MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOSSISTEMAS RESPOSTAS ECOFISIOLÓGICAS E BIOQUÍMICAS DA ERVA-SAL (Atriplex nummularia Lindl.) AO ESTRESSE SALINO NAIARA ARAÚJO DA COSTA 2014 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOSSISTEMAS NAIARA ARAÚJO DA COSTA RESPOSTAS ECOFISIOLÓGICAS E BIOQUÍMICAS DA ERVA-SAL (Atriplex nummularia Lindl.) AO ESTRESSE SALINO Dissertação apresentada à Universidade Federal de Sergipe, como parte das exigências do Curso de Mestrado em Agroecossistemas, área de concentração em Produção em Agroecossistemas, para obtenção do título de “Mestre em Ciências”. Orientador Prof. Dr. Luiz Fernando G. de Oliveira Júnior Co-orientador Alceu Pedrotti SÃO CRISTÓVÃO SERGIPE – BRASIL 2014 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE C837r Costa, Naiara Araújo da Respostas ecofisiológicas e bioquímicas da erva-sal (Atriplex nummularia Lindl.) ao estresse salino / Naiara Araujo da Costa ; orientador Luiz Fernando Ganassali de Oliveira Júnior. – São Cristóvão, 2014. 81 f. : il. Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas) - Universidade Federal de Sergipe, 2014. 1. Plantas forrageiras. 2. Atriplex nummularia Lindl. 3. Biomassa. I. Oliveira Junior, Luiz Fernando Ganassali de, orient. II. Título. CDU 633.2/.3 Ao meu esposo Thiago e ao meu filho Guilherme, que participaram comigo de todas as etapas deste trabalho. Dedico AGRADECIMENTOS Ao Deus Pai sempre presente em minha vida. Aos meus pais Gilvan Costa e Neralda Nascimento, aos meus irmãos Nihedja e Glenderson e aos meus demais familiares. Ao meu esposo Thiago e meu filho Guilherme pela compreensão e carinho. Ao professor e orientador Dr. Tácio Oliveira da Silva (in memoriam) por toda orientação dada em grande parte do Mestrado, e pelos bons momentos vivenciados durante a graduação e pós-graduação. Ao professor e orientador Dr. Luiz Fernando Ganassali de Oliveira Júnior pela orientação, ensinamentos e dedicação que me auxiliaram para a conclusão desta dissertação. Ao professor. Dr. Alceu Pedrotti pela co-orientação e por ter proporcionado toda estrutura e apoio necessários para o desenvolvimento deste trabalho. Aos técnicos e estagiários dos laboratórios de Fitorremediação de solos, de Remediação de solos e de Ecofisiologia e Pós - Colheita Vegetal, em especial a Rogério, Vanessa, Victor, João Vitor, Pricila, Idamar, Raimundo, João Paulo, Hugo e João Thiago pela ajuda nos trabalhos de campo, casa de vegetação e laboratoriais, fundamentais para a conclusão desta pesquisa. A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas que cooperaram para a minha formação. Aos membros da banca de qualificação e defesa, Profª. Drª. Maria Isidória da Silva Gonzaga, Prof. Dr. Francisco Sandro Rodrigues Holanda, Prof. Dr. Leandro Bacci, Prof. Dr. Carlos Dias da Silva Júnior e Prof. Dr. Fabrício de Oliveira Reis. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão da bolsa de estudo. Às minhas amigas Karen e Luise pelos incentivos, mesmo à distância. Aos meus sempre queridos colegas do Mestrado Thalyta, Andreza, Lorena, Suzilane, Glauber, Danielle e Fábio, pela constante troca de conhecimentos e por compartilharem dos bons e difíceis momentos durante o Mestrado. Enfim, a todos os que, direta ou indiretamente, colaboraram para a realização desta dissertação de mestrado o meu muito obrigado. SUMÁRIO Página LISTA DE FIGURAS............................................................................................................... i LISTA DE TABELAS.............................................................................................................. ii LISTA DE ABREVIATURAS, SÍMBOLOS E SIGLAS......................................................... iii RESUMO.................................................................................................................................. iv ABSTRACT.............................................................................................................................. v 1. INTRODUÇÃO GERAL...................................................................................................... 1 2. REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................................................. 3 2.1 A erva-sal (Atriplex nummularia Lindl.), características gerais e importância 3 .................................................................................................................................................. 2.2 Estresse salino.................................................................................................................... 5 2.3 Fitorremediação.................................................................................................................. 8 2.4 Efeitos do estresse salino sobre as plantas......................................................................... 10 2.4.1 Crescimento.................................................................................................................... 10 2.4.2 Trocas gasosas.................................................................................................................111 2.4.3 Pigmentos fotossintéticos................................................................................................114 2.4.4 Solutos compatíveis (ajuste osmótico).................................................................. 115 3. ARTIGO 1: Respostas ecofisiológicas e bioquímicas da erva-sal submetida a níveis 18 crescentes de salinidade................................................................................................................ Resumo..................................................................................................................................... 18 Introdução................................................................................................................................. 20 Material e Métodos................................................................................................................... 21 Resultados e Discussão............................................................................................................ 23 Conclusão................................................................................................................................. 35 Referências ........................................................................................................ 36 4. ARTIGO 2: Efeitos de níveis de salinidade no acúmulo de íons e biomassa e em 41 parâmetros fisiológicos da erva-sal.............................................................................................. Resumo..................................................................................................................................... 41 Introdução................................................................................................................................. 42 Material e Métodos................................................................................................................... 44 Resultados e Discussão............................................................................................................ 48 Conclusões............................................................................................................................... 58 Referências ........................................................................................................ 59 5. CONCLUSÕES GERAIS........................................................................................................ 67 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................... 68 LISTA DE FIGURAS ARTIGO 1: Respostas ecofisiológicas e bioquímicas da erva-sal submetida a níveis crescentes de salinidade FIGURA 1. Altura de plantas de erva-sal cultivadas sob diferentes níveis de NaCl em função do tempo de imposição do estresse salino (dias). FIGURA 2. Diâmetro do caule de plantas de erva-sal cultivadas sob diferentes níveis de NaCl em função do tempo de imposição do estresse salino (dias). FIGURA 3. Assimilação fotossintética de CO2 (A) em plantas de erva-sal sob diferentes níveis de NaCl em função do tempo de imposição do estresse salino (dias). FIGURA 4. Condutância estomática (gs) em plantas de erva-sal sob diferentes níveis de NaCl em função do tempo de imposição do estresse salino (dias). FIGURA 5. Concentração de carbono interno (Ci) em plantas de erva-sal sob diferentes níveis de NaCl em função do tempo de imposição do estresse salino (dias). FIGURA 6. Transpiração (E) em plantas de erva-sal sob diferentes níveis de NaCl em função do tempo de imposição do estresse salino (dias). FIGURA 7. Déficit de pressão de vapor (DPVfolha-ar) em plantas de erva-sal sob diferentes níveis de NaCl em função do tempo de imposição do estresse salino (dias). FIGURA 8. Estimativas dos teores de Clorofila a e Clorofila b em plantas de erva-sal sob diferentes níveis de NaCl em função do tempo de imposição do estresse salino (dias). FIGURA 9. Estimativas dos teores de Clorofila Total e Relação Clor a/ b em plantas de ervasal sob diferentes níveis de NaCl em função do tempo de imposição do estresse salino (dias). FIGURA 10. Teor de prolina em plantas de erva-sal sob diferentes níveis de NaCl em função do tempo de imposição do estresse salino (dias). i LISTA DE TABELAS ARTIGO 2: Efeitos de níveis de salinidade no acúmulo de íons e biomassa e em parâmetros fisiológicos da erva-sal TABELA 1. Valores médios do teor de sódio (Na+) e de potássio (K+), e relação sódio/potássio (Na+/K+), da parte aérea e raiz, em plantas de erva-sal sob diferentes níveis de salinidade. São Cristóvão, SE, 2014. . TABELA 2. Valores médios de diâmetro do caule (DAC) e altura das plantas de erva-sal sob diferentes níveis de salinidade. São Cristóvão, SE, 2014. TABELA 3. Valores médios de massa fresca e seca, da parte aérea e raiz, de plantas de ervasal sob diferentes níveis de salinidade. São Cristóvão, SE, 2014. TABELA 4. Valores médios do teor de prolina livre em folhas de erva-sal sob diferentes níveis de salinidade. São Cristóvão, SE, 2014. TABELA 5. Valores médios de assimilação fotossintética de CO2 (A - µmol m-2s-1), condutância estomática (gS - mol m-2 s-1), Concentração interna de carbono (Ci - mmol m²), transpiração (E - mmol m-2 s-1) e déficit de pressão de vapor entre a folha e o ar (DPVfolha-ar) em plantas de erva-sal sob diferentes níveis de salinidade. São Cristóvão, SE, 2014. TABELA 6. Valores médios de clorofila a (Chl a), clorofila b (Chl b), clorofila Total (Chl T) e relação (Chl a/b) em plantas de erva-sal sob diferentes níveis de salinidade. São Cristóvão, SE, 2014. ii LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS A - Assimilação fotossintética de CO2 Chl a - Clorofila a Chl b - Clorofila b Chl T - Clorofila Total Chl a/b - Relação Clorofila a por clorofila b Ci - Concentração interna de carbono DPVfolha-ar - Déficit de pressão de vapor entre a folha e o ar E - Transpiração gS - Condutância estomática iii RESUMO COSTA, Naiara Araújo da. Respostas ecofisiológicas e bioquímicas da erva-sal (Atriplex nummularia Lindl.) ao estresse salino. São Cristóvão: UFS, 2014. 81p. (Dissertação – Mestrado em Agroecossistemas).* A erva-sal é uma espécie C4 extremamente tolerante aos solos e às águas salinas e possui boa capacidade de acumular quantidades de sais em seus tecidos, servindo também como potencial forrageiro. Portanto, é um excelente material para a identificação de mecanismos fisiológicos e bioquímicos envolvidos na resistência à salinidade. O objetivo deste trabalho foi avaliar as respostas ecofisiológicas e bioquímicas da erva-sal sob níveis crescentes de NaCl. As plantas foram cultivadas em vasos mantidos em casa de vegetação e irrigadas a cada 2 dias nas concentrações 0, 150, 300, 450 e 600 mM de NaCl ao longo do tempo. Foram determinados a biometria (altura e diâmetro do caule), trocas gasosas (assimilação fotossintética de CO2 (A), condutância estomática (gS), concentração interna de carbono (Ci), transpiração (E) e déficit de pressão de vapor entre o ar e a folha (DPVfolha-ar)), teor relativo de clorofilas (Chl a, Chl b, Chl total e relação Chl a/b) e teor de prolina nas folhas. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, em esquema fatorial 5x4, sendo cinco níveis de salinidade e quatro períodos de avaliação (0, 15, 30 e 45 dias), com 5 repetições. Aos 60 dias avaliou-se o efeito dos níveis 0, 150 e 300 mM de NaCl no crescimento, biomassa fresca e seca da parte aérea (caule+folhas) e raiz, trocas gasosas, teor relativo de clorofilas, teor de Na+, K+ e relação Na+/K+ na parte aérea e raiz, e teor de prolina nas folhas. O delineamento experimental foi DIC, sendo três níveis de salinidade e cinco repetições. Até os 45 dias a erva-sal apresentou um estímulo do crescimento em todos os níveis de NaCl, sendo 0, 150 e 300 mM de NaCl os que apresentaram maiores valores de altura e diâmetro do caule. Quanto às trocas gasosas a erva-sal apresentou um período adaptativo de 15 dias, seguido de incremento da assimilação fotossintética. A erva-sal acumulou mais Na+ que K+, com maior acúmulo na parte aérea que na raiz, até o nível 300 mM de NaCl, sendo este o nível de salinidade que proporcionou maior produção de biomassa fresca (46,38 g) e seca (19,69 g) . O aumento da salinidade promoveu acúmulo de prolina, cuja maior concentração (3,11 µmol g-1 MF) foi verificado no tratamento 600 mM de NaCl. Aos 60 dias o estresse salino não induziu diferenças significativas no crescimento das plantas, mas promoveu redução da assimilação fotossintética e aumento da concentração interna de carbono. Após 60 dias, a erva-sal acumulou Na+ em sua parte aérea, com crescimento e produção de biomassa favorecidas até o nível 300 mM de NaCl. O aumento nos níveis de salinidade reduz a assimilação fotossintética da erva-sal, mas não afetou significativamente a produção de clorofilas. Em resposta a salinidade a erva-sal apresenta aumento na concentração de prolina em suas folhas. Sob salinidade crescente, a erva-sal desenvolve mecanismos fisiológicos e bioquímicos capazes de assegurar seu crescimento, sendo o nível 300 mM de NaCl o que favorece seu máximo de produção. Palavras-chave: Atriplex nummularia Lindl., estresse salino, biomassa, sódio, prolina, trocas gasosas. ___________________ * Comitê Orientador: Luiz Fernando Ganassali de Oliveira Junior – UFS (Orientador), Alceu Pedrotti (Coorientador) – UFS. iv ABSTRACT COSTA, Naiara Araújo da. Ecophysiological and biochemistry responses of saltbush (Atriplex nummularia Lindl.) to salt stress. São Cristóvão: UFS, 2014. 81p. (Dissertation – Master Program in Agroecosystem).* The saltbush is an C4 species extremely tolerant to soils and saline waters and has good capacity to accumulate quantities of salts in their tissues, also serving as forage potential. Therefore, it is an excellent material for the identification of physiological and biochemical mechanisms involved in the resistance to salinity. The objective of this study was to evaluate the ecophysiological and biochemical responses of saltbush under increasing levels of NaCl. Plants were grown in pots kept in a greenhouse and irrigated every 2 days at concentrations of 0, 150, 300, 450 and 600 mM NaCl over time. Were determined biometric (height and stem diameter), gas exchange (photosynthetic assimilation of CO2 (A), stomatal conductance (gS), the internal concentration of carbon (Ci), transpiration (E) and vapor pressure deficit between leaf and air (DPVair-leaf)), the content of chlorophyll (Chl a, Chl b, Chl total and Chl a / b) and content of proline in leaves. The experimental design was completely randomized in a 5x4 factorial scheme, with five levels of salinity and for evaluation periods (0, 15, 30 and 45 days) with 5 replications. At 60 days evaluated the effect of levels 0, 150 and 300 mM NaCl on growth, fresh and dry biomass of shoot (stem+leaves) and root, gas exchange, content of chlorophyll, content of Na+, K+ and Na+/K+ in shoot and roots, and content of proline in leaves. The experimental design was DIC, with three levels of salinity and five replications. Until 45 days saltbush presented a stimulating growth at all levels of NaCl, and 0, 150 and 300 mM NaCl showed the highest values of height and stem diameter. As for the gas exchange saltbush presented an adaptive period of 15 days, followed by increase in photosynthetic assimilation. The saltbush accumulated more Na+ than K+, with greater accumulation in the shoot than in the root, to the 300 mM NaCl level, this is the salinity level that the highest yield of fresh biomass (46,38 g) and dried (19,69 g). Increased salinity promoted accumulation of proline, whose highest concentration (3,11 micromol g-1 FM) was observed in 600 mM NaCl treatment. At 60 days the salt stress induced no significant differences in plant growth, but promoted reduction of photosynthetic assimilation and increased internal carbon concentration. After 60 days, saltbush accumulated Na+ in shoot with growth and biomass production was enhanced up to 300 mM NaCl level. Increased levels of salinity reduces the photosynthetic assimilation of the saltbush, but did not significantly affect the production of chlorophylls. In response to salinity saltbush has increased the concentration of proline in their leaves. With increasing salinity, the saltbush develops physiological and biochemical mechanisms to ensure its growth, with the 300 mM NaCl level which favors its maximum production. Key-words: Atriplex nummularia Lindl., salt stress, biomass, sodium, proline, gas exchange. ___________________ * Guidance Committee: Luiz Fernando Ganassali de Oliveira Junior - UFS (Orientador), Alceu Pedrotti (Coorientador)-UFS 1 v 1. INTRODUÇÃO GERAL A salinização do solo é um dos problemas mais graves que tem crescido substancialmente no mundo, em especial nas regiões áridas e semiáridas, cuja principal causa é o manejo incorreto da água de irrigação. De acordo com dados da FAO (2008), estima-se que aproximadamente dos 230 milhões de hectares de terras irrigadas no mundo, 45 milhões de hectares são afetados por sais (19,56%). No Brasil, estes solos são comumente encontrados no Nordeste, onde 20 a 25% das áreas irrigadas apresentam problemas de salinidade e/ou drenagem (FAO, 2006). As consequências da elevada salinidade nos solos são notadas na planta inteira, onde determinados processos são comprometidos. Um dos efeitos causados pelo estresse salino é a redução do potencial osmótico da solução do solo, gerando uma diminuição no gradiente de potencial hídrico do sistema solo-planta, dificultando a absorção de água pelas plantas, as quais são submetidas a um estresse hídrico. Uma das primeiras respostas ao estresse para evitar a perda excessiva de água pela transpiração é o fechamento estomático, porém, resulta numa limitação na concentração interna de CO2, podendo afetar a concentração dos pigmentos clorofilados envolvidos no processo da fotossíntese (PRISCO; GOMES FILHO, 2010; SILVA et al., 2012). Ainda em resposta ao estresse salino, as plantas ampliaram seus mecanismos bioquímicos para tolerar tal estresse através de produtos e processos alternativos. Algumas das estratégias bioquímicas utilizadas incluem acumulação ou exclusão de íons, controle da entrada de íons pelas raízes e transporte para as folhas, compartimentalização de íons a nível celular (vacúolos) e estrutural (folhas) e síntese de osmólitos como a prolina, um dos principais aminoácidos osmorregulador quanto à estratégia de adaptação das plantas a estresses diversos (ESTEVES; SUZUKI, 2008). A Atriplex nummularia, usualmente chamada de erva-sal, é uma espécie halófita de metabolismo fotossintético C4 de ocorrência natural das regiões desérticas da Austrália (OSMOND et al., 1980). A erva-sal é uma planta extremamente tolerante aos solos e às águas salinas e salobras, e possui boa capacidade de acumular quantidades de sais em seus tecidos, servindo também como potencial forrageiro, constituindo-se como fonte alternativa de alimentação animal. Assim, conforme Souza et al. (2012), o entendimento da tolerância das plantas ao estresse salino requer uma abordagem integrada das séries de mudanças envolvendo os sistemas celular e metabólico, onde o 1 estudo da fisiologia de plantas halófitas é importante na busca de soluções dos problemas da salinidade nos solos agrícolas. Atualmente, tem-se verificado um aumento no interesse da comunidade científica pelas respostas fisiológicas das plantas a condições de estresses ambientais, devido ao fato de muitos dos mecanismos utilizados ainda não serem completamente compreendidos (BOR et al., 2003). Contudo, quanto aos mecanismos de tolerância ao estresse salino pela erva-sal, mais especificamente em relação aos parâmetros trocas gasosas e acúmulo de solutos compatíveis, os trabalhos ainda são escassos. Diante do exposto, o presente trabalho objetivou-se avaliar as respostas ecofisiológicas e bioquímica de mudas de Atriplex nummularia sob diferentes níveis de salinidade da água de irrigação pelo NaCl ao longo do tempo, salientando os aspectos fisiológicos e bioquímico deste estresse. 2 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 A erva-sal (Atriplex nummularia Lindl.), características gerais e importância A família Chenopodiaceae compreende mais de 100 gêneros e 1.500 espécies, incluindo ervas e arbustos anuais ou perenes, às vezes lenhosos (JOLY, 1977). Essas espécies são nativas em quase todo o mundo, mas sua ocorrência é mais acentuada em regiões áridas e salinas, incluindo mangues, zonas de maresia ou rochedos marinhos. Sua distribuição é cosmopolita com ocorrência em todos os continentes e em muitas ilhas. Além disso, mais de 70 gêneros estão distribuídos em regiões litorâneas e desertos (OLIVARES & GASTO, 1981). O gênero Atriplex pertence à família Chenopodiaceae, e conta com mais de 400 espécies distribuídas em diversas regiões áridas e semiáridas do mundo (FAO, 1996), sendo a Atriplex nummularia uma das espécies pertencentes ao gênero (OBRAS, 1938). Taxonomicamente, esta espécie enquadra-se na seguinte ordem de classificação: Reino Plantae - Subreino: Tracheobionta - Superdivisão: Spermatophyta - Divisão: Magnoliophyta - Classe: Magnoliopsida - Subclasse: Caryophyllidae - Ordem: Caryophyllales - Família: Chenopodiaceae - Gênero: Atriplex spp. - Espécie: Atriplex nummularia Lind. (LINDLEY & MITCHELL, 1848). As espécies do gênero Atriplex são de hábito arbustivo (REIRE et al., 2010), com crescimento erguido, ramificado desde a base (ALVES et al., 2007), atingem alturas superiores a 2 metros, possuem inflorescências nos terminais dos ramos, folhas verdes acinzentadas, alternas, pecioladas, ovais e arredondadas (AGANGA et al., 2003), com tricomas vesiculares esbranquiçados acumuladores de sal (PORTO et al., 2006). A Atriplex nummularia é uma espécie dioica ou dioica parcial, propagando-se, também, vegetativamente por mergulhia e fragmentos de ramos (KELLY, 1982). A Atriplex nummularia é uma espécie originária da Austrália que tem se adaptado muito bem nas regiões áridas e semiáridas da América do sul, em particular da Argentina, Chile e Nordeste do Brasil (PORTO et al., 2001). Sua introdução no Brasil data da década de 30, sendo estabelecida no Nordeste Brasileiro pela Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas - DNOCS (OBRAS, 1938). No semiárido brasileiro, segundo Porto e Araújo (1999), a A. nummularia pode atingir 2,20 m de altura um ano após o transplantio, já o sistema radicular da planta pode chegar a 3,50 m de profundidade. Dentre as espécies da família Chenopodiaceae aproximadamente 15% delas interessam à produção animal, sendo a A. nummularia, a erva-sal, nome vulgar dado, no 3 Brasil, às plantas do gênero Atriplex, uma das mais importantes como forrageira (OBRAS, 1938). A erva-sal destaca-se pelo seu potencial forrageiro (SOUTO et al., 2005), constituindo-se como fonte alternativa de alimentos (BEN SALEM et al., 2004), podendo ser incorporada à alimentação animal na forma de feno, e com a finalidade de garantir o consumo e promover a neutralização do sal, sendo que o fornecimento deve ser aliado a outro tipo de volumoso (PORTO & ARAUJO, 2000). Na forma de feno, a erva-sal proporcionou ganhos de até 300 g animal-1 dia-1 para ovinos da raça Santa Inês confinados em rações em que esteve associada com palma forrageira e concentrado, ou apenas com concentrado (MATTOS, 2009). Pode ser utilizada como recurso forrageiro importante na complementação de dieta de ruminantes, devido ao seu valor nutritivo (em torno de 17% de proteína) e alta digestibilidade (70%) (BONILLA et al., 2000), além de servir como planta ornamental para o paisagismo (MAIA et al., 2003; SILVA et al., 2003). Um fator importante quanto às espécies do gênero Atriplex, é que várias espécies são capazes de completar seu ciclo de vida em condições ambientais bastante prejudiciais, como a seca, altas temperaturas e alta salinidade (RAMOS et al., 2004). Portanto, o grupo de plantas destas espécies que são capazes de crescer em concentrações de sal próximas à da água do mar são as halófitas (VOLKMAR et al, 1998). As plantas do gênero Atriplex são consideradas como “halófitas autênticas”, ou seja, precisam de sais (NaCl, KCl, MgCl, NaSO4 entre outros) no solo para completar seu ciclo de vida (IPA, 2000). Atiplex nummularia é uma espécie halófita, com o metabolismo fotossintético C4 (OSMOND et al., 1980). A rusticidade característica do gênero Atriplex é refletida na amplitude de ambientes em que as suas espécies são encontradas, suportando desde zonas climáticas áridas e semiáridas, com restrita disponibilidade de água (BARROSO et al., 2006), até áreas em condições ideais para a maioria das plantas cultivadas (BONILLA et al., 2000). Desenvolve-se bem em solos profundos, em regiões com 150 a 200 mm de precipitação anual, mas pode sobreviver bem com apenas 50 mm de precipitação anual, (AGANGA et al., 2003), por apresentar eficácia no uso da água, resultante do seu metabolismo C4; e sua característica de suculenta que está intimamente relacionada à salinidade. 4 O cultivo da erva-sal pode ser uma alternativa viável para a região Nordeste, principalmente quando sua produção estiver atrelada à utilização dos rejeitos dos dessalinizadores de água salobra, utilizados para irrigação de plantas halófitas em programas de reabilitação de solos em varias regiões áridas e semiáridas em processo de degradação ou sujeitas a desertificação, já que essas plantas são bem adaptadas a solos áridos e salinos (BARROSO et al., 2006). O desenvolvimento da erva-sal em ambientes de características adversas (CARVALHO JÚNIOR et al., 2010) é devido à sua fisiologia, que possui dois mecanismos de tolerância à salinidade, sendo capaz de acumular sais no interior das células e eliminá-los através das folhas, por meio de vesículas especializadas localizadas em sua superfície (PORTO et al., 2006; FREIRE et al., 2010). Por ser dotada destas particularidades fisiológicas envolvidas na tolerância à seca e a salinidade, que lhe rendeu a denominação vulgar de erva-sal, a A. nummularia vem demonstrando alta afinidade com o processo de fitorremediação de solos afetados por sais, os quais estão situados especialmente nas regiões áridas e semiáridas de todo o mundo (QADIR et al., 2007). A habilidade de absorção de sais através de seu sistema fisiológico, a produção de grande quantidade de biomassa e a capacidade hiperacumuladora de sais que a erva sal possui são atributos contemplados pelo processo de fitorremediação (SOUZA et al., 2011). Desse modo, o uso da halófita erva-sal constitui-se como uma alternativa importante nas áreas sob clima árido e semiárido, pela sua habilidade de sobrevivência frente a fatores limitantes como o estresse salino e sua elevada produção de material vegetal, caracterizando um bom potencial para revegetar solos degradados pela salinidade e sodicidade. 2.2 Estresse salino A salinidade é um dos estresses abióticos que mais limita o crescimento e a produtividade das plantas em todo mundo (VAIDYANATHAN et al., 2003). Este problema é mais acentuado em regiões áridas e semiáridas (MUNNS, 2002), onde está inserida a região de escassez de água do Nordeste brasileiro, que ocupa uma extensão de 150 milhões de hectares, e possuem condições favoráveis à ocorrência de solos afetados por excesso de sais (MOTA & OLIVEIRA, 1999). Salinidade é um termo que qualifica uma situação de excesso de sais solúveis no solo ou no ambiente radicular onde as plantas estão crescendo, entre os quais 5 predominam os sais de cloretos, sulfatos e bicarbonatos de Na+, Ca2+ e Mg2+ (QADIR et al., 2007; HOLANDA et al., 2010) . Os sais solúveis e, ou, sódio trocável presente nos solos afetados por sais estão em quantidade suficiente para reduzir, interferir ou até mesmo impedir o desenvolvimento vegetal, sendo que para a maioria das culturas isso ocorre quando a condutividade elétrica do solo é igual ou superior a 4 dS m-1. Neste grupo de solos estão os solos salinos, solos salino-sódicos e solos sódicos (RICHARDS, 1954; BARROS et al., 2005; SILVEIRA et al., 2008). A classificação tradicional para estes solos foi proposta por RICHARDS (1954), de acordo com as características de condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes), pH da pasta saturada e percentagem de sódio trocável (PST). Esta classificação apresenta os seguintes limites: Os solos normais apresentam CEes menor que 4 dS m-1, pH inferior a 8,5 e PST inferior a 15%; Os solos salinos apresentam CEes maior ou igual a 4 dS m-1, pH inferior a 8,5 e PST inferior a 15%; Solos salino-sódicos têm CEes maior ou igual a 4 dS m-1, pH maior ou igual a 8,5 e PST superior a 15%; Solos sódicos com CEes menor que 4 dS m-1, pH maior ou igual a 8,5 e PST superior ou igual a 15%. O excesso de sais no solo, suscitando em um estresse salino, é reconhecidamente responsável pela promoção de efeitos negativos ao desenvolvimento da maioria das culturas (ARAÚJO et al., 2006), afetando virtualmente todos os aspectos da fisiologia e metabolismo das plantas (ZHU, 2002). De uma maneira geral, os efeitos deletérios da salinidade nas plantas estão associados com o estresse osmótico que é gerado, o que resulta em distúrbios das relações hídricas, alterações na absorção e utilização de nutrientes essenciais, acúmulo de íons tóxicos (HASEGAWA et al., 2000) e interferência no equilíbrio hormonal, capazes de diminuir a plasticidade da célula e causar redução da permeabilidade da membrana plasmática, além de influenciar no processo de fotossíntese, já que o conteúdo de clorofila nas plantas é diminuído (LARCHER, 2000). Diante disso, as plantas podem se comportar de forma variada em relação aos limites de tolerância a salinidade (NEVES et al., 2008), havendo variação de respostas 6 de acordo com os níveis e tipos de sais, assim como entre e dentro das espécies vegetais (BARROS et al., 2009). No estudo das respostas das plantas a condições de estresse salino, que podem ocorrer tanto a nível celular quanto da planta como um todo, está o acúmulo seletivo ou a exclusão de íons, o controle na absorção dos íons pelas raízes, a síntese de solutos compatíveis, mudanças na rota fotossintética, alteração na estrutura das membranas, indução de enzimas antioxidantes e de hormônios vegetais (PARIDA & DAS, 2005). Segundo Taiz e Zeiger (2013), as plantas de ambientes salinos podem ser divididas em dois grandes grupos de tolerância: glicófitas - as que apresentam menor resistência à salinidade; e as halófitas - as que vivem em solos com alta concentração de sais por possuírem determinados mecanismos de sobrevivência. Um dos mecanismos de tolerância à salinidade que tem recebido bastante atenção é a compartimentalização intracelular dos sais. Segundo Dias e Blanco (2010), plantas mais tolerantes ao meio salino aumentam a concentração salina no seu interior, de modo que permaneça um gradiente osmótico favorável para absorção de água pelas raízes. Este processo é chamado ajuste osmótico e se dá com o acúmulo dos íons absorvidos nos vacúolos das células foliares, mantendo a concentração salina no citoplasma em baixos níveis, de modo que não haja interferência com os mecanismos enzimáticos e metabólicos nem com a hidratação de proteínas das células. Desta forma, halófitas e glicófitas diferem com relação à eficiência desse controle. Enquanto que nas glicófitas esse controle não é tão eficiente, nas halófitas, segundo Santos (2012), os mecanismos que as habilitam para sobrevivência em condições de salinidade podem ser reunidos resumidamente entre adaptação osmótica; produção de osmólitos; adaptações estomáticas e enzimáticas, compartimentalização de íons salinos e os mecanismos biomoleculares. O gênero Atriplex está entre o possuidor de espécies de plantas superiores mais tolerantes ao sal, possuindo uma adaptação à salinidade, por tolerar altas concentrações internas de sais e/ou pela excreção de sais (KHAN et al., 2000). Uma espécie halófita que tem sido estudada, principalmente, no âmbito de tolerância a salinidade do solo, é a Atriplex nummularia Lindl. (SOUZA et al., 2012). A Atriplex nummularia, comumente conhecida como erva-sal, é bem adaptada para sobreviver em condições ambientais adversas, constituindo um excelente material para identificação de mecanismos fisiológicos envolvidos com a resistência a esses estresses abióticos (SHEN et al., 2003; WANG & SHOWALTER, 2004). 7 Na Atriplex nummularia a tolerância à salinidade é frequentemente associada com a presença de tricomas vesiculares que cobrem a superfície foliar e apresentam uma elevada capacidade de acúmulo de sais. Entre as funções atribuídas a estes tricomas estão a absorção de água da atmosfera, armazenamento de água e secreção de sal (MOZAFAR & GOODIN, 1970). Souza et al. (2012) observaram mudanças anatômicas ocasionadas nos tricomas vesiculares das folhas de A. nummularia cultivada em um solo salino-sódico sob condições de estresse hídrico (35, 55, 75 e 95% da capacidade campo), onde o baixo conteúdo de água no solo salino-sódico (35% CC) relacionou-se com as menores médias de diâmetros e volumes das vesículas da epiderme. Segundo Porto e Araújo (2000), a maior acumulação de sais em A. nummularia ocorre nas folhas, em experimento conduzido na Embrapa Semiárido, em plantação irrigada com rejeito de dessalinização, o teor de cinzas das diferentes partes da planta em relação à matéria seca foi o seguinte: folha 25,23%, caule fino 8,62%, caule grosso 4,04% e lenha 3,18%. A partir destes dados, a estimativa é que a acumulação de sais na planta foi correspondente a 1.145 Kg ha-1 ano-1, para as condições de semiárido brasileiro. Nesse contexto, o entendimento da tolerância das plantas ao estresse salino requer uma abordagem integrada das séries de mudanças envolvendo os sistemas celular e metabólico, onde o estudo da fisiologia de plantas halófitas é importante na busca de soluções dos problemas da salinidade nos solos agrícolas (SOUZA et al., 2012). 2.3 Fitorremediação O processo de salinização dos solos muitas vezes está relacionado com o manejo inadequado do solo, em especial da irrigação. Diante da necessidade de produção, diferentes técnicas podem ser aplicadas no processo de recuperação (CAVALCANTE et al., 2010). Uma alternativa que vem surgindo para a recuperação de solos afetados por sais é a fitorremediação utilizando culturas halófitas (MONTENEGRO & MONTENEGRO, 2004). Em um conceito geral, a fitorremediação é definida como uma estratégia de biorremediação que consiste de procedimentos que envolvem emprego de plantas e sua microbiota associada e de amenizantes do solo, além de práticas agronômicas que se aplicadas em conjunto, removem, imobilizam ou tornam os contaminantes inofensivos ao ecossistema (ACCIOLY & SIQUEIRA, 2000). 8 Dentre os mecanismos empregados podemos citar: absorção e acumulação do contaminante nos tecidos das plantas - fitoextração; adsorção do contaminante no sistema radicular, imobilizando os contaminantes - fitoadsorção; adição ao solo de materiais que podem imobilizar os contaminantes - fitoestabilização; estimulação da biorremediação por fungos ou outros microrganismos localizados no sistema solo-raiz fitoestimulação (BAÑUELOS, 2000). Esta prática é utilizada com frequência quando o contaminante do solo trata-se de metal pesado ou diversos poluentes orgânicos (ACCIOLY & SIQUEIRA, 2000), porém pode ser empregada em solo sódico ou salino-sódico, onde o contaminante é o sal e/ou o sódio (QADIR et al., 1998). Nela, as plantas agem removendo, armazenando, transferindo, estabilizando o contaminante na parte aérea (ROMEIRO et al., 2007). O sucesso da fitoextração em solos afetados por sais está sujeito à características da espécie utilizada no processo, esta deve apresentar alta taxa de acumulação de sais, preferencialmente na parte aérea, visando facilitar sua retirada quando a planta for colhida. A planta deve apresentar ainda tolerância ao excesso de sais e alta taxa de crescimento e de produção de biomassa (LEAL et al., 2008). As halófitas são plantas adaptáveis aos altos níveis de salinidade presentes no sistema solo-água e com capacidade de acumular quantidades significativas de sais em seus tecidos (PORTO et al., 2001), constituindo-se em alternativa para recuperação de solos degradados, devido ao seu mecanismo de extração de sais do solo (SQUIRES & AYOUB, 1994). A Atriplex nummularia Lindl. encaixa-se neste perfil, haja vista a produção de biomassa e a afinidade na absorção de Na+ e Cl- (LEAL et al., 2008). Muitos estudos têm evidenciado um papel importante da Atriplex nummularia na fitorremediação de solos afetados por sais (AZEVEDO et al., 2005; LEAL et al., 2008; SOUZA et al., 2010; SOUZA et al., 2011; SANTOS et al., 2013) a fim de viabilizar áreas anteriormente agricultáveis. De acordo com Qadir et al. (2007), a comunidade científica tem demonstrado resultados satisfatórios na recuperação de solos salinos e sódicos com a fitorremediação, o que tem demonstrado que o emprego de plantas como subsídio de descontaminação, qualifica a fitorremediação como uma técnica muito atraente e promissora (LEAL et al., 2008). Uma das principais vantagens da técnica é o menor custo em relação às técnicas convencionais, como por exemplo, as que são utilizadas revolvendo a remoção do solo para tratamento ex situ (COUTINHO & BARBOSA, 2007), constituindo-se uma alternativa viável para agricultores descapitalizados. 9 2.4 Efeitos do estresse salino sobre as plantas 2.4.1 Crescimento Segundo Prisco e Gomes Filho (2010), o excesso de sais causa uma redução no potencial osmótico e potencial hídrico da solução do solo, gerando uma diminuição no gradiente de potencial hídrico do sistema solo-planta, dificultando, portanto, a absorção de água pelas plantas. Dessa forma, as plantas são submetidas a um estresse hídrico, processo esse referido como “seca fisiológica”. Essa redução de água nas folhas das plantas causa tipicamente a contração das células, perdendo turgidez (MARTINS, 2010), ou seja, reduções na pressão de turgor da célula (Ψp) e volume celular. Isto está também associado ao potencial hídrico (Ψw) do apoplasto tornando-se mais negativo que o do simplasto. Desta forma, a desidratação celular poderá causar uma maior concentração de íons na célula alcançando níveis citotóxicos (PRÜSS-ÜSTÜN et al., 2008). Além dos efeitos osmóticos, quando as plantas absorvem os íons salinos, estes agem sobre o protoplasma, causando distúrbios funcionais e injúrias (ASHRAF & HARRIS, 2004). Logo, a nível celular uma das respostas iniciais ao efeito do excesso de íons é a redução da expansão da superfície foliar, perda de turgescência, desidratação, redução no crescimento, redução do alongamento de raízes, atrofiamento e até mesmo morte das células (ASHRAF & HARRIS, 2004; TAIZ & ZEIGER, 2013; DIAS & BLANCO, 2010). Assim, a inibição do crescimento das plantas sob salinidade é o resultado de efeitos osmótico e iônico (MUNNS & TESTER, 2008). Entretanto, os efeitos dependem, ainda, de outros fatores, como espécie, cultivar, estádio fenológico, tipos de sais, intensidade e duração do estresse salino, manejo cultural e da irrigação e condições edafoclimáticas (TESTER & DAVÉNPORT, 2003). A salinidade, portanto, é uma das principais causas da queda de rendimento final das culturas (FLOWERS, 2004), pois seus efeitos refletem-se também sobre a altura e o acúmulo de matéria fresca e matéria seca, tanto da parte aérea como das raízes. Os processos de crescimento, então, são particularmente sensíveis ao efeito dos sais, de forma que a taxa de crescimento e a produção de biomassa, que pode ser indicada pela produção de matéria seca, são bons critérios para avaliação do grau de estresse e da capacidade de adaptação da planta à salinidade (LARCHER, 2006). Leal et al. (2008) avaliando a produção de matéria seca da parte aérea de mudas de Atriplex nummularia irrigadas com águas de diferentes níveis de salinidade (175 µS 10 cm-1; 500 µS cm-1 e 1.500 µS cm-1) aos 40, 70, 100 e 130 dias, observaram resposta não significativa para o fator água nos tempos avaliados. Já para a matéria seca de raízes, a adição de águas de classes mais salinas causou aumento até os 40 dias e depois tendeu a reduzir com o tempo desaparecendo nas últimas épocas de avaliação. Tal comportamento indica que esta planta pode ser irrigada com água de condutividade elétrica elevada, sem prejuízo na sua produtividade. Estudando o crescimento e produção de biomassa em mudas de A. nummularia sob diferentes níveis de salinidade da água de irrigação, Hussin et al. (2012) observaram que o crescimento de todas as frações, expressas em peso fresco (g), das mudas foi fortemente estimulado com o aumento da salinidade da água em relação ao tratamento controle, sendo o máximo de crescimento obtido no nível de salinidade moderada (250 mol m-3 de NaCl). As mudas exibiram crescimento visível e continuaram a desenvolver novas folhas mesmo no tratamento de maior salinidade (750 mol m-3 de NaCl), onde seus pesos frescos foram ainda mais elevados em comparação às do controle, em especial da parte aérea (caule e folhas). 2.4.2 Trocas gasosas As plantas estão constantemente trocando gases com o meio através dos estômatos, estruturas geralmente localizadas na superfície abaxial e ou adaxial da folha. Os estômatos são estruturas porosas constituídas por um grupo de células que, através de alterações em sua turgescência, abrem ou fecham o poro através do qual as trocas gasosas podem ocorrer (LARCHER, 2006; TAIZ & ZEIGER, 2013). As trocas gasosas estão intimamente ligadas às condições ambientais, portanto, o acúmulo de sais no solo, associado ao consequente estresse osmótico na zona da raiz, reduz a disponibilidade de água para os vegetais e pode, em consequência, afetar as trocas gasosas das plantas (BEZERRA et al., 2003). Na raiz, o estresse osmótico pode resultar na biossíntese do fitormônio ABA, o qual é translocado para a parte aérea da planta, via xilema, onde é acumulado e redistribuído intracelularmente nas células-guarda. Nestas células, o ABA provoca o fechamento estomático, o que reduz a perda de água pela epiderme foliar (VIEIRA et al., 2010). Ao reduzir a transpiração, o fechamento estomático mediado por ABA, limita a difusão de CO2 para o cloroplasto, alterando a fotoquímica e o metabolismo de carbono. Logo, em curto prazo, o fechamento dos estômatos é o principal fator limitante da fotossíntese (GREENWAY & MUNNS, 1980). 11 Quanto à restrição da difusão do CO2 com o fechamento estomático, no início do estresse a concentração de CO2 dentro da folha (Ci) primeiramente declina, mas, se o estresse torna-se mais severo, Ci aumenta (OHASHI et al., 2006). Segundo Flexas e Medrano (2002), a redução da Ci confirma a predominância da limitação estomática em restrição à assimilação fotossintética na primeira fase da perda de água, sem afetar reações no cloroplasto. Contudo, o aumento do estresse , quando Ci aumenta, indica predominância de limitações não-estomáticas. Por meio da regulação estomática realiza-se também a regulação da transpiração, a qual tem um significado importante no controle do acúmulo de sal para a parte aérea, uma vez que o transporte de sal ocorre principalmente via fluxo transpiratório (ROBINSON et al., 1997; MUNNS, 2002). Os sais carregados pelo fluxo de transpiração são depositados nas folhas e com a evaporação da água, a concentração de sais gradualmente aumenta, por isso são maiores nas folhas mais velhas do que nas mais jovens (MUNNS, 2002). Assim, o excesso de Na+ e, sobretudo, um excesso de Cl- no protoplasma, ocasionam distúrbios em relação ao balanço iônico (K+ e Ca2+ em relação ao Na+), bem como os efeitos específicos destes íons sobre as enzimas e membranas (FLORES, 1990). Em condições não salinas, o citossol das células de plantas não halófitas contem cerca de 1,0 a 3,0 dag kg-1 de K+ e 0,01 a 0,1 dag kg-1 de Na+, um ambiente iônico no qual muitas enzimas alcançam o seu ótimo. Os efeitos de toxicidade iônica ocorrem, quando as concentrações de íons prejudiciais, particularmente Na+, Cl- ou SO4-2, acumulam-se nas células. Uma alta relação Na+/K+ bem como a concentração elevada de sais totais inativam as enzimas e inibem a síntese protéica (TAIZ & ZEIGER, 2013). Nesse contexto, em longo prazo, o excesso de íons tóxicos no mesófilo pode inibir a fotossíntese por meio de mecanismos não-estomáticos, pelo efeito dos sais nos cloroplastos, devido à toxidez causada pelo excesso de Na+ e Cl- nos tecidos foliares das plantas, reduzindo o conteúdo total de clorofila, o transporte de elétrons nos cloroplastos e, consequentemente, causando um decréscimo na eficiência quântica máxima (PARIDA; DAS; MITTRA, 2004; ASSIS JÚNIOR et al., 2007; TAIZ & ZEIGER, 2013). Assim, como nas plantas não halófitas, segundo Silveira et al. (2010), nas halófitas sob condições de elevadas concentrações de Na+ as concentrações de K+ são geralmente diminuídas devido ao mecanismo de competição ou antagonismo entre eles. 12 Apesar de seus efeitos tóxicos, quando em altas concentrações, para a maioria das espécies vegetais, o Na+ pode promover efeitos benéficos ao crescimento e desenvolvimento vegetal de diversas espécies com diferentes metabolismos (ELSHELLH, et al., 1967; HYLTON, et al., 1967; DRAYCOTT & DURRANT, 1976), como as do gênero Atriplex, onde o Na+ é considerado um nutriente essencial para estas espécies, que são halófitas (FLOWERS, 1977). Os efeitos benéficos do Na+ têm sido reportados para as espécies da família Chenopodiaceae, e relacionados com o seu hábito ecológico de espécies ruderais ou halófitas (DESPLANQUE et al. 1999), capazes de mostrar taxas de crescimento significativas e flexibilidade fisiológica em resposta a rápidas mudanças ambientais. Um grupo que tem recebido uma atenção particulamente detalhada no campo da fisiologia é o das espécies do gênero Atriplex, erva-sal, espécies que metabolicamente possuem a via fotossintética C4 (KRONZUCKER et al., 2013). O metabolismo fotossintético C4 é caracterizado por uma série de adaptações anatômicas e bioquímicas capazes de concentrar CO2 ao redor do sítio de carboxilação da rubisco (VON CAEMMERER & FURBANK, 2003). Plantas que apresentam fotorrespiração reduzida por mecanismos de concentração de CO2 no sítio de carboxilação da rubisco também apresentam aumento na eficiência do uso da água e do uso de nutrientes (VON CAEMMERER & FURBANK, 2003; SAGE, 2004). Essa vantagem está relacionada ao fato do metabolismo C4 ser menos dependente de altas concentrações de CO2, com isso, as plantas com essa via, em ambientes áridos ou salinos, podem reduzir a abertura dos estômatos sem grandes perdas metabólicas, e, portanto, diminuir as taxas de transpiração (SAGE, 2004). A maioria das espécies que utilizam as rotas C4 de fixação de carbono requer íons Na+, por estar envolvido na transferência de metabólitos entre os cloroplastos das células do mesófilo e da bainha vascular das plantas (KORNDORFER, 2007). Desta forma, o sódio é fundamental para a entrada de piruvato nas células do mesofilo (parênquima radiado), onde ele atua na regeneração do fosfoenolpiruvato (PEP) que é o substrato da enzima PEPCase (fosfoenolpiruvato carboxilase), que por sua vez, atua na primeira etapa da via C4, a fixação do carbono (TAIZ & ZEIGER, 2013). Estudando as trocas gasosas de mudas de Atriplex nummularia submetidas a diferentes níveis de salinidade da água de irrigação, Hussin et al. (2012) observaram que o aumento gradual da salinidade da água aumentou em oito vezes a resistência estomática nas mudas do mais alto nível de salinidade (750 mol m-3 de NaCl) 13 comparadas às do tratamento controle. Como consequência, a proporção entre a concentração de CO2 interna e externa (Ci/Ca) foi nitidamente reduzida do tratamento controle para o de mais alto nível de salinidade, sendo este mesmo comportamento observado para a assimilação fotossintética de CO2. Estes autores também verificaram uma correlação do aumento da resistência estomática com a redução significativa nas taxas de transpiração, que atingiram um mínimo no tratamento de mais alto nível de salinidade. A redução das taxas de transpiração foi muito maior que a de fotossíntese, o que levou à melhor eficiência do uso da água com o aumento da salinidade da água. 2.4.3 Pigmentos fotossintéticos As clorofilas são os principais pigmentos cloroplastídicos que dão às plantas a sua cor verde característica (LARCHER, 2006) e os responsáveis pela conversão da radiação luminosa em energia, sob a forma de ATP e NADPH, sendo, portanto, também conhecidos como pigmentos fotossintéticos (TAIZ & ZEIGER, 2013). Dentre os pigmentos fotossintéticos, as clorofilas (Chl a e Chl b) e os carotenoides (carotenos e xantofilas) são os mais abundantes pigmentos biológicos existentes no planeta. As clorofilas a e b se encontram na natureza, em uma proporção de 3:1, diferindo nos substituintes de carbono, e localizam-se nos cloroplastos, sendo esta organela o continente da fotossíntese, isto é, onde ocorrem as duas reações importantes: a fotoquímica, nas membranas dos tilacóides e a bioquímica, no estroma do cloroplasto (STREIT et al., 2005; TAIZ & ZEIGER, 2013). Por estas razões, as clorofilas são estreitamente relacionadas com a eficiência fotossintética das plantas e, consequentemente, ao seu crescimento e adaptabilidade a diferentes ambientes, sendo constantemente sintetizadas e destruídas, cujos processos são influenciados por fatores internos e externos às plantas (TAIZ & ZEIGER, 2013). Sob condições de estresse, as plantas podem sofrer mudanças no conteúdo dos pigmentos fotossintéticos, clorofila a, clorofila b e clorofila total, através da indução de mecanismos bioquímicos e estruturais de resistência nas plantas. A síntese de compostos, como as Espécies Reativas de Oxigênio (EROs), resulta em mudanças na translocação do carbono e do nitrogênio e, com isso, alterações no sistema fotossintético (ALDEA et al., 2006). Todo estresse ambiental pode acarretar estresse oxidativo, resultado do acúmulo de espécies reativas e citotóxicas de oxigênio (O2-, H2O2, OH). No entanto, as plantas 14 possuem um mecanismo de defesa antioxidativo que atua mediante a ativação de um sistema enzimático e que inclui a peroxidase do ascorbato, a catalase e a peroxidase. Desta maneira, é frequente o aumento da atividade de uma ou mais enzimas do sistema antioxidativo, em função do incremento da salinidade, as quais catalisam a decomposição do H₂O₂, minimizando os seus efeitos deletérios sobre a célula e suas estruturas (MITTLER, 2002; AGARWAL & PANDEI, 2004; WILLADINO et al., 2011). Os pigmentos foliares podem ser utilizados como parâmetros indicativos de estresse salino nas plantas. Segundo Silveira et al. (2010), a redução na biossíntese de clorofilas também pode ser uma resposta aclimatativa ao estresse no sentido de economia de energia e menor captação de energia luminosa, para evitar estresse fotooxidativo, e não um efeito danoso em si. Contudo, enquanto alguns autores registram redução dos teores de clorofila em plantas submetidas ao estresse salino, outros registram incrementos dos mesmos como resposta ao estresse salino (PARIDA & DAS, 2005). Para GARCÍA-VALENZUELA et al. (2005), o incremento no conteúdo de clorofila em função do estresse salino pode ser resultado do desenvolvimento do cloroplasto (aumento no número de tilacóides) ou do aumento no número de cloroplastos sugerindo a ativação de um mecanismo de proteção ao aparato fotossintético. Araújo et al. (2006), estudando os efeitos do estresse salino no crescimento de Atriplex nummularia cultivada em níveis crescentes de NaCl, observaram uma diminuição na concentração de clorofilas a e b com o aumento dos níveis de salinidade da solução de irrigação. 2.4.4 Solutos compatíveis (ajuste osmótico) Um dos mecanismos utilizados pelas plantas para tolerar o efeito da salinidade é a acumulação de compostos que minimizem o desbalanço iônico e osmótico (NAIDU, 2003; ZHU, 2003). Dessa maneira, as plantas reduzem o potencial osmótico de suas células ao acumular íons do meio externo, ou pela mobilização de seus próprios constituintes orgânicos, sendo tal processo denominado de ajustamento osmótico ou osmorregulação (YAMAGUCHI & BLUMWALD, 2005). Muitas das plantas que toleram o efeito do estresse salino fazem o ajustamento osmótico através da síntese de compostos orgânicos, conhecidos como solutos 15 compatíveis (LACERDA et al., 2003). Os compostos que se acumulam mais frequentemente são: a sacarose, prolina e glicina betaína (ESTEVES & SUZUKI, 2008). Os solutos orgânicos além de atuarem na homeostase iônica e na estabilização de algumas macromoléculas e organelas, favorecem a manutenção da integridade da membrana (BOHNERT & SHEN, 1999; BRAY et al., 2000). A compatibilidade dos solutos orgânicos com as funções metabólicas da célula faz com que esses sejam acumulados no citosol e juntamente com a acumulação de íons no vacúolo, suscita o processo de estabilização dos potenciais hídricos entre o ambiente celular externo, o citosol e o vacúolo, de onde se deriva o ajustamento osmótico (PRISCO & GOMES FILHO, 2010). Existe grande variação entre diferentes espécies de plantas na capacidade de ajustamento osmótico e isso deve ser considerado ao se medir a habilidade da espécie em suportar determinado estresse (MENESES et al., 2006). A maioria das plantas cultivadas pertence ao grupo das glicófitas, que apresentam reduzido desenvolvimento em ambientes salinos. Nas glicófitas, a compartimentalização de íons inorgânicos ocorre no vacúolo e a acumulação de solutos orgânicos compatíveis no citoplasma, o que mantém a estabilidade entre os diversos compartimentos da célula (MUNNS, 2002). Nas halófitas, o ajustamento osmótico também ocorre, porém de forma mais eficiente que nas glicófitas (HASEGAWA et al. 2000). Muitas regulam o turgor pela acumulação de NaCl, para alcançar concentrações mais elevadas do que aquela no meio salino. Em plantas do gênero Atriplex, a acumulação de íons durante o ajustamento osmótico das folhas, parece ocorrer principalmente nos vacúolos e estruturas da superfície das folhas, onde os íons salinos são impedidos de entrar em contato com enzimas citosólicas e de organelas. Dessa maneira, a compartimentalização de íons salinos (Na+ e o Cl-) nos vacúolos somente pode ser realizada se o Na+ e o Cl- forem transportados ativamente para dentro dos vacúolos e se a permeabilidade do tonoplasto para esses íons for suficiente para sustentar o gradiente de concentração iônica e o extenso gasto de energia (MAATHIUS et al., 1992). Silveira et al. (2009) observaram que os íons Na+ e Cl- são os solutos mais importantes no ajustamento osmótico de folhas e raízes de Atriplex nummularia, e que K+ tem sua contribuição diminuída intensamente pela salinidade. Em outro estudo com Atriplex nummularia cultivada em solo salino sódico sob diferentes potenciais hídricos, observou-se que as folhas exibiram um ajustamento osmótico mais proeminente do que nas raízes. Além disso, concluiu-se também que os 16 íons Na+ e Cl- são os principais componentes para o ajuste osmótico, em geral, tanto em folhas estressadas pelos sais ou nas folhas não estressadas, mas nas raízes não estressadas o K+ é o componente principal (SOUZA et al., 2012). A glicina betaína é praticamente ausente em algumas espécies de culturas importantes tais como o arroz, tomate, mas acumula em quantidades elevadas sob condições de estresse hídrico ou salino em plantas pertencentes à família de Chenopodiaceae (WYN JONES & STOREY, 1981; MCCUE & HANSON, 1990). Este é especialmente o caso do gênero Atriplex. Silveira et al (2009) também observaram um aumento significativo nas concentrações de glicina betaína nos tecidos de A. nummularia em função do incremento nos níveis de NaCl em solução de irrigação. Apesar da forma de acúmulo da glicina betaína ter sido semelhante entre as folhas e raízes, as concentrações obtidas nas folhas foram 6 vezes maiores do que as encontradas nas raízes, cujo aumento foi de 84 para 138 mmol kg-1 quando do aumento da salinidade (de 0 para 300mM de NaCl). Da mesma maneira, o padrão de acúmulo de prolina nas folhas e raízes também foi semelhante, entretanto, sua concentração decresceu até 300 mM de NaCl e depois aumentou registrando a maior concentração de 0,67 mmol kg-1 em 600 mM de NaCl nas folhas. Muitos estudos com relação ao potencial fitorremediador da halófita Atriplex nummularia cultivada em solos afetados por sais, em casa de vegetação ou em campo, têm sido divulgados (ARAÚJO et al., 2005; AZEVEDO et al., 2005; LEAL et al., 2008; SOUZA et al., 2010; SOUZA et al., 2011; SANTOS et al., 2013). No entanto, ainda é pequeno o número de pesquisas mais recentes que abordem os mecanismos fisiológicos e bioquímicos utilizados pela espécie sob estresse salino, em especial dados sobre as trocas gasosas e o ajustamento osmótico. 17 3. ARTIGO 1 Submetido para: Pesquisa Agropecuária Brasileira – A2 Respostas ecofisiológicas e bioquímicas da erva-sal submetida a níveis crescentes de salinidade Naiara Araújo da Costa(1), Luis Fernando Ganassali de Oliveira Júnior(1) e Alceu Pedrotti(1) (1) Universidade Federal de Sergipe (UFS), Departamento de Engenharia Agronômica, Cidade Universitária Prof. José Aloísio de Campos, Avenida Marechal Rondon, s/n, Bairro Jardim Rosa Elze, CEP 49100-000, São Cristóvão, SE. E-mail: [email protected], [email protected], [email protected] Resumo - A erva-sal, uma halófita reconhecidamente tolerante ao estresse salino, constitui um excelente material para a identificação de mecanismos fisiológicos e bioquímicos envolvidos na sua resistência à salinidade. O objetivo deste trabalho foi avaliar as respostas ecofisiológicas e bioquímicas de plantas de erva-sal cultivadas em vasos mantidos em casa de vegetação e irrigadas a cada dois dias nas concentrações 0, 150, 300, 450 e 600 mM de NaCl. A biometria (altura e diâmetro do caule), trocas gasosas (assimiliação fotossintética de CO2, condutância estomática, concentração interna de carbono, transpiração e déficit de pressão de vapor entre a folha e o ar), teor relativo de clorofilas e de prolina nas folhas foram mensurados a cada quinze dias, durante 45 dias. As plantas apresentaram estímulo do crescimento principalmente nos níveis 0, 150 e 300 mM de NaCl. Quanto às trocas gasosas as plantas apresentaram uma variação na regulação estomática imprimindo um aumento da transpiração foliar. A salinidade não alterou significativamente os teores de clorofilas, mas induziu um 18 incremento nos teores de prolina em todos os níveis de NaCl. A erva-sal mostra boa capacidade de manutenção do crescimento e exibe acúmulo de prolina, o que evidencia uma possível ocorrência de ajustamento osmótico. Termos para indexação: Atriplex nummularia, halófita, estresse salino, trocas gasosas, prolina. Ecophysiological and biochemical responses of saltbush under increasing levels salinity Abstract – The saltbush, is halophyte recognizably tolerant to salt stress, is an excellent material for identification of physiological and biochemical mechanisms involved in its resistance to salinity. The objective of this study was to evaluate the ecophysiological and biochemical responses of plants saltbush grown in pots kept in a greenhouse and irrigated every two days at concentrations of 0, 150, 300, 450 and 600 mM NaCl. Biometrics (height and stem diameter), gas exchange (photosynthetic assimilation of CO2, stomatal conductance, internal carbon concentration, transpiration and vapor pressure deficit between leaf and air) , relative content of chlorophyll and proline in leaves were measured every two weeks for 45 days. The plants showed growth stimulation primarily levels of 0, 150 and 300 mM NaCl. As for gas exchange plants showed a variation in stomatal regulation printing increased leaf transpiration. Salinity did not significantly alter the levels of chlorophyll, but induced an increase in proline content at all levels of NaCl. The saltbush shows good ability to maintain growth and proline accumulation displays, which shows a possible occurrence of osmotic adjustment. Index terms: Atriplex nummularia, halophyte, salt stress, gas exchange, proline. 19 Introdução As halófitas são as únicas plantas que conseguem viver em solos com alta concentração de sais (Taiz & Zeiger, 2013). As espécies do gênero Atriplex são consideradas halófitas autênticas, pois caracterizam-se pela elevada tolerância a seca e salinidade do solo, conseguindo completar seu ciclo de vida nestes ambientes (Porto et al., 2000). A Atriplex nummularia Lindl., vulgarmente chamada de erva-sal, é uma halófita reconhecidamente tolerante ao estresse salino e hídrico, bem como produtora de grande biomassa vegetal, capaz de extrair quantidades consideráveis de sais desses solos (Porto et al., 2006; Leal et al., 2008; Souza, 2010). A erva-sal é uma espécie com metabolismo C4 que ocorre naturalmente nas terras salinas na região semiárida da Austrália, e tem sido estabelecida em solos agrícolas afetados por sais para pastagem de gado (Barrett-Lennard et al., 2003). Foi introduzida no Brasil na região Nordeste, na década de 30 por meio de pesquisas devido à sua tolerância aos solos e às águas salinas e salobras (Obras, 1938), constituindo, portanto, um material útil para a identificação de mecanismos fisiológicos envolvidos na resistência ao estresse salino (Cabello-Hurtado & Ramos, 2004). A salinidade pode inibir o crescimento da planta por vários fatores em curto e longo prazo. Portanto, os efeitos em curto prazo incluem a redução no crescimento devido ao efeito osmótico do sal, o que reduz a expansão celular. Os efeitos em longo prazo incluem o estresse iônico devido à absorção excessiva de sal, levando a uma redução na área foliar fotossintética disponível para a manutenção do crescimento (Munns, 2002). Em ambos, a redução do crescimento é frequentemente acompanhada pela baixa assimilação fotossintética de CO2, devido a limitações estomáticas e não estomáticas (Silva et al, 2008). Porém, independente do tipo de limitação, a salinidade ainda pode 20 alterar a condutância estomática, a transpiração, a disponibilidade de CO2 nos sítios de assimilação no cloroplasto e os pigmentos fotossintéticos (Parida & Das, 2005). Um fator importante no mecanismo de tolerância ao sal é a capacidade das células de plantas em ajustar-se osmoticamente e acumular solutos orgânicos como proteínas, açúcares, aminoácidos livre, prolina, entre outros (Munns, 2002). Dentre estes, a prolina é um aminoácido que tem a função de proteger as células dos processos de desnaturação sob condições de estresse salino, auxiliando na homeostase iônica celular, preservação da fotossíntese, estabilização de proteínas e membranas e remoção de radicais livres (Azevedo Neto et al., 2009). Experimentos recentes têm evidenciado que o acúmulo destes compostos depende da intensidade do estresse e da duração de exposição ao estresse (Di Martino et al., 2003). Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar as respostas ecofisiológicas e bioquímicas de plantas de erva-sal sob níveis crescentes de NaCl ao longo do tempo. Material e Métodos O experimento foi conduzido em casa de vegetação climatizada situada no Campus da Universidade Federal de Sergipe (UFS), São Cristóvão-SE. Foram utilizadas plantas de erva-sal com 40 dias de idade, provenientes do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Recife-PE, produzidas por estaquia em sacos de polietileno de 15 x 25 cm com substrato composto por uma mistura de terra de subsolo e matéria orgânica em proporção 3:1. As plantas foram transplantadas para vasos de polipropileno de 4 L de capacidade (uma planta por vaso), preenchidos com aproximadamente 3,80 kg de solo, proveniente do município de Carmópolis-SE. O solo foi coletado a uma profundidade de 0,0 - 0,20 m do perfil e sua caracterização química foi determinada conforme metodologia recomendada pela Embrapa (1997), realizada pelo Laboratório de Análises de Solo da Universidade Federal de Lavras e correspondeu a: Fósforo 5,4 mg dm-3; 21 Potássio 76,00 mg dm-3; Cálcio trocável 14,18 cmolc dm-3; Magnésio trocável 10,85 cmolc dm-3; Alumínio trocável 0,10 cmolc dm-3; Hidrogênio+Alumínio 7,87 cmolc dm-3; pH 4,9; Matéria orgânica 3,14 dag kg-1; Soma de bases trocáveis 25,22 cmolc dm-3; Capacidade de Troca Catiônica 33,09 cmolc dm-3; Saturação por bases 76,23 cmolc dm3 . Foi realizada adubação no momento do transplante das plantas com 1,39 g de uréia, 3,13 g de superfosfato simples e 1,08 g de cloreto de potássio, por vaso. No início da instalação do experimento determinou-se o volume de água necessária para o solo atingir a capacidade de campo (CC), sendo o mesmo aplicado em cada rega de maneira a manter a umidade do solo em torno de 70% da sua CC. As plantas foram submetidas a um período de aclimatação (30 dias), no qual foram irrigadas de dois em dois dias com água potável através da pesagem diária dos vasos. Após este período foi imposto um período de estresse no qual as plantas de todos os tratamentos foram irrigadas com soluções com 0, 150, 300, 450 e 600 mM de NaCl por 45 dias. Os valores médios de condutividade elétrica (a 25 ºC) das soluções de irrigação foram 7,45 µS cm1 , 12,11 mS cm-1, 16,36 mS cm-1, 22,1 mS cm-1 e 28,5 mS cm-1, respectivamente. A cada quinze dias, a altura (cm) e o diâmetro do caule (mm) das plantas foram mensurados utilizando-se régua graduada e paquímetro digital. As trocas gasosas foram mensuradas utilizando-se um analisador de gás a infravermelho IRGA (LI-COR Nebrasca, USA) modelo LI-6400xt, com fluxo de ar de 300 mL min-1 e fonte de luz acoplada de 1500 µmol m-2 s-1 sendo feitas em folhas completamente expandidas, localizadas no terço superior da muda. As medições ocorreram quinzenalmente entre 8 e 9 horas, com umidade relativa e temperatura do ar do ambiente. Os dados obtidos de trocas gasosas foram: assimilação fotossintética de CO2 (A), condutância estomática (gS), transpiração (E), déficit de pressão de vapor entre a folha e o ar (DPVfolha-ar) e concentração interna de carbono (Ci). 22 Para a determinação de clorofilas a, b e total foi utilizado um método não destrutivo, através do medidor de clorofila Clorofilog (Falker), que permitiu estimativa do teor de clorofila na folha. As medições foram realizadas no término das análises de trocas gasosas, sendo feitas na porção mediana da folha localizada no terço superior da muda. Quinzenalmente também foram coletadas amostras de folhas do terço superior das plantas para determinação de prolina livre, segundo metodologia descrita por Bates et al. (1973). Como referência, utilizou-se curva padrão com concentrações de 0,0 a 9,0 mmol L-1 de D-prolina p.a., e os valores foram expressos em µmol g‑1 de MF. Os tratamentos foram dispostos em delineamento experimental inteiramente casualizado, em arranjo fatorial 5 x 4, sendo cinco níveis de salinidade (0, 150, 300, 450 e 600 mM de NaCl) e quatro períodos de avaliações (0, 15, 30 e 45 dias após aplicação dos tratamentos), com cinco repetições. Os dados foram submetidos à análise de variância, pelo teste F, e análise de regressão. Resultados e Discussão A altura das plantas foi afetada pelo aumento dos níveis de NaCl na água de irrigação ao longo do tempo de exposição aos tratamentos salinos (Fig. 1). A equação de regressão que melhor se ajustou aos dados de altura em função do tempo foi a linear (p < 0,01) para os níveis 0, 150 e 300 mM de NaCl, os quais apresentaram uma tendência de aumento, com acréscimos relativos de 38,41, 29,69 e 24,63%, respectivamente, em relação ao início do experimento. As plantas submetidas aos níveis 450 e 600 mM de NaCl também mostraram uma tendência de aumento da altura, no entanto, as plantas mostraram um incremento não significativo. 23 y (0) = 0,4863x + 37,154 (R² = 0,9598**) y (150) = 0,3787x + 41,7 (R² = 0,9888**) y (300) = 0,3371x + 47,296 (R² = 0,9702**) y (450) = 0,1464x + 36,396 (R² = 0,9295 ns) y (600) = 0,1684x + 47,796 (R² = 0,9101 ns) 65 Altura (cm) 60 55 50 45 40 35 30 0 15 30 Dias após estresse 0 mM NaCl 150 mM NaCl 300 mM NaCl 450 mM NaCl 45 600 mM NaCl Figura 1. Altura de plantas de erva-sal cultivadas sob diferentes níveis de NaCl em função do tempo de imposição do estresse salino (dias). * e **- 5 e 1% de probabilidade de erro, respectivamente; ns - não significativamente. A variável diâmetro do caule das plantas também mostrou uma tendência de aumento ao longo do tempo para todos os níveis de NaCl (Fig. 2), cuja salinidade afetou linearmente (p < 0,01), com acréscimos de 72,64, 69,39 e 70,96% para os níveis 0, 150 Diâmetro do caule (mm) e 300 mM de NaCl, respectivamente. 8,0 7,5 7,0 6,5 6,0 5,5 5,0 4,5 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 y (0) = 0,1066x + 2,7712 (R² = 0,8385**) y (150) = 0,098x + 2,938 (R² = 0,7867**) y (300) = 0,1109x + 3,0852 (R² = 0,8122**) y (450) = 0,0792x + 2,4805 (R² = 0,7612**) y (600) = 0,083x + 2,9492 (R² = 0,7138**) 0 0 mM NaCl 15 30 Dias após estresse 150 mM NaCl 300 mM NaCl 450 mM NaCl 45 600 mM NaCl Figura 2. Diâmetro do caule de plantas de erva-sal cultivadas sob diferentes níveis de NaCl em função do tempo de imposição do estresse salino (dias). * e **- 5 e 1% de probabilidade de erro, respectivamente; ns - não significativamente. 24 As plantas submetidas aos níveis 450 e 600 mM de NaCl também seguiram a mesma tendência, entretanto, foram as que apresentaram os menores valores médios de diâmetro do caule em todo o intervalo experimental, provavelmente em função das maiores concentrações de NaCl na água de irrigação. De um modo geral, as plantas de erva-sal não mostraram uma redução na taxa de crescimento ao longo do tempo de exposição aos tratamentos salinos, mas sim um pequeno incremento de altura e diâmetro do caule em todos os níveis de salinidade. Este comportamento demonstra que a espécie possui algum mecanismo de adaptação ou de resistência à condição de salinidade imposta, o que pode ter proporcionado às plantas manter a expansão celular mesmo em pequena proporção. O crescimento limitado de plantas submetidas a níveis elevados de condutividade elétrica deve-se ao efeito osmótico, no qual a alta concentração de sais no solo reduz a capacidade da planta de absorver água, podendo induzir à condição de déficit hídrico. E também ao efeito específico dos íons no interior da planta caracterizado pela redução do crescimento em função do acúmulo de sais no interior das plantas (Munns et al., 2006). Contudo, plantas com habilidade em tolerar a pressão osmótica mostram um aumento na capacidade de manter o crescimento. As halófitas apresentam uma fisiologia controversa aos efeitos provocados pela presença de sais no meio (Munns & Tester, 2008). Araújo et al. (2006), trabalhando com plantas de A. nummularia cultivadas em níveis crescentes de NaCl, relataram um estímulo do crescimento a medida que aumentava a concentração dos íons Na+ e Cl- na solução de irrigação até o nível de 300 mmol L-1. E observaram que, em concentrações acima deste, o crescimento é afetado negativamente devido ao rompimento da coordenação do metabolismo da planta, com subsequente redução no crescimento provocada pela quebra da homeostase celular. 25 Bazihizina et al. (2012), avaliando o crescimento de A. nummularia cultivada em diferentes níveis de salinidade (10, 120, 230, 450 e 670 mM de NaCl), verificaram, após 21 dias de exposição aos tratamentos, um aumento no crescimento das plantas no intervalo de 120 a 230 mM de NaCl. No entanto, em 450 mM o crescimento foi similar ao das plantas expostas ao nível 10 mM de NaCl, e em 600 mM houve uma redução de 71% da taxa de extensão do caule em relação nível 10 mM de NaCl. Observou-se padrão de resposta quadrático (p < 0,01) da assimilação fotossintética de CO2 para todos os níveis de salinidade em função do aumento do tempo de imposição dos tratamentos, alcançando valores mínimos de 4,20, 6,52 e 3,18 µmol m-2s1 para os níveis 300, 450 e 600 mM de NaCl, respectivamente (Fig. 3). y (0) = 0,0089x2 - 0,3979x + 17,289 (R² = 0,8685**) y (150) = 0,017x2 - 0,8333x + 16,281 (R² = 0,9634**) y (300) = 0,0245x2 - 1,0707x + 14,975 (R² = 0,9991**) y (450) = 0,0232x2 - 1,0547x + 17,228 (R² = 0,9998**) y (600) = 0,027x2 - 1,1921x + 15,652 (R² = 0,9937**) A (µmol m-2s-1) 20 15 10 5 0 0 0 mM NaCl 15 30 Dias após estresse 150 mM NaCl 300 mM NaCl 450 mM NaCl 45 600 mM NaCl Figura 3. Assimilação fotossintética de CO2 (A) em plantas de erva-sal sob diferentes níveis de NaCl em função do tempo de imposição do estresse salino (dias). * e **- 5 e 1% de probabilidade de erro, respectivamente; ns - não significativamente. No entanto, até os quinze dias houve uma diminuição acentuada para as plantas submetidas a todos os níveis de salinidade seguida de um aumento, chegando a valores médios próximos aos obtidos no período sem estresse, demonstrando boa capacidade de adaptação às condições do presente estudo. 26 A condutância estomática (Fig. 4) mostrou uma variação maior para os níveis de salinidade ao longo do período experimental, mas, assim como a assimilação fotossintética de CO2, também apresentou uma leve tendência de aumento para todos os níveis de NaCl. Para os níveis 450 e 600 mM, este aumento foi linear (p < 0,01), enquanto que para os níveis 150 e 300 mM os efeitos do tempo de imposição dos tratamentos foram quadrático (p < 0,01) e cúbico (p < 0,01), respectivamente. Os valores médios obtidos aos 45 dias para os níveis 300, 450 e 600 mM de NaCl foram gs (mol m-2 s-1) 0,41, 0,53 e 0,83 mol m-2 s-1, respectivamente. y (0) = 0,0082x + 0,2007 (R² = 0,8028**) y (150) = 0,0007x2 - 0,0262x + 0,5717 (R² = 0,8498**) y (300) = 6E-05x3 - 0,0038x2 + 0,0626x + 0,2949 (R² = 1**) y (450) = 0,0068x + 0,358 (R² = 0,4134**) y (600) = 0,0101x + 0,2993 (R² = 0,4797**) 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 0 mM NaCl 15 30 Dias após estresse 150 mM NaCl 300 mM NaCl 450 mM NaCl 45 600 mM NaCl Figura 4. Condutância estomática (gS) em plantas de erva-sal sob diferentes níveis de NaCl em função do tempo de imposição do estresse salino (dias). * e **- 5 e 1% de probabilidade de erro, respectivamente; ns - não significativamente. As respostas dessas duas variáveis demonstram que as plantas de erva-sal neste estudo, não mantiveram seus estômatos predominantemente fechados. Esse comportamento pode sugerir uma possível adaptação das plantas para tentar manter uma assimilação fotossintética favorável, mesmo nos maiores níveis de salinidade, onde há limitações na absorção de água. A primeira resposta da planta ao estresse hídrico induzido pela salinidade geralmente é o fechamento estomático (Chaves et al., 2003). Alguns estudos já demonstraram que 27 plantas do gênero Atriplex submetidas à salinidade apresentaram decréscimos na assimilação fotossintética de CO2 devido à redução na abertura estomática (Hassine et al., 2008; Bazihizina et al., 2009). A resposta estomática usualmente ocorre antes da inibição da fotossíntese e restringe a disponibilidade de CO2 nos sítios de assimilação no cloroplasto. Esse mecanismo de defesa é, provavelmente, o fator mais importante de controle da fixação do carbono. Entretanto, limitações não estomáticas da fotossíntese têm sido atribuídas à redução na eficiência de carboxilação, a qual pode ser causada pela acumulação de sais no mesófilo, resultando em alterações na concentração intracelular de CO2 (Larcher, 2004). A concentração interna de CO2 (Ci) apresentou uma resposta quadrática (p < 0,01) para todos os níveis de NaCl ao longo do tempo (Fig. 5). y (0) = -0,0814x2 + 7,3699x + 182,76 (R² = 0,9754**) y (150) = -0,053x2 + 4,7079x + 270,52 (R² = 0,9532**) y (300) = -0,1725x2 + 9,841x + 228,03 (R² = 0,8737**) y (450) = -0,1703x2 + 10,177x + 222,72 (R² = 0,9818**) y (600) = -0,1985x2 + 12,439x + 199,78 (R² = 0,8776**) Ci (mmol m²) 450 400 350 300 250 200 150 0 0 mM NaCl 15 30 Dias após estresse 150 mM NaCl 300 mM NaCl 450 mM NaCl 45 600 mM NaCl Figura 5. Concentração de carbono interno (Ci) em plantas de erva-sal sob diferentes níveis de NaCl em função do tempo de imposição do estresse salino (dias). * e **- 5 e 1% de probabilidade de erro, respectivamente; ns - não significativamente. Até os 15 dias houve uma tendência de aumento na Ci, cujos valores médios dos níveis 300, 450 e 600 mM de NaCl foram 363,46, 347,47 e 378,72 mmol m2, respectivamente. Após este aumento os valores médios mantiveram-se próximos até o último período avaliado. A diminuição na assimilação de CO2 nos primeiros quinze dias 28 coincidiu com o aumento na concentração interna de carbono, demonstrando que neste mesmo período avaliado pode ter ocorrido uma inibição da fixação do carbono fotossintético. Já a pequena diminuição com os valores aproximados de Ci estão em conformidade com a manutenção da assimilação fotossintética de CO2 até o último dia avaliado, sugerido como o período de adaptação ao estresse imposto. Segundo Machado et al. (2009), a Ci reflete a disponibilidade de substrato para a fotossíntese, podendo indicar se o fechamento estomático está restringindo a atividade fotossintética ou não. Logo, o decréscimo em Ci poderia acarretar queda na assimilação fotossintética devido à redução na concentração de CO2 para atividade da rubisco. Entretanto, menores valores de Ci também estimulam a abertura dos estômatos permitindo maior influxo de CO2 para a cavidade subestomática, o que tende a um equilíbrio entre consumo e entrada de CO2, mantendo Ci aproximadamente constante. A transpiração, assim como a condutância estomática, mostrou variação para os níveis de salinidade ao longo do tempo, mostrando uma pequena tendência de aumento (Fig. 6). A transpiração seguiu modelo de resposta quadrática para os níveis 150 e 450 mM de NaCl, com pequeno aumento a partir de 30 dias. Já para os níveis 300 e 600 mM obtiveram-se modelos de resposta cúbica e linear, respectivamente, onde ambos também mostraram uma pequena tendência de aumento. Portanto, pode-se inferir que os tratamentos salinos não causaram um estresse severo nas plantas, de modo que os sais possam ter estimulado a abrir mais os estômatos, o que resultou, consequentemente, em um aumento da transpiração. A transpiração foliar influencia no processo de absorção e distribuição de água e sais minerais para a parte aérea, além de contribuir para o resfriamento da planta, em especial da folha, devido ao consumo de energia pela vaporização da água (Luttge, 1997). 29 E (mmol m-2 s-1) y (0) = 0,04x + 4,1684 (R² = 0,3802**) y (150) = 0,0051x2 - 0,2321x + 8,1804 (R² = 0,7842**) y (300) = 0,0005x3 - 0,0371x2 + 0,5728x + 5,4228 (R² = 1**) y (450) = 0,0022x2 - 0,1015x + 6,3161 (R² = 0,1472*) y (600) = 0,0482x + 5,2749 (R² = 0,1885**) 9 8 7 6 5 4 3 2 0 0 mM NaCl 15 30 Dias após estresse 150 mM NaCl 300 mM NaCl 450 mM de NaCl 45 600 mM NaCl Figura 6. Transpiração (E) em plantas de erva-sal sob diferentes níveis de NaCl em função do tempo de imposição do estresse salino (dias). * e **- 5 e 1% de probabilidade de erro, respectivamente; ns - não significativamente. Desta forma, o excesso de sais provocado pela aplicação das soluções salinas pode ter promovido um aumento na transpiração das plantas devido à resultante diminuição do potencial osmótico do solo. Pois, de acordo com Chen e Jiang (2010), tal fato pode ser explicado pela necessidade de uma energia maior por parte da planta, a exemplo do ajustamento osmótico, para gerar potenciais mais negativos que o encontrado nos solos para absorção de água. Tais gastos de energia envolvem uma transpiração maior por parte da planta quanto maior é a salinidade do solo. O déficit de pressão de vapor entre a folha e o ar (DPVfolha-ar) mostrou uma tendência de decréscimo linear (p < 0,01) para todos os níveis de salinidade ao longo do tempo (Fig. 7). Aos 45 dias foram observados valores médios de 1,44, 1,34 e 1,12 KPa para os níveis 300, 450 e 600 mM de NaCl, respectivamente. Tem sido verificado que o aumento do déficit de pressão de vapor entre a folha e o ar, quando a planta se encontra sob estresse hídrico/salino, reduz o fluxo de vapor de água do interior da câmara sub-estomática para a atmosfera, causando uma redução na condutância estomática e na transpiração (Thomas & Gausling, 2000). Entretanto, no 30 presente estudo, a diminuição no DPVfolha-ar ao longo do tempo de imposição dos tratamentos salinos parece ter favorecido as plantas de erva-sal em manter uma pequena abertura estomática e taxas transpiratórias em níveis compatíveis com as condições de DPV (KPa) salinidade em que foram expostas. y (0) = -0,0179x + 1,8744 (R² = 0,9992**) y (150) = -0,0091x + 1,6683 (R² = 0,5348**) y (300) = -0,0122x + 1,9653 (R² = 0,483**) y (450) = -0,017x + 1,9952 (R² = 0,8946**) y (600) = -0,0184x + 1,985 (R² = 0,5332**) 2,4 2,2 2,0 1,8 1,6 1,4 1,2 1,0 0 0 mM NaCl 15 30 Dias após estresse 150 mM NaCl 300 mM NaCl 450 mM NaCl 45 600 mM NaCl Figura 7. Déficit de pressão de vapor entre a folha e o ar (DPVfolha-ar) em plantas de erva-sal sob diferentes níveis de NaCl em função do tempo de imposição do estresse salino (dias). * e **- 5 e 1% de probabilidade de erro, respectivamente; ns - não significativamente. Os teores relativos de clorofila a em todos os níveis de NaCl não diferiram (p < 0,05) ao longo do tempo, porém mostraram uma pequena tendência de diminuição para os níveis 450 e 600 mM de NaCl a partir dos trinta dias (Fig. 8A). Já os teores relativos de clorofila b mostraram uma tendência de aumento em função do tempo de imposição do estresse para os níveis 150 e 450 mM de NaCl (Fig. 8B). Não houve influência significativa do tempo de imposição dos diferentes níveis de salinidade nos índices de clorofila a e b, mas houve uma pequena tendência de aumento no teor de clorofila b no último período avaliado, o qual pode estar associado a algum mecanismo de tolerância da espécie à salinidade com foco a manter sua capacidade fotossintética favorável a seu crescimento durante o período de estresse. De acordo com Jamil et al. (2007), a 31 salinidade reduz o teor de clorofila em plantas sensíveis e aumenta em plantas tolerantes Chla ao sal. y (0) = -0,0589x + 24,016 (R² = 0,3416 ns) y (150) = 0,0768x + 24,612 (R² = 0,3953 ns) y (300) = 0,0315x + 25,082 (R² = 0,2584 ns) y (450) = -0,0085x2 + 0,3603x + 26,564 (R² = 0,9975 ns) y (600) = -0,0023x2 + 0,0482x + 25,333 (R² = 0,2256 ns) 33 31 29 27 25 23 21 19 17 0 0 mM NaCl 15 30 Dias após estresse 150 mM NaCl 300 mM NaCl 450 mM NaCl y (0) = -0,0011x2 + 0,0469x + 8,564 (R² = 0,301 ns) y (150) = 0,1416x + 10,774 (R² = 0,8161 ns) y (300) = 0,0455x + 10,352 (R² = 0,7251 ns) y (450) = 0,1339x + 11,908 (R² = 0,7826 ns) y (600) = 0,0471x + 11,266 (R² = 0,3011 ns) 20 18 A 45 600 mM NaCl B Chl b 16 14 12 10 8 6 0 0 mM NaCl 15 30 Dias após estresse 150 mM NaCl 300 mM NaCl 450 mM NaCl 45 600 mM NaCl Figura 8. Estimativas do teor de Clorofila a (A) e Clorofila b (B) em plantas de erva-sal sob diferentes níveis de NaCl em função do tempo de imposição do estresse salino (dias). * e **- 5 e 1% de probabilidade de erro, respectivamente; ns - não significativamente. A clorofila b, considerada um pigmento acessório, auxilia na absorção de luz e na transferência de energia radiante para os sítios localizados sobre as membranas dos tilacóides, os centros de reação, para que ocorra o primeiro estágio do processo fotossintético pela clorofila a (Taiz & Zeiger, 2013). De acordo com Graciano et al. (2011), incremento nos índices de clorofila com o aumento da salinidade pode ser 32 relacionado como um mecanismo compensatório para manter o crescimento e produção ao possibilitar o aumento da eficiência fotossintética através da melhor absorção de luz pelos cloroplastos. Os teores de clorofila total (Fig. 9 A) seguiram a mesma tendência apresentada para a clorofila b, com os maiores valores encontrados nas plantas dos níveis 150 e 450 mM de NaCl. y (0) = -0,06x + 32,82 (R² = 0,2745 ns) y (150) = 0,2184x + 35,386 (R² = 0,7100 ns) y (300) = 0,0769x + 35,434 (R² = 0,477 ns) y (450) = 0,1101x + 40,392 (R² = 0,3771 ns) y (600) = -0,0052x2 + 0,2263x + 35,944 (R² = 0,1365 ns) 50 A 45 Chl total 40 35 30 25 0 0 mM NaCl 4,0 15 30 Dias após estresse 150 mM 300 mM 450 mM NaCl 45 600 mM NaCl y (0) = -0,0011x2 + 0,0482x + 2,5679 (R² = 0,3216 ns) y (150) = -0,0125x + 2,2775 (R² = 0,6426 ns) y (300) = -0,0132x + 2,8248 (R² = 0,3968 ns) y (450) = -0,0205x + 2,4986 (R² = 0,8200 ns) y (600) = -0,0159x + 2,5102 (R² = 0,9665 ns) B Chl a / Chl b 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0 0 mM NaCl 15 150 mM NaCl 30 Dias após estresse 300 mM NaCl 450 mM NaCl 45 600 mM NaCl Figura 9. Estimativas do teor de Clorofila total (A) e Relação Clor a/Clor b (B) em plantas de erva-sal sob diferentes níveis de NaCl em função do tempo de imposição do estresse salino (dias). * e **- 5 e 1% de probabilidade de erro, respectivamente; ns - não significativamente. 33 Os teores encontrados para os pigmentos fotossintetizantes não gerou efeito significativo (p < 0,05) na relação clor a/clor b, porém observou-se uma tendência de diminuição desta relação, seguindo modelo quadrático para o nível 300 mM de NaCl e modelo linear para os demais níveis (Fig. 9B). Mesmo que o aumento no tempo de aplicação dos tratamentos salinos tenha promovido uma pequena diminuição da relação Clor a/Clor b, observou-se que a clorofila a esteve presente em concentrações maiores nas plantas de todos os níveis de NaCl, durante o período experimental, próximo a proporção de 3:1 com relação à clorofila b, condições estáveis quanto aos teores deste pigmento (Taiz & Zeiger, 2013). Estes resultados podem pressupor a existência de um mecanismo adaptativo da erva-sal para evitar a degradação desses pigmentos a partir do efeito progressivo de íons tóxicos como o Na+ e Cl-. Foi significativo (p < 0,01) o efeito da salinidade sobre os teores de prolina ao longo do tempo, onde observou-se aumentos lineares. Os maiores teores encontrados aos 45 dias foram nos níveis 450 e 600 mM de NaCl, com 3,44 e 3,01 µmol g-1 MF, respectivamente (Fig. 10). Portanto, as plantas de erva-sal responderam à salinidade pela manutenção de maiores concentrações de prolina, visto que os teores aumentaram com o incremento nos níveis de NaCl e no tempo de exposição das plantas ao sal. Desta forma, nas condições em que o experimento foi desenvolvido, este acúmulo pode ser considerado um indicador fisiológico na espécie em função do aumento da salinidade e do período, em dias, de estresse imposto. Sob estresse hídrico ou salino, a perda da turgescência pela célula parece ser o fato inicial que desencadeia uma sequência complexa de eventos adaptativos e resulta no acúmulo de prolina para promover a diminuição no potencial osmótico no tecido (Munns & Tester, 2008), sendo fortemente relacionado com a tolerância ao estresse (Ashraf & Foolad, 2007). 34 Figura 10. Teor de prolina em plantas de erva-sal sob diferentes níveis de NaCl em função do tempo de imposição do estresse salino (dias). * e **- 5 e 1% de probabilidade de erro, respectivamente; ns - não significativamente. Em folhas de plantas de Atriplex nummularia submetidas a níveis crescentes de NaCl na solução de irrigação, Hussin et al. (2012) verificaram que nas salinidades mais elevadas houve acúmulos progressivos de prolina. O maior tratamento salino (750 mM de NaCl) provocou aumentos significativos de seis e oito vezes de prolina em folhas jovens e adultas, respectivamente, variando de 80 a 150 µmol g-1 de massa seca nas folhas jovens. Apesar dos teores de prolina no presente estudo terem sido obtidos em base fresca do peso das folhas, o que difere do trabalho destes autores, o aumento no teor de prolina com o aumento da salinidade e com o tempo de exposição das plantas ao sal sugere um papel protetor da prolina contra a perda de água permitindo um gradiente osmótico celular mais favorável nestas condições. Conclusão 1. Em condições de salinidade crescente ao longo do tempo, a erva-sal mostra boa capacidade de manutenção do crescimento e adaptação de sua atividade fotossintética, e exibe acúmulo de prolina em suas folhas. 35 Referências ARAÚJO, S.A.M.; SILVEIRA, J.A.G.; ALMEIDA, T.D.; ROCHA, I.M.A.; MORAIS, D.L.; VIÉGAS, R.A. 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ARTIGO 2 Submetido para: Bioscience Journal – B1 EFEITOS DE NÍVEIS DE SALINIDADE NO ACÚMULO DE SÓDIO E BIOMASSA E EM PARÂMETROS FISIOLÓGICOS DA ERVA-SAL EFFECTS OF SALINITY LEVELS IN THE ACCUMULATION OF IONS AND BIOMASS AND PHYSIOLOGICAL PARAMETERS OF OLD MAN SALTBUSH Naiara Araújo da COSTA1; Luiz Fernando Ganassali de OLIVEIRA JÚNIOR2; Alceu PEDROTTI3 1 Engenheira Florestal, Mestranda em Agroecossistemas, Universidade Federal de Sergipe – UFS, São Cristóvão, SE, Brasil. [email protected]; 2 Engenheiro Agrônomo, Professor Dr. do Departamento de Engenharia Agronômica (DEA), UFS; 3 Engenheiro Agrônomo, Professor Dr., DEA, UFS; RESUMO: A erva-sal é uma espécie C4 extremamente tolerante aos solos e às águas salinas e possui boa capacidade de acumular quantidades de sais em seus tecidos. Seu bom desenvolvimento nestes ambientes é devido a sua fisiologia, pois possui mecanismos associados de tolerância à salinidade. Assim, o presente trabalho teve como objetivo avaliar as respostas de crescimento e fisiologia da erva-sal submetida a diferentes níveis de salinidade. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, sendo 3 níveis de salinidade e 5 repetições, onde as plantas foram cultivadas em vasos mantidos em casa de vegetação e irrigadas a cada 2 dias nas concentrações 0, 300 e 600 mM de NaCl durante 60 dias. Foram avaliados a biometria (diâmetro do caule e altura das plantas), biomassa fresca e seca da parte aérea 41 (caule+folhas) e raiz, trocas gasosas (assimilação fotossintética de CO2, condutância estomática, concentração interna de carbono, transpiração e déficit de pressão de vapor entre a folha e o ar), teor relativo de clorofilas (Chl a, Chl b, Chl total e relação Chl a/b), teor de Na+, K+ e relação Na+/K+ na parte aérea e raiz, e teor de prolina nas folhas. A erva-sal acumulou mais Na+ que K+, com maior acúmulo na parte aérea que na raiz, até o nível 300 mM de NaCl, sendo este o nível de salinidade que proporcionou maior produção de biomassa fresca (46,38 g) e seca (19,69 g) . O aumento da salinidade promoveu acúmulo de prolina, cuja maior concentração (3,11 µmol g-1 MF) foi verificado no tratamento 600 mM de NaCl. Aos 60 dias o estresse salino não induziu diferenças significativas no crescimento das plantas, mas promoveu redução da assimilação fotossintética de CO2 e aumento da concentração interna de carbono. Os diferentes níveis de salinidade da solução de irrigação têm efeitos sobre os parâmetros avaliados, havendo um estímulo de crescimento e matéria seca, e acúmulo de sódio na parte aérea. Quanto ao desempenho fisiológico da erva-sal, o aumento dos níveis salinos não é suficiente para comprometer seu desenvolvimento e produtividade. PALAVRAS-CHAVE: Atriplex nummularia Lindl. Estresse salino. Sódio. Prolina. Trocas Gasosas. INTRODUÇÃO A erva-sal (Atriplex nummularia L.) é uma espécie originária da Austrália que tem se adaptado muito bem nas regiões áridas e semiáridas da América do Sul, em particular da Argentina, Chile e Nordeste do Brasil. O cultivo desta halófita tem sido uma alternativa viável para a região Nordeste, principalmente quando sua produção estiver atrelada à utilização dos rejeitos dos dessalinizadores de água salobra (PORTO; ARAÚJO, 1999; PORTO et al., 2001). Além disso, destaca-se também pelo seu 42 potencial forrageiro, constituindo-se como fonte alternativa de alimentação animal na forma de feno (BEN SALEM et al., 2004; SOUTO et al., 2005). No aspecto climático, contudo, a elevada evapotranspiração potencial da região Nordeste (SILVA; AMARAL, 2007), associada ao manejo inadequado do solo e da água de irrigação, tem ocasionado elevações expressivas nos níveis de salinidade dos solos (GRACIANO et al., 2011). De acordo com dados da FAO (2006), no Brasil os solos afetados por sais são comumente encontrados nesta região, onde 20 a 25% das áreas irrigadas apresentam problemas de salinidade. Nestas áreas a salinidade é considerada um dos principais estresses abióticos que afetam a produtividade e a qualidade das culturas, induzindo redução do crescimento das plantas (GARCIA et al., 2010; GONDIM et al., 2010; OLIVEIRA et al., 2010). A resposta das plantas sob condições de salinidade é um fenômeno extremamente complexo, envolvendo alterações morfológicas e de crescimento, além de processos fisiológicos e bioquímicos. Desta forma, a sobrevivência das plantas em condições de salinidade pode exigir processos adaptativos envolvendo a absorção, o transporte e a distribuição de íons nos vários órgãos da planta, bem como a compartimentação de nutrientes minerais dentro das células (ZANANDREA et al., 2006; GARCIA et al., 2010). As alterações no metabolismo induzidas pela salinidade são resultado de várias respostas fisiológicas da planta, dentre as quais se destacam as modificações no crescimento, comportamento estomático, capacidade fotossintética, a transpiração, a disponibilidade de CO2 nos sítios de assimilação no cloroplasto e os pigmentos fotossintéticos (PARIDA; DAS, 2005; GRACIANO et al., 2011). O excesso de Na+ no ambiente radicular afeta a integridade da membrana (SILVA et al., 2010) e favorece o acúmulo desse cátion no interior da célula causando distúrbio na absorção de K+ e aumento na relação Na+/K+. Além do Na+, a absorção e o 43 acúmulo do Cl- sob condições salinas também pode resultar em efeitos tóxicos (WILLADINO; CAMARA, 2010). Para evitar toxicidade iônica no citoplasma o Na+ e o Cl- podem ser compartimentalizados no vacúolo, e a síntese de solutos orgânicos compatíveis no citoplasma restabelece o equilíbrio osmótico celular, rompido pelo excesso de sais no meio externo e pela compartimentalização iônica no vacúolo. Entre os solutos orgânicos destacam-se a prolina, glicina betaína e alguns carboidratos (MUNNS et al., 2002). A prolina, é um aminoácido que tem a função de proteger as células dos processos de desnaturação sob condições de estresse salino, auxiliando na homeostase iônica celular, preservação da fotossíntese e remoção de radicais livres (AZEVEDO NETO et al., 2009). A erva-sal é conhecida pela sua tolerância ao estresse hídrico e salino, bem como pelo seu potencial produtor de grande biomassa vegetal, capaz de extrair quantidades consideráveis de sais dos solos (PORTO et al., 2006; LEAL et al., 2008; SOUZA, 2010). Deste modo, o desenvolvimento da erva-sal em ambientes de características adversas (CARVALHO JÚNIOR et al., 2010) é devido a sua fisiologia, que possui alguns mecanismos associados de tolerância à salinidade (PORTO et al., 2006), conseguindo manter o seu crescimento em concentrações elevadas de NaCl (MCKELL, 1994). Nesse aspecto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos de diferentes níveis de NaCl na solução de irrigação sobre o acúmulo de matéria seca e de sódio nas partes da planta e de parâmetros fisiológicos da erva-sal. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em casa de vegetação climatizada situada no Campus da Universidade Federal de Sergipe (UFS), São Cristóvão-SE. Foram utilizadas plantas de erva-sal com 40 dias de idade, provenientes do Instituto 44 Agronômico de Pernambuco (IPA), Recife-PE, produzidas por estaquia em sacos de polietileno de 15 x 25 cm com substrato composto por uma mistura de terra de subsolo e matéria orgânica em proporção 3:1. As plantas foram transplantadas para vasos de polipropileno de 4 L de capacidade (uma planta por vaso), preenchidos com aproximadamente 3,80 kg de solo, proveniente do município de Carmópolis-SE. O solo foi coletado a uma profundidade de 0,0 - 0,20 m do perfil e sua caracterização química foi determinada conforme metodologia recomendada pela Embrapa (1997), realizada pelo Laboratório de Análises de Solo da Universidade Federal de Lavras e correspondeu a: Fósforo 5,4 mg dm-3; Potássio 76,00 mg dm-3; Cálcio trocável 14,18 cmolc dm-3; Magnésio trocável 10,85 cmolc dm-3; Alumínio trocável 0,10 cmolc dm-3; Hidrogênio+Alumínio 7,87 cmolc dm-3; pH 4,9; Matéria orgânica 3,14 dag kg-1; Soma de bases trocáveis 25,22 cmolc dm-3; Capacidade de Troca Catiônica 33,09 cmolc dm-3; Saturação por bases 76,23 cmolc dm-3. Foi realizada adubação no momento do transplante das plantas com 1,39 g de uréia, 3,13 g de superfosfato simples e 1,08 g de cloreto de potássio, por vaso. No início da instalação do experimento determinou-se o volume de água necessária para o solo atingir a capacidade de campo (CC), sendo o mesmo aplicado em cada rega de maneira a manter a umidade do solo em torno de 70% da sua CC. As plantas foram submetidas a um período de aclimatação (30 dias), no qual foram irrigadas de dois em dois dias com água potável através da pesagem diária dos vasos. Após este período foi imposto um período de estresse no qual as plantas de todos os tratamentos foram irrigadas com soluções com 0, 300 e 600 mM de NaCl. Os valores médios de condutividade elétrica (à 25 ºC) das soluções de irrigação foram 7,45 µS cm 1 , 16,36 mS cm-1 e 28,5 mS cm-1, respectivamente. 45 Aos 60 dias após aplicação dos tratamentos salinos, a altura (cm) e o diâmetro do caule (mm) das plantas foram mensurados utilizando-se régua graduada e paquímetro digital. As plantas foram removidas do substrato, as raízes foram lavadas com água destilada, as plantas foram particionadas em parte aérea (caule+folhas) e radicular, e obtida a massa fresca (g) imediatamente após a coleta. Após secagem a 65 ºC em uma estufa de circulação de ar forçada durante 72 horas, a massa seca (g) das partes aérea e radicular foram determinadas por pesagem em balança digital de precisão (duas casas decimais). As trocas gasosas foram mensuradas utilizando-se um analisador de gás a infravermelho IRGA (LI-COR Nebrasca, USA) modelo LI-6400xt, com fluxo de ar de 300 mL min-1 e fonte de luz acoplada de 1500 µmol m-2 s-1 sendo feitas em folhas completamente expandidas, localizadas no terço superior da muda. As medições ocorreram entre 8 e 9 horas, com umidade relativa e temperatura do ar do ambiente. Os dados obtidos de trocas gasosas foram: assimilação fotossintética de CO2 (A), condutância estomática (gS), transpiração (E), déficit de pressão de vapor entre a folha e o ar (DPVfolha-ar) e concentração interna de carbono (Ci). Para a determinação de clorofilas a, b e total foi utilizado um método não destrutivo, através do medidor de clorofila Clorofilog (Falker), que permitiu leituras instantâneas do teor relativo de clorofila na folha. As medições foram realizadas no término da análise de trocas gasosas, sendo feitas na porção mediana da folha localizada no terço superior da muda. Também foram coletadas amostras de folhas do terço superior das mudas para determinação de prolina livre, segundo metodologia descrita por Bates (1973). O extrato foliar foi obtido por maceração de 0,5 g de amostra fresca com 10 mL de ácido 5sulfosalicílico 3% até completa homogenização. O homogenizado foi centrifugado a 46 4000 rpm por 15 minutos e 2 mL do sobrenadante foi transferido para tubos de ensaio com mais 2 mL de ninhidrina ácida e 2 mL de ácido acético glacial. Após aquecimento em banho-maria à aproximadamente 100 °C por 60 minutos resfriaram-se os tubos e efetuou-se leitura em espectofotômetro a 520 nm. Como referência, utilizou-se curva padrão com concentrações de 0 a 9,0 mmol L-1 de D-prolina p.a. A massa seca das partes aérea e radicular coletadas foi moída em moinho tipo Willey e realizada a digestão nitro perclórica. Para tal pesou-se 0,5 g da amostra seca e moída e colocou-a em tubo de digestão, e adicionou-se 8 mL de ácido nítrico + ácido perclórico. Os tubos foram levados ao bloco digestor na capela durante 24 horas, elevando a temperatura lenta e gradativamente, com início de 80°C, 150°C, 180° C até chegar aos 220°C e obter o ponto ideal das amostras, o qual é observado através da cor transparente. Em seguida adicionou-se aproximadamente 10 mL de água destilada às amostras, as quais foram filtradas e transferidas para balões de erlenmeyer, completando-se com água destilada até o volume de 50 mL (SILVA, 2009). Posteriormente foram feitas diluições das amostras digeridas, sendo utilizadas 4 mL da digestão nitro perclórica e 16 mL de água destilada, e realizadas as determinações de sódio e potássio por leitura direta no fotômetro de chama em ppm, a qual foi multiplicada pelo fator de diluição e convertida a g kg-1 de massa seca (MALAVOLTA et al., 1989). Os tratamentos foram dispostos em delineamento experimental inteiramente casualizado, sendo três níveis de salinidade (0, 300 e 600 mM de NaCl), com cinco repetições. Os dados foram submetidos à análise de variância, pelo teste F, e as médias separadas por teste de Tukey a 5 % de probabilidade com o programa estatístico SISVAR (FERREIRA, 2011). 47 RESULTADOS E DISCUSSÃO Não foram observadas diferenças (p < 0,05) entre os níveis salinos 300 e 600 mM de NaCl quanto ao teor de Na+ na parte aérea (folhas+caule) e na raiz (Tabela 1). Entretanto, observa-se que as diferentes partes das plantas quando submetidas a estes tratamentos, o teor de Na+ na parte aérea foi cerca de 4 vezes maior que o teor encontrado na raiz em ambos. Este acúmulo, especialmente na parte aérea, pode representar uma preferência da espécie a transportar o sódio para esta parte da planta de modo a favorecer o acúmulo deste sal em suas folhas, haja vista que a espécie possui em suas folhas estruturas morfológicas que permitem a remoção do sódio. Muitas halófitas apresentam mecanismos de exclusão de Na+ e Cl- em estruturas morfológicas como glândulas secretoras e pêlos vesiculares (FERNANDES et al., 2010). Isto é verificado na erva-sal, a qual possui glândulas ou vesículas na superfície das folhas, nas quais o sal armazenado cristaliza-se e, por conseguinte já não é mais nocivo, permitindo assim a absorção de água e sais (ARAÚJO et al., 2006). Tabela 1. Valores médios do teor de sódio (Na+) e de potássio (K+), em g kg-1 de massa seca, e relação sódio/potássio (Na+/K+), da parte aérea e raiz, em plantas de erva-sal sob diferentes níveis de salinidade. São Cristóvão, SE, 2013. Teor de Na+ Teor de K+ Relação Na+/K+ Níveis salinos (mM de NaCl) 0 Parte aérea Raiz Parte aérea Raiz Parte aérea Raiz 35,86 b 4,15 b 14,68 b 15,91 a 2,44 b 0,26 b 300 46,85 a 9,88 a 13,83 b 13,45 a 3,40 a 0,74 a 600 41,60 ab 9,38 a 18,37 a 13,13 a 2,27 b 0,73 a CV (%) 8,69 10,12 1,83 9,06 8,53 9,73 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. 48 Mesmo sob ausência de NaCl na solução de irrigação (0 mM de NaCl), o conteúdo de Na+ na parte aérea foi considerável. Segundo alguns autores este fenômeno é aparentemente frequente nas folhas de A. nummularia, sendo relatado também em outros estudos (ARAÚJO et al., 2006; SILVEIRA et al., 2009). A salinidade também não afetou significativamente (p < 0,05) o teor de K+ na parte radicular, no entanto, o teor de K+ na parte aérea foi maior nas plantas submetidas a 600 mM de NaCl (Tabela 1), sugerindo que a partir desta concentração o mecanismo de compartimentalização de íons Na+, em estruturas morfológicas ou nos vacúolos celulares, tenha sido afetado negativamente. Isso reflete numa provável capacidade máxima de estoque de Na+ nas folhas no nível 300 mM de NaCl, o que pode ter refletido no aumento do teor de K+ em 600 mM de NaCl devido a tendência de estabilidade no acúmulo de sódio na parte aérea, assim como na raiz, com o aumento da salinidade. Consequentemente, a relação Na+/K+ aumentou significativamente (p < 0,01) na parte aérea e radicular das plantas submetidas a 300 mM de NaCl (Tabela 1). Na raiz foram encontrados os menores valores da relação Na+/K+ em todos os tratamentos em relação aos da parte aérea, com diferença significativa (p < 0,01) entre o tratamento controle e os tratamentos 300 e 600 mM, os quais não diferiram entre si. Este resultado demonstra que a planta extrai, proporcionalmente, mais sódio que potássio, provavelmente devido à competição direta que se estabelece entre o K+ e o Na+ pelos sítios de absorção na membrana plasmática das raízes, reduzindo o desequilíbrio iônico gerado no solo por meio da solução de irrigação e também os prejuízos no seu crescimento. O aumento do teor de sódio acompanhado pelos menores valores encontrados para o teor de potássio observado nas folhas das plantas pode indicar que a Atriplex 49 nummularia consegue vencer o desbalanço nutricional provocado pela salinidade, mostrando capacidade para minimizar a redução do seu crescimento. Tal suposição pode ser corroborada com os resultados da biometria das plantas de erva-sal, o qual não foi afetado significativamente (p < 0,05) após 60 dias de exposição aos diferentes tratamentos (Tabela 2). Para a altura das plantas, os valores médios observados foram 61,84, 62,94 e 54,34 cm para os tratamentos de 0, 300 e 600 mM de NaCl, respectivamente, e para o DAC os valores médios foram 7,56 mm (controle), 7,74 mm (300 mM) e 5,37 mm (600 mM). Tabela 2. Valores médios de diâmetro do caule (DAC) e altura das plantas de erva-sal sob diferentes níveis de salinidade. São Cristóvão, SE, 2014. Níveis salinos (mM de NaCl) 0 DAC (mm) Altura (cm) 7,56 a 61,84 a 300 7,74 a 62,94 a 600 5,37 a 54,34 a CV (%) 25,60 13,99 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Em termos de produção de biomassa fresca e seca, o ganho, tanto de massa fresca quanto de massa seca nas duas partes da planta avaliadas, foi estimulado até o nível de 300 mM de NaCl, reduzindo significativamente (p < 0,01) em seguida, no tratamento de maior nível de salinidade (600 mM) (Tabela 3). A massa seca da parte aérea e da raiz no tratamento 300 mM de NaCl foi cerca de 105,75 e 672,22% maiores que a do controle, respectivamente, evidenciando que o aumento da biomassa foi mais pronunciado na parte aérea que nas raízes das plantas. 50 Tabela 3. Valores médios de massa fresca e seca, da parte aérea e raiz, de plantas de erva-sal sob diferentes níveis de salinidade. São Cristóvão, SE, 2014. Massa fresca (g) Massa seca (g) Níveis salinos (mM de NaCl) Parte aérea Raiz Parte aérea Raiz 0 25,01 b 2,13 b 9,57 b 0,54 b 300 46,38 a 9,90 a 19,69 a 4,17 a 600 15,78 b 2,49 b 7,35 b 1,04 b CV (%) 12,07 31,08 20,32 23,97 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Estes resultados corroboram com o potencial da erva-sal como planta fitoextratora de sais, absorvendo e acumulando mais Na+ que K+, principalmente na parte aérea das plantas sob 300 mM de NaCl, apontando ser estes o principal local de acúmulo de Na+ nas plantas de Atriplex e o nível de salinidade que mostrou maior relevância em termos de produção de biomassa. O acúmulo do teor de Na+ e o estímulo na produção de biomassa da parte aérea das plantas diretamente proporcionais ao aumento da salinidade, até um limite de salinidade ótimo, pode ser explicado pelo caráter halofítico da espécie que lhe permite contar com estratégias adaptativas para tolerar a alta salinidade. Conforme alguns autores, a erva-sal tem habilidade de suportar altos níveis de salinidade do complexo água-solo controlando a pressão osmótica pelo equilíbrio na absorção de sódio e outros íons nas células, garantindo o movimento da água na planta e vencendo o baixo potencial hídrico externo (YOKOI et al., 2002; AZEVEDO et al., 2005; SILVA et al., 2009). Isto se deve ao eficiente mecanismo de transporte e inclusão de sais presente nas halófitas, as quais, segundo Blumwald e Poole (1985), possuem transportadores específicos de Na+, presentes na plasmalema e no tonoplasto, que 51 permitem que a célula sequestre o Na+ no interior dos vacúolos, evitando assim sua toxicidade no citoplasma das células e prejuízos no seu crescimento. Deste modo, a presença de mecanismos de absorção, exclusão e compartimentalização de íons presentes na erva-sal pode esclarecer a ocorrência do maior acúmulo de íons de Na+ e produção de biomassa na parte aérea das plantas sem ter afetado significativamente seu crescimento vegetativo. Silveira et al. (2009) reportaram que o maior acúmulo de Na+ ocorre nas folhas, em experimento conduzido com plantas de Atriplex nummularia irrigadas com diferentes níveis de NaCl, cuja concentração aumentou do tratamento 0 a 300 mM de NaCl, cerca de oito vezes a mais do que nas raízes, não alterando-se significativamente em diante. Estes autores também verificaram que mesmo sob a ausência da solução de irrigação (sob 0 mM de NaCl), o conteúdo de Na+ nas folhas foi considerável. Tal ocorrência foi observada por outros autores, em trabalhos conduzidos com o cultivo de A. nummularia com doses crescentes de NaCl, observando que o incremento da salinidade foi diretamente proporcional às concentrações de sódio nas folhas das plantas (ARAÚJO et al., 2006; BAZIHIZINA et al., 2009; BAZIHIZINA et al., 2012; HUSSIN et al., 2012). O incremento na salinidade da solução de irrigação também promoveu aumento no teor de prolina nas folhas, porém só mostrou efeito significativo (p < 0,01) nas plantas sob 600 mM de NaCl quando comparadas ao tratamento controle (Tabela 4). O acúmulo de prolina nas folhas de erva-sal, aliado à sua capacidade de compartimentalização dos íons Na+ e de armazenamento destes em glândulas vesiculares, pode ter contribuído para a planta manter um conteúdo hídrico favorável durante o período experimental, o que refletiu na capacidade da erva-sal em manter seu ótimo de crescimento até o tratamento 300 mM de NaCl. 52 Tabela 4. Valores médios do teor de prolina livre em folhas de erva-sal sob diferentes níveis de salinidade. São Cristóvão, SE, 2014. Níveis salinos (mM de NaCl) 0 Teor de prolina (µmol g-1MF) 0,50 b 300 1,59 b 600 3,11 a CV (%) 46,25 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Em geral, os solutos inorgânicos, principalmente os íons Na+ e Cl-, são compartimentalizados no vacúolo, enquanto os orgânicos, como a prolina, acumulam-se no citosol, equilibrando desta forma o potencial hídrico entre os diversos compartimentos celulares (ASHRAF; HARRIS, 2004; PRISCO; GOMES-FILHO, 2010). Desta maneira, a prolina auxilia no ajuste osmótico, na proteção das estruturas subcelulares e na redução dos danos oxidativos em resposta à salinidade (SILVEIRA et al., 2010). Contudo, de acordo com Rocha (2003), o acúmulo de prolina nas folhas em função do aumento da salinidade pode contribuir para a resistência ao estresse salino ou simplesmente ser um sintoma de distúrbio metabólico após o estresse já estabelecido. Portanto, possivelmente o aumento significativo no teor de prolina nas folhas do tratamento 600 mM de NaCl possa ser atribuído a uma resposta metabólica das plantas submetidas a uma concentração elevada de sais. Fato este que pode ser confirmado pela redução da relação Na+/K+ na parte aérea, o que pode ter afetado a absorção de alguns nutrientes e interferido em processos metabólicos dependentes do K+, como a síntese proteica e o controle estomático. Ou ainda, ter levado as células a iniciarem um processo de degradação de proteínas por 53 hidrólise e, desta forma, levado a um acúmulo de prolina no suco celular (aminoácidos livres) (BROETTO, et al., 1995; APSE et al., 2007). O acúmulo de íons Na+ na parte aérea das plantas submetidas ao aumento nos níveis de NaCl da solução de irrigação também levou a alterações nas reações metabólicas da fotossíntese. Conforme a tabela 5, o aumento da salinidade diminuiu a assimilação fotossintética de CO2 (A), com reduções significativas (p < 0,01) de 65,93 e 77,41% para os níveis 300 e 600 mM de NaCl, respectivamente, porém estes tratamentos não diferiram entre si. A redução da assimilação fotossintética nas plantas do nível 600 mM de NaCl pode estar relacionada à redução da biomassa fresca e seca observada neste mesmo tratamento, pois de acordo com Aragão et al. (2009), um decréscimo da assimilação de CO2 leva a uma redução na produção de fitoassimilados, ocasionando diminuição da biomassa. Tabela 5. Valores médios de assimilação fotossintética de CO2 (A - µmol m-2s-1), condutância estomática (gS - mol m-2 s-1), Concentração interna de carbono (Ci - mmol m²), transpiração (E - mmol m-2 s-1) e déficit de pressão de vapor entre a folha e o ar (DPVfolha-ar - KPa) em plantas de erva-sal sob diferentes níveis de salinidade. São Cristóvão, SE, 2014. Níveis salinos (mM de NaCl) 0 A gS Ci E DPVfolha-ar 16,38 a 0,71 a 362,40 b 7,80 a 1,19 a 300 5,58 b 0,64 a 374,23 ab 7,81 a 1,28 a 600 3,70 b 0,62 a 396,59 a 7,92 a 1,35 a CV (%) 14,14 22,45 3,92 13,86 10,09 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. O aumento dos níveis de sais não proporcionou uma redução significativa da condutância estomática (gS), podendo estar relacionado aos teores de K+ obtidos na 54 parte aérea da planta, cuja ausência de diferença estatística entre o tratamento controle e o nível 300 mM de NaCl refletiu na regulação estomática das plantas deste tratamento. Segundo Marschner (1995), o K+ é responsável pelas mudanças de turgescência nas células guarda durante o movimento estomático induzido. Um aumento na concentração de K+ das células guarda permite a abertura estomática, já a saída do K+ e a correspondente diminuição do potencial osmótico das células guarda causam o fechamento dos estômatos. Contudo, verificou-se aumento significativo (p < 0,05) da concentração interna de carbono (Ci) no tratamento 600 mM de NaCl em relação ao controle. Os valores médios observados de Ci estiveram entre 362,40 e 396,59 mmol m² nos tratamentos 0 e 600 mM, respectivamente (Tabela 5). Assim, como o Ci reflete a disponibilidade de substrato para a fotossíntese, o consequente aumento da concentração intercelular de CO2 pode afirmar que a atividade fotossintética não foi restringida pelo fechamento dos estômatos, principalmente nas plantas do tratamento de 600 mM. Segundo Furtado et al. (2012), este resultado pode estar associado a fatores não estomáticos que estão interferindo na taxa fotossintética, como uma redução na atividade de enzimas envolvidas na assimilação do CO2. A elevação de Ci nas plantas do tratamento 600 mM de NaCl pode significar que o CO2 que está chegando às células do mesófilo não está sendo fixado na fase carboxilativa, reduzindo então a taxa fotossintética (LARCHER, 2006). Logo, a supressão da fotossíntese em função do aumento da salinidade pode ser atribuída também a prejuízos causados na capacidade bioquímica e fotossintética das folhas (SOBRADO, 2005), provavelmente devido a uma inibição (na síntese ou na atividade) de várias enzimas relacionadas com a fotossíntese, tais como a Rubisco (RIVELLI et al., 2002). 55 Comumente, verifica-se que o aumento do déficit de pressão de vapor, quando a planta se encontra sob estresse hídrico/salino, reduz o fluxo de vapor de água do interior da câmara sub-estomática para a atmosfera, causando uma redução na transpiração (THOMAS; GAUSLING, 2000). No entanto, o déficit de pressão de vapor entre a folha e o ar (DPVfolha-ar) no presente estudo foi mantido em valores médios semelhantes, de modo que não apresentou diferença significativa (p < 0,05) entre os tratamentos (Tabela 5), assim como não houve efeito significativo da salinidade na transpiração (E). Deste modo, o padrão de resposta semelhante da transpiração, das plantas submetidas ou não ao estresse salino, demonstra que a espécie não fechou seus estômatos a fim de permitir que ocorra um fluxo transpiratório favorável, porém não excessivo, para ocorrer o transporte de água e sais na planta, de modo a controlar o acúmulo de íons na parte aérea, além de favorecer o resfriamento das folhas (Tabela 5). De acordo com Silveira et al. (2010), esse sistema de transferência de sais para a parte aérea por meio do fluxo transpiratório em plantas sob condições de salinidade corresponde a um mecanismo de exclusão celular do Na+, e pode estar diretamente envolvido com mecanismos que regulam o transporte e a distribuição desse íon na planta. Bazihizina et al. (2009), estudando o efeito das concentrações 10 mM e 670 mM de NaCl da solução nutritiva de irrigação em plantas de Atriplex nummularia cultivadas durante 21 dias, verificaram redução da assimilação fotossintética de CO2 (A) com o aumento da salinidade, onde A reduziu 72% no tratamento 670 mM em relação ao tratamento 10 mM. No entanto, a redução de A acompanhou uma redução significativa da condutância estomática, demonstrando limitação estomática da fotossíntese. Este resultado diferiu do presente estudo, pois não foi verificada redução da condutância 56 estomática com o aumento da salinidade, onde a redução da assimilação fotossintética pode está ligada a fatores não estomáticos. Em experimento posterior, Bazihizina et al. (2012), estudando os efeitos das concentrações 10, 500 e 1500 mM de NaCl da solução nutritiva de irrigação em plantas de Atriplex nummularia cultivadas durante 20 dias, verificaram que a assimilação fotossintética de CO2 (A) e a condutância estomática declinaram com o aumento da salinidade. No tratamento 1500 mM de NaCl, A foi quase que completamente inibida em comparação ao tratamento de 10 mM de NaCl, com valores médios de 0,12 e 16,42 µmol m-2 s-1, respectivamente. Associado à diminuição de A, assim como nesse trabalho, também verificaram aumento substancial (1,8 vezes maior do que as plantas do tratamento 10 mM de NaCl) na concentração interna de CO2, com 200,5 e 363,1 µmol mol-1 em 10 e 1500 mM de NaCl, respectivamente. Os teores de clorofila a e clorofila b (Tabela 6) não diferiram significativamente (p < 0,05) com o incremento da salinidade. Tabela 6. Valores médios das estimativas de teores de clorofila a (Chl a), clorofila b (Chl b), clorofila Total (Chl T) e relação (Chl a/b) em plantas de erva-sal sob diferentes níveis de salinidade. São Cristóvão, SE, 2014. Níveis salinos (mM de NaCl) 0 Chl a Chl b Chl T Chl a/ Chl b 26,26 a 8,54 a 34,80 a 3,11 a 300 29,64 a 14,50 a 44,14 a 2,23 a 600 27,64 a 9,26 a 36,9 a 3,73 a 15,83 46,73 22,92 40,32 CV (%) Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Também não foram verificadas diferenças significativas (p < 0,05) entre os tratamentos para o teor de clorofila total assim como para a relação clorofila a/b. No 57 entanto, foi possível observar que a clorofila a esteve presente em concentrações maiores nas plantas, próximas a proporção de 3:1 com relação à clorofila b, mostrando que as plantas estavam em condições adequados quanto aos teores deste pigmento (TAIZ; ZEIGER, 2009). Portanto, o período de aplicação dos diferentes níveis salinos não foi suficiente para promover alguma degradação da clorofila haja vista que a espécie é considerada tolerante. CONCLUSÕES Os diferentes níveis de salinidade da solução de irrigação durante o período avaliado têm efeitos sobre os parâmetros estudados, havendo um estímulo de crescimento e matéria seca, e acúmulo de sódio da parte aérea, e nenhum prejuízo no conteúdo de clorofilas. Quanto ao desempenho fisiológico da erva-sal, o aumento dos níveis salinos acarreta em diminuição da sua assimilação fotossintética, porém não é suficiente para comprometer seu desenvolvimento e produtividade. ABSTRACT: The saltbush is an extremely tolerant C4 species and the soil and saline waters and has good capacity to accumulate quantities of salts in their tissues. Its good development in these environments is due to their physiology, because it has associated mechanisms of salinity tolerance. Thus, the present study aimed to evaluate the responses of growth and physiology of saltbush under different levels of salinity. The experimental design was completely randomized, with 3 levels of salinity and 5 repetitions, where the plants were grown in pots kept in a greenhouse and irrigated every 2 days at concentrations of 0, 300 and 600 mM NaCl for 60 days. Growth (stem diameter and plant height), fresh and dry biomass of shoots (leaves + stem) and root gas exchange (photosynthetic assimilation of CO2, stomatal conductance, the internal concentration of carbon, transpiration and vapor pressure deficit between leaf and air, 58 the relative content of chlorophyll (Chl a, Chl b, Chl total and relative Chl a/b), content of Na+, K+ and the Na+/K+ in shoot and roots, and proline content the leaves. The saltbush accumulated more Na+ than K+, with greater accumulation in the shoot than in the root, to the 300 mM NaCl level, this is the salinity level that the highest yield of fresh biomass (46.38 g) and dried ( 19.69 g). Increased salinity promoted accumulation of proline, whose highest concentration (3.11 µmol g-1 FM) was observed in 600 mM NaCl treatment. At 60 days the salt stress induced no significant differences in plant growth, but promoted reduction of photosynthetic assimilation of CO2 and increased internal carbon concentration. The different salinity levels of irrigation solution have effects on the parameters assessed, when a stimulus for growth and dry matter accumulation and sodium from the shoot. Regarding the physiological performance of the saltbush, rising salinity levels not enough to compromise their development and productivity. KEYWORDS: Atriplex nummularia Lindl. Salt stress. Photosynthesis. Chlorophylls. Sodium. REFERÊNCIAS APSE, M.P.; BLUMWALD, E. Na+ transport in plants. FEBS Letters, v. 581, p. 22472254, 2007. ARAGÃO, C.A.; SANTOS, J.S.; QUEIROZ, S.O.P.; FRANÇA, B. Avaliação de cultivares de melão sob condições de estresse salino. Caatinga, v.22, n.2, p.161-169, 2009. ARAÚJO, S. A. M.; SILVEIRA, J. A. G.; ALMEIDA, T. D.; ROCHA, I. M. A.; MORAIS, D. L.; VIÉGAS, R. A. Salinity tolerance of halophyte Atriplex nummularia L. grown under increasing NaCl levels. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v. 10, n. 4, p. 848-854, 2006. 59 ASHRAF, M.; HARRIS, P. J. C. 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Como resposta à salinidade, a erva-sal acumula prolina em suas folhas, constituindo um indicador fisiológico da espécie ao estresse salino. 67 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACCIOLY, M. A. A.; SIQUEIRA, J. O. Contaminação química e biorremediação do solo. In: NOVAIS, R. F.; ALVARES V.; SCHAEFER, C. E. (Ed). Tópicos em Ciência do Solo. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2000. v.1, p.299-350. AGANGA, A. A.; MTHETHO, J. K.; TSHWENYANE, S. Atriplex nummularia (Old Man Saltbush): A potential forage crop for arid regions of Botswana. Pakistan Journal of Nutrition, v.2, n.2, p.72-75, 2003. AGARWAL, S.; PANDEY, V. Antioxidant enzyme responses to NaCl stress in Cassia angustifoli. Biologia Plantarum, v.48, n.04, p. 555-560, 2004. ALDEA, M.; HAMILTON, J. G.; RESTI, J. P.; ZANGERL, A. R.; BARENBAUM, M. R.; FRANK, T. D.; DELUCIA, E. H. Comparison of photosynthetic damage from arthropod herbivory and pathogen infection in understory hardwood saplings. 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