CAPÍTULO13 – O hipotálamo, o sistema límbico e o sistema olfativo O hipotálamo Anatomia topográfica do hipotálamo Núcleos hipotalâmicos O sistema límbico Amígdala Septo Formação hipocâmpica Giro do cíngulo O sistema olfativo Para que se possa sobreviver, devem ocorrer adaptações contínuas que preservem a homeostasia interna (meio interno) do organismo. Sinais interoceptivos dos órgãos internos e dos líquidos corporais desencadeiam respostas homeostáticas, de modo que o ambiente interno, tanto físico como químico, permaneça balanceado e estável. O hipotálamo é a estrutura responsável por essa tarefa. A informação exteroceptiva, vinda do ambiente exterior, determina as respostas comportamentais do organismo como um todo, a fim de que possa ser conseguida a homeostasia individual no ambiente físico e social. Nos animais inferiores, os comportamentos podem ser relativamente simples e estereotipados, direcionados para a satisfação de pulsões (drives) de sede, fome, sexo e defesa, por repertórios instintivos. O sistema límbico, fortemente conectado ao hipotálamo, é essencial para esse comportamento adaptativo, que inclui a capacidade de aprendizado de novas respostas com base em experiências prévias (memória). O comportamento humano, complexo e não-estereotipado, é uma tentativa de preservação da pessoa na paisagem física, mas também em ambiente social variável (homeostasia individual). As áreas de associação do neocórtex são capazes de analisar a informação exteroceptiva, oriunda do ambiente e de outras pessoas, o que permite a produção de respostas adaptativas pessoais e sociais. Essas estruturas, filogeneticamente mais recentes, são parcialmente conectadas ao sistema límbico. Assim, de modo hierárquico, o hipotálamo, o sistema límbico e o córtex de associação atuam como interfaces entre a estrutura interna da pessoa e seu ambiente. Um lembrete da ascensão evolutiva do humano é o sistema olfativo, vital para sentir o ambiente em animais inferiores, sobrepujado pela dominância visual espacial do humano e intimamente relacionado ao sistema límbico. O HIPOTÁLAMO O hipotálamo é capaz de integrar sinais interoceptivos, originados nos órgãos internos e nas cavidades cheias de líquido, produzindo ajustes adequados do meio interno, em função de seus sistemas aferente (entrada) e eferente (saída). A entrada hipotalâmica tem origem circulatória e neural. Pelo sangue circulante, chegam sinais físicos (temperatura, osmolalidade), químicos (glicose sanguínea, estado ácido- básico) e hormonais, relacionados ao estado do organismo, a seu crescimento e desenvolvimento, bem como de sua prontidão para a ação (sexual, de nutrição [mamar] e defesa). Os sinais neurais vêm de duas fontes. A primeira: o núcleo solitário do bulbo se projeta para o hipotálamo, conduzindo informação coletada pelo sistema nervoso autonômico, relacionada à pressão no interior de órgãos com paredes de músculo liso (barorreceptores) e com os constituintes químicos das cavidades cheias de líquido (quimiorreceptores). A segunda: o estado de ativação (arousal) neural é transmitido, para o hipotálamo, por duas estruturas mesencefálicas: a formação reticular, por vias direta e indireta (por meio do tálamo) os núcleos monoaminérgicos, por meio do feixe medial do prosencéfalo. O hipotálamo é capaz de gerar respostas a esses estímulos pelos meios circulatório e neural. Uma relação íntima com a glândula hipófise e acesso privilegiado à circulação (sistema porta) conferem, ao hipotálamo, o papel de ‘orquestrador do sistema endócrino’, por ele dirigir a síntese e a liberação de hormônios. A saída neural do hipotálamo é dupla. Na primeira, o sistema nervoso autonômico se projeta para e controla os órgãos internos, que estão fora do controle consciente (e, por conseguinte, autônomos). Na segunda, o hipotálamo é capaz de desencadear repertórios de comportamentos motores adequados, de tipo instintivo, por meio de suas conexões com o sistema límbico e com a parte límbica do corpo estriado (o núcleo acumbens). Suas interconexões com a formação reticular também são capazes de influenciar o estado de vigília e de sono. 135 O hipotálamo tem a capacidade de influenciar, ou de sobrepujar, comportamentos adaptativos mais complexos, devido a suas ligações íntimas com duas estruturas importantes: o sistema límbico e o córtex de associação do lobo frontal (parte orbitária). ANATOMIA TOPOGRÁFICA DO HIPOTÁLAMO O hipotálamo é a parte mais ventral do diencéfalo, ficando situado abaixo do tálamo e ventromedial ao subtálamo. Ele forma o assoalho e a parte inferior da parede lateral do terceiro ventrículo, abaixo do sulco hipotalâmico (Fig. 9.2). Na base do cérebro, componentes do hipotálamo podem ser vistos ocupando a pequena área circunscrita pela parte anterior dos pedúnculos cerebrais (cruzes do cérebro), quiasma óptico e tratos ópticos (Fig. 9.1). Entre os limites rostrais das duas cruzes do cérebro, de cada lado da linha média, existem duas eminências nítidas, arredondadas, os corpos mamilares, contendo os núcleos mamilares. Na linha média, imediatamente caudal ao quiasma óptico, existe pequena elevação, conhecida como túber cinéreo, de cujo ápice se estende o delgado infundíbulo (processo infundibular) ou haste hipofisária. Durante a vida, ela fica presa à glândula hipófise (pituitária), estrutura com o tamanho de um grão de ervilha, situada no interior da sela túrcica do osso esfenóide. A glândula hipófise é formada por duas partes principais, citologicamente distintas: a hipófise posterior, ou neuro-hipófise, e a hipófise anterior, ou adeno-hipófise (ver Figs. 13.2 e 13.3). A hipófise posterior é estrutura neuronal, sendo uma expansão da parte distal do processo infundibular. A hipófise anterior não tem origem neural. Contudo, essas duas partes são intimamente ligadas por vasos pertencentes ao sistema porta hipofisário (pituitário) (ver Fig. 13.3), derivados da artéria hipofisária superior. Fatores de liberação, sintetizados no hipotálamo, passam para a adeno-hipófise, por meio desses vasos, para controlar a liberação dos hormônios da hipófise anterior. NÚCLEOS HIPOTALÂMICOS O hipotálamo é formado por muitos grupos nucleares, dos quais apenas alguns serão descritos (Figs. 13.1 e 11.5). A região de situação medial e ventral ao subtálamo é conhecida como hipotálamo lateral. E atravessado, longitudinalmente, por muitas fibras, incluindo as do feixe medial do prosencéfalo. A área do hipotálamo lateral é importante para o controle da ingestão de alimento e de água e, em parte, é equivalente ao centro da fome, como definido fisiologicamente. As lesões do hipotálamo lateral produzem afagia e adipsia. A região medial do hipotálamo contém diversos núcleos, apenas alguns desempenham funções bem definidas. Anteriormente, localizam-se os núcleos supra-óptico, paraventricular e supraquiasmático. Os núcleos supra-óptico e paraventricular produzem, ambos, hormônios ativos sistemicamente, que são liberados pela hipófise posterior na circulação geral. O núcleo supra-óptico produz vasopressina (hormônio antidiurético), que aumenta a reabsorção de água pelo rim. O núcleo paraventricular sintetiza a ocitocina. No organismo feminino, a ativação do núcleo paraventricular, bem como a liberação desse hormônio, é desencadeada pelo ato de mamar. Isso Fig. 13.1 Corte sagital através do diencétalo. O esquema mostra a face medial do hipotálamo e a localização aproximada de alguns dos principais núcleos hipotalâmicos. 136 estimula a produção de leite pela glândula mamária, causando contração do músculo uterino. Os axônios das células dos núcleos supra-óptico e paraventricular cursam para a neuro-hipófise, passando pelo trato hipotálamo-hipofisário (Fig. 13.2). Os produtos neuroendócrinos são transportados, nesse trato, para a neuro-hipófise, onde são liberados no leito capilar, atingindo, em seguida, a circulação geral. O núcleo supra-óptico contém neurônios osmossensfveis, cuja atividade é influenciada pela osmolalidade do sangue circulante. O aumento dessa osmolalidade ativa esses neurônios, provocando a liberação de vasopressina.Esta atua sobre os túbulos renais, aumentando a reabsorção de água, e mantendo, dessa forma, a homeostasia da água. O hipotálamo também sintetiza fatores de liberação e de inibição da liberação, controladores da liberação de hormônios pela adeno-hipófise. A adeno-hipófise produz: hormônio adrenocorticotrópico (ACTH), hormônio luteinizante (LH), hormônio folículoestimulante (FSH), hormônio estimulador da tiróide (TSH), hormônio do crescimento e prolactina — que são liberados na circulação geral. Os fatores que os controlam são liberados pelos terminais de neurônios hipotalâmicos no leito capilar do sistema porta hipofisário (Fig. 13.3). Esses vasos, intrínsecos à haste hipofisária, levam os agentes liberados para a adeno-hipófise, onde atuam sobre as células secretoras de hormônios. A síntese dos fatores de liberação hipotalâmica está sob controle por feedback pelos hormônios secretados pelos órgãos-alvo. O nucleo supraquiasmático está relacionado com o controle do ritmo diurno e do ciclo sono/vigflia. Recebe algumas fibras diretamente da retina. Mais caudalmente, existem diversos núcleos, de posição dorsomedial e ventromedial, na parede lateral do terceiro ventrículo. O núcleo ventromedial, como o hipotálamo lateral, está relacionado à regulação da ingestão de alimento e de água. O núcleo ventromedial corresponde ao centro da saciedade, como definido fisiologicamente, e lesões dessa região produzem ingestão alimentar enormemente aumentada. Na parte mais caudal do hipotálamo, ficam o núcleo posterior e o núcleo mamilar medial, este último localizado no corpo mamilar. O corpo mamilar é parte do sistema límbico; recebe aferentes do hipocampo e se projeta para o núcleo anterior do tálamo e para o tronco encefálico. Fig. 13.2 Os núcleos supra-óptico e paraventricular projetando-se para a hipófise posterior, por meio do trato hipotálamo-hipofisário. Fig. 13.3 O sistema porta hipofisário, que liga as partes anterior e posterior da glândula hipófise. Tumores do hipotálamo e da glândula hipófise Tumores e outras doenças do hipotálamo e da glândula hipófise associada levam à redução ou ao excesso de secreção dos hormônios circulantes. Esses, por sua vez, produzem distúrbios do crescimento (nanismo, gigantismo e acromegalia), da função sexual (puberdade precoce, hipogonadismo), do controle da água corporal (diabete insípido e ingestão patológica de água), de alimentação (obesidade e bulimia) e do controle do córtex supra-renal (doença de Cushing e insuficiência supra-renal). Como a hipófise fica muito próxima ao quiasma óptico, os tumores dessa glân dula (adenomas hipofisários) podem causar falhas bitemporais dos campos visuais. 137 O hipotálamo é o centro encefálico para a regulação do sistema nervoso autonômico. Em geral, a ativação do hipotálamo posterior está associada às respostas simpáticas, enquanto a ativação do hipotálamo anterior está associada às respostas parassimpáticas. O hipotálamo • O hipotálamo é parte do diencéfalo. • O hipotálamo tem funções autonômicas, neuro-endócrinas e límbicas, participando da coordenação dos mecanismos homeostáticos. • Por meio do processo infundibular, o hipotálamo é conectado à glândula hipófise. • O hipotálamo produz hormônios que são liberados pela hipófise posterior, e, também, fatores de liberação que controlam a liberação dos hormônios da hipófise anterior. • O núcleo supra-óptico do hipotálamo produz vasopressina. • O núcleo paraventricu lar produz ocitocina. • A vasopressina e a ocitocina são transportadas para a hipófise posterior pelo trato hipotálamo-hipofisário. • A hipófise anterior produz: hormônio adrenocorticotrópico, hormônio luteinizante, hormônio folículo-estimulante, hormônio estimulante da tiróide, hormônio do crescimento e prolactina. Fatores que controlam suas secreções são liberados no sistema porta hipofisário, da haste hipofisária, por onde são levados até a hipófise anterior. • O hipotálamo lateral e o núcleo ventromedial regulam a ingestão de alimento e de água. O SISTEMA LÍMBICO O sistema límbico recebeu essa designação em função de sua situação na margem medial do encéfalo (o grand lobe limbique). Ele é formado por diversas estruturas com conexões complexas e, muitas vezes, formando alças, que, por fim, projetam-se para o hipotálamo (Fig. 13.4). A forte aferência, para o límbico, das áreas de associação neocorticais, liga o comportamento complexo, do tipo ‘direcionado a um objetivo’ (goaldirected) a comportamentos mais primitivos, de tipo instintivo, e à homeostasia interna, por meio de cascata de conexões neurais (Figs. 13.5 e 13.6). Visão bem simplificada seria a de informação sobre o mundo exterior coletada em sistemas modalidadeespecíficos (por exemplo, visão, audição e tato) e refinados nas áreas de associação panetoccipitais (função perceptoespacial). Essa informação é, então, levada para as áreas de associação frontais participantes no comportamento planejado (regulação) e, também, para as áreas de associação temporais inferiores, onde a informação pode atingir o estado supramodal e o significado (processamento semântico). A chegada da informação ao sistema límbico pode ser direta, por meio da amígdala, ou indireta, pela formação hipocâmpica, por meio da área entorninal. A amígdala parece atribuir uma conotação afetiva à experiência e, de modo especial, para aquelas relevantes para os estímulos sociais. Talvez o afeto seja um desenvolvimento evolutivo a partir de “sentimentos” (feelings) mais primitivos, derivados das aferências sensoriais autonômicas, originadas nos órgãos corporais, para o hipotálamo. O fluxo informacional, para a formação hipocâmpica, permite sua ligação com as experiências anteriores, visto que a formação hipocâmpica é essencial para a memória e para o aprendizado. O sistema límbico é capaz de influenciar as respostas motoras, adequadas para sua análise da informação, por meio de projeções para o núcleo acumbens, que faz parte dos gânglios da base. AMÍGDALA A amígdala fica situada próxima ao pólo temporal, entre a ponta inferior do ventrículo lateral e o núcleo lentiforme (Fig. 10.8). Recebe aferentes do córtex de associação temporal inferior, do septo e do trato olfativo. Além dessas, recebe projeções contendo catecolamina e 5-HT, originadas no tronco encefálico e conduzidas pelo feixe medial do prosencéfalo. A principal eferência da amígdala é a estria terminal, que cursa pela parede do ventrículo lateral, acompanhando a curvatura do núcleo caudado, para terminar, por fim, no hipotálamo. A via amigdalofuga ventral também se projeta para o hipotálamo. SEPTO O septo, ou região septal, fica debaixo da parte rostral do corpo caloso. Ele se interconecta com a amígdala e se projeta para Fig 13.4 Os principais componentes do sistema límbico e suas relações com o hipotálamo. 138 Fig. 13.5 A ligação entre as áreas de associação do neocórtex, o sistema límbico e o hipotálamo. Fig. 13.6 As interconexões entre as regiões de associação neocorticais e as estruturas componentes do sistema límbico. 139 Fig. 13.7 Cortes transversos através do hipocampo e da ponta inferior do ventrículo lateral. Fig. 13.8 As interconexões das estruturas límbicas que compõem o circuito de Papez. Hg. 13.9 O sistema hipocampo-fímbria-fórnix. O cérebro é visto de cima, O córtex cerebral e a substância branca, inclusive o corpo caloso, foram removidos para revelar o ventrículo lateral e seu conteúdo. (A) O plexo coróide do ventrículo lateral está intacto; (B) o plexo coróide foi removido. 140 o hipotálamo, por meio do feixe medial do prosencéfalo. O septo também se conecta com os núcleos monaminérgicos do tronco encefálico. Essas conexões se estabelecem por meio de fibras que se projetam para os núcleos habenulares do diencéfalo, formando a estria medular talâmica. Por sua vez, os núcleos habenulares se projetam, por meio do fascículo retroflexo, para os núcleos interpedunculares, que se projetam para o tronco encefálico e para o hipotálamo. Assim, duas vias importantes interligam o septo, o hipotálamo e os núcleos monaninérgicos do tronco encefálico. FORMAÇÃO HIPOCÂMPICA A formação hipocâmpica é constituída pelo próprio hipocampo, pelo giro denteado e por partes do giro para-hipocâmpico. O hipocampo é formado por uma dobra, para dentro, da parte ínfero-medial do lobo temporal, para o ventrículo lateral, ao longo da linha da fissura coróidea (Figs. 13.7 e 10.8 a 10.12). O giro denteado fica entre o giro parahipocâmpico e o hipocampo. A formação hipocâmpica recebe aferentes, em sua maior parte, do córtex temporal inferior, por meio da área entorrinal do lobo temporal. Também recebe fibras da área entorrinal e do hipocampo contralaterais, por meio do sistema do fórnix e da comissura hipocâmpica. A principal via eferente do hipocampo é o fórnix (Figs. 9.2, 10.2 e 10.7 a 10.12). O fómix é um fascículo proeminente de fibras, em forma de C, que liga o hipocampo ao corpo mamilar do hipotálamo (Fig. 13.8). Fibras eferentes convergem para a superfície ventral do hipocampo, pela fímbria. Ela passa, posterior e superiormente, para se tomar contínua com a cruz do fórnix, que, em seguida, se curva para a frente, por baixo do esplênio do corpo caloso. As duas cruzes se juntam na linha média, por baixo do corpo caloso, para formar o corpo do fórnix, com algumas fibras cruzando para o lado oposto, por meio da pequena comissura hipocâmpica. A medida que passa para diante, por baixo do corpo caloso, o corpo do fómix se divide em duas colunas, que, em seguida, se curvam para baixo, formando a borda anterior do forâmen interventricular, chegando ao hipotálamo, onde termina, no corpo mamilar, a grande maioria de suas fibras. Por sua vez, o corpo mamilar se projeta para o grupo nuclear anterior do tálamo, por meio do trato mamilotalâmico, e para o tronco encefálico, pelo trato mamilo-tegmentar. Os núcleos anteriores do tálamo mantêm importantes conexões com o giro do cíngulo. Fig. 13.10 Face medial do hemisfério cerebral, mostrando as relações entre o giro do cíngulo e o giro para-hipocâmpico. GIRO DO CÍNGULO O giro do cíngulo e o giro para-hipocâmpico são contínuos um ao outro, em tomo do esplênio do corpo caloso (Fig. 13.10). O giro do cíngulo, ou giro cingulado, projeta-se para o giro para-hipocâmpico por meio das fibras do cíngulo (ver Cap. 10). As principais estruturas do sistema límbico são, assim, ligadas por uma série de conexões, formando o circuito de Papez (Fig. 13.8). O sistema límbico • A amígdala fica situada perto do pólo temporal. Ela recebe projeções do sistema olfativo e do córtex temporal, mantendo relações recíprocas com o septo. • A formação hipocãmpica é constituída pelo hipocampo, giro denteado e giro parahipocampico do lobo temporal. Recebe f ibras do córtex entorrinal e se projeta, via fórnix, para o corpo mamilar do hipotélamo. • Os componentes principais do sistema límbico são interconectados pelo circuito de Papez. Distúrbios do sistema límbico O abuso do álcool, em condições de deficiência dietética de tiamina, leva a hemorragias capilares na parte superior do tronco encefálico e nas estruturas límbicas. O paciente apresenta confusão e entra em coma (encefalopatia de Wernicke). Pode ocorrer recuperação parcial, com incapacidade de lembrar as experiências passadas (amnésia retrógrada) e de aprender fatos novos (amnésia anterógrada). Esse quadro é conhecido como psicose de Korsakoff. Ocorre síndrome amnésica semelhante quando uma lobectomia temporal bilateral cirúrgica inclui a formação hipocâmpica. As crises temporais ou crises parciais complexas com origem próxima da amígdala e do hipocampo podem levar a experiências complexas envolvendo o olfato, o humor e a memória. Os estados de pensamento desorganizado, alucinações e comportamento estranho ou violento podem imitar a esquizofrenia. A ressecção cirúrgica da amígdala tem eliminado reações descontroladas de raiva em alguns pacientes psicóticos. SISTEMA OLFATIVO Os receptores olfativos são células nervosas ciliadas, especializadas, situadas no epitélio olfativo da cavidade nasal. Seus axônios se juntam, formando diversos fascículos pequenos (os verdadeiros nervos olfativos) que entram na cavidade craniana pelos foramens da lâmina cribriforme do osso etmóide (Fig. 4.1) e, após isso, se fixam ao bulbo olfativo, na superfície inferior do lobo frontal (Figs. 13.11 e 7.1). 141 Fig. 13.11 Superfície ventral do cérebro. Essa figura mostra o bulbo olfativo e o trato olfativo, a estria olfativa lateral e a área olfativa primária do córtex cerebral (uncus). O processamento preliminar da informação olfativa ocorre no bulbo olfativo, que contém interneurônios e as grandes células mitrais, cujos axônios emergem do bulbo pelo trato olfativo. O trato olfativo cursa para trás, pela superfície basal do lobo frontal, e, pouco antes de atingir o nível do quiasma óptico, a maioria das fibras do trato olfativo é deslocada lateralmente, formando a estria olfativa lateral (Fig. 13.11). Essas fibras passam para a profundidade da fissura laterál, que cruzam, para atingir o lobo temporal. Em sua maior parte, terminam no córtex olfativo primário do uncus (Figs. 13.11 e 10.2), na face ínferomedial do lobo temporal e na amígdala subjacente. Adjacente ao uncus, a parte anterior do giro parahipocâmpico, ou área entorrinal, constitui o córtex de associação olfativo. Os córtices primário e de associação também são, em conjunto, referidos como córtex piriforme e são os responsáveis pela apreciação dos estímulos olfativos. A projeção olfativa é única, entre os sistemas sensoriais, por ser formada por seqüência de apenas dois neurônios, entre os receptores sensoriais e o córtex cerebral, não se projetando por meio do tálamo. Anosmia A anosmia ocorre após lesão dos nervos olfativos. Ocorre perda, não apenas do sentido do olfato, mas também do sabor dos alimentos. Contudo os aspectos elementares do paladar, doce, salgado, amargo e ácido, por exemplo, são preservados. A anosmia, com freqüência, segue trauma cefálico, podendo ocorrer quando tumores das meninges (meningiomas) invadem os nervos olfativos. O sistema olfativo • As fibras do nervo olfativo terminam no bulbo olfativo. • As fibras de segunda ordem cursam pelo trato olfativo, terminando no cõrtex olfativo primário do uncus, no lobo temporal. • Adjacente ao uncus, a parte anterior do giro para-hipocâmpico, ou córtex entorrinal, constitui o córtex de associação olfativo. 142