Carlos C arvalheiro Filomena oliveira a partir de “a v oz dos d euses ” de João a guiar não resistir a uma ideia nova nem a um vinho velho viriato Carlos Carvalheiro e Filomena oliveira a partir de “a voz dos deuses” de João aguiar edição: 2007 Fatias de Cá apartado 140 • 2304-909 tomar • portugal tlm 960 303 991 • www.fatiasdeca.net v iriato • FdC estrutura dramatúrgica prólogo 1. traição de galba 2. iniciação de tongio 3. tempos difíceis 4. morte de Camalo 5. assembleia 6. Cerco 7. vitória 8. aclamaçã 9. incêndio na ibéria 10. astolpas 11. Casamento 12. oráculo 13. rei 14. serviliano 15. amigo do povo romano 16. roma viola o tratado 17. traição 18. rescaldo epílogo 3 4 v iriato • FdC sonoridade a abertura B iniciação C tempos difíceis d morte de Camalo e assembleia F Cerco g vitória h aclamação i incitação J Festa 1 K Casamento l deusas m serviliano n guerra o amigo do povo romano p Festa 2 Q violação r traição s roma não paga a traidores t morte de viriato u rescaldo v Final v iriato • FdC prólogo [gaita de Foles] tongio velho: [sentado num roChedo a esCrever] esta é a minha hora preferida. Finalmente estou só, envolvido pelo grande silêncio da terra. e este silêncio liberta a minha alma. agora, que já passaram oitenta invernos na minha vida -se é que não deixei escapar algum sem dar por isso- resta-me o silêncio. e a memória. por isso aqui estou sentado a escrever a história que eu vivi. 5 6 v iriato • FdC 1. traição de galba tongio velho: [iniCio musiCa a] Quando eu tinha dezasseis anos a ibéria estava entregue a um assassino ávido de ouro. [galBa entra Com a guarda pretoriana] galba viera para a península para aumentar a sua fortuna e estava disposto a fazê-lo a qualquer preço. entrou na lusitânia e desvastou as planícies. esgotados, sem víveres, os bandos guerreiros reuniram-se e enviaram um mensageiro ao pretor para negociar a rendição. galba recebeu-o com cortesia e convocou uma grande cerimónia para consagrar a paz na presença de todos os bandos lusitanos. galBa: [disCursa Com BenevolênCia] É a esterilidade dos vossos campos e a vossa pobreza que vos obriga ao latrocínio. por isso dar-vos-ei novas terras onde podereis trabalhar à vontade. mas tereis de abandonar as armas. tongio velho: os lusitanos rejubilaram, ofereceram as suas armas ao pretor e não repararam que as legiões de galba os tinham cercado. galBa: no entanto compreenderão que preciso de uma garantia de que nunca mais levantarão as armas contra roma. por isso a mão direita dos guerreiros será decepada. os outros serão vendidos como escravos. v iriato • FdC tongio velho: os lusitanos tentaram reagir, mas era tarde. estavam cercados e desarmados. num só dia foram trucidados milhares de lusitanos. na tarde do dia seguinte o total das vítimas passava dos dez mil. mais de vinte mil pessoas, incluindo mulheres e crianças, foram enviados para o mercado de escravos. [galBa sai Com a guarda] a terra e os regatos estavam ainda tintos com o sangue dos mortos e já galba recebia o produto da venda dos cativos. [Fim musiCa a] 7 8 v iriato • FdC 2. iniciação de tongio tongio velho: [iniCio musiCa B] mas eu não me preocupava com os problemas dos lusitanos e passava os dias a treinar com o meu escravo Beduno. [Beduno e tongio lutam Com paus] Camalo: [Com um leve sorriso] então? temos aí um guerreiro? Beduno: [Com um resmungo Benevolente] Quase. se conseguir lutar com tanta estratégia como fúria, talvez se faça… tongio: eu desarmei-te uma vez. Beduno: escorreguei. Camalo: [para tongio] Bom, penso que é altura de te entregar uma coisa que te pertence. [entrega-lhe um oBJeCto Comprido envolto em panos] Camala: [entrando Com loBessa e gritando] não consinto! não consentirei nunca! Camalo: tongio. tenho de falar com a tua mãe. vai com o Beduno ver o cavalo que eu te comprei. 9 v iriato • FdC B eduno : vamos, tongio. [aFasta-se Com tongio enQuanto Camalo e Camala disCutem em voz Baixa] tongio: Beduno, aquilo é uma espada, não é? Camala: [gritando] Claro que tenho direitos! tenho todos os direitos! ele é meu, fui eu que o fiz! Camalo: não o fizeste sem ajuda. e antes de ser teu filho ele pertence à mãe terra que o gerou, como todos nós! Camala: sim, mas usou as minhas entranhas! tongio: Que estão eles a dizer? estão a discutir os direitos de maternidade sobre a minha pessoa? [Beduno ri silenCiosamente] Camalo: [depois de Camala sair, sozinha e Furiosa, desemBrulha e entrega uma espada a tongio] Quando o teu pai morreu deixou-me a incumbência de te dar esta espada quando chegasse a altura. [vendo loBessa] Beduno, vem comigo. tongio: [exerCita-se Com a espada e repara em loBessa] Que estás aí a fazer? loBessa: a minha senhora está indisposta e já se recolheu. mandou-me avisar que não tomaria a refeição convosco. há qualquer coisa no ar… ouvi falar em guerra… o que se passa? tongio : nada, por enquanto. parece que galba, o 10 v iriato • FdC governador romano, derrotou os lusitanos. Falta muito para comermos? loBessa: e o que vai acontecer agora? tongio: não sei. provavelmente, nada. os lusitanos podem ter voltado às suas terras. não te preocupes com eles, estão muito longe. loBessa: sim, eles devem estar longe… mas é incrível como os homens andam depressa quando pensam em guerra e em saque. tongio: É uma decisão dos deuses. lobessa, passaste na cozinha? a ceia está pronta? loBessa: porquê? tens fome? tongio: tenho. Quer dizer, tinha… não sei. porque estás tu a rir? loBessa: ainda há algum tempo livre antes da ceia. tongio velho: aos dezasseis anos recebi a minha espada, ganhei um cavalo e tive a primeira experiência com uma mulher. [Fim musiCa B] v iriato • FdC 3. tempos difíceis tongio velho: [iniCio musiCa C] no fim desse ano galba regressou a roma. mais tarde soubemos que os seus crimes tinham revoltado até os seus próprios compatriotas, a ponto de o levarem a julgamento perante o senado. mas o ouro que roubara na ibéria chegou-lhe para comprar a absolvição. Camalo: Que sabes tu de astolpas? tongio: sei que é… o homem mais rico da região e que temos negócios com ele. Camalo: exacto. além disso é honesto: conheço-o há muitos anos e sei que é honesto. digo isto porque, se for necessário, podes confiar nele como em mim próprio. tongio: se for necessário? Camalo: em caso de… enfim, de qualquer infelicidade, tu assumirás a direcção dos meus negócios e então os conselhos de um homem experiente como astolpas podem ser preciosos. tongio: mas que infelicidade? Camalo: não sei como consegues andar por aí com os olhos e os ouvidos tapados. galba esqueceu-se pura e 11 12 v iriato • FdC simplesmente de mandar retirar as tropas acampadas junto da nossa cidade, o que significa que estamos a saque. temos de estar preparados para um… “incidente”. tongio: mas, tio, o que é que podemos fazer? o que é que devemos fazer? Camalo: aguardar e deixar de confiar nos romanos. por outro lado, se os lusitanos nos atacarem, os romanos servem-nos de escudo. tongio, aproximam-se tempos difíceis. [sai] tongio: Beduno, achas que os lusitanos nos vão atacar? eles nunca tiveram questões conosco, que eu saiba. Beduno: não se trata de questões. os lusitanos atacam por dois motivos: ou por ódio a roma ou para saquear. tongio: Com os romanos à nossa porta, os lusitanos têm as duas razões para o fazerem. Beduno: esse é o drama de quem como nós vive sob o domínio de roma. [Fim musiCa C] v iriato • FdC 4. morte de Camalo [iniCio musiCa d. grito de morte. surge um Centurião Que puxa a espada Cravada em Camalo, Que estremeCe e Cai morto] tongio: [gritando] tio! Centurião: talentos] [revista Camalo e tira-lhe uma Bolsa Com Que há? Queres roubar-me? sabes quem eu sou? tongio: sei que mataste um homem desarmado e que esse homem era meu tio. Centurião: ah sim? e depois? [surgem dois legioná- rios] Beduno: afasta-te, preciso de espaço. [o Centurião Faz sinal aos legionários para ataCarem tongio e Beduno. tongio deFende-se Como pode. Beduno Começa a dominar o legionário Que lhe CouBe. o Centurião ataCa Beduno pelas Costas] tongio: Benudo! Cuidado! [Foi tarde. ao mesmo tempo Que Beduno mata o seu legionário, reCeBe uma estoCada e Cai. o Centuirião vira-se para tongio e, Com sarCasmo, rodeia-o Com o outro legionário, gozando anteCipadamente a morte de tongio. a situação, para 13 14 v iriato • FdC este, É desesperada. entram viriato e arduno a Cavalo, ataCam os romanos e matam-nos] estrangeiros, estou em dívida para convosco. arduno: os estrangeiros são esses que estão no chão. nós somos lusitanos. e tu, quem és? pela roupa, poderia julgar-te romano… tongio: não sou romano. odeio roma. Chamo-me tongio, filho de tongétamo. arduno: e eu chamo-me arduno, tive muito gosto em conhecer-te. [para viriato] temos que nos pôr a andar. daqui a pouco vai haver por aqui mais legionários do que moscas. tangina: [entrando Com as aias] tongio, que aconte- ceu? tongio: mataram o meu tio e o Beduno. e estes lusitanos vieram em meu auxílio. tangina: obrigada. viriato: nada há nada para agradecer. Chegámos tarde demais. [para tongio] tens sítio para onde ir? tongio: eu sou daqui. a tangina é minha vizinha. viriato: se os romanos te apanham és um homem morto. tangina: vocês para onde vão? v iriato • FdC viriato: [pausa] a uma assembleia de chefes lusitanos. tangina: o tongio não podia ir convosco? arduno: sem cavalo, não. tongio: eu tenho cavalo. viriato: então vai buscá-lo. Camala: [entrando Com loBessa] tongio! Camalo! [vai ter Com Camalo] tongio: lobessa, traz-me o meu cavalo, depressa. [loBessa sai. para Camala] mãe, não podes culpar-me, eu não podia deixar... Camala: eu não te estou a culpar. tongio: tenho de fugir. vou com aqueles lusitanos. Camala: Já és um homem. sabes o que deves fazer. ou pelo menos assim o espero. adeus. eu vou tratar dos ritos fúnebres do teu tio. tongio: e do Beduno. Camala: do Beduno? ele é escravo, não é preciso... tongio: mãe, Beduno foi sempre o meu maior amigo. 15 16 v iriato • FdC Camala: está bem. mas agora se tens de te ir embora, vai. Chega de mortos! [sai] tongio: adeus, mãe. astolpas: [entrando] o que é que se passou aqui? tangina: pai, os romanos mataram Camalo e estes lusitanos chegaram a tempo de salvar tongio. astolpas: [Chamando] mulheres! tirem estes corpos daqui. [mulheres surgem e Carregam para Fora Com os três romanos e Camalo e Beduno] tongio: astolpas, o meu tio disse-me que, em caso de necessidade, podia contar contigo. eu vou partir com estes lusitanos. aceitaram que eu fosse com eles. Quero que tomes conta da minha mãe e dos negócios do meu tio. astolpas: honra-me a tua confiança em mim. [para viriato] lusitano, tongio é como se fosse meu filho. trata-o bem e fico a dever-te um favor. Que os deuses te acompanhem, filho de tongétamo. [sai Com as mulheres Que. tangina FiCa. loBessa entra Com o Cavalo de tongio] loBessa: [vestindo a tongio a sua Couraça de linho] para ter a certeza de que sobrevives. tongio: lobessa, eu… v iriato • FdC loBessa: meu senhor tongio, este dia haveria de chegar de qualquer modo. precisas de viver a tua vida… e precisarás sempre de mudar; mesmo quando gostares verdadeiramente de uma mulher, precisarás, ainda assim de mudar. eu sei; eu aprendi a conhecer os homens pela forma como se comportam na cama. tongio: [sentindo uma adaga na Cintura de loBessa] o que é isso? loBessa: [mostrando Como se deFenderia] não quero voltar a ser uma presa de guerra. [tongio monta] tangina: [para viriato] obrigada. viriato: de quê? tangina: por levares tongio contigo. viriato: para vingar a traição de galba, todos os guerreiros são benvindos. tangina: para sermos vingados, muitos romanos terão de morrer. viriato: acabei de matar um. tangina: para contar muitos, começar por um é um bom princípio. viriato: adeus. 17 18 v iriato • FdC arduno: estava a ver que nunca mais se despachavam. [saem] tangina: [gritando] e tem nome, o lusitano que me vai fazer contar romanos? viriato: viriato, filho de Comínio, insígnia do touro. tongio velho: aconteceu tudo tão depressa que não me dei logo conta que a minha vida tinha mudado para sempre e deixava para trás a minha mãe e lobessa, a mestra que fez de mim um homem e que me mostrou como é santificado pelos deuses o acto do amor quando o desejo é recíproco. por ela, nunca, em toda a minha vida —mesmo nas privações ou na euforia da guerra— tomei uma mulher à força. [Fim musiCa d] v iriato • FdC 5. assembleia tongio velho: [iníCio musiCa e] três dias depois chegámos à assembleia, onde reinava uma enorme e alegre confusão. [uma trompa soa Chamando os CheFes para a assem- Bleia. os CheFes sentam-se e atrás de Cada um a respeCtiva insígnia identiFiCa-os] audax: audax, rei de urso. setecentos guerreiros. táutalo: táutalo, príncipe de Conimbriga, insígnia do javali. mil e duzentos guerreiros. viriato: viriato, filho de Comínio, insígnia do touro. mil guerreiros. tongio velho: muitos outros reis, príncipes e chefes se apresentaram com as suas insígnias e hostes. ao todo juntaram-se cerca de dez mil guerreiros. Cúrio: depois da chacina de galba, os romanos sentem-se em completa segurança. eles nem sonham sequer com um ataque. apuleio: a atacar é agora. Crisso: temos a surpresa do nosso lado. 19 20 v iriato • FdC viriato: proponho que elejamos um de nós para comandar toda a hoste. audax: o quê? um comando único? todas as hostes lusitanas comandadas por um só homem? isso nunca aconteceu! táutalo: nenhuma tribo quer ceder o comando a um estranho, mesmo lusitano. só em caso de grande emergência. e por mim falo. viriato: mas este é um momento de grande emergência. Crisso: sempre foi assim. Cada chefe comanda os seus povos e reunem-se para tomarem decisões. táutalo: por mim está tudo bem desde que haja luta [rise] mas um só chefe acho pouco. talvez quatro ou cinco chefes. apuleio: Bom, mas combater os romanos, apanhá-los de surpresa e varrê-los até ao mar estamos todos de acordo, ou não? [gritaria e aplausos. ouve-se um grito de morte] viriato: o que foi? audax: um emissário romano que foi morto pelos meus homens. viriato: um emissário nunca se mata, pelo menos até v iriato • FdC revelar as mensagens. audax: Bem agora é tarde para o interrogar. de qualquer modo, o recado não chegará ao destino e isso já é uma boa coisa… vocês [para ditalCo e minuro] merecem os despojos. e tirem-no daqui. [tongio apanha umas táBuas Que ditalCo deita Fora] minuro: [espantado] Que é? isso não tem valor e se tivesse pertencia-me! tongio: isto é a mensagem que eles levavam. ditalCo: e daí? Quem vai entender o que está escrito… viriato: [vê tongio QueBrar o selo] tongio, sabes ler? tongio: sei. [lê] a carta está assinada pelo comandante da guarnição de gadir, e destina-se ao pretor Caio vetílio. o tribuno diz que os Barbáros -nós, portanto-, já podem ser avistados do cimo das muralhas, que a cidade está em perigo e pede-lhe que avance urgentemente para o sul com as novas tropas. audax: Quem é esse Caio vetílio? nunca ouvi falar… viriato: também nunca lhe fui apresentado, mas não é difícil perceber quem é: se chegou há pouco de roma e é pretor, deve ser o novo governador romano. táutalo: Com legiões chegadas de roma, frescas e bem treinadas a brincadeira acabou... ora, tanto melhor, 21 22 v iriato • FdC vamos enfim ter uma luta a sério. ao ataque. v iriato : Qualquer coisa me diz, tongio filho de tongétamo, que serás muito útil. [todos FiCam em posição FotográFiCa. Fim musiCa e] v iriato • FdC 6. Cerco tongio velho: [iníCio musiCa F] a batalha começou mal. os cavaleiros lusitanos avançaram contra as linhas inimigas, mas uma chuva de dardos dizimou-os. a seguir tentámos abrir uma brecha na muralha de lanças mas os esquadrões da cavalaria romana atacaram os nossos flancos. a ala comandada por viriato resistiu, mas o flanco oposto cedeu à pressão e em breve o combate se transformou numa terrível mortandade. Cumprindo as ordens de viriato, lançámos uma carga temerária para cobrir a fuga dos outros. salvaram-se assim muitas vidas, mas a derrota era completa. no campo ficaram milhares de lusitanos. viriato: É estranho! era de esperar que os romanos nos dessem caça. audax: têm medo de se aventurar em terreno desconhecido. mas agora temos de encontrar um refúgio. ditalCo: Conheço um bom lugar, uma povoação abandonada, perto daqui. É um lugar muito antigo mas não sei se há nele alguma maldição. táutalo: não pode haver pior maldição que a que nos caiu hoje em cima. [dirigem-se para trás da paliçada] viriato: [saindo Com os outros] mas se nos refugiamos 23 24 v iriato • FdC arriscamo-nos a ficar cercados! arduno: [dando uma tiJela a tongio] Bebe, estás a precisar disto. tongio: [BeBendo Com gosto] Já contaram os sobreviventes? arduno: perdemos mais de metade dos nossos. a expedição acabou, tongio, e teremos muita sorte se sairmos daqui vivos. tongio: mas os romanos não nos perseguem…! arduno: pois não e isso pode ser mau sinal. enfim, é uma preocupação para amanhã. agora vai dormir. [saem] tongio velho: assim fiz. dormi profundamente, mas por pouco tempo. acordei ao romper da aurora e para onde quer que olhasse, só via legionários romanos. estávamos cercados. enviámos um emissário a Caio vetílio propondo a rendição. apuleio: [entra a Cavalo] o pretor recebeu-nos bem. aceitou as nossas condições: rendição honrosa e sem represálias; distribuição de terras aos guerreiros, salvoconduto para voltar para casa. em troca exigiu a entrega das armas. [sai] Crisso: a mim parece-me uma proposta justa. táutalo: eu acho difícil outra saída. mas vamos ouvir a v iriato • FdC opinião de todos os que estão a favor ou contra a rendição. audax: estamos cercados. a resposta do pretor é satisfatória. Quais eram os objectivos da nossa luta? eram dois: vingar a traição do pretor galba e conseguir uma vida melhor. o primeiro foi atingido, pois os romanos aceitarem as nossas condições. o segundo será alcançado com a distribuição de terras. o sangue dos nossos companheiros caídos não terá sido em vão. [Fim musiCa F] viriato: [iníCio musiCa g] Que idade tens, audax? sim. Que idade tens? serás assim tão velho que perdeste a memória? Falaste no perjúrio de galba e não reparas que as palavras de Caio vetílio são as mesmas? eu estive cercado por galba e digo-te: nunca entregarei as minhas armas a um romano. os romanos só entendem uma linguagem, a força; só compreendem uma razão, a dos mais fortes; só aceitam um argumento, a vitória. vitoriosos, poderíamos negociar. mas enquanto nos julgarem à sua mercê, nunca o devemos fazer. audax: a verdade é que estamos à sua mercê! viriato: porque até agora, fizemos o que os romanos queriam. mas há uma saída se me deixarem comandar. táutalo: viriato, sabemos que és um bom comandante. mas tens a certeza do que dizes? está em jogo a vida de milhares de homens. viriato: pelos vistos tu só tens uma escolha a fazer: ou te 25 26 v iriato • FdC rendes ou aceitas o meu comando. táutalo: pelos deuses viriato! se fores capaz de nos salvar, contarás comigo para sempre… viriato?! [todos, aprovando a deCisão de táutalo, gritam “viriato”] v iriato • FdC 7. vitória tongio velho: Quando os romanos viram que mil cavaleiros lusitanos, carregavam, de lança em riste, contra as legiões, compreenderam que não haveria rendição. [Carga de Cavalaria lusitana] as legiões cerraram fileiras numa verdadeira muralha de ferro. Quando o embate estava eminente, viriato fez um sinal e os cavaleiros lusitanos, simulando pânico, deram meia volta e partiram na direcção na direção oposta. antes que vetílio pudesse reagir, já nós estávamos emboscados numa floresta. e quando os cavaleiros romanos vieram em nossa perseguição, foram encurralados. pelo meio-dia a luta cessou. o terreno era um lamaçal vermelho coberto de corpos de legionários. viriato: Quantas baixas tivemos? táutalo: não mais de meia centena. viriato: e os romanos? táutalo: Ficaram reduzidos a metade. [ouve-se grito] um Quê? ainda há por aqui romanos escondidos? É melhor mandar patrulhar esta área… [todos se dirigem para o loCal do grito] viriato: [para que fizeste? minuro, Que revista o pretor] sabes o 27 28 v iriato • FdC minuro: matei um inimgo que capturei. e depois? não tenho de te dar explicações. só devo obediência ao meu rei, audax. audax: [Bate-lhe] dobra essa língua, verme! o que fazes tu da minha palavra? não aceitei eu livremente o comando de viriato? viriato: olha bem para esse romano. [minuro oBedeCe] olhaste bem para ele? minuro: É um legionário gordo. viriato: não. não é um legionário gordo. era um pretor gordo. acabas de matar o pretor Caio vetílio. Calculas tu o resgate que os romanos pagariam pelo governador da hispânia? [para audax] É preciso ensinar os nossos homens a fazer a guerra contra roma. v iriato • FdC 8. Comandante viriato: se os lusitanos querem a liberdade, esta guerra apenas começou. lutamos contra a cidade mais forte do mundo. se queremos ser livres, temos de lutar unidos. É tempo de escolher um Comandante e eu, viriato, ofereço-me, com os meus homens, para combater sob as ordens de quem for escolhido. l usitanos : salvaste-nos do cerco dos romanos! derrotaste vetílio! não há entre nós outro Comandante! viriato! viriato! [Fim musiCa g. iníCio musiCa h. Cerimónia de aClamação de viriato. gaita de Foles. são-lhe ColoCadas as vírias de ouro e É-lhe oFereCida uma taça] viriato: [Faz uma liBação] pela nossa terra! pela nossa água. pelo nosso ar! pelo nosso fogo! [BeBe. ergue a espada] lusitanos: [aClamando] viriato! viriato! tongio velho: os lusitanos tinham, enfim, um chefe capaz de lutar contra o opressor. Cumpria-se, com estranha precisão, o significado do seu nome -viriato, “o que foi investido com as vírias”… [Fim musiCa h] 29 30 v iriato • FdC 9. incêndio na ibéria tongio velho: [iníCio musiCa i] daí a uns tempos chegaram notícias do sul. um novo exército acabava de desembarcar com a intenção de vingar a humilhante derrota sofrida por vetílio. a campanha foi rápida e fulminante. viriato simulou uma derrota, retirou e caíu de surpresa sobre o exército romano. as legiões do nóvel pretor foram exterminadas. viriato: temos de conseguir a adesão à nossa causa dos povos da ibéria. táutalo: e achas que esses povos se convencem a aceitar um comandante lusitano. viriato: primeiro temos que os levar à revolta, depois se verá… se não aceitarem o nosso comando, que façam a guerra sozinhos, mas que a façam! táutalo: não entendo como é possível tanta estupidez. Com um só comando… viriato: um só comando, para eles, significaria um só chefe, um só rei. e isso é difícil. táutalo: impossível! viriato: e no entanto, aí estaria a salvação. se houvesse v iriato • FdC um rei que comandasse todos na guerra e respondesse por todos perante os deuses, a lusitânia podia ditar as suas condições a roma! [mudando suBitamente de tom] Bom, mas isto são sonhos e não temos tempo para sonhar. partimos amanhã. [aFasta-se] táutalo: um rei para ‘toda’ a lusitânia? Que raio de ideia! o único rei que eu aceitaria acima da minha tribo, seria viriato! tongio velho: no ano seguinte, roma enviou outro exército, que de novo foi derrotado. a ibéria galvanizouse. muitos povos pegaram em armas. Foi um tempo de prodígios. sim, que outro nome se poderá dar à sublevação contra o opressor? nunca o poder de roma estivera tão abalado na ibéria. 31 32 v iriato • FdC 10. Batalha pelos recursos tongio velho: para nós o ano terminava em glória e euforia. mas o comandante andava sombrio e fechado. suspendeu as operações e convocou o estado-maior. táutalo: não entendo o teu pessimismo. Que mais queres? viriato: não tenho razões para me queixar dos nossos homens, mas há uma coisa que todos parecem esquecer: alimentar e armar o nosso exército é muito caro. se os povos da ibéria se uniram a nós, não podemos saqueálos. precisamos de convencer os lusitanos ricos a apoiarnos. tongio: na minha região há um homem rico. rico demais. viriato: astolpas. tongio: antes de ter sido morto pelos romanos, o meu tio disse-me que eu podia confiar nele. viriato: lembro-me da filha… tongio: tangina. viriato: podemos tentar. v iriato • FdC tongio: de qualquer forma os meus recursos, os que herdei do meu tio, estão à tua disposição. viriato: tongio, és o primeiro lusitano rico a apoiar a nossa causa. [aplausos de todos] vamos falar com astolpas. [Fim musiCa i] tongio velho: [iníCio musiCa J] Foi o meu regresso a casa. e foi bom. tinham passado dois anos desde que fugira com um chefe de bando para voltar ao lado do Comandante dos lusitanos. Fomos recebidos com alegria. Foi bom. [mulheres põem a mesa das Boas vindas. vão entrando loBessa, Camala, tangina e astolpas] loBessa: vejo que a couraça te serviu para alguma coisa. tongio: vejo que a adaga não te serviu para nada. loBessa: Benvindo meu senhor tongio. tongio: mãe… Camala: pensei que a vida da montanha te engrossaria. afinal continuas um lingrinhas. tongio: e tu continuas mãe. viriato: [para tangina] podes acrescentar à tua lista mais seis mil e setecentos romanos. [tangina desenrola um extenso rol] astolpas: viriato, vejo que o tongio fez um bom negó- 33 34 v iriato • FdC cio. agora dá-se com um homem que tem ouro nos braços. tongio: Foi para falar disso que voltámos. astolpas, eu e viriato precisamos de falar contigo. astolpas: vamos então. tongio: a hoste lusitana reúne seis mil guerreiros. e viriato proibiu o saque nas cidades da ibéria. temos falta de recursos, alimentos, armas… Quero dispor dos meus bens à excepção dos suficientes para que a minha mãe possa ter uma vida digna. Quero que ponhas os meus recursos à disposição de viriato. astolpas: muito bem. tongio: e também precisamos do teu apoio. astolpas: em recursos? tongio: sim. astolpas: É complicado. não quero que me julguem gabarola, mas eu tenho recursos para vos alimentar e armar durante muitos anos. o problema é que se vos dou esses recursos, acabou-se esta paz que tão dificilmente tenho sustentado com os romanos. não me posso comprometer com um lusitano. viriato, tenho de te dizer não. tangina: e se viriato fosse da tua familia? v iriato • FdC astolpas: isso seria diferente. mas não é. tangina: viriato, queres casar comigo? astolpas: não são as mulheres que pedem os homens em casamento. viriato: [longa pausa] tangina, aceitas casar comigo? tangina: hesitaste um pouco demais para o meu gosto, mas está bem, aceito. astolpas: ora esta! agora tenho de ir tratar de um casamento. anda daí. tongio. apadrinhaste isto, vais pagar metade do banquete. [saem] viriato: Foi para defender a causa da liberdade que quiseste casar comigo? tangina: não te iludas, viriato. a minha febre de liberdade para o meu povo levar-me-á a todos os excessos. e hoje, tu és um homem poderoso: comandas o exército lusitano. mas eu apaixonei-me por ti a primeira vez que te vi. 35 36 v iriato • FdC 11. Casamento tongio velho: Foi marcada a data do casamento. astolpas: [para tangina] escolheste o caminho da guerra. mas nesse caminho, a sorte das mulheres é mais cruel que a dos homens. toma, minha filha. [dá-lhe um anel] o veneno que está dentro deste anel actua rápido. não deixes que te façam presa de guerra. [entram romanos] viriato: o que é isto? astolpas: são uns romanos que eu convidei. viriato: tu convidaste romanos para a festa? astolpas: equilíbrio, meu amigo, equilíbrio. [aCompanha os romanos à mesa. ordenando] iniciem-se os rituais. [Fim musiCa J. iníCio musiCa K. entram saCerdotizas e iniCia-se o rito nupCial. gaita de Foles] tongio velho: Completado o ritual, astolpas fez um discurso empolado em que através dos elogios tecidos ao genro conseguiu evidenciar a sua própria importância. astolpas falou muito… astolpas: …e eu orgulho-me da herança que me foi deixada porque somos nós que fazemos viver os povos e os 37 v iriato • FdC reinos. viriato: ouvistes astoplas e haveis compreendido que ele é rico em bens e amigos… demasiados amigos. entre eles, contam-se mesmo os opressores do seu povo. isso faz-me lembrar uma história: havia um homem, já de meiaidade, que casou com duas mulheres. a mais nova, desejando tê-lo semelhante a si, arrancava-lhe os cabelos brancos; a mais velha, os pretos; e o homem ficou careca. CheFe de Cerimónias: o banquete está pronto. viriato: para mim, o casamento está feito. [para hoste] a encontramo-nos no acampamento. [a hoste Faz a saudação militar. viriato sai Com tangina a Cavalo] CheFe de Cerimónias: Bom, não vamos ficar a olhar para a comida… [Fim intervalo] musiCa K. BanQuete de Casamento. 38 v iriato • FdC 12. oráculo [iníCio musiCa K. saCerdotizas entram em proCissão Com arChotes. um animal É ColoCado em Cima da ara Com gestos rituais] primeira saCerdotiza: a senhora do altar vai pronuciar os oráculos para o novo ano. segunda saCerdotiza: os deuses esperam o sacrifício, o rito deve ser cumprido. Cróvia: senhor endovélico, aceita a oferenda da tua serva e dá-lhe a tua bênção. [imola derrama-se pela ara] o animal. o sangue lusitanos, vós desafiais o rio do destino. porque sois apaixonados, os deuses estão agradados convosco. mas mesmo a maior paixão arde até às cinzas e extingue-se. e as cinzas são sopradas pelo vento e nada mais resta. à vossa frente o caminho é longo. há vitórias e derrotas, alegria e sangue, traição e glória. a águia está ferida mas este é o tempo do seu domínio. não façam perguntas sobre o vosso destino. os deuses disseram o que podiam ouvir. agor é tempo de combater. v iriato • FdC 13. rei tongio: [Com uma toCha] lembras-te de quando falaste da necessidade de dar um rei aos lusitanos? viriato: sim, mas isso era um desabafo. há muitos reis e chefes na lusitânia. tongio: Bem sei. tu falaste num rei que os comandasse na guerra e respondesse por todos perante os deuses. Quando te afastaste, t´áutalo resmungou -táutalo resmunga sempre, como sabes- que só te aceitaria a ti como rei… o que quero dizer é isto: estou certo de que muitos outros chefes pensam da mesma forma. viriato: talvez. mas eu não tenho essa ambição, tongio. o que quero é unir os lusitanos e os outros povos contra roma. tongio: uma coisa depende da outra. viriato: não é um exército que faz um rei. eu faço o que tenho de fazer. se os deuses quiserem que eu seja rei, darão um sinal. tongio: mas… viriato: ouve. vamos continuar a espalhar a revolta por toda a ibéria. depois logo se vê. a senhora do altar não 39 40 v iriato • FdC disse que o homem do touro seria coroado… [sai sorrindo para mostrar Que não está zangado] e agora, boa noite. tongio: [nas Costas de viriato] mas a senhora do altar também não disse o contrário! [Fim musiCa l] v iriato • FdC 14. serviliano [Chega um Cavaleiro, magon, Que Fala Com viriato] viriato: [ordenando] Conselho de guerra! [iníCio musiCa m. É ateada uma Fogueira. os estandartes aCendem toChas. o Conselho reune-se] o senado romano enviou para a ibéria um novo exército. táutalo: mais um! viriato: parece que começaram a levar-nos a sério. Foinos concedida a “distinção” de um exército consular. táutalo: distinção? viriato: o Comandante é um consul e isso significa muitas legiões. [pausa] este homem chama-se magon e é de erisane. Cavalgou vinte dias para nos trazer notícias— e isto. tongio: [reCeBendo-o de viriato] um rolo de papiro. magon: apanhámos um mensageiro de roma que trazia aquela mensagem. [sorrindo] não há perigo que vá fazer queixas. não ficou em estado de falar. nem de respirar. t ongio : [lê o papiro ] está assinado pelo cônsul serviliano, o novo governador da hispânia. Contém ins- 41 42 v iriato • FdC truções destinadas ao questor de metelo em Corduba para fornecer aquartelamento e alimentação ao novo exército consular: mil e seiscentos cavaleiros e [impressionado] dezoito legionários. magon: Quando saí de erisane o exército romano já tinha começado a cercar a nossa cidade. Consegui passar mesmo à justa. táutalo: vamos dar-lhe batalha campal. viriato: Com seis mil guerreiros? Que já vão no quinto ano de guerra? esse era o melhor presente que lhe podiamos dar. táutalo: Bem, não vamos a ficar a chorar como velhas medrosas. sou capaz de jurar que o Comandante já pensou em tudo! viriato: a tua fé comove-me. temos de nos deixar cercar. audax: mas tu és doido! viriato: oiçam. serviliano não quer destruir erisane. Quer tirar-nos a nossa base de operações e ficar com uma para ele. se conseguirmos entrar em erisane sem que os romanos dêem por isso, podemos fazer como quando estivemos cercados pelo Caio vetílio. dois mil cavaleiros vêem comigo para dentro da cidade. os outros, comandados por táutalo, ficam emboscados à espera que nós lhes levemos as legiões de serviliano de v iriato • FdC bandeja. Quase vinte mil legionários. táutalo, vais ter trabalho para umas horas. táutalo: Já aí vêem? viriato: ordem de partida imediata. não montamos tendas durante a noite. não fazemos fogueiras durante a viagem. rapidez máxima. silêncio total. [Fim musiCa m. apagam-se os Fogos] tongio velho: [aCende uma lamparina] Quando a hoste se aproximou de erisane, táutalo tomou posição no cimo dum vale apertado, um local ideal para a emboscada. viriato esperou pela calada da noite e avançou em silêncio para dentro da cidade. [a hoste passa em silênCio, Com os Cavalos pelas rÉdeas e entram para dentro de erisane] de manhã, viriato, de cabeça descoberta, esta- va no alto da muralha a observar o inimigo como se esperasse alguma coisa. Quando colocou o capacete a hoste atacou. [Fim musiCa n. gritos de ataQue. os Cavaleiros lusitanos entram a galope] Quando os romanos per- ceberam que era a hoste de viriato que atacava, e que julgavam muito longe dali, entraram em pânico. serviliano perdeu totalmente o controlo dos seus homens e estes foram varridos até ao vale onde se encontrava o resto do nosso exército; aí, táutalo cumpriu a sua missão. [aCendem-se toChas] à tarde, quando o Comandante orde- nou uma pausa no combate, as poucas centenas de legionários que não tinham morrido ou fugido estavam concentradas no fundo do vale, em redor do cônsul. mas não havia saída. serviliano estava virtualmente em nosso poder. [Fim musiCa n] 43 44 v iriato • FdC 15. amigo do povo romano [iníCio musiCa o. todos se Juntam à mesa. os estandartes trazem toChas] viriato: meus amigos, a situação é esta: o cônsul está ali, à nossa mercê. podemos trucidá-lo com o resto dos seus homens, pedir um resgate, usá-lo como refém ou… audax: …ou decepar-lhe a mão. viriato: ou oferecer-lhe a liberdade. táutalo: para quê? viriato: Com o auxílio e a protecção dos deuses, temos conseguido vencer os exércitos romanos. mas quantos mais virão? estamos a lutar contra a cidade mais poderosa do mundo! não podemos continuar a combater exército atrás de exército. [Chegam ditalCo, minuro e outros Cavaleiros lusita- nos Que aCompanham serviliano e os seus aCompanhantes] serviliano: sou Quinto Fábio máximo serviliano. Quais são as tuas condições? viriato: eu sou viriato, filho de Comínio. romano, v iriato • FdC entrastre nas nossas terras como invasor. venci-te. mas não quero a tua vida. Quero a liberdade do meu povo. estou disposto a deixar-te partir. serviliano: volto a perguntar quais são as tuas condições. viriato: exijo que roma assine um tratado de paz com a lusitânia. exijo que roma reconheça a liberdade dos reis e chefes meus aliados. exijo que roma me conceda o título de amigo do povo romano. serviliano: deves saber que o título de ‘amigo do povo romano’ só é concedido por roma a um rei aliado… viriato: sei. serviliano: aceito as tuas condições, mas segundo as nossas leis, o tratado só é válido quando o senado o aprovar em roma. pela minha parte, juro pelos deuses do Capitólio que tudo farei para que seja aprovado. mas terás de confiar na minha palavra. viriato: [depois de um Breve silênCio] Confiarei. [serviliano saúda viriato e sai Com os aCompanhantes. vozearia lusitana de FesteJo] meus amigos, ainda é cedo para festejar. audax: e se serviliano mentiu para escapar vivo? tongio velho: dois meses depois, chegou um mensageiro saudando viriato como ‘amicus populi romani’. o 45 46 v iriato • FdC senado ratificara o tratado e a paz fora conquistada [Fim musiCa o. iníCio musiCa p. entram astolpas, tangina e aias, Que se assoCiam aos lusitanos. as toChas dos estandartes aCendem os Fogos dos tripÉs] devolver a espada à bainha, dormir de um sono completo sem receio de ataques noturnos, montar a cavalo pela manhã só para ir à caça -e pensar em arranjar uma mulher que me desse filhos… a paz teve para mim o gosto de uma bebida fresca depois de um dia quente e seco. amei-a sem moderação. táutalo: Claro, um guerreiro gosta de paz… mas de vez em quando, com moderação. tongio velho: no final desse ano serviliano terminou o mandato na ibéria e foi substituído pelo seu próprio irmão, o procônsul Quinto servílio Cepião. e eu pensei: tongio: esta é a última garantia que nos faltava! tongio velho: e regozijámo-nos. [Fim musiCa p] v iriato • FdC 16. roma viola tratado tongio velho: [iníCio musiCa Q] sim. regozijámo-nos como crianças que vêem chegar o lobo e julgam que ele é o cão de guarda. Cepião não perdeu tempo a ocultar as suas intenções. os emissários que viriato lhe enviou com mensagens de paz e amizade voltaram com uma declaração de guerra. ditalCo: o senado e o povo de roma declararam guerra aos lusitanos para vingar as afrontas recebidas. viriato: o mundo está a ser dominado por um povo de feras! minuro: o prócônsul exige que tu prescindas do título de amigo do povo romano e que astolpas pague um tributo equivalente a todos os recursos que pôs à tua disposição desde que casaste com tangina. audax: as condições são razoáveis. em favor da paz, voto pela rendição. táutalo: nunca! somos guerreiros. rendermo-nos é desistirmos de tudo pelo que lutámos todos estes anos: a liberdade da lusitânia. prefiro morrer a lutar. audax: um guerreiro deve saber recuar. 47 48 v iriato • FdC viriato: por mim prescindo, com muito gosto, do título de amigo do povo romano. astolpas, que pensas fazer? astolpas: não sei quantos recursos gastei com isto. nunca fiz contas. eu não queria esta guerra. Julgava que manter boas relações com todos era uma boa forma de vida. mas viriato explicou-me porque é que eu já tenho pouco cabelo. Bem ou mal, tomei o seu partido. e agora eles querem um tributo equivalente. não me importava de ficar careca. mas isso significa que a lusitânia deixa de ter recursos. audax: se não pagares o tributo, Cepião massacrará todos os lusitanos. astolpas: tens razão. irónico dilema. [amargo] Finalmente a lusitânia depende de mim. se eu não existisse… audax: mas existes! astolpas: por enquanto. [estende-lhe vinho] a sua taça de tangina, mata-me. tangina: pai!? astolpas: o que é que esperavas? Que fosse eu a tirarte o anel? [graCeJando] Quero ter o gosto de te obrigar, por uma vez, a fazer uma coisa que eu mande. [muda de tom] não defendias tu a liberdade para o teu povo? não estavas disposta a todos os excessos? mata o teu pai! v iriato • FdC viriato: astolpas, tem de haver outra solução. astolpas: não há. a única forma de eu não pagar o tributo a Cepião e de ele não ter desculpa de continuar a guerra é eu morrer. eu estou disposto a isso. e tenho o direito de escolher a minha morte. não quero morrer às mãos de mais ninguém. tangina, mata-me! [tangina deita o veneno do anel na taça de astolpas. este, depois de BeBer, deixa-a Cair e tangina e as aias amparam-no e saem] viriato: ditalco, minuro, voltem a Cepião. digam-lhe que viriato prescinde do título de amigo do povo romano e que astolpas morreu. audax: eu vou com os meus homens. É preciso garantir a paz mesmo sem o tributo de astolpas. [saem a Cavalo. Fim da musiCa Q] 49 50 v iriato • FdC 17. traição tongio velho: [iníCio da musiCa r] os dias passaram com uma lentidnão enervante. Finalmente audax, minuro, e ditalco regressaram. audax: [Chegando Com os Companheiros e dirigindo-se a viriato Com ar Festivo] viriato, trago boas novas. o procônsul aceitou a paz. viriato: muito bem, a desmobilização começa amanhã. Boa noite a todos. [todos desmontam o aCampamento, apagam os Fogos e saem] tongio velho: [enQuanto todos se vão preparando para dormir] esta última noite não foi alegre tinhamos a vida e a honra salvas, mas uma derrota é sempre uma derrota e o grande projecto acabava em nada, ao cabo de sete anos de guerra. o meu sono foi agitado. [esCuro total. mudança de tom] passados tantos anos ainda preciso de fazer um esforço para vencer a repugnância que sinto ao lembrar isto; e a minha mão hesita. [pausa] mas tenho de o escrever. [muda de tom] acordei com um grito. táutalo: traição! tongio: pelos deuses, táutalo! o que aconteceu? v iriato • FdC táutalo: o Comandante foi morto! ninguém sai do acampamento! matem o primeiro que tentar sair! tongio velho: Foi tarde. audax, ditalco e minuro já tinham desaparecido. [Fim da musiCa r. ilumina-se a paliçada. Cepião espera. audax, ditalCo e minuro aproximam-se] audax: Cepião, cumpri o combinado. viriato está morto. deves-me o título de amigo do povo romano. Cepião: roma não paga a traidores! [iníCio musiCa s. apaga-se a paliçada. Fim musiCa s] tongio velho: restou-nos cumprir os ritos fúnebres de viriato. [Fim musiCa t. aCende-se uma gigantesCa pira e, em redor, muitas outras Fogueiras. Fim musiCa t] 51 52 v iriato • FdC 18. rescaldo tongio velho: [iníCio musiCa u] a ibéria estremeceu de pânico e revolta. engrossada com bandos vindos de toda a lusitânia, a hoste reuniu-se em assembleia para eleger um sucessor. a escolha recaiu em táutalo, que recebeu as vírias de ouro. o novo comandante recolheuse durante um dia e quando voltou ao acampamento as trompas soaram por sua ordem. táutalo: os lusitanos retomam a guerra. vamos atacar Cepião. tongio velho: a expedição fracassou. arduno ficou ferido e cavalgou durante quatro dias sem se tratar. arduno: [Chega a Cavalo] acabou tudo, tongio. o nosso mundo vai acabar. roma vai dominar a ibéria. Cada homem tem o seu destino e o meu termina aqui. [Cai Cavalo e, aJudado por tongio, enCosta-se] do tongio, quero pedir-te um favor. tongio: não, não penses nisso. arduno: isto dói, tongio. não quero ter dores. e não consigo sozinho. Que amigo és tu se recusas ajudar-me? tongio: [a espada treme] vira a cara para o lado. não consigo fazer o que queres se estiveres a olhar para mim. v iriato • FdC arduno: [graCeJando] desde quando um guerreiro tem delicadezas dessas? usa a espada e acaba com isto, mas não me peças para virar a cara. ao menos, vejo uma cara amiga… [súpliCa urgente] tongio! tongio: [apoia em arduno a lâmina] adeus, arduno. [agarra o punho da espada Com as duas mãos e apliCa toda a Força. arduno dá uma espÉCie de soluço e morre. tongio vai ter Com táutalo] arduno morreu. táutalo: [sem desviar a CaBeça] antes assim; para ele, acabaram os problemas… não consigo imaginar arduno como súbdito de roma. tongio: É verdade, então? táutalo: Finalmente a paz… mas a paz romana. tongio: assim o quiseram os deuses, os tempos e os homens. táutalo: não digas palavras bonitas, tongio. só aceitei a minha eleição para Comandante porque era preciso vingar viriato e mostrar a Cepião que ainda podia ser incomodado. Consegui as duas coisas e dou-me por satisfeito; é o melhor que qualquer Comandante podia esperar. excepto viriato. tongio: [sorrindo] Como todos nós, tu mudaste muito. em vez de um Comandante impulsivo, vejo agora um homem prudente… 53 54 v iriato • FdC táutalo: [sorrindo] e pouco brilhante. e tu? vens connosco? tongio: [respirando Fundo antes de responder] não tenho vocação para agricultor. nem sei bem, afinal, qual é a minha vocação… vou à procura dela. táutalo: Quanto partes? tongio: imediatamente. não quero assistir ao desmantelar da hoste. há pouco, tive de ajudar arduno a morrer. isso chega-me, por hoje e para os próximos tempos. [separam-se se se despedirem. tongio dirige-se a tongio velho. táutalo sai. Fim musiCa u] v iriato • FdC epílogo tongio velho: [iníCio musiCa v] lancei-me numa longa jornada, ao sabor do acaso. rumei para norte, onde os povos ainda se mobilizavam para a guerra. olhei-os como se fossem já fantasmas, homens condenados a morrer. abandonei-me ao lento desfiar dos dias. até que o meu destino se cumpriu: quando visitei o santuário de endovélico, o sacerdote tinha morrido um mês antes. o deus indicou-me como seu novo guardião. aqui fiquei, portanto. o nosso mundo acabou… mas alguma coisa subsistirá: esta história, para que o futuro não apague da memória, os homens que ofereceram o seu sangue pela liberdade. amanhã é outro dia. e não me perturba a certeza de que, muito em breve, um dos amanhãs será o último. [Fim musiCa v. apaga a sua lamparina. muitas parinas surgem no horizonte. gaita de Foles. Fim] lam- 55 56 v iriato • FdC viriato baseado em “a voz dos deuses” de João aguiar estreia em 13 de agosto de 1999 no Castelo de almourol no âmbito da Festa do rio e das aldeias 99 carreira de 22 de agosto a 19 de setembro de 1999 nas ruínas de Conimbriga no âmbito dos encontros de teatro de tema Clássico de Conimbriga, aeminium e sellium reposição entre 18 de Junho e 10 de setembro de 2000 no Castelo de almourol realização Fatias de Cá - teatro produção Fatias de Cá - Barquinha versão Carlos Carvalheiro, Filomena oliveira Consultores dramatúrgicos adília alarcão, João aguiar encenação Carlos Carvalheiro assistência de encenação ana paula eusébio, Filomena oliveira música Carlos dâmaso Coreografia ana paula eusébio assistência de Coreografia gabriela de azevedo, Joana Jacob, maria João Bastos direcção Financeira antónio aparício secretariado gabriela de azevedo adereços ricardo assis ana de Carvalho, Bruno guerra, marta vieira v iriato • FdC Cartaz Jorge Bilreiro - mBv design guarda roupa idália aparício laura lopes, paula duarte, susana matos espaço Cénico antónio aparício alexandra pinto, Fernando pinto, João martins, Jorge pinto, nuno ribeiro, pedro laurentino, sara silva técnica paulo moura Carlos dâmaso, Filipe lopes, Filomena oliveira, marina Branco, pedro laurentino, ricardo santos gravação audio Carlos dâmaso professor de equitação Fernando pinto instrutores de artes marciais João lopes, José manuel laranjeira, ricardo assis direcção de Cena Filomena oliveira gabriela de azevedo, Joana Jacob, José manuel laranjeira interpretação (por ordem de entrada) gaita de Foles: Carlos dâmaso tongio velho: humberto machado galBa, pretor romano: luis Ferreira estandarte romano: alexandra pinto trompa romana: sara silva legionários: Fernando gilberto, luis Ferreira, luis martins, João lopes, José manuel laranjeira, manuel João laurentino, ricardo assis tongio, secretário de viriato: Filipe seixas Beduno, escravo de tongio: José manuel laranjeira Camalo, tio de tongio: Fernando gilberto, luis martins Camala, mãe de tongio: isabel passarito loBessa, escrava de tongio: maria João anjos viriato, Comandante dos lusitanos: Carlos Carvalheiro arduno, Companheiro de viriato: Fernando pinto tangina, noiva de viriato: ana paula eusébio aias de tangina: laura lopes, manuela vieira astolpas, sogro de viriato: antónio aparício 57 58 v iriato • FdC mulheres lusitanas: alexandra santos, amélia laurentino, esmeralda Brunido, Filomena oliveira, gabriela de azevedo, idália aparício, inês martins, isabel Castelão, isabel silva, Joana Jacob, maria antónia Coelho, maria João anjos, maria João Bastos, mariana aparício, marta vieira, patrícia senra, paula duarte, susana matos, vera Costa, vera galrinho audax, rei de urso: paulo moura ditalCo, estandarte de audax: Bruno guerra minuro, escudeiro de audax: pedro marques táutalo, príncipe de Conimbriga: luis mourão estandarte de táutalo: João pereira esCudeiro de táutalo: João oliveira Cúrio, Chefe lusitano: antónio oliveira estandarte de Cúrio: ricardo zeferino esCudeiro de Cúrio: leandro miguel apuleio, Chefe lusitano: João serôdio estandarte de apuleio: Jorge pinto Companheiro de apuleio: pedro diamantino esCudeiro de apuleio: João martins Crisso, Chefe lusitano: antónio lopes estandarte de Crisso: adriano ramos esCudeiro de Crisso: pedro aparício artínio, Chefe lusitano: antónio pinheiro estandarte de artínio: paulo mendes esCudeiro de artínio: João pinheiro lusitanos: américo gonçalves, david ramos, Fernando gilberto, José manuel laranjeira, luis martins Cavaleiros lusitanos: Bruno Bernardo, guilherme serôdio, inês ramos, José Castelbrabco, pedro silva, ricardo pinto, silvia silva tratadores: alexandra pinto, Carlos mendes, Catarina silva, david ramos, luis silva, sónia pedro Caio vetílio, pretor romano: manuel João laurentino saCerdotizas azuis: Filomena oliveira, gabriela de azevedo, isabel silva, maria João Bastos, maria antónia Coelho, marta vieira, paula duarte, susana matos, vera Costa Cróvia, a senhora do altar: Joana Jacob CheFe de Cerimónias: João piçarra saCerdotizas BranCas: alexandra santos, amélia laurentino, esmeralda Brunido, idália aparício, inês martins, isabel Castelão, isabel passarito, maria João anjos, mariana aparício, patrícia senra, vera galrinho magon, mensageiro de erisane: américo gonçalves serviliano, Consul romano: ricardo assis Cepião, próconsul romano: João lopes Catering José nunes nely, teresa graça Banquete v iriato • FdC José nunes henrique gomes, João Bauneta, João piçarra, luis Cavalheiro, manuel parreira, nely, teresa graça promoção Fátima Castro Fernando gilberto, isabel passarito, isabel silva, João lopes, luis martins, maria João anjos, patrícia senra relações públicas e Bilheteira Fátima Castro Conceição valido, Fernando gilberto, José Costa, lurdes godinho, manuel Carvalheiro, sebastião maurício apoios Câmara municipal da Barquinha, Cp-Caminhos de Ferro portugueses, escola prática de engenharia de tancos, governo Civil de santarém, inatel, ipJ santarém, mundo de aventura, museu monográfico de Conimbriga agradecimentos isabel silva dias acitofeba, Bombeiros voluntários da Barquinha, da Chamusca e de Condeixa, Câmaras municipais da Chamusca e de tomar, escola superior de educação de Coimbra, liga dos amigos de Conimbriga, manuel mendes aparício, o meu Café (Condeixa-a-velha) proprietários dos Cavalos: Fernando pinto (pardal), hugo gameiro (igual), João Ferreira (BilY), João serôdio (osCar, espanhol), Joaquim Cerejo (guiso), Josué pedro (desertor), luis silva (xiCo), mariana anjos (piCapau) remadores: abílio, João do Carmo, luis gonçalves, patrícia do Carmo, sérgio do Carmo 59 60 v iriato • FdC repertório 1. Fatias de Cá Com nini Ferreira • autores vários, 1979 2. Fatias de Cá no aniversário da naBantina • autores vários, 1979 3. o Con(s)Certo • Karl valentim, 1981 4. gente sÉria • autores vários, 1981 5. hãn? • mario Frati, dario Fo/Franca rame, pitigrilli, 1982 6. a Festa da memória Que É Curta • autores vários, versão Carlos Carvalheiro, 1983 7. o FarmaCêutiCo a Cavalo • a partir de conto de pitigrilli, versão Carlos Carvalheiro, 1983 8. Fatias de Cá Bar É… • autores vários, 1984 9. a menina inês pereira • a partir de gil vicente, versão Carlos Carvalheiro, 1984 10. por trás daQuela Janela • autores vários, versão Carlos Carvalheiro, 1985 11. a Fuga de Wang-Fô • a partir do conto de marguerite Yourcenar, versão Carlos Carvalheiro, 1987 12. hamlet • a partir da peça de William shakespeare e heiner müller, versão Carlos Carvalheiro e graça afonso, 1987; versão Carlos Carvalheiro, 2006 13. homlet • a partir da banda desenhada de gotlib e alexis, versão Carlos Carvalheiro, 1988 14. Queremos aprender teatro (sonho de uma noite de verão • William shakespeare), 1988 15. CróniCa dos Bons malandros • a partir do romance de mário zambujal, versão Carlos Carvalheiro, 1986 16. a sapateira prodigiosa • Frederico garcia lorca, 1990 17. Carmen • a partir da ópera de mérimée e Bizet, versão ana paula eusébio, 1990 18. a Fera amansada • William shakespeare, 1990 19. a ComÉdia da marmita • a partir da peça de plauto, versão Carlos Carvalheiro, 1991 20. a Flauta mágiCa • a partir da ópera de mozart e shikaneder e do romance de marion z. Bradley, versão Carlos Carvalheiro, 1991 21. timor • autores vários, versão Carlos Carvalheiro, 1991 22. a menina Feia • a partir da peça de manuel Frederico pressler, versão Carlos Carvalheiro, 1992 23. ConFusões • alan ayckbourn, 1994 24. a Comissão de Festas • alan ayckbourn, 1995 25. as ligações perigosas • a partir do romance de Choderlos de laclos e da peça de heiner müller e com os contributos da peça de Cristopher hampton e do filme de milos Forman com argumento de Jean Carrière, versão Carlos Carvalheiro, 1996 26. tanegashima • a partir das narrativas de Fernão mendes pinto e nampo Bunshi, versão Carlos Carvalheiro e isabel passarito 1997, tanegashima-hoi! • autores vários, 1998 27. xanana gusmão - liBerdade, liBerdade ! • autores vários, versão Carlos Carvalheiro, 1997 28. t de lempiCKa • John Krizanc, 1998 29. as árvores morrem de pÉ • a partir da peça de alejandro Casona, versão Carlos Carvalheiro, 1999 v iriato • FdC 30. tannhäuser • Carlos Carvalheiro a partir da ópera de richard Wagner e dos romances de peter Berling, gabriela morais e dos contributos de isabel passarito, 1999; tannhäuser - o tesouro dos templários • Carlos Carvalheiro, 2003; o tesouro dos templários • Carlos Carvalheiro, 2007 31. viriato • a partir do romance “a voz dos deuses” de João aguiar, versão Carlos Carvalheiro e Filomena oliveira, 1999 32. sonho de uma noite de verão • a partir da peça de William shakespeare, versão Carlos Carvalheiro, 2000 33. Corto maltese - ConCerto em o’menor para harpa e nitrogliCerina • a partir da banda desenhada de hugo pratt, versão Carlos Carvalheiro, 2001 34. a tempestade • a partir da peça de William shakespeare, versão Carlos Carvalheiro, 2001 35. astÉrix no CriptopórtiCo • a partir da banda desenhada de goscinny e uderso, versão Carlos Carvalheiro, 2002 36. alCaCer KiBir • Carlos Carvalheiro, 2002 37. inês • a partir do romance “inês de portugal” de João aguiar, versão Carlos Carvalheiro, 2003 38. diálogo das Compensadas • a partir do romance de João aguiar, versão Carlos Carvalheiro, 2003 39. a morte do lidador • a partir da narrativa de alexandre herculano, versão Carlos Carvalheiro, 2004 40. rapariga Com BrinCo de pÉrola • a partir do romance de tracy Chevalier, versão Carlos Carvalheiro, 2004 41. o nome da rosa • a partir do romance de umberto eco, versão Carlos Carvalheiro, 2004 42. a Festa de BaBette • a partir do conto de Karen Blixen, versão Carlos Carvalheiro, 2005 43. o eQuador passa em s. tomÉ e prínCipe • Carlos Carvalheiro e ana de Carvalho, 2005 44. tomar em revista • Carlos Carvalheiro, 2006 45. as pegadas dos dragões • a partir de ursula le guin, versão Carlos Carvalheiro, 2006 46. o perFume • a partir do romance de patrick süskind, versão Carlos Carvalheiro, 2007 61