TRANSTORNOS ALIMENTARES EM ADOLESCENTES:

Propaganda
Sumário
Resumo ....................................................................................................................... 1
Introdução ................................................................................................................... 1
Metodologia ................................................................................................................. 3
Resultados e discussão .............................................................................................. 4
Conclusão ................................................................................................................. 12
Referências bibliográficas ......................................................................................... 12
1
TRANSTORNOS ALIMENTARES EM ADOLESCENTES:
ANOREXIA E BULIMIA NERVOSA
Trabalho apresentado no Curso de Nutrição, da FAG, como requisito parcial para obtenção de
título de Bacharel em Nutrição, sob a orientação da professora MS Márcia Cristina Dalla Costa.
Resumo
Transtornos Alimentares são doenças com quadros psiquiátricos alterados,
atingindo principalmente adolescentes do gênero feminino e mulheres jovens. A
preocupação com o peso é o principal sintoma de transtornos, sendo a anorexia
nervosa a terceira doença crônica que mais ocorre em adolescentes do sexo
feminino, nos Estados Unidos. O objetivo do presente trabalho foi identificar a
presença de transtorno alimentar em adolescentes de escola particular, bem como
conhecer os fatores determinantes. O estudo transversal foi realizado com
adolescentes da 1ª série do ensino médio de escola particular de município
paranaense de médio porte, por meio da aplicação de um Teste de Atitudes
Alimentares para identificar os indivíduos com sintomas para Transtornos
Alimentares, o qual classifica como comportamento não preocupante, alerta e
indicativo de transtorno. De acordo com os resultados dos 58 questionários válidos,
53 (91,4%) escolares foram classificados como comportamento alimentar não
preocupante e 5 (8,6%) como alerta para transtorno alimentar. Conclui-se que este
grupo não apresentou transtorno alimentar, porém há necessidade de vigilância para
os escolares que apresentaram comportamento de alerta, tendo em vista a
gravidade destes problemas na adolescência.
PALAVRAS CHAVE: transtornos alimentares, anorexia, bulimia.
Introdução
Transtornos Alimentares (TA) são doenças com quadros psiquiátricos
alterados, atingindo principalmente adolescentes do sexo feminino e mulheres
jovens (SEABRA; ALMEIDA; FERREIRA, et al., 2004). A Anorexia Nervosa (NA)
consiste em um distúrbio do comportamento alimentar onde predomina a restrição
dietética auto-imposta, perfeccionismo, distorção da imagem corporal e um medo
mórbido de engordar. Já a Bulimia Nervosa (BN) apresenta episódios de “comercompulsivo”, também denominado de binge-eating (ou orgia alimentar), sentimento
de culpa seguido por métodos de compensação inadequados, como vômitos
provocados, uso de laxantes e diuréticos, exercícios extenuantes e jejuns
prolongados (SILVA, 2005).
A preocupação com o peso é o principal sintoma dos TA. Estudos feitos nos Estados
Unidos na década de 80 demonstraram ser a anorexia nervosa a terceira doença
crônica que mais ocorre em adolescentes do sexo feminino, ficando para trás
apenas para a asma e obesidade (FARIAS; ALVES; FARIAS, et al., 1999). Estimase que a prevalência dos transtornos seja de 0,5 a 1% para a anorexia a 1 a 3%
para a bulimia, ambos entre mulheres jovens e adolescentes (SEABRA; ALMEIDA;
FERREIRA, et al., 2004).
2
A adolescência, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) compreende
a faixa etária que vai de 10 a 19 anos de idade (BRASIL, 2004). As mudanças na
fisiologia e bioquímica do corpo no período da adolescência levam, em condições
normais, a um aumento pronunciado de gordura em meninas, chegando a um nível
de 27% aos 16 anos de idades (DUNKER; PHILIPPI, 2003). Sentimentos de
insatisfação com o corpo e o desejo de perder peso são comuns nessa fase. O
adolescente precisa reestruturar sua nova imagem corporal, e ao fazê-la podem
ocorrer a preocupação excessiva com o peso, constituindo-se uma causa de TA.
Segundo Morgan, Vecchiatti e Negrão (2002) e Silva (2005), os TA apresentam
etiologia multifatorial composta de predisposições socioculturais, genéticas,
vulnerabilidades biológicas e psicológicas. Dentre os socioculturais destacam-se o
padrão estético feminino adotado pela sociedade, no qual o magro é aquele visto
como competente, pessoa de sucesso e autocontrole e, sendo ainda atraente
sexualmente.Esse culto a magreza, a pressão da mídia e o imaginário coletivo têm
levado, principalmente adolescentes do sexo feminino á sacrifícios comprometendo
a saúde, á fim de serem aceitas e valorizadas pelo corpo magro (ROMARO;
ITOZAKU, 2002), apegando-se em crenças inadequadas sobre a alimentação
(LATTTERZA; DUNKER; SCAGLIUSI, et al., 2004)
A tendência à obesidade, mediado pela prática de fazer dietas de revistas e
sem acompanhamento, comum nas sociedades ocidentais ou ocidentalizadas, foi
identificada como gerador de um risco 18 vezes maior para desenvolvimento de TA
(MORGAN; VECCHIATTI; NEGRÃO, 2002). No quadro de anorexia isso leva a uma
auto-imposição de restrição calórica severa, enquanto na BN as pacientes tentam
fazer dieta que sucedem episódios compulsivos de ingestão de alimentos, levando
às frustrações e métodos compensatórios (SILVA, 2005).
Os indivíduos que desenvolvem anorexia nervosa (AN) apresentam
características comportamentais e temperamentais de baixa auto-estima,
introspecção, desenvolvimento insatisfatório da identidade, busca pela aprovação
externa, extrema sensibilidade a críticas, e perfeccionismo (ABREU & CANGELLI
FILHO, 2004); (SILVA, 2005). Levando-se em consideração o termo “anorexia” que
significa sem apetite, do ponto de vista psicopatológico ele está inadequado pois não
ocorre na verdade uma perda do apetite, e sim uma negação do apetite pelo
indivíduo anoréxico que recusa a alimentação (CORDÁS, 2004).
A restrição alimentar na anorexia gera diversas conseqüências à saúde dos
adolescentes. O corpo caquético leva à diminuição da massa cardíaca associada a
diminuições da pressão arterial e freqüência cardíaca, ocasionando mortes por
complicações cardiovasculares (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2004). No trato
gastrointestinal, ocorre diminuição de enzimas hepáticas retardando o esvaziamento
gástrico, degeneração gordurosa do fígado e necrose hepática (FARIAS; ALVES;
FARIAS et al., 1999). Ocorrem outras complicações como cabelos quebradiços e
sem brilho, pele seca ou amarela devido à hipercarotenia, osteopenia , interrupção
da puberdade além de anormalidades estruturais no cérebro e amenorréia em
mulheres, podendo comprometer a fertilidade (MAHAN; ESCOTT- STUMP, 2004).
3
Já indivíduos que apresentam BN diferem dos que apresentam comportamento
anoréxico, pois geralmente são sociáveis, impulsivos, descontrolados, ansiosos e
apresentam dependência alimentar (MORGAN; VECCHIATTI; NEGRÃO, 2002).
Apresentam ainda auto-estima flutuante, e acreditam que, se tivessem uns corpos
bem delineados alcançariam seus desejos, demonstrando insegurança. (ABREU;
CANGELLI FILHO, 2004). As principais conseqüências ocorrem pela maneira que o
indivíduo compensa o ato do “comer-compulsivo”. O hábito de vomitar é comum
neste transtorno, podendo causar desidratação, problemas dentários, hipocalemia,
feridas na garganta e sinal de Russel (lesão no dorso da mão feita pelos dentes nos
repetidos atos de vomitar). Ainda o uso constante de laxantes e diurético pode
desenvolver desidratação, sangramento retal, cãibras abdominais e elevação da
aldosterona sérica. Porém, o estado nutricional dificilmente é seriamente
comprometido na BN (FARIAS; ALVES; FARIAS, et al., 1999).
O Teste de Atitudes Alimentares (Eating Attitudes Test-EAT) é uma das
ferramentas criadas para avaliar atitudes alimentares típicas de pacientes com
anorexia, pois consegue fazer a diferenciação de pacientes anoréxicos dos controles
e bulímicos dos controles. Essa escala permite ser usada como um alerta do
excesso de preocupações próprias de pacientes com transtorno alimentar, como o
medo de engordar e o desejo de perder peso (CORDÁS; NEVES, 2002).
O tratamento inclui uma equipe multidisciplinar constituída por médicos,
psicólogos e nutricionistas. Segundo Mahan & Escott-Stump (2004), é fundamental o
diagnóstico e a intervenção precoce, contribuindo para uma diminuição de em torno
de 10 a 0,56% da mortalidade de AN e BN além de corrigir e prevenir possíveis
conseqüências da doença.
O objetivo do presente trabalho foi identificar a presença de transtorno
alimentar em adolescentes de escola particular, bem como conhecer os fatores
determinantes de transtornos alimentares.
Metodologia
O Estudo tranversal foi realizado no mês de maio de 2006 com 65
adolescentes de 14 a 15 anos de idade, matriculados na 1°série do ensino médio de
escola particular de Cascavel- Pr, correspondendo a 21,66% do total de alunos
matriculados no ensino médio. Foi aplicado o Teste de Atitudes Alimentares (Anexo
1) para identificar os indivíduos com sintomas para TA. O teste consta de 26
perguntas, nas quais os escolares escolheram uma entre seis opções de freqüência
de consumo ou atitude alimentar. Para a análise dos dados quantitativos utilizou-se
a freqüência dos itens apontados no questionário, sendo que até 9 respostas
positivas significa comportamento não preocupante, de 10 a 20 respostas positivas
alerta para TA e acima de 20 indicativo de TA (NUNES; BAGATINI; ABUCHAIM, et
al., apud DUNKER & PHILIPPI, 2003).
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos
da Fag sob o n°642/2006 (anexo1).
4
Resultados e discussão
Dos 65 alunos matriculados nas duas turmas da 1ª série do ensino médio, 7
(10,8%) foram excluídos pelo preenchimento incorreto do questionário, participando
do estudo 58 escolares. De acordo com o preenchimento, 53 (91,4%) escolares
foram classificados como comportamento alimentar não preocupante e 5 (8,6%)
como alerta para transtorno alimentar, não havendo casos indicativos de transtorno
alimentar.
Apesar de não ter encontrado transtorno alimentar neste grupo, sabe-se que a
mídia tanto a escrita quanto televisiva reforça a magreza como sinônimo de
competência, sucesso, poder, autocontrole e importante para ser atraente
sexualmente. Desta forma, a mídia vende produtos e faz com que, principalmente as
mulheres, sintam-se insatisfeitas e infelizes com seus corpos entrando em um
círculo de consumo e insatisfação, levando-a a buscar o que a sociedade exige para
aceitá-la: magreza a qualquer custo (SILVA, 2005).
Esta situação é descrita por Robell, o qual coloca que:
O corpo passa a ser o canteiro dos rituais obsessivos que levam indivíduos a
negar suas necessidades básicas, lançando-se em um círculo vicioso e obsessivo
entre dietas restritivas e jejuns prolongados e rígidos controles sobre a ingesta, o
corpo e a imagem corporal” (ROBELL, 1997).
A adolescência é considerada uma fase de risco para o desenvolvimento de
transtornos alimentares (SAMPEI; RIBEIRO; DEVINCENZI, et al.; 2002). A ávida
busca por esse paradigma de beleza feminina difundida e presente em nosso
imaginário coletivo, é mais comum entre adolescentes, estando estes em busca de
uma definição de sua identidade e tentando ajustar-se a vida social a fim de serem
aceitos. Os adolescentes são vulneráveis e facilmente influenciados pela moda,
demonstrando preocupação com sua aparência e cuidados com o corpo. No
entanto, o adolescente tende a se comportar de forma negligente e inconseqüente,
não medindo atitudes que possam prejudicar a saúde, desenvolvendo
comportamentos abusivos relacionados à dieta (MANTOANELLI, BITTENCOUR,
PEREIRA, et al., 1997).
Ao analisar as 26 questões preenchidas pelos escolares, foram selecionados
16 que demonstram comportamentos menos comuns às pessoas sem sintomas de
TA, sendo mais relevantes para a análise. Com relação ao costume de fazer dieta,
esta não é uma preocupação do grupo, apenas 13 (22,4%) afirmaram ter essa
prática, dos quais 8 (61,5%) relataram ter esta preocupação a cada 15 dias.
O hábito de fazer dieta apresenta-se como um fator precipitante no
desenvolvimento de transtornos alimentares. Segunda Silva (2005), estudos feitos
em pacientes com TA provam que o comportamento freqüente de fazer dietas
aumenta o risco de desenvolver algum tipo de transtorno alimentar, confirmando os
dados deste estudo. CARMO FILHO (2002) acrescenta que os TA iniciam-se com
dietas e exercícios físicos que são práticas consideradas aceitáveis em nossa
sociedade. No entanto, esses comportamentos passam a ser cada vez mais
5
freqüentes e praticados escondido dos familiares, demorando para chamar a
atenção da família.
Prática de fazer dieta
22%
Costumam fazer dieta
Não tem esse costume
78%
Fonte: Questionário da Pesquisa.
De acordo com a freqüência do consumo de alimentos dietéticos, os alunos
relataram ser baixo, sendo que apenas 11 (18,7%) apresentaram consumo semanal.
Esta informação confirma-se ao verificar que apenas 12,1% dos alunos afirmam
evitar o consumo de alimentos com alto teor de carboidratos.
Consumo de alimentos dietéticos
19%
Cosomem
semanalmente
Consomem
raramente
81%
Fonte: Questionário da Pesquisa.
Costumam evitar alimentos com alto
teor de carboidratos
12%
SIM
NÃO
88%
6
Fonte: Questionário da Pesquisa.
Segundo SERRA (2001), no final da década de 90 houve uma importante
expansão no consumo de alimentos dietéticos, sendo que a compra desses
produtos por adolescentes já era bastante considerada. O apelo da mídia constitui
um fator importante em relação ao interesse dos adolescentes a consumirem
determinados produtos. Em pesquisa realizada no Rio de Janeiro com 103
adolescentes de 10 a 18 anos, mostrou que os motivos pelos quais os adolescentes
consomem produtos dietéticos devem-se ao desejo de emagrecer e curiosidade
despertada pelas propagandas. Ainda no Rio de Janeiro, a pesquisa “Saúde e
Nutrição”, realizada em 1995 e 1996, demonstrou que o maior consumo de
adoçantes é feito por mulheres de todas as faixas etárias (FERNANDES et al., 1998
apud SERRA, 2001).
O consumo crescente de alimentos de baixas calorias pelos adolescentes,
relatado nos estudos, demonstram a grande preocupação com o peso corporal e a
aparência, revelam ainda a dificuldade que a maioria dos adolescentes têm em
manter uma alimentação saudável, levando ao consumo indiscriminado de alimentos
dietéticos ou mesmo dietas hipocalóricas.
Tendo em vista a baixa prevalência (8,60%) de escolares que apresentaram
alerta para transtorno alimentar, o desejo de ser magro não foi observado pela
maioria dos escolares, entretanto, 25 (43,10%) estão preocupados e destes 7
(28,0%) referem ter a preocupação diariamente. Já a preocupação com o excesso
de peso e presença de gordura armazenada no organismo foi relatada por 24,13% e
32,75%, respectivamente. Nas duas questões 12,06% afirmam ter esta preocupação
diariamente.
A principal característica desses transtornos alimentares é o desejo de ser
magro, ou mais magro do que já se é, e o medo mórbido de engordar. Abreu e
Cangelli Filho (2004) questionando meninas anoréxicas com relação aos motivos de
desejarem ser tão magras, obteve as seguintes respostas: “sou mais respeitada e
recebo mais elogios”, “gosto da atenção que recebo”, “me sinto mais confiante e
capaz quando estou magra”, “o que todos tentam fazer, eu mostro que posso fazer
melhor”, “é realmente nojento ter gordura em meu corpo e agora não tenho mais
esse problema”, “me sinto mais poderosa quando não como”.
Desta forma, a gordura é vista como uma ameaça ao sucesso e felicidade,
enquanto que a magreza é o ingrediente indispensável para alcançá-los. SILVA
(2005) interpreta “a beleza, como trampolim para o poder, foi redefinida de forma a
prometer às mulheres o tipo de poder que o dinheiro, de fato, dá aos homens”.
O sentimento de culpa após a alimentação é comum entre os portadores de
TA. Neste estudo, 3 (8,61%) alunos relataram esta prática, sendo que 2 (3,44%)
sentem esta culpa diariamente. A presença do sentimento de culpa é mais comum
em bulímicas, porém anoréxicas também sentem-se culpadas quando ingerem
algum alimento que julgam ser engordantes e por isso proibidos para elas (SILVA,
2005). No caso da bulimia, a sensação de culpa ocorre em conseqüência dos
episódios bulímicos. Após ingerirem uma grande quantidade de alimentos, esses
7
indivíduos sentem vergonha do seu comportamento alimentar, tristeza, sentimento
de impotência e nojo de si mesmo (TEIXEIRA NETO, 2003; CARMO FILHO, 2002).
O instrumento utilizado neste estudo para detectar a presença de transtornos
alimentares, não é específico para bulimia, porém sugere-se que os 2 adolescentes
que relataram sentir-se culpados após alimentar-se diariamente pode indicar ainda
episódios de compulsão alimentar, necessitando de avaliação individualizada para
um diagnóstico final. Quanto ao valor energético dos alimentos, 13,8 % dos alunos
conhecem o valor energético dos alimentos que consomem diariamente. A
preocupação de outras pessoas quanto a magreza dos escolares foi relatada por
8,6% dos entrevistados, e ainda, 5,2% relatam sentir-se pressionados para comer.
Conhecem o valor energético dos
alimentos que comem
14%
NÃO
SIM
86%
Fonte: Questionário da Pesquisa.
As mudanças no corpo que ocorrem no período da adolescência representam o
estupim para a insatisfação com a auto-imagem corporal. Assim, os adolescentes,
principalmente as meninas, começam com a prática de dietas restritivas e passam a
se interessar sobre alimentação e conhecer o valor energético dos alimentos
(KAPLAN; SADOCK; GREBB, 2003; DSM-IV, 2002; SILVA, 2005).
De início as anoréxicas retiram de sua alimentação alimentos com alto teor de
carboidratos, além de doces e alimentos gordurosos. Passam a preferir alimentos
mais saudáveis como frutas, hortaliças, além de carnes magras e produtos lácteos
desnatados, e dessa forma apresentam comportamento alimentar diferente de
adolescentes sem sintomas de TA (DUNKER, 2003).
Os familiares demoram a perceber o comprometimento grave de peso, pois as
meninas se mostram como conhecedoras do assunto, fazendo críticas às suas
práticas alimentares e demonstrando conhecimento sobre os alimentos. Ainda
desenvolvem verdadeiros rituais durante as refeições, como: mastigar devagar,
cortar os alimentos em pequenos pedaços, espalhar alimentos pelo prato, para
assim “tapear” os familiares (SILVA, 2005).
Ao analisar a questão “quando faço exercício penso em queimar calorias”, 13
(39,7%) escolares afirmaram pensar em queimar calorias pelo menos uma vez por
8
semana, e 10 (17,2%) afirmam pensar sempre em gastar calorias quando fazem
exercícios físicos, totalizando 39,65% dos escolares entrevistados.
9
Este pensamento de queimar calorias durante os exercícios físicos
demonstram a grande preocupação dos adolescentes em perder peso. Sabe-se que
anoréxicas e bulímicas fazem uso da prática de exercícios físicos extenuantes como
meio compensatório da ingestão energética. As anoréxicas usam da atividade física
como uma forma de penitência relacionando à intensidade do exercício com o tipo
de “pecado” alimentar cometido. Entretanto, as bulímicas também usam da prática
de exercícios físicos em exagero para compensar os episódios bulímicos, dessa
maneira desejam aliviar o sentimento de culpa queimando calorias consumidas
(SILVA, 2005).
Quando faço exercícios físicos penso em
queimar calorias
40%
60%
De sempre a 1 vez por
semana
De vez em quando a
raramente
Fonte: Questionário da Pesquisa.
Assunção, Córdas e Araújo (2002) ao analisar a prática de exercícios físicos
por pacientes com transtorno alimentar concluíram que esses indivíduos buscam a
atividade física como uma forma de perder peso, o que confirma ser esse um dos
sintomas de TA.
Ao investigar a presença de compulsão alimentar, pela questão “já passei por
situações em que comi demais achando que não ia conseguir parar”, observou-se
que 13,8% responderam afirmativamente, sendo que 8,6% relataram com bastante
freqüência. Estudos mostram que a bulimia nervosa geralmente é associada com
transtornos da personalidade, como o boderline, transtorno obssessivo-compulsivo,
transtorno de ansiedade, transtorno bipolar de humor, além de transtornos por uso e
dependência de substâncias como álcool e estimulantes (DSM-IV, 2002). A
impulsividade também é verificada nos bulímicos, e não é observada apenas em
seus episódios de binge-eating. Seus relacionamentos com pessoas íntimas são
marcados por extremas cobranças por demonstrações de afeto e atenção por parte
dos bulímicos, além de atitudes reproduzindo uma dinâmica psicológica ‘tudo ou
nada’ e ‘compulsão ou jejum’. Após a compulsão, a vergonha e a culpa são
gritantes, e são fatores desencadeantes de um novo episódio de compulsão
alimentar (SILVA, 2005).
O desejo por alcançar um padrão de beleza inatingível, associado com as
frustrações do meio em que vive, com sua montanha russa emocional e, na maioria
das vezes com transtornos de ansiedade, são suficientes para que essas
adolescentes e mulheres jovens usem da compulsão alimentar para aliviar seus
conflitos. Não é fome de comida de que essas pacientes sentem, mas de
estabilidade emocional, que elas desconhecem.
10
A preocupação excessiva com a alimentação pode ser um sinal de transtorno,
e de acordo com os resultados deste estudo, 3,4% dos escolares afirmaram passar
muito tempo do dia pensando em comida. As questões “acho-me uma pessoa
preocupada com a comida” e “sinto que a comida controla minha vida”, foi positiva
em 22,4% e 5,2% dos alunos entrevistados, respectivamente, confirmadas por
22,41% que afirmam não terem nunca autocontrole em relação à comida. Já 53,44%
relatam autocontrole em relação à comida. Mesmo que a prevalência de escolares
que relataram passarem muito tempo pensando em comida ou sentirem que a
comida controla suas vidas seja inferior a 50%, essa sensação faz parte dos
sintomas de TA, trazendo a necessidade de avaliação individualizada. A
preocupação exagerada com alimentos, o grande interesse por preparações e até o
hábito de estocar comida é freqüente em indivíduos com anorexia nervosa. A
sensação de descontrole alimentar e domínio do alimento sobre o indivíduo são
características da bulimia (KAPLAN; SADOCK; GREBB, 2003) e (DSM-IV, 2002).
Silva (2005) explica que dietas hipocalóricas e jejuns prolongados liberam o
hormônio cortisol, o qual atua no organismo provocando um aumento seletivo por
alimentos muito calóricos como doces e massas, levando muitas vezes o indivíduo à
compulsão alimentar.
Demonstro autocontrole em relação a comida
22%
NÃO
SIM
78%
Fonte: Questionário da Pesquisa.
Em conseqüência do descontrole sobre a própria alimentação, pode ocorrer o
vômito auto-induzido, o qual representa um sintoma de TA. Os resultados deste
estudo mostraram que a vontade de vomitar após as refeições foi verificada em 2
(3,44%) escolares deste grupo. Apesar da freqüência encontrada ser baixa, a
situação é preocupante, pois Seabra, Almeida e Ferreira et al (2004) relatam que
“esse método purgativo está presente em 80 a 90% dos casos de bulimia”.
O vômito é provocado pelos bulímicos utilizando o dedo ou instrumentos como
escovas de dente, talheres ou outros. O xarope de Ipeca, obtido das raízes da planta
Ipecacuanha, é utilizado pela medicina para ser dado a pacientes com intoxicação
por ser irritante violento provocando vômito e diarréia. No entanto, esse xarope é
freqüentemente usado por anoréxicas e bulímicas para concretizar seus atos de
purgações (SEABRA, 2004); (MAHAN & SCOTT-STUMP, 2003).
11
Além da prisão que o vício compulsão/purgação causa a esses pacientes,
existem conseqüências físicas que foram descritas devido à prática do vômito autoinduzido.
12
O aumento das glândulas, marcas no dorso da mão usada para induzir o
vômito (sinal de Russel) e erosão dental com aumento de cáries, são evidências
clínicas mais encontradas. No entanto, se o hábito de vomitar torna-se crônico pode
ocorrer desidratação, alcalose, hipocalemia, feridas na garganta, esofagite, dores
abdominais e hemorragia subconjuntival. Como conseqüências mais graves foram
citadas fissuras esofágicas, sérias complicações gastrointestinais caracterizada por
uma rara ocorrência de ruptura esofágica e dilatação aguda ou ruptura gástrica
(MAHAN & SCOTT-STUMP, 2003).
Ao investigar a presença de evitar comer quando se está com fome, este
estudo mostrou que 4 (6,9%) afirmaram ter esse hábito, sendo que 1 aluno (1,7%)
afirmou fazê-lo diariamente, sendo um comportamento preocupante pois demonstra
que a prática de não comer quando está com fome tornou-se um hábito, e por isso
indicativo de TA.
É observado em pacientes com anorexia nervosa, a negação do apetite e a
recusa pela alimentação, provando ser obsessivo o controle pelo corpo (CÓRDAS,
2004). É comum entre os anoréxicos a prática de comer gelo para enganar a fome
que se apresenta normal nos estágios iniciais do transtorno e passa a não mais
aparecer quando a doença chega em estágios finais (SILVA, 2005).
Conclusão
A presença de transtorno alimentar não foi encontrada nos adolescentes
pesquisados estudantes de uma escola particular na cidade de Cascavel-Pr. As
respostas analisadas não caracterizavam transtorno por serem respostas isoladas, e
não um conjunto de fatores indicativos de transtorno alimentar.
No entanto, os alunos que encontraram-se em alerta para transtorno alimentar
deveriam ser observados e acompanhados individualmente, a fim de que se
confirmar ou anular a possibilidade do desenvolvimento de um comportamento
alimentar preocupante, e encaminha-los para tratamento, se assim for necessário.
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