IV – São Paulo, 127 (66) sexta-feira, 7 de abril de 2017 Diário Oficial Poder Executivo - Seção I Depressão entra na ordem do dia na data mundial da saúde é trabalhar a aceitação da doença na sociedade, assim como acontece com as outras enfermidades que exigem medicação e tratamento contínuos. Faltam muita informação e preparo das pessoas”, salienta. GENIVALDO CARVALHO P ara celebrar o Dia Mundial da Saúde, 7 de abril, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou uma campanha de combate à depressão. Com o lema Vamos conversar (Let´s talk, em inglês), a iniciativa reforça que existem formas de prevenir a depressão e também de tratá-la. Doença acomete mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo, mas há meios de entender e de enfrentar o problema, diz psiquiatra do Gruda, do Hospital das Clínicas da USP A depressão é a principal causa de problemas de saúde e deficiência em todo o mundo. De acordo com as últimas estimativas da OMS, mais de 300 milhões de pessoas vivem agora com depressão, o que representa aumento de mais de 18% entre 2005 e 2015. No Brasil, alguns estudos mostram que a prevalência do risco aumentado para depressão atinge 5,5 milhões de brasileiros. “A falta de apoio para as pessoas com transtornos mentais, junto ao medo do estigma, impede muitos de ter acesso ao tratamento de que necessitam para viver vidas saudáveis e produtivas”, explica Miriam Barros, psicoterapeuta de crianças, adolescentes, casal e família. A OMS identificou fortes ligações entre depressão e outras doenças e distúrbios não transmissíveis. conhecido e relacionado com a depressão, o impacto da doença vai muito além de sentir-se triste. “A depressão altera diversos sistemas do organismo, causando sintomas muitas vezes incapacitantes, principalmente quando o paciente não recebe diagnóstico e tratamento adequados. É importante entender que muitas vezes os sintomas físicos antecedem os sintomas mentais ou, ainda, podem acontecer simultaneamente”, explica. Miriam Barros, psicoterapeuta, revela que a depressão ocorre duas vezes mais nas mulheres do que nos homens. Esse dado estatístico é verificado em todo o mundo, pois não depende da cultura de um lugar. “Uma das causas prováveis para isso é que as mulheres sofrem muitas alterações hor- monais ao longo da vida: durante o período reprodutivo, a gravidez e a menopausa.” Apesar do número de vítimas ser cada vez maior no universo feminino, a psicoterapeuta aponta que os sintomas de depressão nos homens e nas mulheres são relativamente iguais. “Os sintomas em um quadro depressivo são iguais para ambos os sexos: entre eles, humor depressivo (sentimento de tristeza) e a anedonia (perda do prazer em fazer as coisas que antes eram prazerosas). Daiane da Silva tem depressão há uma década. “No ano passado, tive uma crise muito forte e precisei ficar afastada do trabalho por dois meses, sob licença-médica”, diz. Para informar as pessoas sobre a doença, a garota criou o blog umblogmuitodoido. wordpress.com. “Uma das minhas causas FERNANDES DIAS PEREIRA ACERVO PESSOAL Contra o tabu – A depressão também é um fator de risco importante para o suicídio. No mundo, a cada ano, cerca de 800 mil pessoas cometem o suicídio – e essa é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 anos e 29 anos. Segundo Diego Tavares, psiquiatra e pesquisador do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas (Gruda) do Hospital das Clínicas da USP, embora a tristeza seja o sintoma mais Boa notícia: nem todo transtorno do humor requer tratamento medicamentoso Entendendo a doença – O indivíduo com depressão apresenta alteração químico-cerebral que distorce a forma como ele pensa e sente as emoções. O modo de pensar é negativo e toda afetividade (sentimentos e emoções) que acompanha o pensamento também. A percepção das sensações também pode ser distorcida para negativa, por exemplo, quando o deprimido passa a ter alucinações – estado em que ouve vozes ou vê imagens ruins. Alguns medicamentos para pessoas que tratam de doenças como epilepsia, sífilis, lúpus ou diabetes 2 descompensada podem afetar o organismo e desencadear a depressão. Outras causas podem advir de alguns fatos isolados, como luto, perda de emprego ou fim de relacionamento. “Quando a pessoa não está deprimida e, portanto, não apresenta transtorno químico-cerebral subjacente a isso, ela consegue controlar os pensamentos e pensar positivamente, ou pode até ter pensamentos negativos diante de uma adversidade, mas esses pensamentos e essa maneira de enxergar e enfrentar a realidade normalizam-se em alguns dias”, explica o psiquiatra. Ele ressalta que, se a pessoa tiver risco para depressão, “é possível que, depois de estressores psicológicos como esses, o cérebro se altere e, a partir daí, todo o funcionamento passe a ser controlado pelo modo depressivo”. Boa notícia – Agora, a boa notícia: nem todo transtorno do humor requer tratamento medicamentoso. “A maioria tem resolução espontânea, ou seja, a pessoa até fica com o pensamento e as vivências afetivas alteradas por um período, mas com o passar do tempo ou por meio da mudança do estilo de vida, correção dos ritmos biológicos (como sono e vigília), os sintomas vão melhorando e a pessoa volta a se comportar como antes”, esclarece o psiquiatra Tavares. É importante lembrar que a depressão não é uma doença somente cerebral. “A pessoa deprimida tem mais alteração da pressão arterial, mais quadros dolorosos, mais infecções, mais doenças autoimunes, como gastrite, vitiligo, endometriose e lúpus“, explica. Ajuda médica – Depois de instalada a depressão é essencial a ajuda médica para se livrar do problema. “O tratamento deve ser feito com medicamentos e com o suporte de psicoterapias comportamentais, que são a maneira mais eficaz de tratar as enfermidades depressivas que não se resolveram apenas com o passar do tempo ou mudança do estilo de vida,” explica o psiquiatra. Miriam Barros informa que exercícios físicos, como os aeróbicos, dança ou até mesmo massagem, ajudam o paciente a melhorar a qualidade de vida e a resgatar a autoestima. “É necessário buscar o prazer e a capacidade de sonhar de novo.” Maria Lúcia Zanelli Miriam – Falta de apoio impede o acesso ao tratamento Diego Tavares, psiquiatra e pesquisador do Gruda Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial A IMPRENSA OFICIAL DO ESTADO SA garante a autenticidade deste documento quando visualizado diretamente no portal www.imprensaoficial.com.br sexta-feira, 7 de abril de 2017 às 01:47:13.