Sumário Resumo ....................................................................................................................... 1 Introdução ................................................................................................................... 1 Metodologia ................................................................................................................. 3 Resultados e discussão .............................................................................................. 4 Conclusão ................................................................................................................. 12 Referências bibliográficas ......................................................................................... 12 1 TRANSTORNOS ALIMENTARES EM ADOLESCENTES: ANOREXIA E BULIMIA NERVOSA Trabalho apresentado no Curso de Nutrição, da FAG, como requisito parcial para obtenção de título de Bacharel em Nutrição, sob a orientação da professora MS Márcia Cristina Dalla Costa. Resumo Transtornos Alimentares são doenças com quadros psiquiátricos alterados, atingindo principalmente adolescentes do gênero feminino e mulheres jovens. A preocupação com o peso é o principal sintoma de transtornos, sendo a anorexia nervosa a terceira doença crônica que mais ocorre em adolescentes do sexo feminino, nos Estados Unidos. O objetivo do presente trabalho foi identificar a presença de transtorno alimentar em adolescentes de escola particular, bem como conhecer os fatores determinantes. O estudo transversal foi realizado com adolescentes da 1ª série do ensino médio de escola particular de município paranaense de médio porte, por meio da aplicação de um Teste de Atitudes Alimentares para identificar os indivíduos com sintomas para Transtornos Alimentares, o qual classifica como comportamento não preocupante, alerta e indicativo de transtorno. De acordo com os resultados dos 58 questionários válidos, 53 (91,4%) escolares foram classificados como comportamento alimentar não preocupante e 5 (8,6%) como alerta para transtorno alimentar. Conclui-se que este grupo não apresentou transtorno alimentar, porém há necessidade de vigilância para os escolares que apresentaram comportamento de alerta, tendo em vista a gravidade destes problemas na adolescência. PALAVRAS CHAVE: transtornos alimentares, anorexia, bulimia. Introdução Transtornos Alimentares (TA) são doenças com quadros psiquiátricos alterados, atingindo principalmente adolescentes do sexo feminino e mulheres jovens (SEABRA; ALMEIDA; FERREIRA, et al., 2004). A Anorexia Nervosa (NA) consiste em um distúrbio do comportamento alimentar onde predomina a restrição dietética auto-imposta, perfeccionismo, distorção da imagem corporal e um medo mórbido de engordar. Já a Bulimia Nervosa (BN) apresenta episódios de “comercompulsivo”, também denominado de binge-eating (ou orgia alimentar), sentimento de culpa seguido por métodos de compensação inadequados, como vômitos provocados, uso de laxantes e diuréticos, exercícios extenuantes e jejuns prolongados (SILVA, 2005). A preocupação com o peso é o principal sintoma dos TA. Estudos feitos nos Estados Unidos na década de 80 demonstraram ser a anorexia nervosa a terceira doença crônica que mais ocorre em adolescentes do sexo feminino, ficando para trás apenas para a asma e obesidade (FARIAS; ALVES; FARIAS, et al., 1999). Estimase que a prevalência dos transtornos seja de 0,5 a 1% para a anorexia a 1 a 3% para a bulimia, ambos entre mulheres jovens e adolescentes (SEABRA; ALMEIDA; FERREIRA, et al., 2004). 2 A adolescência, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) compreende a faixa etária que vai de 10 a 19 anos de idade (BRASIL, 2004). As mudanças na fisiologia e bioquímica do corpo no período da adolescência levam, em condições normais, a um aumento pronunciado de gordura em meninas, chegando a um nível de 27% aos 16 anos de idades (DUNKER; PHILIPPI, 2003). Sentimentos de insatisfação com o corpo e o desejo de perder peso são comuns nessa fase. O adolescente precisa reestruturar sua nova imagem corporal, e ao fazê-la podem ocorrer a preocupação excessiva com o peso, constituindo-se uma causa de TA. Segundo Morgan, Vecchiatti e Negrão (2002) e Silva (2005), os TA apresentam etiologia multifatorial composta de predisposições socioculturais, genéticas, vulnerabilidades biológicas e psicológicas. Dentre os socioculturais destacam-se o padrão estético feminino adotado pela sociedade, no qual o magro é aquele visto como competente, pessoa de sucesso e autocontrole e, sendo ainda atraente sexualmente.Esse culto a magreza, a pressão da mídia e o imaginário coletivo têm levado, principalmente adolescentes do sexo feminino á sacrifícios comprometendo a saúde, á fim de serem aceitas e valorizadas pelo corpo magro (ROMARO; ITOZAKU, 2002), apegando-se em crenças inadequadas sobre a alimentação (LATTTERZA; DUNKER; SCAGLIUSI, et al., 2004) A tendência à obesidade, mediado pela prática de fazer dietas de revistas e sem acompanhamento, comum nas sociedades ocidentais ou ocidentalizadas, foi identificada como gerador de um risco 18 vezes maior para desenvolvimento de TA (MORGAN; VECCHIATTI; NEGRÃO, 2002). No quadro de anorexia isso leva a uma auto-imposição de restrição calórica severa, enquanto na BN as pacientes tentam fazer dieta que sucedem episódios compulsivos de ingestão de alimentos, levando às frustrações e métodos compensatórios (SILVA, 2005). Os indivíduos que desenvolvem anorexia nervosa (AN) apresentam características comportamentais e temperamentais de baixa auto-estima, introspecção, desenvolvimento insatisfatório da identidade, busca pela aprovação externa, extrema sensibilidade a críticas, e perfeccionismo (ABREU & CANGELLI FILHO, 2004); (SILVA, 2005). Levando-se em consideração o termo “anorexia” que significa sem apetite, do ponto de vista psicopatológico ele está inadequado pois não ocorre na verdade uma perda do apetite, e sim uma negação do apetite pelo indivíduo anoréxico que recusa a alimentação (CORDÁS, 2004). A restrição alimentar na anorexia gera diversas conseqüências à saúde dos adolescentes. O corpo caquético leva à diminuição da massa cardíaca associada a diminuições da pressão arterial e freqüência cardíaca, ocasionando mortes por complicações cardiovasculares (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2004). No trato gastrointestinal, ocorre diminuição de enzimas hepáticas retardando o esvaziamento gástrico, degeneração gordurosa do fígado e necrose hepática (FARIAS; ALVES; FARIAS et al., 1999). Ocorrem outras complicações como cabelos quebradiços e sem brilho, pele seca ou amarela devido à hipercarotenia, osteopenia , interrupção da puberdade além de anormalidades estruturais no cérebro e amenorréia em mulheres, podendo comprometer a fertilidade (MAHAN; ESCOTT- STUMP, 2004). 3 Já indivíduos que apresentam BN diferem dos que apresentam comportamento anoréxico, pois geralmente são sociáveis, impulsivos, descontrolados, ansiosos e apresentam dependência alimentar (MORGAN; VECCHIATTI; NEGRÃO, 2002). Apresentam ainda auto-estima flutuante, e acreditam que, se tivessem uns corpos bem delineados alcançariam seus desejos, demonstrando insegurança. (ABREU; CANGELLI FILHO, 2004). As principais conseqüências ocorrem pela maneira que o indivíduo compensa o ato do “comer-compulsivo”. O hábito de vomitar é comum neste transtorno, podendo causar desidratação, problemas dentários, hipocalemia, feridas na garganta e sinal de Russel (lesão no dorso da mão feita pelos dentes nos repetidos atos de vomitar). Ainda o uso constante de laxantes e diurético pode desenvolver desidratação, sangramento retal, cãibras abdominais e elevação da aldosterona sérica. Porém, o estado nutricional dificilmente é seriamente comprometido na BN (FARIAS; ALVES; FARIAS, et al., 1999). O Teste de Atitudes Alimentares (Eating Attitudes Test-EAT) é uma das ferramentas criadas para avaliar atitudes alimentares típicas de pacientes com anorexia, pois consegue fazer a diferenciação de pacientes anoréxicos dos controles e bulímicos dos controles. Essa escala permite ser usada como um alerta do excesso de preocupações próprias de pacientes com transtorno alimentar, como o medo de engordar e o desejo de perder peso (CORDÁS; NEVES, 2002). O tratamento inclui uma equipe multidisciplinar constituída por médicos, psicólogos e nutricionistas. Segundo Mahan & Escott-Stump (2004), é fundamental o diagnóstico e a intervenção precoce, contribuindo para uma diminuição de em torno de 10 a 0,56% da mortalidade de AN e BN além de corrigir e prevenir possíveis conseqüências da doença. O objetivo do presente trabalho foi identificar a presença de transtorno alimentar em adolescentes de escola particular, bem como conhecer os fatores determinantes de transtornos alimentares. Metodologia O Estudo tranversal foi realizado no mês de maio de 2006 com 65 adolescentes de 14 a 15 anos de idade, matriculados na 1°série do ensino médio de escola particular de Cascavel- Pr, correspondendo a 21,66% do total de alunos matriculados no ensino médio. Foi aplicado o Teste de Atitudes Alimentares (Anexo 1) para identificar os indivíduos com sintomas para TA. O teste consta de 26 perguntas, nas quais os escolares escolheram uma entre seis opções de freqüência de consumo ou atitude alimentar. Para a análise dos dados quantitativos utilizou-se a freqüência dos itens apontados no questionário, sendo que até 9 respostas positivas significa comportamento não preocupante, de 10 a 20 respostas positivas alerta para TA e acima de 20 indicativo de TA (NUNES; BAGATINI; ABUCHAIM, et al., apud DUNKER & PHILIPPI, 2003). O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos da Fag sob o n°642/2006 (anexo1). 4 Resultados e discussão Dos 65 alunos matriculados nas duas turmas da 1ª série do ensino médio, 7 (10,8%) foram excluídos pelo preenchimento incorreto do questionário, participando do estudo 58 escolares. De acordo com o preenchimento, 53 (91,4%) escolares foram classificados como comportamento alimentar não preocupante e 5 (8,6%) como alerta para transtorno alimentar, não havendo casos indicativos de transtorno alimentar. Apesar de não ter encontrado transtorno alimentar neste grupo, sabe-se que a mídia tanto a escrita quanto televisiva reforça a magreza como sinônimo de competência, sucesso, poder, autocontrole e importante para ser atraente sexualmente. Desta forma, a mídia vende produtos e faz com que, principalmente as mulheres, sintam-se insatisfeitas e infelizes com seus corpos entrando em um círculo de consumo e insatisfação, levando-a a buscar o que a sociedade exige para aceitá-la: magreza a qualquer custo (SILVA, 2005). Esta situação é descrita por Robell, o qual coloca que: O corpo passa a ser o canteiro dos rituais obsessivos que levam indivíduos a negar suas necessidades básicas, lançando-se em um círculo vicioso e obsessivo entre dietas restritivas e jejuns prolongados e rígidos controles sobre a ingesta, o corpo e a imagem corporal” (ROBELL, 1997). A adolescência é considerada uma fase de risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares (SAMPEI; RIBEIRO; DEVINCENZI, et al.; 2002). A ávida busca por esse paradigma de beleza feminina difundida e presente em nosso imaginário coletivo, é mais comum entre adolescentes, estando estes em busca de uma definição de sua identidade e tentando ajustar-se a vida social a fim de serem aceitos. Os adolescentes são vulneráveis e facilmente influenciados pela moda, demonstrando preocupação com sua aparência e cuidados com o corpo. No entanto, o adolescente tende a se comportar de forma negligente e inconseqüente, não medindo atitudes que possam prejudicar a saúde, desenvolvendo comportamentos abusivos relacionados à dieta (MANTOANELLI, BITTENCOUR, PEREIRA, et al., 1997). Ao analisar as 26 questões preenchidas pelos escolares, foram selecionados 16 que demonstram comportamentos menos comuns às pessoas sem sintomas de TA, sendo mais relevantes para a análise. Com relação ao costume de fazer dieta, esta não é uma preocupação do grupo, apenas 13 (22,4%) afirmaram ter essa prática, dos quais 8 (61,5%) relataram ter esta preocupação a cada 15 dias. O hábito de fazer dieta apresenta-se como um fator precipitante no desenvolvimento de transtornos alimentares. Segunda Silva (2005), estudos feitos em pacientes com TA provam que o comportamento freqüente de fazer dietas aumenta o risco de desenvolver algum tipo de transtorno alimentar, confirmando os dados deste estudo. CARMO FILHO (2002) acrescenta que os TA iniciam-se com dietas e exercícios físicos que são práticas consideradas aceitáveis em nossa sociedade. No entanto, esses comportamentos passam a ser cada vez mais 5 freqüentes e praticados escondido dos familiares, demorando para chamar a atenção da família. Prática de fazer dieta 22% Costumam fazer dieta Não tem esse costume 78% Fonte: Questionário da Pesquisa. De acordo com a freqüência do consumo de alimentos dietéticos, os alunos relataram ser baixo, sendo que apenas 11 (18,7%) apresentaram consumo semanal. Esta informação confirma-se ao verificar que apenas 12,1% dos alunos afirmam evitar o consumo de alimentos com alto teor de carboidratos. Consumo de alimentos dietéticos 19% Cosomem semanalmente Consomem raramente 81% Fonte: Questionário da Pesquisa. Costumam evitar alimentos com alto teor de carboidratos 12% SIM NÃO 88% 6 Fonte: Questionário da Pesquisa. Segundo SERRA (2001), no final da década de 90 houve uma importante expansão no consumo de alimentos dietéticos, sendo que a compra desses produtos por adolescentes já era bastante considerada. O apelo da mídia constitui um fator importante em relação ao interesse dos adolescentes a consumirem determinados produtos. Em pesquisa realizada no Rio de Janeiro com 103 adolescentes de 10 a 18 anos, mostrou que os motivos pelos quais os adolescentes consomem produtos dietéticos devem-se ao desejo de emagrecer e curiosidade despertada pelas propagandas. Ainda no Rio de Janeiro, a pesquisa “Saúde e Nutrição”, realizada em 1995 e 1996, demonstrou que o maior consumo de adoçantes é feito por mulheres de todas as faixas etárias (FERNANDES et al., 1998 apud SERRA, 2001). O consumo crescente de alimentos de baixas calorias pelos adolescentes, relatado nos estudos, demonstram a grande preocupação com o peso corporal e a aparência, revelam ainda a dificuldade que a maioria dos adolescentes têm em manter uma alimentação saudável, levando ao consumo indiscriminado de alimentos dietéticos ou mesmo dietas hipocalóricas. Tendo em vista a baixa prevalência (8,60%) de escolares que apresentaram alerta para transtorno alimentar, o desejo de ser magro não foi observado pela maioria dos escolares, entretanto, 25 (43,10%) estão preocupados e destes 7 (28,0%) referem ter a preocupação diariamente. Já a preocupação com o excesso de peso e presença de gordura armazenada no organismo foi relatada por 24,13% e 32,75%, respectivamente. Nas duas questões 12,06% afirmam ter esta preocupação diariamente. A principal característica desses transtornos alimentares é o desejo de ser magro, ou mais magro do que já se é, e o medo mórbido de engordar. Abreu e Cangelli Filho (2004) questionando meninas anoréxicas com relação aos motivos de desejarem ser tão magras, obteve as seguintes respostas: “sou mais respeitada e recebo mais elogios”, “gosto da atenção que recebo”, “me sinto mais confiante e capaz quando estou magra”, “o que todos tentam fazer, eu mostro que posso fazer melhor”, “é realmente nojento ter gordura em meu corpo e agora não tenho mais esse problema”, “me sinto mais poderosa quando não como”. Desta forma, a gordura é vista como uma ameaça ao sucesso e felicidade, enquanto que a magreza é o ingrediente indispensável para alcançá-los. SILVA (2005) interpreta “a beleza, como trampolim para o poder, foi redefinida de forma a prometer às mulheres o tipo de poder que o dinheiro, de fato, dá aos homens”. O sentimento de culpa após a alimentação é comum entre os portadores de TA. Neste estudo, 3 (8,61%) alunos relataram esta prática, sendo que 2 (3,44%) sentem esta culpa diariamente. A presença do sentimento de culpa é mais comum em bulímicas, porém anoréxicas também sentem-se culpadas quando ingerem algum alimento que julgam ser engordantes e por isso proibidos para elas (SILVA, 2005). No caso da bulimia, a sensação de culpa ocorre em conseqüência dos episódios bulímicos. Após ingerirem uma grande quantidade de alimentos, esses 7 indivíduos sentem vergonha do seu comportamento alimentar, tristeza, sentimento de impotência e nojo de si mesmo (TEIXEIRA NETO, 2003; CARMO FILHO, 2002). O instrumento utilizado neste estudo para detectar a presença de transtornos alimentares, não é específico para bulimia, porém sugere-se que os 2 adolescentes que relataram sentir-se culpados após alimentar-se diariamente pode indicar ainda episódios de compulsão alimentar, necessitando de avaliação individualizada para um diagnóstico final. Quanto ao valor energético dos alimentos, 13,8 % dos alunos conhecem o valor energético dos alimentos que consomem diariamente. A preocupação de outras pessoas quanto a magreza dos escolares foi relatada por 8,6% dos entrevistados, e ainda, 5,2% relatam sentir-se pressionados para comer. Conhecem o valor energético dos alimentos que comem 14% NÃO SIM 86% Fonte: Questionário da Pesquisa. As mudanças no corpo que ocorrem no período da adolescência representam o estupim para a insatisfação com a auto-imagem corporal. Assim, os adolescentes, principalmente as meninas, começam com a prática de dietas restritivas e passam a se interessar sobre alimentação e conhecer o valor energético dos alimentos (KAPLAN; SADOCK; GREBB, 2003; DSM-IV, 2002; SILVA, 2005). De início as anoréxicas retiram de sua alimentação alimentos com alto teor de carboidratos, além de doces e alimentos gordurosos. Passam a preferir alimentos mais saudáveis como frutas, hortaliças, além de carnes magras e produtos lácteos desnatados, e dessa forma apresentam comportamento alimentar diferente de adolescentes sem sintomas de TA (DUNKER, 2003). Os familiares demoram a perceber o comprometimento grave de peso, pois as meninas se mostram como conhecedoras do assunto, fazendo críticas às suas práticas alimentares e demonstrando conhecimento sobre os alimentos. Ainda desenvolvem verdadeiros rituais durante as refeições, como: mastigar devagar, cortar os alimentos em pequenos pedaços, espalhar alimentos pelo prato, para assim “tapear” os familiares (SILVA, 2005). Ao analisar a questão “quando faço exercício penso em queimar calorias”, 13 (39,7%) escolares afirmaram pensar em queimar calorias pelo menos uma vez por 8 semana, e 10 (17,2%) afirmam pensar sempre em gastar calorias quando fazem exercícios físicos, totalizando 39,65% dos escolares entrevistados. 9 Este pensamento de queimar calorias durante os exercícios físicos demonstram a grande preocupação dos adolescentes em perder peso. Sabe-se que anoréxicas e bulímicas fazem uso da prática de exercícios físicos extenuantes como meio compensatório da ingestão energética. As anoréxicas usam da atividade física como uma forma de penitência relacionando à intensidade do exercício com o tipo de “pecado” alimentar cometido. Entretanto, as bulímicas também usam da prática de exercícios físicos em exagero para compensar os episódios bulímicos, dessa maneira desejam aliviar o sentimento de culpa queimando calorias consumidas (SILVA, 2005). Quando faço exercícios físicos penso em queimar calorias 40% 60% De sempre a 1 vez por semana De vez em quando a raramente Fonte: Questionário da Pesquisa. Assunção, Córdas e Araújo (2002) ao analisar a prática de exercícios físicos por pacientes com transtorno alimentar concluíram que esses indivíduos buscam a atividade física como uma forma de perder peso, o que confirma ser esse um dos sintomas de TA. Ao investigar a presença de compulsão alimentar, pela questão “já passei por situações em que comi demais achando que não ia conseguir parar”, observou-se que 13,8% responderam afirmativamente, sendo que 8,6% relataram com bastante freqüência. Estudos mostram que a bulimia nervosa geralmente é associada com transtornos da personalidade, como o boderline, transtorno obssessivo-compulsivo, transtorno de ansiedade, transtorno bipolar de humor, além de transtornos por uso e dependência de substâncias como álcool e estimulantes (DSM-IV, 2002). A impulsividade também é verificada nos bulímicos, e não é observada apenas em seus episódios de binge-eating. Seus relacionamentos com pessoas íntimas são marcados por extremas cobranças por demonstrações de afeto e atenção por parte dos bulímicos, além de atitudes reproduzindo uma dinâmica psicológica ‘tudo ou nada’ e ‘compulsão ou jejum’. Após a compulsão, a vergonha e a culpa são gritantes, e são fatores desencadeantes de um novo episódio de compulsão alimentar (SILVA, 2005). O desejo por alcançar um padrão de beleza inatingível, associado com as frustrações do meio em que vive, com sua montanha russa emocional e, na maioria das vezes com transtornos de ansiedade, são suficientes para que essas adolescentes e mulheres jovens usem da compulsão alimentar para aliviar seus conflitos. Não é fome de comida de que essas pacientes sentem, mas de estabilidade emocional, que elas desconhecem. 10 A preocupação excessiva com a alimentação pode ser um sinal de transtorno, e de acordo com os resultados deste estudo, 3,4% dos escolares afirmaram passar muito tempo do dia pensando em comida. As questões “acho-me uma pessoa preocupada com a comida” e “sinto que a comida controla minha vida”, foi positiva em 22,4% e 5,2% dos alunos entrevistados, respectivamente, confirmadas por 22,41% que afirmam não terem nunca autocontrole em relação à comida. Já 53,44% relatam autocontrole em relação à comida. Mesmo que a prevalência de escolares que relataram passarem muito tempo pensando em comida ou sentirem que a comida controla suas vidas seja inferior a 50%, essa sensação faz parte dos sintomas de TA, trazendo a necessidade de avaliação individualizada. A preocupação exagerada com alimentos, o grande interesse por preparações e até o hábito de estocar comida é freqüente em indivíduos com anorexia nervosa. A sensação de descontrole alimentar e domínio do alimento sobre o indivíduo são características da bulimia (KAPLAN; SADOCK; GREBB, 2003) e (DSM-IV, 2002). Silva (2005) explica que dietas hipocalóricas e jejuns prolongados liberam o hormônio cortisol, o qual atua no organismo provocando um aumento seletivo por alimentos muito calóricos como doces e massas, levando muitas vezes o indivíduo à compulsão alimentar. Demonstro autocontrole em relação a comida 22% NÃO SIM 78% Fonte: Questionário da Pesquisa. Em conseqüência do descontrole sobre a própria alimentação, pode ocorrer o vômito auto-induzido, o qual representa um sintoma de TA. Os resultados deste estudo mostraram que a vontade de vomitar após as refeições foi verificada em 2 (3,44%) escolares deste grupo. Apesar da freqüência encontrada ser baixa, a situação é preocupante, pois Seabra, Almeida e Ferreira et al (2004) relatam que “esse método purgativo está presente em 80 a 90% dos casos de bulimia”. O vômito é provocado pelos bulímicos utilizando o dedo ou instrumentos como escovas de dente, talheres ou outros. O xarope de Ipeca, obtido das raízes da planta Ipecacuanha, é utilizado pela medicina para ser dado a pacientes com intoxicação por ser irritante violento provocando vômito e diarréia. No entanto, esse xarope é freqüentemente usado por anoréxicas e bulímicas para concretizar seus atos de purgações (SEABRA, 2004); (MAHAN & SCOTT-STUMP, 2003). 11 Além da prisão que o vício compulsão/purgação causa a esses pacientes, existem conseqüências físicas que foram descritas devido à prática do vômito autoinduzido. 12 O aumento das glândulas, marcas no dorso da mão usada para induzir o vômito (sinal de Russel) e erosão dental com aumento de cáries, são evidências clínicas mais encontradas. No entanto, se o hábito de vomitar torna-se crônico pode ocorrer desidratação, alcalose, hipocalemia, feridas na garganta, esofagite, dores abdominais e hemorragia subconjuntival. Como conseqüências mais graves foram citadas fissuras esofágicas, sérias complicações gastrointestinais caracterizada por uma rara ocorrência de ruptura esofágica e dilatação aguda ou ruptura gástrica (MAHAN & SCOTT-STUMP, 2003). Ao investigar a presença de evitar comer quando se está com fome, este estudo mostrou que 4 (6,9%) afirmaram ter esse hábito, sendo que 1 aluno (1,7%) afirmou fazê-lo diariamente, sendo um comportamento preocupante pois demonstra que a prática de não comer quando está com fome tornou-se um hábito, e por isso indicativo de TA. É observado em pacientes com anorexia nervosa, a negação do apetite e a recusa pela alimentação, provando ser obsessivo o controle pelo corpo (CÓRDAS, 2004). É comum entre os anoréxicos a prática de comer gelo para enganar a fome que se apresenta normal nos estágios iniciais do transtorno e passa a não mais aparecer quando a doença chega em estágios finais (SILVA, 2005). Conclusão A presença de transtorno alimentar não foi encontrada nos adolescentes pesquisados estudantes de uma escola particular na cidade de Cascavel-Pr. As respostas analisadas não caracterizavam transtorno por serem respostas isoladas, e não um conjunto de fatores indicativos de transtorno alimentar. No entanto, os alunos que encontraram-se em alerta para transtorno alimentar deveriam ser observados e acompanhados individualmente, a fim de que se confirmar ou anular a possibilidade do desenvolvimento de um comportamento alimentar preocupante, e encaminha-los para tratamento, se assim for necessário. Referências bibliográficas ABREU,C.N.; CANGELLI FILHO, R. Anorexia nervosa e bulimia nervosa: abordagem cognitiva- construtivista da psicoterapia. Revista de Psiquiatria Clínica,2004. Disponível em www.henet.usp.br/ipq/revista/r261/artigo(41). htm/> Acesso em: 21 de setembro de 2006. ASSUNÇÃO; S.S.M.; CÓRDAS; T.A.; ARAÚJO, L.A.S.B. Atividade física e transtornos alimentares. 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