SHUTTERSTOCK SERVIÇO BELEZA Para garantir os adjetivos acima às suas unhas alguns cuidados são imprescindíveis. O principal deles é ter seu próprio “kit manicure”, para evitar doenças e infecções F azer as unhas faz parte do ritual de beleza de muitas brasileiras (e de alguns brasileiros também). Tanto que o país é hoje o segundo que mais vende esmaltes, atrás apenas dos Estados Unidos, de acordo com dados da consultoria internacional Euromonitor. Mas quem não dispensa o colorido nas mãos e nos pés deve tomar alguns cuidados. “O uso compartilhado de alicates e outros objetos gera risco de transmissão de doenças, dentre as quais as mais graves são as hepatites B e C”, informa o infectologista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Paulo Olzon. O material contaminado também pode transmitir micoses – infecção causada por fungos – e diversos vírus, como o que causa verrugas em volta dos dedos. De acordo com Olzon, é difícil o vírus da aids (HIV) ser transmitido pelos instrumentos de manicure, porque ele não sobreviveria devido a suas características. Mas difícil não quer dizer impossível. Mesmo quem frequenta o mesmo salão há anos precisa “confiar desconfiando”, pois ainda que existam aparelhos de esterilização no estabelecimento, não dá para se ter certeza de que o procedimento é realizado da maneira correta, garantindo que bactérias, vírus e fun- 26 Revista do Idec | Março 2011 gos sejam mesmo eliminados. “Como não há nenhum tipo de fiscalização nos salões, o ideal é que cada consumidor tenha seus próprios itens de manicure”, recomenda Olzon. Essa também é a advertência de Luiz Carlos Cucê, professor do departamento de dermatologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-USP). Ele defende ainda que haja mais rigor por parte dos órgãos sanitários. “Está mais que na hora de a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] exigir que os salões usem autoclave [aparelho de esterilização usado em consultórios médicos e odontológicos] para esterilizar os instrumentos”, reivindica. Mas boa parte dos salões usa estufas (que também são eficientes, mas mais lentas) ou “forninhos”, que não têm nenhuma capacidade de eliminar os microrganismos. Quem leva ao salão seu “kit manicure” (com alicate, espátula, lixa e palito) deve manter os materiais sempre limpos, pois a umidade e os restos de pele favorecem o acúmulo de bactérias que podem contaminar as unhas. Alicates e espátulas devem ser lavados com sabão neutro e com a ajuda de uma escovinha, e lixas e palitos precisam ser trocados regularmente. Quem usa os instrumentos do salão deve verificar se alguns itens, como lixas e palitos, são mesmo descartáveis. As bacias, ainda usadas em alguns estabelecimentos para amolecer a cutícula dos pés (ou os potinhos, no caso das mãos), devem ser protegidas com plástico descartável, pois a umidade favorece a contaminação por fungos. Segundo Olzon, também é interessante que a manicure use luvas descartáveis. “Essa medida protege tanto a cliente quanto a profissional, pois evita o contato com sangue caso haja cortes”, afirma. ESMALTES: USE COM MODERAÇÃO Com novos tons de esmalte pipocando nos salões, fica difícil para algumas mulheres resistir à troca de cor toda semana – quando não em menos tempo. Mas de acordo com os especialistas esse troca-troca faz mal para as unhas. Não tanto pelo esmalte, mas pelo removedor ou acetona, que desidratam muito a pele. Para evitar o ressecamento, o ideal é dar um tempinho entre uma cor e outra. Segundo Denise Steiner, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, a afirmação de que passar dias sem esmalte é importante porque as unhas precisam respirar não é verdadeira. “As unhas não ‘respiram’. Elas são uma estrutura queratinizada semelhante à pele ‘mais grossa’, que precisa ser hidratada”, explica ela. “Por isso é interessante retirar o esmalte, passar hidratante, colocar luvas e deixar ele agir durante toda a noite, e só no dia seguinte ir à manicure”, completa. Cucê alerta para o uso de fortalecedores de unha, que são feitos à base Mãos de fada Além da higiene dos instrumentos de manicure, outros cuidados são importantes na hora de fazer as unhas: A cutícula não pode ser retirada excessivamente nem com muita frequência (semanalmente, por exemplo). “A cutícula é a proteção essencial das unhas, e quando retirada em excesso pode abrir caminho para a entrada de bactérias ou fungos. Além disso, pode provocar traumas nas unhas, como o aparecimento de manchas brancas e depressões”, alerta a dermatologista Steiner. Cortes profundos, os famosos “bifes”, são perigosos, pois podem ser a porta de entrada para infecções como a erisipela, causada por bactérias”, aponta Steiner. Para minimizar o risco de complicações, o infectologista Olzon recomenda lavar bem o local afetado com água e sabão. Cuidados devem ser tomados na hora de empurrar a cutícula com a espátula. “Durante o processo, a manicure pode raspar a unha e retirar as primeiras camadas de queratina. Isso causa erosões e, consequentemente, seu enfraquecimento”, aponta o professor Cucê. É preciso evitar umidade em excesso. “Quem quer ter unhas bonitas e fortes deve se acostumar a usar luvas ao realizar o trabalho doméstico”, afirma Cucê. Não se deve polir ou lixar as unhas frequentemente, pois o procedimento provoca bolhas de ar nas camadas de queratina, o que também as enfraquece. de formol e podem causar alergia. Segundo o professor, quem tem unhas fracas deve ficar longe de tais produtos e redobrar os cuidados, evitando umidade e hidratando bastante as unhas, além de procurar um dermatologista para tratar o problema com a medicação adequada. Dependendo da sensibilidade individual, os esmaltes comuns também podem causar irritação. De acordo com Steiner, cerca de 10% das pessoas são alérgicas a eles. “A alergia pode ser ao corante, ao conservante ou aos próprios ingredientes da fórmula”, diz. Uma alternativa para minimizar o problema, segundo a dermatologista, é passar base própria para tratamento a fim de proteger as unhas da agressão do esmalte. Segundo informações do site Campaign for Safe Cosmetics <www.safe cosmetics.org> (Campanha por Cosméticos Seguros), os esmaltes e os removedores contêm uma série de substâncias tóxicas conhecidas ou suspeitas de causar câncer, danos ao sistema reprodutivo, asma, entre outros problemas de saúde. As manicures são particularmente mais expostas aos riscos, já que lidam com eles durante todo o dia e geralmente em ambientes pouco ventilados. Entre os ingredientes nocivos mais comuns nos tubinhos coloridos estão dibutil ftalato (DBP), formaldeído e tolueno. Mas, felizmente, vários fabricantes têm retirado o chamado “trio tóxico” dos produtos, segundo o site – pelo menos nos Estados Unidos. Por isso, na hora de escolher o esmalte, a dica é olhar no rótulo sua fórmula e escolher o menos tóxico. Para grávidas e crianças o uso deve ser o mais restrito possível. No caso dos pequenos, Cucê orienta os pais a preferirem esmaltes infantis, que são menos agressivos. Já Steiner aconselha a não usar. “As crianças não deveriam usar esmalte, pois o contato precoce com as substâncias químicas que o compõem pode facilitar o aparecimento de alergia mais tarde”, pondera a médica. Revista do Idec | Março 2011 27