As Três Correntes Teóricas

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AS TRÊS CORRENTES TEÓRICAS
MARIANE INÊS HERMANY1
Resumo: O positivismo, a fenomenologia e o marxismo são as principais correntes teóricas
do pensamento contemporâneo. Basicamente, essas são as três linhas de idéias
fundamentais e de extrema importância para nossos estudos. Elas servem como nosso guia,
pois nos basearemos a partir dos conceitos das mesmas em nossa futura prática profissional.
Estas linhas são as tendências que se concretizam em nossos trabalhos, ou pesquisas. O
conhecimento é fator essencial; ter uma concepção de vida, do homem e do mundo é base
indispensável de todo enfoque teórico. É preciso compreender o homem a partir da
realidade do mundo em que ele vive e integrar as correntes do pensamento dentro de uma
concepção geral e ampla, adaptando-as com as necessidades do meio em que vivemos.
Palavras-chave: positivismo; fenomenologia; marxismo.
INTRODUÇÃO
Neste artigo pretendemos, em geral, analisar os conceitos fundamentais das
principais correntes do pensamento. Primeiramente analisaremos o positivismo, o que é
positivismo, qual a sua visão de homem e mundo, e quais as influências que ainda hoje
persistem da linha positivista. O fundador dessa linha de pensamento é Augusto Comte,
baseada nos dados da experiência como a única verdadeira, negando outra realidade que
não seja a dos fatos que podem ser observados.
Logo em seguida, falaremos da fenomenologia, procurando destacar seus aspectos
importantes, contextualizando seu surgimento e que influências teve e ainda tem até a
atualidade. Essa corrente teve como grande mérito o de ter questionado os conhecimentos
do positivismo, elevando a importância do sujeito no processo de construção do
conhecimento.
O marxismo é a última corrente a ser analisada, destacando suas principais
características, e como esta linha de pensamento marxista está relacionada com os dias
atuais. Certamente a teoria marxista será a linha em que mais trabalharemos, visto que essa
está comprometida com um projeto de transformação da realidade social, visando uma idéia
global sobre a realidade. Com ênfase a estas colocações, o artigo tem a intenção de
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– Aluna do 4º semestre do curso de Serviço Social da Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC
demonstrar como essas três correntes se constituem, destacando os traços fundamentais que
distinguem o positivismo, a fenomenologia e o marxismo.
1 POSITIVISMO
1.1 Idéias básicas
O fundador do positivismo foi Augusto Comte, não nasceu espontaneamente no
século XIX, suas raízes podem ser encontradas já na Antiguidade. É uma tendência dentro
do Idealismo Filosófico e representa nele uma das linhas do Idealismo Subjetivo. Tem por
base a exaltação dos fatos, sendo uma reação à filosofia expeculativa e sua expeculação
pura. O termo identifica a filosofia baseada nos dados da experiência como a única
verdadeira. O conhecimento se afirma numa verdade comprovada, sendo assim considerado
o método experimental o caminho para o pensamento científico, a verdade comprovada
jamais é questionada. O positivismo, uma corrente filosófica, caracteriza-se por três
preocupações principais: Uma filosofia da história (na qual encontramos as bases de sua
filosofia positiva e sua célebre “lei dos três estados” que marcariam as fases da evolução do
pensar humano: teológico, metafísico e positivo); uma fundamentação e classificação das
ciências (Matemática, Astronomia, Física, Química, Fisiologia e Sociologia); e a
elaboração de uma disciplina para estudar os fatos sociais, a Sociologia que, num primeiro
momento, Augusto Comte denominou física social (Triviños, 1987, p. 33).
O positivismo rejeita o conhecimento metafísico, devendo limitar-se ao
conhecimento positivo, aos dados imediatos da experiência. Defende a idéia de que tanto os
fenômenos da natureza como os da sociedade são regidos por leis invariáveis.
Podemos distinguir três momentos na evolução do positivismo. A primeira fase,
chamaremos de positivismo clássico, na qual, além do fundador Comte, também se
sobressaem os nomes de Littré, Spencer e Mill. Logo após ao final do século XIX, o
empiriocriticismo de Avenarius e Mach. A terceira etapa denomina-se de neopositivismo e
compreende uma série de matizes, entre os quais se podem anotar o positivismo lógico, o
empirismo lógico, vinculados ao Círculo de Viena (Carnap, Schlick, Frank, Neurath, etc.);
o atomismo lógico (Russell, 1872-1970, e Witgenstein, 1889-1951); a filosofia analítica
(Witgenstein e Ayer, n.1910) que acham que a filosofia deve ter por tarefa elucidar as
formas da linguagem em busca da essência dos problemas; o behaviorismo (Watson, 18781958) e o neobehaviorismo (Hull, 1884-1952, e Skinner, n.1904) (Triviños, 1987, p. 33 ).
Facilmente se observa que a filosofia positiva se colocou no extremo oposto da
especulação pura, exaltando, sobretudo, os fatos.
1.2 Positivismo Clássico
Nas idéias de Comte temos alguns princípios fundamentais do positivismo, cujo
emprego se considera como prática comum entre os pesquisadores. Estes princípios são: a
busca da explicação dos fenômenos através das relações dos mesmos e a exaltação da
observação dos fatos, mas resulta que para ligar os fatos existe “necessidade de uma
teoria”. Não sendo assim, acredita que seja impossível que os fatos sejam percebidos.
“Desde Bacon se repete que são reais os conhecimentos que repousam sobre fatos
observados, mas para entregar-se à observação nosso espírito precisa de uma teoria”
(Triviños, 1987, p. 34).
Segundo Comte, o estudo das ciências possui algo muito mais elevado que o, de
atender o interesse da indústria, que é o de “satisfazer a necessidade fundamental sentida
por nossa inteligência, de conhecer as leis dos fenômenos”, “prescindindo de toda
consideração prática” (Triviños, 1987, p. 35).
Também prega a submissão da imaginação à observação, mas isto não deve
transformar “a ciência real numa espécie de estéril acumulação de fatos incoerentes’,
porque devemos entender “que o espírito positivo não está menos afastado, no fundo, do
empirismo do que do misticismo” (Triviños, 1987, p. 35).
O positivismo proclama como função essencial da ciência sua capacidade de prever.
“O verdadeiro espírito positivo consiste em ver para prever” (Triviños, 1987, p. 35).
1.3 Características Principais do Positivismo
Considerar a realidade como formada por partes isoladas, de fatos anatômicos,
segundo a expressão de Russel e Witgenstein, é uma das características que mais têm
pesado sobre a prática da pesquisa na educação. Pois a visão isolada dos fenômenos sociais,
oposta à idéia de integridade e de transformação dialética, permitiu que nossos
pesquisadores realizassem estudos, por exemplo, sobre o fracasso escolar, desvinculando de
uma dinâmica ampla e submetidos a relações simples, sem aprofundar as causas. Não era
feito um estudo mais aprofundado, desconsiderando todo o contexto. A evasão na primeira
série surgia como relacionada com os anos de magistério dos professores, com seu grau de
formação profissional, seu nível sócio econômico etc. Para o positivismo não interessavam
as causas dos fenômenos, isso não era positivo, não era tarefa da ciência. Buscar as causas
dos fatos, era ter uma visão desproporcionada da força intelectual do homem, de sua razão.
Isso era metafísico. Assim, tendo os fatos como único objeto da ciência, fatos que podiam
ser observados, a atitude positivista consistia em descobrir as relações entre as coisas. O
que interessa ao espírito positivo é estabelecer como se produzem as relações entre os fatos.
Assim, eliminou qualquer perspectiva de colocar a busca científica ao serviço das
necessidades humanas, para resolver problemas práticos. O investigador estuda os fatos,
estabelece relações entre eles, pela própria ciência, pelos propósitos superiores da alma
humana de saber. Não está interessado em conhecer as conseqüências de seus achados. “A
ciência estuda os fatos para conhece-los, e tão-somente para conhece-los, de modo
absolutamente desinteressado”. O papel do investigador é exprimir a realidade, não julgála. Este ponto de vista, o de ser o conhecimento científico neutro, foi combatido, primeiro,
no mundo dos cientistas sociais que não podiam conceber que a ciência humana pudesse
ficar à margem da influência do ser humano que investigava. São poucos agora os que
ainda defendem a neutralidade da ciência natural. Um dos traços mais característicos do
positivismo está representado, por sua rejeição ao conhecimento metafísico, a metafísica
(Triviños, 1987, p. 36-37).
Precisamente foi o positivismo lógico que formulou o princípio da verificação.
Segundo este princípio, será verdadeiro aquilo que é empiricamente verificável, isto é toda
afirmação sobre o mundo deve ser confrontada com o dado. Desta maneira, o conhecimento
científico ficava limitado à experiência sensorial.
O Empirismo Lógico (conhecido também como Positivismo Lógico ou
Neopositivismo), foi fundado por um grupo de filósofos e cientistas, conhecido sob o nome
de “Círculo de Viena”, que no decorrer da década de 20, se reuniram em torno de Moritz
Schlick em Viena, fundando uma das mais influentes correntes filosóficas e
epistemológicas de nosso tempo. Seus principais integrantes foram, além de Schlick,
Rudolf Carnap, Otto Neurath, Hans Hahn, etc. O programa filosófico do Círculo de Viena
foi ganhando cada vez mais influência, sobretudo nos países anglo-saxões, onde suas
investigações não se limitaram ao campo da teoria da ciência, mas estenderam-se aos
domínios da ética, da filosofia da linguagem e da filosofia da história. Tal corrente, que
emergiu do Empirismo Lógico, recebeu mais tarde o nome de Filosofia Analítica
(Carvalho, 1991, p. 66).
O Círculo de Viena que incluía alguns dos mais conhecidos pesquisadores nas áreas
das ciências naturais (Otto Neurath, M. Schlick, R. Carnap etc.), preocupava-se antes de
tudo com as funções da filosofia. A filosofia que viam estava sobrecarregada com um
excesso de “conversa fiada”; grande parte do que se escrevia não passava de palavras
vazias, sem sentido e que nada descreviam. A filosofia deveria ser reformada e sua função
redefinida. Seguramente influenciados pela sua formação e passado de ciência, eles viam
para a filosofia uma função muito mais modesta: funcionar como uma supergramática da
ciência (Castro, 1978, p. 39).
Os positivistas lógicos, especialmente Carnap e Neurath, desenvolveram a idéia
denominada fisicalismo, numa tentativa de buscar uma linguagem única, comum para toda
a ciência. O fisicalismo consistia em traduzir todo postulado científico à linguagem da
física. Se esse podia ser traduzido como forma de expressar suas verdades dessa ciência,
então era científico. Os mesmos positivistas lógicos concordaram que esse esforço não
alcançou resultados satisfatórios (Triviños, 1987, p. 38).
É muito difícil, quando não impossível, delinear em poucas palavras a filosofia do
Empirismo Lógico. Seus representantes sempre se caracterizaram pela autocrítica e por
uma honestidade intelectual muito grande, o que acabou impondo uma série de revisões e
modificações em suas posições (Carvalho, 1991, p. 66).
Uma das afirmações básicas do positivismo está representada pela sua idéia de
unidade metodológica para investigação dos dados naturais e sociais. Partia-se da idéia de
que tanto os fenômenos da natureza, como os da sociedade estavam regidos por uma lei
invariável. O emprego do termo “variável” permitiu medir as relações entre os fenômenos e
estabelecer generalizações. Os conceitos operacionalizados formavam as proposições que
permitiam formular as teorias.
Uma das aspirações mais abrigadas pelos positivistas foi a de alcançar resultados na
pesquisa social que pudessem generalizar-se. As técnicas de amostragem, os tratamentos
estatísticos e os estudos experimentais severamente controlados foram instrumentos usados
para concretizar estes propósitos. Mas,
“a flexibilidade da conduta humana, a variedade dos valores culturais e das condições
históricas, unidas ao fato de que na pesquisa social o investigador é um ator que contribui
com suas peculiaridades (concepção do mundo, teorias, valores etc), não permitirão
elaborar um conjunto de conclusões frente a determinada realidade com o nível de
objetividade que apresenta um estudo realizado no mundo natural” (Triviños, 1987, p. 38).
Partindo da idéia de que conhecimento é aquilo que pode ser testado empiricamente,
os positivistas determinavam que não podia existir qualquer tipo de conhecimento
elaborado a priori. O positivismo estabeleceu distinção muito clara entre valor e fato. Os
fatos eram objeto da ciência. Os valores, como não eram “dados brutos” e apenas
expressões culturais, ficavam fora do interesse do pesquisador positivista, pois nunca
poderiam construir-se num conhecimento científico. O positivista reconhecia apenas dois
tipos de conhecimento autênticos, verdadeiros, legítimos; numa palavra científicos: o
empírico, representado pelos achados das ciências naturais, o mais importante de ambos, é
o lógico, constituído pelo lógico e pela matemática (Triviños, 1987, p. 38-39).
Os empiristas lógicos construíram um ideal de ciência que se caracterizou
basicamente pela adesão a dois princípios: Princípio do Empirismo – um enunciado ou um
conceito só será significante na medida em que possua uma base empírica, ou seja, na
medida em que for fundado na experiência; Princípio do Logicismo – para que um
enunciado ou sistema de enunciados possa valer como científico deve ser passível de exata
formulação na linguagem da lógica (Carvalho, 1991, p. 67).
O positivismo, sem dúvida, representa, especialmente através de suas formas
neopositivistas, como o positivismo lógico e a denominada filosofia analítica, uma corrente
do pensamento que alcançou, de maneira singular na lógica formal e na metodologia da
ciência, avanços muito meritórios para o desenvolvimento do conhecimento (Triviños,
1987, p. 41).
2 FENOMENOLOGIA:
2.1 Idéias básicas
É uma ciência que trata da descrição e classificação de seus fenômenos. Representa
uma tendência dentro do Idealismo Filosófico, e dentro deste do Idealismo subjetivo. O
principal autor dessa teoria é Husserl (1859-1938), teve grande influência na filosofia
contemporânea. Suas origens estão em Platão e Descartes (Triviños, 1987, p. 41-42).
As correntes do pensamento como o existencialismo, se alimentaram na fonte
fenomenológica. Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty, por um lado, representam o
existencialismo ateísta e por outro, Van Breda, Marcel e Jaspers, entre outros, cultivam
uma linha de crença em Deus, cujas raízes principais estão em Soeren Kierkegaard (191355), filósofo dinamarquês, para o qual o pensar deve ser “existencial”.
“Compreender a fenomenologia quer dizer: apreender suas possibilidades”. Pode-se
apresentá-la como uma prática científica, como uma metodologia da compreensão, como
uma filosofia crítica das ciências, como uma estética da existência. “A fenomenologia
como ciência das ‘essências’, análise eidética, distingue-se da filosofia fenomenológica
enquanto sistema de filosofia transcendental. A fenomenologia como técnica de análise
eidética não cai sob os golpes da crítica à fenomenologia transcendental” (Bruyne, 1991, p.
74).
Segundo essa corrente, a filosofia como “ciência rigorosa” deveria ter como tarefa
estabelecer as categorias puras do pensamento científico, mediante a “redução
fenomenológica” ou a apresentação do fenômeno puro, livre dos elementos pessoais e
culturais, atingindo assim a sua essência (Cordeiro, 1999, p. 49).
2.2 Principais características da fenomenologia
O conceito básico da fenomenologia, é a noção de intencionalidade. Esta
intencionalidade é da consciência que sempre está dirigida a um objeto. Isto tende a
reconhecer o princípio que não existe objeto sem sujeito.
O termo intencionalidade, primordial no sistema filosófico de Husserl é a
característica que se apresenta a consciência de estar orientada para um objeto. Não é
possível nenhum tipo de conhecimento se o entendimento não se sente atraído por algo,
concretamente por um objeto (Triviños, 1987, p. 45).
Para Husserl, a intencionalidade é algo “puramente descritivo, uma peculiaridade
íntima de algumas vivências”. Desta maneira, a intencionalidade característica da vivência
determinava que a vivência era consciência de algo (Triviños, 1987, p. 45).
“A Fenomenologia é o estudo das essências, e todos os problemas, segundo ela,
tornam a definir essências: a essência da percepção, a essência da consciência, por
exemplo. Mas também a fenomenologia é uma filosofia que substitui as essências na
existência e não pensa que se possa compreender o homem e o mundo de outra forma senão
a partir de seus fatos”. Suspende as afirmações para poder compreendê-las. Compreende o
homem através do mundo em que ele vive (Triviños, 1987, p. 43).
A fenomenologia descreve os fatos, não explica e nem analisa. Seu principal objeto
é o mundo vivido, ou seja, os sujeitos de forma isolada. Considera a imersão no cotidiano e
a familiaridade com as coisas tangíveis. É necessário ir além das manifestações imediatas
para captá-las e desvendar o sentido oculto das impressões imediatas. O sujeito precisa
ultrapassar as aparências para alcançar a essência dos fenômenos.
Husserl questiona “Como pode o conhecimento estar certo de sua consonância com
as coisas que existem em si, de as ‘atingir’?”. Isto significa a possibilidade da metafísica.
Admite que o exame do conhecimento deve ter um método, sendo este o da fenomenologia,
que é “a doutrina universal das essências, em que se integra a ciência da essência do
conhecimento” (Triviños, 1987, p. 43).
Segundo Husserl “as vivências serão seus primeiros dados absolutos, pois o
conhecimento intuitivo da vivência é permanente” (Triviños, 1987, p. 44).
A fenomenologia estuda o universal, é válida para todos os sujeitos, tem como dado
a essência do fenômeno. O que eu conheço, ou o que eu vivencio é o mundo que pode ser
conhecido por todos. É uma corrente de pensamento que não está interessada em colocar a
historicidade dos fenômenos. Não introduz transformações à realidade, ou seja, mantém-se
conservadora; apenas estuda a realidade com o desejo de descrevê-la, ou apresentá-la tal
como ela é, sem mudanças. Exalta a interpretação do mundo que surge intencionalmente à
nossa consciência, sem abordar conflitos de classes e nem mudanças estruturais (Triviños,
1987, p. 47-48).
A descrição fenomenológica funda-se sobre o vivido, sobre o real mais íntimo, que
ela se esforça por recuperar num plano temático. Trata-se de uma “volta às próprias coisas”
segundo o programa husserliano de transcender as representações espontâneas do
empirismo; no mesmo movimento, a fenomenologia quer atingir a essência dos fenômenos.
“A intuição da essência se distingue da percepção do fato: ela é a visão do sentido ideal que
atribuímos ao fato materialmente percebido e que nos permite identificá-lo” (Bruyne, 1991,
p. 76).
A fenomenologia constitui um processo epistemológico com o qual as ciências
sociais deveriam esclarecer suas problemáticas; ultrapassa entretanto, como filosofia as
ambições estritamente científicas (Bruyne, 1991, p. 80).
“A riqueza da fenomenologia, seu lado positivo, é seu esforço por apreender o
próprio homem por baixo dos esquemas objetivistas com os quais a ciência antropológica
não pode deixar de recobri-lo e é evidentemente sobre essa base que é necessário discutir
com a fenomenologia” (Bruyne, 1991, p. 80).
Na pesquisa, eleva o ator, com suas percepções dos fenômenos. Seu objeto principal
é o mundo vivido, pois as vivências serão seus primeiros dados absolutos. A fenomenologia
ressalta a idéia de “ser o mundo criado pela consciência”. A realidade é construída
socialmente.
A pesquisa educacional, especialmente dos estudos de sala de aula, permitiu a
discussão dos pressupostos considerados como naturais. Mas o esquecimento do histórico
na interpretação dos fenômenos da educação, sua omissão do estudo da ideologia, dos
conflitos sociais de classes, da estrutura da economia, entre outros, conclui que esse
enfoque teórico pouco pode ser proveitoso quando se está visando os graves problemas de
sobrevivência dos habitantes dos países do Terceiro Mundo (Triviños, 1987, p. 48-49).
A reflexão fenomenológica guiará o pesquisador quando se tratar de colocar
problemas, hipóteses, de destacar conceitos com vistas à elaboração teórica; ela poderá
garantir a fecundidade sempre renovada da pesquisa (Bruyne, 1991, p. 79).
O grande mérito da fenomenologia é o de ter questionado os conhecimentos do
positivismo, elevando a importância do sujeito no processo de construção do conhecimento.
Com isso, pode-se dizer que o método fenomenológico é filosófico e não científico. A
fenomenologia não leva em consideração a historicidade, mas descreve um pouco mais os
fatos e exalta a interpretação do mundo intencionalmente.
A fenomenologia, e mais amplamente a filosofia, não é apenas compatível com as
ciências sociais, ela lhes é necessária “como um constante chamado a (suas) tarefas ... cada
vez que o sociólogo volta às fontes vivas de seu saber, ao que nele opera como meio para
compreender as funções culturais mais afastadas dele, espontaneamente faz filosofia ... A
filosofia não é um saber determinado, é a vigilância que não nos deixa esquecer a fonte de
todo saber” (Bruyne, 1991, p. 80).
3 MARXISMO:
3.1 Idéias básicas
Karl Marx (1818-1883), ao fundar a doutrina marxista na década de 1840,
revolucionou o pensamento filosófico. Na evolução do Marxismo podemos assinalar a
primeira fase, representada por Marx; na segunda trabalham juntos Marx e Engels e na
terceira em geral, as contribuições de Lênin. O quarto período forma o contemporâneo,
apresentando várias tendências, mas as principais são a soviética e a chinesa, que reclamam
para si a continuação genuína das idéias de Marx (Triviños, 1987, p. 49).
O marxismo compreende três aspectos principais: o materialismo dialético, o
materialismo histórico e a economia política. De acordo com o quadro geral de referência, o
marxismo se inclui como uma tendência dentro do materialismo filosófico, apresentando
várias linhas de pensamento.
As raízes da concepção do mundo de Marx estão unidas às idéias idealistas de
Hegel (1770-1831). Hegel “aceitava que todos os fenômenos da natureza e da sociedade
tinham sua base na Idéia Absoluta” (Triviños, 1987, p. 50).
Marx tomou várias idéias de Hegel, fundamentais para o marxismo, como exemplo:
o conceito de alienação e de maneira essencial, seu ponto de vista dialético da compreensão
da realidade. Desenvolveu-as dentro de sua concepção materialista do mundo, ao invés de
vinculá-las ao espírito absoluto hegeliano (Triviños, 1987, p. 50).
Karl Marx (1818-1883) substitui o idealismo hegeliano por um realismo
materialista: a matéria é o princípio fundamental e a consciência, produto da matéria. São
as relações de produção que formam a estrutura econômica da sociedade, base sobre a qual
se ergue a superestrutura jurídica, política, religiosa, etc.
As fontes diretas do marxismo foram: o idealismo clássico alemão (Hegel, Kant,
Schelling, Fichte), o socialismo utópico (Saint-Simon e Fourier, na França, e Owen, na
Inglaterra) e a economia política inglesa (D.Ricardo e Smith) (Triviños, 1987, p.50).
3.2 Materialismo Dialético
É a base filosófica do marxismo que tenta buscar explicações coerentes, lógicas e
racionais para os fenômenos da natureza, da sociedade e do pensamento. Baseia-se numa
interpretação dialética do mundo; constitui uma concepção científica da realidade,
enriquecida com a prática social da humanidade. Além de ter como base de seus princípios
a matéria, a dialética e a prática social, o materialismo dialético também aspira ser a teoria
orientada da revolução do proletariado.
Este pensar filosófico tem como propósito fundamental o estudo das leis mais
gerais que regem a natureza, a sociedade e o pensamento. Isto leva ao estudo da teoria do
conhecimento e a elaboração da lógica. Através do enfoque dialético da realidade, o
materialismo dialético mostra como se transforma a matéria e como se realiza a passagem
das formas inferiores às superiores.
Segundo Hegel (1770-1831), a dialética torna-se não só um método lógico, norma
de análise da natureza, como também o comportamento geral da própria natureza, em sua
contínua transformação. Para Hegel, a razão domina o mundo e tem por função a
unificação, a conciliação, a manutenção da ordem no todo. É a “razão dialética” que
procede por unidade e oposição dos contrários. A “contradição” é a mola mestra do
pensamento e, ao mesmo tempo, o motor da história, já que esta não é senão o pensamento
que se realiza (Cordeiro, 1999, p. 50).
Os idealistas alemães entenderam a realidade não só como objeto de conhecimento,
mas também como objeto da atividade. Kant, o fundador do idealismo clássico alemão,
destacou a força dos aspectos contraditórios no processo de desenvolvimento. Mas é com
Hegel que, “por primeira vez (...) se concebe todo o mundo da natureza, da história e do
espírito como um processo, isto é, em constante movimento, mudança, transformação e
desenvolvimento, intentando, além disso, pôr em relevo a conexão interna deste movimento
de desenvolvimento” (Triviños, 1987, p. 53).
O método dialético é aquele que penetra no mundo dos fenômenos através de sua
ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno e das mudanças dialéticas que
ocorrem na matéria e na sociedade. O pesquisador que aplica o método dialético
compreende a realidade, valoriza a contradição dinâmica do fato observado e a atividade
criadora do sujeito que está sempre a caminho, em formação, inacabado, aberto para novas
alternativas (Cordeiro, 1999, p. 50).
As definições da dialética materialista dos clássicos do marxismo ressaltam os
aspectos que se referem às formas do movimento universais e as conexões que se
observam entre elas. Engels a define como a ciência “das leis do movimento e
desenvolvimento da natureza, da sociedade humana e do pensamento”. E Lênin a define
como “a doutrina do desenvolvimento na sua forma mais completa, mais profunda e mais
isenta da unilateralidade, a doutrina da relatividade do conhecimento humano, que nos dá
um reflexo da matéria em eterno desenvolvimento” (Triviños, 1987, p. 53).
Uma das idéias mais originais do materialismo dialético foi ressaltar a importância
da prática social como critério de verdade. Assim, as verdades científicas, em geral,
significam graus do conhecimento, limitados pela história. Portanto, o pesquisador que
seguir essa linha teórica deve ter presente em seu estudo uma concepção dialética da
realidade natural e social e do pensamento, a materialidade dos fenômenos e que estes são
possíveis de conhecer (Trivinõs, 1987, p. 73).
3.3 Materialismo Histórico
É a ciência filosófica do marxismo que estuda as leis sociológicas que caracterizam
a vida da sociedade, de sua evolução histórica e da prática social dos homens, no
desenvolvimento da humanidade.
O materialismo histórico significou uma mudança fundamental na interpretação dos
fenômenos sociais, pois até o nascimento do marxismo, se apoiava em concepções
idealistas da sociedade humana. Marx e Engels colocaram pela primeira vez, em sua obra.
A ideologia alemã (1845-46), as bases do materialismo histórico (Triviños, 1987, p. 51).
O materialismo histórico ressalta a força das idéias, capaz de introduzir mudanças
nas bases econômicas que as originou. Por isso, destaca a ação dos partidos políticos, dos
agrupamentos humanos, etc. Essa ação pode produzir transformações importantes nos
fundamentos materiais dos grupos sociais.
É a ciência filosófica que esclarece vários conceitos como:
Ser social: relações materiais dos homens com a natureza e entre si que existem em
forma objetiva, independente da consciência.
Consciência social: são as idéias políticas, jurídicas, filosóficas, estéticas, religiosas,
etc.
Meios de produção: tudo o que os homens empregam para originar bens materiais
(máquinas, ferramentas, energia, matérias químicas, etc.).
Forças produtivas: são os meios de produção, os homens, sua experiência de
produção, seus hábitos de trabalho.
Relações de produção: podem ser de cooperação, de submissão ou de um tipo de
relações que signifique transição entre as formas assinaladas.
Modos de produção: da comunidade primitiva, escravista, feudalista, capitalista e
comunista.
De maneira muito geral, pode-se dizer que a concepção materialista apresenta três
características importantes. A primeira delas é a materialidade do mundo, onde todos os
fenômenos, objetos e processos que se realizam na realidade são materiais. Lênin, numa de
suas obras, define a Matéria como “uma categoria filosófica para designar a realidade
objetiva que é dada ao homem nas suas sensações, que é copiada, fotografada, refletida
pelas nossas sensações, existindo independentemente delas” (Triviños, 1987, p. 56).
A segunda peculiaridade ressalta à consciência, é uma propriedade da matéria. A
grande propriedade da consciência é a de refletir a realidade objetiva. Assim surgem as
sensações, as percepções, representações, conceitos, juízos. É fundamental estabelecer que
o cérebro por si só não pensa. A consciência está unida à realidade material. Esta influi
sobre os órgãos dos sentidos que transmitem as mensagens aceitas pelos canais nervosos ao
córtex dos grandes hemisférios cerebelosos (Triviños, 1987, p.62).
A última é a prática social, onde a prática é toda atividade material, orientada para
transformar a natureza e a vida social. A prática social se desenvolve e enriquece através da
atividade prática e teórica dos diferentes indivíduos e coletividades
3.4 Categorias e leis da dialética
Para o Marxismo, as categorias se formaram no desenvolvimento histórico do
conhecimento e na prática social. Significa que o sistema de categorias surgiu como
resultado da unidade do histórico e do lógico.
São entendidas como “formas de conscientização dos conceitos dos modos
universais da relação do homem com o mundo, que refletem as propriedades e leis mais
gerais e essências da natureza, da sociedade e do pensamento” (Triviños, 1987, p. 54).
Entende-se por Lei “uma ligação necessária geral, iterativa ou estável” (Triviños,
1987, p. 54).
Tanto as categorias como as leis “refletem as leis universais do ser, as ligações e os
aspectos universais da realidade objetiva”. Mas as categorias são mais ricas em conteúdo do
que as leis, já que aquelas refletem também “as propriedades e os aspectos universais da
realidade objetiva’. A categoria essencial do materialismo dialético é a contradição que se
apresenta na realidade objetiva. E a lei fundamental também é a Unidade e luta dos
contrários, a Lei da Contradição. Entre a categoria e a lei da contradição existem diferenças
notáveis. “A Lei da ‘unidade’ e da ‘luta’ dos contrários reflete e fixa o fato que há luta entre
os contrários que se excluem e, ao mesmo tempo, estão unidos, e que esta luta, em última
análise, leva à solução da dita contradição e à passagem da coisa de um estado qualitativo a
um outro”. Entretanto, a categoria da contradição, estabelece, por exemplo, que a
contradição é uma interação entre aspectos opostos, distingue os tipos de contradições,
determina o papel e a importância que ela tem na formação material e ressalta que a
categoria da contradição é a origem do movimento e do desenvolvimento (Triviños, 1987,
p. 54).
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
A partir do conteúdo exposto, referente as três correntes teóricas, o positivismo, a
fenomenologia e o marxismo, podemos pôr em evidência as derivações metodológicas e os
resultados atingidos, seguindo uma ou outra tendência teórica. A vinculação do pesquisador
a uma concepção de vida, do homem e do mundo é fundamental. Basicamente os métodos
ou as teorias usadas em países desenvolvidos, não podem ser deslocadas para os países
subdesenvolvidos, sem haver as devidas adaptações e transformações exigidas, pois a
realidade de vida de um país subdesenvolvido é muito diferente, onde a pobreza se faz
presente com muita expressão e certamente existem vários problemas sociais. Frente a isso
precisamos adaptar as correntes conforme as necessidades e dificuldades do meio em que
vivemos. É importantíssimo ter um amplo conhecimento sobre a realidade em que vamos
intervir, conhecer e saber os problemas que afetam as pessoas ou as comunidades em geral.
Ter este conhecimento é base fundamental para se atingir um bom resultado seja na
elaboração de uma pesquisa ou na realização de uma intervenção.
A teoria marxista nos oferece um caminho com bons propósitos. Segue uma linha
comprometida com um projeto de transformação da realidade social, sua intervenção
oferece toda uma preocupação com a análise dialética da realidade. Além disso, procura
buscar explicações coerentes, lógicas e racionais, sem deixar de ressaltar a prática social
como critério de verdade. Contudo vale lembrar que as três tendências metodológicas são
fundamentais, e o mais importante é sabermos escolher o método ou a metodologia mais
adequada quando formos fazer algum trabalho (pesquisa ou intervenção). Conforme o
objetivo que queremos alcançar, escolheremos o método que melhor resultado nos trará.
A opção de métodos alternativos é fundamental, uma vez que a pesquisa, ou até a
intervenção não é uma atividade pronta e acabada, tendo sempre a necessidade de se
construir caminhos e refletir sobre os mesmos. Nenhuma análise é definitiva, havendo
sempre a possibilidade de acontecerem possíveis transformações.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa
qualitativa em educação. 3 ed. São Paulo: Atlas, 1992.
CASTRO, Cláudio de Moura. A prática da pesquisa. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil,
1938.
CARVALHO, Maria Cecília M. de. Construindo o saber – Metodologia científica:
fundamentos e técnicas. 6 ed. Campinas, SP: Papirus, 1997.
CORDEIRO, Darcy.
Ciência,
pesquisa
e
trabalho científico: uma
abordagem
metodológica. 2 ed. Goiânia: Ed.UCG, 1999.
BRUYNE, Paul de, et all, Dinâmica da pesquisa em ciências sociais: os pólos da prática
metodológica. 5 ed. Rio de Janeiro - RJ: Livraria Francisco Alves Editora S.A.,
1991.
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