Ano 3 - Número 19 - agosto de 2013

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ANO 3 – NÚMERO 19 – AGOSTO DE 2013 • PROFESSORES RESPONSÁVEIS: FLÁVIO RIANI & RICARDO RABELO
1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS
As estratégias econômicas conjunturais adotadas pelo governo revelam dois pontos
importantes no gerenciamento econômico do país: primeiro elas mostram a permanente
necessidade das avaliações dos custos e benefícios das medidas adotadas. Como exemplo, com a
elevação dos juros torna-se necessário ponderar os efeitos “positivos” que podem provocar no
controle da inflação com os custos de tornar os investimentos produtivos menos atrativos.
Segundo, elas também revelam, com o tempo, os efeitos positivos causados por decisões tomadas
ou não tomadas no passado.
O governo brasileiro vive esse dilema. Com a trajetória crescente da inflação no meio do
semestre passado o governo teve que tomar uma série de medidas para controlar a elevação dos
preços. Para tanto, depois de um congelamento de quase quatro meses, ele iniciou um processo
de elevação da taxa básica de juros (SELIC) como uma das alternativas para controlar a demanda,
visando diminuir a inflação.
Os números mostram que tal política associada a outros eventos sociais marcantes no mês
de junho, como as manifestações populares, conseguiu impor a trajetória decrescente da inflação,
tornando-a praticamente zero em julho.
Por outro lado, enquanto constata-se tal comportamento, surge a “inesperada” elevação
do dólar que atua no sentido oposto, elevando os custos básicos do setor produtivo importador de
bens e serviços que compõem sua cadeia produtiva. Nessa Carta avaliamos estes dois aspectos
importantes da conjuntura econômica, mostrando que a questão cambial reflete mudanças
importantes da economia brasileira e internacional e pode ter impactos importantes na inflação e
na possível retomada do crescimento econômico neste ano.
2 – ALIMENTOS E MANIFESTAÇÕES SEGURAM INFLAÇÃO EM JULHO
Prof. Flávio Riani
O IPCA de julho de 2013, gráfico 1,
praticamente zerou a inflação no mês
comparativamente ao mês anterior. A taxa de 0,03% ficou bem abaixo dos 0,26% apurado em
junho, e tornou-se o mais baixo resultado desde julho de 2010 quando atingiu 0,01%
Com isso, considerando os 12 meses, o acumulado de 6,27% ficou abaixo do teto máximo
de 6,4% projetado pelo governo para 2013.
– EXPEDIENTE –
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais: Grão-Chanceler – Dom Walmor Oliveira de Azevedo | Reitor – Professor Dom
Joaquim Giovani Mol Guimarães | Vice-Reitora – Professora Patrícia Bernardes | Assessor Especial da Reitoria – Professor José Tarcísio
Amorim | Chefe de Gabinete do Reitor – Professor Paulo Roberto Souza | Chefia do Departamento de Economia – Professora Ana Maria
Botelho | Coordenação do Curso de Ciências Econômicas – Professora Ana Maria Botelho | Coordenação Geral – Professor Flávio Riani e
Professor Ricardo F. Rabelo
Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais: Prédio 14, sala 103 | Avenida Dom José Gaspar, 500 | Bairro Coração Eucarístico
CEP: 30535-901 | Tel: 3319.4309 | www.pucminas.br/iceg/conjuntura | [email protected]
Gráfico 1 - Brasil IPCA mensal
abril/2011 a jul/2013
1
0,86
0,9
0,8
0,79
0,77
0,59
0,64
0,7
0,53
0,6
0,47
0,5
0,52 0,5
0,45
0,43
0,6
0,55
0,47
0,43
0,37
0,4
0,6
0,57
0,56
0,37
0,36
0,41
0,3
0,15
0,2
0,26
0,16
0,21
0,1
0,03
0,08
Dados do gráfico 1 mostram que o IPCA de 0,03% é o mais baixo do período
destacado e deu continuidade a trajetória decrescente da inflação observada a partir de
fevereiro de 2013.
Diferentemente do que ocorreu no início do ano, o segmento alimentos e bebidas
deu uma trégua na pressão inflacionária, apurando-se uma deflação no mês de julho
quando apresentou variação de -0,33%.
De forma direta as manifestações populares por redução das tarifas dos ônibus
urbanos também contribuíram para o controle da inflação uma vez que o segmento
transporte foi o que apresentou maior queda de preços em julho (-0,66%)
comparativamente a junho.
Conforme mostra o gráfico 2, além dos Alimentos e Bebidas e Transportes os setor
de Vestuário, com queda de -0,39% foi também outro segmento que contribuiu para a
queda da taxa inflacionária em julho.
– 2 –
jul/13
jun/13
abr/13
mai/13
mar/13
jan/13
fev/13
dez/12
nov/12
out/12
set/12
ago/12
jul/12
jun/12
mai/12
abr/12
fev/12
mar/12
jan/12
dez/11
nov/11
out/11
set/11
ago/11
jul/11
jun/11
mai/11
abr/11
0
Gráfico 2 - Brasil IPCA por grupos
julho-2013
Alim. e Bebidas
1,13
Vestuário
-0,66
IPCA
Saúde e C.Pessoais
Habitação
Art.Residência
Comunicação
0,03
Transportes
-0,39
Desp.Pessoais
-0,33
Educação
-1,00
-0,50
-
0,50
1,00
1,50
Em termos regionais, observa-se que houve uma variação muito grande nas taxas
de inflação. O gráfico 3 mostra, por exemplo, que enquanto em Recife ela foi
praticamente zero, em Curitiba ela alcançou 0,48% e em quatro outras capitais ela foi
negativa, com destaque para o Rio de Janeiro.
Gráfico 3 - Brasil - IPCA por Regiões
Julho-2013
0,60
0,50
0,48
0,40
0,30
0,20
0,10
0,03
0,00
-0,10
-0,20
-0,30
Fonte: IBGE
O setor de Bebidas e Alimentação se tornou uma das principais causas da elevação da
inflação no início do ano. A queda de -0,33% em julho explica o movimento observado
também nos valores da cesta básica em todo o país. Entre julho e junho, a tabela 1
mostra que a cesta básica média no Brasil diminuiu de R$ 298,47 para R$ 285,09, com
queda de 4,48%.
– 3 –
Outro dado importante foi o fato de ter havido queda no valor da cesta básica em
todas as regiões pesquisadas pelo DIEESE.
Tabela 1
Cesta Básica - Variações nos Preços
Principais Capitais - junho e julho de 2013
Capitais
Valor
Valor
Junho
Julho
Aracajú
248,07
239,36
Belém
309,01
299,07
Belo Horizonte
308,48
293,48
Brasília
312,09
284,45
Campo Grande
275,91
264,87
Curitiba
294,50
279,66
Florianópolis
307,44
284,03
Fortaleza
292,86
275,27
Goiânia
285,47
269,34
João Pessoa
285,47
275,54
Manaus
316,29
310,52
Natal
284,69
271,61
Porto Alegre
329,16
305,91
Recife
296,67
279,98
Rio de Janeiro
310,00
300,71
Salvador
260,20
259,73
São Paulo
340,46
327,44
Vitória
315,63
310,73
Média
298,47
285,09
Fonte: DIEESE
-
Variação
Mensal
3,51
3,22
4,86
8,86
4,00
5,04
7,61
6,01
7,00
3,48
1,82
4,59
7,06
5,63
3,00
0,18
3,82
1,55
4,48
No mês de julho, conforme grárico 4, observa-se também uma variação de 37% entre o
valor da maior cesta básica (São Paulo – R$ 327,44 ) e o da menor ( Aracajú - R$ 239,36 ).
Gráfico 4 - Valores da Cesta Básica
Principais Capitais - julho 2013 Julho
Média
São Paulo
Manaus
Porto Alegre
Rio de Janeiro
Belém
Brasília
Belo Horizonte
Florianópolis
Recife
Curitiba
João Pessoa
Fortaleza
Natal
Goiânia
Salvador
Campo Grande
Aracajú
Vitória
327,44
285,09
350,00
300,00
239,36
250,00
200,00
150,00
100,00
50,00
-
Por fim vale novamente destacar no gráfico 5 a queda no valor da cesta básica observada
em todas as regiões pesquisadas, com destaque para Brasília cuja variação alcançou 8,86%.
– 4 –
Gráfico 5 - Taxas de Quedas nas Cestas Básicas
Principais Capitais Julho/Junho-2013
10,00
9,00
8,00
7,00
6,00
5,00
4,00
3,00
2,00
1,00
-
8,86
4,48
0,18
3- Desvalorização Do Real : A Economia Brasileira na Encruzilhada
Prof. Ricardo F. Rabelo
O mês de agosto tem mostrado uma a aceleração muito intensa do processo de
desvalorização do real, mesmo em relação ao já vem acontecendo neste ano. No mês a
desvalorização foi de 4,89% (até o dia 16) e, no ano, de 17,09%. Este fenômeno vem
ocorrendo desde o final de 2011, quando o Governo optou por uma política cambial que
priorizasse a competitividade da produção industrial brasileira externa e internamente,
sem abandonar totalmente a manutenção de certa valorização da moeda para contribuir
na política de metas de inflação. Naquele momento um expressivo fluxo de recursos
externos provocava uma tendência à valorização do real, e o governo optou por adotar
uma política de controle de capitais baseada na aplicação de alíquotas de IOF sobre os
derivativos cambiais, visando atenuar o impacto de operações de “arbitragem” que
explorassem o grande diferencial entre taxas locais e internacionais de juros.
Inicialmente o efeito destas medidas foi inócuo, mas gradativamente a taxa de
câmbio começou a se mover dos 1,70 reais por dólar para 1,90 a 2,10, valores que foram
posteriormente considerados piso e teto de uma possível nova política de bandas
cambiais.
O processo de desvalorização foi possível pela atuação de vários fatores,
combinando a política cambial com a queda da taxa básica de juros, internamente e
externamente a crise européia que implicou na redução dos saldos na Balança comercial e
na redução da entrada de capital externo.
Neste ano, a política monetária voltou a se direcionar para a contenção da
inflação, tendo iniciado um processo de majoração da taxa básica de juros, dos 7,5% do
– 5 –
início do ano para os 8,5% até agosto , tendo o Banco Central sinalizado com um viés de
alta até o final do ano. Já a Balança Comercial apresentou um expressivo déficit de US$
4,98 bilhões de janeiro a julho deste ano, o que significa uma deficiência de entrada de
recursos externos na economia pelo canal comercial.
Gráfico 6
Taxas de Câmbio Real/ US Dólar
Março -Agosto de 2013(*)
2,5
2
R$/ 1 dólar
1,5
1
0,5
0
01/03/2013
01/04/2013
01/05/2013
01/06/2013
Meses
(*) Até 26/08/2013
01/07/2013
01/08/2013
Fonte: Banco Central
No período de janeiro a julho deste ano, as exportações registraram US$ 135,23
bilhões, com média diária de US$ 926 milhões e queda de 4,4% frente a igual período do
ano passado, sendo que as importações foram de US$ 140,21 bilhões – com média de
US$ 960 milhões por dia útil e alta de 3,4% sobre igual período de 2012.Em julho, houve
um resultado negativo de US$ 1,89 bilhão na balança comercial brasileira.
A aceleração da desvalorização do real no mês de agosto pode ser parcialmente
explicada pelo fluxo de recursos estrangeiros que entra ou deixa a economia. Na primeira
quinzena de Agosto, constatou-se saída líquida de divisas no valor de 279 milhões da
economia brasileira. A redução da saída de divisas está se dando principalmente pelo
canal comercial.Anteriormente, tivemos em junho uma evasão de US$ 2,6 bilhões e no
mês seguinte mais US$ 1,44 bilhão saíram do país.
Considerando o valor acumulado deste ano, até dia 16 de agosto, tivemos o
ingresso de US$ 7,8 bilhões, valor que significa uma redução de 65% em relação ao
mesmo período do ano passado – que registrou o expressivo montante de US$ 22,7
bilhões.
Essa debilidade do fluxo de recursos externos, em dólar, no ano corrente pode
acarretar problemas de financiamento das contas externas. Considerando como ponto de
– 6 –
partida o ano de 2005, em apenas um ano tivemos fluxo externo negativo, em 2008, com
a evasão de US$ 983 milhões do país. Em 2009, 2010, 2011 e 2012, houve entrada líquida
de recursos de, respectivamente, US$ 28,7 bilhões, US$ 24,3 bilhões, US$ 65 bilhões e US$
16,7 bilhões.
Esse recuo na entrada de recursos externos no país registrado até a 1ª. Quinzena
do mês pode ser uma das explicações para a desvalorização do real, mas não sua
volatilidade no período seguinte, já que o volume da saída de recursos é menor que nos
meses anteriores. A evolução de patamar da taxa de câmbio de R$ 2,30 para R$ 2,40
mostra que há um movimento especulativo importante , ocasionado pela mudança de
política monetária anunciada pelo FED e confirmada pela última ata do dia 15/8.
3 - 1 - A Intervenção do Bacen
Para impedir que esta ação especulativa tenha continuidade, o Bacen utilizou-se
dos instrumentos de intervenção no câmbio, realizando leilões de swap para rolagem e
novos contratos e leilão de linha, com a venda de dólares com compromisso de recompra,
envolvendo, ao todo, quase US$ 6 bilhões em recursos. Posteriormente o Bacen realizou
um leilão de rolagem de contrato de swap cambial tradicional, equivalente à venda de
dólares no futuro. A autoridade monetária estendeu o vencimento de 20 mil contratos
que vencem no início setembro para 1º de abril de 2014. O Bacen ainda não efetuou
venda no mercado spot, talvez porque entenda que o mercado do dólar poderá voltar a
um patamar de R$ 2,30/1 US$ sem que haja necessidade de queimar reservas
internacionais no mercado à vista.
Optando por uma intervenção no mercado mais incisiva, mas ainda não eficiente,
em 22/08 o Bacen divulgou um plano de oferecer diariamente (com exceção das sextafeiras) um swap cambial tradicional de US$ 500 milhões, que equivale à venda no
mercado futuro – e, semanalmente, um leilão de linha , ou seja , a venda de dólares com
compromisso de recompra, de até US$ 1 bilhão. Com essa ação o Bacen espera eliminar o
componente especulativo que resultou em uma elevação de patamar da taxa de câmbio
em agosto.
A questão que se coloca é até que ponto pode dar resultado este tipo de
intervenção, pois com a evolução negativa do setor externo da economia e a possível
concretização de mudanças importantes na política monetária do Banco Central
americano a desvalorização do real será resultante de fatores concretos e não apenas da
especulação no mercado financeiro.
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