título do resumo - Anais Unicentro

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ALTERAÇÕES HISTOLÓGICAS EM INTESTINO DE SUÍNOS
SUBMETIDOS À MULTI-CONTAMINAÇÃO POR DEOXINIVALENOL,
NIVALENOL E ZEARALENONA
Reginaldo Luís Oliveira (PIBIC/F. Araucária-UEL), Karina Stringhetta,
Elisângela O. Silva, Rita C. L. Ribeiro, Juliana R. Gerez, Joelma Lucioli, Ana
Paula F.R.L. Bracarense (Orientador), e-mail: [email protected]
Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Medicina Veterinária
Preventiva/Londrina, PR.
Área: Medicina Veterinária - Sub-área: Patologia Animal
Palavras-chave: Fusarium, micotoxinas, tricotecenos.
Resumo
Deoxinivalenol (DON), Nivalenol (NIV) e Zearalenona (ZEA) são metabólitos
secundários produzidos por fungos que podem provocar danos à saúde
humana e animal. O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos de uma multicontaminação com DON, NIV e ZEA sob parâmetros histopatológicos e
morfométricos no intestino de suínos. Vinte leitões foram submetidos durante
35 dias a tratamentos alimentares: ração contendo 119µg/kgֿ¹ de DON e
19µg/kgֿ¹ de ZEA (G1); ração contendo 2080µg/kgֿ¹ de DON, 1510µg/kgֿ¹
de ZEA e 1370µg/kgֿ¹ de NIV (G2); ração contendo 1540µg/kgֿ¹ de DON,
176µg/kgֿ¹ de ZEA (G3) e ração contendo 3040µg/kgֿ¹ de DON, 1540µg/kgֿ¹
de ZEA e 1260µg/kgֿ¹ de NIV (G4). Fragmentos teciduais do jejuno e íleo
foram processados para análise histológica, utilizando os métodos de
hematoxilina-eosina e Alcian Blue para avaliação histopatológica/
morfométrica e quantificação das células caliciformes, respectivamente. Os
achados histológicos foram mais freqüentes no íleo e caracterizaram-se por
dilatação de vasos linfáticos, achatamento de vilosidades e ativação de
Placas de Peyer. A ocorrência destes achados não diferiu entre os
tratamentos. Redução significativa no número de mitoses no jejuno foi
observada no grupo G3 comparado ao grupo G1. No íleo observou-se
redução significativa no número de células caliciformes nos grupos tratados
com ração contaminada com as três micotoxinas (G2 e G4). Nos demais
parâmetros avaliados (altura de vilosidades e número de células
inflamatórias) não houve diferença significativa entre os tratamentos.
Introdução
As micotoxinas são metabólitos secundários produzidos por fungos,
principalmente os do gênero Fusarium, que estão presentes no milho e nos
seus derivados, utilizados na alimentação animal. A maioria dos fungos
produz simultaneamente diversas micotoxinas, expondo homens e animais a
uma variedade de toxinas ao mesmo tempo (Bakan et al., 2002).
Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.
Deoxinivalenol (DON) e Nivalenol (NIV) pertencem aos tricotecenos e são
muito estáveis durante o armazenamento, moagem, processamento e
cocção de alimentos (Luongo et al., 2008). Em humanos podem causar
diarréia, vômito e perda de peso (Maresca et al., 2002). Nos animais, podem
induzir imunossupressão, vômito, anorexia, gastroenterite, diarréia, perda de
peso e queda na eficiência alimentar (Pestka et al., 2008). Na célula, o
deoxinivalenol interage a uma peptidil-transferase na subunidade
ribossômica 60S, causando uma parada na atividade de tradução (Ueno,
1985), afetando a síntese protéica.
Hedman et al. (1997) compararam os efeitos tóxicos de NIV em
suínos e observaram que a toxicidade ocorre em níveis semelhantes ao
DON. Os animais apresentaram alterações na espessura da mucosa do trato
gastrointestinal, hemorragia leve e focal e cistos renais.
Zearalenona (ZEA) é uma lactona macrocíclica com alta afinidade
para receptores de estrógeno. Induz a vulvovaginites em leitoas e anestro
em fêmeas pós-lactação. Durante a gestação reduz a sobrevivência
embrionária e às vezes diminui o peso fetal. ZEA pode afetar o útero
diminuindo a secreção de LH e de progesterona, alterando a morfologia dos
tecidos uterinos. Nos machos, ZEA pode deprimir a testosterona, o peso dos
testículos e a espermatogênese, além de induzir a feminização e suprimir a
libido (D'Mello et al., 1999).
Dentre as espécies animais, os suínos exibem grande sensibilidade
as micotoxinas. Além disso, as similaridades anatômicas e fisiológicas entre
o homem e o suíno, em relação ao sistema digestório e imune, fazem com
que o suíno represente um modelo excelente a ser extrapolado para o
homem (Rothkotter et al., 2002). O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito
da ingestão crônica de uma dieta multi-contaminada com deoxinivalenol,
nivalenol e zearalenona na indução de alterações histológicas e
morfométricas no intestino de suínos.
Materiais e métodos
Vinte leitões de 4 semanas de idade receberam durante 35 dias os
seguintes tratamentos: ração contendo 119µg/kgֿ¹ de DON e 19µg/kgֿ¹ de
ZEA (G1); ração contendo 2080µg/kgֿ¹ de DON, 1510µg/kgֿ¹ de ZEA e
1370µg/kgֿ¹ de NIV (G2); ração contendo 1540µg/kgֿ¹ de DON, 176µg/kgֿ¹
de ZEA (G3) e ração contendo 3040µg/kgֿ¹ de DON, 1540µg/kgֿ¹ de ZEA e
1260µg/kgֿ¹ de NIV (G4). Ao exame postmortem, fragmentos de jejuno e íleo
foram colhidos e fixados em solução de formalina tamponada a 10% e
posteriormente em etanol 700. Os fragmentos foram então desidratados,
clarificados e embebidos em parafina, para posterior corte de secções de 3
µm. Os cortes foram corados com hematoxilina-eosina (HE) para avaliação
histopatológica, morfométrica e contagem do número de mitoses. Para a
quantificação das células caliciformes, os segmentos foram corados pelo
método de Alcian Blue.
Os dados foram submetidos à Análise de Variância (ANOVA) usando
o programa estatístico SAEG (UFV, 1977), e os resultados foram
Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.
comparados usando o Teste de Tukey. Foram considerados significativos os
valores de p ≤ 0,05.
Resultados e Discussão
Os achados histológicos foram mais freqüentes no íleo e caracterizaram-se
por dilatação de vasos linfáticos, achatamento de vilosidades e ativação de
Placas de Peyer. A ocorrência destes achados não diferiu entre os
tratamentos.
Alterações na altura de vilosidades e profundidade de criptas são
indicativas de perda de enterócitos e alterações na absorção de nutrientes.
Não houve diferença significativa na altura de vilosidades ou profundidade
de criptas em nenhuma das regiões avaliadas.
As células caliciformes sintetizam e secretam mucinas que estão
associadas à fisiologia intestinal. O número de células caliciformes diminuiu
significativamente no íleo dos animais que ingeriram ração com as três
micotoxinas (G2 e G4). No jejuno não foi observada diferença significativa
entre os grupos.
Infiltrado inflamatório de linfócitos, plasmócitos e eosinófilos foi
observado em todas as regiões do intestino. Nos grupos tratados com
micotoxinas não houve diferença significativa no número de células
inflamatórias infiltradas na lâmina própria.
A proliferação celular foi estimada por meio da contagem de figuras
de mitose nas vilosidades intestinais. Verificou-se diminuição significativa no
número de figuras de mitose no jejuno dos animais que receberam ração
contendo duas micotoxinas (G3) em relação ao controle (G1).
As alterações histológicas foram mais pronunciadas no íleo. Esta
localização diferenciada pode estar relacionada a uma maior absorção da
toxina ou a uma resposta específica desta região.
Intoxicações crônicas por DON induzem anorexia, diminuição no
ganho de peso e má absorção de nutrientes (Pestka and Smolinski, 2005).
No entanto, há poucos estudos in vivo na literatura que enfoquem alterações
intestinais em suínos. Alterações histológicas como erosão da mucosa
gástrica e intestinal e depleção linfóide de Placas de Peyer foram
observadas em suínos que ingeriram dietas contendo 0,7 a 5,8 mg kg -1 de
DON durante 4 semanas. Obremski et al. (2008) observaram diminuição de
células caliciformes e aumento do número de linfócitos, plasmócitos e
eosinófilos em uma intoxicação de curta duração com doses baixas de DON
(28,9 µg kg-1), T-2 (11,5 µg kg-1) e zearalenona (33,2 µg kg-1). Expantes
jejunais de suínos tratados com diferentes doses de DON apresentaram
alterações dose-dependentes como achatamento de vilosidades, edema e
necrose da lamina própria com numerosas células apoptóticas (Kolf-Clauw
et al., 2009). O modo de ação tóxica do DON é a inibição da síntese
proteica, afetando primariamente as células em rápida divisão como as do
trato gastrointestinal e do sistema imune (Leeson et al., 1995). O
achatamento de vilosidades observado no jejuno e íleo pode ser decorrente
Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.
da diminuição do número de figures de mitose observada no jejuno.
Considerando que as células caliciformes originam-se de células
precursoras intestinais, a diminuição observada pode ser explicada pelo
efeito inibitório do DON na síntese protéica das células em proliferação.
Conclusões
A multi-contaminação com doses baixas de micotoxinas ocorre
freqüentemente nas contaminações naturais, no entanto há poucos dados
na literatura relatando os efeitos de uma dieta co-contaminada em suínos.
Os dados apresentados indicam que a ingestão crônica de doses baixas de
deoxinivalenol, zearalenona e nivalenol induz alterações histológicas em um
modelo in vivo em suínos, sugerindo ainda que estas micotoxinas possam
predispor os animais a infecções por meio de alterações na barreira
intestinal. Além disto, os efeitos observados na dieta contendo três
micotoxinas foi similar a dieta contendo duas micotoxinas, indicando que
para os parâmetros avaliados não há ação sinérgica.
Referências
1. Bakan, B.; Melcion, D.; Richard, M. D.; Cahagnier, B. Fungal growth and
Fusarium mycotoxin contend in isogenic traditional maize and genetically
modificades maize grown in France and Spain. Journal of Agricultural and
Food Chemistry. 2002, 50, 728-731.
2. D'Mello, J.P.F.; Placinta, C.M.; Macdonald, A.M.C. Fusarium mycotoxins:
a review of global implications for animal health, welfare and productivity. Animal Feed Science and Technology. 1999, 80, 183-205.
3. Hedman, R., Thuvander, A., Gadhasson, I., Reverter, M., Pettersson, H.
Influence of dietary nivalenol exposure on gross pathology and selected
immunological parameters in young pigs. Nat. Toxins. 1997, 5, 238-246.
4. Kolf-Clauw, M; Castellote, J; Joly, B; Bourges-Abella, N; Raymond-Letron,
I.; Pinton, P.; Oswald, I.P.. Development of a pig jejunal explant culture for
studying the gastrointestinal toxicity of the mycotoxin deoxynivalenol:
Histopathological analysis. Toxicol. in Vitro. 2009, 23, 1580-1584.
5. Leeson, S.; Diaz, G.; Summers, J. D. Poultry Metabolic Disorders and
Mycotoxins. Guelph, Canada: University Books, 1995.
6. Luongo, D.; De Luna, R.; Russo, R.; Severino, L. Effects of four Fusarium
toxins (fumonisin B1, α-zearalenol, nivalenol and deoxynivalenol) on porcine
whole-blood cellular proliferation. Toxicon. 2008, 52, 156-162.
7. Maresca, M.; Mahfoud, R.; GarmY, N.; Fantini, J. The mycotoxin
deoxynivalenol affects nutrient absorption in human intestinal epithelial cells.
The Journal of Nutrition. 2002, 132, 2721-2731.
8. Obremski, K.; Zielonka, L.; Gajecka, M.; Jakimiuk, E.; Bakula, T.;
Baranowski, M.; Gajecki, M. Histological estimation of the small intestine wall
after administration of feed containing deoxynivalenol, T-2 toxin and
zearalenone in the pig. Polish J Vet Sci. 2008, 11, 339-345.
9. Pestka, J.J. and Smolinski, A.T. Deoxynivalenol: toxicology and potential
effects on humans. J. Toxicol. Environ. Health, B. Crit. Rev. 2005, 8, 39-69.
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