacência (>20) Complacência (10-20) Complacência (<10) Presença de CNI Resíduo pós-mic elevado Fulguração primária (n=42) 23 (54,8%) 19 (45,2%) 24 (57,1%) 10 (23,8%) 8 (19,1%) 34 (80,1%) 2 (4,8%) 6 (14,3%) 14 (33,3%) 11 (26,2%) Vesicostomia (n=10) 0 (0%) 10 (100%) 2 (20%) 1 (10%) 7 (70%) 3 (30%) 2 (20%) 5 (50%) 7 (70%) 2 (20%) O refluxo vesico-ureteral (RVU) estava presente em 12 pacientes (23%). Destes doze, Oito pacientes(66,7%) apresentavam baixa complacência como principal achado urodinâmico. presença de baixa Por outro lado, nos pacientes sem RVU a complacência foi observada em apenas sete pacientes(17,5%). Doze pacientes até o momento (23%) evoluíram com algum grau de insuficiência renal. Dez desses pacientes(83%) apresentaram função vesical alterada no estudo urodinâmico e hidronefrose(bexiga de válvula). Dezenove pacientes (36.5%) apresentaram hidronefrose, sendo esta bilateral em dezessete. Dos dezessete pacientes com hidronefrose bilateral, todos apresentaram alterações urodinâmicas e dez apresentavam insuficiência renal. 09 DISCUSSÃO Diversos estudos têm tentado identificar fatores prognósticos nos pacientes portadores de VUP com o objetivo de reduzir a progressiva perda de função renal e tentar gerar intervenções que possam influenciar na evolução clínica destes pacientes.(4,5) Alguns estudos apontam como pior prognóstico em longo prazo para a função renal, a presença de baixa complacência e a falência detrusora. (14,15). Os principais estudos publicados associam o grau de disfunção vesical com a ocorrência de insuficiência renal. Em um clássico estudo que acompanhou 114 crianças portadoras de VUP até a adolescência, Parkhouse e cols.(2) demonstraram que em um terço dos casos houve progressão para insuficiência renal crônica. Estudos demonstram que a alteração da função renal pode chegar a 50% ou mais dos casos e parece que quanto maior o período de seguimento destes pacientes maiores são os índices de insuficiência renal crônica.(2,5) Em nosso estudo foi observado a presença de doze pacientes (23%) com algum grau de insuficiência renal e destes apenas dois não apresentaram alterações urodinâmicas. Devido a média de idade na nossa série ser pacientes jovens( média-2,2 anos), já se nota um alto índice de alterações da função renal e 83,3% dos doentes com alteração da função renal apresentam alterações da função vesical pela urodinâmica. Peters e cols (20) mostraram os achados urodinâmicos em 41 pacientes portadores de VUP após o tratamento. Neste trabalho os achados urodinâmicos foram divididos em três padrões principais: hiperreflexia detrusora, baixa complacência e falência detrusora. Nesta série apenas três pacientes apresentaram o estudo urodinâmico normal (7%). No presente estudo com 52 pacientes, 29(55.8%) apresentaram alteração na urodinâmica e o padrão de alteração mais prevalente foi a hiperatividade detrusora com complacência normal (grupo 3- 21%). A denominação utilizada por Mitchell(21) “Síndrome da bexiga de válvula” que mostra a relação entre a função vesical alterada, progressiva hidronefrose e a deterioração da função renal; está associada a um pior prognóstico. 10 Neste estudo, dos doze pacientes com insuficiência renal, dez(83,3%) apresentaram função vesical alterada e hidronefrose (bexiga de válvula). Todos os pacientes alterações urodinâmicas com hidronefrose bilateral apresentaram e desses, 58,8% já apresentavam algum grau de insuficiência renal. Sabendo que as estratégias de tratamento da “bexiga de válvula” baseiam-se no comportamento vesical após cirurgia, evidência-se a importância do estudo urodinâmico para que uma vez identificado, estes pacientes possam iniciar mesmos. intervenções que venham a mudar evolução dos Nos pacientes que evoluírem com manutenção da hidronefrose e alteração da função renal, deve ser optado pelo inicio do cateterismo intermitente limpo. (16) O cateterismo vesical limpo pode gerar em alguns casos diminuição da hidronefrose, diminuição da incontinência e diminuição da hiperdistenção vesical , gerando assim um efeito terapêutico. Deve ser iniciado muitas vezes de forma precose no primeiro ano de vida, (16) pois pode diminuir a perda da função renal. Nos pacientes que não responderem a estas medidas deve se realizar procedimentos cirúrgicos de ampliação vesical. Na nossa série não foi possível resgatar nos prontuários os pacientes que vinham em uso de cateterismo limpo. A progressão para falência renal parece ser independente do tipo de tratamento cirúrgico primário vesicostomia.(22) utilizado,tenha sido ele fulguração primária ou No entanto, o tratamento endoscópico da VUP por via uretral retrograda é o mais indicado atualmente, pois parece haver uma maior presença de incontinência urinária assim como uma maior complacência nos paciente submetidos a vesicostomia,(23) alteração da Alem de se evitar um número maior de cirurgias e a inconveniência de um desvio urinário incontinente. Todos os pacientes submetidos a vesicostomia apresentaram alterações urodinâmicas , enquanto 54,8% dos pacientes que realizaram fulguração primaria apresentavam exames normais. Na amostra atual, 19.2% dos pacientes foram submetidos a derivação urinária como tratamento primário(vesicostomia). Neste estudo as crianças submetidas a fulguração primária apresentaram uma melhor evolução do quadro vesical, estes dados estão compatíveis com o que se observa na literatura porém devido a limitação da estatística não podemos analisar estes dados. . 11 Refluxo vesico-ureteral esta presente em mais de 90% dos pacientes que vão evoluir para insuficiência renal.(05) Foi possível observarmos a presença de RVU em diferentes graus em doze pacientes e correlaciona-lo com a presença de baixa complacência vesical. A baixa complacência foi mais evidente no grupo de pacientes com RVU (66,7%) do que naqueles que não apresentavam RVU (17,5%). Foi observado falência detrusora em sete pacientes(13%), uma vez identificado este quadro vesical pelos achados urodinâmicos, podem ser iniciadas medidas para o esvaziamento vesical e consequentemente gerar uma tentativa de poupar a função renal. Medidas estas como: uso de alfa-bloquedores, cateterismo limpo e até um desvio continente tipo Macedo ou Mitrofanoff.(24,25) O diagnostico ante-natal foi dado em apenas 9.6% dos pacientes, mostrando uma deficiência do Sistema Único de Saúde na realização de ultra-sonografia durante o pré-natal. Outros estudos, confirmaram que as alterações vesicais em meninos com VUP muda de bexiga instável/ hipercontratil encontrada no inicio da infância para hipocontratilidade posteriormente, a qual deve se deteriorar com a idade levando a uma verdadeira falência muscular miogênica na puberdade (06) , podendo ser este o estágio final da disfunção vesical. Na nossa série apesar de se ter uma média de idade baixa (2,2 anos), já observamos 12 crianças com alteração da função renal, além de crianças com fatores de mau prognóstico como refluxo em19 pacientes , baixa complacência vesical em11 pacientes e um achado que podemos destacar que foi a presença de falência detrusora já presente em sete(13%) . No entanto, devido ao tipo de estudo realizado, não pudemos observar o padrão evolutivo dos pacientes ao longo das idades. Uma boa parte dos pacientes vai encontrar seqüelas de VUP durante a puberdade e na vida adulta.(02) É essencial que os meninos se submetam a um acompanhamento urológico e nefrológico após o tratamento da VUP, para tentar assim evitar ou retardar a deterioração da função renal. A avaliação urodinâmica pode detectar disfunção vesical oculta. Foram encontradas anormalidades vesicais mesmo em pacientes assintomáticos, revelando a importância da urodinâmica no seguimento desses pacientes. 12 No nosso estudo a qualidade dos dados clínicos coletados através dos prontuários do serviço não foi adequada a ponto de podermos analisar a quantidade de pacientes assintomáticos com disfunções vesicais em nosso grupo , também se faz necessário manter o acompanhamento rigoroso destas crianças, para que com o passar dos anos se possa observar se o diagnóstico urodinâmico precoce, seguido de intervenções baseadas nestes dados, poderam gerar melhora da evolução da função renal. Até o momento a urodinâmica é o principal instrumento para identificar os casos desfavoráveis no intuito de determinar um seguimento mais rigoroso para estes pacientes. CONCLUSÃO A função vesical apresentou-se alterada em mais da metade dos pacientes estudados. A principal alteração identificada foi a presença de contrações involuntárias durante o enchimento vesical. A urodinâmica foi de fundamental importância para definição das alterações e estabelecimento do tratamento. 13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1-Hutton, K A R, Thomas, D F M, Arthur, RJ et al. Prenatally detected posterior urethral valves: is gestational age at detection a predictor of outcome? J. Urol 1994;152: 698. 2. Parkhouse, H F, Barratt, T M, Dillon, M J, Duffy, P G, Fay, J, Ransley, P G et al. Long-term outcome of boys with posterior urethral valves. Br J Urol 1988; 62: 59. 3-Mitchell M E, Close C E. Early primary valve ablation for posterior urethral valves Semin Pediatr surg 1996;5(1):66-71. 4. Tejani A, Butt K, Glassberg K, Price A and Gurumurthy K. Predictors of eventual end stage renal disease in children with posterior urethral valves. J Urol 1986; 136: 857. 5- Defoor w , Cllark C, Jackson E, Reddy P, Minevich E, Sheldon C. 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