Doença Trofoblástica Gestacional (DTG) Engloba um grupo heterogêneo de lesões caracterizadas por proliferação anormal do trofoblasto. Nessa doença as células trofoblásticas que recobrem as vilosidades coriônicas se proliferam e as vilosidades desenvolvem alterações císticas. A DTG pode ser benigna (mola hidatiforme) ou maligna (coriocarcinoma). Na DTG benigna, forma-se uma neoplasia no corio (camada externa da membrana que contêm o líquido amniótico), quando as vilosidades coriônicas se degeneram e transformam-se em vesículas transparentes, que pendem em porções semelhantes a cachos de uvas. Essas vesículas contêm líquido claro e podem envolver todo ou parte do revestimento da decídua do útero. Em geral não há embrião porque ele foi reabsorvido. Na DTG maligna (carcinoma raro de evolução rápida) os trofoblastos neoplásicos se proliferam sem vilosidades císticas e podem produzir metástases. *FATORES DE RISCO A etiologia é ainda desconhecida, sendo que diversos fatores de risco podem estar relacionados com a DTG. Destaca-se que a mola hidatiforme é mais comum em mulheres com mais de 40 anos, que apresentam problemas de infertilidade e que referem gestação molar anterior. Idade materna – as adolescentes mostram pequena incidência da doença e as mulheres com mais de 40 anos mostram números elevados; História reprodutiva – a DTG está relacionada com a época da primeira gravidez, com o intervalo intergestacional curto, com a síndrome do ovário policístico, com a inseminação artificial, história de abortos prévios, mola anterior. A habilidade de ter uma gravidez normal reduz o risco de DTG em futura gravidez; Etnias – diferentes prevalências da DTG pode ser conseqüência de fatores ambientais, culturais, raciais ou socioeconômicos; Dieta e nutrição – associação com alimentos como o caroteno e gordura animal são sugeridos em alguns estudos; Aspectos genéticos; Outros fatores de risco – uso de contraceptivos orais, radiações ionizantes, tabagismo. *CLASSIFICAÇÃO Segundo a OMS a classificação tem por base aspectos histopatológicos: Mola hidatiforme completa: caracterizada pela degeneração das vilosidades coriais dando origem às vesículas que atestam a doença, cariótipo diplóide e fácil diagnóstico microscópico; Mola hidatiforme parcial: a mola exibe duas populações de vilosidades coriais, uma normal e outra com degeneração. Seu cariótipo é triplóide e o feto está sempre presente. O diagnóstico é microscópico e citogenético; Mola hidatiforme invasora: presença de vesículas no miométrio, espaços vasculares ou em locais a distâncias, principalmente vagina e pulmões, sendo considerada uma seqüela da mola hidatiforme completa ou parcial; Coriocarcinoma: trata-se de um tumor maligno comporto por células trofoblásticas em arranjo dimórfico, citotrofoblasto e sinciciotrofoblasto, sem mostrar vilosidades coriais. *QUADRO CLÍNICO A mola hidatiforme completa apresenta metrorragia com aspecto de “suco de ameixa”, útero frequentemente maior que o esperado para a IG, náuseas e vômitos intensos, altos níveis de b-HCG, e por vezes pré-eclâmpsia que se complica com eclâmpsia e/ou síndrome HELLP. A mola completa torna-se sintomática entre 6 e 8 semanas de gravidez, se não tratada o aborto espontâneo ocorre entre 16 e 18 semanas. A mola parcial tem sintomas mais tardios, pelo pouco tecido molar e pela presença do concepto. *DIAGNÓSTICO Se suporta na presença dos seguintes sinais e sintomas: atraso menstrual com exacerbação dos sintomas gravídicos; sangramento vaginal por vezes acompanhado por cólicas discretas sem causa aparente, de repetição, de intensidade progressiva, tamanho uterino maior que o esperado para a idade gestacional. USG: formações semelhantes a cachos de uva; b-HCG: extremamente elevado; exame de urina: proteinúria. *CONDUTAS Gerais: -Avaliar complicações como a anemia, a pré-eclâmpsia, hipertireoidismo e insuficiência respiratória; solicitar exames de rotina: sorologia para sífilis, hematócrito, hemoglobina, tipagem sanguínea; pacientes Rh- devem receber imunoglobulina após o esvaziamento molar. Específicas: -Mola hidatiforme completa: esvaziar o útero por curetagem, AMIU ou por vácuo; -Mola hidatiforme parcial: induzir o aborto com misoprostol administrado por via vaginal, e após eliminação do feto e da placenta, proceder a curetagem se possível com USG. -Durante todo o período de manipulação intra-uterina deve-se prescrever o uso venoso de ocitocina, para diminuir o sangramento e risco de perfuração do útero; -O envio do material para exame histopatológico é conduta obrigatória. Especiais: -Histerectomia profilática: em multíparas com idade superior a 40 anos e que não mais desejam conceber; -Cistose ovariana: tendem a regredir com a redução do b-HCG. Podem ser aspirados no momento do esvaziamento molar. *CONTROLE PÓS-MOLAR O diagnóstico precoce da mola não reduz o risco de tumor trofoblástico gestacional e, para assegurar completa remissão da doença, todos os pacientes devem ser monitoradas após o esvaziamento uterino. Acompanhamento clínico - os sintomas como náuseas e vômitos desaparecem progressivamente e com a involução uterina o sangramento diminui cessando em cerca de 7 a 10 dias. Os cistos regridem com diminuição das dores em fossa ilíaca; Monitoração laboratorial – deve haver acompanhamento semanal do b-HCG até que seus valores se mostrem negativos por 3 semanas consecutivas. Valores negativos por 6 meses atestam a cura. Se positivos ou em elevação denotam tumor trofoblástico gestacional; Seguimento ultra-sonográfico – usada para monitorar a involução uterina e a regressão da cistose ovariana, ou para atesta a invasão do miométrio; Contracepção – durante o controle pós-molar a contracepção deve ser encorajada, com a prescrição de anovulatório de baixa dosagem estrogênica; Raio X – na vigência de taquicardia, taquipnéia, ansiedade, dor torácica, palpitação *COMPLICAÇÕES: -Hiperêmese gravídica; -Tireotoxicose; -Coagulação intravascular disseminada; -Embolização.