24 ARTIGO ORIGINAL Flavio R. Sztajnbok1 Luciene Lima Campos2 Alessandra Fonseca G da S Marques2 Rozana Gasparello de Almeida2 Rodrigo Moulin Silva2 Bruno Leal Carneiro2 Henrique César d’Abreu2 Úrsula Pérsia3 Rejane Souza4 Dores nos membros Pain in the limbs Resumo Este artigo tem como objetivo abordar de forma prática as principais causas de dores nos membros na infância e adolescência, além da rotina diagnóstica mínima inicial, permitindo assim que o pediatra tome decisões rápidas e possa resolver muitas questões, agilizando o encaminhamento do paciente portador de queixas musculoesqueleticas ao especialista, quando pertinente. Unitermos Dor nos membros; criança; adolescência; dor de crescimento Abstract This is an article paper and the main goal is to consider, in a pratical way, the main diagnostics associated with pain in the limbs in childhood and adolescence, and also give a little diagnostic routine to start investigation. This may allow pediatricians to take quick decisions and to solve many problems, turning easier for the patient with muscleskeletal signs and symptoms to be sent to the proper specialist, whenever necessary. Key words Pain in the limbs; childhood; adolescence; growing pains Introdução e epidemiologia Pacientes com queixas relativas ao sistema musculoesquelético são frequentemente encaminhados aos serviços de reumatologia para investigação, embora nem sempre sejam portadores de enfermidades reumatológicas. Segundo Bowyer(1), 7% das consul- Médico responsável pelo setor de Reumatologia, atenção secundária, do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente da Universidade do Estado do Rio de janeiro (NESA/ UERJ); professor assistente de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FM/UFRJ); professor adjunto de Reumatologia Pediátrica da Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO). 2 Médicos pesquisadores associados do Setor de Reumatologia do NESA/UERJ. 3 Enfermeira pesquisadora associada do Setor de Reumatologia do NESA/UERJ 4 Enfermeira chefe da atenção secundária do NESA/UERJ; coordenadora da atenção secundária do NESA/UERJ; pesquisadora associada do Setor de Reumatologia do NESA/UERJ. 1 volume 6 ■ nº 3 ■ setembro 2009 tas pediátricas são devidas a dores nos membros. Muitas vezes, no entanto, embora as queixas sugiram uma doença reumatológica, a etiologia é de natureza diversa, associada, por exemplo, a distúrbios mecânicos ou doenças infecciosas. A literatura registra que cerca de 60% dos casos atendidos em serviços de reumatologia pediátrica estão ligados a enfermidades não-reumatológicas, ou seja, são doenças ortopédicas, infecciosas, endocrinológicas, hematológicas, ou que primariamente acometem outros sistemas, mas têm manifestações musculoesqueléticas. Portanto, cabe ao médico generalista reconhecer o diagnóstico diferencial das enfermidades que apresentam essas manifestações mais frequentemente, assim como traçar uma estratégia de diagnóstico para melhor investigar e encaminhar o paciente. Adolescência & Saúde Sztajnbok et al. Alguns conceitos rápidos devem ser enfatizados. A localização da dor é extremamente importante, já que pode estar em articulação, ossos, músculos, tendões, ligamentos ou em outras estruturas de partes moles. Artralgia significa dor na articulação, e artrite ocorre quando, além da dor, existem sinais inflamatórios como calor, hiperemia e impotência funcional. O aumento de volume de uma articulação pode ocorrer pela presença de derrame articular, inflamação da sinóvia, aumento do volume ósseo ou por edema de partes moles adjacentes à articulação. Denominamos artrite crônica aquela que é fixa em uma articulação por pelo menos seis semanas, e artrite aguda é o acometimento articular por tempo inferior. Poliartrite ocorre quando há acometimento de cinco ou mais articulações, e oligoartrite, quatro ou menos. Manifestações clínicas, diagnóstico, tratamento e prevenção Diagnóstico diferencial das dores nos membros na adolescência • Traumatismos: fratura de estresse, mioematoma, miosite ossificante. • Doenças ortopédicas: – c ondromalácia da patela, plica sinovial, osteocondrite dissecante, osteocondrites: Legg-Calvé-Perthes, Osgood-Schlatter, Sever, Freiberg-Köhler; – epifisiólise, espondilólise e espondilolistese; – síndrome da hipermobilidade articular. • Doenças colágeno-vasculares: – febre reumática, artrites crônicas da infância, lúpus eritematoso sistêmico (LES), dermatomiosite, esclerodermia, doença mista do tecido conjuntivo, vasculites. • Doenças infecciosas: – bacterianas: artrite séptica, osteomielite, piomiosite, discite; – virais: artrites reativas (por exemplo, sinovite Adolescência & Saúde Dores nos membros 25 transitória do quadril), miosite viral aguda; – outras: toxoplasmose, doença de Lyme, leptospirose, sífilis, doenças sexualmente transmisíveis (DSTs), tuberculose, hanseníase, doenças causadas por fungos. • Neoplasias: – leucemia, linfoma, neuroblastoma, histiocitose, tumores ósseos e sinoviais. • Doenças hematológicas: – doença falciforme e outras hemoglobinopatias, hemofilia. • Distúrbios endocrinológicos: – hipo e hipertireoidismo, hipo e hiperparatireoidismo, hipercortisolismo, osteoporose. • Distúrbios nutricionais: – hipervitaminose A, escorbuto, raquitismo. • Síndromes de origem desconhecida: – dores de crescimento, fibromialgia. • Desordens psicossomáticas: – reumatismo psicogênico, fobia escolar, distrofia simpatorreflexa. • Outras causas: – doenças de depósito, eritema nodoso, sarcoidose, farmacodermia, osteoporose juvenil idiopática; – imunodeficiências. A anamnese e o exame físico são essenciais na investigação, cabendo aos exames complementares confirmar alguns diagnósticos ou afastar outros. O exame físico se inicia quando da entrada do paciente na sala, observando-se a sua deambulação. Devem ser examinadas articulações e força muscular, verificados acometimento de tendões, existência ou não de discrepância de comprimento dos membros inferiores e realizados palpação óssea e exame da coluna vertebral. O exame articular propriamente dito consta de inspeção (aumento de volume, rubor, deformidades e desalinhamentos), volume 6 ■ nº 3 ■ setembro 2009 26 Dores nos membros palpação (calor, dor, crepitação) e movimentações ativa e passiva. Muito importante é a identificação do sítio doloroso, já que a dor pode ser articular, periarticular (geralmente partes moles), óssea, ligamentar, muscular ou localizada em tendões ou sua porção terminal, conhecida como entese. Devemos lembrar que na infância e adolescência muitas vezes a dor articular é referida, isto é, o sítio acometido é mais acima do local em que o paciente aponta como doloroso. Assim, problemas de coluna lombar podem cursar com dores nos quadris e problemas nas articulações coxofemorais podem ocasionar apenas dores nos joelhos. A seguir, comentaremos algumas das causas mais frequentes de dores nos membros. As osteocondrites são alterações que podem acometer epífises, apófises ou ossos curtos e apresentam características radiológicas semelhantes, com uma fase inicial em que a vascularização local é reduzida, levando a áreas de esclerose (o osso fica mais denso, com aumento da hipotransparência). Segue-se uma fase de revascularização, em que a radiologia evidencia fragmentação óssea. Por último, ocorre regeneração óssea. Esse processo é autolimitado (dura cerca de dois a três anos) e recebe diferentes nomes segundo sua localização. Assim, o acometimento da cabeça do fêmur é conhecido como doença de Legg-CalvéPerthes e pode cursar com claudicação e limitação de movimentos. O tratamento deve ser orientado por ortopedista, pois pode deixar sequelas graves. O acometimento da apófise do calcâneo, conhecido como doença de Sever, apresenta claudicação por dor espontânea ou à palpação nessa localização, melhorando com uso de palmilhas. A doença de Köhler cursa com dor na face superior dos pés (tarso) por acometimento do osso navicular. Na adolescência, a osteocondrite mais prevalente é a doença de Osgood-Schlatter, que acomete a tuberosidade anterior da tíbia (TAT), que é o local de inserção dos tendões patelares e do quadríceps. É mais frequente no sexo masculino e muito associada à prática de esportes. Verificam-se no exame físico aumento de volume local e, algumas vezes, algum grau de hiperemia ou edema. Essa alteração é extra-articular e, porvolume 6 ■ nº 3 ■ setembro 2009 Sztajnbok et al. tanto, não cursa com artrite. Quando quer indicar o local da dor, o paciente aponta diretamente na direção da TAT, diferentemente das outras causas de dores em joelhos, em que ele aponta para a região como um todo, sendo difícil precisar a localização. O tratamento sintomático é feito com gelo para analgesia, eventualmente necessitando de analgésicos por via oral. O uso do contensor infrapatelar permite que o adolescente mantenha suas atividades mais próximas do usual, porém, de qualquer modo, deve ser recomendada diminuição da sobrecarga física da musculatura da coxa. Também é aconselhável orientação fisioterápica para baixar a tensão que a musculatura da face anterior da coxa exerce sobre a TAT. A epifisiólise ocorre quando há um escorregamento da cabeça do fêmur em relação ao colo, o que pode ser causado por uma força súbita (traumatismo) ou crônica. É mais frequente na raça negra, em obesos e em adolescentes que apresentaram rápido crescimento longitudinal. Pode ser uni ou bilateral e caracteriza-se pelo surgimento de dor local ou referida, claudicação ou atrofia muscular. O diagnóstico é radiológico e é necessária intervenção cirúrgica. A hipermobilidade articular, frequente na infância, tende a diminuir à medida que a criança cresce. Alguns adolescentes, no entanto, mantêmse hipermóveis, o que, se por um lado lhes permite praticar com desenvoltura certos esportes, como balé e ginástica olímpica, por outro lado pode levar ao surgimento de dores locais após esforço, devido ao impacto frequente sobre articulações com grande amplitude de movimentos e nem sempre preparadas para receber tal sobrecarga. Mais raramente, o adolescente desenvolve derrames articulares e até, mais tardiamente, artrose. É a causa mais frequente de dores nos membros na infância e é comum no início da adolescência. A existência de quatro dos nove sinais adiante relacionados (apenas um é aferido unilateralmente) caracteriza essa hipermobilidade (critérios de Beighton 2), e a coexistência de sinais e sintomas associados é conhecida como síndrome da hipermobilidade articular benigna (SHAB). A hipermobilidade pode restringir-se a certos locais, como pacientes que apresentam apenas Adolescência & Saúde Sztajnbok et al. genu recurvatum ou têm deslocamentos recorrentes da patela. O diagnóstico é feito pela pesquisa dos sinais associados à hipermobilidade, mas devem ser afastadas outras causas de dores nos membros, com ajuda de anamnese, exames físico e complementares, que devem estar normais nos estados hipermóveis puros. Os sinais a serem pesquisados são: aposição passiva do polegar na fase anterior do antebraço; hiperextensão dos dedos das mãos, de forma que fiquem paralelos à superfície extensora dos antebraços; hiperextensão dos cotovelos acima de 10 graus; hiperextensão dos joelhos acima de 10 graus e conseguir colocar as palmas das mãos no chão sem fletir os joelhos. Devemos ressaltar a benignidade de tal condição e sugerir a prática de natação, que leva a um reforço muscular generalizado, contendo a instabilidade articular e a frouxidão ligamentar próprias dos hipermóveis e levando à melhora dos sintomas. Critérios diagnósticos revisados da SHAB • Critérios maiores: score de Beighton ≥ 4; artralgia por mais de três meses em pelo menos quatro articulações. • Critérios menores: score de Beighton ≤ 3; artralgia por mais de três meses em menos de três articulações, dor nas costas ou espondilólise; deslocamento ou subluxação em uma ou mais articulações ou em uma articulação mais de uma vez; três ou mais lesões de partes moles; habitus marfanoide; anormalidades cutâneas como estrias, hiperextensibilidade ou pele fina; alterações oculares como pálpebras caídas e miopia; varizes, hérnias ou prolapso retal/uterino. • SHAB: dois critérios maiores, ou um maior com dois menores, ou quatro critérios menores. Excluir síndromes de Marfan e Ehlers-Danlos (exceto tipo 3). Lesões por esforços repetitivos (LER) ou distúrbio osteomuscular relacionado com o trabalho (DORT) são termos atualmente recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para dores e lesões do sistema musculoesquelético relacionadas com atividades laborativas. Essas doenças vêm crescendo em importância junto aos pediatras Adolescência & Saúde Dores nos membros 27 quando se levam em conta a introdução mais precoce do adolescente no mercado de trabalho e o uso cada vez mais frequente de computadores e jogos do tipo videogames por crianças, desde os pré-escolares até os adolescentes. Podem manifestar-se em qualquer parte do corpo, ocorrendo mais frequentemente em membros superiores, colunas cervical e lombar, e decorrem da realização de movimentos contínuos, posturas inadequadas e estresse emocional mantidos por períodos de tempo variados. Os sintomas mais precoces são sensação localizada de desconforto ou peso na região afetada, formigamento e dor, inicialmente aos movimentos, passando a dor persistente e, nos estágios mais avançados, podem aparecer sinais inflamatórios. Na faixa etária pediátrica é mais comum a presença de lesões inflamatórias (artrite, tendinite, entesite e bursite) do que lesões neurológicas por compressão. Além disso, fadiga, redução da atividade física, anorexia, comportamentos agressivos, convulsões, cefaleia, dores torácica, abdominal e musculares difusas podem estar associados ao uso frequente de computadores. O diagnóstico é essencialmente clínico, com anamnese ocupacional e exame clínico detalhados. Os exames complementares, como radiologia simples, ultrassonografia (US), tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM), são utilizados para exclusão de doenças reumatológicas e ortopédicas. O tratamento consta de medidas gerais em relação à atividade causadora das queixas e terapias física e medicamentosa. A precocidade no diagnóstico e no início do tratamento está diretamente associadas ao prognóstico. Artrite reativa é aquela que ocorre uma a quatro semanas após a infecção sem que, no entanto, o agente responsável pela infecção inicial esteja presente nas articulações. Na maioria das vezes o organismo que começou o processo imunológico pode ser identificado, quer sorologicamente, quer por cultura de secreções de órgãos inicialmente comprometidos. Às vezes o comprometimento articular pode ser simultâneo ou mesmo preceder o quadro agudo de algumas doenças infecciosas, como no caso das artrites virais, já que muitas viroses podem cursar com quadros articulares. volume 6 ■ nº 3 ■ setembro 2009 28 Dores nos membros A sinovite transitória do quadril caracteriza-se por quadro de dor no local e limitação de movimentos, normalmente acompanhado de claudicação, que surge duas a três semanas após quadro respiratório viral, podendo ser uni ou bilateral. O laboratório é normal e mesmo as proteínas de fase aguda não costumam estar alteradas. O exame radiológico também é normal, mas a US e a cintigrafia óssea podem mostrar-se alteradas. O quadro é autolimitado, mas recomendam-se repouso e uso de anti-inflamatórios. É sabido que a AIDS pode cursar com síndromes reumáticas, como artrite psoriásica, artrite reativa ou espondiloartropatias indiferenciadas. Ainda que a incidência de manifestações reumáticas em crianças e adolescentes com AIDS seja semelhante à do grupo adulto, essas manifestações são caracteristicamente muito menos graves. Surpreendentemente, as artrites sépticas são raras em crianças e adolescentes com AIDS. Em relação aos quadros bacterianos, cabe chamar atenção para a endocardite bacteriana, que pode apresentar-se de forma muito semelhante à forma sistêmica da artrite idiopática juvenil (AIJ). Em qualquer monoartrite aguda, até que se prove o contrário, devese pensar em artrite séptica. O agente etiológico mais frequente em qualquer faixa etária é o Staphylococcus aureus, e medidas imediatas como punção articular e antibioticoterapia endovenosa devem ser adotadas. Na maioria das vezes, o quadro articular vem acompanhado de febre, queda de estado geral, prostração e intensa toxemia. Quadros não-tratados ou com atraso no início do tratamento podem levar a deformidades irreversíveis. Adolescentes que fazem uso de drogas injetáveis podem desenvolver artrite séptica em articulações normalmente pouco acometidas, como intervertebrais, sacroilíacas e esternoclaviculares. A artrite gonocócica pode ser frequente entre adolescentes sexualmente ativos. Numa fase inicial, há um quadro febril com calafrios, lesões cutâneas do tipo maculopapulares ou vesículas com conteúdo piossanguinolento em mãos e pés, além de uma poliartrite migratória com importante tendinite. Numa fase posterior, o estado geral melhora. A artrite se localiza em uma ou poucas articulações, geralmente joelhos ou punhos. A investigação de queixas referentes ao aparelho genitourinário, como disúria, descarga uretral e orquite, ajuda na pesquisa diagnóstica. volume 6 ■ nº 3 ■ setembro 2009 Sztajnbok et al. A doença falciforme cursa com vários tipos de manifestações osteoarticulares, dependendo da faixa etária. A síndrome mão-pé (dactilite) é mais comum nas crianças menores. As crianças maiores e adolescentes podem sofrer dor intensa na coluna vertebral, ossos e articulações por conta de crises vaso-oclusivas, com infartos ósseos e da membrana sinovial. As leucemias na infância e na adolescência podem se iniciar com quadros articulares, oligo ou poliarticulares, migratórios ou cumulativos. A poliartrite migratória de início súbito faz lembrar a febre reumática. A leucemia usualmente se apresenta com linfonodo e hepatoesplenomegalia, dor óssea importante (tibial e esternal), palidez cutaneomucosa e desproporção entre sinais inflamatórios e dor, isto é, a dor é muito intensa para poucos sinais inflamatórios. Claudicação também é uma queixa frequente na leucemia, mas, via de regra, o exame da articulação dolorosa mostra-se normal. Além das alterações hematológicas sugestivas do quadro (leucopenia ou leucocitose com linfocitose, anemia e trombocitopenia), o achado da tarja leucêmica (área de hipertransparência metafisária) no exame radiológico dos ossos longos ajuda no diagnóstico dessa enfermidade. Entre as síndromes de amplificação da dor e os distúrbios psicogênicos, gostaríamos de chamar a atenção para alguns pontos. A dor de crescimento afeta crianças e adolescentes na faixa etária de 4 a 12 anos, mais frequentemente até os 8 ou 10 anos, portanto não é comum na adolescência. Seu nome é indevido, pois surge em fase da vida que não é a do estirão de crescimento. Caracteriza-se pela presença de dores nas pernas simultânea ou alternadamente, em especial à noite (muitas vezes acordam as crianças), quase sempre associada a exercícios extenuantes e/ou hipermobilidade articular, com duração superior a três meses. Cede com massagens. A localização das queixas não é articular, sendo referida dor em região inguinal, coxas, oco poplíteo e pernas, de forma vaga. Os exames laboratoriais e radiológicos estão normais nesses casos. O manejo terapêutico deve ser feito de forma a tranquilizar a criança e os seus familiares em relação à benignidade do quadro, fazer uso de massagens com álcool ou gel, que apresentam boa resposta, podendo eventualmente utilizar analgésicos ou anti-inflamaAdolescência & Saúde Sztajnbok et al. tórios não-hormonais (AINHs), o que raramente se faz necessário. A fibromialgia acomete, com maior frequência, o sexo feminino, com início do quadro clínico na adolescência. Caracteriza-se pela presença de dores difusas pelo corpo seguidas de dor à digitopressão de pelo menos 11 de 18 pontos predeterminados, localizados nas regiões occipital e cervical anterior, na área do trapézio e do supraespinhoso, na segunda articulação costocondral, na região glútea, no grande trocanter e nos joelhos. Além disso, o paciente reclama de fadiga, dificuldade em dormir, com sono não-reparador, cefaleia, edema subjetivo e dores abdominais, mas os exames laboratoriais e radiológicos estão dentro da faixa de normalidade. O tratamento inclui consultas com psicólogos e fisioterapeutas. Podem ser prescritos AINHs e antidepressivos tricíclicos. Os reumatismos psicogênicos estão associados a problemas na escola, na família, enfim, dentro da vida social dos adolescentes, causando-lhes grandes preocupações. São pacientes com queixas desproporcionais aos achados do exame físico, que, como os exames laboratoriais e radiológicos, encontram-se, via de regra, normais. Uma rotina laboratorial mínima se faz necessária para auxiliar os rumos da investigação diagnóstica dos adolescentes queixosos. Algumas vezes são úteis para confirmar certos diagnósticos e, outras, servem para descartar outras enfermidades. Exames complementares normais em pacientes poliqueixosos sem alterações no exame físico sugerem quadros funcionais. Essa rotina mínima vai sendo acrescida de novos exames à medida que o desenvolvimento Dores nos membros 29 da enfermidade e alguns exames laboratoriais ou de imagem sugiram algum diagnóstico específico. A rotina laboratorial mínima deveria constar de hemograma completo, velocidade de hemossedimentação (VHS) e proteínas de fase aguda, elementos anormais e sedimento urinário (EAS), além de exame parasitológico de fezes. Assim, na presença de uma poliartrite migratória aguda, por exemplo, deveriam ser solicitados, além dos exames da rotina mínima, cultura de orofaringe, dosagem da antiestreptolisina-O (ASO) e eletroforese de proteínas. Rotina laboratorial mínima na investigação das dores nos membros na adolescência • Hemograma completo; • VHS e proteínas de fase aguda; • EAS; • exame parasitológico de fezes. Dados essenciais na clínica: definir localização e características da dor em membros Dados essenciais no diagnóstico: afastar causas ortopédicas, infecciosas, onco-hematológicas, reumatológicas e funcionais. Dados essenciais no tratamento: encaminhar ao especialista apropriado e tranquilizar a família em relação às condições funcionais. Leitura recomendada 1. Bowyer SL, Hollister JR. Dores nos membros em crianças. Clin Ped Am Norte. 1984; 5: 1105-35. 2. Grahame R, Bird HA, Child A, et al. The revised (Beighton 1998) criteria for the diagnosis of benign joint hypermobility syndrome. J Rheumatol. 2000; 27: 1777-9. 3. Hakim A, Grahame R. Joint hypermobility. Best Pract Res Clin Rheumatol. 2003; 17(6): 989-1004. 4. Oliveira SKF, Azevedo ECL. Reumatologia pediátrica. 2. ed. Rio de Janeiro: Revinter. 2000. 5. Silva CAA. Dores e lesões músculo-esqueléticas associadas a computadores e videogames em crianças e adolescentes. Pediatria (São Paulo). 1999; 21(4): 298-301. 6. Szer IS. 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