Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília/DF – 25, 26 e 27 de março de 2014 O MODELO DE GESTÃO FHEMIG E A PRESTAÇÃO DE CONTAS AO PACIENTE: A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE CUSTOS HOSPITALARES E O USO DA INFORMAÇÃO DE CUSTOS COMO FERRAMENTA GERENCIAL DE TRANSPARÊNCIA DO GASTO PÚBLICO MÁRCIA MASCARENHAS ALEMÃO MÁRCIO AUGUSTO GONÇALVES HELOISA AZEVEDO DRUMOND 2 Painel 25/074 Observatório de custos: o uso do custo como meta informação no setor saúde O MODELO DE GESTÃO FHEMIG E A PRESTAÇÃO DE CONTAS AO PACIENTE: A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE CUSTOS HOSPITALARES E O USO DA INFORMAÇÃO DE CUSTOS COMO FERRAMENTA GERENCIAL DE TRANSPARÊNCIA DO GASTO PÚBLICO Márcia Mascarenhas Alemão Márcio Augusto Gonçalves Heloisa Azevedo Drumond RESUMO O Modelo de Gestão FHEMIG representa um modelo de gestão de significativa relevância, que agrega metodologia afiançável, estudo empírico, solução informatizada e aplicação prática para a geração de informações que possibilitam a melhora na qualidade dos serviços prestados ao paciente. O objetivo deste relato é mostrar o Modelo de Gestão da FHEMIG como importante marco para a gestão do SUS, que possibilitou a disponibilização da Prestação de Contas ao Paciente, que assegurando a compreensão das informações de custos e demonstrando o tratamento adequado e efetivo do serviço prestado a ele. Trata-se de estudo descritivo e pesquisa aplicada na FHEMIG, que apresenta o Modelo de Gestão FHEMIG como ferramenta de gestão integrada por quatro vetores tecnológicos: (1) Acordo de Resultados, que viabilizou o monitoramento e gestão de indicadores e ações estratégicas, (2) Gestão Hospitalar Integrada, que evidenciou ações tático/gerenciais e estratégicas utilizando as informações de custos como metainformação custos; (3) Software Integrado de Gestão, que informatizou processos administrativos e assistenciais; (4) Laboratório de Gestão, que possibilitou a melhora nos processos assistenciais e administrativos. Essa iniciativa inovadora cumpre com seu papel social e ético, contribuindo na abordagem do “melhor valor pelo dinheiro” e a busca da eficiência organizacional e controle do uso dos recursos públicos para o SUS e para a sociedade. 3 1 INTRODUÇÃO Atualmente, torna-se imprescindível conhecer a composição de gastos e, daí os custos, como um processo norteador das decisões gerenciais. Essas informações devem ter rigor metodológico e estar contidas em sistemas informatizados para que sejam acessadas e válidas como evidências de aspectos que subsidiem tomadas de decisão e solução de problemas. Neste contexto, o Governo de Minas Gerais, por meio do Projeto Estado para Resultados percebeu o quanto é relevante o conhecimento dos custos, principalmente no setor hospitalar público. A FHEMIG, alinhada ao Mapa Estratégico Institucional, às Diretrizes do SUS e o Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado, assumiu o compromisso de implantar um sistema de gestão que possibilitasse a melhor utilização de recursos e otimização da prestação de serviços por meio da identificação dos processos e gastos ineficientes. O Modelo teve como compromisso de “aprimoramento do sistema de custos na Rede FHEMIG”, tendo como sustentação o Acordo de Resultados. Desta forma, alinhado aos propósitos do Governo do Estado, a FHEMIG trabalhou para o alcance dos objetivos estabelecidos no Acordo Externo de Resultados e no Mapa Estratégico, implementandoo Modelo de Gestão FHEMIG como meta institucional, representando importante marco para a gestão do SUS, sendo utilizado para assegurar a qualidade do gasto público. O Modelo de Gestão FHEMIG representa um modelo de gestão de significativa relevância, que agrega metodologia afiançável, estudo empírico, solução informatizada e aplicação prática para a geração de informações que possibilitama melhora na qualidade dos serviços prestados ao paciente. Trata-se de ferramenta de gestão integrada por quatro vetores tecnológicos. Visando atender ao objetivo proposto, esse artigo conta com seis partes, incluindo como primeira esta Introdução, apresentando o objetivo do trabalho. A segunda parte apresenta o referencial teórico, contextualizando o setor saúde e o uso das informações de custos, enfatizando a metainformação custos. A terceira parte apresenta a metodologia utilizada para a adoção do Modelo de Gestão FHEMIG. A quarta parte apresenta a FHEMIG e o Modelo de Gestão FHEMIG, 4 enfatizando os vetores da sua implementação. A sexta parte destaca os resultados deste Modelo, especificamente a Prestação de Contas ao Paciente. A sexta e última parte trata da Conclusão e busca dar um fechamento no trabalho. O objetivo deste relato é mostrar o Modelo de Gestão da FHEMIG como importante marco para a gestão do SUS, e como vem sendo utilizado para assegurar a qualidade do gasto público, possibilitando a disponibilização da Prestação de Contas ao Paciente, que possibilita informar ao paciente os recursos e o atendimento prestado a ele. 2 O SETOR SAÚDE E A INFORMAÇÃO DE CUSTOS No Brasil, desde a década de 60, existe fundamentação legal sobre a obrigatoriedade de utilização das informações de custos pelos órgãos públicos, sem, contudo, haver resultados efetivos na obtenção destas. Esse cenário deu-se, fortemente, pela cultura incipiente de controle de recursos nos setores públicos e instabilidade econômica à época. Atualmente, entretanto, observa-se a alteração deste cenário na administração pública, apoiado pela incorporação de conhecimentos gerenciais utilizados na área privada, o que representa uma transformação no seu paradigma de gestão. Ademais, a Lei de Responsabilidade Fiscal – Lei 101/2000 (BRASIL, 2000), e a Lei de Acesso à Informação Pública – Lei nº 12.527/2011(BRASIL, 2011b), recentemente sancionada, coroam a fundamentação legal de responsabilidade do uso dos recursos e compromisso com a transparência no setor público. Além dessas imposições gerais, o setor saúde apresenta fundamentação legal que determina o uso (e disponibilização) das informações de custos aos cidadãos. Trata-se da Cartilha do Usuário do SUS (BRASIL, 2006), que define ser direito de todo usuário do SUS conhecer os procedimentos aos quais tenha sido submetido ou dos quais tenha se beneficiado, além dos recursos consumidos para tanto. Neste contexto, a utilização de sistemas de custos está sendo incentivada e legalmente exigida gerando uma necessidade de adequação de processos para atender esta demanda. 5 Apesar do representativo volume de gastos, poucas são as informações de custos que evidenciam o uso dos recursos na assistência à saúde. As informações de custos são produzidas por 5% dos hospitais públicos, portanto, insuficientes como requisitos de avaliação dos valores de financiamento do SUS (LA FORGIA E COUTTOLENC, 2009). Os referidos autores apresentam que a ausência de informações confiáveis, padronizadas e sistematizadas de custos dos tratamentos e procedimentos hospitalares no setor público, tem sido um dos fatores críticos para sua ineficiência. Desta forma, a geração de informações de custos constitui questão fundamental para a sustentabilidade do sistema de saúde, por possibilitar evidenciar como os procedimentos hospitalares são efetivamente realizados, além de auxiliar na transparência da utilização dos recursos, sejam eles financeiros ou não-financeiros (humanos, equipamentos, materiais, medicamentos). O setor saúde tem sua importância apresentada pelos vultosos gastos e atendimentos, além de estar preconizada pela Constituição Federal como direito do cidadão e dever do Estado. Além disso, os recursos consumidos no setor são equivalentes a cerca de 8,4% do Produto Interno Bruto (PIB) se se considerar somente os dispêndios federais. Por sua vez, a participação privada corresponde a 4,91% do PIB (BRASIL, 2011a). Ainda, a saúde tem sido apontada por 24,2% da população como o problema mais importante enfrentado no seu cotidiano (BRASIL, 2011b). Neste contexto, a organização hospitalar é considerada complexa (MINTZBERG, 1990), não apenas pela nobreza e amplitude da sua missão, mas, sobretudo, por apresentar uma equipe multidisciplinar com elevado grau de autonomia. Esta equipe visa dar assistência à saúde em caráter preventivo, curativo e reabilitador a pacientes em regime de internação, onde se utiliza tecnologia de ponta de rotina e crescentemente. A gestão hospitalar, por si só, constitui um dos maiores desafios da administração. Há uma rede distinta de serviços - hotelaria, laboratório, farmácia, imaginologia, manutenção de equipamentos, esterilização de materiais, nutrição e dietética, dentre outros – que precisam se interagir de forma harmônica e precisa, por meio de processos multiprofissionais e interdisciplinares, para dar sustentação e segurança a todo o processo assistencial que se presta no âmbito de um hospital. 6 Segundo apresentado por Gonçalves et al (2011) em BRASIL (2013), a busca pela qualidade da gestão é instrumentalizada pela busca da qualidade dos processos em termos de itens de controle e de verificação cibernéticos e não cibernéticos, na prestação de serviços assistenciais. A prática do “nem mais caro e nem mais barato, mas o adequado com qualidade” deve objetivar a gestão na saúde pública. É a expressão correta do Melhor Valor pelo Dinheiro (Best Value for Money). Para os autores, ações como padronização e mudança cultural merecem destaque por sua relevância na qualidade na gestão hospitalar. Para se padronizar faz-se necessário o entendimento dos processos. Na medida em que se padronizam os processos de prestação de serviços e produção de bens atinge-se o patamar de Domínio Tecnológico. Domínio Tecnológico, por sua vez, deve ser entendido como sendo a habilidade de se repetir os processos padronizados obtendo-se sempre o mesmo resultado. Em suma, atinge-se uma baixa variabilidade dos processos, melhorando a qualidade da assistência. Gonçalves et al. (2010; 2011) em BRASIL (2013) apresentam que a apuração de custos no setor público se fundamenta na utilização das informações de custos como metainformação. Metainformação é comumente entendida como informação acerca de informação (GILLILAND-SWETLAND, 2000; TAYLOR, 2003). Assim, a metainformação de custos, conforme apresentada por Gonçalves et al. (2011), constituiu-se em ferramenta essencial, fornecendo informações para o planejamento e a elaboração de indicadores de produto, de resultado e de processo, possibilitando a adequação de consumo e a criação de indicadores econômicos, financeiros e de desempenho, garantindo a qualidade final do produto ou serviço entregue à comunidade. Segundo os mesmos autores, é necessário buscar se apropriar da informação de custos como um sumário sobre “quais” e “como” os recursos são consumidos pelos produtos produzidos ou serviços prestados. Portanto, o custo de uma prestação de serviço público – uma consulta médica ou uma aula, por exemplo (X reais), “traduz” ou “sumariza” o “que” e “como” foram consumidos recursos humanos, materiais, equipamentos etc. para aquele fim. 7 3 METODOLOGIA A problematização da pesquisa envolveu estudo de caso único e observação participante (YIN, 2001). Quanto às estratégias e técnicas de coleta e tratamento de dados tratou-se do caso único envolvendo entrevistas em profundidade e grupo de foco. O método de investigação adotado pode ser caracterizado como sendo observacional e monográfico (GONÇALVES e MEIRELES, 2004). O método de investigação observacional (GONÇALVES e MEIRELES,2004) é aquele em que o cientista observa os fatos e eventos. Por sua vez, trata-se de monográfico na medida em que parte do princípio de que o estudo de um caso em profundidade pode ser representativo para outros semelhantes. Esta pesquisa pode ser caracterizada como quali-quantitativa pois envolve instrumentos de ambas, no sentido de suprir as deficiências oriundas daquelas de natureza única (GONÇALVES e MEIRELES, 2004). Tal fato não traz conflitos uma vez que se manteve a rigidez metodológica necessária. Esta pesquisa de desenho transversal tem quanto à natureza dos dados de análise, uma coleta de dados em entrevista semi-estruturada com simulações tratados com análise de conteúdo e matemática determinística (COOPER, SCHINDLER, 2003). A pesquisa teve como objeto de análise o Modelo de Gestão FHEMIG subsidiou o desenvolvimento gerencial e a aplicação de outros instrumentos de gestão reconhecidamente eficazes, visando atender às demandas legais ao mesmo tempo em que se propôs a ir além disso, ao integrar a perspectiva estratégica à operacional. 4 A FHEMIG E O MODELO DE GESTÃO FHEMIG Minas Gerais é representativa no cenário nacional em assistencial hospitalar considerando a representatividade da FHEMIG. A FHEMIG mantém uma rede de 21 unidades hospitalares prestando assistência médico-hospitalar à população de todo o Estado, através de oferta de serviços especializados e de referência. 8 A FHEMIG pode e deve chamar para si a responsabilidade de gerar metainformação custo com o objetivo de compartilhar e construir benchmarks e accountability. É uma rede formada por 21 hospitais ou unidades assistenciais classificadas em cinco Complexos Assistenciais: 1. Urgência e Emergência, 2. Especialidades, 3. Saúde Mental, 4. Hospitais Gerais e 5. Recuperação e Cuidado ao Idoso. A FHEMIG oferece à população serviços especializados de referência, em consonância com a Política Estadual de Saúde, alinhada à estratégia de Estado para Resultados do Governo de Minas Gerais e aos propósitos do SUS. Atualmente, conta com um orçamento anual superior a R$ 1 bilhão (MINAS GERAIS, 2012). A FHEMIG tem mais de 35 anos de existência e justifica sua responsabilidade pela grandeza dos números que a cercam. Possui o maior número de leitos de terapia intensiva (UTI) disponíveis para o sistema público de saúde do estado: 125 leitos adultos e 75 pediátricos e neonatais. No último ano foram atendidos mais de 60 mil pacientes/dia em UTI, 64 mil pacientes ficaram internados nas UAs, 27 mil cirurgias consumindo, aproximadamente, 70 mil horas de cirurgia, 818 partos, 280 mil consultas médicas eletivas e 146 mil atendimentos de profissionais não médicos. Tornou-se referência nacional na Urgência e Emergência, fato destacado por gerenciar o maior pronto-socorro público do país: Hospital João XXIII. O João XXIII representa Minas Gerais na Rede Hospitais-Sentinela da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), participa do projeto SOS Emergência do Ministério da Saúde (MS) e foi eleito o melhor hospital dentre os participantes. Possui serviço de referência nacional em toxicologia com um atendimento médio de 900 pacientes/mês. Por sua vez, o complexo MG Transplantes, responsável pela captação e transplante de órgãos e tecidos no Estado é, hoje, o segundo maior centro captador do Brasil. Destaca-se, ainda, o Hospital Alberto Cavalcanti como referência em oncologia. Ressalta-se, também, os serviços de referência estadual em infectologia/AIDS, saúde materno-infantil e saúde mental. Na esfera educacional, a FHEMIG possui cinco unidades credenciadas pelos Ministérios da Saúde e Educação como “Hospitais de Ensino”. Ainda na área do ensino, a FHEMIG conta com o maior programa de formação para Residência 9 Médica do estado, sendo membro da Associação Brasileira de Hospitais Universitários (ABRAHUE) e da Associação Brasileira de Escolas Médicas. Todos seus programas de residência estão credenciados junto ao Ministério da Educação, atualmente, com 421 vagas em 19 especialidades médicas e 12 áreas de atuação. O Modelo de Gestão será apresentado por seus vetores, conforme aqui descritos. Este Modelo está alinhado à proposta do Observatório de Custos em Saúde. A Figura 1 temos a representação geográfica das Unidades Assistenciais da FHEMIG. Figura 1 – Representação das Unidades Assistenciais da FHEMIG Fonte Fonte: MINAS GERAIS, 2012 4.1 Observatório de Custos em Saúde O Observatório de Custos em Saúde se propõe a dar continuidade aos estudos e pesquisas tanto do financiamento da saúde quanto dos fatores econômicos envolvidos com a disponibilidade de recursos para tais fins. A produção de assistência à saúde e a sua distribuição entre as populações também fazem parte deste escopo. A relevância deste Observatório de Custos, bem como a divulgação ampla e uso de seus resultados alcançados, pode ser fundamentada nos vultosos números de gastos com assistência à saúde do cidadão, bastante divulgados pela mídia. 10 A gênese do Observatório de Custos e suas propostas deu-se no ano de 2008. A idéia e criação do Observatório de um grupo formado por pesquisadores do Departamento de Ciências Administrativas da UFMG, Direção da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais – FHEMIG e do seu grupo de gestores de custos. Por meio da necessidade de cumprimento da meta pactuada pelo Choque de Gestão do Governo do Estado de Minas Gerais, a FHEMIG tornou-se um campo de pesquisa importante na utilização dos custos como ferramenta de gestão para melhor utilização dos recursos públicos. Deve-se registrar que a idéia inovadora foi apoiada pela Presidência da instituição. O grupo vislumbrou o estudo da compreensão dos custos como um passo adiante em termos de ferramenta a ser utilizada pelos níveis tático/gerencial e operacional nas 21 Unidades Assistenciais da FHEMIG. Ou seja, fortaleceu o entendimento de “como estão sendo consumidos os recursos” e não apenas como sendo mais uma informação a ser centralizada no nível estratégico de “quanto custa” este ou aquele serviço prestado. Desta forma, a união duas grandes instituições, a maior fundação hospitalar pública da América Latina e o conhecimento de uma das maiores universidades brasileiras possibilitou o início do Observatório de Custos em Saúde sem, contudo, ficar restrito a elas. A UFMG, como instituição de pesquisa, é centralizadora do apoio com outras instituições que tem o mesmo objetivo e que compõe agora, uma nova perspectiva, ou seja, uma Rede Nacional de Observatórios de Custos. O Observatório de Custos em Saúde tem atualmente a participação de outras instituições de destacada importância nacional no cenário da Saúde, tais como a Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS/OMS, o Ministério da Saúde – MS, a Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais – SES/MG, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Setor Saúde – IBEDESS e a Associação Hospitalar de Minas Gerais – AHMG. A criação de parcerias como a SES/MG, onde também está formalizado o Observatório de Custos em Saúde e os estudos referentes à assistência à saúde no Estado de Minas Gerais já se iniciaram no primeiro semestre de 2010, fortalecendo ainda mais a base de conhecimento da metainformação de custos. 11 Os objetivos norteadores do Observatório de Custos em Saúde são: 1. proporcionar a interdisciplinar, seus membros acadêmica, e, pesquisadores principalmente, oportunidades Institucional; de 2. interação promover o crescimento científico e tecnológico por meio de projetos de pesquisa em desenvolvimento conjunto pelos membros do Grupo; 3. fortalecimento do conhecimento das instituições envolvidas no Núcleo; 4. criar uma Rede Nacional e Internacional de Observatórios para troca de experiências informações. O Observatório de Custos em Saúde tem como objetivo principal gerar conhecimento que subsidie o debate científico, político, jurídico (a “judicialização” principalmente), financeiro, econômico e acadêmico no setor saúde. Os estudos se apóiam, principalmente, na meta-informação e indicadores gerados pelos estudos de gastos (custos, despesas, investimentos e perdas) e financiamentos envolvidos com a gestão hospitalar. Assim, o Observatório de Custos incentiva a utilização metainformações e indicadores gerados de forma a compreender quais e como os recursos são consumidos. Ao mesmo tempo busca evitar as formas tradicionais rasas e apressadas de cortar e controlar e custos. 4.2 Vetor Tecnológico - Acordos de Resultados Dentre as ações estratégicas da Agenda Setorial do Choque de Gestão da Secretaria de Estado da Saúde, a FHEMIG pactuou, por meio do Acordo de Resultados Externo – AER, a ação “Aprimorar o sistema de controle de custos dos hospitais da FHEMIG”. Esta ação perpassa as áreas de resultados “Vida Saudável, Qualidade e Inovação em Gestão Pública, Rede de Cidades e Serviços e Inovação, Tecnologia e Qualidade” do Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado 20072023. O AER foi pactuado com o Governo do Estado de Minas Gerais e com o Banco Mundial, alinhado ao Mapa Estratégico da instituição, à estratégia de governo e às diretrizes do SUS. Desta forma, a FHEMIG assumiu o compromisso de implantar um sistema de gestão que possibilitasse a melhor utilização de recursos e otimização da prestação de serviços por meio da identificação dos processos e gastos ineficientes. 12 Para o cumprimento da meta a FHEMIG adotou o Modelo de Gestão FHEMIG com o objetivo de possibilitar o cumprimento do Acordo. Inicia-se assim, com um objetivo de atender ao Acordo de Resultados Externo, um esforço conjunto, da direção e da equipe técnica, pela busca de condições que propiciassem a efetiva utilização das informações de custos como instrumento de gestão. No desenvolvimento dos trabalhos de implantação do Modelo, adotou-se um plano de ações bem definido capaz de promover a sensibilização, o envolvimento e as mudanças pretendidas, tanto nos servidores quanto nos processos de trabalho. Buscando facilitar a incorporação de forma mais rápida da “cultura de custos” na Rede, os balizadores que nortearam a implantação do Modelo foram: confiabilidade e consistência da metodologia; prazo de implantação; abrangência na aplicação e apropriação de todos os custos. Elas compreenderam ações estratégicas que possibilitaram o direcionamento, a divulgação do sistema e ações operacionais, que possibilitam a implantação do sistema em toda a Rede. Alinhada a esta proposta, a FHEMIG estabeleceu seu Acordo Interno de Resultados - AIR, ferramenta gerencial utilizada pela FHEMIG para alcançar suas metas anuais e plurianuais (MINAS GERAIS, 2012) a serem cumpridas pelas Unidades Assistenciais e Administração Central. O alinhamento dos Acordos Externo e Internos permitiu o desdobramento da meta externa para todas as Unidades Assistenciais. Assim, houve um comprometimento em todos os níveis da gestão para o cumprimento do acordo e consequentemente, com o Modelo de Gestão FHEMIG. 4.3 Vetor Tecnológico - Gestão Hospitalar Integrada A gestão hospitalar na FHEMIG se baseia em ações e propostas que possibilitaram a implantação do sistema de gerenciamento de custos de forma integrada, gerando resultados para a instituição, seja na organização dos processos gerenciais, seja na produção de metainformação custos. Essa proposta é inovadora, ao utilizar as informações de custos como Indicador de Resultados e Indicador de Processo, sendo basilar como ferramenta de gestão. A utilização das informações de custos como metainformação, estabelecida no Observatório de Custos em Saúde proporcionou o aprimoramento da gestão, incluindo o controle e a utilização das 13 informações geradas para muito além do objetivo tradicional – “cortar custos”. No desenvolvimento dos trabalhos de implantação do Modelo de Gestão FHEMIG, adotou-se um plano de ações táticas bem definido capaz de promover a sensibilização, o envolvimento e as mudanças pretendidas tanto nos servidores quanto nos processos de trabalho. O método adotado para direcionar o sistema de custos foi o Custeio por Absorção, alinhado à proposta Programa Nacional de Gestão de Custos - PNGC. Apesar dos grandes desafios superados, a dificuldade maior deu-se na perspectiva cultural da organização. A cultura de que “Saúde não tem preço” está sendo beneficiada com a criação do Modelo de Gestão e alterada para “saúde não tem preço, mas tem custo”. Buscando facilitar a incorporação de forma mais rápida da “cultura de custos” na Rede, os balizadores que nortearam a implantação do Sistema foram: confiabilidade e consistência da metodologia; prazo de implantação; abrangência na aplicação e apropriação de todos os custos. A gestão de custos trabalhou ações no contexto informacional nos níveis estratégico, tático e operacional de forma a agregar valor à informação de custos. No primeiro momento, fase de Inteligência, buscou-se a definição da metodologia a ser adotada suportada por uma solução informatizada, fundamentada em processos de trabalho e bases de dados sobre consumo e custos bem definidos. Nesse momento, a organização de processos internos e a definição dos métodos e instrumentos de coleta de dados foram realizadas por meio de: a) capacitação de cerca de 800 servidores sobre o método de custeio; b) criação de maior conscientização dos objetivos estratégicos e operacionais pela compreensão do Mapa Estratégico da FHEMIG; c) integração do trabalho desenvolvido nas áreas fornecedoras e clientes; d) unificação das ações de implantação da metodologia para todas as Unidades Assistenciais da FHEMIG através da busca pela normatização. Esta busca foi feita por meio da elaboração do Manual de Implantação do Sistema de Gerenciamento de Custos Hospitalares; e) adequação de informações e integração entre sistemas corporativos, legados e desenvolvidos internamente; f) identificação dos processos ou atividades cujo valor para a Rede indica que o custo precisava ser analisado e controlado com maior cuidado; g) busca permanente pelo envolvimento da alta direção. 14 No segundo momento, fase de Distribuição da Informação, as informações geradas foram disponibilizadas a todos os gestores. Os relatórios foram apresentados para avaliação e análise em reuniões, frutos do Observatório de Custos. Estas reuniões focam na discussão que objetiva a elucidação das dúvidas e solução de problemas além do levantamento de possíveis otimizações. Ao mesmo tempo, visava incentivar o uso gerencial das informações e indicadores gerados pelo sistema. A leitura e o monitoramento dos indicadores de custos subsidiam o serviço de qualidade, na medida em que permitem uma “leitura indireta” da qualidade do processo assistencial e também o benchmarking interno e externo. Por exemplo, um custo excessivamente baixo da alimentação do paciente pode ser indício de uma dieta inadequada e gerar, por conseguinte um estado de subnutrição. Em contrapartida, o custo mais alto de uma dieta poderia garantir, junto a outras informações, a redução do tempo de permanência e ganho de conforto para o usuário. No terceiro momento, ocorreu a fase de Implementação e Controle. Buscou-se a compreensão das informações de custos para além do “quanto custa”, objetivando a desestigmatização dos custos como “ferramenta trivial de corte de gastos”. As informações são vistas como metainformações custos, como Indicador de Resultados e Indicador de Processos. 4.4 Software Integrado de Gestão A criação de uma base informatizada para obtenção das informações constitui fundamental vetor tecnológico ao Modelo de Gestão FHEMIG. A FHEMIG optou pelo desenvolvimento de um software próprio de gestão hospitalar – o Sistema Integrado de Gestão Hospitalar – SIGH. Desta forma, viabilizou a implementação de um sistema integrado de grande porte nas vinte unidades da Rede através de uso de tecnologia e ferramentas modernas de tecnologia de informação sem dispêndio de recursos em licenças de uso. O SIGH utiliza software livre, que significa que seu código-fonte está disponível para alteração e adequação às necessidades de quem o utiliza, sem necessidade de compra de licença. O SIGH é um sistema totalmente integrado desenvolvido em ambiente web, desenvolvido em módulos independentes centralizado em base única que consolida informações de toda a Rede. 15 O SIGH tem como principal objetivo garantir a informatização dos processos de atendimento do paciente, gerando informações consistentes, disponíveis para todos os níveis gerenciais, em tempo real. O sistema agrega todas as funcionalidades de uma ferramenta eficaz de tomada de decisão, dando suporte aos gestores no planejamento das Unidades Assistenciais, com geração e disseminação de informações confiáveis e como subsídio ao planejamento e tomada de decisões. Tem como módulo: Prontuário Eletrônico, Atendimento, Enfermagem, Bloco Cirúrgico, Laboratório, Exames, Farmácia, Hotelaria, Gestão, CME, CCIH, Faturamento, Protocolos Clínicos e Custos. A Figura 2 apresenta a sistematização do SIGH. Figura 2 – Representação do Sistema integrado de gestão hospitalar - SIGH Fonte: Minas Gerais, 2012 Um dos grandes desafios vencidos para a implantação do SIGH foi o desenvolvimento do módulo para hospedagem das informações de custos, o Módulo Custos – SIGH-Custos. Os softwares disponíveis no mercado nacional não atendiam as peculiaridades da instituição. O SIGH-Custos buscou a informatização de dados utilizando a metodologia de custeio por Absorção (SIGH– Custos) e custeio ABC (SIGH-ABC). Algumas particularidades fazem com que o SIGH–Custos seja 16 inovador e único no objetivo a que se propõe. O módulo pode ser utilizado independente dos demais módulos do SIGH, apresentando a possibilidade de incorporação dos dados de forma manual. Pode funcionar de forma integrada ou automática com os demais módulos do SIGH ou de sistemas corporativos, incorporando informações sobre quantidade de consultas e horas cirúrgicas ou até a quantidade de horas trabalhadas pela manutenção por Centros de Custos. A integração com as informações geradas por sistemas corporativos, como os Sistemas Gerais do Estado de Minas Gerais (SIAFI, SIAD, outros) representa maior agilidade na inclusão dos dados. A adequação dos dados dos sistemas corporativos de forma sistêmica possibilitou não só a geração de informações mais consistentes como criou uma maior padronização dos processos de obtenção destes dados. Esta integração gerou ganhos sinérgicos para as áreas e melhor apuração de indicadores de desempenho. 4.5 Laboratório de Gestão Considerar a FHEMIG, por sua complexidade e representatividade no setor saúde, como importante Laboratório de Gestão é um vetor tecnológico imprescindível no setor saúde. A representatividade das 20 Unidades Assistenciais, separados em cinco complexos e MG Transplantes é evidente. As Unidades Assistenciais representam excelência em atividades secundárias e terciárias como atendimento de urgência e emergência, infectologia, maternidade de alto risco, oncologia, pediatria, tratamento de pacientes crônicos e psiquiátricos e atenção e reabilitação de idosos. A FHEMIG é a maior instituição de pesquisa de Minas Gerais, excluindo as instituições de pesquisa. As informações e conhecimento gerados na FHEMIG constitui importante fonte de pesquisa e evidencia para o desenvolvimento do SUS. A utilização da metainformação custos pela FHEMIG possibilita ações desencadeadas nos níveis decisoriais de topo e intermediário da FHEMIG. Busca-se a utilização dos recursos de forma a evitar o conceito de “caro” e “barato”. Fundamenta-se a apropriação dos recursos e a definição dos processos, tanto assistenciais quanto administrativos, de forma a buscar o “adequado”. É a adoção do conceito de Melhor Valor do Dinheiro (Best Value of Money). 17 5 RESULTADOS OBTIDOS A adoção do Modelo de Gestão FHEMIG propiciou a melhora dos processos internos na organização, gerando resultados em duas dimensões: quantitativa e qualitativa. Os ganhos de resultados se manifestam muito além do “mero cortar custos” embora isto também aconteça. 5.1 Resultados Quantitativos Os resultados quantitativos obtidos até então ainda não refletem todas as possibilidades e ganhos advindos da adoção do Modelo de Gestão FHEMIG. De acordo com os primeiros resultados obtidos pelos relatórios de custos pode-se apresentar, entretanto, alguns exemplos: melhor controle dos serviços terceirizados, gerando redução de custos de manutenção de equipamentos na Rede, ao serem apurados os valores de contrato de manutenção e prestação de serviços terceirizados. Pesquisas já foram realizadas considerando a necessidade de responder a questões de custo-benefício ou custo-efetividade, além da busca pela identificação de desperdícios. Alguns exemplos podem ser destacados: os estudos do custo de curativos para tratamento de úlceras de pressão fundamentou a compra de colchões pneumáticos e alteração no processo de trabalho para melhoria nas condições dos pacientes (além da redução dos custos do tratamento). O conhecimento gerado pela compreensão dos custos com os curativos gerou uma maior conscientização dos profissionais no uso dos recursos, o que otimizou o consumo. Estudo da redução do volume de material em estoque por meio de controle dos processos com a implantação do SIGH-Custos. Outras ações que geraram ganhos nos processos e redução de desperdícios podem ser identificadas: identificação de perdas contratuais; planejamento de compras; acompanhamento de contratos; construção de orçamentos compatíveis com a capacidade operacional do hospital, etc. 18 5.2 Resultados Qualitativos O Modelo de Gestão FHEMIG propiciou uma revisão da estrutura interna de forma bastante abrangente em diversas áreas, tanto administrativas quanto assistenciais. As contribuições para os resultados qualitativos podem ser vistos por meio de: a) planejamento e controle dos seus processos internos, proporcionando significativas mudanças como: buscas de melhor estruturação dos processos, maior divulgação, normatização e conhecimento de informações de consumo e sua utilização como ferramenta de gestão. Houve um maior diálogo entre os centros de custos com a definição da relação fornecedor-cliente, maior conhecimento dos processos de trabalho, diminuição nas resistências de compartilhamento, sistematização e organização dos dados existentes e levantamento de outros até então inexistentes na FHEMIG. b) sustentação dos eixos preconizados no Mapa Estratégico da FHEMIG, propiciando a integração dos programas que eram iniciativas isoladas. Ou seja, integrar os programas de Acreditação, Protocolos Clínicos e Gestão Estratégica. c) controle da variabilidade dos processos e procedimentos clínicos ao analisar de forma mais aprofundada do gerenciamento dos processos de trabalho ou da rotina. d) divulgação dos Relatórios Mensais de Benchmarking por Centros de Custos possibilitou que os responsáveis pelos Centros de Custos trocassem experiências e compartilhassem as ações que se desenvolvem nas Unidades Assistenciais e externamente. e) a correlação metainformação custos com indicadores assistenciais, permitindo entender como a variação em processos assistenciais impacta nos custos e vice-versa, constitui elemento de importância fundamental no estabelecimento de parâmetros de eficácia e eficiência, ou seja, quais os resultados são gerados numa determinada circunstância com um dado volume de recursos. É o caso do estudo de 19 custo-efetividade da disponibilização de medicamentos de alto custo versus custo do paciente internado ou, ainda, custos do tratamento hospitalar versus custos tratamento domiciliar. f) a leitura e o monitoramento dos indicadores de custos subsidiam o estabelecimento de serviços de alta qualidade, na medida em que permitem uma leitura indireta da qualidade do processo assistencial, e também o benchmarking com serviços de referência. Por exemplo, um custo excessivamente baixo da alimentação do paciente pode ser indício de uma dieta inadequada e gerar, por conseguinte um estado de subnutrição. Em contrapartida, o custo mais alto de uma dieta poderia garantir junto a outras informações, a redução do tempo de permanência e ganho de conforto para o usuário. 5.3 Prestação de Contas ao Paciente (ou Conta Paciente) A disponibilização da Prestação de Contas ao Paciente - Conta Paciente, pode-se dizer, coroa o Modelo de Gestão FHEMIG, validando o processo como instrumento de gestão e transparência do consumo dos recursos públicos, ou seja, accountability. O objetivo primeiro da Conta Paciente é informar. Ainda, contribui para assegurar ao cidadão-usuário a compreensão dos custos dos cuidados recebidos. Desta forma, busca-se, garantir de maneira clara e objetiva, a demonstração do tratamento adequado, efetivo e da qualidade do serviço prestado. Esta iniciativa inovadora, não vista antes em nenhuma instituição pública de saúde nacional, além de cumprir com seu papel social e ético, permite ao usuário cidadão o acesso à transparência dos custos dos procedimentos. Esta iniciativa inovadora está fundamentada na CF, Lei de Transparência e Carta ao Usuário do SUS. A Prestação de Contas está aqui exemplificada na Figura 3. Nesta perspectiva, a FHEMIG não está entregando uma Conta do Paciente. Está, isto sim, Prestando Contas ao Usuário Cidadão. Consolida-se a exigência legal, além de representar uma exigência gerencial. Exigência gerencial ao dar sustentação aos seus objetivos estratégicos por meio da concretização de seus eixos e da organização dos processos internos e, também, redução dos custos. 20 Assim, a Conta Paciente possibilita ampliar o campo de cooperação entre a Sociedade e o Estado e promover o engajamento e a participação do cidadão, ampliando a transparência e o controle social das ações de governo. Figura 3 - Modelo da Prestação de Contas ao Paciente Fonte: SIGH-Custos 21 Atualmente, a Prestação de Contas está disponibilizada para paciente que receberam tratamento no Hospital Infantil João Paulo II (hospital pediátrico de ensino em Belo Horizonte - MG), Hospital Regional Antônio Dias (primeiro hospital público Acreditado no Brasil, em Patos de Minas - MG), Hospital Eduardo de Menezes (hospital de ensino – infectologia, em Belo Horizonte- MG) e na Unidade de Queimados do Hospital João XXIII (maior hospital de trauma de Minas, em Belo Horizonte – MG). Em 2014, a Prestação de Contas será disponibilizada em mais três unidades: Hospital Geral de Barbacena José Américo (Hospital Geral em Barbacena- MG), Hospital Regional João Penido (Hospital Geral, Acreditado, em Juiz de Fora – MG) e Instituto Raul Soares ( Hospital psiquiátrico de ensino em Belo Horizonte – MG). 6 CONCLUSÃO A adoção do Modelo de Gestão FHEMIG constituiu-se num processo bem estruturado e sistematizado que permitiu a intervenção/ação, aprendizado, compartilhamento, em tempo hábil, dos resultados de forma a possibilitar uma busca pela excelência nos atendimentos assistenciais e maior transparência na utilização dos gastos públicos no setor saúde. A adoção do Modelo de Gestão FHEMIG possibilitou profundas mudanças na gestão hospitalar da FHEMIG, por adotar um modelo de gestão estruturado, que podem ser incorporadas por outras instituições de saúde. Visou o gerenciamento dos procedimentos e ações desempenhadas e não somente a redução de custos. Possibilitou a melhor utilização do dinheiro, proporcionando não apenas “fazer mais com os recursos disponíveis”, mas “fazer muito mais com um pouco mais de recursos disponíveis” ou “fazer o mesmo com um pouco menos”. Busca-se, assim, atender ao princípio da administração pública de efetividade, melhora na qualidade dos gastos públicos, transparência e Accountability, tendo como foco principal a qualidade da prestação de serviços assistenciais à população. Ao descentralizar as metas a todos os seus níveis gerenciais/operacionais, a FHEMIG incorreu num processo de gestão e responsabilização pelo resultado pretendido. Este envolvimento e comprometimento foram fundamentais para uma incorporação da gestão de custos como objetivo institucional. 22 A Figura 4 apresenta a representação do Modelo de Gestão FHEMIG e as diversas alterações necessárias para sua implementação. Observa-se que várias ações realizadas são suporte para a adoção do modelo de gestão. Figura 4 – Representação Modelo Gestão FHEMIG Fonte: elaborado pelos autores. O Modelo de Gestão FHEMIG, apoiado por outras instituições também representativas no cenário de saúde no Brasil, ao longo do tempo, dá suporte e subsidia o sistema de saúde como um todo, em nível local, regional e nacional. Este suporte se dá tanto do ponto de vista de proporcionar custos competitivos quanto como contribuição para subsidiar a regulação do sistema e orientação das melhorias de eficiência do gasto público, seja na parte assistencial seja na parte administrativa. Elas possibilitaram também uma visão dos pontos e situações críticas onde se deveria intervir para consolidar a apuração de custos como subsídio na tomada de decisões, acompanhamento dos processos e como indicador de desempenho, financeiro e econômico da saúde. 23 O Modelo de Gestão FHEMIG propiciou revisão da estrutura interna de forma bastante abrangente e impossível de se listar totalmente: recursos humanos, estruturas, funções, processos, equipamentos, materiais, contratos, consumos, procedimentos médicos, atendimentos, contratos, informações, etc., busca de melhor estruturação dos processos, maior divulgação, normatização e conhecimento de informações de custos e utilização delas como ferramenta de gestão. Possibilitou um maior diálogo entre os setores, maior conhecimento dos processos de trabalho, diminuição nas resistências em compartilhamento, sistematização e organização dos dados existentes e levantamento de outros até então inexistentes no setor saúde. Podem-se verificar as melhorias nas buscas de reestruturação, maior divulgação e conhecimento dos processos internos e externos. O Modelo de Gestão FHEMIG pode contribuir como fonte de informação para formulação de políticas permitindo que os gestores públicos enfrentem de forma fundamentada as distorções apontadas no que tange à regulação dos serviços hospitalares. Também é possível uma melhor correlação preço/custo/qualidade dos serviços hospitalares, a uma melhor alocação de recursos e oferta de serviços hospitalares, maior responsabilização dos gestores de hospitais públicos, maiores transparência dos gastos, maior controle social, dentre outros. Além disto, o Modelo de Gestão FHEMIG, pode ser utilizado por outras instituições do setor. A adoção de um modelo de gestão fundamentado, associado à utilização de metainformação custos e evidências empíricas, proporcionou um espaço de discussão dentro do contexto da saúde no Brasil dando a dimensão deste trabalho e o interesse que a discussão deste tema gera. REFERÊNCIAS ALONSO. Custo no setor público. ENAP. Disponível em: http://www.enap.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=1 635. Acesso em 31 jan 2014. BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em 20 mar 2013. 24 BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. O Financiamento da saúde. Coleção Para Entender a Gestão do SUS. Vol. 2. Ed. CONASS. 124 p. Brasília. 2011a. BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Sistema Único de Saúde. Coleção Para Entender a Gestão do SUS. Vol. 1. Ed. CONASS. 191 p. Brasília. 2011b. BRASIL. Lei Complementar n. 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/LCP/Lcp101.htm>. Acesso em: 16 jan 2007. BRASIL. Lei de acesso à informação. Regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5o, no inciso II do § 3o do art. 37 e no § 2o do art. 216 da Constituição Federal; altera a Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990; revoga a Lei no 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei no 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras providências. BRASIL. Ministério da Saúde. Cartilha dos Direitos dos Usuários do SUS. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/cartilha_integra_direitos_2006.pdf>. Acesso em 10 fev 2012. Brasil. Ministério da Saúde. Introdução à Gestão de Custos em Saúde / Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana da Saúde. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2013. 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