Avaliação do Consumo de Medicamentos Psicotrópicos no

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ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM VIGILÂNCIA SANITÁRIA
DANIELA MARIA CAVALCANTE SILVA
AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE MEDICAMENTOS PSICOTRÓPICOS
NO MUNICÍPIO DE PACATUBA
FORTALEZA
2009
1
DANIELA MARIA CAVALCANTE SILVA
AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE MEDICAMENTOS PSICOTRÓPICOS
NO MUNICÍPIO DE PACATUBA
Monografia submetida à Escola de Saúde
Pública do Ceará, como parte dos requisitos
para obtenção do título de Especialista em
Vigilância Sanitária.
Orientadora:
Ana Cláudia de Araújo Teixeira
FORTALEZA
2009
2
DANIELA MARIA CAVALCANTE SILVA
AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE MEDICAMENTOS PSICOTRÓPICOS
NO MUNICÍPIO DE PACATUBA
Especialização em Vigilância Sanitária
Escola de Saúde Pública do Ceará
Aprovada em:___/____/_____
Banca Examinadora:
Ana Cláudia de Araújo Teixeira
Doutora
________________________________________
Laécia Gretha Amorim Gomes
Mestre
________________________________________
Sabrina Menezes da Frota
Mestre
_________________________________________
3
Aos meus pais, pelo fantástico apoio para realização desse trabalho, pois sempre foram os
maiores incentivadores aos meus estudos, não mediram esforços pela minha formação
educacional e moral. Pessoas a quem devo admiração, respeito, carinho, amor e extrema
gratidão.
4
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, por iluminar meus caminhos e por mais uma vitória atingida.
A minha orientadora Ana Cláudia de Araújo Teixeira pela valiosa contribuição para
realização desse trabalho.
Aos coordenadores Alice Maria Correia Pequeno Marinho e Norival Ferreira dos Santos pelo
incondicional apoio e compreensão.
Ao profissional Bibliotecário e amigo João Araújo Santiago Martins, pela atenção e ajuda.
A minha amiga Audair Tavares, pela enorme força.
Ao Dr. Ciro Memória, profissional e amigo, que colaborou de forma brilhante para a
concretização desse sonho.
A todos amigos e familiares pela carinhosa torcida.
5
RESUMO
O uso excessivo e indiscriminado dos psicotrópicos tem sido considerado um grave problema
por profissionais e autoridades sanitárias devido aos sérios prejuízos que esta prática causa à
saúde das populações. O presente trabalho tem como objetivo determinar a magnitude do
consumo de medicamentos psicotrópicos entre os clientes atendidos na Farmácia Pública e
drogarias privadas do município de Pacatuba-CE. Além de pesquisa bibliográfica considerase, também, a pesquisa de campo quantitativa cujo instrumento de pesquisa utilizado foi um
questionário semi-estruturado, no período de 01 de outubro a 30 de outubro de 2005, em que
foram entrevistadas 80 usuários de 02 drogarias privadas e 01 farmácia pública abordando as
seguintes variáveis : características sócio-demográficas, comportamento diante do tratamento,
aspectos da utilização do medicamento, as especialidades médicas dos prescritores e as
possíveis causas que levam ao consumo. Observa-se que o consumo aumentou com a idade,
atingindo nível máximo na faixa etária entre 41 e 60 anos. Sendo o consumo maior entre
aqueles de baixo nível de escolaridade, baixo nível sócio-econômico e entre donas de casa,
não excetuando os profissionais da saúde que são dependentes de substâncias psicoativas.
Vale ressaltar, que muitos usuários são motivados ao uso de psicotrópicos a partir da resposta
prazerosa produzida pelas substâncias psicoativas caracterizadas por sentimento de euforia e
momentânea satisfação emocional e se tornam dependentes na busca de renovação dessas
sensações.
Palavras-chaves: medicamentos psicotrópicos
6
ABSTRACT
The excessive and indiscriminate use of psychotropic drugs has been considered a serious
problem for professionals and health authorities due to the serious damage that this practice
causes to the health of populations. This study aims to determine the magnitude of the
consumption of psychotropic drugs among the clients served in the Pharmacy Service and
private pharmacies in the city of Manilla-EC. In the literature it is considered also the field
research which quantitative research instrument used was a semi-structured questionnaire,
from 01 October to 30 October 2005, in which 80 users were interviewed in 02 private
pharmacies 01 pharmacy and public addressing the following variables: socio-demographic
characteristics, behavior on the treatment aspects of the use of medicine, medical specialties
of physicians and the possible causes that lead to consumption. It is observed that the
consumption increased with age, reaching a maximum between the ages of 41 and 60 years.
Since consumption greater among those of low education, low socioeconomic status and
among housewives, not excepting the health professionals who are dependent on psychoactive
substances. It is worth noting that many users are motivated by the use of psychotropic drugs
from the pleasurable response produced by psychoactive substances characterized by feelings
of euphoria and momentary emotional satisfaction and become dependent on the search for
renewal of those feelings.
Psychotropic drugs
7
LISTA DE TABELAS E FÍGURAS
Tabela 1 Características sócio-demográficas dos usuários entrevistados. Farmácia
Pública e drogarias privadas, Pacatuba-CE, em outubro de 2005............................
34
Tabela 2 Distribuição dos usuários, segundo sexo e faixa etária, que freqüentam a
Farmácia pública e drogarias privadas, Pacatuba-CE, em outubro de 2005.............
37
Figura 1 Distribuição dos usuários segundo o sexo e situação conjugal. Farmácia pública
e drogarias privadas Pacatuba – CE, em outubro de 2005.........................................
38
Figura 2 Distribuição dos usuários segundo sexo e Zona de moradia. Farmácia pública e
drogarias privadas, Pacatuba-CE, em outubro de 2005..............................................
38
Figura 3 Distribuição dos usuários segundo sexo e ocupação. Farmácia pública e
drogarias particulares, Pacatuba-CE em outubro de 2005.........................................
39
Figura 4 Distribuição dos usuários por sexo e acompanhamento médico. Farmácia
pública e drogarias privadas, Pacatuba-CE ,em outubro de 2005................................ 40
Tabela 3 Medicação – incidência (%). Farmácia pública e drogarias particulares,
Pacatuba-CE em outubro de 2005..................................................................................... 41
Tabela 4 Distribuição dos usuários conforme sexo e tempo de utilização de psicotrópicos.
Farmácia pública e drogarias privadas, Pacatuba-CE, em outubro de
2005........................................................................................................................................ 41
Tabela 5 Distribuição dos usuários de acordo com os motivos para interrupção do
tratamento e o tempo de utilização. Farmácia Pública e drogarias particulares,
Pacatuba-CE, em outubro de 2005....................................................................................... 42
8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................10
2 OBJETIVOS........................................................................................................................ 12
2. 1 Objetivo Geral .............................................................................................................. 12
2.2 Objetivos Específicos..................................................................................................... 12
3 REVISÃO DA LITERATURA........................................................................................ 13
3.1 Caracterização dos medicamentos psicotrópicos ....................................................... 13
3.2 Uso abusivo de psicotrópicos .......................................................................................
15
3.2.1 Uso abusivo de psicotrópicos na contemporaneidade ..........................................
15
3.2.1 Uso abusivo de psicofármacos em pacientes idosos ..............................................
19
3.2.2 Uso de antidepressivos em pacientes idosos .........................................................
19
3.2.3 Uso de antipsicóticos em pacientes idosos ...........................................................
21
3.2.5 Uso de estabilizadores de humor em pacientes idosos ........................................
21
3.2.6 Uso de benzodiazepínicos em pacientes idosos .....................................................
22
3.2.7 Uso de anticolinérgicos em pacientes idosos ..........................................................
22
3.3 Respostas Comportamentais ao uso abusivo de drogas ............................................ 23
3.4 Abuso e Dependência de Opióides ............................................................................
24
3.4.1 Tratamento aos Opióides ...............................................................................
25
3.4.2 Sintomas de Abstinência ..........................................................................................
25
3.4.3 Reabilitação de Pessoas Dependentes de Opióides .................................................. 27
3.4.4 Manutenção com Metadona .....................................................................................
28
3.5 Programas Livres de Drogas ....................................................................................... 29
4 METODOLOGIA...........................................................................................................
31
4.1 Tipo do Estudo ............................................................................................................ . 31
9
4.2 Local do Estudo ............................................................................................................... 31
4.3 Amostra Estudada ........................................................................................................... 32
4.4 Coleta de Dados ............................................................................................................... 32
4.5 Análise e Interpretação dos Resultados ....................................................................... 33
4.6 Aspectos Éticos .............................................................................................................. 33
5 RESULTADOS e DISCUSSÃO .....................................................................................
34
6 CONCLUSÃO .................................................................................................................
44
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 45
ANEXOS ............................................................................................................................. 48
10
1 INTRODUÇÃO
A presente pesquisa apresenta, inicialmente, uma contextualização dos custos
sociais decorrentes do uso abusivo de drogas, do consumo de medicamentos psicotrópicos e
do tratamento do uso múltiplo dessas drogas no mundo de hoje.
Os aspectos relativos à saúde mental têm sido pauta de grandes discussões e
mudanças nas formas de assistir o conjunto da população acometida por distúrbios de
natureza psíquica. Contudo, algumas medicações psicotrópicas têm sido usadas em grande
escala, por vezes, sem uma indicação terapêutica precisa, como no caso dos
benzodiazepínicos. Uma situação que pode exemplificar, conforme alguns autores
pesquisados está relacionada ao fato de as pessoas experimentarem momentos de ansiedade
diante dos percalços cotidianos, recebendo a indicação para o uso de substâncias psicoativas.
O amplo emprego dos medicamentos, os altos custos que estes representam na
assistência à saúde, a elevada incidência de morbimortalidade atribuída aos medicamentos, a
possibilidade de que boa parte possa ser prevenida ou amenizada a partir da difusão e do uso
racional de medicamentos é um dos grandes desafios para a saúde pública ( BRASIL, 1999).
A Organização Mundial de Saúde – OMS propõe a adoção de Política Nacional
de Medicamentos e, nela, o papel da informação sobre medicamentos como componente
fundamental para a promoção do seu uso racional (OMS, 1990).
A promoção do uso racional de medicamentos passa por um processo educativo
dos usuários ou consumidores acerca de automedicação, da interrupção e da troca da
medicação prescrita, bem como da necessidade da receita médica, para a dispensação quando
for o caso. O profissional prescritor e o profissional responsável pela dispensação devem,
também ser objeto desse procedimento educativo o que deve ocorrer quando do momento de
seu contato inicial com os medicamentos ( BRASIL, 1999).
O uso racional de medicamentos psicotrópicos já há muito ultrapassou a área de
especialidade dos psiquiatras e se transformou num problema de saúde pública. Tem sido
constatado enormes distorções nas prescrições dos diferentes psicotrópicos feitas pelas mais
diferentes especialidades médicas (GRAEFF, 1990).
Os benzodiazepínicos estão entre os fármacos mais prescritos e utilizados em todo
o mundo. São utilizados como ansiolíticos, anticonvulsivantes, relaxantes musculares e
hipnóticos. Todos os benzodiazepínicos induzem esses efeitos em maior ou menor grau,
sendo as diferenças fundamentalmente quantitativas. Na opinião de muitos autores, essas
drogas são atualmente os sedativos-hipnóticos de escolha.
11
Os benzodiazepínicos, no entanto, são considerados drogas relativamente seguras,
mas que apresentam desvantagens tais como dependência. Um de seus representantes, o
diazepam10 mg comprimido, faz parte do elenco de medicamentos considerados essenciais
pela O.M.S., está presente nas unidades de saúde dos municípios, compondo a lista de
medicamentos do programa saúde mental (OMS, 1990).
A utilização indiscriminada das drogas psicotrópicas tem sérias implicações para a
saúde dos usuários, além de muitas vezes desviar os já escassos recursos do orçamento
familiar que poderiam ser destinados a outro fim (OMS, 1990).
O consumo dos medicamentos psicotrópicos, notadamente o diazepam10 mg
comprimido, tem aumentado entre os usuários atendidos na farmácia pública e nas drogarias
privadas do Município de Pacatuba. Isso fez com que a Vigilância Sanitária do Município
investigasse o que provocou esse aumento.
O interesse por essa pesquisa é de relevância, uma vez que o município não
dispõe de dados sobre a magnitude do assunto e, certamente se constituirá numa fonte que
poderá contribuir para discussões e reflexões sobre esse problema médico-social, melhorando
as ações de Vigilância Sanitária e Assistência Farmacêutica; tornando mais humanas as
relações médico-paciente, mais efetiva a política de medicamentos, estimulando a procura e a
valorização de outras alternativas para melhor convivência e um acompanhamento cuidadoso
do tratamento.
A motivação que levou a estudar esse assunto, foi observar a procura constante de
medicamentos psicotrópicos pelos usuários de Pacatuba, e na falta desses medicamentos na
farmácia publica de dispensação gerava neles insatisfação e necessidade de obte-los de
alguma forma, mesmo que depois fossem comprados na drogaria particular
Essa investigação irá reforçar as ações de Vigilância Sanitária para um controle
mais rigoroso, visto que os medicamentos abordados são amparados pela Portaria 344/98,
aqueles sujeitos a controle especial, podendo levar à dependência.
12
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Avaliar a magnitude do consumo de medicamentos psicotrópicos entre os usuários atendidos
na Farmácia Pública e drogarias privadas do Município de Pacatuba, no mês de outubro de
2005.
2.2 Objetivos Específicos
•
Identificar fatores que influenciam ao consumo de medicamentos psicotrópicos na
população estudada;
•
Descrever as características demográficas e sócio-econômicas da população estudada;
•
Identificar as especialidades médicas que prescrevem medicamentos psicotrópicos
dispensados na Farmácia pública e drogarias;
•
Determinar o grau de informação dos entrevistados atendidos na Famácia pública do
Município de Pacatuba, acerca dos medicamentos psicotrópicos;
•
Discriminar os medicamentos psicotrópicos mais utilizados pelos usuários.
13
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1. Caracterização dos medicamentos psicotrópicos
Psicotrópicos ou drogas psicotrópicas são aquelas que agem no Sistema Nervoso
Central (SNC), produzindo alterações de comportamento, humor e cognição, possuindo
grande propriedade reforçadora, sendo, portanto, passíveis de autoadministração. Estas drogas
levam à dependência ( OMS, 1981).
São classificados em: anestésicos, ansiolíticos e hipnóticas, antipsicóticos,
antidepressivos, antiepilépticos, estimulantes psicomotores, drogas alucinógenas e analgésicos
(RANG et al, 2004).
A ação de cada psicotrópico depende: do tipo da droga (estimulante, depressora ou
pertubadora), da via de administração, da quantidade da droga, do tempo e da freqüência de
uso, da qualidade da droga, da absorção e da eliminação da droga pelo organismo, da
associação com outras drogas, do contexto social bem como das condições psicológicas e
físicas do indivíduo (OMS, 1981).
Os benzodiazepínicos constituem como agentes ansiolíticos e hipnóticos mais
importantes para tratar os estados de ansiedade e insônia ( RANG et al, 2004).
No inicío dos anos sessenta,porém, foram introduzidos na terapêutica os
benzodiazepínicos, que por sua grande eficácia, relativa seletividade de efeitos, baixíssima
toxidade e menor capacidade de produzirem dependência, representam um avanço
considerável no tratamento farmacológico da ansiedade, justificando a denominação de
drogas ansiolíticas ( GRAEFF, 1989).
O primeiro composto do grupo dos benzodiazepínicos, o clordiazepóxido, foi
sintetizado por acidente em 1961, com o anel incomum de 7 átomos, tendo sido produzido
como resultado de uma reação não planejada nos laboratórios Hoffman la Roche (RANG et
al, 2004).
Dentre os benzodiazepínicos, destaca-se o diazepam, muito usado ainda hoje, que
é mais potente e de ação mais rápida e duradoura que o clordiazepóxido (GRAEFF, 1989).
Os efeitos mais importantes dos benzodiazepínicos são exercidos sobre o sistema
nervoso central e consistem em : redução da ansiedade e da agressão, sedação, indução do
sono, redução do tônus muscular e coordenação motora, efeito anticonvulsivante e amnésia
anterógrada (RANG et al, 2004).
14
Os benzodiazepínicos exibem efeitos ansiolíticos, drogas mais comumente usadas
no tratamento da ansiedade.Estão entre os fármacos mais prescritos no mundo, embora nos
últimos anos se observe tendência à diminuição no consumo.
Os benzodiazepínicos são os hipnóticos muito utilizados, tendo substituído os
barbitúricos como agentes de primeira escolha porque apresentam maior índice terapêutico e
menor potencial para dependência física. Além disso, não provocam indução enzimática
hepática e produzem um sono mais “fisiológico”, dimuindo a latência do sono e a freqüência
com que a pessoa acorda durante a noite, aumentando a duração do sono total (KATZUNG,
1995).
Os benzodiazepínicos reduzem o tônus muscular por uma ação central, que é
independente do seu efeito sedativo.O tônus muscular aumentado é caracteristica comum dos
estados de ansiedade em seres humanos e pode contribuir para as dores, inclusive cefaléia,
que freqüentemente incomoda os pacientes ansiosos.O efeito relaxante dos benzodiazepínicos
pode, portanto, ser útil clinicamente (RANG et al, 2004).
Os compostos benzodiazepínicos são bem absorvidos quando administrados por
via oral, geralmente atingindo pico de concentração plasmática em aproximadamente uma
hora.Ligam-se fortemente a proteínas plasmáticas e, em função de sua alta lipossolubilidade,
acumulam-se gradualmente na gordura corporal (GRAEFF, 1989)
Os efeitos indesejáveis podem ser divididos em :efeitos tóxicos resultantes de
superdosagem aguda; efeitos indesejáveis no decurso do uso terapêutico normal ,tolerância e
dependência.( RANG et al, 2004).
Os principais efeitos colaterais dos benzodiazepínicos são sonolência, confusão
mental,amnésia e coordenação motora prejudicada, o que afeta consideravelmente as
habilidades manuais, como por exemplo, o desempenho de dirigir (GRAEFF, 1989).
Embora os benzodiazepínicos continuem a ser as drogas de escolha no tratamento
da ansiedade e insônia, seus efeitos farmacológicos incluem sedação e sonolência, depressão
do sistema nervoso central em sinergismo com outras drogas ( especialmente o alcool) e
dependência ao uso continuado(KATZUNG, 1995).
15
3.2 Uso abusivo de psicotrópicos
As propriedades desejáveis percebidas de alívio da ansiedade, euforia, desinibição
e promoção do sono levaram ao uso incorreto compulsivo de algumas drogas psicotrópicas.
As consequências do uso abusivo dessas drogas podem ser definidas em termos tanto
fisiológicos como psicológicos (KATZUNG,1995).
O uso excessivo e indiscriminado dos fármacos, principalmente os dos
psicotrópicos, têm sido considerado um grave problema por profissionais e autoridades
sanitárias devido aos sérios prejuízos que esta prática causa à saúde da população. Sua
utilização deve ser acompanhada, considerando que o conhecimento de seus efeitos no
Sistema Nervoso Central constitui um grande desafio (OMS, 1990).
Muitos países estão se preocupando em compilar dados sobre o consumo de
drogas psicotrópicas em sua população, com o objetivo de traçar políticas públicas no campo
(COTRIM, 1991).
Devido à sua eficácia, baixo risco de intoxicação quando ingeridos isoladamente e
boa aceitação pelos pacientes, o uso dos agentes benzodiazepínicos atingiu níveis muito
elevados nas décadas de sessenta e setenta. Nos Estados Unidos, por exemplo, foram
formuladas cerca de 88 milhões de prescrições médicas de benzodiazepínicos, apenas no ano
de 1975, sendo que as mulheres consumiram mais do dobro do que os homens.(GRAEFF,
1989).
3.2.1 Uso Abusivo de psicotrópicos na contemporaneidade
Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS (1990), a questão do inegável
abuso que nos dias de hoje se verifica no consumo de medicamentos psicotrópicos está a
demandar séria reflexão. É fato notório que, grave problema da automedicação, acresce uma
prescrição excessiva, em especial dos ansiolíticos e dos antidepressivos, por parte dos
médicos. Nessa busca, é importante tomar o caminho da análise da subjetividade
contemporânea e da função do medicamento na cultura atual.
De acordo com Birman (1999), a tendência moderna de construção da
subjetividade em que o Eu se encontra situado em posição privilegiada leva a um
autocentramento do sujeito. A subjetividade, no início da modernidade, tinha como eixos
constitutivos, as noções de interioridade e de introspecção. Sua moral, seus sentimentos e
vivências íntimas definiam o homem.
16
Atualmente, a exterioridade é o valor. Os signos externos, como os bens de
consumo, são os delimitadores do que cada um é. Assim, a subjetividade assume uma
configuração decididamente estetizante, em que o olhar do outro passa a ocupar uma posição
estratégica na economia psíquica do sujeito. Os destinos do desejo assumem uma direção
marcadamente exibicionista e autocentrada. Há, então, uma auto-exaltação desmesurada da
individualidade num mundo de espetacular fosforescência. O que se procura é o
engrandecimento da própria imagem.
Nessa linha, Maia et al (2000), consideram que, a sociedade contemporânea como
a da cultura da imagem, em que o instantâneo e a busca pela satisfação imediata e contínua
dos desejos são os valores predominantes. O imediato é valor que permeia vários aspectos da
cultura e constitui qualidade essencial a qualquer bem a ser consumido. Os sofrimentos, como
a ansiedade, a angústia e a tristeza, que sinalizam circunstâncias e situações humanas e para
elas preparam o homem, são aplacados pela medicação.
Busca-se permanecer no estado de prazer e alegria, ao preço de se eliminar parte
da experiência humana. É como se, socialmente, não se reconhecessem mais a dor e a
frustração como constitutivos do percurso rumo aos ideais de prazer e alegria. Dor e
frustração deixam de ser indicadores dos limites inerentes à experiência daquele sujeito
singular (MAIA, 2000).
Para Maia et al (2000), a temporalidade já não é a mesma. Predomina agora, sob a
ordem do imediato, a exigência de se alcançar, ontem, o modelo ideal. Com essa urgência, o
processo, antes de constituir-se em trajetória para uma meta, é vivido como obstáculo a ser
superado. Experimenta-se, como da ordem do insuportável, o adiamento da satisfação que
seria alcançada ao ser atingido os ideais. Assim, todos os meios para alcançar resultados
favoráveis e imediatos tornam-se válidos.
Ressalta Birman (1999), em suas idéias que, impera, hoje, o apelo emblemático ao
prazer. Um prazer que não se resume apenas à ausência de sofrimento, mas que há de ser
intenso, imediato, não-negociável, como o era na infância. O imperativo é: quero agora, quero
muito, quero tudo, e sempre. O discurso social idolatra a posição de plenitude alcançada sem
muito esforço.
Já não se valoriza a satisfação pequena, ordinária, Estar sempre bem, de bom
humor são os estados de espírito que o discurso atual valoriza. O desejo visa, sempre, à
imediata satisfação, já que seu adiamento apresenta-se intolerável. A publicidade é, a esse
respeito, paradigmática: traz, ao consumidor, promessas de felicidade e de satisfação
17
absolutas. Nas imagens veiculadas, há sempre um sorriso estampado nos rostos, de
plastificada beleza, que vende a proposta de viver um prazer contagiante.
Segundo Birman (1999), a Psicopatologia da Pós-Modernidade caracteriza-se por
um funcionamento psíquico de fracasso na realização e na glorificação do Eu e na estetização
da existência, ou seja, o fracasso em participar da cultura do narcisismo e do espetáculo. Daí a
depressão, a síndrome do pânico, a toxicomania e outros.
Deprimido ou em pânico, o sujeito não mais está apto a exercer o fascínio da
estetização da existência e passa a ser considerado um perdedor, segundo os valores axiais
dessa visão de mundo. Surge, então, a droga, como solução viável. Com seu uso sistemático,
busca-se desesperadamente o acesso à majestade da cultura do espetáculo e ao mundo da
performance.
Para Calligaris (2000), penetra-se, então, no universo das drogas: das drogas
ilícitas ou dos medicamentos prescritos pela psiquiatria; participantes, tanto uma quanto o
outro, do mesmo universo, na medida em que visam a tornar o Eu apto ao exercício da
cidadania do espetáculo. Enquanto as chamadas drogas pesadas têm por fim a exaltação
nirvânica do Eu, inebriando a individualidade para o desempenho na cultura da imagem,
as
drogas
ditas
medicinais pretendem, ao conter angústias e sentimento, capacitar o
indivíduo para as mazelas do narcisismo.
O autor considera que em meio a essas características da contemporaneidade, a
psiquiatria ganhou, há apenas algumas décadas, com o desenvolvimento da psicofarmacologia
e da neurologia, estatuto de ciência. Também deixou de ser uma disciplina voltada
exclusivamente para o tratamento da loucura e passou a tratar dos pequenos mal-estares
cotidianos e da dor-de-existir, com um conseqüente aumento da medicalização das
dificuldades psíquicas e emocionais.
Aos opiáceos sucedeu a cocaína, depois foi a vez dos barbitúricos, logo vieram as
anfetaminas e, enfim, chegaram os ansiolíticos. Nessa sucessão, observa-se uma espécie de
alternância: a uma substância a ser consumida para subir segue-se outra destinada a descer.
Inicialmente, respostas a necessidades médicas, logo são adotadas como corretivo
da banalidade cotidiana. São substâncias que modificam a existência do homem e sua
presença no mundo. Há, portanto, no seu uso, para além de um propósito terapêutico, um
intento hedonista, visto que urge seja o sofrimento banido de qualquer maneira.
Ainda segundo, Calligaris (2000), o sucesso dos antidepressivos na década de 90
não foi fruto de nenhum triunfo da ciência. Antes, é a conseqüência da nova atitude cultural:
18
queremos que nosso sofrimento psíquico deixe de ser um drama subjetivo e passe a ser visto e
vivido como um problema médico.
Conforme autoriza Scliar (1997), aos antidepressivos é pedido que tratem nosso
mal-estar como uma disfunção do corpo; posição que leva a um assujeitamento, ou seja, o
sujeito retira-se de seu sofrimento, que passa a ser um mero distúrbio neurofisiológico.
Instala-se a passividade: a pessoa não se vê como protagonista do seu adoecimento. Há como
que a desistência da dura tarefa de mudar.
Essa padronização pressupõe um discurso médico que imputa às simples causas
orgânicas das dores de existir. E o entusiástico excesso nessa direção é tanto que, no pacote,
incluem-se doenças até ontem consideradas não mais do que traços da personalidade, como o
mau humor e o pessimismo, entre inúmeros outros.
Dentro desse quadro, não é de se estranhar que se tenham tornado estigmatizantes
certos tipos de comportamento e de síndromes, como a depressão, por exemplo. Ela não é
tolerada nem em si mesmo nem nos outros. E não é tolerada porque, sendo os indivíduos, em
nossa sociedade, constantemente instados a tomar decisões, a mover-se, a fazer coisas, a agir,
quem se isola e se recolhe a um canto é criticado, desprezado. Nas sociedades competitivas, o
pólo maníaco é muito mais aceito e, até mesmo, estimulado (CALLIGARIS, 2000).
E prossegue o autor esclarecendo que, é preciso diferenciar a depressão
propriamente dita das baixas do humor normal da vida. Há uma banalização do seu
diagnóstico e qualquer tristeza passa a ser depressão e com necessidade de tratamento.
É grande o número de pessoas que procuram o psiquiatra não porque estejam
doentes, mas porque desejam mudar o seu humor, sua personalidade, seu jeito de ser. Querem
fazer uma maquiagem no seu psiquismo, no seu estado de espírito. O bem de consumo
prometido é um comportamento standart, uma alegria artificial que não dá margem a
alterações de humor, que pode ser percebida ao analisar as propagandas dos laboratórios
farmacêuticos onde há pessoas estonteantes de tanta alegria e vigor. (SCLIAR 1997).
A substância mágica da atualidade – e autorizada – é, então, o antidepressivo, o
que mostra como a depressão é o espectro da modernidade. Mas esse estado humoral nem
sempre foi considerado como doença. Para os filósofos na Grécia Antiga bastava controlá-lo.
A melancolia era uma predisposição que levava a um distúrbio dos humores, um excesso do
que eles chamavam de bile negra, curável por dietas e purgas (CALLIGARIS, 2000).
Conforme Bogochvol (1997), essas substâncias podem fazer com que o sujeito se
afunde de vez, mas com prescrição médica, pois não analisa na profundidade o que se passa
com o sujeito; ou seja, não elimina as causas de seu sofrimento. Também traz uma reflexão
19
crítica dessa situação. O autor explica que existe um novo paradigma e uma nova ordem na
psiquiatria com o desenvolvimento das neurociências. O campo psiquiátrico teria encontrado,
enfim, com as neurociências, suas bases seguras, biológicas e mais que isto, teria se revelado
como intrinsecamente biológico.
Dessa maneira considera-se a Era do Prozac, o Reino dos Neurotransmissores, a
Década do Cérebro. A psiquiatria biológica a partir das neurociências propõe modelos
biológicos para explicar uma gama extensa de fenômenos psiquiátricos e psicológicos:
angústia, fobias, obsessões, depressão, esquizofrenia, farmacodependências, personalidades,
delírios, inteligência, afetos, humor.
Nesse conflito se encontra o homem marcado pela insatisfação e pela infelicidade
em uma busca infindável e infantil da felicidade perdida e jamais reencontrada. Procuram-se
medidas paliativas para aliviar-nos desses sofrimentos e decepções da vida e entre esses
paliativos existem basicamente dois tipos: satisfações substitutivas que diminuem o sofrer e
substâncias tóxicas que as tornem insensíveis a ele (SCLIAR, 1997).
O uso de substâncias químicas que, atuando sobre o Sistema Nervoso Central
(SNC), induzem sensações de prazer intenso ou euforia ou aliviam a ansiedade, a frustração e
a dor (GRAEFF, 1989).
Essa busca se embasa no fato de o sonho do homem ser a conquista da felicidade
que pode ser alcançada pela busca de sensações de prazer ou pela diminuição do sofrimento.
Nesse processo está o princípio de prazer atuando (SCLIAR, 1997).
3.2.2 Uso Abusivo de psicotrópicos em pacientes idosos
A Psicofarmacoterapia é muito importante no tratamento de idosos portadores de
transtornos psiquiátricos. Deve-se proceder com cautela na escolha e manejo de tais
medicamentos nesta população. A preferência deve ser dada a drogas com menos efeitos
colaterais, cujas doses devem ser ajustadas segundo a resposta e a tolerabilidade do paciente
(KATZUNG, 1995).
O indivíduo idoso pode ser portador de quadros psiquiátricos próprios desta faixa
etária, como demências, estados depressivos ou quadros psicóticos de início tardio.Outras
vezes, tratam-se de transtornos iniciados na juventude, cujos portadores atingem a terceira
idade, como esquizofrenia, transtorno afetivo bipolar, distimia e transtornos ansiosos. Todos
implicam em prejuízo, tanto do ponto de vista funcional como em termos de qualidade de
20
vida. Muitos destes transtornos exibem importante melhora mediante tratamento
medicamentoso, isolado ou associado a outras formas de terapia( KATZUNG,1995).
Para o adequado manejo dos psicofármacos em idosos, é fundamental que sejam
consideradas as alterações fisiológicas próprias do envelhecimento, já que a farmacocinética
de praticamente todos os psicotrópicos será afetada por estas mudanças. Ocorre, com a idade,
aumento proporcional da gordura corporal, o que leva a um maior volume de distribuição de
drogas lipofílicas, como os antidepressivos, antipsicóticos e benzodiazepínicos (LIMA, 1995).
Independentemente da classe de drogas em questão, a maioria dos autores
enumera algumas regras básicas apresentadas por Calligaris (2000), a seguir:
•
Preferir, sempre que possível a monoterapia. O idoso, com freqüência, se encontra em
uso de outros medicamentos, como anti-hipertensivos, hipoglicemiantes orais e outros,
sendo altamente susceptíveis às interações medicamentosas.
•
Sempre iniciar o tratamento com a menor dose possível, que deverá ser elevada
paulatinamente, com base na resposta terapêutica e
função
das
na
tolerabilidade.
Em
alterações farmacocinéticas citadas, o idoso apresenta maior
susceptibilidade a efeitos colaterais e boa resposta às doses baixas de medicamentos.
Recomenda-se iniciar com metade a um terço das doses iniciais recomendadas para
adultos jovens.
•
Evitar drogas com acentuado perfil de efeito colateral. É fato que o idoso apresenta
maior
incidência
de
quedas,
parkinsonismo,
discinesia
tardia
e
delirium
medicamentoso, quando comparado com adultos jovens. São também mais sujeitos às
complicações decorrentes desses efeitos colaterais; não usar medicamentos apenas em
função de seus efeitos colaterais, uma vez que tal prática aumenta a chance de
iatrogenia. Seguem algumas peculiaridades sobre o uso dos diversos grupos de
psicotrópicos em idosos.
3.2.3 Uso de antidepressivos em pacientes idosos
As depressões, juntamente com as demências, correspondem aos mais freqüentes
transtornos psiquiátricos encontrados na população idosa. A maioria dos estudos não revela
superioridade entre as diversas drogas no tratamento da depressão em idosos. Dessa forma, a
escolha será fundamentada na boa resposta prévia e no perfil de efeitos colaterais de cada
classe.
21
O tratamento medicamentoso na depressão do idoso requer cuidados adicionais,
pela suscetibilidade dos pacientes aos efeitos adversos dos antidepressivos, já por comorbidade, já pelas interações medicamentosas (KATZUNG, 1995).
Em razão da maior sensibilidade aos efeitos colaterais anticolinérgicos, às
alterações da condução cardíaca e à hipotensão postural, convém evitar o uso de
antidepressivos tricíclicos em idosos. Quando se optar por uma dessas drogas, deve-se dar
preferência à nortriptilina, com atenção ao fenômeno da janela terapêutica. É prudente realizar
o eletrocardiograma antes da introdução de um tricíclico em idosos.
Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina têm sido bastante difundidos
como drogas seguras e eficazes em idosos, devendo ser feitas ressalvas quanto a seu alto custo
e ao risco de interações medicamentosas, particularmente no que se refere à fluoxetina. Devese dar preferência a drogas com menor meia-vida e menos metabólitos ativos, como a
sertralina e o citalopran.
3.2.4 Uso de antipsicóticos em pacientes idosos
Têm sua indicação nos quadros psicóticos de início tardio e nos pacientes
demenciados com alterações de comportamento como delírios, alucinações e agitação.
Embora bastante popularizado, deve-se evitar o uso contínuo de haloperidol em idosos,
reservando-o para estados de agitação psicomotora, nos quais pode ser usado por via injetável.
Tal recomendação relaciona-se com maior ocorrência de parkinsonismo (por vezes
irreversível), acatisia e discinesia tardia. Da mesma forma, as fenotiazinas devem ser evitadas,
pelo risco de hipotensão postural e de delirum.
É preferível a utilização de antipsicóticos de segunda geração, como risperidona e
olanzapina. Em nosso meio, não é difundido o uso de clozapina em pacientes idosos, embora
a mesma seja passível de utilização com bons resultados segundo vários autores. Caso se opte
pelos clássicos, deve-se utilizá-los na menor dose possível.
3.2.5 Uso de estabilizadores de humor em pacientes idosos
São usados em quadros maniformes, tanto em portadores de transtorno afetivo
bipolar como nos de outras etiologias. Podem ser utilizados também como alternativas menos
eficazes em estados psicóticos e como adjuvantes no tratamento da depressão.
22
O carbonato de lítio, em função da menor taxa de excreção, apresenta maior risco
de toxicidade em idosos. Seu uso não é contra-indicado, estando, porém sujeito a manejo
cuidadoso e controles séricos freqüentes, com especial atenção a interações medicamentosas.
Diversas drogas, como diuréticos, antiinflamatórios não hormonais e inibidores da enzima de
conversão levam a aumentos nos níveis séricos de lítio.
A carbamazepina e o ácido valpróico parecem ser melhor tolerados em idosos,
devendo ser introduzidos lenta e gradualmente. Há risco de hepatotoxicidade e de leucopenia,
devendo ser realizados controle regulares de hemograma e transaminases. Outros efeitos
colaterais freqüentes incluem ganho de peso, sedação e ataxia.
3.2.6 Uso de benzodiazepínicos em pacientes idosos
O emprego de benzodiazepínicos no paciente idoso deve ser cuidadoso, em função
de eventual diminuição do metabolismo hepático ou aumento do volume de distribuição, com
conseqüente aumento de meia vida e maior acúmulo do fármaco após uso repetido (
KATZUNG,1995).
Há a tendência de evitar seu uso em idoso, pelo prejuízo cognitivo, risco de
quedas e efeito paradoxal, e pelo potencial de dependência associados. Quando
indispensáveis, utilizá-los por curtos períodos e em baixas dosagens, evitando o uso em
pacientes demenciados.
Deve-se dar preferência àqueles com menor meia-vida e menos metabólitos
ativos. Alternativas aos benzodiazepínicos em pacientes com transtornos ansiosos são
encontradas na buspirona, em antidepressivos e antipsicóticos em baixas dosagens.
3.2.7 Uso de anticolinérgicos em pacientes idosos
São proscritos em idosos, pelo risco de deflagração de estados confusionais e de
agravamento de possíveis déficits cognitivos. Nos casos em que os pacientes apresentem
efeitos extra-piramidais relacionados ao uso de antipsicóticos, recomenda-se a redução da
dose ou a substituição do medicamento.
23
3.3 Respostas comportamentais ao uso abusivo de drogas
As drogas de abuso produzem euforia, que é um estado emocional caracterizado
por sensações intensamente prazerosas. Uma razão importante pela qual os usuários são
motivados a buscar e tomar mais drogas é porque eles percebem a experiência como
recompensadora. O reforço refere-se à capacidade de uma droga de produzir uma resposta
prazerosa que motiva o usuário a tomá-la repetidamente.
Comish Et al (1997), definem tolerância como sendo a redução da resposta à
droga após o uso repetido, sendo uma resposta fisiológica adaptativa anormal. A tolerância
farmacocinética pode surgir através de um aumento da taxa de metabolismo. Por exemplo, os
barbitúricos induzem as enzimas microssômicas hepáticas, resultando em metabolismo mais
rápido.
Em Calligaris (2000), a sensibilização comportamental é um processo pelo qual a
administração repetida de uma droga leva a uma resposta comportamental progressivamente
mais forte. Às vezes chamada de tolerância reversa, ela é frequentemente medida examinando
a ativação locomotora induzida pela droga. Geralmente requer intervalos mais longos entre as
doses para se desenvolver do que a tolerância.
A dependência física é um estado adaptativo que se desenvolve através do reajuste
dos mecanismos homeostáticos para permitir a função normal apesar da presença contínua da
droga. Quando a ingestão da droga é abruptamente interrompida num indivíduo fisicamente
dependente, sobrevém uma síndrome de abstinência.
Conforme, Cornish (1997), a tolerância, a dependência física é uma resposta
fisiológica normal à exposição repetida a uma droga e não necessariamente indica abuso ou
dependência da droga. No entanto, a abstinência pode causar emoções intensamente negativas
e desagradáveis, como disforia, ansiedade e irritabilidade. Em estudos com animais
empregando auto-estimulação intracraniana, a abstinência também está associada à redução
da função de recompensa cerebral. Assim, parece que a abstinência da droga pode atuar como
um reforço negativo que contribui para o seu uso repetido.
Afirma o autor que os pacientes humanos com prescrição de opióides para
tratamento da dor podem desenvolver tolerância e dependência física, mas raramente tornamse viciados. Do mesmo modo, em animais de laboratório, o estabelecimento de dependência
física não é suficiente para induzir a auto-administração voluntária da droga. Em vez disso,
parece que os animais e seres humanos buscam as drogas principalmente por suas
24
propriedades reforçadoras positivas. Nas pessoas suscetíveis o uso repetido de drogas de uso
abusivo induz a avidez pela droga, um estado de motivação poderoso no qual o dependente
busca a droga excluindo outras atividades.
3.4 Abuso e dependência aos opióides
De acordo com, Tsuang et al (1998), os principais efeitos dos opióides são uma
diminuição da percepção dolorosa juntamente com níveis modestos de sedação e euforia. Os
agentes nessa categoria incluem a heroína, a morfina e a codeína, assim como muitos
analgésicos e antitussígenos vendidos com prescrição médica. Como os opióides são
amplamente usados na prática médica, a dependência e o uso abusivo não se limitam à
clássica pessoa de rua dependente de opióide.
O uso repetido de opióide a ponto de desencadear múltiplos problemas é um bom
indicador de que o abuso e a dependência futuros são prováveis. Um indivíduo é dependente
se num período de 12 meses ocorrem dificuldades em quaisquer das três áreas de função,
incluindo tolerância, abstinência, uso de quantidades maiores de opiáceos do que planejado e
uso apesar das conseqüências.
Para o autor, os opiáceos prototípicos, morfina e codeína – 3 – metoximorfina, são
extraídos diretamente do suco leitoso da papoula Papaver somniferum. Os fármacos semisintéticos produzidos a partir da morfina ou de moléculas de tebana incluem a hidromorfona,
a diacetilmorfina e a oxicodona. Os opióides puramente sintéticos, que compartilham muitas
das propriedades básicas do ópio e da morfina, incluem a meperidina, o propoxifeno, o
difenoxilato, o fentanil, a buprenorfina, a metadona e a pantazocina.
Manfredini et al (1994), informam de acordo com seus estudos que,com exceção
da overdose e dependência física, a maioria dos efeitos opióides é relativamente benigna e
rapidamente reversível. Um perigo maior, no entanto, advém do uso de agulhas contaminadas
por usuários intravenosos, o que aumenta o risco de hepatite B e C, endocardite bacteriana e
infecção pelo HIV.
Frisa Tsuang (1998), que as alterações agudas no sistema gastrintestinal devem-se
à diminuição da motilidade, com prisão de ventre e anorexia resultantes. Os problemas
gastrintestinais crônicos nos indivíduos dependentes de opióides ocorrem tipicamente como
conseqüência da hepatite em usuários de drogas injetáveis.
25
Acrescenta o autor que, administração aguda de opióide diminui os níveis de
hormônio luteinizante, com redução subseqüente na testosterona, que pode contribuir para a
diminuição do impulso sexual relatada pela maioria das pessoas dependentes de opióides.
Outras alterações hormonais incluem diminuição na liberação de tireotropina e aumento da
prolactina e possivelmente do hormônio do crescimento.
As alterações agudas no sistema respiratório incluem depressão respiratória, que
resulta de uma diminuição da resposta do tronco encefálico à tensão de dióxido de carbono,
um componente da síndrome de overdose medicamentosa. Mesmo em doses baixas, esse
efeito pode ser clinicamente significativo em indivíduos com doença pulmonar subjacente
(TSUANG, 1998).
As alterações cardiovasculares tendem a ser relativamente leves, sem efeito
opiácio direto no ritmo cardíaco ou na contratilidade miocárdica, mas há um problema
potencial devido à hipotensão ortostática, provavelmente secundária à dilatação dos vasos
periféricos. Pode ocorrer infecção bacteriana dos pulmões e das valvas cardíacas a partir de
agulhas contaminadas; a última pode resultar em embolia e assim maior risco de acidente
vascular cerebral.
3.4.1 Tratamento de dependentes de opióides
O fundamental para o diagnóstico é descartar o estereótipo errôneo que homens e
mulheres dependentes de opióides são sempre desempregados e desabrigados. O abuso ou
dependência é possível em qualquer paciente que demonstre sintomas do que pode ser
abstinência de opióide: qualquer um que tenha uma síndrome de dor crônica: médicos,
enfermeiras e farmacêuticos ou outros que tenham fácil acesso a opióides; e todos os
pacientes que procuram repetidamente a prescrição de analgésico.
Portanto, é importante dedicar tempo a todos os pacientes, em especial aqueles
com queixas de dor, obter uma anamnese que inclua os padrões de uso de opióides e a lista de
médicos e ambulatórios dos quais receberam prescrições.
3.4.2 Sintomas de abstinência de opióides
De acordo com, Sees et al.(2000), os sintomas de abstinência, em geral o oposto
dos sintomas agudos da droga, incluem náuseas e diarréias, tosse, lacrimejamento, midríase,
26
rinorréia, sudorese profusa, espasmos musculares, piloereção ou pele de ganso, assim como
elevações discretas da temperatura corporal, da freqüência respiratória e da pressão arterial.
As drogas com meia-vida curta, como a morfina ou a heroína, causam sintomas
tipicamente em 8 a 16 horas após a última dose – assim, muitos indivíduos dependentes
despertam em abstinência leve toda manhã; a intensidade dos sintomas alcança o máximo em
36 a 72 após a interrupção do uso da droga e a síndrome aguda desaparece em 5 a 8 dias.
Um exame físico completo, incluindo avaliação da função neurológica e pesquisa
de infecções locais e sistêmicas, em especial abscessos, é obrigatório. Os testes laboratoriais
geralmente incluem a determinação da função hepática e, em usuários de drogas intravenosas,
o do HIV. Nutrição adequada e repouso devem ser iniciados tão logo possível.
Magura (1998) afirma que, o tratamento ideal da abstinência exige a
administração de opióides suficiente no primeiro dia para diminuir os sintomas, seguida por
uma redução mais gradual da droga, geralmente em 5 a 10 dias. Qualquer opióide funcionará
– todos têm um nível de tolerância cruzada - mas para facilitar a administração muitos
médicos preferem usar uma droga de ação prolongada como a metadona. Para estimar a dose
do primeiro dia a partir da história do paciente, 1 a 2mg de metadona podem ser considerados
aproximadamente equivalentes a 3mg de morfina, 1mg de heroína ou 20mg de meperidina. A
maioria dos pacientes requer entre 10 e 25mg de metadona por via oral 2 vezes no primeiro
dia, com doses mais altas fornecidas se os sintomas proeminentes de abstinência não
diminuírem.
Após vários dias de uma dose estabilizadas da droga, o opióide é então reduzido
em 10 a 20% da dose vigente a cada dia.
No entanto, para Sees (2000), a maioria dos estados nos Estados Unidos restringe
a prescrição de opióides a pessoas dependentes e, na ausência de permissões especiais, a
desintoxicação com opióides freqüentemente é proscrita ou limitada. Assim, na maioria das
vezes os tratamentos farmacológicos concentram-se no alívio de sintomas de diarréia com
loperamida ou um não opióide, de resfriado com discongestionantes e dor com analgésicos
não opióides.
Fornecida em doses de aproximadamente 5ug/kg a clonidina diminui a
disfunção do sistema nervoso autônomo e provocando sedação. A pressão arterial deve ser
monitorada estritamente. Alguns clínicos ampliam esse esquema com doses baixas a
moderada de benzodiazepínicos por 2 a 5 dias para diminuir a agitação.
Conforme a autora, um caso especial de abstinência de opióide é visto no recémnascido que se torna passivamente dependente em decorrência do abuso materno de droga
durante a gestação. Ocorre algum nível de abstinência em 50 a 90% dos recém-nascidos de
27
mães dependentes de heroína. Até 25% dos lactentes de mães em manutenção com metadona
mostram sintomas de abstinência clinicamente relevantes, provavelmente devido à meia-vida
mais longa dessa droga. A síndrome consiste em irritabilidade, choro, tremor, aumento dos
reflexos, da freqüência respiratória, diarréia hiper-reatividade, vômitos e espirros, bocejos,
soluços.
O tratamento segue as mesmas etapas gerais usadas no de adultos com
dependência física. A criança deve ser avaliada com cuidado para se excluírem problemas
clínicos como hipoglicemia, hipocalcemia, infecções e traumatismo; o apoio geral em um
ambiente aquecido, quieto e a regulação dos eletrólitos e glicose também são necessários.
3.4.3 Reabilitação de pessoas dependentes de opióides
Apesar de algumas diferenças na demografia, as mesmas regras gerais para a
reabilitação dos alcoólatras aplicam-se às pessoas dependentes de opióides. A estratégia
básica inclui desintoxicação e apoio familiar, com processo podendo se beneficiar do uso de
materiais de leitura ou do encaminhamento para grupos de auto-ajuda. Também é importante
estabelecer objetivos realistas para o paciente e um programa de aconselhamento e orientação
para aumentar a motivação com vistas à abstinência. Um compromisso a longo prazo para
restabelecer um estilo de vida sem abstinência é essencial para prevenir a recidiva
(SEES,2000).
A maioria das abordagens de reabilitação tem elementos em comum,
independentemente da droga envolvida. Os pacientes recebem orientação quanto à sua
responsabilidade em melhorar sua própria vida e a motivação para a abstinência com o
fornecimento de informações sobre os problemas clínicos e psicológicos que podem ser
esperados se a dependência continuar (TSUANG, 1998).
Muitas dessas informações e conselhos podem ser dados pelo médico, mas a
maioria dos clínicos encaminha os pacientes para programas mais formais, incluindo os
ambulatórios de manutenção com metadona, programas que usam antagonistas dos narcóticos
e comunidades, terapêuticas. O acompanhamento a longo prazo dos pacientes tratados indica
que 33% estavam completamente livres da droga no último ano: 60% não estavam mais
usando opióides, embora alguns estivessem usando indevidamente outras substâncias
(MAGURA, 1998).
28
Os indivíduos que permanecem em manutenção com metadona ou em
comunidades terapêuticas mostram melhora significativa do comportamento anti-social e do
nível de emprego. Em geral, o melhor prognóstico é para aqueles indivíduos que são
empregados, que têm níveis mais elevados de educação e que permanecem em tratamento por
no mínimo dois meses (SEES, 2000).
Segundo a autora, a dependência entre os profissionais de saúde, como os
médicos, é tratada de modo semelhante, mas, além disso, um procedimento de afastamento
estreitamente supervisionado costuma ser instituído e mantido por um a dois anos ou mais.
3.4.4 Manutenção com metadona
Os programas de manutenção com metadona de ação mais prolongada deve ser
usado em combinação com a orientação e o aconselhamento. É importante observar que a
manutenção da droga não visa à cura da dependência de opióide, porém fornece um substituto
da droga que é legalmente acessível, mais seguro, pode ser ingerido por via oral e tem meiavida longa, de modo que pode ser ingerido uma vez ao dia. O objetivo é ajudar as pessoas
que tiveram fracassos repetidos em programas livres de drogas a melhorar a função dentro da
família e do trabalho, diminuir os programas legais e melhorar a saúde (TSUANG, 1998).
Esclarece Tsuang (1998) que, a metadona é um opióide de ação prolongada que
possui todas as propriedades fisiológicas da heroína. O paciente, que passa por uma seleção
cuidadosa para excluir transtornos psiquiátricos prévios, pode ser mantido com uma dose
relativamente baixa, por exemplo, 30 a 40 mg/dia; uma conduta melhor é usar dose mais
elevadas, 80 a 120 mg/dia porque ela pode ser mais eficaz no bloqueio da euforia induzida
pela heroína e diminuir a avidez.
Há algumas evidências de que doses mais altas de metadona resultam em maior
retenção no tratamento e consequentemente em níveis menores de parada e recidiva às drogas
de rua. Setenta e cinco por cento ou mais dos pacientes, em especial aqueles que recebem
doses mais elevadas, provavelmente permanecerão livres de heroína por seis meses ou mais.
Após um período de manutenção, em geral de seis meses a um ano ou mais, o clínico pode
trabalhar estreitamente com o paciente a fim de estabelecer o ritmo de redução da droga, em
cerca de 5% por semana, se possível (SEES, 2000).
29
No passado os ingleses usaram manutenção com heroína com objetivos e
diretrizes semelhantes àquelas dos programas atuais de metadona. Não há evidências de que a
manutenção com heroína tenha qualquer vantagem com relação àquela com metadona, mas o
esquema com heroína adiciona o risco de que a droga seja vendida facilmente nas ruas.
O tratamento com agonistas e antagonistas mistos como a supernorfina também parece
benéfico, embora os resultados não sejam tão bons quanto os observados com a metadona
(TSUANG, 1998).
Sees (2000), afirma em suas teorias que, os antagonistas dos opiáceos competem
pelos receptores com a heroína e outros opióides, reduzindo os efeitos dos agonistas opióides.
O antagonista mais amplamente usado na reabilitação é a naltrexona, que na dose de
50mg/dia antagoniza 15mg de heroína por 24 horas e em doses mais altas, 125 a 150mg,
bloqueia os efeitos de 25mg de heroína intravenosa por até três dias. A naltrexona é isenta de
propriedades agonistas, não causam sintomas de abstinência conhecidos quando suspensa e
seus efeitos colaterais tendem a ser leves.
Para evitar a precipitação da síndrome de abstinência, os pacientes devem ter
deixado de usar opióides no mínimo cinco dias antes de iniciar o tratamento com essa
medicação. Além disso, devem primeiro ser expostos a 0,4mg ou 0,8mg de naloxona de ação
curta para se ter certeza de que serão capazes de tolerar o antagonismo de ação prolongada.
Após esse período, uma dose de teste de 10mg de naltrexona pode ser fornecida com a
expectativa de que quaisquer sintomas de abstinência serão vistos em meia a duas horas.
Diversas variações dessa abordagem podem ser usadas na desintoxicação da manutenção da
metadona, incluindo um plano razoavelmente rápido sob supervisão clínica (TSUANG,
1998).
3.5 Programas Livres de Drogas
A maioria das instituições semi-residenciais e centros de recuperação para pessoas
dependentes de opióides existentes usa alguma variante da abordagem de comunidade
terapêutica, uma exceção à preferência geral pela reabilitação residencial a curto prazo, em
oposição ao ambulatorial, uma vez que a assistência pode durar um ano ou mais enquanto a
pessoa é retirada da cultura de rua e passa a ter uma nova vida no grupo. Nessa estrutura, os
membros, incluindo líderes que estão eles mesmos no processo de recuperação, ajudam os
participantes a compreenderem as estratégias mais bem-sucedidas para lidar com os
problemas (TSUANG, 1998).
30
Como é válido para o tratamento de todos os distúrbios de uso de substâncias, é
provável que o aconselhamento, tratamentos comportamentais e métodos de psicoterapia
relativamente simples contribuam de forma significativa para um resultado positivo. A
maioria das abordagens enfatiza a orientação dos participantes para que possam lidar com o
estresse, aumentar sua compreensão dos atributos da personalidade, ensinar melhores estilos
cognitivos e, pelo processo de prevenção da recidiva, determinar os aspectos que possam
contribuir para aumento da avidez, o acesso fácil as drogas ou períodos de menor motivação.
Uma combinação dessas terapias com as abordagens descritas anteriormente parece fornecer
os melhores resultados (TSUANG, 1998).
Para Tsuang (1998), é importante discutir a prevenção, exceto no caso do paciente
terminal, os médicos devem monitorar minuciosamente o uso de opióides em seus pacientes,
manter as doses tão baixas quanto for prático e administrá-las num período tão curto quanto o
nível da dor seria justificado nas pessoas habituais.
A primeira etapa no tratamento bem-sucedido é a desintoxicação, processo que
pode ser difícil devido ao abuso de múltiplas drogas com ações farmacológicas diferentes.
Como os pacientes podem não lembrar ou negar o uso simultâneo de múltiplas drogas, a
avaliação diagnóstica sempre inclui a análise da urina para detecção qualitativa de substâncias
psicoativas e seus metabólitos (MAGURA, 1998).
O tratamento do abuso de múltiplas drogas freqüentemente exige hospitalização
ou assistência domiciliar durante a desintoxicação e a fase inicial da abstinência das drogas.
Quando possível, devem-se usar unidades especializadas para assistência e tratamento de
pessoas com dependência química. A desintoxicação ambulatorial dos pacientes que abusam
de múltiplas drogas provavelmente e ineficaz e pode ser perigosa (TSUANG, 1998).
Como no tratamento do abuso de álcool, nenhuma modalidade terapêutica
mostrou-se unicamente eficaz na indução da remissão. O abuso de múltiplas drogas é um
distúrbio crônico com um padrão imprevisível de remissão e recrudescimento. Mesmo as
remissões temporárias com melhoras físicas, social e psicológica concomitantes são
preferíveis à continuação ou aceleração progressiva do abuso de múltiplas drogas e suas
conseqüências clínicas e interpessoais adversas.
No abuso de múltiplas drogas, como em muitos distúrbios crônicos, raramente
ocorrem curas definitivas. O médico consciente deve continuar a assistir os pacientes que
abusam de múltiplas drogas durante todas as oscilações cíclicas desse distúrbio complexo do
comportamento, reconhecendo que a retomada do uso de drogas pode ser a regra, em vez da
exceção (MAGURA, 1998).
31
4 METODOLOGIA
4.1 Tipo de Estudo
Estudo descritivo sobre o consumo de psicotrópicos no Município de Pacatuba –
CE, no mês de outubro de 2005.
4.2 Local de Estudo
O município de Pacatuba está localizado na porção nordeste do Estado do Ceará,
na Região Metropolitana de Fortaleza e na macrorregião turística / MRT I, que detém as
principais infra-estruturas para o desenvolvimento das atividades de turismo no Estado do
Ceará, numa área de 141 Km2 e 780 m acima do nível do mar.
O município possui uma população de 57.526 habitantes (IBGE 2004),
correspondentes a 0,66% da população do estado do Ceará.
CEARÁ
PACATUBA
Fonte: INSTITUTO DE PESQUISA E ESTRATÉGIA ECONÔMICA DO CEARÁ – IPECE, 2002.
32
Pacatuba faz parte da 3° Célula Regional de Saúde juntamente com os Municípios
de Acarape, Barreira, Guaiúba, Maracanaú, Maranguape, Palmácia e Redenção.Faz limite ao
Norte com a cidade de Fortaleza; ao Sul com o Município de Guaiúba; a Leste com Itaitinga;
a Oeste com Maranguape e Maracanaú. Está subdividido em quatro distritos : Sede, Pavuna,
Monguba e Carlos Jereissati. Sua principal via de acesso é a CE – 060.
Pacatuba está habilitado em Gestão Plena, cumprindo as responsabilidades
sanitárias e ações estratégicas mínimas da atenção básica de acordo com o Pacto de Gestão
pela Vida e em defesa do SUS – Portaria n° 399/2006.
O Sistema Municipal de Saúde é composto por uma rede de 15 equipes do
Programa Saúde da Família (atenção básica) e 01 Unidade Mista (atenção secundária no
primeiro nível de complexidade).
O município dispõe dos serviços de Assistência Farmacêutica, Vigilância
Sanitária , Vigilância Epidemiológica e Controle de Zoonoses.
4.3 Amostra Estudada
Utiliza-se a pesquisa quantitativa tendo como questionário (anexoA) para
entrevistar os usuários que forão atendidos nas duas drogarias privadas e uma farmácia
pública que encontra-se anexada à Secretaria de Saúde, selecionando num total de 80
entrevistados. Desses 80 entrevistados , 50 eram da farmácia pública e 30 drogarias
privadas.A escolha dos entrevistados foi aleatória, na medida que iriam requisitar o uso do
medicamento através de uma receita de controle especial.
4.4 Coleta de Dados
O questionário utilizado nessa pesquisa, foi aplicado no mês de outubro de 2005,
o qual era respondido pelo usuário durante a aquisição do medicamento, após uma explicação
sobre a finalidade desse instrumento.
O instrumento de coleta de dados tem como o questionário (anexoA), contendo
questões abertas e fechadas as quais versam sobre: identificação do usuário ( sexo, idade,
situação conjugal, grau de instrução, ocupação, renda familiar), questões relacionadas à
aquisição e utilização do medicamento e informação da prescrição.
33
Nas três primeiras semanas de outubro de 2005, foram feitas 50 entrevistas,
abordando-os aleatoriamente, na proporção que os usuários iriam requesitar na farmácia
pública de dispensação.
Na ultima semana de outubro de 2005, foram feitas 30 entrevistas, abordando-os
aleatoriamente, na medida que iriam fazer a aquisição nas duas drogarias particulares .
4.5 Análise e Interpretação dos Resultados
Foi realizada uma análise descritiva das variáveis estudadas apresentadas através
de tabelas e gráficos, avaliando as características sócio-demográficas, comportamento diante
do tratamento, aspectos de utilização do medicamento, as especialidades médicas dos
prescritores e as possíveis causas que levam ao consumo.
De acordo com o receituário de controle especial, pôde-se constatar quais eram os
profissionais que mais prescreviam.
4.6 Aspectos Éticos
Este estudo manteve o anonimato dos entrevistados, de acordo com a Portaria do
Conselho Nacional de Saúde/MS – CNS, Resolução n° 196/96 e suas Diretrizes e Normas
regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos (BRASIL, 1996).
34
5 RESULTADOS e DISCUSSÃO
No mês de outubro de 2005, foram contactadas 80 pessoas usuárias de
psicotrópicos, sendo que destas, 58 (72,5%) são do sexo feminino e 22 (27,5%) masculino,
conforme demonstra (tabela 1).
Tabela 1. Características sócio-demográficas dos usuários entrevistados.
Farmácia Pública e drogarias privadas, Pacatuba-CE, em outubro de 2005.
VARIÁVEIS
FREQÜÊNCIA
%
Masculino
22
27,5
Feminino
58
72,5
21 – 30
10
12,5
31 – 40
10
12,5
41 – 50
22
27,5
51 – 60
23
28,8
61 – 70
08
10,0
71 – 80
07
8,8
Analfabeto.
08
10,0
1º Grau incompleto
48
60,0
1º Grau completo
10
12,5
2º Grau incompleto
05
6,3
2º Grau completo
06
7,5
Superior comp./incomp
03
3,8
Agricultura
16
20,0
Auxiliar de serviço
20
25,0
Dona de casa
29
36,3
Func. Público
05
6,3
Outros
10
12,5
GÊNERO
IDADE (ANOS)
ESCOLARIDADE
OCUPAÇÃO
35
RENDA FAMILIAR
(Salário mínimo)
Menos de um SM
30
37,5
01 a 02 SMs
34
42,5
02 a 03 SMs
06
7,5
Mais de 03 SMs
10
12,5
Urbana
61
76,3
Rural
19
23,8
Nervosismo/tremores
23
28,8
Insônia
21
26,3
Problemas circulatórios
15
18,8
08
10,0
Cefaléia
06
7,5
Inquietação
04
5,0
Problemas respiratórios
03
3,8
Tem
52
65,0
Não tem
28
35,0
Menos de 01
18
22,5
01 ⌐ 05
26
32,3
05 ⌐ 10
10
12,5
10 ⌐ 20
18
22,5
Mais de 20
08
10,0
ZONA DE MORADIA
MOTIVO PELO QUAL
USA PSICOTRÓPICOS
Causas sistêmicas e
gastrintestinais
ACOMPANHAMENTO
MÉDICO
TEMPO DE USO
(ANOS)
36
O QUE SABE SOBRE O
MEDICAMENTO
Tranqüilizante
32
40,0
Sonolência
21
26,3
Depen./vício
16
20,0
Perigo assoc. com álcool
11
13,8
Sim
68
85,0
Não
12
15,0
TOTAL
80
100,0
TENTATIVA PARA
DEIXAR DE TOMAR
A tabela 1 mostra que a maioria dos usuários não completou o 1º grau,
demonstrando o baixo grau de escolaridade destes.
Na tabela 1, encontram-se informações acerca da utilização dos medicamentos.
Observa-se que nervosismo/tremores constituem os sintomas mais freqüentes entre os
usuários (28,8%), seguidos por insônia (26,3%), problemas circulatórios (18,8%), causas
sistêmicas e gastrintestinais (10%), cefaléia (7,5%), inquietação (5,0%) e problemas
respiratórios (3,8%).
Mais da metade dos usuários (65%) tem acompanhamento médico, grande parte
utiliza a medicação dentro de um período de 01 a 05 anos (32,3%) e a informação sobre o
medicamento mais predominante é a do efeito tranqüilizante (40,0%). A grande maioria
tentou deixar de tomar o medicamento em algum momento da sua vida (85,0%).
Segundo a pesquisa, mesmo que estudos sobre prescrição médica indiquem os
distúrbios psíquicos como a causa mais freqüente de indicação desses medicamentos,
principalmente diazepam 10mg comprimido, estudos com usuários não psiquiátricos revelam
que o seu uso está também, comumente ligado às desordens circulatórias, onde a ansiedade
atua como componente, em especial no caso de hipertensão.
37
Tabela 2. Distribuição dos usuários, segundo sexo e faixa etária, que freqüentam a
Farmácia pública e drogarias privadas, Pacatuba-CE, em outubro de 2005.
FAIXA ETÁRIA
SEXO
11 – 20 21 – 30
31 – 40
41 – 50
51 -60
61 - 70 71 - 80
TOTAL
MASCULINO
-
2
3
7
4
3
3
22
FEMININO
2
6
7
16
18
5
4
58
Na pesquisa em pauta, observou-se que o consumo de psicotrópicos aumentou
com a idade entre as mulheres. Houve um aumento gradativo a partir dos 21 anos atingindo
um nível máximo de consumo na faixa etária de 51 a 60 anos. No grupo dos homens
aconteceu um discreto aumento a partir dos 21 anos atingindo nível máximo na faixa etária de
41 a 50 anos (tabela 2).
Para ALMEIDA et al (1993), entre as mulheres é maior a freqüência de distúrbios
psíquicos, condições circulatórias e doenças músculo-esqueléticas, para as quais é comum a
prescrição de psicofármacos, sobretudo benzodiazepínicos.
Segundo a pesquisa, em relação ao aumento no consumo de psicotrópicos com a
idade, observa-se que, à medida que se avança na idade, os problemas de saúde vão surgindo,
entre os quais aqueles em que se utilizam psicofármacos como terapia principal ou como
coadjuvante, o que não explica o motivo pelo qual, a partir dos 60 anos, o consumo diminui
(ALMEIDA, 1993).
O aumento de consumo de psicofármacos, principalmente ansiolíticos, entre as
mulheres é citado por vários autores que afirmam ser a mulher mais perceptiva em relação à
sintomatologia das doenças, por isso procura mais cedo por ajuda e apresenta menor
resistência ao uso de medicamentos prescritos do que os homens sendo tais fatores
contribuintes para essa situação (TANCREDI, 1979).
38
FÍGURA 1
68,75%
51,25%
31,25%
17,50%
SOLTEIRO
22,50%
CASADO
8,75%
MASCULINO
FEMININO
TOTAL
Fígura 1. Distribuição dos usuários segundo o sexo e situação conjugal.
Farmácia pública e drogarias privadas Pacatuba – CE, em outubro de 2005.
Observando-se a (fígura 1), verifica-se maior consumo de psicotrópicos entre as
mulheres casadas.
A condição de casada exige maior responsabilidade com a vida cotidiana dos
familiares, implicando preocupação com o bem estar deles. Outra observação da
pesquisadora, é que mulheres que vivem em péssimas condições passam a acreditar que ter
um marido, mesmo sem qualidades, é algo positivo (ALMEIDA, 1993).
FÍGURA 2
100%
72,50%
72,50%
50%
MASCULINO
FEMININO
22,50%
27,50%
22,50% 27,50%
TOTAL
5%
URBANA
RURAL
TOTAL
Figura 2. Distribuição dos usuários segundo sexo e Zona de moradia.
Farmácia pública e drogarias privadas, Pacatuba-CE, em outubro de 2005.
39
Com relação à zona de moradia observa-se que a maioria dos usuários de
psicotrópicos reside na zona urbana 72,50% sendo que destes 50% são do sexo feminino e
22,50% do masculino (fígura 2).
FÍGURA 3
100%
72,50%
MASCULINO
36,25%
36,25%
20%
15%
5%
FEMININO
25%
15%
10%
27,50%
18,75%
TOTAL
12,50%
6,25%
0
AGRICULTURA DONA DE
CASA
AUXILIAR DE OUTROS
SERVIÇO
TOTAL
Fígura 3. Distribuição dos usuários segundo sexo e ocupação. Farmácia pública e
drogarias particulares, Pacatuba-CE em outubro de 2005.
Observando-se a (figura 3), verifica-se que a ocupação dona de casa apresenta
maior percentual de usuários de psicotrópicos. Conforme OLIVEIRA (2000), se fosse
considerada a riqueza gerada pelas mulheres, esta seria da ordem de 35 a 50% do Produto
Interno Bruto. Por outro lado, as mulheres não gozam do reconhecimento das tarefas do lar no
chamado trabalho produtivo.
Mesmo tendo as mulheres, nesta pesquisa, feito referência a outras atividades por
elas desempenhadas, a maioria é dona de casa demonstrando uma enorme responsabilidade
com a família, sobrevivendo com uma renda familiar baixa, sofrendo de muitas carências
básicas que servem de subsídios para o surgimento de preocupações e ansiedades que podem
ser minimizadas pelo o uso de tranqüilizantes.
40
FÍGURA 4
100%
73%
MASCULINO
48,07%
FEMININO
34,60%
32,68%
23,07%
13,50%
PSIQUIATRA
9,60%
CLÍNICO GERAL
27%
TOTAL
19,22%
15,40%
3,80%
CARDIOLOGISTA
TOTAL
Fígura 4. Distribuição dos usuários por sexo e acompanhamento médico. Farmácia
pública e drogarias privadas, Pacatuba-CE ,em outubro de 2005.
Observando-se a (fígura 4), que o acompanhamento médico psiquiátrico, neste
caso, foi o mais requisitado 48,07%. Destes, 34,60% são do sexo feminino e 13,50%
masculino, o que vem confirmar a predisposição das mulheres em procurar ajuda para seus
problemas de saúde.
Por outro lado, analisando o agente prescritor, observa-se que o clínico geral e
cardiologista juntos foram responsáveis por mais da metade (51,9%) das prescrições.
De acordo com TANGREDI (1979), a questão do diagnóstico dos distúrbios
psíquicos e do manejo dos psicofármacos torna-se mais relevante quando se constata que o
clínico geral está prescrevendo freqüentemente os psicofármacos.
Conforme OLIVEIRA (2000), existem situações para as quais têm-se prescrito,
por exemplo, diazepam que certamente necessitariam ser revistas, principalmente as referidas
como ansiedades de convivência familiar e menopausa, por envolverem vivências próprias da
existência humana, associadas ou não a uma conjunção de problemas sociais freqüentemente
não abordável pela via farmacológica.
41
Tabela 3. Medicação – incidência (%). Farmácia pública e drogarias particulares,
Pacatuba-CE em outubro de 2005.
Diazepam 10 mg comprimido
60,0%
Amitriptilina 25mg comprimido
17,0%
Fenobarbital 100 mg comprimido
8,0%
Haldol 5 mg comprimido
7,0%
Fenitoína 100mg comprimido
5,0%
Carbamazepina 200 mg comprimido
3,0%
Quanto aos medicamentos mais utilizados, se obteve os seguintes resultados: em primeiro
lugar diazepam 10 mg comprimido (60,0%) seguida pela amitriptilina 25mg (17,0%), ,
fenobarbital 100mg comprimido(8,0%), haldol 5mg comprimido (7,0%), fenitoína 100 mg
comprimido (5,0%) e por último carbamazepina 200mg ( 3,0%) (tabela 3)..
Tabela 4. Distribuição dos usuários conforme sexo e tempo de utilização de
psicotrópicos. Farmácia pública e drogarias privadas, Pacatuba-CE, em outubro de
2005.
TEMPO DE UTILIZAÇÃO
SEXO
ATÉ 5
6 OU MAIS
TOTAL
MASCULINO
06
08
14
FEMININO
38
28
66
TOTAL
44
36
80
De acordo com o pesquisador, a prescrição de diazepam 10 mg comprimido, para
casos de pessoas nervosas que não se submeteram a uma avaliação cautelosa e um
acompanhamento sistemático não constitui boa conduta médica, já que esse medicamento
apresenta risco potencial de desenvolvimento de dependência. Observando a (tabela 4),
verifica-se que as mulheres têm usado psicotrópicos por mais tempo que os homens.
Conforme os dados observados pelo pesquisador, o principal critério para o uso de
agentes ansiolíticos é a ocorrência de uma ansiedade tal que bloqueie a capacidade do
paciente de lidar com seus sintomas e responsabilidades sociais e pessoais. Uma ansiedade
42
grave freqüentemente requer tratamento farmacológico para aliviar o paciente por uma ou
duas semanas em situação de extremo estresse e para ajudá-lo a lidar melhor com as
dificuldades.
Tabela 5. Distribuição dos usuários de acordo com os motivos para interrupção do
tratamento e o tempo de utilização. Farmácia Pública e drogarias particulares,
Pacatuba-CE, em outubro de 2005.
MOTIVOS PARA
INTERRUPÇÃO
TEMPO DE UTILIZAÇÃO (ANOS)
<1
1⌐5
5 ⌐ 10
10 ou +
MEDO DA DEPENDÊNCIA
08
02
01
TENTAR VIVER SEM O
06
03
01
03
22
02
05
MELHORA
02
01
02
06
OUTROS
01
02
02
02
TOTAL
06
41
10
15
MEDICAMENTO
FALTA NA FARMÁCIA
PÚBLICA
De acordo com a tabela 5, a principal causa da interrupção entre os entrevistados
foi a falta do medicamento na Farmácia Publica 32(41%) e fizeram no período de 01 a 05
anos.
Conforme Oliveira, (2000), a falta do medicamento até que poderia ser algo
positivo se, na sua falta o serviço de saúde oferecesse outras opções de atenção a esses
pacientes ou recorresse a uma intervenção de cunho mais conscientizador e menos alienante
do que tem sido a prescrição do diazepam 10mg comprimido.
Quanto ao local de aquisição dos medicamentos, os usuários os recebem na
farmácia pública de dispensação anexada à Secretaria de Saúde. Na falta dos mesmos, os
usuários têm como opções as drogarias particulares, neste caso vai depender do recurso
financeiro do indivíduo.
43
O consumo de psicotrópicos, principalmente o diazepam 10 mg comprimido,
entre os usuários atendidos na farmácia pública e drogarias particulares do município de
Pacatuba, no mês de outubro de 2005, ficou determinado da seguinte forma: O consumo foi
maior entre os usuários do sexo feminino, principalmente de diazepam 10mg, enquanto que o
consumo masculino foi bem menor. Houve predominância de usuários na faixa etária de 51 a
60 anos e de pessoas casadas.
O nível sócio-econômico dos usuários é baixo. A renda familiar fica entre um e 2
salários mínimos. A maioria não completou o ensino fundamental I, o que denota o baixo
nível de instrução dos mesmos e que frequentemente residem na zona urbana.
Com relação ao tempo de uso da medicação verificou-se que o maior número de
usuários vem utilizando psicotrópicos no intervalo de tempo entre um a cinco anos. Todos se
queixam de vários sintomas e buscam na medicação uma base para aliviar seus problemas
que, em muitos casos, são de ordem social e econômico.
A maioria destaca o efeito tranqüilizante que experimentam após o uso, falam da
sonolência atribuída aos psicotrópicos e referem-se ao risco da dependência.
Entre as prescrições observadas, o psiquiatra foi a especialidade que mais
prescreveu, seguido pelo clínico geral e pelo cardiologista. Os usuários procuram os
medicamentos primeiramente na farmácia pública. Faltando a medicação no serviço pública,
caso a situação financeira permita, procuram as drogarias privadas, e não conseguem viver
sem eles.
Pelo exposto, observou-se que a maioria das prescrições de ansiolíticos e
antidepressivos foi feita por especialistas em psiquiatria, mas parcela significativa do
consumo, tem como origem a prescrição pelo clínico e pelo cardiologista, indicando grande
utilização destes medicamentos para controle de outros transtornos que não os psiquiátricos,
provavelmente mialgias e dores em geral.
44
6 CONCLUSÃO
A análise dos questionários da população estudada permitiu observar que, a
maioria dos usuários de psicotrópicos precisariam de um acompanhamento médico criterioso
e um esclarecimento mais detalhado do medicamento utilizado.
Deste modo, levando-se em conta tal freqüência de consumo e de prescrição de
psicotrópicos, esse trabalho propõe que a utilização destes medicamentos pela rede de saúde
pública e drogarias privadas do município de Pacatuba, embora esteja em conformidade com
aquela mundial, deverá ser melhor estudada pelos profissionais da área de saúde, afim de que
a população seja assistida de forma adequada e que resulte no controle mais eficiente dos
medicamentos psicotrópicos.
Diante dos resultados obtidos podemos inferir que as análises trarão subsídios
para o serviço de saúde pública do Município de Pacatuba, no sentido de implementar ações e
estratégias mais efetivas de Vigilância Sanitária e Assistência Farmacêutica, afim de
sensibilizar os médicos, profissionais de saúde, gestores, educadores e usuários, promovendo
dessa forma , o uso seguro e racional de medicamentos psicotrópicos.
Verificou-se que será necessário a contratação não só de especialidades médicas e
também de outros profissionais de saúde como psicólogos que irão contribuir de forma
pertinente para a melhoria do serviço da saúde do Município.
45
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48
ANEXOS
49
ANEXO A
INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
Pesquisa: O Consumo de Medicamentos Psicotrópicos no
Município de Pacatuba-CE
01. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
a. Idade ___________
b. Sexo: Masculino ( )
Feminino ( )
c. Situação conjugal:
Solteiro ( )
Casado ( )
Viúvo (a) ( )
Separado(a)/divorciado ( )
d. Escolaridade
( ) Analfabeto (a)
( ) 1º Grau incompleto
( ) 1º Grau completo
( ) 2º Grau incompleto
( ) 2º Grau completo
( ) Superior incompleto
( ) Superior incompleto
e. Ocupação ___________________________________
f. Número de membros da família____________________________
g. Renda familiar________________________________________
02. INFORMAÇÕES SOBRE AQUISIÇÃO E UTILIZAÇÃO DO MEDICAMENTO
a. Há quanto tempo toma psicotrópicos? _____________
b. Do que se queixa para que o médico lhe prescreva esse medicamento?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
50
c. Sente alguma reação desagradável quando toma o medicamento?
Sim ( )
Não ( )
Caso seja sim, qual (is)?
____________________________________________________________________
____________________________________
d. Quais os benefícios que sente ao tomá-lo?
____________________________________________________________________
____________________________________
e. Onde faz a consulta e recebe a receita?
( ) No posto do PSF
( ) No Hospital Público
( ) No CAPS
( ) Em consultório particular
( ) Não faço consulta, peço uma receita médica.
f. Onde consegue o medicamento?
( ) Na farmácia pública
( ) Nas drogarias particulares
( ) Na vizinhança
g. Tem acompanhamento médico regular?
Sim ( )
Não ( )
h.Que informações o médico lhe fornece ou já lhe forneceu a respeito do medicamento ou
o que sabe sobre ele?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
i. Já interrompeu o tratamento por algum motivo?
Sim ( )
Não ( )
Caso a resposta seja sim, por quê? E por quanto tempo?
51
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
j. Na sua opinião, o que precisaria para deixar de tomar este medicamento?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
k.Esse medicamento é importante pra você por quê?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
03. INFORMAÇÕES DA PRESCRIÇÃO
a. Concentração do medicamento ____________________________
b. Posologia
Nº de comprimido/dia ____________________
N° de vezes/dia _________________________
c. N° de caixas prescritas ____________________
d. Especialidade médica _____________________
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