A PRÁTICA DOCENTE E O NOVO PARADIGMA EDUCACIONAL VIRTUAL GUBERT, Raphaela Lupion - POSITIVO [email protected] MACHADO, Mércia Freire Rocha Cordeiro - IFPR [email protected] Área Temática: Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: Não contou com financiamento. Resumo Estamos vivendo um momento fecundo da história, de mudança paradigmáticas, inclusive na educação. As transformações tecnológicas das últimas décadas têm sido rápidas, amplas e profundas. Com isso, novos modelos têm sido estabelecidos, exigindo do professor práticas pedagógicas que o tornem mediadores do conhecimento, em oposição ao velho paradigma do professor detentor de conhecimento. Vale ressaltar que a prática docente ainda nos dias de hoje é tradicional devido aos professores que ainda apresentam forte resistência às mudanças paradigmáticas. Desta forma, torna-se premente mudanças na forma de ensinar e aprender. e isso reside na criação de ambientes virtuais de aprendizagem que incentivem o uso de diferentes ferramentas de comunicação. Torna-se perceptível que a educação a distância tem um caminho longo a percorrer devido ao fato de que os professores não têm bem definido uma perspectiva de trabalho dentro de um paradigma emergente o qual enfoca e valoriza a construção do conhecimento. De qualquer modo não se pode esquecer que o ensino a distância tem uma importância singular em um país como o Brasil, com uma extensão territorial grande e com uma população submetida a uma péssima distribuição de renda, em que a deficiência de ensino ainda é grande e poucos chegam ao ensino de graduação. O presente artigo visa situar as transformações do novo paradigma educacional virtual e discutir as relações de ensino aprendizagem em Ambientes virtuais como novos espaços para a aprendizagem nos processos de educação a distância, e por analisar a prática docente na mediação do conhecimento virtual especialmente ao que se refere aos aspectos didáticometodológicos, ou seja, as relações de ensino aprendizagem, mediada pelo trabalho dos tutores tanto nos momentos presenciais como a distância. Palavras-chave: Educação a Distância. Ambiente virtual de Aprendizagem. Tutoria online. 5671 Introdução A educação está se abrindo progressivamente para a utilização das tecnologias da informação e comunicação em seu contexto pedagógico. E, por conseqüência, o desafio imposto exige uma prática pedagógica do professor que venha atender as exigências da sociedade na produção do conhecimento. Ou seja, o professor tem sido desafiado a ultrapassar seu papel autoritário e de dono da verdade para se tornar um articulador, pesquisador crítico e reflexivo e principalmente que se aproprie dos recursos tecnológicos disponíveis em ambientes virtuais. Behrens et al. (2007, p. 2) afirma que: Longe de ser uma mudança tranqüila de procedimentos didáticos e de opção crítica pela utilização da tecnologia, trata-se de um movimento de mudança paradigmática que são permeadas por questões que exigem um processo de investigação e reflexão aprofundado. Assim, os docentes necessitam agir de maneira reflexiva para não adotarem recursos de forma acrítica, descontextualizada dos meios e da repercussão social, econômica, política e cultural no qual estão inseridos. Entende-se por paradigma: “as realizações científicas universalmente conhecidas, que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade praticante de uma ciência.” (KUHN, 1962, p. 13) Esta nova sociedade do conhecimento exige também novos modelos educacionais, capazes de atender às necessidades de formação profissional da atualidade. Achou abrigo nesta necessidade a Educação a Distância que se apresenta como uma prática pedagógica de importância singular em um país como o Brasil, com uma extensão territorial grande e com uma população submetida a uma péssima distribuição de renda e que têm acesso a um ensino de qualidade, seja qual for o nível No entanto, este quadro atual da educação tem provocado diferentes posturas dentro da sociedade acadêmica. Alguns educadores estão assustados, pois se percebem incapazes para um uso efetivo desta tecnologia, enquanto que outros avançam de forma arrojada na utilização deste instrumento na busca dos saberes necessários para uma utilização competente. Em função deste novo paradigma educacional que se apresenta, influenciado pela revolução tecnológica, esta pesquisa objetiva refletir sobre as transformações do novo paradigma educacional virtual, discutir as relações de ensino aprendizagem em ambientes virtuais como novos espaços para a aprendizagem nos processos de educação a distância, e 5672 por fim analisar a prática docente na mediação do conhecimento virtual especialmente ao que se refere aos aspectos didático-metodológicos, mediada pelo trabalho dos tutores tanto nos momentos presenciais como a distância. O Novo Paradigma Educacional Virtual A “revolução digital” da qual fazemos parte, de uma maneira ou de outra é portadora de um discurso interpretativo e explicativo, além de enunciar um futuro diferente de tudo que existe e se conhece. Segundo Lévy (1995, p.119): O acesso à educação de qualidade nos países em desenvolvimento ainda deixa a desejar e o nível de conscientização e interesse pelas questões públicas ainda precisam melhorar. No entanto, Lévy vislumbra no horizonte da “sociedade em rede” o potencial para uma mudança importante que repercutirá por todo mundo e pergunta se não seria o início desta tão proclamada “conexão global”, o pano de fundo para a emergência de uma “inteligência coletiva”? Num sentido ainda mais abstrato, Lévy diz que poderíamos estar assistindo, já em nossa época, a ascensão da Humanidade a um patamar evolucionário mais nobre. Diante disso, passa-se a exigir um repensar sobre as práticas pedagógicas utilizadas, ou seja, a docência assentada nos paradigmas conservadores que levam à reprodução do conhecimento. Esse movimento de transição paradigmática exige um processo de mudança conceitual trazendo uma nova forma de pensar a educação e seus modelos vigentes. Assim, se realmente ocorre a busca por estratégias para a integração da educação aos meios tecnológicos disponíveis - e que se encontram incessantemente surgindo - devese ter a capacidade de, primeiramente, criar novas diretrizes e práticas capazes de promover re-significações - profundas e relevantes - em nossos atuais processos e modelos de transmissão do conhecimento, bem como compreender e conferir flexibilidade às novas relações interpessoais que derivarão destas transformações originadas. Esse conjunto de novas abordagens estratégicas compõem um universo - de práticas, valores, conceitos, entre outros - sempre pronto para ser desbravado. Não existem mais fórmulas mágicas ou receitas para lidar com fatos e elementos práticos ou teóricos. As novas propostas que regem os processos de aquisição e proliferação dos saberes humanos estão permanentemente sendo constituídas e reconstruídas, de maneira mais democrática, interativa e dialética. Esse processo e determinado pelos paradigmas. 5673 A educação vem passando por mudanças durante o decorrer dos anos, refletindo diretamente no papel do professor em sua prática diária. Os relatos históricos comprovam que desde os meados do século XX, os docentes têm sido desafiados a uma mudança de postura, passando de meros transmissores de conhecimentos para mediadores do conhecimento. Assim sendo, as metodologias e práticas pedagógicas conservadoras utilizadas para a reprodução de conhecimentos sofreram alterações e foram impulsionadas a adoção de práticas inovadoras que favoreçam a produção do conhecimento. A educação a distância tem se mostrado uma alternativa para atender ao propósito de atuar na qualificação do professor em serviço, especialmente atingir os docentes distantes dos grandes centros. Por outro lado, em cursos a distância que procuram romper com a abordagem pedagógica comportamentalista e que utilizam as novas tecnologias da informação e da comunicação, necessitam de professores que possam manejar os recursos tecnológicos e orientar consistentemente com a visão de ensino-aprendizagem. Por envolver uma série de elementos novos, na EAD tornam-se necessárias à formação e o acompanhamento desse professor que atuará como tutor, o que se constitui ao mesmo tempo em um investimento na sua formação continuada. A formação do professor é o ponto crucial para a modernização do ensino. A profissionalização do professor envolve uma série de questões educativas e requer decisões políticas e econômicas. Porém, não se pode negligenciar que um caminho para a concretização desta idéia é a formação continuada dos professores entendida tanto na busca do saber como na tomada de consciência da sua prática e do próprio fazer pedagógico. O papel do professor vem sofrendo mudanças e ao mesmo tempo estão sendo agregadas novas exigências à sua função. Segundo Ramal (2001) espera-se um novo perfil de educador e destaca três características: a) profissionais atualizados, contextualizados no debate sobre o pós-modernismo e suas implicações para a educação; b) usuários críticos da tecnologia, capazes de associar o computador as proposta ativas de aprendizagem; e c) atentos aos desafios político-sociais que estão envolvidos no contexto pedagógico de hoje. 5674 Para a maioria dos professores esta mudança de papel nem sempre é fácil, pois acostumado a ministrar conteúdos por ele dominados, poderá demonstrar certa insegurança diante das novas tecnologias, de uma língua estrangeira ou de uma nova informação na rede. O que ele deve entender que diante das novas tecnologias, o professor também é aluno, sendo necessário que ele aprenda a utilizá-la para que possa fazer um bom uso com seus alunos. Para Moran: A internet será ótima para professores inquietos, atentos a novidades, que desejam atualizar-se, comunicar-se mais. Mas ela será um tormento para o professor que se acostumou a dar aula sempre da mesma forma, que fala o tempo todo na aula, que impõe um único tipo de avaliação. (MORAN, 2006) O novo paradigma a ser instituído deve indicar caminhos inovadores que levem à construção do conhecimento, que passem a ver o individuo como um ser único e inacabado, pois as perspectivas de evolução são inúmeras por meio das tecnologias. Como corrobora Behrens (2000, p. 72) “A tecnologia precisa ser contemplada na prática pedagógica do professor, de modo a instrumentalizá-lo a agir e interagir no mundo com critério, com ética e com visão transformadora.” Sancho (1998, p. 184) assinala que: Nos sistemas de formação a distância não se prescinde do professor, ao contrário, este passa a ser um elemento imprescindível, o elemento-chave para o sucesso da aprendizagem. Ela afirma que a EAD traz uma mudança importante no papel do professor e que, portanto, é necessária uma formação específica nesse sentido, sendo este ainda um ponto fraco atualmente. As organizações encarregadas da formação de professores ainda não passaram de tímidas iniciativas para a formação de especialistas em sistemas de formação à distância. Isso significa que a bagagem dos responsáveis pelas experiências que funcionam atualmente provém mais das suas vivências pessoais do que de uma formação planejada e estruturada. Segundo Behrens (2000, p. 73), o desafio imposto aos docentes é mudar o eixo do ensinar para o aprender, é para contribuir neste processo Lévy (1995, p. 78-82) traz três diferentes formas de apresentar o conhecimento: a oral, a escrita e a digital. E para que ocorram processos de aprendizagens significativas, Behrens et al. (2007 p.3) recomenda que a “prática docente precisa inclua a utilização de múltiplos recursos, em particular, as ferramentas que acompanharam a era digital.” 5675 O grande desafio que se coloca diante dos docentes que atuam no ensino a distância consiste em aliar os novos recursos tecnológicos disponíveis a uma ação docente, pautada numa concepção pedagógica interativa, colaborativa e reflexiva, considerando as especificidades da modalidade. (SOUZA, 1996) O reconhecimento da era digital como uma nova forma de categorizar o conhecimento traz novos rumos para a prática docente, que rompe as barreiras da sala de aula e passa a interagir e construir conhecimentos junto com seus discentes tendo todo o acesso com o mundo globalizado e à rede de informações disponível em todo o universo. Considerando os novos horizontes que se encontram, aos poucos, se delineando e tomando forma, torna-se necessário a realização de um esforço conjunto - permanente e sincrônico - a fim de conferir novos sentidos às práticas educativas, bem como realizar concomitantemente uma revisão profunda nos atuais processos de aquisição do conhecimento humano. Ambientes Virtuais: novos espaços para a aprendizagem A expressão "ambiente virtual de aprendizagem" está relacionada ao desenvolvimento de condições, estratégias e intervenções de aprendizagem num espaço virtual na Web, organizado de tal forma que propicie a construção de conceitos, por meio da interação entre alunos, professores e objeto de conhecimento. Destaca-se que um “ambiente virtual de aprendizagem” não precisa ser um espaço restrito à educação à distância. Embora freqüentemente associado à educação à distância, na prática, o ambiente virtual é também amplamente utilizado como suporte na aprendizagem presencial. (VALENTINI e SOARES, 2006) Nessa vertente, o computador torna-se um recurso imprescindível enquanto meio de acesso a WEB. Para o uso adequado deste equipamento, face às primeiras tentativas frustrantes do uso do computador, é primordial um projeto pedagógico adequado para cada situação. Com o avanço tecnológico além dos computadores e da WEB surgem novas formas de interação, entre elas uso em tempo real de equipamentos, mediante satélites e cabos de fibra ótica. Como corrobora, Azevedo in Torres (2003, p. 165-166) o acelerado desenvolvimento tecnológico de novas mídias a partir da década de 1990 - videoconferência e Internet, possibilitaram maior interatividade e ampliaram o ambiente de sala de aula. 5676 Esta ampliação permite que a informação seja transmitida de maneira mais veloz. Segundo Scriven (1991, p. 82) a informação não é educação, mas o conhecimento se firma na informação. A finalidade é utilizar o computador como ferramenta para aprender por meio dele e não aprender sobre ele, isto é específico para quem desenvolve a máquina e não para aqueles que apenas querem utilizá-lo como um meio de aprendizado. Há muitos críticos da utilização de tecnologia comunicativa na educação. Grande parte das observações contrárias à utilização de modernas tecnologias na educação é feita não por causa da tecnologia em si, mas principalmente pelo uso que dela se faz. Por um lado, de maneira geral não se prepara os profissionais da educação para tirarem o máximo proveito da tecnologia e, por outro, esta, em várias ocasiões, tem servido simplesmente como meio de fixação de uma mensagem única e acrítica. Da mesma forma, a internet é outro recurso capaz de possibilitar o acesso rápido as informações e capaz de gerar desta maneira amplas possibilidades para seu uso. Assim, McCormack e Jones apud Torres (2003, p. 22-39) colocam como vantagens da Internet, em relação a outras mídias: [...] o uso da Internet como meio distribuidor de informações em substituição de outros meios como CD-ROMs e material impresso, proporciona a vantagem da independência geográfica e temporal, possui velocidade para a transmissão de dados, é especialmente poderosa na propagação de informações e repassa essas informações até os pontos geograficamente mais distantes do globo de forma segura. Além disso, a Internet é um excelente meio para comunicações, podendo ser classificada tanto como uma tecnologia assíncrona como síncrona. Com esses recursos a sua disposição cabe ao professor procurar formas ótimas de aproveitar esses recursos à sua prática pedagógica, incorporando-as de tal forma que se constituam, enfim, parte da sua ação docente. O ambiente virtual de aprendizagem ajuda também na auto-organização do trabalho. Ao mesmo tempo, por ser um ambiente conveniente, flexível e sem horários pré-definidos, onde aluno pode optar por fazer ou adiar determinada atividade para um outro momento, faz-se necessário ao professor organizar-se, no sentido de não perder-se no processo. A educação online permite, ainda, que o aluno seja realmente ativo, responsável pela sua aprendizagem e, principalmente, aprenda a aprender. No entanto, como o aluno também tem uma cultura de espera por comando e orientação cabe ao professor reverter esse quadro, mostrando aos alunos a necessidade de busca pela informação. Em outras palavras, é preciso enfatizar a ação por propensão e disposição própria e não somente por obediência a um 5677 comando. Além disso, a educação a distância e, especificamente os cursos online, respeita o processo de ensino-aprendizagem de cada aluno, pois o estudante tem condições de dirigir a maior parte do processo, de acordo com sua disponibilidade pessoal. Diante das mais vastas possibilidades e características disponíveis num ambiente virtual de aprendizagem ficam nítidas as necessidades de uma atuação efetiva do corpo docente e de um planejamento que contemple a disponibilização da infra-estrutura administrativa, tecnológica e financeira adequada ao modelo educacional proposto. A Prática Docente na Mediação do Conhecimento Virtual Os desafios enfrentados pela área educacional nas últimas décadas, com a inserção das tecnologias da informação e comunicação é muito grande. Existe um descompasso de crescimento entre tecnologia e a educação. Conforme Peters (2003): Há uma diferença grande de ritmo entre a evolução tecnológica e a movimentação teórica, científica e institucional da área da educação. As universidades precisam habilitar-se continuamente a complementar-se umas às outras e a se associar ao mundo do trabalho, para responder às escolhas dos seus alunos, aceitando que os mesmos sejam livres para combinar componentes do ensino presencial, do ensino a distância e do estudo digital, num clima revolucionário referido como o da “virada copernicana para a didática da possibilitação. (PETERS, 2003, p.15) Educar para aprender é o novo desafio posto para os educadores, exigindo muito segundo Morin (2002) “mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e propostas mais abertas de pesquisa e comunicação”. Alarcão (2005, p.5) afirma “estarmos passando da “sociedade da informação” para a sociedade da aprendizagem”, pois, segundo ela, se não há uma organização da informação não há conhecimento. Kenski (1998) afirma “ser necessário estar em permanente estado de aprendizagem e adaptação ao novo.” No entanto quando nos referimos a educação, a retórica permanece, pois sempre existe aquele que ensina e aquele a quem se ensina. No caso da EAD, essas relações acontecem em um contexto social muito mais amplo. Esta relação educativa acontece através de uma prática comunicacional, onde os docentes assumem o papel de mediadores do conhecimento, criando assim novas formas de aprender a aprender. 5678 Para Martins (2002, p. 28) existe uma mudança de atitude em relação à participação e ao compromisso do aluno e do professor, que são encarados como parceiros idôneos do processo de aprendizagem, propiciando, por isso, trocas individuais e a construção de grupos que interagem, pesquisam e criam produtos, ao mesmo tempo em que ampliam seus conhecimentos. Tratando-se das relações de ensino/aprendizagem na educação a distância, vamos nos evidenciar, especificamente, nesse novo perfil profissional que surge: tutor online, onde várias são as suas funções, assumindo o papel principal de mediador do conhecimento na educação a distância. A ação da tutoria online é fundamental em qualquer programa em EAD, pois ela faz a mediação entre todos os participantes do processo e propicia a comunicação no momento em que acompanha, além de acolher, acompanhar, avaliar, orientar, motivar, mediar e facilitar o processo de ensino/aprendizagem de seus alunos. A função educativa do tutor online vai além das orientações didático-pedagógicas e de seu envolvimento com os conteúdos disciplinares. É preciso, também, que desenvolva sua capacidade de liderança, envolvendo-se, com atividades de aconselhamento, pautadas numa conduta ética de flexibilidade, de atenção e comprometimento. Mason (1991, p.48), corrobora que, o docente de ensino a distância, o tutor, tem, principalmente, o papel de facilitador intelectual, o qual implica em um trabalho de focalização das discussões dos educandos, encorajamento de sua participação e comentários, críticas. Os aspectos pedagógicos, tecnológicos e técnicos de educação à distância, têm o objetivo de mostrar que a tecnologia constitui uma ferramenta de comunicação, em potencial, para ser utilizada na educação, especialmente como instrumento para promover a possível interação entre professores e alunos. Schlosser e Anderson (1993, p.38) identificam as novas habilidades que os professores devem aprender para assumir o papel de educadores a distância: a) compreender a natureza e a filosofia da educação a distância; b) adaptar as estratégias de ensino para transmitir instruções a distância; c) organizar recursos instrucionais de uma forma a satisfazer o aprendizado a distância; d) dominar o uso de sistemas de telecomunicações; e) envolver-se na organização, planejamento colaborativo e decisões; f) avaliar as realizações, atitudes, e percepções dos alunos a distância. 5679 Os saberes necessários para a atuação do professor enquanto tutor envolve a criação de condições de aprendizado ao aluno e, ao mesmo tempo, acompanhamento de sua evolução. Nesse processo, apenas o conhecimento técnico não é o bastante, faz-se necessário, ainda, a mudança no processo de mediação pedagógica entre o docente e o aluno. Este docente, em programas na modalidade a distância intitulado de tutor, deve de acordo com Munhoz (2004, p. 3) considerar os seguintes aspectos: - a aprendizagem individual auto dirigida; a forma como o estudante aprende, de acordo com as teorias das inteligências múltiplas; as formas de incentivo à participação do aluno no ambiente de aprendizagem colaborativa; a manutenção do interesse do aluno utilizando os conceitos da inteligência emocional; a forma de desenvolver as atividades de modo que a aprendizagem se torne significativa para as atividades pessoais e profissionais dos alunos; a orientação constante para que o aluno desenvolva seus estudos aprendendo a aprender; a orientação constante ao aluno no desenvolvimento da aprendizagem pela pesquisa, desenvolvendo a criticidade na escolha dos conteúdos e criatividade que permita transformar as informações em conhecimento. As funções dos tutores também são sintetizadas por Munhoz (2004, p. 6), no qual se refere a sua atuação que está vinculada aos materiais disponibilizados aos alunos, sejam eles impressos ou não: - - Motivar e despertar o interesse dos alunos no desenvolvimento das práticas propostas; Orientar o aluno nas dificuldades que eles encontrem mantendo contato estreito com os professores especialistas; Ampliar o conjunto de informações sobre novos materiais, artigos, textos e endereços da internet. Desta forma, os alunos podem completar o material que necessitam para concluir com sucesso as tarefas propostas; Avaliar de forma contínua o progresso dos estudantes sob sua responsabilidade; Atuar junto a outros tutores e junto aos professores especialistas ampliando a visão da avaliação individual dos estudantes e identificando as falhas presentes nos materiais e nos trabalhos propostos. Desta maneira, destaca-se a importância do papel dos professores nos sistemas educativos, especialmente na EAD. É inegável no cenário atual que as transformações econômicas, sociais, políticas e culturais apontam para a valorização da produção do conhecimento. Contudo, exige uma nova proposta na sua atuação docente, capaz de 5680 possibilitar a troca de saberes entre os alunos, assim, buscar a formação de discentes mais humanos e conscientes de seu papel como cidadão. A formação do tutor é um elemento essencial para o sucesso da educação online e de acordo com Pimentel (2007, p.8-9), as dez qualidades que um tutor online precisa buscar ter ou desenvolver para seu trabalho ser de qualidade: 1) Coerente com a proposta: ser coerente com a proposta do curso, não exigindo aquilo que o curso não se propõe; 2) Motivado e motivador: ser uma pessoa capaz de motivar pela própria presença (real ou virtual - palavras, intervenções, comentários); 3) Presente: estar presente no AVA de forma equilibrada, acompanhando o desenvolvimento da turma e de cada aluno em particular; 4) Sensível (observador): deverá desenvolver a habilidade da observação sensível, que o capacita a analisar as entrelinhas daquilo que cada um escreve. É a capacidade de observar e analisar o que está subjetivo nas respostas dos alunos; 5) Pedagogicamente capacitado: precisa compreender o processo pedagógicos, as teorias que fundamentam a EAD e a proposta do curso em questão. Com base nesta qualidade é que ele poderá acompanhar os avanços educacionais de cada aluno; 6) Criticidade: sabe instigar seus alunos, provocando-os com argumentos críticos à participação de cada um e de toda a turma; 7) Disponibilidade: saiba organizar seu tempo de tal forma que possa oferecer acompanhamento aos alunos que acompanha; 8) Diplomacia: saiba conciliar as possíveis divergências entre os alunos, quando solicitadas atividades em grupo ou duplas. Normalmente cada aluno tem seu próprio ritmo, e isso poderá ser algo positivo ou negativo, caso o grupo não saiba como administrar a participação de cada um. O tutor fará suas intervenções na busca de conciliar, apaziguar e organizar o grupo; 9) Organizado: precisa de organização para não se atrapalhar no acompanhamento e desenvolvimento de suas observações junto aos alunos; 10) Discreto: nas intervenções busca a discrição necessária para corrigir de tal forma que não exponha o aluno deixando-o sem motivação ou disposição para continuar. 11) Para que estas qualidades possam existir não se pode apenas contar com as experiências do senso comum, exige-se que uma formação sólida e contínua seja efetivada. Sobre o aspecto da formação dos tutores, Vasconcelos Mercado (2007, p. 208) apontam que “pensar a formação de tutores significa pensá-la como um processo contínuo de formação inicial e um processo coletivo de troca de experiências e práticas”. Essa visão nos leva ao entendimento de formação como um processo abrangente e contínuo, até mesmo porque não há um modelo único de tutoria. No que tange a questão da formação do tutor, Nunes (1996, p. 30) afirma que: 5681 É necessário, portanto, dada as especificidades dessa metodologia, que os profissionais sejam capacitados, por um processo sistemático, a fim de dominar a metodologia da Educação a Distância e que, conscientes da especificidade desse ensino, sejam apoiadas em um bom material didático instrucional que é substancialmente diferenciado daquele que é apropriado para o ensino formal e presencial. Uma formação específica é necessária para que este “novo” profissional possa oferecer à educação online aquilo que dele se espera. E como o tutor online irá desenvolver suas atividades em meios não convencionais (se assim pensamos em relação ao ensino formal e presencial), mas para atuar nos AVA, é também com e para este meio que o tutor online precisa ser formado e orientado. Moran (2003, p. 41), postulando sobre os papéis do educador online defende que: Com a educação online os papéis do professor se multiplicam, diferenciam-se e complementam-se, exigindo uma grande capacidade de adaptação e criatividade diante de novas situações, propostas, atividades. [...] O professor online precisa aprender a trabalhar com tecnologias sofisticadas e tecnologias simples. [...] Ele não pode acomodar-se, porque a todo o momento surgem soluções novas e que podem facilitar o trabalho pedagógico com os alunos. Apesar de não direcionar estas orientações especificamente para o papel do tutor online, percebemos que todos os que se envolvem no processo de educação online precisam destas orientações. E ao tutor online, que irá ter mais interação ou mais interatividade com os alunos estas orientações são bem precisas. Para Cassol (2002): A formação específica de tutores inclui portanto, os fundamentos, a metodologia e estrutura acerca do sistema de EAD, a fim de sustentar as bases pedagógicas da aprendizagem sobre o comportamento das pessoas adultas. Inclui ainda os procedimentos de investigação e confecção de materiais didáticos: impressos, audiovisuais, informática, telemática, etc. Cabe evidenciar que, além das condições acima, o tutor deve possuir habilidades de comunicação, competência inter-pessoal, liderança, dinamismo, iniciativa, entusiasmo, criatividade, capacidade para trabalhar em equipes etc [...] A formação de professores tutores se orienta por processos reflexivos de investigação e exige um currículo consistente, tendo como suporte a relação teórica e prática, isto é, que o tutor, à luz da teoria possa, pensar a sua prática direcionada para aprender a aprender. No sistema de EAD, a interlocução aluno orientador é exclusiva. (CASSOL, 2002, p. 48e49) 5682 Evidencia-se na literatura que a relação formação do tutor online e a qualidade e eficácia estão em consonância, exigindo que novos estudos foquem que tipo de formação deve ser exigida e ofertada para que os tutores que atuam em ambientes virtuais de aprendizagem possam ser um elemento de colaboração para que as interações - elemento essencial da educação online - aconteçam de uma forma a evidenciar a construção do conhecimento, na busca de uma educação emancipadora e verdadeiramente promotora de liberdade e autonomia. Considerações Finais O sucesso da utilização das TICs na educação depende de uma mudança de paradigma. É necessário favorecer um processo educativo que fomente a intensa participação interativa e colaborativa entre professores e alunos para que aconteça a transposição da sociedade da informação para a sociedade da aprendizagem. Muito há de se estudar, produzir e experimentar neste campo desafiador que é a educação a distância. É um desafio que exige mais dedicação do professor, mais apoio de uma equipe técnico-pedagógica, mais tempo de preparação e principalmente de acompanhamento. Nesta pedagogia virtual o papel do professor muda a relação do espaço de trocas, de tempo e de interação e comunicação com os alunos. Ele assume um papel de professor facilitador flexível e constante e motivador, exigindo muita atenção, sensibilidade, intuição e domínio tecnológico. Para cada curso, o professor age de forma semelhante e ao mesmo tempo diferente. Não podemos padronizar e impor um modelo único da educação on-line. Cada área do conhecimento precisa mais ou menos deste professor. É importante experimentar, avaliar e avançar até termos segurança do ponto de equilíbrio na gestão do virtual e de caminhar para ampliar as propostas pedagógicas mais adequadas para cada situação de ensino-aprendizagem on-line. O processo é mais lento do que se espera. As mudanças já estão acontecendo aos poucos, tanto no presencial como na educação a distância. Há uma grande desigualdade econômica, de acesso, de maturidade, de motivação das pessoas. Alguns estão prontos para a mudança, outros não. É difícil mudar padrões adquiridos durante toda uma caminhada histórica. O desafio está posto. Predispor-se a aprender é um caminho a ser seguido para quem deseja evoluir como educador. 5683 REFERÊNCIAS ALARCÃO, I. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2005, p. 15. BEHRENS, M. A.; ALCÂNTARA, P. R., TORRES, P. L.; MATOS, E. L. M. A Prática docente e as mídias educacionais: convergências e divergências, 2007. _____. Projetos de aprendizagem colaborativa com tecnologia interativa. In: MORAN, J. M.; MASETTO, M.; BEHRENS, M. A. Novas Tecnologias e mediação pedagógica. Campinas, SP: Papirus, 2000. KENSKI, V. M.. Novas tecnologias: o redimensionamento do espaço e do tempo e os impactos no trabalho docente. 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