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FORMAÇÃO CONTINUADA EM NEUROEDUCAÇÃO: PERCEPÇÃO DE DOCENTES DA REDE
BÁSICA DE EDUCAÇÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA NEUROCIÊNCIA NOS PROCESSOS
EDUCACIONAIS
FORMAÇÃO CONTINUADA EM NEUROEDUCAÇÃO: PERCEPÇÃO
DE DOCENTES DA REDE BÁSICA DE EDUCAÇÃO SOBRE A
IMPORTÂNCIA DA NEUROCIÊNCIA NOS PROCESSOS
EDUCACIONAIS1
FILIPIN, Geórgia Elisa2; VARGAS, Liane da Silva de3; NUNES, Thaila Thaiane
Garcia2; MELLO-CARPES, Pâmela Billig4
RESUMO
Para entender como acontece o aprendizado é essencial que educadores tenham
conhecimento a respeito do avanço do campo científico. Neste artigo relatamos o
desenvolvimento de um programa de formação continuada de profissionais da
Educação Básica cujo objetivo foi discutir noções de neurociência aplicada à
educação. O publico alvo foi formado por professores de Rede Básica de Ensino de
Uruguaiana/RS. O curso oferecido foi gratuito e ocorreu em encontros presenciais
(dividido em quatro módulos) com atividades à distância nos meses de outubro a
dezembro de 2013. Para a avaliação do impacto das ações junto aos professores
participantes foram elaborados questionários pré e pós-curso. Dezenove
professores participaram do curso. Os professores afirmaram que o curso colaborou
para a qualificação do processo ensino-aprendizagem e que a partir das práticas
pedagógicas utilizadas nele começaram a incluir maior dinamismo às suas aulas e
que as novas proposições foram baseadas no funcionamento do cérebro. Desta
forma, percebemos que as ações de formação em neuroeducação beneficiaram os
educadores, uma vez que eles tiveram acesso a informações diferenciadas que
contribuíram para despertar o interesse dos alunos.
Palavras-Chave: Neurociências. Educação. Cérebro. Processo de ensinoaprendizagem.
ABSTRACT
In order to understand how the learning happens is essential that educators have
knowledge about the development of the scientific field. We report here the
development of a continuing professional training program for Basic Education
teachers which aimed to discuss neuroscience applied to education. The public was
consisted of Primary Schools teachers of Uruguaiana/RS. The course took place
with face-to-face meetings (four stages) and distance activities from October to
December 2013. To assess the impact of actions with participating teacher, pre and
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post-course questionnaires were applied. Nineteen teachers participated of the
course. . The teachers stated that the course contributed to the qualification of the
teaching-learning process and that from the pedagogical practices used in the
course they began to include more dynamism to their classes and that all new
proposals were based on brain functioning. We realize that the actions of
neuroeducation training benefited the educators, since they had access to different
information which contributed to arouse the interest of students.
Key-Words: Neuroscience. Education. Brain. Teaching-learning process.
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos os estudos do campo da neurociência vêm avançando e
ganhando
destaque
através
de
bases científicas,
pois
o
interesse
pelo
funcionamento do cérebro e suas potencialidades, junto ao progresso tecnológico,
tem garantido um avanço cientifico significativo, colaborando para o entendimento
da mente humana e seus desdobramentos (RIBEIRO; SENA, 2014).
Segundo Relvas (2009), a neurociência, quando relacionada à educação, é
também conhecida como neurodidática ou neuroeducação, ou seja, há uma
interdisciplinaridade entre essas áreas. Apesar disso, Oliveira (2014) afirma que o
conhecimento gerado pelo avanço científico ainda não tem sido difundido da forma
necessária para que os estudiosos das diversas áreas do saber, dentre elas a
educação, considerem os conceitos do funcionamento do cérebro em suas práticas.
A neurociência se ocupa do estudo de funções como atenção, percepção,
memória e linguagem, que são funções que fazem parte da nossa cognição e que
estão diretamente ligadas a todos os processos de aprendizagem (FONSECA,
2007). No contexto da aprendizagem, podemos considerar a memória uma das mais
importantes funções cognitivas para a área da neuroeducação, pois é ela que nos
permite adquirir novas informações (aprender) e guardá-las para posterior
recordação (consolidação e evocação da memória). Segundo Lent (2010):
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“De certo modo, a aprendizagem pode ser vista como um conjunto de
comportamentos que viabilizam os processos neurobiológicos e
neuropsicológicos da memória” (LENT, 2010, p.650).
Na escola os processos biológicos de aprendizagem e memória são
constantemente requeridos, porém, raramente são considerados no momento do
planejamento didático. É claro que o entendimento destes processos qualifica e
facilita o aprendizado do aluno e, para que possamos compreender os mecanismos
responsáveis pela nossa aprendizagem, devemos levar em consideração os
avanços científicos relacionados à compreensão do cérebro humano.
Embora seja claro que a neurociência pode fornecer informações
importantes para a prática docente, raramente os professores recebem formação
específica na área da neurociência/neurobiologia durante a sua formação e/ou vida
acadêmica. Em vista desta realidade, o objetivo deste artigo é relatar um programa
de formação continuada de profissionais da Educação Básica realizado em
Uruguaiana/RS, cujo objetivo foi discutir noções básicas da neurociência aplicada à
educação, verificando a percepção dos professores em formação acerca da
importância dos conceitos da neurociência para os processos educacionais.
MATERIAIS E MÉTODOS
O público alvo do programa de formação continuada foi composto de
professores da rede pública de Educação Básica da cidade de Uruguaiana/RS.
Dezenove professores, sendo 3 do sexo masculino e 16 do feminino, com idades
entre 21 e 51 anos de idade, participaram do curso. Os docentes tinham graduação
ou ainda estavam em formação superior cursando graduação em pedagogia e
ciências da natureza, ou pós-graduação em psicopedagogia e libras.
O programa ocorreu nas seguintes etapas:
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1) Divulgação: Nesta etapa foram realizadas visitas em 12 escolas, nas
quais foram distribuídos cartazes e folhetos com informações sobre o curso. Além
disso, foram enviados e-mails às escolas convidando os professores a participar do
curso. O curso também foi divulgado através da página do projeto no Facebook®
(“Neurociência na Escola”1), criada pelos organizadores desse programa.
2) Inscrições docentes: Após divulgação, as inscrições dos professores
foram recebidas por e-mail. O curso foi totalmente gratuito e realizado
prioritariamente em horários diferenciados (noite e finais de semana), para facilitar a
participação docente.
3) Avaliação pré-curso: A avaliação pré-curso foi realizada através de um
questionário a ser preenchido manualmente e foi aplicado no primeiro dia do curso.
O questionário possuía perguntas referentes à percepção dos professores a respeito
da neurociência e educação. Na tabela 01 são apresentadas as questões incluídas
no questionário e o seu objetivo.
Tabela 01. Questões incluídas nas avaliações e seus objetivos.
Questão
O que você entende por neurociência?*
Objetivo
Verificar
o
que
os
professores
entendem por neurociência, antes e
após o curso de formação.
Qual a importância da neurociência no
Verificar
o
que
os
professores
âmbito escolar? Por quê?*
consideram importante nesse domínio
antes e após o curso de formação.
Você vê relação entre a neurociência e o Verificar se os docentes veem alguma
conteúdo trabalhado em sala de aula?*
relação
entre
a
neurociência
e
trabalho na sala de aula.
1
https://www.facebook.com/gpfis.neurociencianaescola?fref=ts
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o
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Você desempenha atividades práticas e Verificar se os docentes praticam esse
dinâmicas nas suas aulas?*
Você
acha
importante
tipo de atividade no âmbito escolar.
participar
de Verificar o que os docentes pensam
cursos de formação continuada, como sobre esse tipo de oportunidade.
este?*
Você pretende aplicar (ou tem aplicado) Verificar se os docentes, a partir do
atividades
relacionadas
com
a curso, obtiveram conhecimento para
neurociência em suas aulas? Que tipo de aplicar atividades dinâmicas em sua
atividades?**
sala de aula.
*Perguntas incluídas no questionário pré e pós-curso.
** Perguntas incluídas somente no questionário pós-curso, somente.
4) Realização do curso: O curso “Neurociência Aplicada à Educação”
ocorreu no período entre outubro à dezembro de 2013, com encontros presenciais
realizados no campus Uruguaiana da Universidade Federal do Pampa e no
SESC/Uruguaiana, além de atividades realizadas à distância.
Os encontros presenciais foram divididos em quatro módulos, cada um com
assuntos que iam gradualmente se complementando, sendo eles:
4.1. Princípios de neurociência;
4.2. Neurociência e saúde mental;
4.3. Neurociência no contexto escolar; e,
4.4. Neurociência aplicada à educação.
Os conteúdos trabalhados ao longo destes módulos incluíram:

Neuroanatomia funcional;

Neurofisiologia celular;

Memória e Aprendizagem;

Ciclo sono-vigília;

Desenvolvimento do Sistema Nervoso;
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
Integração sensório-motora;

Neuroplasticidade;

Atenção, emoção e linguagem;

Saúde Mental;

Relação entre a neurociência e a educação;

Ensino contextualizado e as neurociências.

Dificuldades de aprendizado e déficit de atenção.
Rodas de conversas no início de cada módulo foram feitas para retomar
conceitos já trabalhos e obter um retorno dos participantes acerca do andamento do
curso. Os encontros incluíram atividades práticas realizadas com materiais como
peças anatômicas, rodas de conversa, discussões orientadas, aulas expositivas e
estudos de casos, contando com a participação de professores/pesquisadores com
formação na área de neurociência/educação e monitores do projeto, que atuaram
como tutores (figura 01).
Figura 01. Encontros presenciais do curso de Neurociência Aplicada à Educação.
5) Atividades à distância: As atividades à distância foram realizadas
através de leituras cientificas como complementação para um melhor entendimento
das questões apresentadas, facilitando a participação dos professores nas
discussões e atividades propostas.
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6) Avaliação pós-curso: A avaliação pós-curso foi realizada através de um
questionário online, e incluiu as mesmas questões da avaliação prévia, com inclusão
de uma questão adicional, conforme pode ser verificado na tabela 01.
Para análise de dados, as respostas dos professores aos questionários
foram lidas, analisadas e categorizadas para melhor interpretação dos resultados
obtidos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em relação ao entendimento dos professores sobre o conceito de
neurociência percebeu-se que eles compreendiam vários objetos de estudo da
neurociência, uma vez que a maioria apontou processos que realmente são
estudados por esta ciência, porém muitos conceitos foram limitados a processos
específicos, como a aprendizagem, ou não bem caracterizados. Grande parte dos
professores caracterizou a neurociência como o estudo do cérebro, dos processos
neurológicos ou do Sistema Nervoso, conforme pode ser observado na tabela 02.
Tabela 02. Categorias encontradas em relação à percepção dos professores da
Educação Básica acerca da neurociência.
Categoria
Percentual pré-curso Percentual pós-curso
Estudo do cérebro
25,64%
30%
20,4%
20%
Estudo da aprendizagem
15,13%
-
Estudo dos neurônios
9,87%
-
Estudo do Sistema Nervoso
4,61%
40%
4,61%
10%
Estudo
dos
processos
neurológicos
Estudo dos processos de ensinoaprendizagem
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Estudo da mente
4,61%
-
Não sabem/não entenderam
15,13%
-
100%
100%
Total
Ao avaliarmos a mesma questão após o curso de formação em
neurociências percebe-se que o entendimento dos docentes foi ampliado, e todos
passaram a ver a neurociência de forma mais abrangente, envolvendo o estudo do
sistema nervoso e do cérebro.
Tanto no questionário pré quanto pós-curso a neurociência no âmbito
escolar foi unanimemente classificada como muito importante, com justificativas se
referiam, principalmente, à possibilidade de compreender as dificuldades de
aprendizagem dos alunos e os processos de aprendizagem em si, conforme pode
ser verificado nas frases escritas pelos docentes:
“(A neurociência é importante para a educação) porque através de estudos
e pesquisas certamente será possível compreender melhor dificuldades de
aprendizagem, métodos novos de ensino, algo que colabora no
desenvolvimento dos alunos, uma aprendizagem significativa.” (sujeito A,
escrita no questionário pré-intervenção).
“Estudar como o cérebro funciona, nos ajuda a entender as dificuldades de
aprendizagem e os diversos comportamentos de nossos alunos.” (sujeito B,
escrita no questionário pré-intervenção).
“Acho muito importante para nós, professores AEE (atendimento
educacional especializado), entender como é processada a aprendizagem,
como aprende uma criança ou adulto com dificuldades especiais de
aprendizagem.” (sujeito C, escrita no questionário pré-intervenção).
“Quando tomamos conhecimento das descobertas da neurociência
podemos entender melhor a forma como o nosso estudante aprende, sente,
age e reage a situações da vida e da aprendizagem.” (sujeito D, escrita no
questionário pós-intervenção).
“A neurociência pode até parecer um bicho de sete cabeças, mas quando
aprofundada e levada aos alunos de forma clara e simples, se torna
importante para o desenvolvimento das crianças e adolescentes.” (sujeito E,
escrita no questionário pós-intervenção).
Ao verificarmos a frequência de realização de atividades práticas e
dinâmicas, que consideram as características neurobiológicas do cérebro em sala de
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aula, pode-se perceber que a frequência de realização aumentou significativamente
após o curso (tabela 03).
Tabela 3. Frequência de realização de atividades práticas e dinâmicas em sala de aula.
Frequência
de
realização
de
Pré-curso
Pós-curso
Uma vez na semana
31,57%
10%
Duas vezes por semana
5,29%
-
Mais de duas vezes por semana
31,57%
70%
Não realizo esse tipo de atividade
31,57%
20%
atividades práticas e dinâmicas
No questionário pré-curso os professores que afirmaram não realizar
atividades dinâmicas citaram como motivos não saber como incluir esse tipo de
atividade no projeto diário de suas aulas e realizar menos que uma vez por semana
ou apenas quando necessário. No questionário aplicado após o curso, os
profissionais que afirmaram realizar este tipo de atividade uma vez por semana
justificaram que eram docentes auxiliares e os que afirmaram não realizar esse tipo
de atividade justificaram estar fora da sala de aula, em atividades de coordenação
e/ou orientação escolar, porém afirmaram saber a importância desse tipo de
atividade.
No que diz respeito à importância de participar de cursos de formação
continuada 100% dos entrevistados afirmaram que é importante aderir a esse tipo de
oportunidade. Todos os motivos citados tinham como justificativa a obtenção de
novos conhecimentos sobre a área neurocientífica e a atualização profissional para
aplicação em sala de aula, conforme pode ser observado nas respostas dos
professores:
“(Participar de cursos de formação continuada é importante...) para adquirir
novos conhecimentos e aplicá-los em sala de aula, até mesmo para
direcionar melhor meu trabalho em sala de aula.” (sujeito A, escrita no
questionário pré-intervenção).
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“O professor precisa sempre estar atualizado e em constante processo de
aprendizagem, através da pesquisa, de cursos, seminários, para assim
conseguir transmitir conhecimentos e entender melhor como suprir as
dificuldades de seus alunos.” (sujeito B, escrita no questionário préintervenção).
“(Participar de cursos de formação continuada é importante...) para adquirir
mais conhecimento e aplicar com os alunos” (sujeito C, escrita no
questionário pós-intervenção).
“(Participar de cursos de formação continuada é importante...) para
entender melhor o comportamento humano e ficar atualizada na minha
área. Esses conhecimentos me dão subsídios para minhas ações dentro da
escola.” (sujeito D, escrita no questionário pós-intervenção).
“(Participar de cursos de formação continuada é importante...), pois muitas
vezes paramos no tempo, por falta de estímulo ou até por falta de vontade
mesmo, esses cursos vem para nos atualizar, nos motivar para estar dentro
da sala de aula.” (sujeito E, escrita no questionário pós-intervenção).
No questionário pós-curso perguntou-se, ainda, se haveria pretensão de
aplicar ou se já se estava aplicando atividades relacionadas com a neurociência em
salas de aula. Os professores relataram estar aplicando atividades que envolvem
raciocínio lógico, estimulam a criatividade e o desenvolvimento da atenção,
concentração e memória, além de jogos e produção de objetos com sucata e
gincanas. Apenas um dos professores concluintes afirmou ainda não ter aplicado
esse tipo de atividade. Perguntamos, ainda, na pós-intervenção qual a classificação
que os docentes davam para o curso sendo as opções: péssimo, razoável, bom e
ótimo. No resultado foi unânime, sendo classificado como ótimo por 100% deles.
Contudo, é importante destacar que, no decorrer do curso ocorreram
desistências, sendo que finalizaram o último módulo do curso somente dez
professores. As razões para estas desistências, segundo relatos dos próprios
docentes, perpassam por questões como a falta de políticas públicas para apoio da
formação continuada, a elevada carga horária de trabalho docente, os trabalhos que
precisam ser realizados em casa pelos professores, nos mesmos horários do curso,
tais como preparação de aulas e correção de provas, entre outros.
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A partir da análise dos resultados obtidos, verificou-se que o programa de
formação continuada em neurociências proposto apresentou resultados positivos,
colaborando para a qualificação do processo ensino-aprendizagem na Educação
Básica.
Sabendo que a neurociência está cada vez mais relacionada ao contexto
educacional e, sendo tão importante quanto a neuropsicologia no âmbito do
entendimento de como ocorre a aprendizagem e quais são os fatores neurais
envolvidos, é necessário conhecer melhor os avanços científicos que têm o potencial
para trazer melhorias para a educação através de intervenções que transformem
com sucesso os mecanismos neurais principais da aprendizagem (SILVA, 2012).
De acordo com as respostas obtidas nos questionários de avaliação em
relação ao entendimento sobre neurociência dos participantes verificamos uma
diferença de resposta da maioria dos docentes participantes ao final do curso,
quando citaram a neurociência como o estudo do sistema nervoso, e não apenas do
cérebro (pré-curso). Logo, se pode constatar que houve uma ampliação do olhar dos
professores, possibilitando-os construir novas formas didáticas que beneficiam o
desenvolvimento educacional de seus alunos. Temos como exemplo as práticas
pedagógicas que começaram a incluir atividades que consideram a dinâmica e a
biologia cerebral, estimulando o raciocínio, a inteligência e a memória, assim
exercitando e moldando (neuroplasticidade) o cérebro estudantil.
Os professores que percebem a aprendizagem como processo humano, e
que ela está vinculada com as ciências biológicas e condicionantes socioculturais,
assumem uma gestão mais eficaz, tanto das emoções quanto da aprendizagem de
seus alunos (RIBEIRO; SENA, 2014). Assim, compreender como o aluno aprende
possibilita ao professor buscar uma forma mais adequada de estabelecer uma
relação de ensino e aprendizagem com os educandos, a fim de favorecer uma
melhor organização do ensino. Nós acreditamos que a presente proposta contribuiu
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neste sentido, dando novos significados à prática pedagógica dos professores
cursantes e, assim, dos seus alunos.
Cabe destacar as limitações enfrentadas, no que diz respeito à adesão e
permanência de participantes, visto que o número de inscritos foi relativamente
pequeno e, ainda, metade não concluiu o curso. Isto acaba sendo bastante comum
em cursos de formação continuada, e pode estar relacionado ao fato dos
professores já possuem alta carga de trabalho semanal e raramente serem
incentivados a participar de cursos extras, mantendo sua carga horária normal
paralela ao desenvolvimento do curso. Uma solução viável para esse problema seria
proporcionar uma nova visão aos profissionais da educação, mostrando-lhe que o
saber didático pode se unir ao neurocientífico, e, desse modo, permitir que os
processos de aprendizagem e as diferentes formas de ensinar sejam orientados de
maneira que se complementem e aprimorem o saber profissional. Uma vez que
material fornecido para os educadores vem através de pesquisas em neurociência,
logo o funcionamento do cérebro e da mente humana interessa ao processo de
aprendizagem (DE OLIVEIRA, 2014).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entendemos que promover ações de formação continuada aos professores,
especialmente os da rede pública de Educação Básica, é um dos papéis
fundamentais das Universidades. Nesta proposta podemos perceber que tanto os
professores quanto seus alunos foram beneficiados pelas ações de formação de
professores em neuroeducação. Quando se discutem conceitos importantes da
neurociência, tais como os mecanismos e funções do nosso cérebro envolvendo
professores e neurocientistas, podemos alcançar um processo de ensinoaprendizagem mais qualificado, pois dessa forma os educadores tem acesso a
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informações diferenciadas, que podem ser consideradas em seu planejamento e,
assim despertar mais o interesse do aluno.
Os autores agradecem as escolas públicas de Uruguaiana/RS participantes
deste projeto, por meio do agradecimento à Secretaria Municipal de Educação de
Uruguaiana e à 10ª Coordenadoria Regional de Educação do RS, que auxiliaram na
divulgação do programa. Ainda, agradecem os pesquisadores e professores que
colaboraram ministrando aulas e os demais estudantes que atuaram como tutores
nos diferentes módulos do curso e, por fim, ao Programa Novos Talentos/CAPES e
PROEXT/Unipampa, pelos recursos concedidos, que permitiram a execução da
proposta.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DE OLIVEIRA GG. Neurociências e os processos educativos: um saber necessário
na formação de professores. Educação Unisinos (Online), v. 18, p. 13-24, 2014.
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neuropsicológica e psicopedagógica. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
abordagem
LENT R. Cem Bilhões de Neurônios? (2ª edição). 2. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, v.
1. p. 650, 2010.
RELVAS MP. Neurociência e educação: potencialidades dos gêneros humanos na
sala de aula. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009.
RIBEIRO BB; SENA CCB. Diálogos entre neurociência e educação: uma
aproximação possível. Revista Científica CENSUPEG, nº. 3, p. 64-72, 2014.
SILVA CL. Concepção histórico-cultural do cérebro na obra de Vigotski. 2012. 275f.
Tese (Doutorado em Psicologia e Educação) – Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.
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