1 FIDELIZAÇÃO DO CLIENTE EM AGÊNCIA DE VIAGEM NA CIDADE DE CARUARU - PE: A PERSPECTIVA DOS GESTORES Katarine Maria Campello Machado¹ (UFPE) [email protected] Francisco Oliveira Machado² (UFPE) [email protected] RESUMO O relacionamento direto dos fornecedores das agências de viagens com seus clientes vem provocando algumas mudanças nos procedimentos operacionais destas empresas como forma de contribuir para a sua sobrevivência no mercado. Sendo assim, o marketing de relacionamento e as ferramentas de fidelização, com a finalidade de aumentar a interação da empresa com seu cliente e possibilitar a aplicação de estratégias que lhe forneçam maior satisfação, surgem como elementos fundamentais para a permanência desses empreendimentos no mercado. Portanto, este estudo procura conhecer a opinião dos gestores de agências de viagem situadas na cidade de Caruaru/PE, com relação ao processo de fidelização de clientes. Para o embasamento teórico da pesquisa, foram consultados temas sobre agências de viagem, contemplando tópicos sobre seus conceitos e a dinamicidade do mercado, sobre o processo de fidelização de clientes e marketing de relacionamento. A pesquisa, de caráter exploratório-qualitativo, abordou os gestores de oito agências de viagem da cidade com o objetivo de entender o seu perfil de gestão. Ao final da análise, o fator mais relevante percebido em relação às agências de viagem de Caruaru/PE é que seus gestores entendem pouco, por considerações teóricas, sobre fidelização do cliente e a concepção geral destas pessoas é de que o cliente é fiel quando ele entra na loja e compra o produto. Palavras-chave: Agência de viagem; Fidelização de cliente; Marketing de relacionamento. ABSTRACT The direct relationship between the travel agencies’ suppliers and its clients has brought some changes in the operational procedures of these companies as form of contributes for his survival in the market. Thus, the relationship marketing and the tools of customer loyalty arise as fundamental elements for the permanence of those businesses in the market, with the purpose of increase more interaction between the company and his client. Therefore, this study aims to know the travel agencies managers opinion about the tools of customer loyalty. Caruaru City, situated in Pernambuco, a Brazilian state, was chosen for this research. For the literature review were consulted subjects about travel agencies literature, contemplating topics about its concepts and the market; and the literature about the relationship marketing and the customer loyalty. The exploratory-qualitative perspective research was considered the more applicable strategy for this study and it was conducted by interviews with eight agencies managers. At the end of the research analysis, the most prominent factor perceived about the travel agencies of Caruaru it was that his managers have little knowledge about the customer loyalty literature and the general conception of these persons is that the client is loyal just when he goes into the store and buys a product. Key-words: Customer Loyalty; Relationship Marketing; Travel Agency. 1 Introdução Na indústria do turismo, o principal canal de distribuição que leva o produto ao consumidor final são as agências de viagem (ANDRADE, 2002). Mesmo com o desenvolvimento da ¹ Graduada em Turismo e Graduanda em Administração pela Universidade Federal de Pernambuco ² Professor do Curso de Administração do Centro Acadêmico do Agreste da Universidade Federal de Pernambuco. Bacharel em Administração e Mestre em Engenharia de Produção pela UFPE 2 Tecnologia da Informação (TI), que permite maior acesso dos clientes aos fornecedores, essas empresas ainda constituem a preferência dos clientes para o planejamento de suas viagens. Entretanto, as empresas do setor de agências têm sofrido algumas mudanças para garantir sua sobrevivência no mercado. Uma dessas mudanças requer maior dedicação ao cliente, estratégia que pode ser a chave para estas organizações enfrentarem o ambiente conturbado do mercado globalizado. Tendo em vista uma maior interação entre a empresa e o consumidor, o marketing de relacionamento surge como uma ferramenta para possibilitar esse elo e acentuar a lealdade do cliente. Nesse sentido, diante da importância em reter o comprador, este estudo visa conhecer a opinião dos gestores de agências de viagem sobre o processo de fidelização do cliente. A pesquisa procurou estudar o mercado de agências de viagens da cidade de Caruaru, situada na região do Agreste pernambucano, dentro dos parâmetros das teorias de Marketing de Relacionamento. Entretanto, o estudo limitou-se a investigar a gestão destas agências focando apenas um dos elementos que compõem o Marketing de Relacionamento, a opinião dos gestores das agências de viagem de Caruaru/PE quanto ao processo de fidelização do cliente. O interesse do trabalho abrange as empresas que têm sua atuação principal no mercado de agências voltada à comercialização de pacotes turísticos. Como fator de restrição, foram eliminadas empresas com período menor que um ano de funcionamento, por se considerar que assim a organização já está consolidada no mercado, tomando-se como referência o período em que foi feita a coleta dos dados junto aos gestores, entre janeiro e fevereiro de 2007. Por serem empresas tipicamente varejistas, as agências de viagem têm enfrentado sérios problemas com seus fornecedores, principalmente nos setores aéreo e hoteleiro. Esses setores estão cada vez mais aperfeiçoando os sistemas de reserva por meio de seus Web Sites, oferecendo mais informações e maior grau de segurança aos usuários. Isso tem feito com que boa parte das empresas fornecedoras exponha seus produtos diretamente aos consumidores, eliminando ao máximo a interferência dos intermediários, os varejistas, no caso em estudo, as agências de viagem. Outro fator que também tem provocado inquietações no mercado de agências são as medidas estratégicas dos fornecedores, em especial, das companhias aéreas. Mudanças recentes ocorridas no processo de comissionamento de algumas companhias aéreas estão reduzindo a taxa da comissão repassada às agências de viagem sobre as vendas operadas por essas empresas e, consequentemente, diminuindo sua receita. Além disso, inovações no processo de distribuição das passagens aéreas, como por exemplo, a proposta da empresa GOL em ofertar tarifas por meio de leilão online (MARTINS NETO, 2006), também representa uma ameaça às agências de viagem. Os fatores apontados provocam mudanças nos procedimentos das empresas que atendem ao consumidor do turismo. Beni (2003) alerta os agentes de viagem para uma nova realidade no setor de viagem: diversificação e lançamento de novos produtos; melhoria na qualidade dos serviços prestados ao cliente; exigência de profissionais cada vez mais capacitados; redução de custos operacionais; customização e fidelização. São exigências essenciais para a sobrevivência das empresas que pretendem atuar junto às novas tendências do mercado turístico, de forma especial do mercado das agências de viagem. Destarte, destaca-se, na confecção deste estudo, que a manutenção dos relacionamentos pode ser trabalhada por meio de fidelização do cliente. Portanto, diante das novas tendências propostas pelo mercado das agências de viagem, a pergunta que orienta os objetivos desta pesquisa é: Como os gestores de agências de viagem da cidade de Caruaru/PE percebem o fenômeno Fidelização do Cliente na atualidade? 3 Visando sua permanência no mercado, as agências vêm tomando algumas medidas na busca de soluções para conquistar e reter maior número de clientes. Uma dessas medidas é a tentativa de conhecer e entender melhor o que torna seu cliente satisfeito e assim mantê-lo fiel por mais tempo. A maioria dos estudos referentes à fidelização do cliente tem seu foco voltado para a satisfação do consumidor, ou seja, estes estudos buscam a melhoria na qualidade das estratégias de fidelização por meio da investigação dos efeitos que estas estratégias provocam no consumidor final (BATESON; HOFFMAN, 2001; NDUBISI, 2005; LEVERING; LILJANDER, 2006; VAVRA, 2006). Entretanto, há poucos estudos abordando o processo de fidelização do cliente no ponto de vista da percepção do gestor. Portanto, é esse o foco deste estudo. Caruaru é uma das cidades que mais cresce na Região Agreste de Pernambuco. Os setores de comércio, indústria (principalmente construção civil) e serviços são os que mais se destacam na geração de emprego e renda na cidade. Além disso, Caruaru, junto a Santa Cruz do Capibaribe e Toritama, forma o segundo maior pólo de confecções do país, gerando uma receita média anual de R$ 1,6 bilhão para a região (CARUARU..., 2007). Todas essas características econômicas revelam um grande potencial para o turismo emissivo em Caruaru/PE, ou seja, contribuem para maior poder aquisitivo da população, possibilitando maior renda disponível para o investimento em viagem e lazer. Tendo por base o crescimento econômico em Caruaru/PE, a pesquisa se faz relevante pela carência de estudos sobre marketing na região, principalmente sobre temas que abordem marketing de relacionamento e fidelização do cliente. Nesse sentido, também é relevante analisar o contexto das agências a partir de um foco diferente do que comumente é estudado por pesquisadores de Marketing: o estudo da fidelização do cliente na concepção dos gestores. Por isso, a maior contribuição relativa a este estudo está na identificação do conhecimento do gestor a respeito do que é e de como podem ser formatadas as ferramentas de fidelização do cliente. Tal informação se torna relevante devido ao fato de que, para a gerência investir em estratégias com o intuito de tornar sua empresa mais competitiva, é prioritariamente necessário que essa gestão esteja consciente do que é importante para a empresa, assim como também precisa saber qual a forma correta de aplicar suas estratégias de ação. Este é, portanto, um estudo que pode gerar interesse para empresas atuantes da cidade de Caruaru/PE, além de contribuir para pesquisadores da área de Marketing que queiram investir em estudos da fidelização do cliente tendo como foco a perspectiva dos gestores sobre o processo de fidelização. 2 Agências de viagens As agências de viagem representam o canal de distribuição do turismo, servindo como um intermediário nas transações comerciais do setor. É o tipo de empreendimento que une os fornecedores – empreendimentos hoteleiros, companhias de transporte, locadoras, serviços de guias, restaurantes etc. – aos consumidores dessa atividade – os turistas (GOELDNER et alii, 2002). Apesar de a atividade turística ser enquadrada no setor de prestação de serviços (SERVIÇO..., 2007a) as agências de viagem, do ponto de vista empresarial, podem ser consideradas o setor varejista do ramo turístico. Para Cobra (1992, p. 504) “os varejistas são, ao mesmo tempo, a fonte de energia de seus fornecedores e o agente de compra para seus clientes”. São as agências que comercializam e contribuem para a divulgação dos destinos turísticos e fornecem as facilidades e a comodidade requerida pelos turistas, antes, durante e após a sua viagem. Torre (1990) alega que essas empresas podem ser definidas como um agente intermediário ativo entre viajantes e prestadores de serviços, com a finalidade de obter lucro. 4 Assim, podemos concluir que as agências de viagem, como descrito anteriormente, são empresas varejistas, enquanto que as operadoras turísticas são atacadistas. Goeldner et alii (2002) afirmam que “a operadora turística monta um roteiro e todos os seus componentes, vendendo-os por intermédio de sua companhia, de pontos de venda no varejo e/ou de agências de turismo aprovadas”. O Ministério do Turismo (MTUR) classifica assim agências e operadoras (BRASIL, 2006): • Agência de Viagem: são as agências que revendem excursões diretamente ao consumidor final e prestam serviços avulsos, tais como venda de passagens, reservas de hospedagem, city tours etc. Operadoras Turísticas: são empresas que montam pacotes turísticos e os vendem no atacado através das agências de viagens, que os revendem ao consumidor final. As operadoras turísticas têm como característica a venda de roteiros por atacado (GOELDNER et alii, 2002) e restringem-se “às funções de criadoras de programas e fornecedoras de pacotes e planejamentos a serem comercializados pelas agências de viagens” (ANDRADE, 2002, p. 194). Algumas operadoras, além de atacadistas, também desempenham papel de varejista por meio de lojas (agências próprias) que fornecem o produto diretamente aos consumidores. • Já às agências de viagem, segundo Beni (2003, p. 191), cabe a “função de facilitar e resolver todos os problemas dos turistas a fim de que possam realizar suas viagens de maneira mais satisfatória possível”. Para o mesmo autor, a atuação dessas empresas no mercado baseia-se no assessoramento ao turista sobre informações de sua viagem; na organização dos serviços que serão comercializados para que estejam de acordo com os desejos dos clientes; e na promoção da localidade à qual o turista se destina e dos demais serviços que os mesmos pretendem consumir. 3. Marketing de relacionamento, fidelização e satisfação de cliente Até a década de 1990, o marketing era desenvolvido como um setor à parte dos demais departamentos da empresa. No marketing tradicional, as estratégias envolviam ações consideradas pela nova era do marketing lentas e irresponsáveis, pois partiam de uma idéia sobre a qual era feita a pesquisa de marketing, para depois ser desenvolvido e testado o produto (MCKENNA, 1992b). Após todas as etapas do processo, o produto era implementado no mercado para passar pela aceitação do consumidor. Com a dinamicidade das mudanças ocorridas no mercado, o modelo do marketing tradicional torna mais difícil a competitividade das empresas, tendo em vista a dificuldade das mesmas em acompanhar as rápidas mudanças nos desejos e necessidades dos clientes. Por essa razão, sugere McKenna (1992b), o melhor caminho para as companhias é encontrar maneiras de integrar o consumidor à organização, por meio da criação e manutenção de programas de relacionamento da empresa junto a seu cliente. Essa integração promovida pelo empreendimento remete a um melhor entendimento do perfil dos clientes e ao menor custo de estratégias de marketing para o desempenho dos produtos. Ou seja, quanto maior o elo entre a empresa e o seu público, maiores as chances de maximizar suas estratégias para a retenção do cliente. O mercado das agências de viagem é bastante competitivo, o que torna mais difícil a retenção do cliente. Para uma agência de viagem aumentar sua competitividade, ela necessita não apenas ter um bom atendimento, mas também uma vasta preparação para se sobressair nas mais diversas ocasiões de incerteza impostas pela dinamicidade do mercado. De acordo com Kotler (2000, p. 78), “vantagem competitiva é a capacidade de uma empresa apresentar um 5 desempenho em um ou mais itens que os concorrentes não podem alcançar”. No turismo, alguns estudos revelam a relação entre o marketing de relacionamento e o uso da tecnologia. Tanto Luck e Lancaster (2003) como Michels e Bower (2005) descobriram que atualmente as ferramentas tecnológicas ainda não fazem parte das estratégias de fidelização. Entretanto, essas ferramentas são prioritariamente utilizadas para obter informações sobre os clientes ou para divulgação de produtos e promoções via internet e e-mails, no intuito de se obter um estratégia de diferenciação perante os concorrentes. O marketing com banco de dados, assim chamado por Peppers e Rogers (1994), é frequentemente utilizado para identificar os diferentes tipos de clientes que a organização possui. Empresas como companhias aéreas costumam utilizar bancos de dados para diferenciar seus clientes mais valiosos dos menos valiosos e assim projetar programas de fidelização diferenciados a cada tipo de público (PEPPERS; ROGERS, 1994). Um banco de dados, para Aaker et alii (2004), é uma ferramenta valiosa para a pesquisa de mercado. Ele pode fornecer informações à empresa de forma a categorizar os clientes atuais e os potenciais em diversos grupos, buscando entender o que motiva os consumidores de cada um desses grupos a comprar na empresa. Entretanto, Bogmann (2002) alerta para o fato das empresas confundirem um banco de dados com uma simples lista de clientes. O marketing de relacionamento, mediado por um banco de dados compatível com as metas da empresa, permite, portanto, fornecer maiores benefícios aos clientes, o que pode acentuar a satisfação e a conseqüente fidelização dos mesmos. Alguns autores costumam conceituar o marketing de relacionamento como a forma de compreender seus clientes e corresponder as suas expectativas. Para Kotler (2000, p. 71), a atividade de criar fidelidade de clientes chamase marketing de relacionamento. O marketing de relacionamento abrange todas as etapas que as empresas cumprem para conhecer melhor seus clientes de valor e atendê-los também de maneira melhor. Numa visão mais econômica, o marketing de relacionamento pode contribuir para a diminuição dos custos operacionais das organizações. Para uma empresa, o custo de atrair um novo cliente representa gastos cerca de cinco vezes a mais que as despesas gastas para a manutenção de um cliente atual (LOVELOCK; WRIGHT, 2001; BATESON; HOFFMAN, 2001). Fidelizar também traz benefícios de médio a longo prazo para as empresas, pois retém o cliente por mais tempo como comprador, promovendo vantagens diante da concorrência. Quando as organizações mantém ou aumentam suas taxas de retenção do cliente ao longo dos anos, o esforço dos profissionais de marketing para atrair novos clientes se torna mais lucrativo. Dessa forma, os rendimentos da empresa são multiplicados, pois a manutenção dos clientes já existentes e a soma dos clientes novos geram rendimentos muito mais vantajosos (BATESON; HOFFMAN, 2001). A divulgação é uma ferramenta que ajuda na interação da empresa com o cliente e pode ser eficaz no processo de fidelização. De acordo com Shimp (2002), para obter a lealdade do comprador, é necessário fornecer uma marca que atenda às suas necessidades e anunciar essa marca no intuito de reforçar as crenças e atitudes do cliente diante da organização. Nesse sentido, quanto mais leal o cliente se torna, mais ele vem a ser um “advogado” da empresa, pois contribui para a disseminação positiva por meio da propaganda “boca-a-boca”, encorajando amigos e conhecidos a comparem também junto à empresa (VAVRA, 2006). A fidelização do cliente está intimamente ligada a sua satisfação com os produtos ou serviços da empresa. Segundo Bateson e Hoffman (2001), a taxa de retenção, em parte, é determinada pela satisfação do cliente. Um indivíduo que tem suas expectativas alcançadas pelo consumo 6 de um produto ou serviço adquirido tem maior probabilidade de repetir uma compra com a mesma empresa ou a mesma marca, enquanto que um cliente insatisfeito está altamente propenso a escolher a concorrência. Embora o estado de satisfação do cliente não garanta a sua fidelidade, atender às expectativas é o mínimo que uma empresa pode fazer para não deixar seu cliente insatisfeito. Em mercados mais dinâmicos, onde as inovações em produtos ou serviços ocorrem de forma mais rápida, as gestões das empresas inseridas neste setor devem estar atentas às tendências do mercado (MCKENNA, 1987). Dessa forma, o autor alega que os gestores devem identificar rapidamente as reações do mercado e ajustar seus produtos ou serviços antes que os seus concorrentes surjam com as soluções e exponha-as aos seus clientes. No caso das agências de viagem, conforme descrito anteriormente, o mercado é bastante competitivo, o que torna mais difícil a retenção do cliente. Com base no estudo mencionado por Bateson e Hoffman (2001), empresas do setor de varejo – no qual se enquadram as agências de viagem – são mais vulneráveis à instabilidade dos clientes, pois possuem baixa diferenciação dos seus produtos, concorrem com vários substitutos e enfrentam indiferença do consumidor sob baixo custo de mudança para a concorrência. Devido ao caráter intangível do produto turístico, a competitividade de uma agência de viagem cresce na medida em que é maior o valor agregado ao produto ou serviço. Nesse caso, os lucros são mais rentáveis por meio da qualidade e da personalização do atendimento, do que propriamente por meio do volume de vendas da empresa. Portanto, a fidelização do cliente pode estar atrelada a sua satisfação. Não resta dúvida de que para manter o cliente fiel, a empresa necessita investir em estratégias que permitam maior aproximação da empresa com o seu público-alvo, visando conhecer melhor suas necessidades e expectativas. Dessa forma, a segmentação de mercado é uma ferramenta importante no processo de fidelização do cliente, pois promove a categorização do público da empresa e permite maior possibilidade de lhe oferecer benefícios correspondentes às suas expectativas, o que torna mais palpável atingir sua satisfação, aumentando também as chances da empresa em reter o cliente. 4 Aspectos metodológicos Para seguir os passos que possibilitaram o desenvolvimento dessa pesquisa, procedimentos metodológicos foram traçados no intuito de obedecer a uma lógica de investigação. A metodologia adotada para este estudo teve por base a estratégia exploratória/qualitativa, enquanto rumo da pesquisa. Trata-se de um estudo exploratório, porque procurou-se, então, obter uma visão geral sobre a gestão das agências de viagem, suas características e sobre como seu gestor entende o que vem a ser o seu relacionamento com seus clientes. Nesse sentido, frisa-se que há poucos estudos abordando o processo de fidelização do cliente sob o ponto de vista da percepção do gestor. Por esses fatores elencados, podemos concluir que o estudo é exploratório nessas vertentes do conhecimento. Somado a esses fatores, temos o de que ele ocorreu em uma cidade pólo do agreste pernambucano, em Caruaru. A pesquisa é de caráter qualitativo em decorrência do fato de não ter tido a pretensão de ser realizada sob análises estatísticas para tratamento dos dados coletados. Além do mais, o quantitativo de agências presentes em Caruaru impede a concretização de técnicas deste tipo. Para Bauer et alii (2002, p. 21), a pesquisa qualitativa evita números e lida com interpretações das realidades sociais, interessando-se “na maneira como as pessoas espontaneamente se expressam e falam sobre o que é importante para elas e como elas pensam sobre suas ações e as dos outros”. O estudo teórico teve início com a revisão da literatura referente ao turismo e às agências de 7 viagem. Foram vistos também temas sobre o papel dessas empresas no mercado e a forma como as mesmas estão lidando com as inovações tecnológicas. O embasamento teórico ocorreu por meio de revisão bibliográfica contemplando áreas relacionadas ao Marketing de Serviços, como Marketing de Relacionamento e Fidelização do Cliente; Competitividade; Gestão de Pequenos Empreendimentos. O banco de dados da Capes, com seus trabalhos, serviu não apenas para compor o referencial teórico da pesquisa, como também serviu de base para elaboração dos instrumentos utilizados na coleta de dados. Após a revisão do marco teórico proposto nesses trabalhos, consolidou-se o referencial bibliográfico da presente pesquisa, conduzindo aos trabalhos de campo. Orientando-se pela estratégia exploratório-qualitativa, a pesquisa de campo foi composta por duas etapas. Na primeira etapa foram consultadas todas as agências de viagem de Caruaru/PE incluídas na amostra. Esta etapa teve como objetivo o levantamento de informações gerais sobre as empresas que atuavam no ramo de agências de viagem na cidade. Ao todo foram identificadas oito agências de viagem para participar da amostra deste estudo. Seis delas foram logo identificadas por meio do seu registro no Ministério do Turismo e as duas restantes foram descobertas ao longo da pesquisa de campo. Para a segunda etapa da pesquisa de campo, foi escolhida uma das empresas que melhor refletisse a realidade do mercado de agências de viagem da cidade. O intuito foi direcionar uma investigação mais aprofundada sobre seus aspectos operacionais e sobre a opinião e o conhecimento da sua gestão em relação às ações de fidelização do cliente da empresa. Junto à gestão da empresa selecionada, foi realizada entrevista individual do tipo semi-estruturada (AAKER et alii, 2004), com o intuito de se obter dados e opiniões relevantes para o objetivo do estudo, por meio de conversação. O instrumento de coleta de dados utilizado na primeira etapa com as agências de viagem de Caruaru/PE caracterizou-se pela aplicação de entrevistas pessoais (COOPER; SCHINDLER, 2003) junto aos gestores ou, como ocorreu em um único caso, outros funcionários destas empresas. O material utilizado para orientar a condução das entrevistas foi um roteiro contendo questões fechadas e abertas referentes aos dados das empresas e à opinião dos seus gestores sobre fidelização do cliente, respectivamente. A fidelização foi enfocada devido às mudanças no mercado que as estão afetando, diante da venda direta de seus fornecedores, especialmente companhias aéreas, ao cliente final. As entrevistas serviram como uma sondagem da conjuntura das agências de viagens caruaruenses, como um ponto de partida para a escolha do caso típico para estudo posterior, de forma mais aprofundada. Para o segundo encontro, foi preparado um roteiro de entrevista pessoal (COOPER; SCHINDLER, 2003) para ser aplicado junto à gestão da agência de viagem selecionada. O material foi formulado em quatro blocos, contendo questões referentes aos aspectos operacionais da empresa, o perfil do seu cliente e questões com abrangência sobre o conhecimento e a opinião de sua gestão a respeito de como é o gerenciamento de mercado. O registro das respostas foi feito por meio da utilização de um aparelho gravador de áudio portátil, com a prévia ciência e autorização do respondente. Após a coleta, o material foi transcrito respeitando-se os aspectos da fala, segundo recomenda Myers (2002), o que facilita o processo de análise dos dados. 5. Análise dos dados da primeira etapa da pesquisa de campo As agências de viagem de Caruaru aqui pesquisadas, na sua maioria, são caracterizadas como empresas do tipo familiar (SERVIÇO..., 2007b). Somente duas das oito estudadas não se enquadram nessa categoria e seus donos não têm parentesco com sócios ou funcionários. Das seis empresas familiares, três delas são representadas por uma sociedade entre casal e duas pela sociedade entre mãe e filha. A outra pertence a uma única dona, mas tem como 8 funcionários da empresa parentes próximos. Em geral, a estrutura física das agências é pequena e pouco aparelhada para venda de pacotes turísticos. Em média, são apenas duas mesas disponíveis para funcionários, uma a fim de que seja efetuado atendimento ao público e outra reservada para a gestão. Nem todas possuem banco de dados para cadastro de clientes e poucas são as que utilizam sistema de reservas online, por meio das operadoras turísticas. O mercado de agências de Caruaru tem crescido nos últimos anos. Quatro das agências estudadas foram fundadas entre os anos 2000 e 2005, isto sem considerar duas empresas inauguradas em 2006 (identificadas no Sistema de Cadastro de Prestadores de Serviços Turísticos — CADASTUR) e que não foram incluídas na amostra para este estudo. As demais ingressaram no mercado no início da década de 1990. Nas mais antigas o número de funcionários é maior, variando entre cinco e dez funcionários. A média das outras é de quatro pessoas trabalhando, contando com seus gestores, que, na sua maioria, trata-se do dono ou de um membro da família do fundador. Nenhuma das agências possui estacionamento próprio e a maioria localiza-se no centro de Caruaru, próxima ao comércio, o que dificulta o acesso do comprador que vai de carro. Entretanto, segundo alguns entrevistados, a localização central é importante porque o comércio de Caruaru recebe muitos comerciantes e empresários provenientes da região e de cidades vizinhas, o que representa uma demanda relevante para as agências. Em contrapartida, os próprios gestores reconhecem que esse tipo de público geralmente está interessado apenas em passagens aéreas, o que faz compreender o baixo faturamento de algumas empresas. As comissões geradas por vendas de passagens aéreas estão cada vez mais sendo reduzidas pelos fornecedores, o que significa uma ameaça a estas empresas. Destarte, pode-se inferir que o mercado já está maduro e a estratégia volta-se para a competitividade de custo (MARTIN; STAINES, 1994). Quando em visita às lojas, pôde-se perceber, de fato, que a freqüência de pessoas interessadas em passagens aéreas é superior à de pessoas interessadas em pacotes turísticos. Isso pode ser afirmado, visto que, no momento das entrevistas, em todas as agências, havia pelo menos um cliente à procura de passagem aérea sendo atendido. E, ainda, o destino procurado, ressalta-se, em todas as lojas, era para São Paulo/SP. O Quadro 1 apresenta algumas características das empresas estudadas. Para melhor entendimento, a nomenclatura adotada para identificação das agências foi de A1 a A8. Empresa Ano de fundação A1 A2 A3 A4 2001 1996 1992 2005 Quantidade de funcionários* 04 10 07 04 A5 2000 05 A7 1986 (antiga gestão) 1994 (gestão atual) 2005 A8 1994 A6 Público-alvo Empresários e comerciantes. Classe A. Empresários. Todo tipo de público. Empresários (formais e informais). Faturamento mensal R$ 50 mil R$ 250 a 350 mil R$ 50 mil R$ 50 mil R$ 30 mil 07 Todo tipo de público. Não informado. 03 Jovens entre 20 e 40 anos. Comerciantes e empresas públicas e privadas. R$ 3 mil 05 R$ 100 a 130 mil Quadro 1 – Características das agências pesquisadas Fonte: Dados fornecidos pelas 08 agências de viagem entrevistadas em janeiro de 2007. *Inclui donos e sócios. Em quase todos os estabelecimentos os gestores participam ativamente das atividades 9 operacionais da empresa e, inclusive, contribuem também para o atendimento ao público. Com exceção da agência “A4”, que demonstrou ter uma gestão fragmentada, cujo dono não freqüenta a loja, tendo em vista o que declarou um dos seus funcionários: “o dono não vem aqui não. O dono é só de fachada. Aqui trabalha cada um por si (...)”. Neste caso, são os próprios funcionários que gerenciam suas ações, cada qual a seu modo, sem a supervisão de um gestor. Apesar de as oito agências trabalharem com todo tipo de produto turístico, a A3 se mostrou um pouco mais específica em seus pacotes. Nesta agência, o ponto forte é a venda de excursões rodoviárias (apenas com serviços terrestres) e rodoaéreas (incluindo serviços terrestres e transporte aéreo). Para o gerente da loja, essas excursões são uma vantagem para a empresa diante dos seus concorrentes, pois são pacotes menores e mais baratos com destinos para dentro do estado de Pernambuco ou cidades próximas do Nordeste. A agência A6 também opera de forma semelhante, embora o tipo de público para esses pacotes seja diferente. A empresa costuma promover excursões para destinações de caráter religioso, tendo como principal alvo o público mais velho e que freqüenta celebrações religiosas. Nem todas as agências são a favor das excursões em grupo. A gestora da empresa A5 declarou não se interessar em trabalhar com pacotes rodoviários, pois requer muito esforço por parte dos funcionários e o retorno não é compensador. Segundo ela, o foco da empresa são pacotes turísticos nacionais e internacionais, para clientes individuais ou em família. O que se percebe no mercado das agências de viagem de Caruaru é que os nichos de mercado não são evidentes ao ponto de tornar cada uma ou um grupo dessas agências como especialista em determinado tipo de negócio. Supõe-se que isso ocorra porque elas não têm um planejamento de ações para o desempenho operacional. Ou seja, elas trabalham em função da demanda e comercializam praticamente todo tipo de produto, para todo tipo de público, sem se especializar em serviços específicos. Na verdade, o que se percebe é a prática de uma visão antiga do marketing, denominada por McKenna (1987) como market-share mentality. Ou seja, as empresas ingressam em um mercado já estabelecido na tentativa de conquistar uma fatia desse mercado. Para o autor, as empresas, no marketing atual, deveriam focar em estratégias para criar novos mercados e não retaliar ambientes já estabelecidos. De forma geral, os entrevistados reconhecem que todas as agências de Caruaru comercializam praticamente os mesmos produtos, pelo mesmo valor, e que o que diferencia umas das outras são os benefícios que a empresa oferece ao cliente. Talvez pelo fato de acreditarem que a redução de preço é uma estratégia para reter o cliente, alguns entrevistados revelaram oferecer desconto a clientes que compram com freqüência na agência. Essa pode ser uma estratégia perigosa e tende a ter efeito de curto prazo, pois, se o sujeito compra na empresa por ela lhe oferecer descontos sobre o valor do produto, maiores são as chances dele optar pela concorrência quando outra empresa oferecer preços mais baixos, ou benefícios mais vantajosos. A ação de oferecer descontos durante as vendas pode estar associada à opinião de alguns gestores sobre como procedem os seus concorrentes. Ao se perguntar: “o que seus concorrentes fazem para fidelizar seus clientes?”, boa parte respondeu que algumas agências em Caruaru “baixam o preço do produto e tiram a comissão do agente”. Ou seja, reduzem o lucro da loja, ou o rendimento do funcionário, em função de prender o cliente oferecendo a ele um preço menor que o das demais agências. 10 Embora não tenha sido comprovada a estratégia de desconto no valor do produto por meio da redução da comissão do agente de viagem, o estudo alerta para um possível descaso dos gestores com a qualidade de vida de seus funcionários dentro da empresa. Nesse sentido, caso haja de fato agências de viagem em Caruaru que trabalhem com a idéia de tirar os benefícios dos agentes para promover maior satisfação do cliente, estas empresas podem estar cometendo um sério engano, que pode até comprometer a sobrevivência delas no mercado. Segundo Bogmann (2002, p. 40-41), “o nível de satisfação dos clientes internos é um importante indicador dos esforços da empresa no sentido de melhorar a satisfação dos clientes externos e o desempenho operacional”. Para alcançar a fidelização do cliente a empresa precisa estar disposta a investir nas condições de trabalho e remuneração do seu funcionário, para que ele, o cliente interno, esteja satisfeito com seu papel dentro da organização e repasse com qualidade aos consumidores as vantagens e benefícios oferecidos pelo empreendimento. Ao contrário das suposições feitas sobre algumas agências, foi identificado na agência “A6” um maior comprometimento da gestão com a valorização dos seus funcionários. Em entrevista com a dona, foi identificado que todos trabalham na loja num tempo compreendido entre dez e vinte e quatro anos. Isso é um indicador de que a empresa preserva seus funcionários e também de que eles se sentem satisfeitos com seu ambiente de trabalho. Essa atitude corrobora com os ensinamentos de Martin e Staines (1994) quando dizem que a habilidade do funcionário é fator chave em organizações de alto contato com seus clientes. Um fato interessante percebido na agência “A1” foi a estratégia utilizada pela gestora para fazer com que seus clientes retornem à loja. Em entrevista com a dona foi revelado que sua principal forma de fidelizar o cliente é pela amizade. Ou seja, a entrevistada afirmou que ela cria um vínculo de amizade com seus clientes, transformando as relações comerciais em um relacionamento mais intensivo e pessoal. Segundo seu relato, “os clientes são mais que clientes, são meus amigos, freqüentam minha casa”. Com essa estratégia, a empresa mantém 80% dos seus clientes fiéis. 6. Análise dos Dados da Segunda Etapa da Pesquisa de Campo A Agência “A2” foi selecionada para um aprofundamento por ser a empresa mais bem estruturada, com faturamento maior que a média das demais agências, e por manter seu foco maior voltado para comercialização de pacotes turísticos. A agência se caracteriza como uma empresa do tipo familiar (SERVIÇO..., 2007b). Sua gestão é toda formada por membros da mesma família, compondo dois cargos de diretoria e dois de gerência administrativa. Um gerente administrativo é casado com uma das diretoras, a qual é irmã do outro gerente e sócia da mãe, também diretora. Quatro anos antes da fundação da empresa, a atual diretora já trabalhava no setor de viagens na cidade de Caruaru /PE, promovendo excursões rodoviárias para conhecidos. O seu negócio começou a crescer a se se aperfeiçoar no mercado. Foi quando, em 1996, a Agência A2 foi fundada e passou a vigorar oficialmente no mercado de agências de viagem. Atualmente, a empresa possui seis funcionários trabalhando para o atendimento ao cliente, além dos quatro membros de sua gestão, totalizando dez pessoas. Seu campo de atuação abrange toda a região de Caruaru e cidades no interior de Pernambuco. A empresa possui apenas uma loja, que fica localizada em um bairro nobre da cidade. Para suprir a demanda das localidades próximas a Caruaru, a agência dispõe de representantes de vendas nas cidades de Garanhuns, Cachoeirinha e Surubim, todas situadas na região do agreste pernambucano. Segundo relatou o gerente, a empresa está programada para abrir uma loja filial na cidade de Santa Cruz do Capibaribe, ainda em 2007, e projeta para 2008 abrir duas novas lojas, uma na 11 cidade de Garanhuns e outra no centro de Caruaru (1). Os motivos que levam a empresa a expandir seu negócio são o aumento da demanda, principalmente das cidades vizinhas, e a diversificação do seu público, na própria cidade de Caruaru. Desta forma, diversificando seu público, por meio da implantação de uma nova loja no centro da cidade, a empresa corre o risco de confundir a percepção de marca do seu cliente sobre o tipo de empresa que a agência representa. De acordo com Grönroos (2003, p. 357), valor de marca é a percepção pelo cliente de quão valioso é para ele um dado bem, serviço ou solução em comparação com outras alternativas. Se o valor da marca declinar com o tempo, o cliente estará mais aberto a outras soluções e mais interessado em mensagens de comunicação de outras empresas. A agência, portanto, ao implementar suas filiais tanto em Caruaru como nas outras cidades de interesse mercadológico, precisa desenvolver estratégias de marketing que favoreçam a imagem de sua marca. Caso contrário, a empresa poderá correr o risco de perder clientes importantes, caso haja mudança de foco da empresa. Apesar de o foco maior da agência ser para a venda de pacotes turísticos, por meio da entrevista junto ao seu gerente administrativo, foi identificado que o produto mais procurado por seus clientes são passagens aéreas. Entretanto, a agência, diferentemente das demais agências da cidade, sempre vende bilhetes aéreos atrelados à hospedagem. A divulgação dos produtos da agência é feita através de folhetos, jornal local, site na Internet e, principalmente, propaganda boca-a-boca. Percebeu-se, por meio da entrevista. que a indicação de amigos ou parentes é a forma de divulgação que mais atrai novos clientes. Outros tipos de divulgação, como a entrega de folhetos em pontos estratégicos contendo novidades e promoções, também são utilizados, tanto para atrair novos clientes como para chamar a atenção de consumidores antigos. Quanto à utilização da Internet, o entrevistado afirmou que essa ferramenta é fundamental para o funcionamento dos processos da empresa. Toda a parte operacional da agência é feita por meio da Web, a partir do contato com as operadoras de Recife que fornecem seus produtos, isto é, todo sistema de reservas e confirmação de transações são feitos online. Apesar disso, a empresa não utiliza a Internet para fazer transações com seus clientes. O site da agência serve como um veículo de divulgação dos produtos ou serviços oferecidos e disponibiliza o e-mail da organização para solicitação de informações e orçamentos de viagem. Essa realidade é compatível com os estudos feitos por Longhini, Poggi e Borges (2005) e Bennett e Lai (2005), citados no referencial teórico dessa pesquisa, que afirmam que a maioria das agências utiliza seus sites na Internet como meio de divulgação da empresa. Sua gestão não dispõe de um plano de marketing específico, direcionado ao marketing de relacionamento ou que contenha ferramentas de fidelização, o que revela o pouco conhecimento teórico da gestão sobre o tema. Por mês, uma média de 70 a 80 por cento das pessoas que compram na loja são clientes cadastrados na empresa, ou seja, são pessoas que já compraram alguma vez na agência. O percentual restante, que chega pela primeira vez na empresa, geralmente, relatou o gerente, toma conhecimento da loja por indicação de parentes ou conhecidos. Esse relato indica que a empresa possui clientes bastante satisfeitos no mercado a ponto de fazer propaganda boca-a-boca de forma positiva (GRÖNROOS, 2003). Na opinião do gestor, os clientes optam por comprar na empresa não pelos produtos oferecidos em si, mas pela qualidade do atendimento e pela forma de pagamento disponível, 1 Os autores ressaltam o fato de que a pesquisa de campo foi realizada no primeiro bimestre de 2007. No entanto, em janeiro de 2008, foi verificado que as duas outras filiais, a do município de Santa Cruz do Capibaribe e a outra localizada no centro de Caruaru, foram implementadas. 12 como foi mencionado por ele: o diferencial entre uma agência e outra é o atendimento que você dá e a forma de pagamento que também você passa pra eles. (...) Cada empresa tem um capital. Quando ela tem um capital maior, ela tem condição de bancar um prazo maior para o cliente, ou oferecer uma forma de pagamento diferente. Quando perguntado sobre que estratégias a empresa utiliza para estimular sua recompra, o respondente também informou que é o atendimento diferenciado e o prazo de pagamento oferecido ao cliente. Outras ferramentas também utilizadas foram identificadas em outros momentos da entrevista, como a distribuição de brindes como camisas e bolsas ou benefícios como upgrade em hotéis (quando o cliente é beneficiado com um serviço de categoria maior a do que foi contratado). Uma outra ferramenta é utilizada para aumentar a satisfação do cliente com a empresa. A agência possui um sistema de cadastro que informa diariamente os clientes aniversariantes do dia. Dessa forma, torna-se possível os funcionários enviarem cartões postais da empresa saudando seus clientes na data do aniversário. Para o entrevistado, a empresa atende às expectativas do seu cliente, salvo situações em que o fornecedor não cumpre ou falha em suas tarefas. Quando isso ocorre, segundo o gerente da Agência A2, os funcionários ou os próprios gestores vão em busca de soluções na tentativa de suprir a falha ocasionada pelas empresas que prestaram serviço à agência. Assim, o entrevistado alega: “às vezes a gente não consegue suprir as necessidades dos clientes por conta dos nossos parceiros. Mas a gente faz o nosso papel!”. Na opinião do gerente administrativo da agência, o que os clientes mais valorizam na empresa é a honestidade. Segundo o gestor, a confiabilidade e a responsabilidade da empresa durante a venda são fundamentais. E ele explica: “se tiver um hotel que a diária da gente seja R$ 200,00 e que ele consiga direto no hotel por R$ 170,00, a gente prefere que ele compre lá por R$ 170,00, mas que ele não saia decepcionado com a agência”. É deste ponto de vista que o entrevistado defende: “O atendimento é fundamental”. A prestação de um atendimento com qualidade e segurança, na opinião do gestor, é uma ferramenta importante para conquistar a lealdade do seu cliente. Para ele, oferecer as melhores opções de produtos ou serviços pelos melhores preços, dentro do prazo de resposta, também contribui para a satisfação de quem compra na empresa. Entretanto, nem todas as perguntas mencionadas na entrevistas foram respondidas com êxito. Ao se perguntar “De que forma a sua empresa repassa aos funcionários as estratégias de fidelização dos clientes da agência?”, o entrevistado respondeu que a empresa distribui brindes como camisas e bolsas aos clientes. Numa segunda tentativa de obter resposta adequada à pergunta, o gerente novamente alegou a estratégia de oferecer benefícios ao comprador e não respondeu à questão sobre a forma como a empresa repassa aos seus funcionários as estratégias de fidelização. Da mesma forma ocorreu ao se perguntar se a agência possui algum plano de marketing. O respondente apontou o sistema de cadastro de clientes da empresa como sendo um programa de marketing, o que também fugiu ao tema abordado na questão levantada. Mesmo não respondendo à pergunta sobre um plano de marketing, foi possível identificar em outros momentos durante a entrevista que a gestão é organizada na preparação de materiais divulgativos. Isso se explica pelo fato de ter sido apresentado à aluna materiais impressos em fase de construção para o ano de 2008. Percebe-se que as perguntas sobre a existência de um planejamento estratégico de marketing e sobre conscientização e treinamento dos funcionários da empresa para aplicação de 13 ferramentas de fidelização não foram respondidas de forma coerente com as questões levantadas. O que se percebeu nestas situações foi o desconhecimento técnico das ferramentas de marketing abordadas nas perguntas, o que ocasionou o desvio das respostas para assuntos que não correspondiam às indagações. Pôde-se perceber, assim como nas demais agências visitadas na cidade de Caruaru/PE, que a gestão da Agência A2 não demonstrou conhecimento teórico a respeito do processo de fidelização do cliente, proposto pelo marketing de relacionamento. O conhecimento técnico revelado durante a entrevista resumiu-se à experiência vivida pela gestão no cotidiano da empresa. 7 Conclusão A maior parte das agências de viagem estudadas é caracterizada por empresas pequenas, do tipo familiar, compostas por três a dez funcionários e estruturadas para comportar o atendimento de até dois clientes simultaneamente. Pode-se perceber que as agências de Caruaru não formam nichos de mercado que as caracterizem como empreendimentos especializados em determinado tipo de negócio. Todas as agências operam com todo tipo de produto ou serviço turístico. Embora algumas tenham revelado como ponto forte o seu foco voltado à venda de pacotes específicos, essa característica não é marcante a ponto de definir a empresa em uma posição estratégica de mercado. E ainda, tal característica não representa um diferencial da empresa em relação a suas concorrentes. Sendo assim, as agências de Caruaru/PE não apresentaram características diferenciais para a diversificação ou inovação em mercados específicos. Isso ocorre com essas empresas talvez pelo perfil da demanda, seja por fatores culturais ou padrão de renda, ou, quem sabe, seja mesmo pela falta de visão estratégica dos seus gestores. Foi identificado que nenhuma empresa entrevistada possui um programa de relacionamento com o cliente, assim como também não utilizam ferramentas de fidelização como estratégia para reter o comprador. Portanto, pode-se concluir, a partir destes fatos, que os gestores das agências de viagem da cidade de Caruaru/PE pouco conhecem sobre os ensinamentos teóricos propostos por acadêmicos do marketing de relacionamento, mais especificamente sobre as ferramentas de fidelização do cliente. Entretanto, mostram-se, mesmo que de forma sutil, preocupados em deixar seu cliente satisfeito e interessados em manter relacionamento duradouro com ele. Tendo em vista a qualidade do atendimento como sendo a opinião dos gestores das agências de Caruaru sobre como fidelizar o cliente, sugere-se, então, que essas empresas invistam no treinamento dos seus funcionários, principalmente daqueles que trabalham diretamente com o atendimento ao cliente. Mas, para isso, é necessário que a empresa foque seus esforços para a satisfação do cliente. Segundo Cannie e Caplin (1994, p. 14), “embora os treinamentos possam perfeitamente fornecer ao pessoal de linha de frente as aptidões necessárias, se a administração de alto escalão não der prioridade aos clientes, muito do treinamento será desperdiçado”. Também sugere-se que a capacitação dos membros dessas agências com ensinamentos de técnicas administrativas contribui para uma melhor visão dos mesmos sobre as metas da empresa. Ou seja, essa capacitação contribui para que os funcionários entendam o que é a empresa, como se comporta o mercado em que ela atua e como sua agência pode planejar ações que a tornem mais competitiva diante da concorrência. Outra questão relevante para a qual os gestores devem atentar é sobre a utilização de um banco de dados que contenha informações detalhadas sobre os seus clientes. O banco de 14 dados nesse caso não deve ser confundido com uma simples lista de clientes, conforme discutido por Bogmann (2002). Além de nomes, endereços e telefones, o banco de dados dessas empresas poderia conter informações a respeito de comportamento de compra de seus clientes, permitindo a categorização de grupos de clientes atuais e, com isso, identificar os clientes potenciais. O marketing de banco de dados, para essas empresas, pode ser uma das ferramentas mais eficazes para aumentar sua competitividade, pois ajuda os gestores a compreender de forma mais ampla as motivações dos seus consumidores. Portando esse tipo de informações, as agências de viagem caruaruenses têm a possibilidade de aplicar estratégias de marketing adequadas a cada tipo de público e, assim, atingir com maior precisão a satisfação dos seus clientes. Por fim, para que as agências de viagem da cidade de Caruaru permaneçam por mais tempo no mercado, principalmente para se protegerem de entrantes fortes que possam vir a atuar nele, a gestão dessas agências precisa estar ciente da importância e utilidade dos programas de fidelização de clientes. Mesmo a Agência A2, que revelou nessa pesquisa utilizar ações para proporcionar maior confiança e satisfação do seu cliente, necessita investir em um plano formal de fidelização que permita maior direcionamento e controle de suas estratégias. Deixa-se aqui, então, uma sugestão para estudos futuros: verificar o perfil da demanda real e potencial da região. Isso pode contribuir para o posicionamento estratégico dessas empresas ou, até, para a criação de novos mercados. REFERÊNCIAS AAKER, D. A.; KUMAR, V.; DAY, G. S. Pesquisa de marketing. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2004. ANDRADE, J. V. Turismo: fundamentos e dimensões. 8 ed. São Paulo: Ática, 2002. BATESON, J. E. G.; HOFFMAN, K. D.. Marketing de serviços. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. BAUER, M. W.; GASKELL, G; ALLUM, N. C. Qualidade, quantidade e interesse do conhecimento: evitando confusões. In: BAUER, M. W.; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. p. 17-36. BENNETT, M. M.; LAI, C. W. K.. The impact of the internet on travel agencies in Taiwan. Tourism and hospitality research. v. 6, n. 1, nov 2005. pp. 8-23. BENI, M. C. Análise estrutural do turismo. São Paulo: Senac, 2003. BOGMANN, I. M. Marketing de relacionamento: estratégias de fidelização e suas implicações financeiras. São Paulo: Nobel, 2002. BRASIL. Ministério do Turismo. Anuário estatístico EMBRATUR. Brasília, v. 33, p.1-236 – 2004/2005. 2006. ______. Ministério do Turismo. Caracterização e dimensionamento do turismo Doméstico no Brasil: PRODETUR NE II – PRODETUR SUL. Brasília. Set, 2006. 15 CANNIE, J. K.; CAPLIN, D.. Mantendo clientes fiéis e para sempre. São Paulo: Makron Books, 1994. CARUARU: o futuro já começou. Revista negócios S.A. Disponível <http://www.revistanegocios-sa.com.br/caruaru.html>. Acesso em: 28 jan 2007. em: COBRA, M.. Administração de marketing. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1992. COOPER, D. R.; SCHINDLER, P. S.. Métodos de pesquisa em administração. 7 ed. São Paulo: Bookman, 2003. GOELDNER, C. R; RITCHIE, J. R. B.; MCINTOSH, R. W.. Turismo: Princípios, Práticas e Filosofias. 8 ed. Porto Alegre: Bookmam, 2002. GRÖNROOS, C.. Marketing: gerenciamento e serviços. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. KOTLER, P.. Administração de marketing: a edição do novo milênio. 10 ed. São Paulo: Prentice-Hall, 2000. LEVERING, A.; LILJANDER, V.. Does relationship marketing improve customer relationship satisfaction and loyalty? Marketing intelligence & planning. v. 24, n. 4, 2006, pp. 232-251. LONGHINI, F. O.; POGGI E BORGES, M.. A influência da internet no mercado turístico: um estudo de caso nas agências de viagens de Piracicaba (SP) e região. Caderno virtual de turismo. v. 5, n. 3, 2005. LOVELOCK, C.; WRIGHT, L. Serviços: marketing e gestão. São Paulo: Saraiva, 2001. LUCK, D.; LANCASTER, G.. E-CRM: customer relationship marketing in the hotel industry. Managerial auditing journal. v. 18, n. 3, 2003. pp. 213-231. MARTIN, G.; STAINES, H. Managerial Competences in Small Firmes. Journal of management development. v. 13, n. 7, pp. 23-34, 1994. MARTINS NETO, J. Urgente: GOL Linhas Aéreas. ABAV em ação. n. 541. [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <[email protected]>, em 07 dez 2006. MICHELS, N.; BOWEN, D.. The relevance of retail loyalty strategy and practice for leisure/tourism. Journal of vacation marketing. v. 11, n. 1, jan 2005. pp 5- 19. MYERS, G. Análise da conversação e da fala. In: BAUER, Martin W.; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. p. 271-292. NDUBISI, N. O.. Effect of gender on customer loyalty: a relationship marketing approach. Marketing intelligence & planning. v. 24, n. 1, 2006, pp. 48-61. PEPPERS, D.; ROGERS, M.. Marketing um a um: marketing individualizado na era do cliente. Rio de Janeiro: Elsevier, 1994. 16 SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS. Ramos de Atividade. Disponível em: < http://www.sebrae.com.br/br/parasuaempresa/ramosdeatividade.asp >. Acesso em: 23 fev 2007a. ______. Tipos de Negócios. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/br/parasuaempresa/tiposdenegocios_65.asp>. Acesso em: 23 fev 2007b. SHIMP, T. A.. Propaganda e promoção: aspectos complementares da comunicação integrada de marketing. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2002. TORRE, F. de la. Agencias de viajes y transportación. 4. ed. México D.F.: Trillas, 1990. VAVRA, T. G.. The advantages of aftermarketing. The american salesman. v. 51, n. 6, jun 2006, pp. 24-29.