A CULTURA DO ALHO Francisco Vilela Resende Lenita Lima Haber Jadir Borges Pinheiro INTRODUÇÃO O alho (Allium sativum L.) é uma hortaliça rica em amido e substâncias aromáticas de alto valor condimentar e possui ação fitoterápica com diversas propriedades farmacológicas. Uma das espécies cultivadas mais antigas começou a ser plantado há mais de 5.000 anos pelos hindus, árabes e egípcios. A espécie é originária da Ásia Central e sua introdução no Ocidente se deu a partir de plantios na costa do Mar Mediterrâneo. Devido a sua capacidade de armazenamento e conservação, o alho fazia parte do cardápio da tripulação das caravelas portuguesas, proporcionando a introdução no Brasil na época do descobrimento. Uma vez em solo brasileiro, ficou por mais de quatro séculos restrito ao plantio de fundo de quintal, onde era cultivado em pequena quantidade para suprir a demanda familiar. Somente em meados do século XX o cultivo começou a expandir-se, ganhando importância econômica. O Brasil se destaca como um dos países com maior consumo per-capita de alho, aproximando-se de 1,5 Kg/habitante/ano. Entretanto, a produção no país em 2013 foi de aproximadamente 107 mil toneladas, que corresponde apenas a um terço do consumo interno. Para atender a grande demanda de consumo, que deve atingir 300 mil toneladas em 2015, o Brasil tem importado grandes quantidades, principalmente da China e Argentina. Os Estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina, Goiás e Bahia respondem por cerca de 90% da produção brasileira. Em 2003, Minas Gerais e Goiás tornaram-se os maiores produtores, com produtividades médias em torno de 10 t ha-1, devido a introdução do alho na região do Cerrado. Atualmente, as produtividades no cerrado ultrapassam 15 t ha-1. Este sucesso deve-se aos incrementos no uso de tecnologias como mecanização da maioria dos tratos culturais e da colheita, racionalização da irrigação, adensamento de plantio, uso de cultivares de alho nobre, vernalização e melhoria na qualidade da semente utilizada, principalmente pela introdução do alho-semente livre de vírus. Este grande avanço tecnológico observado nos últimos anos 15 anos, a despeito da disponibilidade de vastas regiões com potencial para produção do alho, não foi suficiente para o Brasil aumentar as áreas de plantios, que se estagnou ao redor de 10 mil hectares e, desta forma, o país encontra-se ainda muito distante da almejada autossuficiência na produção desta condimentar. DESCRIÇÃO BOTÂNICA O alho pertencente à família Alliaceae, é uma planta herbácea, com folhas lanceoladas (alongadas), estreitas e cerosas, podendo atingir até 60 cm de altura, dependendo da cultivar. As bainhas das folhas formam um pseudocaule curto, em cuja parte inferior origina-se o bulbo (Figura 1A). O caule verdadeiro (Figura 1B) é um disco comprimido sendo o ponto de partida das folhas e das raízes, que são pouco ramificadas e com profundidade variando de 20 a 30 cm A Figura 1. A) Planta de alho, com as bainhas e pseudocaule. B) Caule verdadeiro. Fotos: Paula Rodrigues; José Luis Pereira. B O bulbo, de formato redondo ou ovalado é dividido em bulbilhos (dentes) que podem variar em número de 5 a 56. Os bulbilhos são compridos, ovoides e de forma arqueada, envoltos por folhas protetoras chamadas brácteas, cuja coloração pode ser branca, vermelha, violeta, roxa e marrom (Figura 2 A). Além dessa proteção individual, o bulbo ainda é envolto por várias túnicas esbranquiçadas que são facilmente destacáveis (Figura 2 B). A A B Figura 2. A) Bulbilhos com envoltório individual. B) Bulbos de alho envoltos por túnicas brancas. B Fotos: José Luis Pereira. O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) divide em dois grupos as variedades de alho, Branco e Roxo. O alho chinês é caracterizado na origem como Branco Puro (Pure White) e Branco (White) na negociação com o seu importador brasileiro, já o alho argentino é classificado na origem como Semente Chinesa, Branco e ‘Roxo’. O MERCOSUL utiliza as denominações para os grupos Branco e Roxo, que inclui todas as cultivares de alho coloridas. No grupamento de Alho Branco há predominância da coloração branca no bulbilho, que pode apresentar listras arroxeadas ou de outras colorações enquanto que o do Alho Roxo apresenta predominância da coloração roxa em todos os bulbilhos. No Brasil , as variedades de alho mais cultivadas são divididas ainda nos grupos nobre (menos de 20 bulbilhos por bulbo) e comum (mais de 20 bulbilhos por bulbo). CULTIVO DO ALHO Produção de alho-semente O alho-semente representa a maior despesa do custo de produção, podendo responder por até 30% dos gastos com a cultura, portanto, a qualidade fisiológica e sanitária deve ser colocada como ponto principal para produção ou aquisição deste insumo. As reservas nutritivas do bulbilho podem suprir as necessidades da planta por vários dias e por isso são essenciais para a emergência e estabelecimento inicial da cultura. Não se deve em hipótese nenhuma plantar bulbilhos pequenos e ‘palitos’ quando se visa produção comercial de alho. O peso mínimo dos bulbilhos usados no plantio deve ser de 1 g. O uso de bulbilhos com pesos inferiores reduzirão significativamente a produtividade e a qualidade dos bulbos produzidos. A maioria das pragas e doenças do alho pode ser disseminada através dos bulbilhos. Por isso é muito importante que produtor adquira alho-semente de origem conhecida ou invista em formas de produção própria de material propagativo. Para produção própria de alho-semente o produtor deve tomar os seguintes cuidados: - separar uma área específica para produção de alho-semente, de preferência isolada de plantios comerciais de alho, cebola, cebolinha, etc., ou separar um fragmento específico da área comercial para produção de sementes (Figura 3); Alho-semente 2 1ª opção Lavoura comercial 1000 m 50 m 1 ha 2ª opção Lavoura comercial 1 ha 2 1000 m Alho-semente Figura 3. Esquemas de produção de alho-semente própria para plantio de 1 ha de lavoura comercial. - usar alho-semente oriundo de um processo de limpeza viral que pode ser realizada pelo próprio produtor ou por produtores credenciados para tal, sempre que possível; - selecionar bulbos de boa qualidade para utilizar como alho-semente, eliminando os muito pequenos e aqueles fora do padrão da cultivar, mal formados, com enfermidades e sintomas ou danos fitossanitários; - armazenar os bulbos selecionados para semente em local seco e ventilado até o plantio; - debulhar os bulbos somente 15 a 20 dias antes do plantio para não chochar os bulbilhos (a debulha deve ser feita em local fechado ou protegido do sol e de altas temperaturas e deve-se tomar bastante cuidado para não machucar os bulbilhos); - classificar os bulbilhos por tamanho, usando para isso peneiras com malhas específicas (Tabela 1) e utilizar para plantio somente aqueles retidos nas peneiras 1, 2 ou 3. Tabela 1. Classificação de bulbilhos de alho em função do tamanho (Portaria nº 242 de 17/09/1992 do Ministério da Agricultura, Pecuária de Abastecimento (MAPA). Tamanho Peneira Graúdo Médio Pequeno Miúdo Palito 1 2 3 4 - Malha (mm) 15 x 25 10 x 20 8 x 17 5 x 17 < 5 x 17 Peso médio do bulbilho (g) 4a6 3 2 1 - Gasto de bulbihos (Kg ha-1) 1.200 a 2000 900 600 300 - As previsões de plantio e colheita do alho devem levar em consideração uma taxa de multiplicação aproximada de 1 para 10, ou seja, cada 1 Kg de bulbilho-semente plantado ocupará aproximadamente 10 m2 de canteiro e produzirá pelo menos 10 Kg de bulbos comerciais. Alho-semente livre de vírus Dentre as doenças transmitidas pelos bulbilhos durante o processo de multiplicação do alho, as viroses estão entre as mais importantes (causadas por diversas espécies de vírus pertencentes aos gêneros Allexivirus, Carlaviruse e Potyvirus). Os vírus reduzem gradativamente o vigor vegetativo e a produtividade, em um processo denominado degenerescência. A eliminação das viroses do alho somente é possível por meio de um processo de limpeza clonal, que utiliza técnicas de termoterapia dos bulbilhos e posterior cultura “in vitro” de seus ápices caulinares. Estes processos são realizados em laboratórios especializados. O acesso à tecnologia do alho livre de vírus, pelos produtores, foi possível através da manutenção de estoques básicos de alho livres do patógeno nas regiões produtoras. Para isto são utilizados telados, individuais ou coletivos, a prova de afídeos (pulgões - insetos vetores do vírus). A partir dos telados são instalados campos produção de alho-semente para implantação das áreas comerciais, conforme observado na Figura 4. (1) (2) Figura 4. Esquema de produção de alho comercial a partir de estoques básicos de alho livres de vírus em telados individuais (1) e coletivos (2). Estes sistemas foram testados e introduzidos pela Embrapa Hortaliças em pequenas propriedades de algumas regiões produtoras nos estados da Bahia, Minas Gerais, Rio Grandedo Sul, Distrito Federal, São Paulo e Goiás. O sistema de multiplicação proposto além de viabilizar o uso de alho-semente livre de vírus, direcionou o produtor de alho a separar a área para produção de alho-semente da área de alho comercial, além de selecionar os melhores bulbos e bulbilhos para o plantio, eliminando-se a prática corriqueira nestas regiões, de utilizar os bulbos menores, rejeitados para comercialização, para plantio da safra seguinte. Figura 5. Manutenção de estoques de alho-semente livre de vírus em telados antiafideos, individuais e coletivos, em regiões produtoras de alho do Norte de Minas Gerais e Bahia. Fotos: José Luis Pereira. Um caso de sucesso da adoção da tecnologia do alho livre de vírus pode ser observado na região de Cristópolis e Cotegipe, onde os produtores começaram a utilizá-la em 2002. Antes da implantação da tecnologia, os produtores separavam os menores bulbos produzidos para uso como alho-semente no próximo plantio, resultando no uso de semente ainda mais infectada por vírus e produtividades frequentemente inferiores a 04 t ha-1. Com a introdução do alho-semente livre de vírus foi possível, em um período de 05 anos, a substituição gradativa da semente local, revertendo essa situação. Segundo dados do IBGE, a produtividade média das lavouras de alho da região saltou de 4,5 toneladas em 2002, para 10 toneladas por hectare em 2009 (Figura 6), mesmo com uma redução na área plantada de 200 para 120 hectares neste período. Além do aspecto quantitativo, observa-se aumento da porcentagem de alho de melhor qualidade, com bulbos maiores, que recebem melhor remuneração no mercado. Com isso, os produtores que recebiam remuneração de R$ 0,93/Kg, conseguiram aumentar o valor pago para R$ 4,50/Kg, permitindo que a receita com a cultura do alho na região saltasse de R$ 200.000,00 para R$ 2.000.000,00, ou seja, um aumento de 90% na renda da região. Figura 6. Impacto da introdução do alho livre de vírus na produtividade e renda da cultura do alho na região de Cristópolis-BA. Classificação do alho-semente A classificação do alho-semente por tamanho é um dos fatores chaves para se ter sucesso com a cultura. O tamanho do bulbo e do bulbilho utilizados como semente influencia todo o ciclo do alho, indo desde a velocidade de brotação, desenvolvimento vegetativo até o tamanho e a qualidade dos bulbos e, portanto, com reflexos diretos na produtividade da lavoura. Devido às reservas nutricionais, quanto maior o tamanho do bulbilho utilizado no plantio maior será a produção do alho. Desta maneira, a utilização de bulbos pequenos, rechaçados pela comercialização, como alho-semente em algumas regiões, principalmente de pequenos produtores, deve ser fortemente desestimulada. Como já mencionado, a classificação dos bulbilhos é padronizada por tamanho, de acordo com normas do MAPA, utilizando-se peneiras específicas ou classificadores mecânicos. A quantidade de bulbos necessária para plantio de um hectare depende da cultivar, tamanho, peso dos bulbilhos e densidade de plantio (Tabela 1; Figura 7). Figura 7. Jogo de peneiras e classificador mecânico para separação do alho-semente por tamanho. Fotos: Francisco Vilela Resende; José Luis Pereira Como a classificação do alho-semente contribui para uniformização do ponto de colheita, é sabido que bulbilhos menores resultarão em plantas menores que atingirão o ponto de colheita antes daquelas oriundas de bulbilhos maiores. Desta forma quando se pretende plantar bulbilhos de vários tamanhos, recomenda-se que o alho-semente seja distribuído em talhões separados de acordo com a classificação das peneiras. Na Tabela 2 podem ser visualizados resultados da produção da cultivar de alho BRS Hozan em função do plantio de diferentes tamanhos de bulbilhos. Tabela 2. Influencia da classificação de bulbilhos nas características de produção da cultivar BRS Hozan. Peneiras 1 2 3 4 Classes 5,6 e Classes 3 e 4 Não comercial Estande Final Produtividade 7 (%) (%) (%) (Nº plantas m-2) (t ha-1) 65,76 32,82 1,42 48,80 10,84 55,96 41,86 2,18 52,20 10,68 64,02 32,97 3,00 49,80 10,35 47,57 44,13 8,30 50,20 9,14 Classe 7 (Ø>56 mm), Classe 6 (Ø entre 47 e 56 mm), Classe 5 (Ø entre 42 e 47 mm), Classe 4 (Ø 37 e 42mm), Classe 3 (Ø entre 32 e 37 mm), Não Comercial (Ø inferior a 32 mm). Armazenamento do alho-semente Antes armazenar o alho-semente deve-se realizar uma limpeza e desinfestação rigorosa do armazém, com especial cuidado para restos de alho ou outras aliaceas da safra anterior, visando à eliminação dos focos de infestação. Algumas pragas e doenças do alho são persistentes durante o armazenamento e facilmente disseminadas pelos bulbos e bubilhos utilizados como alho-semente As principais doenças que podem estar presentes nos bulbilhos antes do plantio são a podridão-branca (Sclerotium cepivorum) e Fusarium sp. O Penicillium sp. é um fungo oportunista que infecta o bulbilho-semente durante a vernalização, tornando-o inviável para o plantio. É muito favorecido quando a umidade relativa da câmara fria ultrapassa 70%. O nematoide Ditylenchus dipsaci, o ácaro-do-chochamento, Aceria (Eriophyes) tulipae e as traças (Ephestia (Cadra) cautella, Ephestiaelutella e Plodiainter punctella) também podem comprometer significativamente a qualidade do alho-semente durante o armazenamento. Esses tópicos serão discutidos posteriormente. Um tratamento eficiente e barato para pragas de armazenamento consiste na imersão dos bulbilhos em água por quatro horas seguida de outra imersão por mais quatro horas em hipoclorito de sódio a 2,5% (ou água sanitária a 1%). Após o tratamento com o hipoclorito de sódio deve-se colocar os bulbilhos em água corrente por 15 minutos. Este tratamento tem efeito contra fungos, nematoides e ácaros infestantes externos. O tratamento do alho-semente deve ser feito somente quando constatada a infestação dos bulbos com as pragas/doenças ou quando for utilizado material de plantio de origem desconhecida. Dormência dos bulbilhos O bulbilho do alho entra em estado de dormência logo após a formação das folhas de armazenamento e da gema de brotação. Assim, os bulbilhos não devem ser plantados logo depois de colhidos, pois se encontram em estado de dormência que tem duração variável de acordo com a cultivar e condições de armazenamento. A dormência do alho pode-se prolongar por até 70 dias depois da colheita e sua intensidade diminui gradualmente com o aumento do tempo de armazenamento. É imprescindível que a superação da dormência do alho seja avaliada antes do plantio para evitar sérias perdas de estande e de produtividade. Esta avaliação é feita por ocasião do plantio cortando-se uma amostra de bulbilhos no sentido longitudinal para observação da cor e do tamanho da gema de brotação. Pelo Índice Visual de Superação de Dormência (IVD) calculado pela fórmula IVD = (A/B) x 100, onde A compreende o comprimento folha de brotação e B, o comprimento do bulbilho, verifica-se o tamanho da gema de brotação e, valores superiores ou iguais a 70% indicam que o alho-semente está adequado para o plantio (Figura 8). Outro parâmetro que pode ser utilizado é a coloração da folha de brotação, sendo que a coloração branca indica estado de dormência do bulbilho e, à medida que a coloração muda do creme para esverdeado o bulbilho esta apto para plantio. A B Figura 8. A) Folha de brotação em estado de dormência. B) Folha de brotação pronta para germinar. Fotos: Paula Rodrigues, José Luis Pereira. O processo de dormência do alho desaparece naturalmente com o aumento do período de armazenamento. Entretanto, quando o IVD atinge cerca de 30-40% pode-se abreviar este período quebrando a dormência através da imersão dos bulbilhos em água corrente ou pela exposição a baixas temperaturas. A imersão dos bulbilhos a um fluxo de água corrente por 24 horas, antes do plantio, promove o amolecimento da folha de proteção reduzindo a resistência mecânica à brotação, facilitando ainda a remoção de parte dos inibidores de crescimento que são solúveis em água. Da mesma forma, através da exposição dos bulbilhos a temperaturas de 10° - 15°C por 8 a 10 dias antes do plantio consegue-se acelerar a brotação do alho. Clima O alho é uma planta originária da Ásia, de locais de clima frio. Para um bom desenvolvimento vegetativo e produtividade, a cultura exige temperaturas amenas (18º a 20oC) na fase inicial do ciclo, temperaturas mais baixas (10º a 15oC) durante o período de bulbificação e temperaturas mais elevadas (20º a 25oC) na fase de maturação. O fotoperíodo ou comprimento do dia (número de horas entre o nascer e o pôr-do-sol) é determinante para a formação do bulbo, assim algumas cultivares necessitam de dias mais longos para bulbificação, sendo consideradas tardias, enquanto as precoces respondem ao estimulo de dias mais curtos. Em condições de fotoperíodo insuficiente (numero de horas de luz abaixo do mínimo exigido pela cultivar) ocorre apenas o crescimento vegetativo, sem formação de bulbos. As cultivares originárias do Sul do Brasil, que exigem mais de treze horas diárias de luz e temperaturas mais baixas e somente bulbificam nas regiões Sudesde, Centro-Oeste e Nordeste quando os bulbos são submetidos à vernalização em pré-plantio. Por outro lado, cultivares de alho comum como Amarante, Cateto Roxo, Gigante Roxo e BRS Hozan quando cultivadas em fotoperíodos longos como o da região Sul reduzem o ciclo cultural e antecipam o inicio da bulbificação. A formação do bulbo em resposta ao fotoperíodo acontece somente após a planta receber o estimulo de baixa temperatura, que pode ocorrer tanto na parte aérea no campo ou no alho-semente em câmara frigorifica antes do plantio. Cultivares e época de plantio A produção de alho no Brasil é dividida em duas categorias: a primeira é formada por produtores que utilizam cultivares de alho nobre roxo, que produzem bulbos de alto valor comercial. A segunda agrupa os produtores de alho comum, também chamado de tropical ou semi-nobre, que são cultivares mais rústicas e menos exigentes em condições edafoclimáticas, mas que produzem bulbos de formato e aparência menos atrativa para o consumidor. As cultivares de alho nobre apresentam bulbos com túnicas de coloração branca e bulbilhos com película de coloração roxa intensa e número de bulbilhos variando de 8 a 12 por bulbo. O alho comum ou semi-nobre possui a cor de bulbos variando de branca a creme com presença de estrias de antocianina, apresentando por isso aspecto arroxeado. Os bulbilhos têm película branca ou rósea e produzem em média 15 bulbilhos por bulbo. As cultivares de alho nobre são originárias do Sul do Brasil, exigem mais de 13 horas diárias de luz e temperaturas mais baixas para formação dos bulbos. Nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Bahia somente bulbificam quando são submetidas à vernalização em préplantio. São cultivares de ciclo longo que podem passar de 180 dias na região Sul e, nas outras regiões do país seu ciclo é reduzido para 90/130 dias. As cultivares de alho nobre tem sido cultivadas com vernalização desde o centro/norte do Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e regiões de altitude do norteda Bahia e na Chapada Diamantina. As cultivares de alho comum ou semi-nobre, embora com menor aceitação comercial que o alho nobre, ainda são bastante utilizadas por pequenos produtores. Essas cultivares possuem baixa exigência em fotoperíodo para bulbificação, necessitando apenas de 9 horas diárias de luz para desencadear este processo. Desta forma podem ser plantadas em todas as regiões do Brasil sem necessidade de vernalização. São consideradas cultivares de ciclo intermediário, sendo colhidas entre 130 a 160 dias. Os alhos comuns são normalmente comercializados em réstias e ainda estão bastantes presentes em mercados regionais e informais pelo país afora, devido a sua rusticidade e facilidade de cultivo. As cultivares de alho nobre mais plantadas e com melhores características comerciais são Ito, Caçador, Quitéria, Jonas e Chonan. A cultivar San Valentin pela sua rusticidade e tolerância a pragas e doenças tem sido bastante plantada na região Sul. Dentre as cultivares de alho comum, as grupo precoce como Branco Mineiro, Branco Mossoró, Cabaceiras e Cateto Roxo continuam sendo plantadas em pequenas quantidades em algumas regiões do Semi-Árido Nordestino. As cultivares Amarante, Gigante do Núcleo, Gigante Espírito Santo, Gigante Roxo e Caturra são consideradas alho semi-nobre devido ao menor número de bulbilhos/bulbo e tem sido utilizadas por pequenos agricultores das regiões Sudeste, Centro-Oeste, do Paraná e em algumas áreas litorâneas de Santa Catarina. Recentemente a Embrapa disponibilizou para este segmento a cultivar BRS Hozan que agrega qualidades de bulbo dos alhos nobres sem, no entanto, necessitar de vernalização. Tabela 1. Características agronômicas dos três principais grupos de cultivares de alho plantadas comercialmente no Brasil Ciclo Características do Bulbo FP e Cultivares (meses) T°C Cor Nº bulbilhos Formato Palitos Juréia Branca 20 – 25 Redondo Raro Baixa Redondo Sim Cajuru 3-4 Branca 20 – 25 Baixa Redondo Sim Branco Mineiro (precoce) Branca 26 – 30 Baixa Cateto Roxo Arroxeada Redondo Sim 20 – 25 Baixa Perfilham ento Suscetível Suscetível Suscetível Suscetível Amarante BRS Hozan Chinês Real Caturra Gigante 5-6 (médio) Arroxeada Branca Arroxeada Arroxeada Arroxeada Chonan Branca Caçador 6 ou > Branca Quitéria (tardios) Branca Ito Branca San Valentin Branca Adaptado de Menezes Sobrinho (1997). 8 – 12 8 – 15 8 – 12 10 - 12 8 – 15 Redondo Ovalado Ovalado Redondo Ovalado Não Não Não Não Não mediana mediana mediana mediana mediana Resistente Suscetível Resistente Resistente Eventual 7–9 7–9 7 – 12 7 – 10 8 - 12 Redondo Redondo Redondo Redondo Redondo Não Não Não Não Não Alta Alta Alta Alta Alta Suscetível Suscetível Suscetível Suscetível Suscetível O período de plantio se estende do final de fevereiro até junho nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Porém, as melhores épocas de plantio são os meses de março e abril. O período mais favorável para o plantio do alho esta relacionado com a procedência da cultivar, a latitude e a altitude da região onde se vai plantar (Tabela 3). Temperaturas relativamente baixas, seguidas por fotoperíodos crescentes favorecem o desenvolvimento das plantas e estimulam a bulbificação. Próximo à colheita, a ocorrência de temperaturas mais altas promovem a maturação dos bulbos. Essas condições ocorrem nessa ordem no Brasil entre março e outubro. Tabela 3. Recomendação de épocas de plantio para o alho em função da altitude para as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Altitude (m) Acima de 750 360 - 600 Época de plantio 15 de março a junho abril a junho Na região Sul o plantio é feito a partir de maio estendendo-se até julho. No caso de plantios muito antecipados, a fase juvenil de crescimento da planta coincide com as condições climáticas que favorecem a incidência da mancha púrpura das folhas. Por outro lado, plantios tardios favorecem o aparecimento da ferrugem, podendo coincidir a colheita com o início do período chuvoso e também a produção de bulbos pequenos. Vernalização A vernalização ou frigorificação dos bulbos de alho em pré-plantio é capaz de tornar a planta menos exigente em fotoperíodo e temperaturas baixas, permitindo a diferenciação e formação de bulbos em locais que não possuem as condições climáticas adequadas para determinada cultivar. O advento da vernalização ampliou as regiões e as épocas de cultivo de cultivares de alho nobre, anteriormente restritas ao sul do Brasil. Atualmente variedades de alho nobre roxo, como Caçador, Ito, Jonas, Quitéria, Chonan e San Valentim podem ser cultivadas em locais das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Bahia que não fornecem as condições adequadas de temperaturas baixas e fotoperíodo longo que estas cultivares exigem. O processo de vernalização do alho ocorre apenas na faixa de temperatura entre 3 a o 5 C e umidade relativa (UR) de 65 a 70%. UR abaixo de 65% pode causar a morte da gema de brotação por ressecamento e acima de 70% favorece o aparecimento de fungos como Penicillium spp. O período de armazenamento na câmara fria é definido em função das variações de temperatura de cada região e época de plantio, podendo variar de 45 a 60 dias. Antes da introdução do alho vernalizado em determinada região, deve-se adequar a tecnologia de vernalização ao local, por meio de testes de combinação de tempo em câmara fria com épocas de plantio. O processo de vernalização ocorre somente quando o IVD dos bulbilhos alcança a faixa de 30 - 40%. Se na época da vernalização o IVD não estiver adequado, pode-se fazer um tratamento de pré-câmara fria através da exposição dos bulbilhos a temperaturas de 10 - 15°C por 8 a 10 dias, acelerando o crescimento da folha de brotação até o IVD desejado para frigorificação. Desta forma, uma recomendação mais geral para vernalização de bulbilhos com IVD baixo é manter a câmara fria nos primeiros 10 dias a 15°C e, posteriormente reduzir para 4°C por 40 dias. A época de plantio e o período de vernalização devem ser bem planejados, de maneira que os bulbilhos não fiquem fora da câmara além de seis dias entre a retirada da câmara e o plantio. Deve-se iniciar o plantio quando a temperatura média diária for menor que 20oC, sendo a temperatura ideal em torno de 15oC. O ciclo cultural dos alhos submetidos ao tratamento de frio pré-plantio é significativamente reduzido, variando de 90 a 130 dias, de acordo com a cultivar, época de plantio, com as condições manejo da câmara fria e com o período de vernalização. Quando uma cultivar é plantada em seu local de origem, onde não há necessidade de vernalização, o ciclo pode chegar até a 210 dias. Escolha do terreno e preparo do solo Escolha do terreno Deve-se dar preferência a solos leves, de textura média, ricos em matéria orgânica, planos ou ligeiramente inclinados para permitir um bom preparo do terreno. O alho produz bulbos subterrâneos, portanto, as características relacionadas acima aliadas ao plantio em canteiros são imprescindíveis para se ter produtividades satisfatórias e bulbos com qualidade. Assim, solos muito argilosos e pesados impedem o desenvolvimento normal do sistema radicular, causam deformação dos bulbos e dificultam seu arranquio durante a colheita. Em solos bem drenados, o encanteiramento não é necessário, mas desejável. Entretanto, em terrenos sujeitos a encharcamento, este procedimento é indispensável. O encanteiramento facilita os tratos culturais e as operações de colheita. Devem-se evitar solos muito argilosos, por dificultarem a colheita, e os muito arenosos, por não reterem a umidade e os nutrientes. Escolhido o terreno, deve-se retirar amostras do solo e enviar ao laboratório para fazer a análise química, para verificar a necessidade de calagem e adubação. Preparo do solo Um eficiente preparo de solo é fundamental para o cultivo do alho, proporcionando um bom desenvolvimento de raízes e formação de bulbos. É aconselhável fazer uma aração com profundidade mínima de 20 cm e uma ou duas gradagens, procurando deixar o solo bem destorroado. A aração deve ser feita 45 a 60 dias antes do plantio, seguida da primeira gradagem para melhor incorporação do corretivo ao solo. A segunda gradagem deve ser feita bem próximo ao plantio, para que o terreno fique bem destorroado. O encanteiramento pode ser feito manualmente ou de forma mecanizada com enxada rotativa ou auxílio de um rotoencanteirador. A largura dos canteiros varia de acordo com o tamanho do encanteirador, esquemas de plantio em linhas duplas ou simples e espaçamentos. Os canteiros devem ser construídos com 1,20 a 2,10 m de largura com carreadores de 20 a 40 cm. Deve-se evitar a utilização de canteiros muito largos que obrigam os trabalhadores a caminharem entre as linhas de plantio, causando compactação e prejudicando o desenvolvimento e qualidade dos bulbos. O comprimento dos canteiros varia de acordo com o terreno, sempre respeitando as curvas de nível, para protegê-los da erosão. Adubação Nutrição de plantas A extração de nutrientes pelo alho apresenta uma relação bastante direta com o crescimento e desenvolvimento da planta. O crescimento da cultura se acentua a partir dos 60 dias e cessa aos 120 dias após o plantio, sendo que a bulbificação inicia-se por volta dos 70 dias, intensificando-se entre 90 até 130 dias após o plantio. Nas primeiras semanas após a emergência, a folha de brotação utiliza apenas as reservas presentes nos bulbilhos e por isso a extração de nutrientes do solo, é reduzida até os 45 dias. O nitrogênio e o potássio são macronutrientes acumulados mais intensamente pelo alho, sendo os demais absorvidos em menor quantidade, acompanhando a curva de crescimento da planta. Os micronutrientes são acumulados ativamente, porém de forma inconstante, desde os primeiros dias da cultura. O ferro é o micronutriente extraído em maior quantidade pelo alho, destacando-se também o zinco e o manganês pela elevada absorção no período entre 120 a 135 dias após o plantio. Calagem O alho se desenvolve bem numa faixa de pH entre 5,5 e 6,5, sendo indispensável proceder a calagem quando a acidez do solo for alta. O índice de saturação de bases ideal deve estar em torno de 70%. A calagem fornece cálcio (Ca) e magnésio (Mg) como nutrientes e elimina os efeitos tóxicos do alumínio (Al), manganês (Mn) e ferro (Fe). É aconselhável que se aplique a metade do calcário antes da aração profunda e a outra metade antes da primeira gradagem, para que haja uma boa incorporação e distribuição no perfil do solo. Deve-se preferir o calcário dolomítico ou magnesiano, a fim de manter uma boa relação cálcio:magnésio, que é importante no balanço de absorção de magnésio. A relação ideal entre esses nutrientes, para a cultura é 4:1. A cultura do alho responde bem à aplicação de cálcio e magnésio independente da elevação do pH. Em solos do Cerrado esses nutrientes têm limitado a produção e conservação do alho. Adubação O alho apresenta boa resposta à adubação orgânica que pode ser feita tanto na forma de composto, de esterco de gado ou de aves completamente curtido. Para o esterco de gado ou composto, a quantidade recomendada é de 30 t ha-1. Quando o esterco for de galinha, recomendam-se 10 t ha-1. A distribuição do adubo orgânico é feita a lanço sobre o terreno, antes da última gradagem para uma boa incorporação. A adubação química deve aplicada diretamente nos canteiros e incorporada. Em caso de aplicação localizada, adubo químico dever ser colocado cerca de 5 cm abaixo e ao lado dos nos sulcos de plantio, evitando contato direto com os bulbilhos. A adubação foliar pode ser usada com êxito na cultura para correção de deficiências de micronutriente como boro (B) e zinco (Zn) e também para adubação com uréia e sulfato de Magnésio. Devido à intensa cerosidade das folhas, o uso de espalhante adesivo é fundamental para se ter sucesso com esta prática. Tabela 4. Adubação mineral NPK e de outros nutrientes sugerida para cultura do alho de acordo com o nível destes nutrientes no solo. Nutrientes N (kg ha-1) P2O5 (kg ha-1) K2O (kg há-1) Bórax (kg ha-1) Sulfato de Zinco (kg ha-1) Sulfato de Magnésio (kg ha-1) Baixo 80 250 80 15 30 150 Nível do nutriente no solo Médio 80 200 60 15 30 150 Alto 80 150 40 15 30 150 Disponível no solo - K: muito baixo (<20), baixo (21-50), médio (51-90), alto (91-140), muito alto (>140) - P: muito baixo (<16), baixo (16-32), médio (32-48), alto (48-72), muito alto (>72). Deve-se tomar cuidado com o nitrogênio (N), pois este nutriente em excesso pode provocar o pseudoperfilhamento, principalmente em cultivares mais sensíveis a este distúrbio. Para estas cultivares, a adubação nitrogenada em cobertura deve ser dividida em duas etapas. A primeira é feita antes da diferenciação dos bulbilhos ou do inicio do estresse hídrico, ou seja até 20 - 30 dias após o plantio. A segunda etapa é realizada com o retorno da irrigação, logo após o fim do período de estresse hídrico, por volta de 60 dias após o plantio. Para as cultivares insensíveis ao superbrotamento, a dosagem recomendada no nitrogênio deve ser parcelada, sendo 1/3 no plantio e o restante dividido, metade aos 30 dias e a outra metade 60 dias após a emergência. Sistemas de plantio Durante muitos anos o plantio do alho foi realizado em fileiras simples espaçadas 20 a 25 cm entre as linhas por 8 a 10 cm entre as plantas, gerando um estande de 400 a 600 mil plantas por hectare. Atualmente recomenda-se que os espaçamentos sejam definidos em função do tamanho/peso dos bulbilhos (Tabela 5) e, o uso do esquema de plantio em fileiras duplas tornou-se corriqueiro, principalmente em sistemas mais tecnificados. O plantio em canteiros largos com 4 linhas duplas tem sido preferido por alguns produtores, permitindo simultaneamente uma melhor aeração e um maior adensamento da cultura. Nesse caso utilizam-se espaçamentos de 30 a 40 cm entre fileiras duplas, 10 a 12 cm entre fileiras simples e 8 a 10 cm entre plantas. Normalmente os bulbilhos são plantados a uma profundidade de 2 a 3 cm e os estandes, neste sistema de cultivo, variam de 350 a 450 mil plantas por hectare, dependendo do espaçamento utilizado. Tabela 5. Recomendações de densidade de plantio para cultura do alho em função do peso dos bulbilhos. Peso do dente (g) 1 3 5 7 Área da planta (cm2) 200 250 275 300 Estande (Nº plantas ha-1 x 1000) 500 400 365 335 O plantio pode ser feito em sulcos ou pequenas covas no sentido longitudinal ou transversal do canteiro (Figura 9). No caso de plantios sem canteiros, as linhas de plantio devem respeitar as curvas de nível. O plantio tem sido feito de forma manual tanto por grandes quanto por pequenos produtores. Entretanto, muitos produtores já estão avaliando o uso plantio mecanizado, buscando redução de custos devido à escassez de mão-de-obra que precisa ser especializada para o plantio do alho. Não é necessário que os bulbilhos sejam plantados com o ápice para cima, embora a maioria dos produtores prefira esse método para facilitar e abreviar a emergência da cultura. Figura 9. Plantio do alho em sulcos (a esquerda) e em covas (direita) Fotos: Francisco Vilela Resende. Figura 10. Etapas do plantio, emergência e desenvolvimento da cultura do alho. Fotos: Marco Antônio Lucini Figura 11. Cultivo do alho em canteiros com quatro fileiras simples e com quatro linhas duplas. Fotos: Francisco Vilela Resende Irrigação A cultura do alho é bastante sensível a falta de água, porém o excesso é tão prejudicial quanto à falta. Desta forma, manejo adequado da irrigação é um fator determinante para uma boa produção e conservação dos bulbos após a colheita. Enquanto a falta de água pode causar reduções drásticas de produtividade, o excesso favorece o aparecimento de doenças, estimula o pseudoperfilhamento e reduz a conservação dos bulbos no armazenamento. As irrigações por aspersão, microaspersão por pequenos produtores e pivô central em grandes áreas são as mais usadas atualmente. O uso de microaspersão com mangueiras microperfuradas tem crescido em pequenas áreas e entre os agricultores familiares devido ao baixo custo e facilidade de manuseio. A aspersão tem sido o sistema de irrigação mais difundido para produção de alho, em função do sistema radicular ser fasciculado e bastante distribuído no perfil do solo (atinge profundidades de 40 a 80 cm), exigindo melhor distribuição e uniformidade da água, além de exercer efeito no controle de ácaros e tripes pelo impacto da água. Estima-se que mais de 95% da área de alho no Brasil seja irrigada por este método. A B D C Figura 10. Opções para irrigação na cultura do alho: (A) pivot central, (B) aspersão, (C) microaspersão e (D) mangueiras microperfuradas. Fotos: Francisco Vilela Resende. Ao longo de todo o ciclo a exigência total de água pelo alho varia de 400 a 850 mm, dependendo das condições climáticas e ciclo da cultivar. No estagio inicial da cultura, que pode variar de 15 a 30 dias, as irrigações devem ser leves e frequentes. A fase de crescimento vegetativo que se estende até a diferenciação dos bulbilhos e posteriormente durante o crescimento dos bulbos são os períodos mais sensíveis ao déficit hídrico, exigindo irrigações mais pesadas para se ter mais umidade no perfil do solo, no entanto, com aumento no turno de rega. Durante o período de maturação dos bulbos a irrigação deve ser reduzida em 25 a 35%. Recomenda-se suspender a irrigação 5 a 20 dias antes da colheita dependendo do tipo de solo, permitindo a obtenção de bulbos de melhor qualidade, com maio teor de sólidos solúveis e pungência e, conservação durante o armazenamento. Pseudoperfilhamento É uma anormalidade genético-fisiológica do alho caracterizada pelo aparecimento de brotações laterais entre as bainhas das folhas normais, originadas pelo alongamento das folhas de proteção dos bulbilhos. As plantas ficam com aspecto de touceira e produzem bulbos estourados ou abertos, chamados de “sorriso” pelo agricultor. Esta anormalidade pode atingir 100% da lavoura, tornando os bulbos produzidos completamente inadequados para comercialização (Figura 11). Figura 11. Pesudoperfilhamento: sintomas na parte aérea e nos bulbos (sorriso). Fotos: Francisco Vilela Resende O aparecimento do pseudoperfilhamento está fortemente associado ás condições de fotoperíodo curto e temperaturas baixas, vernalização, excesso de irrigação e nitrogênio. Existem diferentes níveis de sensibilidade entre as cultivares comercias e plantadas no Brasil. As cultivares de alho nobre tem se mostrado bastante sensíveis ao pseuduperfilhamento, principalmente quando passam pelo processo de vernalização. Por outro lado, algumas cultivares de alho comum como Amarante, Gigante Roxo, Gigante Lavínia e outras, raramente manifestam este distúrbio. A melhor estratégia de controle desta anormalidade consiste em provocar um déficit hídrico moderado às plantas, paralisando temporariamente as irrigações, logo no inicio da diferenciação dos bulbilhos, que ocorre quando se atinge 40 a 50% do ciclo total da cultura. Esta paralização é feita por uma a quatro semanas, dependendo do tipo de solo e das condições climáticas. Controle de plantas invasoras e cobertura morta O alho é uma planta que sofre bastante com a competição das plantas invasoras em função do seu crescimento inicial lento, do porte baixo e da arquitetura das plantas com folhas estreitas e eretas que não cobrem perfeitamente o solo. O período crítico de competição do alho com as plantas espontâneas ocorre entre o 20º dia e o início da maturação dos bulbos. No final do ciclo, apesar de não mais interferir na produção, as plantas daninhas dificultam a colheita e aumentam o banco de sementes no solo. O controle pode ser feito por meio de capinas (manuais ou com auxílio de enxadas) ou ainda com a aplicação de herbicidas. A escolha do herbicida depende das espécies de plantas invasoras presentes na área e do seu estádio de desenvolvimento. Alguns herbicidas devem ser aplicados e incorporados ao solo antes do plantio. Outros devem ser aplicados após o plantio e antes da emergência das plantas daninhas e do alho (pré-emergência). Também existe a possibilidade de utilizar herbicidas que são aplicados após a emergência do alho e das plantas daninhas (pósemergência). Aplicações em pós-emergência apresentam bons resultados quando o mato estiver com 2 a 3 folhas definitivas, aproximadamente 10 a 15 dias após o plantio do alho. Para melhor eficiência, os herbicidas pré-emergentes devem ser aplicados em solo seco ou úmido, bem preparado, bem destorroado e antes da cobertura morta. Deve-se tomar cuidado para não aplicar em solos encharcados ou excessivamente úmidos. Para escolha e utilização correta de herbicidas é recomendável que um Engenheiro Agrônomo seja consultado. A cobertura morta é uma prática opcional utilizada em algumas regiões produtoras de alho, sendo relatados aumentos de até 30% na produtividade pelo uso desta prática. Seu uso depende da disponibilidade de material para cobertura, custo de transporte e distribuição do mesmo. A cobertura de um hectare de alho necessita de 300 m3 de palha e cerca de 60 serviços para sua colocação. A prática da cobertura morta na cultura do alho oferece as seguintes vantagens: - diminui a temperatura do solo; - reduz a perda de água do solo por evapotranspiração, diminuindo necessidade de irrigação; - reduz o impacto da chuva ou da irrigação sobre o solo, evitando erosão; - dificulta o aparecimento de plantas invasoras; - favorece a emergência da cultura. Logo após o plantio, cobre-se o solo com uma camada de 07 a 10 cm de capim, serragem, palha, casca de arroz ou outros tipos de restos vegetais disponíveis na propriedade. A cobertura morta deve ser seca, não conter sementes e ao final do ciclo pode ser incorporada ao solo como matéria orgânica. Embora menos comum, o plástico preto (mulching) e papel foram testados com sucesso na cultura do alho. A folha de brotação do alho é bastante vigorosa e seu formato cilíndrico favorece o rompimento da cobertura morta. Entretanto, os produtores que optarem por esta prática devem ter o cuidado de não usar materiais grosseiros e evitar que a camada de cobertura fique muito espessa para que não prejudique a brotação do alho. Colheita, cura, armazenamento e classificação O alho deve ser colhido quando aproximadamente 2/3 das folhas estiverem amarelas ou secas. Nesta fase, os bulbos encontram-se fisiologicamente maduros e não haverá prejuízos à conservação dos mesmos após a colheita. A colheita pode ser feita manualmente com auxílio de ferramentas, mecanizada com máquinas desenvolvidas especificamente para este fim ou através de uma lâmina tracionada por trator que desprende os bulbos e facilita a colheita manual (Figura 12 A). A B C Figura12. Colheita mecanizada e cura direta ao sol e em camalhões. Fotos: Francisco Vilela Resende. A colheita deve ser feita em dias de sol e quando possível, pela manhã. A fase inicial da cura ao sol pode ser feita no próprio local da colheita ou em terreiros. Nesta fase, os bulbos são distribuídos um ao lado do outro em fileiras, de tal modo que os bulbos de cada fileira sejam recobertos pelas ramas da fileira subseqüente (Figuras 12 B e C). A continuação da cura é feita em galpões, à sombra. Recomenda-se curar por três a cinco dias ao sol, e posteriormente por 20 a 50 dias à sombra. É importante que durante a cura e o armazenamento por longos períodos os bulbos sejam mantidos com folhas e raízes. Durante o período de cura ainda ocorre remobilização de nutrientes para o bulbo a partir da parte aérea e raízes. No caso de armazenamento de alhosemente, o toalete de folhas e raízes deve ser feito o mais próximo possível da época de plantio. A duração da cura à sombra varia de acordo com a modalidade da comercialização. Em geral, o alho é trançado em réstias ou amarrado em molhos e pendurado com rama para cima em galpões, onde fica aguardando o beneficiamento, para ser embalado e comercializado. O armazenamento deve ser feito em local bem seco, bem ventilado e de pouca luz (Figura 13). A B Figura 13. Cura e armazenamento em galpão na forma de réstias (A) ou molhos (B). Fotos: José Luis Pereira; Francisco Vilela Resende. A cura está completa quando as ramas estiverem com aparência bem seca, cor amarelo palha, diâmetro do colo reduzido e a película externa do bulbo desprendendo-se com facilidade. Para o alho nobre roxo, a cura em galpões acentua a coloração arroxeada da película de proteção dos bulbilhos, valorizando e aumentando a aceitação deste tipo de alho pelo mercado. Para classificação devem ser seguidas normas da portaria nº 242, de 17/09/1992, do MAPA, que prevê a classificação em grupos (alho nobre e alho comum), subgrupos (bulbos brancos e bulbos roxos) e classes de tamanho. Entretanto, o mercado brasileiro convive com outras classificação de alho por tamanho como as preconizadas pelo mercado chinês e pelo MERCOSUL que tem sido adotada pelos grandes produtores de alho brasileiros (Tabela 6). Tabela 6. Classificação dos bulbos de alho destinados a comercialização em classes conforme o diâmetro transversal do bulbo. Classe Diâmetro transversal (mm) MAPA (Brasil) MERCOSUL CHINA 8 maior que 76 até 85 7 maior que 56 maior que 66 até 75 maior que 70 6 maior que 47 até 56 maior que 56 até 65 maior que 66 até 70 5 maior que 42 até 47 maior que 46 até 55 Maior que 61 até 65 4 maior que 37 até 42 maior que 36 até 45 Maior que 56 até 60 3 maior que 32 até 37 maior que 26 até 35 Maior que 50 até 55 Embalagens e comercialização Para ser comercializado no atacado para o mercado interno, o alho deve ser acondicionado em caixas de madeira com testeiras oitavadas ou sacos de polipropileno, ambos com capacidade para 10 Kg de bulbos. Os produtores maiores, que trabalham de forma mais profissional e empresarial, já utilizam caixas de papelão pela facilidade de manuseio, armazenamento e transporte (Figura 14). A B Figura14. Sacos de ráfia, caixas de papelão e réstias para comercialização de alho. Fotos: Francisco Vilela Resende (1); José Luiz Pereira (2,3) C No varejo, a comercialização é feita em sacos plásticos ou bandejas de isopor com capacidade para 100, 200, 500 ou 1000 gramas. A comercialização em réstias de 25 ou 50 bulbos ainda é muito comum em algumas regiões do Brasil (Figura 12 C). O Brasil possui duas safras de alho por ano. A maior safra é a das regiões Sudeste, Centro Oeste e Nordeste que inicia nos meses de março/abril com as colheitas começando final de Julho até Outubro. Esta safra é responsável por abastecer o mercado brasileiro no segundo semestre juntamente com os alhos importados da China. A safra da região Sul começa em junho/julho e a colheita ocorre nos meses de Dezembro e Janeiro. O primeiro semestre é considerado um período de entressafra no Brasil e normalmente é abastecido com alhos produzidos na região Sul e importados da Argentina, embora nos últimos anos tenha-se constatado significativa presença de alho importado da China, também no primeiro semestre. Com o uso de anti-brotantes e conservação em câmaras frigoríficas a baixas temperaturas (0 ± 0,5°C), o alho chinês passou a ocupar o mercado brasileiro o ano inteiro. PRAGAS E DOENÇAS DA CULTURA DO ALHO Doenças As doenças que atacam a cultura do alho podem ser separadas em dois grupos, as que ocorrem no solo atacando os bulbos e as raízes e as foliares. Em relação às de solo, a principal doença é podridão-branca, ocorrendo também a fusariose ou podridão seca, a raiz rosada e o mofo cinzento. - Podridão-branca: causada pelo fungo Sclerotiumcepivorum Berkeley apresenta como sintomas iniciais de desenvolvimento uma necrose ou queima descendente, com amarelecimento e morte das folhas mais velhas. Em função disso, as plantas apresentam reduzida atividade fotossintética e, consequentemente pouco desenvolvimento. O fungo, que ataca diretamente as raízes, causando apodrecimento, pode sobreviver no solo, por um período de até 10 anos, na forma de escleródios. Estas estruturas, identificadas como pequenos pontos pretos (Figura 15 A) germinam e desenvolvem em condições de baixa umidade e temperatura na faixa de 10º a 20ºC; temperaturas superiores reduzem seu desenvolvimento. A principal característica visual da incidência nos bulbos é o recobrimento por um micélio branco, onde os escleródios são formados (Figura 15 B). Outra característica da doença é o ataque em reboleiras (Figura 15 C). A B C Figura 15. A) Escleródios de Sclerotiumcepivorum; B) Micélio característico da doença; C) Ataque em reboleiras. Fotos: Lenita Lima Haber; José Luis Pereira. O fungo pode ser disseminado por meio dos bulbos infectados, da água de irrigação, de ferramentas e maquinários utilizados em áreas infestadas e, em embalagens utilizadas para transporte dos bulbos. O controle preventivo, como plantio de alho-semente oriundo de regiões onde não há incidência da doença, tratamento do alho-semente com fungicidas específicos, a solarização das áreas infectadas e a rotação de cultura por longos períodos são as medidas mais indicadas para o manejo da doença, que pode inviabilizar o cultivo do alho caso não seja controlada. - Fusariose (podridão-seca): causada pelo fungo Fusariumoxysporum f. sp. CepaeSnynder& Hans, a fusariose ocorre em ambiente úmido e quente. Danos mecânicos e ou ferimentos no alho-semente favorecem a entrada do fungo que, uma vez instalado, atinge o sistema vascular da planta, provocando os sintomas de amarelecimento e murchamento das folhas, que tendem a curvar para baixo. Nos bulbos, é formada uma depressão em um dos lados, indicando o desenvolvimento do fungo, que internamente desenvolvem-se formando um micélio branco (Figura 16). Como medidas de controle recomenda-se o plantio de sementes sadias; eliminação de bulbilhos chochos, com danos mecânicos ou com indícios de infestação; tratamento químicos dos bulbilhos antes do plantio; arranqio e queima de plantas infectadas; e, rotação de culturas. Figura 16. Sintomas de Fusarium oxysporum em bulbilhos de alho. Foto: Carlos Alberto Lopes - Raiz rosada: o fungo Pyrenochaeta terrestres ataca somente o sistema radicular das plantas, que tem seu desenvolvimento prejudicado em decorrência dos sintomas desenvolvidos. A princípio, as raízes infectadas ficam rosa claro, depois escurecem para vermelho ou roxo, murcham e morrem. A mudança da coloração das raízes varia em função da severidade e do tempo de infestação, ficando mais escura à medida que a doença progride, sendo caracterizado como principal sintoma para identificação da doença. As plantas infectadas são facilmente arrancadas do solo, pois possuem pequena quantidade de raízes, o que leva também a uma redução do tamanho dos bulbos. Não é uma doença de grande importância para a cultura e seu desenvolvimento está relacionado à ocorrência da fusariose, que funciona como porta de entrada para o fungo. Recomenda-se o controle preventivo, pois uma vez instalado no solo torna-se difícil erradica-lo. A rotação de culturas, principalmente com gramíneas, a solarização e o uso de sementes sadias são algumas medidas que podem ser adotas. Quanto às doenças foliares podemos citar a mancha purpura, a ferrugem e a queima bacteriana (podridão das folhas). Maiores detalhes serão discorridos abaixo. - Mancha púrpura: também conhecida por alternaria, é uma doença causada pelo fungo Alternaria porri (Ellis) Ciff. é considerada como uma das doenças mais importantes da cultura, podendo ocorrer em todas as áreas de produção no Brasil e, se não controlada pode causar perdas superiores a 50% da lavoura, e dependendo do grau de infestação, pode acabar com a lavoura em pouco tempo, uma ez que seu ciclo é curto, em torno de 4 dias (Figura 17). Figura 17. Lavouras afetadas por alternaria. Fotos: José Luis Pereira. Os primeiros sintomas da doença são caracterizados por manchas brancas, de pequeno tamanho e formato irregular. Com o avanço da doença, essas manchas evolem em termos de coloração, passando ao amarelo e depois para a cor púrpura. Quando severamente afetadas, as folhas tendem a murchar e enrugar, do ápice para baixo. (Figura 18). Figura 18. Desenvolvimento da alternaria. Fotos: Lenita Lima Haber; José Luis Pereira A doença tem seu desenvolvimento favorecido em condições de elevadas umidade relativa do ar (acima de 90%) e temperatura, na faixa de 21º a 30º C. O manejo inadequado da cultura, como a deficiência de nitrogênio e a fitotoxicidade por defensivos ou adubos foliares, o ataque de tripes e ainda a ocorrência de geadas podem causar ferimentos que favorecem a entrada do fungo e consequentemente maior disseminação da doença. O controle químico com o uso de fungicidas específicos para a doença e recomendados para a cultura deve ser feito no bulbilho antes do plantio e, de forma preventiva e periódica ao durante todo o ciclo do alho. No entanto, outras medidas preventivas devem ser adotadas, como a rotação de culturas; a eliminação de restos culturais, tanto na lavoura como próximo aos galpões de armazenamento, haja visto que estas plantas podem constituir fonte de inoculo pela prolongada sobrevivência do fungo (até um ano); e, a aração profunda da área de plantio, que tende a reduzir a quantidade de inoculo no solo. - Ferrugem: ocasionada pelo fungo Pucciniaallii(D.C.), a ferrugem é considerada uma das mais importantes doenças foliares do alho, e pode ocorrer em qualquer fase de desenvolvimento da cultura. Os sintomas iniciais nas folhas são pontuações esbranquiçadas no limbo foliar, que evoluem para pústulas pequenas, circulares e de coloração alaranjada e, quando do rompimento da cutícula, expõe uma massa pulverulenta, de coloração amarela (Figura 19). À medida que a doença evolui, essa massa passa a apresentar coloração castanhoescura ou preta. Figura 19. Sintomas da ferrugem na cultura do alho. Fotos: Francisco Vilela Resende. A doença se desenvolve melhor em condições de alta umidade relativa do ar, baixo índice pluviométrico e temperaturas amenas, na faixa de 15º a 24ºC, podendo ser inibida em quando exposta a temperaturas abaixo de 10º e acima de 24ºC. Condições inadequadas de cultivo, como solos compactados e de baixada, desiquilíbrio nutricional principalmente quanto ao excesso de nitrogênio e a permanecia de restos culturais também favorecem o desenvolvimento da doença. O uso de fungicidas é a principal medida de controle da doença, principalmente na região Sul do país, onde as temperaturas são mais amenas. No entanto a rotação de culturas, a manutenção de uma adubação equilibrada e a eliminação de plantas e bulbilhos remanescentes são medidas que também devem ser adotadas. - Queima bacteriana ou bacteriose do alho: quatro espécies do gênero Pseudomonas causam a queima bacteriana no alho, no entanto, a que ocorre em quase todos os Estados produtores (Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina), incluindo as regiões do Cerrado, é a Pseudomonasmarginalispv. Marginalis (Brown 1918) Stevens 1925. A doença tem seu desenvolvimento favorecido em condições de alta umidade relativa do ar (acima de 85%) e temperaturas entre 6º e 37ºC, sendo a faixa entre 26º e 30ºC, considerada como ótima. Além das condições climáticas favoráveis, o surgimento da doença está associado ferimentos e/ou stress causados pela aplicação de defensivos químicos, principalmente herbicidas de pós-emergência. Uma clorese ao longo da nervura central, seguida de amolecimento e escurecimento da lesão, caracteriza o primeiro sintoma da doença (Figura 20 A), que à medida de sua evolução, causam murchamento e secamento das folhas (Figura 20 B). Um sintoma de queima pode também ocorrer e iniciar nas bainhas das folhas e se estender para a parte aérea, dando à planta um aspecto de queima por herbicida ou fogo. No bulbo, os sintomas podem ser visualizados na túnica, que passa a adquirir uma coloração escura e, os bulbilhos mostram sinais de apodrecimento, passando a adquirir coloração creme (Figura 20 C). B A Figura 20. Sintomas de bacteriose em folhas (A e B) e bulbos de alho (C). Fotos: Carlos Alberto Lopes (1) e Francisco Vilela Resende (2) C Medidas de controle integrado, que abrangem desde o plantio até a comercialização, devem ser adotadas para o controle da bacteriose do alho. O uso de alho-semente sadio e o controle da irrigação são medidas importantes, uma vez que as sementes podem disseminar o patógeno por longas distancias e a água de irrigação o espalha dentro da lavoura. Outras medidas recomendadas são: - evitar o plantio em áreas com baixa capacidade de drenagem de água; - evitar o encharcamento do solo após a diferenciação do bulbo; - manter uma adubação balanceada, restringindo adubações nitrogenadas realizando-as somente quando necessário; - eliminar as plantas doentes; - prevenir danos mecânicos que possam servir de entrada para a doença; - realizar rotação de culturas; - queimar os restos culturais após a colheita e beneficiamento. O uso de produtos químicos é contraditório, pois aqueles a base de cobre e suas misturas não vêm apresentando resultados efetivos, podendo ainda causar fitotoxicidez às plantas e, a aplicação de antibióticos para o controle da doença pode ser inviabilizado pela baixa sensibilidade que a bactéria apresenta a essas substâncias. Durante o armazenamento, os bulbos podem ser atacados por fungos dos gêneros Penicillium, causadores do mofo ou bolor azul e pelo Embellisiaallii (Camp.) Simmons, causador da cabeça negra. - Mofo azul: caracteriza-se pela rápida perda de peso dos bulbos, os quais ficam chochos em função do processo de deterioração dos bulbilhos. A parte externa pode ou não manifestar sintomas, no entanto, quando debulhados, percebe-se um mofo de cor azul (Figura 21). Os bulbilhos infectados (sem sintomas aparentes) e usados para o plantio desenvolvem lesões que amolecem e ficam recobertas pelo mofo azul e rapidamente morrem. As plantas que superam a doença tem seu desenvolvimento comprometido, formando bulbos de menor tamanho. Figura 21. Bulbo de alho atacado por Penicillium spp. Foto: Carlos Alberto Lopes e Marco Antônio Lucini O fungo é disseminado pelo ar e, para que ocorra a infecção é necessário que haja ferimentos nos bulbilhos. Temperaturas na faixa de 20º a 30ºC favorecem o desenvolvimento da doença. O tratamento dos bulbilhos com fungicidas; a debulha manual, a fim de reduzir danos mecânicos nos bulbilhos; o plantio e a colheita no tempo certo e armazenamento apropriado são medidas de controle da doença. PRAGAS As principais pragas da cultura do alho são ácaros, tripes, pulgões e nematoides que, além de causarem danos oriundos de seu ataque são vetores de algumas doenças, como as viroses do alho. - Ácaro: Eriophyestulipae, conhecidos popularmente por ácaro-do-bulbo ou micro acaro-doalho, possui tamanho reduzido, quase invisível a olho nu, corpo alongado, do tipo vermiforme, coloração que pode variar do branco ao creme. Alojados nas dobras das folhas e sobre os bulbilhos, os adultos causam danos decorrentes da sucção da seiva, que ocasiona má formação das folhas, retorcimento característico (Figura 22), estrias cloróticas e, no caso de grandes infestações, murchamento e secamento da planta. Quando atacam o bulbo, causam seu chochamento, tanto em condições de campo quanto no armazenamento. São responsáveis também, pela transmissão dos vírus do grupo allexvírus (gênero Allexivirus, Família Alphaflexiviridae). Figura 22. Sintomas de infestação de ácaros na parte aérea e no bulbilho do alho. Fotos: Francisco Vilela Resende e Marco Antônio Lucini. O desenvolvimento desse ácaro é favorecido por temperaturas na faixa de 25ºC. O controle deve ser preventivo, com a imersão dos bulbilhos em acaricidas específicos. A imersão em solução de hipoclorito de sódio a 1%, por 4 horas com posterior lavagem (15 minutos) em água também é eficiente. No caso de infestações em campo, pulverizar com acaricida. Em ambos os casos, os produtos devem ser registrados para a cultura. - Tripes: considerados a principal praga do alho, Thripstabaci são insetos pequenos, medindo de 1 a 1,2 mm de comprimento. Sua coloração varia de amarelo a acastanhado claro. O aparelho bucal é do tipo picador sugador. As fêmeas fazem a postura na face inferior das folhas e, quando eclodem, as ninfas de coloração amarelo-esverdeada, se alojam no interior das bainhas, principalmente nas folhas centrais (Figura 23). Tanto os adultos quanto as ninfas raspam e sugam constantemente a seiva das folhas. O sintoma característico do ataque é o surgimento de manchas e estrias esbranquiçadas ou prateadas com posterior amarelecimento e secamento das folhas. Figura 23. Sintomas do ataque e presença de tripes em folha de alho. Foto: José Luiz Pereira Em função do pequeno tamanho dos tripes e da arquitetura das plantas de alho, a detecção dessa praga é difícil, devendo ser realizado um monitoramento constante da lavoura. Uma vez detectados, deve-se proceder à pulverização com inseticidas recomendados. Medidas preventivas também podem ser adotadas, como a implantação de barreiras quebravento, rotação de culturas, eliminação de plantas daninhas e manejo adequado da cultura, dentre outras. - Nematoides: Ditylenchus dipsaci (Figura 24) é o nematoide com maior importância no Brasil, porém, outras espécies como Belonolaiumuslongicaudatus, D. destructor e Meloidogynechitwoodi, consideradas espécies quarentenárias A1 no Brasil e ocorrentes nos países da Europa, Ásia, África, América do Norte e do Sul e Oceania, representam séria ameaça à cultura. Figura 24. Ditylenchus: nematoide de maior importância para a cultura do alho Fotos: Jadir B. Pinheiro. Os sintomas incluem nanismo, inchaço, e extensa divisão longitudinal de cotilédones e folhas, as quais ficam curtas e espessas e muitas vezes apresentam manchas marrons ou amareladas devido a descolorações nos tecidos, além de inchaço acima do bulbo no pseudocaule, ficando com formato de charuto. As folhas podem cair e os bulbos tornam-se chochos. Também ocorre o amarelecimento a partir das raízes. Escalas de cinza no bulbo aparecem de forma leve e suave, que posteriomente tornamse desidratados e leves (bulbos chochos). Com o progresso da doença pode ocorrer podridão mole que geralmente completa o processo de destruição, sendo esta acompanhada por um odor característico. Outro sintoma característico da presença desse nematoide, em altos níveis populacionais, é o fácil desprendimento das plantas ao serem puxadas, ficando o ‘prato’ no solo e saindo apenas a parte aérea. Durante a colheita, os bulbos infestados podem tornar-se tão leves que raramente são aproveitados. No armazenamento, os bulbos normalmente apresentam aparência esbranquiçada e uma textura farinhenta. Os sintomas em lotes de bulbilhos infectados muitas vezes não são aparentes, e a ocorrência de plantas assintomáticas não indica necessariamente à ausência de D. dipsaci. Os sintomas variam em função da densidade populacional do nematoide (Figuras 25 e 26). Figura 25. Bulbilhos de alho infestados por Ditylenchus dipsaci. Foto: Jadir B. Pinheiro Figura 26. Variação sintomatológica de plantas de alho infestadas por Ditylenchus dipsaci. Foto: Jadir B. Pinheiro A penetração nas plantas pode ocorrer pelos estômatos, lenticelas ou pelo ponto de emissão das radicelas em crescimento. A umidade do solo parece afetar tanto o movimento dos nematoides quanto sua longevidade. Durante períodos de precipitação ou irrigação da cultura, tornam-se ativos, movem-se até as raízes da planta mediante película de água e entram nas folhagens novas por meio dos estômatos. Chuvas, água de irrigação, movimento de máquinas agrícolas e beneficiamento do alho (restos do processamento) também causam a disseminação de uma área para outra, no entanto, a principal forma de disseminação é por meio de tecidos vegetais (sementes, bulbos e bulbilhos infectados), além de pequenas partículas de solo que podem acompanhar materiais de alho. A disseminação de D. dipsaci geralmente é mais lenta em solos argilosos comparado com os solos arenosos. As densidades populacionais em solo flutuam ao longo do tempo, dependendo do tipo de solo, condições climáticas, cultivar plantada e plantas hospedeiras presentes. Geralmente, níveis de danos são detectados com populações de 10 juvenis e/ou adultos por 500 g de solo. A melhor forma de manejo para Ditylenchusdipsaci bem como para qualquer outra espécie é a prevenção, pois uma vez presentes em áreas de cultivo sua erradicação torna-se praticamente impossível, podendo inviabilizar áreas de plantio dependendo dos níveis populacionais presentes, bem como o abandono de áreas por parte dos produtores. Assim, conhecer o histórico da área, bem como a realização da amostragem para a detecção de nematoides são medidas fundamentais para se evitar a presença destes organismos na cultura do alho. A utilização de sementes certificadas, no caso de bulbilhos, isentos do nematoide e o plantio em solos não infestados é medida preventiva de extrema importância. Outra alternativa de eficácia no controle de nematoides na cultura do alho é o plantio de propágulos obtidos por meio de cultura de meristemas. Outras medidas de manejo como o plantio de plantas antagonistas (crotalária Crotalariaspectabilis, C. juncea, C. breviflora; cravo-de-defunto - Tagetespatula, T. minuta, T. erecta; as mucunas - Estizolobium spp.; e, mucuna-preta (Mucunaaterrima), o alqueive, a eliminação de restos de culturas e plantas hospedeiras, a solarização e o uso da Manipueira podem ser aplicadas na cultura do alho. - Traças do alho: consideradas pragas do armazenamento, as espécies Ephestia (Cadra) cautela (Walker, 1863), Ephestia elutella (Hübner, 1796) e Plodia interpunctella (Hübner, 1813) (Lepidoptera: Pyralidae) causam sérios danos nos bulbos, com perdas de qualidade, tornando-os impróprios para o consumo e comprometendo aqueles destinados ao uso como alho-semente. Essas espécies apresentam hábitos semelhantes - as lagartas recém-eclodidas (Figura 27 A) penetram nos bulbilhos e, em função das galerias formadas durante a alimentação, danifica-os totalmente (Figura 27 C), causando prejuízos na ordem de 10%. Figura 27. Adultos da traça do alho (A); lagartas recém-eclodidas (B); bulbos danificados el função do ataque das lagartas (C). Fotos: Miguel Michereffi Filho. Os sintomas da presença dessas pragas caracterizam-se pelo surgimento de bulbos chochos e de fezes isoladas ou ligadas entre si por fios de seda, que formam longos cordões sobre os bulbilhos. A manutenção da limpeza dos armazéns, deixando-os isentos de restos de alhos de safras anteriores, bem iluminados e com boa ventilação são medidas de controle, uma vez que armazéns sujos, escuros e abafados favorecem a infestação e o desenvolvimento das traças. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ANAPA - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PRODUTORES DE ALHO. Nosso Alho. Brasília, n. 20, agosto 2014. 74p. ATHAYDE, J.T.; SANTOS, A.F.; PEREIRA, J.O.; MARIN, A.J. Ocorrência de Ditylenchusdipsaci em alho (Alliumsativum L.) no estado do Espírito Santo. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.7, n.3, p.568, 1982. BECKER, W. F. Doenças do alho: sintomatologia e controle. 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