ESTUDOS QUÍMICOS E BIOLÓGICO DO EXTRATO DO CAULE DA Eugenia uniflora (PITANGUEIRA) – MYRTACEAE Anderson T. S. Moscoso De Oliveira¹ Hugo N. Brandão² Maiane dos Santos Neves³ 1. Bolsista PROBIC, Graduando em Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: [email protected] 2. Orientador, Departamento de Saúde, Universidade Estadual de Feira de Santana, email: [email protected] 3. Participante do projeto, Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Feira de Santana, email: [email protected] Palavras-chave: Plantas medicinais, Eugenia uniflora L., Extratos vegetais. INTRODUÇÃO A primeira forma de uso de medicamentos efetuada pelo homem foi feita mediante o consumo de plantas medicinais que desde os primórdios são fundamentais tanto na alimentação quanto na cura de enfermidades. Talvez muitas descobertas tenham sido feitas durante a procura de novas fontes de alimento, mas provavelmente um número significativo foi devido à curiosidade e ao desejo natural de investigação de todo ser humano, Escobar B.T. (2007). A utilização de plantas medicinais acompanha a humanidade desde os primórdios, sendo comum até hoje, Bezerra (2008). Ao contrário do que pensa grande parte dos brasileiros, a maior parte das pessoas do mundo se tratam com plantas medicinais, devido à dificuldade de acesso aos medicamentos alopáticos aliada à cultura milenar. É sabido que todas as civilizações nos mais variados locais onde se estabeleceram, praticavam a domesticação e cultura de vegetais para alimentação e tratamento de enfermidades, Barraca & Minami (1999). Estima-se que o Brasil possua em sua flora uma diversidade genética vegetal com cerca de 550.000 espécies, sendo que apenas 55.000 são catalogadas. O que chama atenção é o grande potencial medicinal e farmacológico de muitas dessas espécies, Moreira e colaboradores (2004). O governo brasileiro para estimular a pesquisa com plantas medicinais criou a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, Brasil (2006). Em 2008, o Ministério da Saúde divulgou a Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS), sendo uma lista com 71 plantas com grande interesse do país. Entre elas está a E. uniflora (pitangueira), uma planta muito comum no Brasil, com alguns estudos já realizados que indicam potencial para tratamento de enfermidades. A E. uniflora é uma árvore da família Myrtaceae produtora de fruto comestível denominado de pitanga , é uma espécie brasileira, possuindo de seis a doze metros de altura. Seus frutos são utilizados na preparação de diversos produtos, como poupas, sucos, sorvetes e até vinho Lederman, Bezerra, Calado (1992). Estudos em comunidades tradicionais apontam o uso da E. uniflora para tratamento de doenças como diarréia, Almeida et al. (1995). Para investigação fitoquímica da Pitangueira foram realizados os testes de seqüestro de radicais livres, citotoxidade frente a Artemia salina, quantificação de fenólicos totais, por apresentarem resultados preliminares sobre características importantes na análise fitoquímica, além de exigirem poucos recursos. MATERIAL E MÉTODO O caule da Eugenia uniflora foi coletado em Feira de Santana, posto para secar em estufa com circulação de ar e temperatura de 40ºC. Em seguida o material seco foi pulverizado em moinho de facas, e colocado em erlenmeyers com 6L de capacidade para extração por maceração com metanol (MeOH). Posteriormente o material então foi secado em rota-evaporador com pressão reduzida a 60ºC obtendo assim o extrato bruto. Para a quantificação do potencial antioxidante do extrato de E. uniflora foi utilizada a metodologia descrita por Malterud e seus colaboradores (1993). Foi utilizada uma solução com concentração de 45µg/mL de DPPH (2,2-difenil-1-picril-hidrazil) em MeOH para servir de solução estoque. Posteriormente, foram adicionados nas cubetas de espectrofotometria 3 ml da solução estoque de DPPH e 50µl da solução de extrato MeOH em diferentes concentrações variando entre 0,125 a 2,0mg/mL. Como padrão foi utilizado uma solução com concentração 5mg/ml de propigalato. A leitura foi realizada em dois momentos, no tempo 0 e 15min após o início da reação. As medidas de absorbância foram realizadas em triplicata com leitura em espectrofotômetro definida em comprimento de onda λ=517nm. A citotoxicidade do extrato foi investigada utilizando o crustáceo Artemia salina como modelo experimental segundo a metodologia de Mayer e colaboradores (1982). Os ovos do crustáceo foram adquiridos em lojas especializadas em aquário, e foram postos para eclodir em aquário montado para o experimento com água salgada artificial (17,48g de sal marinho dissolvidos em 4,6 litros de água mineral). O recipiente foi dividido de forma que uma parte ficasse iluminada por luz artificial e outra parte permanecesse escura. Após 24 horas os naupliis (larvas de Artemia salina) nasceram, estes migraram para a parte iluminada onde foram coletados com auxílio de pipeta Pasteur. Grupos de 10 naupliis foram colocados em recipientes com concentrações de 100 a 1000µg/mL do extrato bruto da folha de E. uniflora, por 24 horas, em seguida foi contabilizado o numero de animais mortos. A quantificação de fenólicos totais foi realizada segundo a metodologia de Oliveira (2009), utilizando o reagente de Folin-Ciocalteou (FC). Este foi diluído na proporção de 1:10 em água destilada. Também foi preparada solução padrão de ácido gálico (AG) de 100ppm, a qual posteriormente foi diluída em concentrações menores. O extrato (amostra) foi testada em diluição 1/10 com água destilada e o branco preparado somente com água destilada. As diferentes concentrações de ácido gálico e a amostra foram submetidas à reação com o FC, na presença da solução de carbonato de sódio 7,5%, sendo em seguida levados ao aquecimento em banho-maria a 50ºC por 5 minutos. Após esse processo, as amostras ficaram em espera de 15 minutos à temperatura ambiente, seguido de banho de gelo por 3 minutos, e ao final, foram submetidas à leitura em espectrofotômetro à λ=760nm. As leituras foram realizadas em triplicata. Para interpretação dos dados e cálculo do teor de fenólicos totais, foi utilizada a equação da reta da curva de calibração confeccionada com ácido gálico, para interpolação na absorbância da amostra. RESULTADOS E DISCUSSÕES Foram coletados 1,95kg de caule e, apos a secagem obteve-se 1,65kg kg de material seco, o que representa 85 % do peso fresco contudo foi perdido muito material durante a moagem, pois devido a rigidez não foi possível pulverizar todo o caule coletado, ficando apenas com 819g de massa pulverizada. Após maceração e secagem no rotaevaporador obteve-se 66g de extrato metanólico representando um rendimento de 8,05%. Durante a coleta foi preparada uma exsicata que posteriormente foi identificada pelo professor Dr. Luciano Paganucci, em seguida depositada no herbário, sob o numero de identificação 204063. O extrato metanóico do caule apresentou capacidade estabilizante de 50 % dos radicais livres (CE50) de 0,28 mg/mL, o que corresponde a um valor muito baixo. Essa baixa concentração do extrato bruto pode ser relacionada com o padrão propilgalato, que necessita de 0,21 mg/mL para sequestrar os mesmos 50 %, dos radicais livres, como afirma Neves (2012), salienta-se que no caso do padrão, trata-se de uma molécula ativa isolada o que geralmente favorece a atividade em questão quando comparado com um extrato que possui dezenas de diferentes substâncias. Braatz (2010) encontrou CE50 de 0,32 mg/ml em extratos de folhas, demonstrando que apesar da pesquisa ter sido feita em outro órgão vegetal, não foram encontradas grandes diferenças, corroborando assim que a pitangueira possui uma capacidade de seqüestrar radicais livres. O experimento montado para quantificação de fenólicos totais encontrados no caule apresentou 748,5 mg de fenólicos para cada 100 g de extrato do caule. Lopes e colaboradores (2011) encontraram 840mg de fenólicos a cada 100 g do extrato bruto de Eugenia uniflora, algo relativamente próximo em termos de valores, visto que os indivíduos foram coletados diferentes locais com distintas características edafoclimáticas. O extrato do caule teve concentração letal de 50% (CL50) de 253,36µg/mL. Anderson,e colaboradores (1991), afirmam que um CL50 abaixo de 100 µg/mL indica a necessidade de cuidados durante a utilização popular devido a toxicidade demonstrada, contudo quanto maior o CL50 menor a toxidade e o valor enquadra o extrato do caule com toxidade mediana, uma planta com CL50 muito baixo também pode ser um aliado ao combate de tumores. O experimento em questão aponta para o risco das plantas medicinais, algo muitas vezes negligenciado por população e governo. A tabela 1 demonstra o resumo dos resultados. Experimento Atividade antioxidante (CE50) Quantificação de fenólicos totais Citotoxidade frente a Artemia salina mg/100g CL50 748,5mg 253,36μg/mL Caule 0,28mg/ml CONCLUSÕES O extrato do caule se mostrou interessante para pesquisas futuras, visto que apresentou bons resultados em ensaios preliminares, destacando-se na capacidade de sequestrar radicais livres. Seria necessária grande quantidade de estudos para aproveitar ao máximo todos os recursos que podem ser oferecidos pela Pitangueira, visto que estudos prévios apontaram grande potencial biotecnológico, o que resultaria em substâncias que rendam patentes para as mais diversas instituições brasileiras. REFERÊNCIAS ESCOBAR B.T. Avaliação psicofarmacológica de Ageratum conyzoides L. (ASTERACEAE), Dissertação de Mestrado, Universidade Do Extremo Sul Catarinense, Brasil, 2007. BEZERRA, D. A. C. Estudo Fitoquimico, Bromatológico E Microbiológico De Mimosa tenuiflora (Willd) e Piptadeniastipulacea (Benth) Ducke. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Campina Grande, Brasil, 2008. BARRACA, S. A. E, Minami K. Manejo e produção de plantas medicinais e aromáticas. Relatório do Estágio Supervisionado Produção Vegetal II – Universidade de São Paulo, 1999. MOREIRA, A.C.; et al. Patentes: Extratos de plantas e derivados. Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento, 2004. BRASIL. Ministério da saúde. Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, 2009 LEDERMAN, I.E.; BEZERRA, J.E.F; CALADO, G. A pitangueira em Pernambuco. Documentos do IPA, 1992 ALMEIDA, C.E. et al. Analysis of antidiarrhoeic effect of plants used in popular medicine. Revista de Saúde Pública, 1995. MALTERUD, K. E. et. al Pharmacology, 1993 MEYER B. N. et. al. Brine shrimp: a convenient general bioassay for active plants constituents. Plantas Medicinais, 1982 OLIVEIRA, T. S. Avaliação da composição química e atividade antioxidante do fruto e da bebida alcoólica fermentada de Jamelão (Syzygium cumini Lamark).Dissertação de mestrado, 2009. NEVES, M. S. Estudo fitoquímico e avaliação de atividades biológicas de Mimosa tenuiflora (Willd) Poiret Trabalho de conclusão de curso, 2012. BRAATZ, S. M. Avaliação do efeito citoprotetor do extrato bruto das folhas de Eugenia uniflora (pitanga) e de compostos bioativos isolados em células secretoras de insulina. Dissertação de Mestrado, 2010. LOPES et. al. Avaliação da atividade antioxidante, taninos e fenóis totais do extrato de polpa de pitanga (Eugenia uniflora). Documentos da 34º Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, 2011 ANDERSON, J. E et al. Blind comparison of simple bench-yop bioassays and human tumour cell cytotoxicities as antitumor prescreens. Phytochemical analysis, 1991.