SÍNDROMES DE OLHO VERMELHO CONJUNTIVITES AGUDAS 1 Jailton Vieira Silva 2 Bruno Fortaleza de Aquino Ferreira 2 Hugo Siquera Robert Pinto OBJETIVOS DE APRENDIZADO Conhecer os pri nci pa i s fa tores de ri s co da s conjunti vi tes a guda s ; Rea l i za r o di a gnós ti co di fere nci a l ; Identi fi ca r pa ci entes que neces s i ta m s er referenci a dos a o ofta l mol ogi s ta ; Entender os pri ncípi os do tra ta mento. RELEVÂNCIA A conjuntivite é o diagnóstico mais provável em paciente com s ecreção e olho vermelho. Apesar de geralmente a presenta r evol ução benigna, é i mportante diagnóstico diferencial de condições potencialmente gra ves e que podem ca us a r défi ci t vi s ua l perma nente, como cera ti te, uvei te a nteri or e gl a ucoma a gudo. INFORMAÇÕES GERAIS Entende-se por conjuntivi te qualquer i nflamação da conjuntiva, a presentando-se ca racteris ti ca mente com ol ho vermel ho. A conjuntivite a guda é cl assificada em i nfecci os a (vi ra l e bacteriana) e não i nfecciosa (alérgica e não-alérgi ca ). Pode-s e col oca r a s conjunti vi tes neona ta i s como um s ubgrupo a pa rte. QUADRO 1. LESÕES ELEMENTARES DA CONJUNTIVA. Lesão Descrição Papila Lesão avermelhada hipertrófica, com vaso central, podendo acometer limbo, tarso superior e inferior. Papilas gigantes, características de conjuntivite alérgica, acometem tarso superior. Folículo Pápula cristalina (linfática) com vasos laterais. A reação folicular aguda sugere etiologia viral e a crônica pode ser fisiológica ou sinal de tracoma (com hiperemia). CONJUNTIVITES VIRAIS A conjunti vi te vi ra l é o ti po de conjunti vi te ma i s comum. O a denovírus é o principal agente etiológico e possui dezenove s ubti pos que podem ca us a r conjunti vi tes . O período de i ncuba çã o é de 5-12 di a s , s endo a i nfecçã o a utol i mi ta da . Após a recupera çã o, i munocompetentes es ta rã o i munes contra o s oroti po i nfecta nte. Fatores de risco. É uma doença altamente contagiosa, tra ns mitida a través do contato direto com secreções, objetos e s uperfíci es conta mi na da s , pri nci pa l mente em a gl omera ções . Os vírus tendem a s er el i mi na dos entericamente, sendo comum a tra ns mi s s ã o por pi s ci na s . 1. PROFESSOR DA DISCIPLINA DE OFTALMOLOGIA DA FACULDADE DE MEDICINA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 2. ACADÊMICO DE MEDICINA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CONJUNTIVITES BACTERIANAS Sã o ma i s frequentes em cri a nça s , s endo ca us a s comuns de epidemias. O pri ncipal agente é o Staphyl ococcus a ureus, entrenta nto outra s ba ctéri ca s ca us a dora s s ã o S. pneumoniae, H. influenzae (geralmente associado à i nfecçã o s i s têmi ca , febre e IVAS) e M. catarrhalis. Fatores de risco. As s i m como as vi rais, são altamente conta giosas, s endo transmitida s a tra vés de conta to di reto com s ecreções, objetos e superfícies contaminadas. Acomete i ndivíduos cujos mecanismos de defesa ocular encontra m-s e defi cientes. Os principais fatores de risco sã o a l tera ções da i ntegri da de da conjunti va e da s ecreçã o l a cri ma l . CONJUNTIVITES ALÉRGICAS Gera lmente manifestada na a dolescência, é ca us a da por conta to com a l érgenos no ol ho (rea çã o de hi persensibilidade ti po 1, medi a da por IgE) e a ti va çã o de cél ulas mastocitárias. Apresenta diversas formas evol uti va s , podendo, inclus i ve, curs a r com a cometi mento cornea no. Fatores de risco. Es tá a s s oci a da à outra s doença s a l érgicas, como asma, ri ni te a l érgi ca e derma ti te a tópi ca , s endo a hi s tóri a fa mi l i a r um i mporta nte fa tor de ri s co – QUADRO 2. Os a l érgenos ma i s rel a ci ona dos como des encadeadores de crise são pólen, poluentes, medicações , cos méti cos e us o de l entes de conta to. DISCIPLINA DE OFTALMOLOGIA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ QUADRO 2. ALERGIA E FATORES AGRAVANTES EM PACIENTES COM CONJUNTIVITE ALÉRGICA. Sintoma Frequência Asma e história familiar 59,1% Rinite alérgica 31,8% Dermatite alérgica 22,7% QUADRO 2. CONJUNTIVITES NEONATAIS. Agente etiológico Comentário Nitrato de prata Ocorre até 3 dias após o nascimento pela instilação nitrato de prata (profilaxia da conjuntivite gonocócica). A secreção é aquosa e discreta. Clamídia É a conjuntivite neonatal mais comum. Apresenta-se com secreção mucopurulenta, 5-10 dias após o nascimento, podendo haver quadro sistêmico (pneumonia, IVAS). Se não tratada, pode causar pannus e formar cicatriz corneana. Gonococo Desenvolve-se em 2-4 dias após o nascimento. O uso de nitrato de prata 1% diminuiu a ocorrência, mas não a erradicou. Causa conjuntivite hiperaguda. Outras bactérias Ocorre de 2-30 dias após o nascimento. Apresenta-se como conjuntivite aguda. Herpes simplex II Geralmente unilateral, ocorre a partir de 7 dias do nascimento. É uma conjuntivite com secreção aquosa, podendo apresentar vesículas palpebrais, ceratite, coriorretinite e uveite associados. CONJUNTIVITES NÃO-ALÉRGICAS Ocorre qua ndo o paciente desenvol ve um proces s o i nflamatório na conjuntiva que não é a s s oci a do à i nfecçã o nem à reação alérgica. Olho s eco, s ubs tâ nci a s i rri ta ntes e corpo es tra nho fi gura m entre a s pri nci pa i s ca us a s . Conjuntivite neonatal As conjuntivites neonatais geralmente são infecciosas e estão associadas à passagem pelo canal vaginal contaminado. Os agentes comumente relacionados são clamídia, gonococo, herpes vírus e outras bactérias (Streptococcus pneumoniae, Staphylococcus aureus, Haemophilus influenza, Escherichia coli, Pseudomonas sp). ABORDAGEM AO PACIENTE MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO CONJUNTIVITES VIRAIS Podem fa zer pa rte de doença vi ra l s i s têmi ca ou a pa recer isoladamente. Pa ciente pode a pres enta r qua dro s emelhante a um resfriado, com tos s e ma ti na l , conges tã o na s al e secreção, podendo a presentar a glutinação pal pebra l pel a manhã. Li nfadenomegalia preauricular está presente em a té 90% dos ca s os . Curs a m com hiperemia conjuntival, secreção hialina e s ensação de queimação ou a reia nos olhos. O s egundo ol ho cos tuma ficar envolvi do dentro de 48h a té uma semana após o pri meiro. Os sintomas geralmente pi ora m entre 3-5 di a s , mel hora ndo gra dua l mente em 1-2 s ema na s . Si nai s de i nfl a ma çã o da conjunti va (hi peremi a conjuntival) e s ecreção são achados universais. A presença de rea çã o fol i cul a r é ba s ta nte s uges ti va de eti ol ogi a vi ra l . Ceratoconjuntivite epidêmica (CCE) É uma forma de ceratoconjuntivite adenoviral fulminante, tipicamente causada pelos subtipos 8, 19 e 37. É a forma mais grave de conjuntivite, ocorrendo após doze dias das primeiras manifestações clássicas.O paciente desenvolve sensação de corpo estranho e infiltrados subepiteliais (visíveis à iluminação direta). As lesões resultam da reação antígenoanticorpo e podem ser coradas por fluresceína durante meses (o vírus que causa a CCE em um paciente pode causar apenas conjun tivite simples em outro). A sensação do corpo estranho impede o paciente de manter olhos abertos espontaneamente e os infiltrados causam BAV. Podem formar-se membranas em 1/3 dos pacientes (CCE membranosa), Esses pacientes devem ser referidos a um oftalmologista para confirmar o diagnóstico e avaliar uso de glicocorticoide tópico. CONJUNTIVITES BACTERIANAS As conjuntivi tes bacteri a na s gera l mente pos s uem a presentação unilateral e i nstala çã o rá pi da , curs a ndo com ol ho vermel ho, i rri ta çã o e s ecreçã o mucupurul enta pers istente ao longo do dia (amarela da , es bra nqui ça da ou es verdeada). Geralmente, o olho contralateral é afeta do em 1-2 di a s . Si na i s de i nfl a ma çã o da conjunti va (hi peremi a conjuntival) e s ecreção são achados universais. A presença de ps eudomembranas (mais relacionadas a N. gonorrhoeae e S. beta -hemolíticos) e secreção mucupurul enta contínua s ã o ba s ta nte s uges ti va s de ca us a ba cteri a na . Conjuntivite hiperaguda É um tipo de conjuntivite que instala-se em 24h, mais em neonatos e adultos com atividade sexual. Os agentes implicados são N. gonorrhoeae (principal) e N. meningitidis. Uretrite geralmente está presente. A transmissão ocorre da genitália para as mãos e delas para os olhos. O olho apresenta intensa secreção purulenta nas primeiras 12h do contágio. Hiperemia e dor à palpação ocorrem nas horas subsequentes. Tipicamente ocorre quemose, edema palpebral e adenopatia preauricular dolorosa. É uma condição grave que necessita de encaminhamento urgente a um oftalmologista e hospitalização para tratamento adequado, a fim de evitar complicações como ceratite e perfuração. CONJUNTIVITES ALÉRGICAS Podem compor reação a l érgi ca genera l i za da , com s i ntomas respiratórios, ou a presentar-se isoladas. As queixa s pri nci pa i s i ncl uem pruri do, s ecreçã o e ol ho vermel ho. CONJUNTIVITES AGUDAS | 25 DISCIPLINA DE OFTALMOLOGIA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ Acometi mento gera l mente é bi l a tera l com pruri do ca ra cterís ti co, o que di ferenci a da conjunti vi te vi ra l . Si na i s de i nfl a ma çã o da conjunti va (hi peremi a conjuntival) e s ecreção são achados universa i s . Os a cha dos s ã o semelhantes aos da vi ral (história ajuda a diferenci a r). A pres ença de rea çã o fol i cul a r ta rs a l s uperi or é ba s ta nte s ugestiva de etiologia a lérgica associada a l entes de conta to. Al guns casos podem a presentar aglutinação matinal e edema de conjunti va (quemos e). Colírios corticoides nas conjuntivites virais Não está recomendado em todos os casos de conjuntivites virais. É indicado apenas na presença de infiltrados inflamatórios corneanos, baixa visual importante ou sintomas insuportáveis. Tais colírios alteram a imunidade local, não reduzem o tempo de doença, sendo seu tempo de uso indeterminado, podendo causar efeitos colaterais graves, como catarata e glaucoma. Devem ser prescristos apenas após avaliação por oftalmologista. CONJUNTIVITES BACTERIANAS QUADRO 3. INTENSIDADE DOS CERATITE ALÉRGICA. SINTOMAS EM Sintoma Intensidade Prurido ++++ Lacrimejamento ++ Sensação de corpo estranho + Fotofobia + PACIENTES COM CONJUNTIVITES NÃO-ALÉRGICAS Cl i nicamente, há hi peremi a di fus a com s ecreçã o hi a lina no olho a cometido, não ra ramente com des conforto ocul a r. CONDUTA CONJUNTIVITES VIRAIS Nã o há tra ta mento es pecífi co, a pes a r de ha ver benefício com l ubri fi ca ntes e compres s a s fri a s . Deve -s e a l ertar o paciente a não compartilhar objetos de uso pessoa l e permanecer em ca sa a té que não haja mais secreção, a fi m de evi ta r propa ga çã o da doença , fornecendo a tes ta do médi co se necessário por 2-3 s emana s , qua ndo o pa ci ente deve retornar para a valiar curar ou antes s e houver pi ora do qua dro. O tra ta mento é es s enci a l mente a nti bi óti co , norma lmente tópi co, o qua l ta mbém reduz tra ns mi s s ã o. Compressas mornas e lubri fi ca ntes ta mbém s ã o medi da s benéficas. Diferente das conjuntivites virais, pode-se associar corti cói des tópi cos , a l erta ndo-s e pa ra pos s ívei s efei tos col a terais. Usualmente, prescreve -se colírio de quinolona de 4/4h por 7 di a s. O paciente deve retornar a pós 2-3 dia s pa ra rea va liação e, havendo melhora do quadro, pode-se reduzir a pos ologia para duas vezes ao dia. Do contrário, encaminha-se a um ofta l mol ogi s ta . Como na s vi rais, deve-se alertar o paciente pa ra que perma neça em casa a té que não haja mais secreção , em geral dua s semanas, e que não compartilhe objetos de uso pessoal. CONJUNTIVITES ALÉRGICAS As medidas iniciais, nos ca sos mais simples , i ncl uem control e a mbi enta l e us o de l ubri fi ca ntes . Nos ca s os moderados, podem ser usados colírios anti-histamíni cos . Em vi rtude dos efeitos colaterais, corticoides tópicos devem s er res ervados para o controle das exa cerba ções , devendo s er pres cri tos a pena s por ofta l mol ogi s ta s . CONJUNTIVITES NÃO-ALÉRGICAS Independente da causa, a regra é que a conjuntiva s e recupere espontaneamente da lesão até 24h a pós a reti ra da do a gente agressor. Lubrificantes mel hora m o des conforto ocul ar e podem s er uti l i za dos vá ri a s vezes por di a . Se a a gressão for provocada por medicação tópica ocular, pode-se a l tera r por s i mi l a r e obs erva r como o ol ho rea ge . REFERÊNCIAS 1. KANSKI, J. J. Oftalmologia clínica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 2. REY, L. Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde . Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 3. DALL´COLL, M. Olho vermelho. In: CAVALCANTI, E. F. A.; MARTINS, H . S. Clínica Médica: dos sinais e sintomas ao diagnóstico e tratamento. Barueri: Manole, 2007. 4. RUBENSTEIN, J. B.; VIRASH, V. Allergic Conjunctivitis . In: MYRON, Y.; DUKER, J. S. Ophthalmology. Saint Louis: Elsevier, 2009. 5. RUBENSTEIN, J. B.; VIRASH, V. Conjunctivitis: Infectious and Noninfectious. In: MYRON, Y.; DUKER, J. S. Ophthalmology. Saint Louis: Elsevier, 2009. 6. MARBACK, P. M. F. et al. Aspectos clínicos e epidemiológicos da conjuntivite alérgica em serviço de referência. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, São Paulo, v. 70, n. 2, Mar. 2007. Disponível em <http://www.scielo.b r/sci elo.php?script =sci_artt ext&pid =S0004 -27492007000200022&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 08 Nov. 2012. 7. JACOBS, D. S. Conjuntivitis. UpToDaTe, 2012. Disponível em <http://www.uptodate.com/cont ents/conjuncti vitis>. Acesso em 08 Nov. 2012. CONJUNTIVITES AGUDAS | 26