Novo momento mundial Fala-se que a crise econômica que nasceu nos EUA é a maior desde a grande depressão mundial da década de 1930. Os motivos da crise e suas conseqüências vêm sendo analisados por ângulos diferentes. Toco em dois desses pontos. A presença dos EUA no mundo vai modificar. Outros povos vão olhar de forma mais critica e diferente para a maior potência da atualidade. Os EUA não podem mais dar aulas sobre seu modelo econômico para todo mundo. Paul Krugman, que ganhou o último Nobel de economia, escreveu nessa direção e deu ênfase no futuro relacionamento dos EUA com a América Latina. Que não dá mais para a potência do norte dizer qual caminho é mais adequado para a região seguir no plano econômico. Não é que não vai dizer, é que não será tão ouvido como antes. Como as agências de risco podem agora ditar lições para a região? Elas deram AAA a bancos que quebraram e também a algumas agências que trabalhavam com o setor imobiliário. Acabaram induzindo o investidor a colocar dinheiro em negócios errados. E não é a primeira vez, na época da quebra da Enron se viu isso também. Os EUA não vão para o buraco amanhã de manhã. Mas vai começar a germinar um algo diferente no mundo e na América Latina sobre aquele país. Os caminhos futuros mostram também que não haverá mais uma só potência hegemônica no mundo. Os EUA continuarão, porém, a ser uma grande potência militar. O historiador Paul Kennedy, que escreveu o livro Ascensão e Queda das Grandes Potências, mostra que outras potências na história também perderam força econômica, mas mantiveram a militar. E porque a detinha ainda se mostravam fortes nas relações entre nações e no comércio. Outro fato importante da crise foi a atuação dos governos no socorro da economia. Meteram dinheiro em bancos, seguradoras, agências imobiliárias, empresas diversas. Na Europa garantiram 100% dos depósitos bancários para impedir uma corrida aos bancos. Estatizaram também alguns deles. A Inglaterra, para ajudar a livrar a cara do capitalismo liberal, ao invés de dar dinheiro aos bancos, comprou ações deles. Com isso injetaram recursos para salvá-los. Lá na frente o governo poderá vender as ações de volta aos bancos e recuperar o dinheiro investido. Foi uma forma inteligente de ajudar na crise. Não importa a maneira que se fez. O que se ressalta é que essa história de que no capitalismo as empresas e bancos competem entre si e vence o melhor não é mais verdade absoluta. Que o mercado regula tudo, quem é bom fica e quem não é seria expelido, não funcionou agora. O sistema todo foi salvo pela intervenção do poder público. Aceite-se ou não, o prejuízo foi socializado. Na depressão de 1930 a coisa degringolou porque o presidente dos EUA, Herbert Hoover (1928-1932), eleito pelo partido Republicano, aquele que mais defende as “leis” do mercado, ficou quatro anos acreditando que a situação se ajeitaria por si só. O buraco aumentou. Foi Franklin Delano Roosevelt do partido Democrata (1933-1944) que salvou a situação com intervenções estatais pontuais. Os EUA só saíram da crise em 1941. Doze anos de penúria. Agora a coisa foi diferente com a atuação direta dos governos. O tempo de recuperação será menor. Alfredo da Mota Menezes escreve em A Gazeta. Email: [email protected] site: www.alfredomenezes.com