GABINETE DO DEPUTADO ZICO BRONZEADO – PT Discurso para o pequeno expediente de 29 de setembro de 2003. A Medida Provisória dos Transgênicos Senhor Presidente, Sras e Srs. Deputados. Em solidariedade à Ministra Marina Silva, que ocupa a pasta do Meio Ambiente, é que tomo a tribuna hoje. Em solidariedade porque acredito que sua pasta acabou por ser envolvida em vários equívocos, criados pelo Executivo, que teve por conseqüência a assinatura, pelo Vice José Alencar, da Medida Provisória que liberou o plantio da soja transgênica em todo país para safra de 2004. Ocorre, Senhor Presidente, que ao invés de conduzir um processo de discussão cuidadoso, com todos os setores envolvidos, de forma articulada entre os Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, o Executivo optou por resolver o problema por meio de uma Medida Provisória, dando clara demonstração de desconhecimento da importância que a medida tinha para a sociedade em geral. É claro que não se quer aqui fazer uma crítica contrária ao desenvolvimento científico e tecnológico, de profunda importância para o país. Evidente que a produção de variedades melhoradas geneticamente, quer seja de soja, milho, algodão ou qualquer outra espécie vegetal, de maneira a ampliar sua produtividade e, em última análise, até reduzir a necessidade de área plantada, é interessante para a economia brasileira e para o meio ambiente. Afirmamos e temos a convicção de que a biotecnologia é um processo científico de inestimável valor tecnológico para o desenvolvimento da agricultura, a produção de alimentos, medicamentos e outras necessidades fundamentais para a melhoria da qualidade de vida do homem. Essa grande promessa da engenharia genética poderá constituir-se numa jóia no avanço e solução de vários problemas produtivos. A crítica que deve ser feita diz respeito à forma com que essa discussão se desenrolou e a completa ausência dessa Casa em todos os momentos. No intuito de atender demandas de uma bancada Estadual, como a do Rio Grande do Sul, o Congresso, como um todo, esteve alheio ou foi excluído de uma discussão de profundo significado para o Brasil. Para se ter uma idéia, Senhores Parlamentares, o Brasil produz hoje 50 milhões de toneladas de soja, sendo o segundo produtor e o primeiro exportador mundial. O que devemos discutir com bastante critério, por exemplo, é quais são os reais benefícios que traz ao país a exportação anual de 24 milhões de toneladas de soja em grãos, sem agregação de valor, negando a possibilidade de geração de emprego e renda para a economia nacional. No dia 25 de setembro, essa Casa organizou um Seminário Internacional de grande repercussão para discutir políticas públicas para biocombustível. Ficou claro que a soja deverá ser a cultura mais importante na produção de biodiesel, o que pode significar a possibilidade de expansão do plantio dessa cultura em torno de 20 milhões de hectares nos próximos anos. Em recente viagem que fiz à Alemanha, acompanhando comitiva do Senador Sibá Machado, pude constatar a importância estratégica futura da produção do biodiesel como alternativa ao uso do petróleo para países como o nosso. Acontece, que imaginar que essa expansão do plantio de soja, para atender mais essa demanda, não vai chegar à Amazônia é uma ingenuidade. Por isso, estamos preocupados com o avanço da soja na Amazônia. Não queremos que nossa floresta seja transformada num grande campo de soja, independente de ser transgênica ou não. A soja já dominou completamente o Pantanal, o Mato Grosso, parte de Rondônia e do Pará, a região do Humaitá no Amazonas e, por incrível que pareça, o norte de Roraima. Essa ocupação da produção de soja na Amazônia é que deve levantar profundos debates acerca da vocação produtiva da região. Afinal, o que queremos é manejar nossa floresta de modo a permitir a inclusão social da maioria da população amazônica. Será possível estabelecer limites geográficos ao cultivo da soja? Será possível evitar a derrubada da floresta amazônica? Será realmente possível atender a demanda do país pela produção de soja cultivandose os 200 milhões de hectares destinados à pecuária extensiva com baixíssima produtividade? Responder essas perguntas requer um debate a ser realizado a médio e longo prazos. O mais importante, Senhor Presidente, é que seja produzida uma legislação definitiva sobre a cultura da soja, essa espécie adquiriu uma importância sem precedentes para economia nacional com efeitos significativos sobre o meio ambiente. Por isso merece uma atenção especial do Congresso. Sendo assim sugiro ao nobre Deputado Waldemir Moka, ilustríssimo Presidente da Comissão Permanente de Agricultura, que inicie um processo de discussão em todo país, acerca da importância econômica, social e ambiental do cultivo da soja. Não podemos, Senhores Deputados, nos furtar à contribuir na solução dessa questão e mantermos alijados das discussões enquanto o Executivo protela as soluções por meio de Medidas Provisórias. Relembro-lhes, que todas as vezes que alguma espécie vegetal adquiriu tamanha importância para o país, o Parlamento entregou ao Executivo a condução do processo e o resultado foi a elaboração e execução de políticas públicas excludentes e de elevados impactos ambientais. Assim foi na era da cana-de-açúcar, na era do café, e na era da borracha. A história da borracha por sinal, é o exemplo maior do que uma sucessão de equívocos em política pública pode causar. Sem me alongar, os seringueiros da Amazônia, no caso da borracha, até hoje sofrem as conseqüências dessas políticas irresponsáveis. Para finalizar, Senhor Presidente, gostaria de enviar uma mensagem à Senadora e Ministra Marina Silva. Jamais vamos precisar esquecer tudo que vossa excelência tenha escrito ou falado, como sugeriu a imprensa, de maneira perversa, nesse final de semana. Conhecemos a reputação da Vereadora, Deputada Estadual, Senadora e Ministra Marina Silva, e temos plena convicção do baluarte moral e ético que ela representa. Rogo a Deus Ministra, que sua força espiritual lhe possibilite reunir condições físicas suficientes para enfrentar mais esse complexo desafio. Meu muito obrigado.