O ambiente como vitrine A comunicação ambiental tornou

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O ambiente como vitrine
Graça Lara (*)
A comunicação ambiental tornou- se nos últimos anos parte estratégica e de grande relevância
dentro do planejamento da comunicação corporativa das empresas. Entre seus objetivos mais
importantes, está a otimização dos resultados obtidos a partir da instalação de sistemas de
gestão ambiental nas indústrias.
O tema ganhou força nos últimos anos, principalmente, como resultado da necessidade de
aumentar o acesso à informação ambiental. Na Agenda 21, por exemplo, principal documento
elaborado durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a
Rio 92, um dos princípios é de que "o desenvolvimento sustentável só será atingido se os
processos de tomada de decisões forem baseados no provimento de informações consistentes e
confiáveis por aqueles que as detêm."
No ano passado, o acesso a uma importante parte da informação ambiental ganhou amparo
legal. A Lei n 10.650, que dispõe sobre o acesso público aos dados e informações ambientais
existentes nos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama),
foi sancionada no dia 16 de abril.
Se o acesso à informação ambiental aumentou, entretanto, não se pode dizer que a preocupação
em gerenciar as informações ambient ais das empresas tenha crescido na mesma proporção. A
prova disso, é que os empresários - apesar de todos os esforços na área ambiental - ainda
continuam tendo uma imagem negativa perante a opinião pública.
Pesquisa realizada há três anos pelo Instituto de Estudos da Religião (Iser) com o tema "O Que o
Brasileiro Pensa do Meio Ambiente e do Consumo Sustentável" revelou que no item "Avaliação
da Atuação dos Grupos na Defesa do Meio Ambiente", os donos de empresas aparecem com a
pior avaliação, reforçando a tese de que, na visão dos brasileiros, eles ainda são vistos como os
grandes vilões do meio ambiente.
Não se trata, aqui, de colocar os empresários numa posição de bons samaritanos. Mas é
importante destacar que os números atuais disponíveis no mercado brasileiro podem ser
utilizados como importantes indicadores do compromisso com a gestão ambiental, que vem
sendo pouco a pouco assumido pelos empreendedores.
Vamos a eles. No último dia 1 de junho, por exemplo, um evento na capital paulista, parte da
programação dos 450 anos da cidade de São Paulo, comemorou a marca brasileira das 1,5 mil
certificações pela Norma ISO 14001 (referência normativa em relação à qual são feitas as
certificações de sistemas de gestão ambiental das organizações).
O número é o maior da América Latina e revela a crescente preocupação das empresas com a
gestão ambiental, na opinião do engenheiro e professor Guido Ferolla, coordenador do curso de
MBA em Gestão Ambiental da Fundação Getulio Vargas. Para chegar a esta conclusão, ele fez
uma conta simples. Dividiu o número de empresas certificadas pela ISO 14001 pelo Produto
Interno Bruto (PIB), principal indicador econômico de um país. Segundo o modelo, que foi
baseado em estudos realizados anteriormente pela Universidade da Califórn ia, o nível de
envolvimento das empresas brasileiras com a questão ambiental está acima de organizações
localizadas em países como Estados Unidos e Reino Unido, por exemplo. Outro dado vem da
Câmara de Comércio e Indústria Brasil- Alemanha. Segundo levantamento feito pela instituição,
as empresas brasileiras investiram em 2002 cerca de US$ 3 bilhões na aquisição de novas
tecnologias ambientais.
Traduzir números como estes para a opinião pública - dentro da realidade e dimensão de cada
empresa que possui um comprometimento real em minimizar os impactos ambientais inerentes
à sua atividade e busca a melhoria contínua dos seus processos de produção - é um
compromisso que deve ser assumido cada vez mais pelas agências de comunicação e
departamentos internos de comunicação. Essa preocupação - apesar de incipiente - vem fazendo
parte cada vez mais do dia a dia das agências. Prova disso, foi a abertura, pela primeira vez, de
um espaço durante o mais importante Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, que na
sua sétima edição, realizada em abril, tratou do tema Comunicação Ambiental. Foi o primeiro
passo, mas que já demonstra um interesse maior das agências de comunicação em trabalhar de
forma mais efetiva e sistematizada com a informação ambiental.
Mais do que nunca é importante que as agências de comunicação assumam a responsabilidade
de traduzir a informação ambiental dos seus clientes para os diferentes públicos da empresa,
trans- formando- a em importante elemento catalisador para a construção da confiança, da
credibilidade, e para estreitar parcerias e permitir o diálogo, a conscientização, realçando a
compreensão mútua das necessidades das partes interessadas, que vai levar à tomada de
decisões favoráveis à preservação ambiental.
Desta forma será possível que a opinião pública realmente entenda o papel das empresas dentro
do contexto ambiental brasileiro. Sem serem consideradas culpadas ou inocentes, mas
realmente vitais para a construção de um País rumo ao desenvolvimento sustentável.
(*)Graça Lara - Jornalista, MBA Internacional em Gestão Ambiental. Criadora do Ambiente Global (www.ambienteglobal.com.br), primeiro
portal de meio ambiente da América Latina, é diretora da AG - Comunicação Ambiental
Fonte: Gazeta Mercantil - Disponibilizado em 11/06/ 2004
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