reencarnação do herói com o mesmo nome que morrera na batalha

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IDENTIDADE NACIONAL
ENTRE O DISCURSO E A PRÁTICA
reencarnação do herói com o mesmo nome que morrera na batalha de Canas, depois
de uma campanha gloriosa contra Roma. Ele assume a dupla dimensão de herói
libertador mas também fundador, já que, por um lado, resiste ao jugo estrangeiro
mas, por outro, representa a época e os símbolos fundacionais de Portugal.
Assim, na sua primeira aparição, Viriato pede resistência e obediência aos lusitanos, que escutam a sua voz “com uma vibração sobre-humana, que denunciava uma
absoluta confiança em si”, reencarnando um herói passado:
Quem aqui se recordar do nome ‘Ouriato’, daquele (…) que andou de cidade em cidade proclamando a insurreição, a guerra santa e a vindicta contra o invasor estrangeiro, contra a ocupação dos Romanos, reconhecerá que é homem decidido que vos
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oferece a salvação e talvez a vitória .
O mito sebástico ganhava terreno, aumentava a expectativa da chegada do salvador:
À maneira que o nome de Ouriato ia ressoando na calada da noite, também na reminiscência da soldadesca se acordava a vaga relação com o nome glorioso de um
valente lusitano, que em tempos remotos acompanhando Aníbal, fora combater os
romanos até á própria Itália. Esse ainda lembrado VIRIATO, que no seu ódio transpusera os Pirinéus e os Alpes, dizem que morrera na batalha de Canas; mas o seu ódio
não morreu, é redivivo. E porventura não será Viriato o que agora reaparece na figura do maioral da mesta, do valente Ouriato? Como ele, é um salvador que ressurge,
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um vingador da liberdade da Lusitânia?
O endre Idevor sacraliza a acção de Viriato, libertador do seu país:
Se procurarmos o sentido místico que se contém no nome de Viriato, vamos encontrar
a palavra cítica ‘vrindus’, que designa o touro, o totem da nossa antiga raça e civilização dos Lígures, a relação com a valentia e a sua missão religiosa do combate libertador. (…)
Inspiraste confiança! As populações seguem-te, porque vêem em ti o restaurador da
independência, da liberdade e do futuro glorioso da Lusitânia. A nossa Lusitânia é
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imperecível .
Neste cenário, a política é sacralizada e a religião serve objectivos civis já que,
após a degeneração da religião druídica, ainda se conservava “um apagado vestígio
cultual, não como doutrina teológica, mas como vínculo secreto que unificava as
vontades do ideal político da libertação da Lusitânia”. Assim, a própria união matrimonial de Viriato – que, aliás, não chega a realizar-se – com uma mulher que apenas
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BRAGA, [1904] 2008: 26.
BRAGA, [1904] 2008: 27-28.
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BRAGA, [1904] 2008: 38, 51.
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