Aula: 30 Temática: Reações Unimoleculares e Catalisadores Vamos continuar nossa análise da cinética em função de um mecanismo de reação. Depois faremos uma introdução a um novo tópico da disciplina, os catalisadores. 1. Reações unimoleculares As reações gasosas são comumente denominadas reações unimoleculares, pois envolvem uma etapa unimolecular elementar na qual a molécula de reagente se transforma na do produto. No entanto, deve-se saber que o mecanismo envolve também etapas bimoleculares. Na interpretação de uma cinética de primeira ordem há o problema de explicar como uma molécula adquire energia suficiente através de colisões com outras moléculas. A primeira explicação adequada foi proposta em 1921 por Frederick Lindemann e aperfeiçoada por Cyril Hinshelwood. No mecanismo de Lindemann-Hinshelwood admite-se que a molécula do reagente A torna-se excitada em colisão com outra molécula de A. A + A A* + A d [A ∗ ] 2 = k a [ A] dt A molécula pode perder excesso de energia em outra colisão como verificamos pela reação inversa acima, d [A ∗ ] = − k 'a [A] [A∗ ], ou pode formar produtos P dt por um decaimento unimolecular. A* → P d [A∗ ] = − k b [ A∗ ] dt A reação tem uma cinética de primeira ordem se a etapa unimolecular for lenta o suficiente para ser a determinante. Assim, podemos admitir a aproximação de estado permanente para a formação da molécula excitada A*: FÍSICO-QUÍMICA d [A∗ ] 2 = k a [ A] − k 'a [ A] [A∗ ] − kb [A∗ ] ≈ 0 dt Resolvendo [A ] = ka [A][ ] kb + k ' a A 2 ∗ A lei da cinética de formação de P é, então: k k [ A] d [P ] = kb [A∗ ] = a b dt kb + k 'a [ A] 2 A cinética ainda não é de primeira ordem, para isso vamos considerar a velocidade de desativação de A* por colisões com A muito maior do que a do decaimento unimolecular, k’a[A*] [A] ≫kb [A*] ou k’a d [P ] ≈ k [ A] dt k= kb, e poderemos ter: k a kb k 'a Vamos verificar o mecanismo de Lindemann-Hinshelwood. Este prevê que conforme a concentração de A, diminui e também sua pressão parcial, a reação passa a ter uma cinética de segunda ordem. Para k’a[A] ≪kb temos: d [P ] 2 ≈ k a [ A] . dt Nas pressões baixas, a etapa determinante assume a formação bimolecular de A*. A expressão da constante de velocidade efetiva, k, partindo da equação já apresentada acima: d [P ] k k [ A] , = k [ A] Para k = a b dt kb + k 'a [A] Pode ser escrita 1 k 'a 1 = + k k a kb k a [ A] FÍSICO-QUÍMICA Pelo modelo proposto, o gráfico 1/k × 1/[A] deve ser uma reta. Entretanto, se observamos um gráfico deste tipo verificaremos que a equação baseada no mecanismo de Lindemann-Hinshelwood propõe alguns resultados que se afastam da linearidade, ou seja, o mecanismo concorda no geral, mas não nos detalhes, com a modificação da ordem das reações unimoleculares. Examinando o limite do mecanismo de Lindemann-Hinshelwood nas pressões elevadas, kk d [P ] ≈ k [ A] Para k = a b , dt k 'a Podemos analisar uma reação composta em relação ao comportamento de Arrhenius. Cada constante de velocidade da expressão depende da temperatura por uma equação de Arrhenius. Com: k = Ae − E a RT , Lembrando que aqui A é um dos parâmetros de Arrhenius, temos: k a kb ( A(a )e − E ( a ) RT ) ( A(b )e − E (b ) RT ) A(a ) A(b ) −{E ( a )+ E (b )− E ' ( a )} RT k= = = e (A' (a )e −E ' (a ) RT ) k 'a A' (a ) a a a a a a A expressão mostra que a constante de velocidade da reação composta, k, tem uma variação dada por uma equação de Arrhenius. A energia de ativação é: Ea = Ea (a ) + Ea (b ) − E 'a (a ) Se Ea (a) + Ea (b) > E’a (a), Ea > 0 e a velocidade aumenta com a temperatura. Raramente as reações apresentam Ea negativo, significando diminuição da velocidade enquanto a temperatura aumenta. A dependência frente à temperatura é determinada pela energia de ativação da etapa determinante da velocidade. 2. Catalisadores A velocidade das reações químicas é muitas vezes aumentada pela presença de substâncias que não são consumidas na reação química, os catalisadores. FÍSICO-QUÍMICA Estes são de grande importância industrial, pois aumentam a eficiência do processo e baixam os custos. Os catalisadores atuam modificando os caminhos da reação por outros de menor energia de ativação, um abaixamento de 10 kJ/mol aumenta em cerca de 60 vezes a velocidade. Ao baixar a Ea acelera a reação inversa sem alterar keq. Também não altera o ∆H da reação. Contudo pode aumentar o rendimento dos produtos, pode evitar reações secundárias e pode proporcionar que as reações ocorram a temperaturas mais baixas. A velocidade das reações é geralmente proporcional à concentração do catalisador e no caso de catalisador sólido a área é importante. Em reações autocalisadas, em que um dos produtos funciona como catalisador, uma pequena quantidade do produto deve estar presente no início da reação. Quando a reação se processa por mais de um mecanismo, o catalisador deve mostrar seletividade que favoreça um mecanismo em relação ao outro. A principal propriedade do catalisador é que permanece inalterado ao final da reação. Exercícios Propostos 1. A reação 2 A → P é de segunda ordem com k = 3,50 × 10−4 L / mol s. Calcular o tempo necessário para a concentração de A passar de 0,260 mol / L para 0,011 mol / L. 2. A constante de velocidade da decomposição de uma certa substância é de 2,80 × 10−3 L / mol s a 30°C e 1,38 × 10−2 L / mol s a 50°C. Estimar os parâmetros de Arrhenius da reação. FÍSICO-QUÍMICA 3. O mecanismo da reação envolve um intermediário A. Deduzir a lei da cinética da reação. A2 2 A (rápida) A + B → P (lenta) Esta aula mostrou a solução do problema relacionado à ativação das moléculas em reações unimoleculares. Vimos ainda a definição e as características dos catalisadores. Nas duas aulas finais estudaremos as catálises homogêneas e heterogêneas. FÍSICO-QUÍMICA