JORNAL DE SANTA CATARINA Hidrocefalia de pressão normal

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JORNAL DE SANTA CATARINA
SEGUNDA-FEIRA, 12 DE AGOSTO DE 2013
Lapsos reversíveis
Hidrocefalia de pressão normal pode ser confundida com o Alzheimer, prejudicando o diagnóstico
N
o meio de uma conversa, falta
uma palavra. A memória falha.
O caminhar fica lento, os pés se
arrastam e uma queda parece
sempre iminente. Sentar e se levantar de assentos baixos torna-se um exercício penoso, quase tão constrangedor como a
incontinência urinária que começa a se manifestar com insistência.
Esses sinais “da idade”, com a perda ou
redução progressiva da capacidade cognitiva,
podem ser o início da demência ou de uma
doença degenerativa grave, como Alzheimer
ou Parkinson.
– Todas comprometem severamente a
qualidade de vida, pois podem incapacitar totalmente o paciente. Além disso, têm uma resposta muito pobre ao tratamento – observa o
neurocirurgião Luiz Carlos de Alencastro.
No entanto, pelo menos uma dessas doenças tem tratamento eficaz e boa chance de
regressão dos sintomas quando diagnosticada
precocemente. A hidrocefalia de pressão normal (HPN) representa cerca de 10% dos casos
de demência, e acomete pessoas com 60 anos
ou mais. Ela ocorre quando há um aumento
no volume do líquor, líquido que circula entre
as cavidades cerebrais e a medula espinhal.
Numa pessoa sadia, o líquor é constantemente absorvido pelo organismo, mantendo
a estabilidade do volume. Porém, quando há
um bloqueio na circulação ou diminui a capacidade de absorção, ele começa a se acumular nos ventrículos, provocando o aumento da pressão dentro do crânio e provocando
a hidrocefalia de pressão normal. A doença,
no entanto, é habitualmente confundida e
tratada como Alzheimer, devido à semelhança dos sintomas: falhas na memória, dificuldade de reconhecer familiares, de locomoção,
entre outros.
– Essa similaridade de sintomas dificulta
o diagnóstico. Em casos de demência, vale
muito a pena investigar, porque a hidrocefalia pode ser controlada e isso vai se refletir
Como é o tratamento
Principais sintomas
Déficit cognitivo
Falhas na memória, dificuldades de
cálculo, raciocínio lento, dificuldade para
reconhecer familiares
em qualidade de vida para o paciente – diz
Alencastro.
O diagnóstico é feito com exames como
a ressonância magnética de crânio e a cisternocintilografia. Outros métodos, como a
medição contínua da pressão liquórica ou
a remoção de volume de líquor para avaliar
mudanças do quadro clínico, também podem
confirmar se o paciente tem HPN.
O tratamento é cirúrgico e consiste em
implantar, sob a pele, um sistema de válvula
para drenar o líquor. Sempre que há aumento
da pressão intracraniana, o líquor excedente é
enviado para a cavidade abdominal ou para o
coração, onde é reabsorvido.
Déficit
esfincteriano
Incontinência
urinária e fecal
Problemas motores
Dificuldade de locomoção e para se
levantar de assentos baixos, movimentos
lentos, desequilíbrio ao caminhar
SALMO DUARTE - 28/8/2008
Um dos recursos mais modernos
e comprovadamente eficazes para
o tratamento da hidrocefalia de
pressão normal é a implantação
de uma válvula programável,
denominada Hakim. O principal
benefício é que o paciente
será submetido a apenas um
procedimento cirúrgico para a
implantação da válvula, pela
qual será feita a drenagem em
quantidade adequada do líquido
acumulado no cérebro.
Disponível no Brasil há cerca de
cinco anos, uma das vantagens
dessa válvula é que ela permite a
regulagem ideal de pressão para
cada paciente por meio de um ajuste
em consultório, indolor, não invasivo
e dura poucos segundos.
Como é feito
O tratamento para a hidrocefalia de pressão normal é cirúrgico e
consiste em implantar, sob a pele, um sistema de válvula para drenar o
líquido ventricular (líquor).
Um cateter é introduzido na cavidade
ventricular do cérebro.
A hidrocefalia de pressão normal é muito confundida com Alzheimer e Parkinson. Mais de 10% dos diagnósticos são feitos
inadequadamente. Mas é possível fazer a diferenciação pelo quadro clínico do paciente. Compare os sintomas das três doenças:
Sintoma
Hidrocefalia
Alzheimer
Parkinson
No consultório, o médico programa a liberação
do líquor excedente sempre que houver
aumento da pressão intracraniana.
Andar arrastado
Danos à memória
Distúrbios urinários
Dificuldade em executar tarefas habituais
Mudanças no comportamento
Rigidez nos membros
Tremor nos membros
Instabilidade na postura
Legenda
Sintoma presente em todos os pacientes
Sintoma presente parcial ou tardiamente nos pacientes
Sem sintomas
O líquor é drenado
da cavidade interna
do cérebro para a
junção da veia cava
superior com o átrio
direito do coração
(acima) ou para a
cavidade peritoneal, o
espaço entre as alças
intestinais (ao lado),
onde é reabsorvido
pelo organismo.
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