uma introdução cultural à história dos alimentos e bebidas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
DISCIPLINA: TÓPICOS ESPECIAIS EM CULTURA MATERIAL
CARGA HORÁRIA: 60 HORAS
CRÉDITOS: O4
PROFESSOR: JOÃO AZEVEDO FERNANDES
PERÍODO: 2006.1
UMA INTRODUÇÃO CULTURAL
À HISTÓRIA DOS ALIMENTOS E BEBIDAS NO BRASIL
Para que serve a comida? Ela não é apenas uma coleção de produtos que podem ser usados
para estudos nutricionais e estatísticos. Ela é também, e ao mesmo tempo, um sistema de
comunicação, um corpo de imagens, um protocolo de usos, situações e comportamentos.
Roland Barthes, 1961.
Objetivo: o curso pretende fazer uma introdução ao estudo histórico das interações, sociais e
culturais, entre a humanidade e os alimentos, com um enfoque principal voltado à construção do
mundo moderno e à formação da identidade alimentar brasileira. Mais do que estudar os aspectos
nutricionais, será conferida especial atenção ao papel de alimentos e bebidas como marcadores sociais,
e como mecanismos de diferenciação étnica e de classe. Será discutido o porquê das escolhas
alimentares e etílicas no passado, e o que estas escolhas nos dizem a respeito das pessoas que as
fizeram e de suas visões de mundo.
Justificativa: os alimentos e bebidas, sua produção, distribuição e consumo, são o fator mais
importante na história humana. A introdução de alimentos exógenos permitiu enormes explosões
demográficas (ex. a batata-doce na China e a batata “inglesa” na Europa), enquanto a falta de
alimentos motivou migrações em massa (como ocorreu na Irlanda no século XIX, e no Nordeste
brasileiro entre os séculos XIX e XX), fatores que ajudaram a moldar o mundo contemporâneo. A
busca por especiarias e sabores exóticos motivou a expansão européia e a formação do escravismo
moderno. Apesar disso, a produção historiográfica sobre o tema é relativamente reduzida,
especialmente no Brasil. Faz-se necessária uma maior reflexão sobre este campo de estudos, durante
longo tempo objeto de escritores “amadores”, mais preocupados em reunir receitas do que abordar os
aspectos culturalmente constitutivos daquilo que se come e bebe.
Avaliação: a avaliação será feita com base na apresentação de seminários em sala de aula, e em
textos produzidos a partir dos temas discutidos durante o curso. Serão especialmente incentivados
trabalhos que, na medida do possível, auxiliem os alunos na construção de suas próprias pesquisas.
Cronograma de textos e temas para cada aula:
1. Perspectivas Históricas para o Estudo de Alimentos e Bebidas
Introdução ao tema e apresentação da bibliografia
2. A Alimentação como Sistema Cultural
Texto-Base:
Mintz, Sidney W. 2001. “Comida e Antropologia: Uma breve revisão”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 16
(47): 31-41.
Leitura Suplementar:
Garnsey, Peter. 2002. Alimentação e Sociedade na Antiguidade Clássica: aspectos materiais e simbólicos dos
alimentos. Lisboa, Replicação (“Introdução: A comida como substância e símbolo”, pp. 1-11).
3. A Alimentação como Sistema de Símbolos
Texto-Base:
Fernández-Armesto, Felipe. 2004. Comida: uma história. Rio de Janeiro, Record (Capítulo 2: “O Significado do
Ato de Comer: A Comida como Rito e Magia”, pp. 49-94)
Leituras Suplementares:
Vilaça, Aparecida. 1992. Comendo Como Gente: formas do canibalismo Wari’. Rio de Janeiro,
EDUFRJ/ANPOCS.
Agnolin, Adone. 2002. “Antropofagia ritual e identidade cultural entre os Tupinambá”. Revista de Antropologia,
45 (1): 131-185.
Soler, Jean. “As razões da Bíblia: regras alimentares hebraicas”, in Jean-Louis Flandrin e Massimo Montanari
(dir.). 1998. História da Alimentação. São Paulo, Estação Liberdade, pp. 80-91.
4. A Alimentação e a Construção de Identidades
Texto-Base:
Montanari, Massimo. 1998. “Sistemas alimentares e modelos de civilização”, in Flandrin e Montanari, op. cit.,
pp. 108-120.
Leituras Suplementares:
Garine, Igor de. 2001. “Views about food prejudice and stereotypes”. Social Science Information, 40 (3): 487507.
Fernandes, João A. 2005. “Sobre Civilizados e Bárbaros: O Álcool e as Trocas Culturais na Antiguidade
Européia”.
Revista
Cantareira,
I
(II),
22
p.,
disponível
em
http://www.historia.uff.br/cantareira/edic_passadas/v7/artigo_1.htm
5. Alimentos e Bebidas como Marcadores Sociais
Texto-Base:
Fernández-Armesto, Felipe, 2004, op. cit., Capítulo 5: “Comida e Classe Social: A Desigualdade e o Surgimento
da Haute Cuisine”, pp. 161-199.
Leituras Suplementares:
Montanari, Massimo. 2003. A Fome e a Abundância: História da Alimentação na Europa. Bauru, Edusc
(Capítulo 3: “A cada um o que é seu”, pp. 91-125)
Corbier, Mireille. 1988. “A fava e a moréia: hierarquias sociais dos alimentos em Roma”, in Flandrin e
Montanari, op. cit., pp. 217-237.
6. A Alimentação e o Mundo Moderno
Texto-Base:
Flandrin, Jean-Louis. 1998. “Os Tempos Modernos”, in Flandrin e Montanari, op. cit., pp. 532-559.
Leituras Suplementares:
Braudel, Fernand. 1995. Civilização Material, Economia e Capitalismo (v. I: As Estruturas do Cotidiano). São
Paulo, Martins Fontes, (Capítulo 3: “O supérfluo e o costumeiro: alimentos e bebidas”, pp. 161-236).
Strong, Roy. 2004. Banquete: uma história ilustrada da culinária, dos costumes e da fartura à mesa. Rio de
Janeiro, Jorge Zahar, (Capítulo 3: “Aos Olhos do Espectador”, pp. 69-111).
7. Expansão Européia e Modelos Alimentares
Texto-Base:
Montanari, Massimo. 2003, op. cit., Capítulo 4: “A Europa e o mundo”, pp. 127-162.
Leituras Suplementares:
Fernández-Armesto, Felipe, 2004, op. cit., Capítulo 7: “Questionando a Evolução: A Comida e o Intercâmbio
Ecológico”, pp. 201-277
Launay, Robert. 2003. “Tasting the World: Food in Early European Travel Narratives”. Food & Foodways, 11:
27–47.
.
8. As Bases Portuguesas da Alimentação Brasileira
Texto-Base:
Câmara Cascudo, Luís da. 2004 (1967/8). História da Alimentação no Brasil. São Paulo, Global, (Capítulo
“Ementa Portuguesa”, pp. 228-334).
Leituras Suplementares:
Arnaut, Salvador D. 2000. A Arte de Comer em Portugal na Idade Média. Sintra, Colares.
Cruz, Marques da. 1998. À Mesa com Luís Vaz de Camões ou o romance da cozinha no Portugal das
Descobertas. Sintra, Colares.
Braga, Isabel M. D. 2004. Do Primeiro Almoço à Ceia: estudos de história da alimentação. Sintra, Colares
(Capítulo I: “A Alimentação das Minorias no Portugal Quinhentista”, pp. 11-33; Capítulo II: “O Peixe na Dieta
Alimentar dos Portugueses, séculos XVI-XVIII”, pp. 35-54).
9. Alimentos e Bebidas Indígenas
Texto-Base:
Câmara Cascudo, Luís da. 2004 (1967/8), op. cit., Capítulo “Cardápio Indígena”, pp. 71-160.
Leituras Suplementares:
Pereira, Nunes. 1974. Panorama da Alimentação Indígena: Comidas, Bebidas e Tóxicos na Amazônia Brasileira.
Rio de Janeiro, Livraria São José.
Uzendoski, Michael A. 2004. “Manioc Beer and Meat: Value, Reproduction and Cosmic Substance Among the
Napo Runa of the Ecuadorian Amazon”. Journal of the Royal Anthropological Institute, 10: 883-902.
Raminelli, Ronald. “Da etiqueta canibal: beber antes de comer”, in Renato P. Venâncio e Henrique Carneiro
(orgs.). 2005. Álcool e drogas na história do Brasil. São Paulo / Belo Horizonte, Alameda / Ed. PUCMinas, pp.
29-46.
Fernandes, João A. 2002. “Cauinagens e bebedeiras: os índios e o álcool na história do Brasil”. Revista
AntHropológicas, 13 (2): 39-59.
10. Sabores e Práticas Alimentares Africanas no Brasil
Texto-Base:
Câmara Cascudo, Luís da. 2004 (1967/8), op. cit., Capítulo “Dieta Africana”, pp. 161-226.
Leituras Suplementares:
Freyre, Gilberto. 2000 (1933). Casa Grande e Senzala. Rio de Janeiro, Record, (Capítulo V: “O escravo negro na
vida sexual e de família do brasileiro [continuação]”, pp. 464-532).
Curto, José C. 2002. Álcool e Escravos: o comércio luso-brasileiro do álcool em Mpinda, Luanda e Benguela
durante o tráfico atlântico de escravos (c. 1480-1830) e o seu impacto nas sociedades da África Central
Ocidental. Lisboa, Vulgata (Capítulo 1: “Vinho de palma e cerveja: o álcool nas sociedades da África Central
Ocidental durante os primeiros contatos com os europeus”, pp. 41-67).
11. Comidas e Bebidas na Formação do Mundo Atlântico
Texto-Base:
Alencastro, Luiz F. de. 2000. O Trato dos Viventes: Formação do Brasil no Atlântico Sul (Séculos XVI e XVII).
São Paulo, Cia. das Letras (Capítulo 7: “Angola brasílica”, pp. 247-325).
Leituras Suplementares:
Mintz, Sidney W. 1985. Sweetness and Power: the place of sugar in modern history. New York, Penguin.
Pantoja, Selma. “A Dimensão Atlântica das Quitandeiras”, in Júnia F. Furtado (org.). 2001. Diálogos Oceânicos:
Minas Gerais e as novas abordagens para uma história do Império Ultramarino Português. Belo Horizonte,
Editora UFMG, pp. 45-67.
Fernandes, João A. 2005. “Cachaça: a rainha do Sul”. Atlântica: Revista atlântica de cultura ibero-americana, 2:
84-87.
12. A Alimentação no Brasil Colonial
Texto-Base:
Azevedo, Thales de. 1969 (1949). Povoamento da Cidade do Salvador. Salvador, Itapuã, (Parte III: “Aspectos
Ecológicos da Colonização”, pp. 231-414).
Leituras Suplementares:
Câmara Cascudo, Luís da. 2004 (1967/8), op. cit., Capítulo “Cozinha Brasileira: Sociologia”, pp. 339-430).
Holanda, Sérgio B. de. 1994 (1956). Caminhos e Fronteiras. São Paulo, Cia. das Letras.
Schwartz, Stuart B. 2001. “Roceiros e escravidão: Alimentando o Brasil nos fins do período colonial”, in
Escravos, roceiros e rebeldes, Bauru, Edusc, pp. 117-164.
13. Abordagens Regionais da História da Alimentação
Texto-Base:
Magalhães, Sônia M. de. 2004. A Mesa de Mariana: produção e consumo de alimentos em Minas Gerais (17501850). São Paulo, Annablume / Fapesp.
Leituras Suplementares:
Frieiro, Eduardo. 1982 (1967). Feijão, Angu e Couve: ensaio sobre a comida dos mineiros. Belo Horizonte / São
Paulo, Itatiaia / Edusp.
Mello, Evaldo C. de. 2001. A Ferida de Narciso: ensaio de história regional. São Paulo, Ed.
SENAC.
Davis, Mike. 2002. Holocaustos Coloniais: clima, fome e imperialismo na formação do Terceiro Mundo. Rio de
Janeiro / São Paulo, Record (Parte IV: “A ecologia política da fome”; Capítulo 12: “Brasil: raça e capital no
Nordeste”, pp. 389-405).
14. Álcool e Embriaguez na Formação da Brasilidade
Texto-Base:
Câmara Cascudo, Luís da. 1986 (1968). Prelúdio da Cachaça: Etnologia, História e Sociologia da Aguardente.
Belo Horizonte, Itatiaia.
Leituras Suplementares:
Fernandes, João A. 2006. “Alcohol”, in J. Michael Francis (ed.). Iberia and the Americas, culture, politics, and
history: a multidisciplinary encyclopedia. Santa Barbara (CA), ABC-CLIO, pp. 58-61.
________. 2005. “Movidos a cauim: muito antes da chegada do europeu, os índios da América portuguesa já
bebiam muito”. Revista de História da Biblioteca Nacional, 1 (4): 52-57.
Carneiro, Henrique. 2003. “Bebidas alcoólicas e outras drogas na época moderna: Economia e embriaguez do
século XVI ao XVIII”.
Disponível em http://www.historiadoreletronico.com.br/artigo.php?seccod=faces&idartigo=3
Algranti, Leila M. 2005. “Aguardente de cana e outras aguardentes: por uma história da produção e do consumo
de licores na América portuguesa”, in Venâncio e Carneiro (orgs.), op. cit., pp. 71-92.
15. Conclusão
Avaliação e discussão dos resultados do curso.
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