FORMAÇÃO CONTINUADA EM NEUROEDUCAÇÃO: PERCEPÇÃO DE DOCENTES DA REDE BÁSICA DE EDUCAÇÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA NEUROCIÊNCIA NOS PROCESSOS EDUCACIONAIS FORMAÇÃO CONTINUADA EM NEUROEDUCAÇÃO: PERCEPÇÃO DE DOCENTES DA REDE BÁSICA DE EDUCAÇÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA NEUROCIÊNCIA NOS PROCESSOS EDUCACIONAIS1 FILIPIN, Geórgia Elisa2; VARGAS, Liane da Silva de3; NUNES, Thaila Thaiane Garcia2; MELLO-CARPES, Pâmela Billig4 RESUMO Para entender como acontece o aprendizado é essencial que educadores tenham conhecimento a respeito do avanço do campo científico. Neste artigo relatamos o desenvolvimento de um programa de formação continuada de profissionais da Educação Básica cujo objetivo foi discutir noções de neurociência aplicada à educação. O publico alvo foi formado por professores de Rede Básica de Ensino de Uruguaiana/RS. O curso oferecido foi gratuito e ocorreu em encontros presenciais (dividido em quatro módulos) com atividades à distância nos meses de outubro a dezembro de 2013. Para a avaliação do impacto das ações junto aos professores participantes foram elaborados questionários pré e pós-curso. Dezenove professores participaram do curso. Os professores afirmaram que o curso colaborou para a qualificação do processo ensino-aprendizagem e que a partir das práticas pedagógicas utilizadas nele começaram a incluir maior dinamismo às suas aulas e que as novas proposições foram baseadas no funcionamento do cérebro. Desta forma, percebemos que as ações de formação em neuroeducação beneficiaram os educadores, uma vez que eles tiveram acesso a informações diferenciadas que contribuíram para despertar o interesse dos alunos. Palavras-Chave: Neurociências. Educação. Cérebro. Processo de ensinoaprendizagem. ABSTRACT In order to understand how the learning happens is essential that educators have knowledge about the development of the scientific field. We report here the development of a continuing professional training program for Basic Education teachers which aimed to discuss neuroscience applied to education. The public was consisted of Primary Schools teachers of Uruguaiana/RS. The course took place with face-to-face meetings (four stages) and distance activities from October to December 2013. To assess the impact of actions with participating teacher, pre and CATAVENTOS ISSN: 2176-4867 – ANO 8, N. 01, 2016. 90 FORMAÇÃO CONTINUADA EM NEUROEDUCAÇÃO: PERCEPÇÃO DE DOCENTES DA REDE BÁSICA DE EDUCAÇÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA NEUROCIÊNCIA NOS PROCESSOS EDUCACIONAIS post-course questionnaires were applied. Nineteen teachers participated of the course. . The teachers stated that the course contributed to the qualification of the teaching-learning process and that from the pedagogical practices used in the course they began to include more dynamism to their classes and that all new proposals were based on brain functioning. We realize that the actions of neuroeducation training benefited the educators, since they had access to different information which contributed to arouse the interest of students. Key-Words: Neuroscience. Education. Brain. Teaching-learning process. INTRODUÇÃO Nos últimos anos os estudos do campo da neurociência vêm avançando e ganhando destaque através de bases científicas, pois o interesse pelo funcionamento do cérebro e suas potencialidades, junto ao progresso tecnológico, tem garantido um avanço cientifico significativo, colaborando para o entendimento da mente humana e seus desdobramentos (RIBEIRO; SENA, 2014). Segundo Relvas (2009), a neurociência, quando relacionada à educação, é também conhecida como neurodidática ou neuroeducação, ou seja, há uma interdisciplinaridade entre essas áreas. Apesar disso, Oliveira (2014) afirma que o conhecimento gerado pelo avanço científico ainda não tem sido difundido da forma necessária para que os estudiosos das diversas áreas do saber, dentre elas a educação, considerem os conceitos do funcionamento do cérebro em suas práticas. A neurociência se ocupa do estudo de funções como atenção, percepção, memória e linguagem, que são funções que fazem parte da nossa cognição e que estão diretamente ligadas a todos os processos de aprendizagem (FONSECA, 2007). No contexto da aprendizagem, podemos considerar a memória uma das mais importantes funções cognitivas para a área da neuroeducação, pois é ela que nos permite adquirir novas informações (aprender) e guardá-las para posterior recordação (consolidação e evocação da memória). Segundo Lent (2010): CATAVENTOS ISSN: 2176-4867 – ANO 8, N. 01, 2016. 91 FORMAÇÃO CONTINUADA EM NEUROEDUCAÇÃO: PERCEPÇÃO DE DOCENTES DA REDE BÁSICA DE EDUCAÇÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA NEUROCIÊNCIA NOS PROCESSOS EDUCACIONAIS “De certo modo, a aprendizagem pode ser vista como um conjunto de comportamentos que viabilizam os processos neurobiológicos e neuropsicológicos da memória” (LENT, 2010, p.650). Na escola os processos biológicos de aprendizagem e memória são constantemente requeridos, porém, raramente são considerados no momento do planejamento didático. É claro que o entendimento destes processos qualifica e facilita o aprendizado do aluno e, para que possamos compreender os mecanismos responsáveis pela nossa aprendizagem, devemos levar em consideração os avanços científicos relacionados à compreensão do cérebro humano. Embora seja claro que a neurociência pode fornecer informações importantes para a prática docente, raramente os professores recebem formação específica na área da neurociência/neurobiologia durante a sua formação e/ou vida acadêmica. Em vista desta realidade, o objetivo deste artigo é relatar um programa de formação continuada de profissionais da Educação Básica realizado em Uruguaiana/RS, cujo objetivo foi discutir noções básicas da neurociência aplicada à educação, verificando a percepção dos professores em formação acerca da importância dos conceitos da neurociência para os processos educacionais. MATERIAIS E MÉTODOS O público alvo do programa de formação continuada foi composto de professores da rede pública de Educação Básica da cidade de Uruguaiana/RS. Dezenove professores, sendo 3 do sexo masculino e 16 do feminino, com idades entre 21 e 51 anos de idade, participaram do curso. Os docentes tinham graduação ou ainda estavam em formação superior cursando graduação em pedagogia e ciências da natureza, ou pós-graduação em psicopedagogia e libras. O programa ocorreu nas seguintes etapas: CATAVENTOS ISSN: 2176-4867 – ANO 8, N. 01, 2016. 92 FORMAÇÃO CONTINUADA EM NEUROEDUCAÇÃO: PERCEPÇÃO DE DOCENTES DA REDE BÁSICA DE EDUCAÇÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA NEUROCIÊNCIA NOS PROCESSOS EDUCACIONAIS 1) Divulgação: Nesta etapa foram realizadas visitas em 12 escolas, nas quais foram distribuídos cartazes e folhetos com informações sobre o curso. Além disso, foram enviados e-mails às escolas convidando os professores a participar do curso. O curso também foi divulgado através da página do projeto no Facebook® (“Neurociência na Escola”1), criada pelos organizadores desse programa. 2) Inscrições docentes: Após divulgação, as inscrições dos professores foram recebidas por e-mail. O curso foi totalmente gratuito e realizado prioritariamente em horários diferenciados (noite e finais de semana), para facilitar a participação docente. 3) Avaliação pré-curso: A avaliação pré-curso foi realizada através de um questionário a ser preenchido manualmente e foi aplicado no primeiro dia do curso. O questionário possuía perguntas referentes à percepção dos professores a respeito da neurociência e educação. Na tabela 01 são apresentadas as questões incluídas no questionário e o seu objetivo. Tabela 01. Questões incluídas nas avaliações e seus objetivos. Questão O que você entende por neurociência?* Objetivo Verificar o que os professores entendem por neurociência, antes e após o curso de formação. Qual a importância da neurociência no Verificar o que os professores âmbito escolar? Por quê?* consideram importante nesse domínio antes e após o curso de formação. Você vê relação entre a neurociência e o Verificar se os docentes veem alguma conteúdo trabalhado em sala de aula?* relação entre a neurociência e trabalho na sala de aula. 1 https://www.facebook.com/gpfis.neurociencianaescola?fref=ts CATAVENTOS ISSN: 2176-4867 – ANO 8, N. 01, 2016. 93 o FORMAÇÃO CONTINUADA EM NEUROEDUCAÇÃO: PERCEPÇÃO DE DOCENTES DA REDE BÁSICA DE EDUCAÇÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA NEUROCIÊNCIA NOS PROCESSOS EDUCACIONAIS Você desempenha atividades práticas e Verificar se os docentes praticam esse dinâmicas nas suas aulas?* Você acha importante tipo de atividade no âmbito escolar. participar de Verificar o que os docentes pensam cursos de formação continuada, como sobre esse tipo de oportunidade. este?* Você pretende aplicar (ou tem aplicado) Verificar se os docentes, a partir do atividades relacionadas com a curso, obtiveram conhecimento para neurociência em suas aulas? Que tipo de aplicar atividades dinâmicas em sua atividades?** sala de aula. *Perguntas incluídas no questionário pré e pós-curso. ** Perguntas incluídas somente no questionário pós-curso, somente. 4) Realização do curso: O curso “Neurociência Aplicada à Educação” ocorreu no período entre outubro à dezembro de 2013, com encontros presenciais realizados no campus Uruguaiana da Universidade Federal do Pampa e no SESC/Uruguaiana, além de atividades realizadas à distância. Os encontros presenciais foram divididos em quatro módulos, cada um com assuntos que iam gradualmente se complementando, sendo eles: 4.1. Princípios de neurociência; 4.2. Neurociência e saúde mental; 4.3. Neurociência no contexto escolar; e, 4.4. Neurociência aplicada à educação. Os conteúdos trabalhados ao longo destes módulos incluíram: Neuroanatomia funcional; Neurofisiologia celular; Memória e Aprendizagem; Ciclo sono-vigília; Desenvolvimento do Sistema Nervoso; CATAVENTOS ISSN: 2176-4867 – ANO 8, N. 01, 2016. 94 FORMAÇÃO CONTINUADA EM NEUROEDUCAÇÃO: PERCEPÇÃO DE DOCENTES DA REDE BÁSICA DE EDUCAÇÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA NEUROCIÊNCIA NOS PROCESSOS EDUCACIONAIS Integração sensório-motora; Neuroplasticidade; Atenção, emoção e linguagem; Saúde Mental; Relação entre a neurociência e a educação; Ensino contextualizado e as neurociências. Dificuldades de aprendizado e déficit de atenção. Rodas de conversas no início de cada módulo foram feitas para retomar conceitos já trabalhos e obter um retorno dos participantes acerca do andamento do curso. Os encontros incluíram atividades práticas realizadas com materiais como peças anatômicas, rodas de conversa, discussões orientadas, aulas expositivas e estudos de casos, contando com a participação de professores/pesquisadores com formação na área de neurociência/educação e monitores do projeto, que atuaram como tutores (figura 01). Figura 01. Encontros presenciais do curso de Neurociência Aplicada à Educação. 5) Atividades à distância: As atividades à distância foram realizadas através de leituras cientificas como complementação para um melhor entendimento das questões apresentadas, facilitando a participação dos professores nas discussões e atividades propostas. CATAVENTOS ISSN: 2176-4867 – ANO 8, N. 01, 2016. 95 FORMAÇÃO CONTINUADA EM NEUROEDUCAÇÃO: PERCEPÇÃO DE DOCENTES DA REDE BÁSICA DE EDUCAÇÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA NEUROCIÊNCIA NOS PROCESSOS EDUCACIONAIS 6) Avaliação pós-curso: A avaliação pós-curso foi realizada através de um questionário online, e incluiu as mesmas questões da avaliação prévia, com inclusão de uma questão adicional, conforme pode ser verificado na tabela 01. Para análise de dados, as respostas dos professores aos questionários foram lidas, analisadas e categorizadas para melhor interpretação dos resultados obtidos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em relação ao entendimento dos professores sobre o conceito de neurociência percebeu-se que eles compreendiam vários objetos de estudo da neurociência, uma vez que a maioria apontou processos que realmente são estudados por esta ciência, porém muitos conceitos foram limitados a processos específicos, como a aprendizagem, ou não bem caracterizados. Grande parte dos professores caracterizou a neurociência como o estudo do cérebro, dos processos neurológicos ou do Sistema Nervoso, conforme pode ser observado na tabela 02. Tabela 02. Categorias encontradas em relação à percepção dos professores da Educação Básica acerca da neurociência. Categoria Percentual pré-curso Percentual pós-curso Estudo do cérebro 25,64% 30% 20,4% 20% Estudo da aprendizagem 15,13% - Estudo dos neurônios 9,87% - Estudo do Sistema Nervoso 4,61% 40% 4,61% 10% Estudo dos processos neurológicos Estudo dos processos de ensinoaprendizagem CATAVENTOS ISSN: 2176-4867 – ANO 8, N. 01, 2016. 96 FORMAÇÃO CONTINUADA EM NEUROEDUCAÇÃO: PERCEPÇÃO DE DOCENTES DA REDE BÁSICA DE EDUCAÇÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA NEUROCIÊNCIA NOS PROCESSOS EDUCACIONAIS Estudo da mente 4,61% - Não sabem/não entenderam 15,13% - 100% 100% Total Ao avaliarmos a mesma questão após o curso de formação em neurociências percebe-se que o entendimento dos docentes foi ampliado, e todos passaram a ver a neurociência de forma mais abrangente, envolvendo o estudo do sistema nervoso e do cérebro. Tanto no questionário pré quanto pós-curso a neurociência no âmbito escolar foi unanimemente classificada como muito importante, com justificativas se referiam, principalmente, à possibilidade de compreender as dificuldades de aprendizagem dos alunos e os processos de aprendizagem em si, conforme pode ser verificado nas frases escritas pelos docentes: “(A neurociência é importante para a educação) porque através de estudos e pesquisas certamente será possível compreender melhor dificuldades de aprendizagem, métodos novos de ensino, algo que colabora no desenvolvimento dos alunos, uma aprendizagem significativa.” (sujeito A, escrita no questionário pré-intervenção). “Estudar como o cérebro funciona, nos ajuda a entender as dificuldades de aprendizagem e os diversos comportamentos de nossos alunos.” (sujeito B, escrita no questionário pré-intervenção). “Acho muito importante para nós, professores AEE (atendimento educacional especializado), entender como é processada a aprendizagem, como aprende uma criança ou adulto com dificuldades especiais de aprendizagem.” (sujeito C, escrita no questionário pré-intervenção). “Quando tomamos conhecimento das descobertas da neurociência podemos entender melhor a forma como o nosso estudante aprende, sente, age e reage a situações da vida e da aprendizagem.” (sujeito D, escrita no questionário pós-intervenção). “A neurociência pode até parecer um bicho de sete cabeças, mas quando aprofundada e levada aos alunos de forma clara e simples, se torna importante para o desenvolvimento das crianças e adolescentes.” (sujeito E, escrita no questionário pós-intervenção). Ao verificarmos a frequência de realização de atividades práticas e dinâmicas, que consideram as características neurobiológicas do cérebro em sala de CATAVENTOS ISSN: 2176-4867 – ANO 8, N. 01, 2016. 97 FORMAÇÃO CONTINUADA EM NEUROEDUCAÇÃO: PERCEPÇÃO DE DOCENTES DA REDE BÁSICA DE EDUCAÇÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA NEUROCIÊNCIA NOS PROCESSOS EDUCACIONAIS aula, pode-se perceber que a frequência de realização aumentou significativamente após o curso (tabela 03). Tabela 3. Frequência de realização de atividades práticas e dinâmicas em sala de aula. Frequência de realização de Pré-curso Pós-curso Uma vez na semana 31,57% 10% Duas vezes por semana 5,29% - Mais de duas vezes por semana 31,57% 70% Não realizo esse tipo de atividade 31,57% 20% atividades práticas e dinâmicas No questionário pré-curso os professores que afirmaram não realizar atividades dinâmicas citaram como motivos não saber como incluir esse tipo de atividade no projeto diário de suas aulas e realizar menos que uma vez por semana ou apenas quando necessário. No questionário aplicado após o curso, os profissionais que afirmaram realizar este tipo de atividade uma vez por semana justificaram que eram docentes auxiliares e os que afirmaram não realizar esse tipo de atividade justificaram estar fora da sala de aula, em atividades de coordenação e/ou orientação escolar, porém afirmaram saber a importância desse tipo de atividade. No que diz respeito à importância de participar de cursos de formação continuada 100% dos entrevistados afirmaram que é importante aderir a esse tipo de oportunidade. Todos os motivos citados tinham como justificativa a obtenção de novos conhecimentos sobre a área neurocientífica e a atualização profissional para aplicação em sala de aula, conforme pode ser observado nas respostas dos professores: “(Participar de cursos de formação continuada é importante...) para adquirir novos conhecimentos e aplicá-los em sala de aula, até mesmo para direcionar melhor meu trabalho em sala de aula.” (sujeito A, escrita no questionário pré-intervenção). CATAVENTOS ISSN: 2176-4867 – ANO 8, N. 01, 2016. 98 FORMAÇÃO CONTINUADA EM NEUROEDUCAÇÃO: PERCEPÇÃO DE DOCENTES DA REDE BÁSICA DE EDUCAÇÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA NEUROCIÊNCIA NOS PROCESSOS EDUCACIONAIS “O professor precisa sempre estar atualizado e em constante processo de aprendizagem, através da pesquisa, de cursos, seminários, para assim conseguir transmitir conhecimentos e entender melhor como suprir as dificuldades de seus alunos.” (sujeito B, escrita no questionário préintervenção). “(Participar de cursos de formação continuada é importante...) para adquirir mais conhecimento e aplicar com os alunos” (sujeito C, escrita no questionário pós-intervenção). “(Participar de cursos de formação continuada é importante...) para entender melhor o comportamento humano e ficar atualizada na minha área. Esses conhecimentos me dão subsídios para minhas ações dentro da escola.” (sujeito D, escrita no questionário pós-intervenção). “(Participar de cursos de formação continuada é importante...), pois muitas vezes paramos no tempo, por falta de estímulo ou até por falta de vontade mesmo, esses cursos vem para nos atualizar, nos motivar para estar dentro da sala de aula.” (sujeito E, escrita no questionário pós-intervenção). No questionário pós-curso perguntou-se, ainda, se haveria pretensão de aplicar ou se já se estava aplicando atividades relacionadas com a neurociência em salas de aula. Os professores relataram estar aplicando atividades que envolvem raciocínio lógico, estimulam a criatividade e o desenvolvimento da atenção, concentração e memória, além de jogos e produção de objetos com sucata e gincanas. Apenas um dos professores concluintes afirmou ainda não ter aplicado esse tipo de atividade. Perguntamos, ainda, na pós-intervenção qual a classificação que os docentes davam para o curso sendo as opções: péssimo, razoável, bom e ótimo. No resultado foi unânime, sendo classificado como ótimo por 100% deles. Contudo, é importante destacar que, no decorrer do curso ocorreram desistências, sendo que finalizaram o último módulo do curso somente dez professores. As razões para estas desistências, segundo relatos dos próprios docentes, perpassam por questões como a falta de políticas públicas para apoio da formação continuada, a elevada carga horária de trabalho docente, os trabalhos que precisam ser realizados em casa pelos professores, nos mesmos horários do curso, tais como preparação de aulas e correção de provas, entre outros. CATAVENTOS ISSN: 2176-4867 – ANO 8, N. 01, 2016. 99 FORMAÇÃO CONTINUADA EM NEUROEDUCAÇÃO: PERCEPÇÃO DE DOCENTES DA REDE BÁSICA DE EDUCAÇÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA NEUROCIÊNCIA NOS PROCESSOS EDUCACIONAIS A partir da análise dos resultados obtidos, verificou-se que o programa de formação continuada em neurociências proposto apresentou resultados positivos, colaborando para a qualificação do processo ensino-aprendizagem na Educação Básica. Sabendo que a neurociência está cada vez mais relacionada ao contexto educacional e, sendo tão importante quanto a neuropsicologia no âmbito do entendimento de como ocorre a aprendizagem e quais são os fatores neurais envolvidos, é necessário conhecer melhor os avanços científicos que têm o potencial para trazer melhorias para a educação através de intervenções que transformem com sucesso os mecanismos neurais principais da aprendizagem (SILVA, 2012). De acordo com as respostas obtidas nos questionários de avaliação em relação ao entendimento sobre neurociência dos participantes verificamos uma diferença de resposta da maioria dos docentes participantes ao final do curso, quando citaram a neurociência como o estudo do sistema nervoso, e não apenas do cérebro (pré-curso). Logo, se pode constatar que houve uma ampliação do olhar dos professores, possibilitando-os construir novas formas didáticas que beneficiam o desenvolvimento educacional de seus alunos. Temos como exemplo as práticas pedagógicas que começaram a incluir atividades que consideram a dinâmica e a biologia cerebral, estimulando o raciocínio, a inteligência e a memória, assim exercitando e moldando (neuroplasticidade) o cérebro estudantil. Os professores que percebem a aprendizagem como processo humano, e que ela está vinculada com as ciências biológicas e condicionantes socioculturais, assumem uma gestão mais eficaz, tanto das emoções quanto da aprendizagem de seus alunos (RIBEIRO; SENA, 2014). Assim, compreender como o aluno aprende possibilita ao professor buscar uma forma mais adequada de estabelecer uma relação de ensino e aprendizagem com os educandos, a fim de favorecer uma melhor organização do ensino. Nós acreditamos que a presente proposta contribuiu CATAVENTOS ISSN: 2176-4867 – ANO 8, N. 01, 2016. 100 FORMAÇÃO CONTINUADA EM NEUROEDUCAÇÃO: PERCEPÇÃO DE DOCENTES DA REDE BÁSICA DE EDUCAÇÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA NEUROCIÊNCIA NOS PROCESSOS EDUCACIONAIS neste sentido, dando novos significados à prática pedagógica dos professores cursantes e, assim, dos seus alunos. Cabe destacar as limitações enfrentadas, no que diz respeito à adesão e permanência de participantes, visto que o número de inscritos foi relativamente pequeno e, ainda, metade não concluiu o curso. Isto acaba sendo bastante comum em cursos de formação continuada, e pode estar relacionado ao fato dos professores já possuem alta carga de trabalho semanal e raramente serem incentivados a participar de cursos extras, mantendo sua carga horária normal paralela ao desenvolvimento do curso. Uma solução viável para esse problema seria proporcionar uma nova visão aos profissionais da educação, mostrando-lhe que o saber didático pode se unir ao neurocientífico, e, desse modo, permitir que os processos de aprendizagem e as diferentes formas de ensinar sejam orientados de maneira que se complementem e aprimorem o saber profissional. Uma vez que material fornecido para os educadores vem através de pesquisas em neurociência, logo o funcionamento do cérebro e da mente humana interessa ao processo de aprendizagem (DE OLIVEIRA, 2014). CONSIDERAÇÕES FINAIS Entendemos que promover ações de formação continuada aos professores, especialmente os da rede pública de Educação Básica, é um dos papéis fundamentais das Universidades. Nesta proposta podemos perceber que tanto os professores quanto seus alunos foram beneficiados pelas ações de formação de professores em neuroeducação. Quando se discutem conceitos importantes da neurociência, tais como os mecanismos e funções do nosso cérebro envolvendo professores e neurocientistas, podemos alcançar um processo de ensinoaprendizagem mais qualificado, pois dessa forma os educadores tem acesso a CATAVENTOS ISSN: 2176-4867 – ANO 8, N. 01, 2016. 101 FORMAÇÃO CONTINUADA EM NEUROEDUCAÇÃO: PERCEPÇÃO DE DOCENTES DA REDE BÁSICA DE EDUCAÇÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA NEUROCIÊNCIA NOS PROCESSOS EDUCACIONAIS informações diferenciadas, que podem ser consideradas em seu planejamento e, assim despertar mais o interesse do aluno. Os autores agradecem as escolas públicas de Uruguaiana/RS participantes deste projeto, por meio do agradecimento à Secretaria Municipal de Educação de Uruguaiana e à 10ª Coordenadoria Regional de Educação do RS, que auxiliaram na divulgação do programa. Ainda, agradecem os pesquisadores e professores que colaboraram ministrando aulas e os demais estudantes que atuaram como tutores nos diferentes módulos do curso e, por fim, ao Programa Novos Talentos/CAPES e PROEXT/Unipampa, pelos recursos concedidos, que permitiram a execução da proposta. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DE OLIVEIRA GG. Neurociências e os processos educativos: um saber necessário na formação de professores. Educação Unisinos (Online), v. 18, p. 13-24, 2014. FONSECA V. Cognição, neuropsicologia e aprendizagem: neuropsicológica e psicopedagógica. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. abordagem LENT R. Cem Bilhões de Neurônios? (2ª edição). 2. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, v. 1. p. 650, 2010. RELVAS MP. Neurociência e educação: potencialidades dos gêneros humanos na sala de aula. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009. RIBEIRO BB; SENA CCB. Diálogos entre neurociência e educação: uma aproximação possível. Revista Científica CENSUPEG, nº. 3, p. 64-72, 2014. SILVA CL. Concepção histórico-cultural do cérebro na obra de Vigotski. 2012. 275f. Tese (Doutorado em Psicologia e Educação) – Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. CATAVENTOS ISSN: 2176-4867 – ANO 8, N. 01, 2016. 102