UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA LETÍCIA WLODARSKI DETERMINAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DE PROTOZOÁRIOS CILIADOS E BACTÉRIAS DO RÚMEN DE BOVINOS EM PASTAGENS TEMPERADAS E TROPICAIS DISSERTAÇÃO DOIS VIZINHOS 2017 LETÍCIA WLODARSKI DETERMINAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DE PROTOZOÁRIOS CILIADOS E BACTÉRIAS DO RÚMEN DE BOVINOS EM PASTAGENS TEMPERADAS E TROPICAIS Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Zootecnia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Dois Vizinhos, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Zootecnia – Área de Concentração: Produção e Nutrição Animal. Orientador: Emilyn Midori Maeda DOIS VIZINHOS 2017 W836d Wlodarski, Letícia. Determinação e quantificação de protozoários ciliados e bactérias do rúmen de bovinos alimentados em pastagem temperadas e tropicais. / Letícia Wlodarski – Dois Vizinhos, 2017. 67f. Orientadora: Emilyn Midori Maeda. Dissertação (Mestrado) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, Dois Vizinhos, 2017. Bibliografia p.59-61 1. Microbiotal Runinal 2. Ruminantes – Nutrição I. Maeda, Emilyn Midori, orient. II. Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Dois Vizinhos III. Título CDD: 636.20852 Ficha catalográfica elaborada por Keli Rodrigues do Amaral Benin CRB: 9/1559 Biblioteca da UTFPR-Dois Vizinhos Ministério da Educação Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Dois Vizinhos Diretoria de Pesquisa e Pós-Graduação Programa de Pós-Graduação em Zootecnia TERMO DE APROVAÇÃO Título da Dissertação n° 074 Determinação e quantificação de protozoários ciliados e bactérias do rúmen de bovinos em pastagens temperadas e tropicais Letícia Wlodarski Dissertação apresentada às oito horas e trinta minutos do dia quinze de fevereiro de dois mil e dezessete, como requisito parcial para obtenção do título de MESTRE EM ZOOTECNIA, Linha de Pesquisa – Produção e Nutrição Animal, Programa de Pós-Graduação em Zootecnia (Área de Concentração: Produção animal), Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Câmpus Dois Vizinhos. A candidata foi arguida pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo assinados. Após deliberação, a Banca Examinadora considerou o trabalho ........................................ Banca examinadora: Emilyn Midori Maeda UTFPR-DV Ana Carolina Fluck UTFPR-DV Isabel Martinele Corrêa UFJF-MG Prof. Dr. Douglas Sampaio Henrique Coordenador do PPGZO *A Folha de Aprovação assinada encontra-se na Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia. AGRADECIMENTOS A Deus, que todos os dias da minha vida me deu forças para nunca desistir. Aos meus pais Polan e Bernadete e ao meu irmão Leandro, pelo amor, incentivo e apoio financeiro e emocional. A minha orientadora Prof. Dra. Emilyn Midori Maeda, pela paciência, apoio e confiança, sem dúvidas uma pessoa maravilhosa... À Universidade Tecnológica Federal do Paraná, em especial ao departamento de Zootecnia, pela oportunidade de realização do mestrado. Especial agradecimento à Priscila Fregulia (mestranda da UFJF), pela paciência e tempo dedicado em me ajudar na identificação dos protozoários, e pela amizade que construímos. Agradeço também a graduanda da UFJF, Elen Furtado, pela hospedagem e confiança, serei eternamente grata. A Universidade Federal de Juiz de Fora e a equipe do Laboratório de Protozoologia, pela amizade e paciência e em especial a professora Marta Tavares d´Agosto pela oportunidade e disponibilidade em ajudar. Ao professor Dr. Elias Nunes Martins, a pós-doutoranda Ana Carolina Fluck e ao doutorando Olmar Antonio Denardin Costa pela ajuda nas análises estatísticas. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de estudos concedida. À Miolar Alimentos Ltda e o Frigorífico Orfimar por abrir as portas para a realização das coletas e em especial aos colaboradores envolvidos. Aos meus amigos, por fazerem parte da minha vida. Muito obrigada! WLODARSKI, Letícia. Determinação e quantificação de protozoários ciliados e bactérias do rúmen de bovinos alimentados em pastagens temperadas e tropicais. 2017. 67 folhas. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Programa de Pós Graduação em Zootecnia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Dois Vizinhos, 2017. RESUMO O objetivo do presente trabalho foi identificar e quantificar os protozoários ciliados e bactérias do rúmen de bovinos cruzados (Europeu x Nelore), com média de 2,5 anos, alimentados em pastagens de inverno (Azevém e Aveia + Azevém) e verão (Brachiaria spp. e Brachiaria spp. + Esrela Africana). Amostras de conteúdo ruminal foram obtidas do centro da massa ruminal, após o abate dos animais. A contagem de bactérias totais (CBT), para as frações sólida e para líquida, foi realizada em placas com auxílio de contador de colônias manual. Para a análise morfológica empregou-se a técnica de coloração de Gram e a leitura das lâminas foi feita em microscópio óptico com objetiva de 100x, sendo as bactérias classificadas em cocos e bacilos, gram positivos e gram negativos. A avaliação da atividade fermentativa foi evidenciada pelo crescimento de colônias com coloração rósea atravéz de uma fonte de carboidrato. A quantificação e identificação dos gêneros de ciliados foram realizadas em câmara Sedgewick-Rafter em microscopia ótica. Foi determinado o teor de Matéria Seca, Proteína Bruta, Matéria Mineral, Fibra em Detergente Neutro e Fibra em Detergente Ácido, Digestibilidade In Vitro na Matéria Seca, Lignina, Celulose, Hemicelulose. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e 10 repetições para cada tratamento. Os dados foram submetidos à análise por meio da metodologia de Modelos Lineares, generalizados, com distribuição Poisson (1%) e foi utilizado o procedimento GENMOD. Foram observadas bactérias Gram positivas e negativas, nas formas cocos e bacilos e 11 gêneros de protozoários ciliados, sendo Diplodinium o gênero predominante. A maior concentração de bactérias foi encontrada nas forrageiras de inverno (494,8 x1010 mL-1), com maior intensidade na pastagem de Azevém. Nos protozoários ciliados, maior concentração foi observada no verão (200,70 x104 mL-1), principalmente na pastagem de Brachiaria spp. Palavras-chave: ruminantes microbiota ruminal, Ophryoscolecidae, estacionalidade, forragem, WLODARSKI, Letícia. Determination and quantification of ciliate protozoa and rumen bacteria of cattle fed in temperate and tropical pastures. 2017, 67 pages. Dissertation (Master of Animal Science) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Dois Vizinhos, 2017. ABSTRACT The objective of the present work was to identify and quantify the ciliate protozoa and crossbovine rumen bacteria (European x Nellore), with an average of 2.5 years, fed on winter pastures (Azevém and Aveia + Azevém) and summer (Brachiaria spp And Brachiaria spp. + Esrala Africana). Samples of ruminal contents were obtained from the center of the ruminal mass, after the slaughter of the animals. The total bacterial count (CBT), for solid and liquid fractions, was performed in plates with the aid of a manual colony counter. For the morphological analysis the Gram staining technique was used and the slides were read under an optical microscope with objective of 100x, being the bacteria classified in cocci and bacilli, gram positive and gram negative. The evaluation of the fermentative activity was evidenced by the growth of colonies with pink coloration through a carbohydrate source. The quantification and identification of ciliate genera were performed in Sedgewick-Rafter chamber under optical microscopy. The content of Dry Matter, Crude Protein, Mineral Matter, Neutral Detergent Fiber and Acid Detergent Fiber, In Vitro Digestibility in Dry Matter, Lignin, Cellulose and Hemicellulose were determined. The experimental design was completely randomized, with four treatments and 10 replicates for each treatment. The data were submitted to analysis using the methodology of Linear Models, generalized with Poisson distribution (1%) and the GENMOD procedure was used. Gram positive and negative bacteria were observed, in the forms cocci and bacilli and 11 genera of ciliate protozoa, being Diplodinium the predominant genus. The highest concentration of bacteria was found in winter forages (494.8 x1010 mL-1), with higher intensity in the Azevém pasture. In the ciliate protozoa, higher concentration was observed in the summer (200.70 x 10 4 mL-1), mainly in Brachiaria spp. Keywords: ruminal microbiota, Ophryosclerosis, seasonality, forage, ruminants LISTA DE TABELAS Capítulo único: Determinação e quantificação de protozoários ciliados e bactérias do rúmen de bovinos alimentados em pastagens temperadas e tropicais. Tabela 1: Composição nutricional das pastagens de inverno e verão ingeridas pelos bovinos cruzados estudados....................................................................................................................45 Tabela 2: Tabela 2 – Composição do meio de cultura utilizado para a atividade fermentativa do carboidrato Carboximetilcelulose........................................................................................47 Tabela 3: Médias (x1010 mL-1) da contagem de bactérias totais (CBT) da fração sólida e líquida de amostras extraídas de bovinos cruzados (Nelore x Europeu) submetidos ao efeito da estacionalidade de pastagens temperadas (Azevém e Azevém + Aveia) e tropicais (Brachiaria spp. e Brachiaria spp + Estrela africana)..................................................................................48 Tabela 4: Flora ruminal e atividade celulolítica da fração sólida e líquida de amostras extraídas de bovinos cruzados (Nelore x Europeu) submetidos ao efeito da estacionalidade de pastagens temperadas (Azevém e Azevém + Aveia) e tropicais (Brachiaria spp. e Brachiaria spp + Estrela africana)..............................................................................................................50 Tabela 5: Ordem, família e gênero de protozoários ciliados em bovinos cruzados (Nelore x Europeu) submetidos ao efeito da estacionalidade de pastagens temperadas (Azevém e Azevém + Aveia) e tropicais (Brachiaria spp. e Brachiaria spp + Estrela africana)....................................................................................................................................51 Tabela 6: Prevalência (%) dos gêneros de protozoários ciliados do rúmen de bovinos cruzados (Nelore x Europeu) submetidos ao efeito da estacionalidade de pastagens temperadas (Azevém e Azevém + Aveia) e tropicais (Brachiaria spp. e Brachiaria spp + Estrela africana.........................................................................................................................52. Tabela 7: Médias (x104 mL-1) estimadas para o total dos gêneros de protozoários ciliados do rúmen encontrados de amostras extraídas de bovinos cruzados submetido submetidos ao efeito da estacionalidade de pastagens temperadas (Azevém e Azevém + Aveia) e tropicais (Brachiaria spp. e Brachiaria spp + Estrela africana).............................................................53 Tabela 8: Médias (x104 mL-1) estimadas para os gêneros de protozoários ciliados em bovinos cruzados do rúmen encontrados de amostras extraídas de bovinos cruzados submetido submetidos ao efeito da estacionalidade de pastagens temperadas (Azevém e Azevém + Aveia) e tropicais (Brachiaria spp. e Brachiaria spp + Estrela africana)..............................55 LISTAS DE FIGURAS Capítulo único: Determinação e quantificação de protozoários ciliados e bactérias do rúmen de bovinos alimentados em pastagens temperadas e tropicais. Figura 1. Desenhos esquemáticos de protozoários ciliados encontrados em ruminantes domésticos.................................................................................................................................24 LISTA DE ANEXOS Capítulo único: Determinação e quantificação de protozoários ciliados e bactérias do rúmen de bovinos alimentados em pastagens temperadas e tropicais. Anexo A: Comitê de ética..................................................................................................63-64 Anexo B: Bovinos utilizados para a amostragem do conteúdo ruminal..................................65 Anexo C: Abertura do compartimento ruminal para a coleta das amostras............................65 Anexo D: Coleta das amostras para determinação e quantificação de bactérias e protozoários ...................................................................................................................................................65 Anexo E: Inoculação das alíquotas de líquido ruminal em placas de petri estéril para a análise da contagem bacteriana total (CBT).........................................................................................66 Anexo F: A: Bactéria Gram-negativa; B: Bactéria Gram-positiva e contagem de colônias de bacterianas ruminais..................................................................................................................66 Anexo G: Gêneros de protozoários ciliados em bovinos cruzados em pastagens de inverno e verão, Azevém, Azevém e Aveia, Brachiaria spp. e Brachiaria spp e Estrela africana. A: Diplodinium; B: Eremoplastron; C: Eudiplodinium; D: Dasytricha; E: Eodinium; F: Ostracodinium; G: Metadinium; H: Polyplastron; I: Epidinium; J: Isotricha; K: Entodinium................................................................................................................................67 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 11 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................................... 13 2.1 Caracterização ruminal e microbiota .............................................................................. 13 2.2 Bactérias ruminais .......................................................................................................... 15 2.3 Protozoários ruminais ..................................................................................................... 18 2.4 Interação microrganismo – hospedeiro .......................................................................... 24 2.5 Interação entre microrganismos ruminais....................................................................... 25 2.6 Efeito da dieta na microbiologia ruminal ....................................................................... 27 2.7 Técnicas de identificação da microbiota ruminal ........................................................... 31 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 33 3. ARTIGO: .............................................................................................................................. 42 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 43 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................................... 44 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................. 48 CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 57 CONSIDERÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 58 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 59 5. ANEXOS .............................................................................................................................. 62 11 1. INTRODUÇÃO As relações mutualísticas entre as populações microbianas apresentam-se como um dos elementos essenciais no aproveitamento dos nutrientes pelo hospedeiro. A compreensão dos mecanismos que estão relacionados ao compartimento ruminal e a estrutura da microbiota possibilitam novas alternativas e tecnologias para a sustentabilidade da produção. O rúmen representa um microbioma complexo, em que populações de microrganismos anaeróbios como fungos, bactérias e protozoários realizam diferentes funções físico-químicas, essenciais para a mantença dos ruminantes. A relação entre microrganismos são específicas e inter-específicas, provendo energia ao hospedeiro e, sobretudo, no metabolismo de nutrientes através da degradação da celulose das plantas (CHOUDHURY et al., 2012). Dentre os fatores que afetam as populações microbianas, dieta, idade e condições de saúde do animal hospedeiro são os mais relevantes (WELKIE et al., 2010). Os microrganismos ruminais caracterizam-se pelo enorme número e diversidade de espécies. Uma espécie é considerada pertencente ao microbioma ruminal quando é anaeróbia, de crescimento contínuo e é capaz de gerar produtos, ou seja, fornecer condições adequadas para a mantença do ambiente ruminal. Protozoários ciliados e bactérias representam quase que em totalidade os microrganismos de maior importância da microbiota ruminal (FONSECA; DIAS-DA-SILVA, 2001). As bactérias representam um dos principais microrganismos presentes no conteúdo ruminal, sendo os seres mais diversos taanto em número de espécies quanto em atividade metabólica, diversificação na ingestão de alimento e capacidade de adaptação ruminal. São de suma importância no processo de fermentação e degradação da lignina, celulose, hemicelulose, proteína, amido e óleo contido nos alimentos. No conteúdo ruminal, o tamanho das bactérias pode variar de 1 a 5 µm, aproximadamente 1010 células/grama (TEIXEIRA, 2001). Os protozoários ruminais são unicelulares, anaeróbios, não patogênicos e cujo tamanho varia de 20 a 200 μm, com densidade aproximada de 104 ciliados por mililitro de conteúdo ruminal. Estes microrganismos são importantes no processo de fermentação ruminal e são habilitados na digestão da maioria dos componentes dos alimentos, sobretudo na digestibilidade da fibra, sendo responsáveis por até 34% da degradação do material fibroso (KAMRA, 2005). 12 Para que o desenvolvimento de protozoários e bactérias seja de forma desejável, é necessária a disponibilidade de nitrogênio e energia, onde a quantidade de nitrogênio exigido está baseada na energia disponibilizada no rúmen (MARTIN et al., 1990). Diante disto, o efeito da dieta exerce significativa importância nos estudos ruminais, sobretudo em dietas onde a base é forragem em que os valores nutricionais podem ser alterados devido ao período estacional. As forragens representam uma das principais fontes de nutrientes para os herbívoros, desta forma, o conhecimento gerado e as informações disponibilizadas a cerca deste assunto permitem condições para a otimização da dieta fornecida, principalmente em relação à digestão e fermentação dos alimentos. Tendo em vista a importância da comunidade ruminal e sua relação com os bovinos, o objetivo deste trabalho foi identificar e quantificar os protozoários e bactérias do rúmen de 40 bovinos de corte submetidos à alimentação a pasto: Azevém, Aveia + Azevém, Brachiaria spp. e Brachiaria spp + Estrela Africana. 13 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Caracterização ruminal e microbiota O rúmen compreende um ecossistema complexo, com inúmeras características que tem por finalidade a fermentação do alimento consumido pelo animal. Esse processo ocorre pela intervenção dos microrganismos ruminais, os quais transformam o produto ingerido em ácidos graxos voláteis, que tem por finalidade fornecer energia ao hospedeiro; além da síntese da proteína, sendo esta realizada pela massa microbiana ruminal (WEIMER, 2009). O ruminante possui câmeras fermentativas em seu trato digestivo, o que permite a estes animais maior eficiência no aproveitamento de alimentos fibrosos e produtos da fermentação, principalmente nos animais mantidos em pastejo. Seu estômago multicavitário deriva embrionariamente do estômago simples, e é dividido em quatro partes: rúmen, retículo, omaso e abomaso (OLIVEIRA, 2013). O compartimento ruminal abriga um ecossistema com características complexas, as quais podem ser benéficas aos animais, desde que sua capacidade de fermentar alimentos e transformar os produtos finais dessa fermentação em nutrientes de alto valor nutritivo e absorvíveis no intestino seja maximizada. O rúmen é composto de partículas, agregados de alimentos e microrganismos anaeróbios, como protozoários, bactérias, micoplasmas e bacteriófagos, que convivem de forma interativa entre si. Protozoários ciliados e bactérias representam quase que em totalidade, os microrganismos de maior importância da microbiota ruminal (FONSECA; DIAS-DA-SILVA, 2001). A ingestão de alimentos sólidos é a principal forma de modificar a anatomia e fisiologia do trato digestivo dos ruminantes jovens, principalmente do rúmen (OLIVEIRA et al., 2007). A anaerobiose apresenta-se como uma das características peculiares do rúmen, sendo um dos fatores limitantes para a mantença do ecossistema microbiano, como também auxilia na mantença da energia utilizada pelo animal. A conservação das condições anaeróbias do ambiente ruminal é mantida através dos gases oriundos da fermentação, como o gás carbônico, metano e traços de hidrogênio (KAMRA, 2005). Entre as características do rúmen tem-se um sistema isotérmico (38º a 42ºC) o qual é regulado pelo animal hospedeiro, devido ao metabolismo homeotérmico deste; o pH apresenta variação de acordo com a dieta fornecida, no entanto o ambiente ruminal tende a se manter neutro em virtude da remoção dos ácidos pela fermentação, que são absorvidos e neutralizados pela ação tamponante da saliva animal e a baixa quantidade de oxigênio presente no rúmen, que contribui para o desenvolvimento de microrganismos anaeróbios, e 14 alguns gêneros de bactérias facultativas (TEIXEIRA, 2001; LANA, 2005; KOZLOSKI, 2011). Durante o processo evolutivo, os ruminantes desenvolveram a capacidade de aproveitar de forma eficiente carboidratos estruturais como fonte energética e compostos nitrogenados não-proteicos como fonte de proteína (VALADARES FILHO; PINA, 2006). Os ruminantes caracterizam-se pela diversidade de microrganismos presentes no rúmen e intestino, sendo estes responsáveis pela fermentação e digestão dos alimentos, através da endosimbiose entre as populações existentes, que as permite sobreviver com uma dieta, em que a principal fonte de carboidrato é a celulose (TEIXEIRA, 2001). Os microrganismos ruminais são capazes de digerir aproximadamente 70 a 85% da matéria seca digestível da ração (COELHO DA SILVA; LEÃO, 1979). Estudos relacionados à microbiologia do rúmen, juntamente com a produção animal, contribuem para melhorar a eficiência do uso de diferentes alimentos, devido à disponibilidade de informações a cerca da biodiversidade das populações microbianas e as relações mutualísticas entre estas. O conhecimento gerado com estas pesquisas permite condições para a otimização da dieta fornecida, principalmente em relação à digestão e fermentação dos alimentos (WEIMER, 2011). A comunidade de microrganismos no rúmen é bastante diversa devido às inúmeras espécies existentes, sua classificação pode variar de acordo com os diferentes autores. Para uma espécie ser considerada pertencente à microbiota ruminal, esta deve ser anaeróbia, gerar subprodutos no rúmen e apresentar crescimento ativo, ou seja, apresentar metabolismo conciliável com as condições ambientais de um rúmen normal (STEWART et al., 1997). De acordo com Pedersen e Tannock (1989), a colonização do trato digestório pelos microrganismos é influenciada por diferentes fatores e fenômenos concomitantes. As bactérias realizam a colonização de forma mais ágil que os demais microrganismos do rúmen, sendo os Lactobacilos as primeiras espécies colonizadoras do trato gastrintestinal (CHAVES et al., 1999). Para Mcallister et al. (1994), os microrganismos do rúmen que tem capacidade de interagir com os fragmentos do alimento, podem ser caracterizados em: livres, associados ao conteúdo ruminal; associado a partículas de forma fraca; e estritamente aderidos as partículas de alimentos. A pesquisa voltada a microbiologia ruminal visa constatar como as espécies microbianas agem na digestão dos alimentos, como os transformam e sintetiza-os. Para que o 15 desenvolvimento de protozoários e bactérias apresente-se de forma desejável, torna-se necessário a disponibilidade de nitrogênio e energia para estes seres, assim, a quantidade de nitrogênio exigido está baseada na energia disponibilizada no rúmen. (MARTIN et al., 1990). A microbiologia ruminal possibilitou a ampliação dos conhecimentos relacionados à população microbiana e através destes dados e características conhecidas, permitiu melhorias em relação à alimentação de ruminantes, garantindo melhor eficiência e aproveitamento dos nutrientes da dieta, o que gera ganhos no desempenho dos animais (MORGAVI et al., 2013). 2.2 Bactérias ruminais As bactérias representam a principal população de microrganismos presentes no conteúdo ruminal, sendo os seres mais diversos tanto em número quanto em atividade metabólica. São de suma importância no processo de fermentação e na degradação da lignina, celulose, hemicelulose, como também a proteína, o amido e o óleo contido nos alimentos. A simbiose entre as bactérias e entre outros microrganismos promove a formação de ácidos graxos voláteis e a proteína microbiana ruminal (TEIXEIRA, 2001). Os primeiros estudos relacionados à identificação e metabolismo das bactérias surgiram após a Segunda Guerra Mundial, com a ampliação de pesquisas e técnicas de cultivo bacteriano em ambiente anaeróbio (HUNGATE, 1966). Anteriormente a este período, os estudos relacionados à microbiota e a fermentação ruminal eram escassos. As bactérias constituem de 60 a 90% da biomassa microbiana com cerca de 200 espécies distintas (KOZLOSKI, 2011). No conteúdo ruminal, as bactérias podem variar de 1 a 5 µm, aproximadamente 1011 células/grama (WRIGHT; KLIEVE, 2011). As espécies de bactérias também podem variar quanto à forma, podendo apresentar-se como cocos, bacilos, entre outras. As bactérias gram-positivas apresentam uma membrana externa menos complexa, sendo esta preservada por uma camada glicopeptídica, já as gram-negativas apresentam dupla membrana externa, as quais são conectadas por uma camada de glicopeptídeos (KOZLOSKI, 2011). O número exato de espécies de bactérias ruminais ainda é desconhecido, devido a enorme variedade e a complexidade destes microrganismos. No entanto, já foram isoladas mais de 400 espécies oriundas do trato digestório de animais distintos (KRAUSE; RUSSEL, 1996). As bactérias representam a população mais distinta e numerosa do rúmen, isto se deve a intensa atividade metabólica, diversificação na ingestão de alimento e capacidade de 16 adaptação ruminal. A classificação das bactérias comumente usada pelos pesquisadores é fundamentada no tipo de substrato em que os microrganismos agem e nos produtos finais da fermentação. Desta forma, são denominadas como fermentadoras de carboidratos estruturais (celulolíticas), fermentadoras de carboidratos não-estruturais, sendo estas as amilolíticas e pectinolíticas, como também metanogênicas, proteolíticas, lipolíticas e láticas (ARCURI et al., 2006) Segundo Kamra (2005), a maioria das bactérias degradadoras de carboidratos estruturais são gram-positivas. Estas degradam a celulose formando o acetato, disponibilizam substratos para as demais bactérias, sobretudo as metanogênicas (Gram-positivas), que utilizam CO2 e H2 para a produção do metano. Já as bactérias amilolíticas (Gram-negativas) digerem o amido e formam o propionato, o qual é precursor gliconeogênico nos ruminantes. Também são encontradas outras bactérias responsáveis pela degradação de lipídeos, principalmente as proteolíticas (Gram-positivas), que geram o nitrogênio em forma de amônia para as bactérias celulolíticas (ROBSON; STEWART, 1997). Segundo o mesmo autor também existem as bactérias Gram-variáveis, as quais alteram as características da membrana de acordo com o ambiente proporcionado. As bactérias fermentadoras de carboidratos estruturais são hábeis a produzir a enzima extracelular, por meio da hidrólise da celulose. As celulases, na grande maioria, encontram-se coligadas às células que se aderem à porção fibrosa do conteúdo ruminal. Esta junção ocorre por meio do glicocálice, que é formado quando a celulase inicia a degradação da fibra. Posteriormente a formação da matriz de glicocálise, ocasionado pelo envelopamento celular, as celulases iniciam a digestão da celulose (CHENG; COSTERTON, 1986). Para o desenvolvimento das bactérias celulolíticas, os ácidos graxos de cadeia ramificada são fundamentais (DEHORITY, 1987). Os principais produtos formados pelos organismos celulolíticos são o acetato, succinato, formato, butirato, H2 e CO2. Também ocorre a liberação de lactato e etanol (HUNGATE, 1966). Entre as espécies de grande importância tem-se a Butyrivibrio fibrisolvens, Ruminococcus albus, Ruminococcus flavefaciens e Bacteroides succinogenes (DEHORITY, 1987). Nas bactérias celulolíticas, a diminuição do pH ruminal (<6,0) minimiza a atividade destes microrganismos e quando os níveis decrescem mesmo em pequenas quantidades, pode ocorrer a inibição da digestão da celulose. Estudos comprovam que em baixo pH intracelular, estes microrganismos cessam a atividade de crescimento, isto ocorre devido a instabilidade no gradiente de pH, ocasionando uma toxicidade na célula bacteriana pelo acúmulo de ânions (RUSSEL & WILSON, 1996). A atividade celulolítica também pode ser inibida devido à 17 inclusão de amido na alimentação, o que induz o desenvolvimento de bactérias amilolíticas e altera a digestão da fibra, em decorrência à competição entre os distintos grupos (STEENBAKKERS et al., 2008). Koike et al. (2003) observando a cinética da ligação das bactérias do rúmen à fibra, constatou que a Fibrobacter succinogenes fixa-se ao feno de forma mais rápida em comparação as bactérias ruminococos. A aderência da bactéria a partícula do alimento pode variar aproximadamente 24 horas Brulc et al. (2009) e para Kim et al. (2005) afirmaram que a partir das 24 horas ocorre a movimentação mecânica das bactérias, isto de forma desuniforme. Assim pode-se dizer que os distintos microrganismos celulolíticos degradam a fibra em taxas distintas. Bactérias que degradam carboidratos de natureza não estrutural são fundamentais na quebra ruminal do amido, sendo este processo realizado pela enzima amilase. A fermentação do amido é realizada por espécies do gênero Bacteroides, principalmente a Bacteroides amylophilus. As bactérias Streptococus bovis e Selenomonas ruminantium produzem através da fermentação do amido e açúcares solúveis, o acetato. Se as quantidades destes carboidratos forem elevadas, podem ser sintetizados o acetato, formato, etanol e propionato (RUSSELL, 1988). Dentre as bactérias proteolíticas ruminais, a maioria tem capacidade de degradar a proteína. Bacteroides amylophilus e Bacteroides ruminicola utilizam os aminoácidos como principal fonte de energia. Quando degradada a proteína proveniente da dieta, por parte dos microrganismos, ocorre a formação de ácidos graxos e amônia. Se houver elevada degradação de proteína, o hospedeiro reduz a retenção de N (TEIXEIRA, 1991). A partir da década de 80, foram identificadas três espécies de bactérias fermentadoras de aminoácidos (Clostridium aminophilum, C. stiklandii e Peptostreptococcus sp.), estas não empregam os carboidratos como principal fonte de energia e caracterizam-se por desanimar aminoácidos em proporções superiores as demais bactérias, cerca de 20 vezes a mais (LIMA et al., 2009). Este grupo torna-se importante em virtude da proteína dietética fornecer amônia e Ácidos Graxos de Cadeia Curta, quando degradada pelos organismos de rúmen. Dessa forma, se o nível de desaminação sobressair o nível de aproveitamento da amônia para a síntese microbiana pode acarretar uma inversão e diminuição na conversão alimentar (TEDESCHI et al., 2000). Outro grupo de microrganismos bastante relevante para o ambiente ruminal são as archeas metanogênicas, as quais auxiliam na manutenção e estabilização das atividades do 18 rúmen, sendo representadas por uma pequena parcela da biomassa ruminal (JANSSEN & KIRS, 2008). Quando ocorre uma elevada produção de H2 no rúmen, as metanogênicas, principalmente o gênero Methanobacterium, utilizam este composto para minimizar o CO2 e sintetizar o CH4, contribuem desta forma, para a reciclagem do NAD oxidado e auxiliam na continuidade nos processos fermentativos (KOZLOSKI, 2011). Para que a produtividade e a saúde dos ruminantes sejam mantidas, as bactérias ruminais são indispensáveis (WELKIE et al., 2010). As alterações no ambiente ruminal e a simbiose entre as populações microbianas ainda são pouco conhecidas, principalmente para bovinos alimentados exclusivamente a pasto. Desta forma, o conhecimento das espécies presentes, bem como a característica de cada, torna-se essencial para garantir resultados satisfatórios aos rebanhos. A dieta compreende um dos principais fatores que alteram a microbiota ruminal, assim o estudo a cerca deste assunto, pode facilitar o entendimento da interação entre os organismos presentes, e a interação destes com a dieta fornecida (VALADARES FILHO; PINA, 2011). 2.3 Protozoários ruminais Os protozoários ciliados do rúmen desempenham diversas funções interligadas, sendo estas, bioquímicas e fisiológicas de grande importância para os ruminantes, sobretudo no metabolismo de nutrientes (COALHO et al., 2003). São seres unicelulares, anaeróbios, não patogênicos e variam de 20 a 200 μm, sendo de 10 a 100 vezes maiores que as bactérias (DEHORITY, 1993). Segundo Teixeira (1991), a população desses microrganismos pode variar de 100.000 a 1.000.000 células/mL de conteúdo ruminal. Calcula-se que a constituição dos protozoários representa aproximadamente 2% dos produtos finais da fermentação (YOKOYAMA; JOHNSON, 1988). Gruby & Delafond (1843) realizaram os primeiros estudos relacionados aos protozoários ciliados encontrados no ambiente ruminal, quando estes foram considerados importantes para os animais ruminantes em relação ao seu metabolismo e nutrição. Colin (1954) citou a existência dos protozoários através de figuras, as quais representavam as diferentes espécies existentes. Stein (1858, 1859) caracterizou algumas espécies de ciliados no compartimento estomacal de carneiros e bovinos, as quais foram designadas como Isotricha intestinalis, Ophryoscolex purkynjei, Ophryoscolex inermis, Entodinium bursa, Entodinium dentatum e Entodinium caudatum. Posteriormente, em estudos mais detalhados sobre as 19 espécies de protozoários, o mesmo autor, em estudo sobre Isotricha, relatou e apresentou mais uma espécie, sendoclassificada como Isotricha prostoma. No decorrer do tempo, novos estudos sobre a microbiologia do rúmen foram se tornando evidentes, principalmente em relação aos protozoários. Outros autores, como Schuberg (1888), passaram a estudar detalhadamente as espécies já identificadas e em seguida instituiu-se novos gêneros Buetschlia e Dasytricha, e desmembramento do gênero Entodinium em Entodinium e Diplodinium. A classificação dos protozoários ciliados do ambiente ruminal (Alveolata, Ciliophora) é apresentada como filo Ciliophora, e está presente na classe Litostomatea, subclasse Trichostomatia e divididos em duas ordens: Vestibuliferida Puytorac et al., 1974 e Entodiniomorphida Reichenow in Doflein and Reichenow, 1929. Segundo Lynn (2008), a ordem Vestibuliferida inclui cinco famílias de protozoários ciliados e nos ruminantes é caracterizada pela família Isotrichidae, aqual abrange os gêneros: Dasytricha, que apresenta características morfológicas como cílios, cobrindo o corpo em cinécias oblíquas e também fissura do vestíbulo localizado na região posterior do corpo, com comprimento de 60-100 µm e 38-53 µm de largura. Isotricha, com corpo coberto por cílios dispostos em cinécias longitudinais e fissura do vestíbulo situado em arranjos distintos, dependendo da espécie. Oligoisotricha, desprovido de cílios somáticos na parte posterior do corpo, comprimento de 105-207 µm e largura de 73-128 µm. Os isotriquídeos apresentam maior propensão por alimentos solúveis, no entanto, não possuem grande resistência nas condições químicas do ambiente ruminal. Exibem como característica marcante a capacidade de se fixar à parede do retículo e imigrar ao rúmen posteriormente a alimentação, isso se deve supostamente devido à ocorrência de açúcares solúveis. Apresentam películas mais flexíveis e são cobertos de cílios em torno de todo o corpo (DEHORITY; TIRABASSO, 2000). Após alguns anos de pesquisa, os ciliados que continham cutícila firme e cílios localizados na região oral, foram congregados em Entodinomorphida. Os entodinomorfos são bastante adaptados ao compartimento ruminal e se aderem com facilidade às partículas do alimento (DEHORITY; TIRABASSO, 2000). A ordem Entodiniomorphida abrange três subordens, sendo as duas primeiras, Archistomatina e Blepharocorythina, caracterizadas pelas famílias Buetschliidae e Blepharocorythidae, que compreendem os gêneros Buetschlia e Charonina. O gênero Buetschlia, apresenta o corpo em formato oval com duas regiões contendo cílios, na parte 20 anterior e posterior, sendo a anterior composta por uma coroa ciliar. Possui um macronúcleo elíptico com um vacúolo contrátil (região posterior) e vacúolo consolidado (região posterior), o comprimento varia de 30-35 µm e largura 20-30 µm. Já o gênero Charonina possui ciliatura restrita às regiões anterior e posterior do corpo, o vestíbulo é bastante acentuado, o comprimento pode variar entre 28-46 µm e a largura 9-15 µm (LYNN, 2008). A caracterização da terceira subordem Entodiniomorphina inclui a família Ophryoscolecidae. Os componentes desta família são comumente encontrados em ruminantes, são dotados por regiões com ciliatura retrátil e contém macronúcleo longo. Incluem-se os gêneros: Entodinium, Eodinium, Diplodinium, Diploplaston, Eremoplastron, Eudiplodinium, Ostracodinium, Metadinium, Enoploplastron, Elytroplastron, Polyplastron, Epidinium e Ophryoscolex (LYNN, 2008). Gênero Entodinium: apresentam uma única região ciliar retrátil, a qual envolve a fissura do vestíbulo. O comprimento varia de 22-115 µm e a largura 14-90 µm. Gênero Diplodinium: duas regiões ciliares retráteis dispostas no mesmo plano corporal. Não possuem placas esqueléticas e o macronúcleo apresenta-se com o terço anterior inclinado a região ventral. Os vacúolos são contráteis, o comprimento varia de 30-120 µm e a largura 20-80 µm. Gênero Eodinium: as regiões ciliares retráteis estão situadas em um mesmo plano corporal. Não possuem placas esqueléticas e o macronúcleo apresenta-se em formato de bastão localizado na região dorsal. Os vacúolos são contráteis, o comprimento varia de 40-70 µm e largura 20-40 µm. Gênero Eremoplastron: as regiões ciliares retráteis estão situadas em um mesmo plano corporal. Possuem somente uma única placa esquelética estreita e o macronúcleo apresenta-se em formato de bastão ligeiramente inclinado a região ventral. Os dois vacúolos são contráteis, os comprimento dos pertencentes a este gênero varia de 35-110 µm e a largura 25-70 µm. Gênero Eudiplodinium: as regiões ciliares retráteis estão situadas em um mesmo plano corporal. Possuem uma única placa esquelética alongada, sendo esta alargada na parte anterior situada próxima ao macronúcleo. O macronúcleo apresenta-se em forma de gancho e os vacúolos são contráteis. As medidas de comprimento variam de 120-200 µm e a largura 80-50 µm. Gênero Diploplastron: as duas regiões com presença de cílios retráteis estão situadas no mesmo plano corporal. As placas esqueléticas são delgadas, sendo o macronúcleo em 21 formato de bastão. Os vacúolos são contráteis, com comprimento de 90-128 µm e largura de 65-87 µm. Gênero Polyplastron: apresenta duas regiões ciliares retráteis, situadas no mesmo plano corporal. Possui cinco placas esqueléticas, duas situadas na superfície esquerda e outras três na superfície direita e cinco vacúolos contráteis. O comprimento varia de 122-210 µm e a largura 97-130 µm. Gênero Ostracodinium: exibe duas regiões ciliares situadas no mesmo plano corporal. Possui somente uma placa esquelética na superfície esquerda. O macronúcleo apresenta-se lobado, os vacúolos são contráteis que se diferenciam de acordo com a espécie. O comprimento varia de 50-128 µm e a largura de 36-70 µm. Gênero Elytroplastron: exibe duas regiões ciliares situadas no mesmo plano corporal. Possui quatro placas esqueléticas, duas situadas na superfície esquerda e outras duas na superfície direita e quatro vacúolos contráteis. O macronúcleo se apresenta na forma de bastão, o comprimento varia de 100-160 µm e a largura 76-100 µm. Gênero Metadinium: exibe duas regiões ciliares situadas no mesmo plano corporal. Possui duas placas esqueléticas largas unidas ou não na região posterior. Macronúcleo se dispõe no formato de ‘E’ ou ‘F’ e os dois vacúolos são contráteis. As medidas de comprimento variam de 110-210 µm e a largura 80-140 µm. Gênero Enoploplastron: exibe duas regiões ciliares situadas no mesmo plano corporal. Apresenta três placas esqueléticas afastadas ou parcialmente acopladas. O macronúcleo se apresenta na forma de bastão e dois vacúolos contráteis. O comprimento varia de 80-110 µm e a largura de 60-78 µm. Gênero Ophryoscolex: apresenta duas regiões ciliares situadas em planos diferentes no corpo. Possui três placas esqueléticas e uma coroa de espinhos que se inicia na região mediana até a área posterior do corpo. Exibe inúmeros vacúolos contráteis, o comprimento varia de 140-190 µm e a largura 80-110 µm. Gênero Epidinium: duas regiões ciliares retráteis situadas em planos diferentes no corpo. Apresenta três placas esqueléticas e podem apresentar espinhos na parte posterior. Os dois vacúolos são contráteis, o comprimento varia de 80-150 µm e a largura 40-70 µm. Os protozoários do gênero Entodinium spp. são descritos por alguns autores como predominantes (~90%) em animais alimentados a base de concentrado (HUNGATE, 1966; NOGUEIRA FILHO et al.,1992). Já os protozoários pertencentes aos gêneros Diplodinium spp. e Epidinium spp., são comumente encontrados em dietas com altos teores de fibra, pois 22 apresentam concentrações de celulase a qual auxilia na degradação do material fibroso (JOUANY, 1996). Segundo Oliveira et al. (1992), quando animais são acondicionados em sistema de pastejo, adicionado feno ou cana de açúcar, os gêneros Isotricha spp. e Dasytricha spp, são encontrados em número significativo, visto que, degradam os polissacarídeos não estruturais e carboidratos solúveis encontrados nas plantas. Quando observado a diversidade e estrutura da comunidade de protozoários em bovinos alimentados com diferentes dietas (feno e silagem/grãos), constatou-se maior predominância da espécie Entodinium spp. quando os animais eram submetidos a alimentação a base de silagem e grãos e maior foi o diversidade de espécies quando fornecido feno (TYMENSEN et al., 2012). Segundo o mesmo autor, outros gêneros, Isotricha, Dasytricha, Ostracodinium, Diplodinium e Diploplastron foram comuns a ambas as dietas. Já para a dieta a base de feno, os gêneros Dasytricha, Ostracodinium e Diploplastron predominaram. No entanto, os gêneros Eudiplodinium e Epidinium, foram observados somente nos animais alimentados com feno enquanto que Ophryoscolex e Polyplastron foram encontrados somente na dieta contendo silagem/grãos. Dados semelhantes também foram observados em bovinos em que a predominância dos gêneros foi Entodinium (~ 67%, predominantemente E. caudatum), Dasytricha (~ 6%), Isotricha (~ 9%) e Diplodinium (~ 18%) (LENG et al., 2011). Os protozoários ciliados do rúmen apresentam algumas características e peculiaridades que os tornam importantes para a microbiota ruminal. Segundo Ruiz (1992), estes microrganismos tem a capacidade de retenção ruminal maior do que quando contrastados com as bactérias. Após a ingestão das bactérias pelos protozoários, ocorre à transformação da proteína microbiana em proteína oriunda de protozoários, e com a morte dos protozoários o nitrogênio originado passa a ser utilizado pelas bactérias. Segundo Kozloski (2011), os protozoários realizam o engolfamento das bactérias a fim de utilizar os aminoácidos e ácidos nucleicos presentes. Dietas contendo maior concentração de grãos torna este processo mais intenso e simplificado do que comparado com dietas oriundas de pastagens, pois as bactérias aderem-se a sítios que bloqueiam o engolfamento realizado pelos protozoários. Em relação ao substrato fermentativo, alguns protozoários apresentam características celulolíticas, no entanto os substratos elementares utilizados são o amido e os açúcares, pois são rapidamente fermentáveis e armazenados em amilopectina ou amido protozoário. A capacidade tamponante também é uma característica relevante dos protozoários, uma vez que 23 as bactérias não tem disponibilidade de grandes quantidades de substratos rapidamente fermentáveis (WILLIANS, 1986). O quimiotactismo, habilidade de locomoção em gradientes de concentração contendo açúcares, também é uma particularidade dos protozoários (ARCURI et al., 2006). Segundo Dehority e Tirabasso (1989), afirmam que os protozoários pertencentes à Ordem Vestibuliferida, sobretudo os Isotrichidade, aderem-se a parede do retículo e desta forma migra até o rúmen, posteriormente a ingestão da dieta. Assim ocorre uma seleção de protozoários, em que os microrganismos maiores ficam reclusos no compartimento ruminal, o que porporciona a estes seres sobreviver neste ambiente, pois o tempo de geração é bastante longo (LENG, 1989). Nos ruminantes, algumas espécies de protozoários são encontradas nas primeiras seis semanas de vida do animal, principalmente os do gênero Entodinium, sendo que a colonização destes microrganismos varia conforme a dieta disponibilizada (ARCURI et al., 2006). A saliva é uma das principais vias de transmissão de protozoários ciliados nos ruminantes, o contato direto entre os animais faunados contribui para a migração destes microrganismos até o compartimento ruminal, como também podem ser encontradosem maior quantidade (74%) retidos no espaço retículo-rúmen (FOULKES; LENG, 1989). A população de protozoários apresenta variação em relação ao período do dia, sendo a espécie e número de protozoário, influenciados pela ingestão de alimento e água, característica física e nutricional da dieta e produção de saliva (ARCURI et al., 2006). O estudo sobre os protozoários se torna importante a fim de classificar os principais gêneros e verificar a influência da alimentação sobre as populações destes microrganismos. Como também o efeito benéfico que podem proporcionar em termos de desempenho e eficiência alimentar. 24 Figura 1. Desenhos esquemáticos de protozoários ciliados encontrados em ruminantes domésticos. Ordem Vestibuliferida: Gêneros A: Isotricha (A’- Isotricha prostoma; A’’- Isotricha intestinalis), B: Dasytricha. Ordem Entodiniomorphida: Gêneros: C: Charonina; D: Entodinium; E: Diplodinium; F: Eodinium; G: Eremoplastron; H: Ostracodinium; I: Eudiplodinium; J: Diploplastron; K: Metadinium; L: Enoploplastron; M: Polyplastron (M’: Lado esquerdo; M’’: Lado direito); N: Epidinium e O: Ophryoscolex. Fonte: D’AGOSTO (1995). 2.4 Interação microrganismo – hospedeiro O ruminante apresenta grande habilidade de aproveitar uma gama de alimentos para a obtenção de nutrientes. Essa capacidade se deve a relação simbiótica existente entre as populações microbianas que habitam o compartimento ruminal e o hospedeiro. Os microrganismos e o hospedeiro agem sinergicamente convertendo substâncias indigeríveis, como amônia, celulose e hemicelulose, em produtos finais do processo fermentativo, ácidos graxos voláteis, vitaminas, aminoácidos e demais componentes responsáveis pela produção de carne, lã e leite (KAMRA, 2005). Os herbívoros não contêm enzimas responsáveis pela digestão das fibras presentes na dieta. Dessa forma, o compartimento ruminal possui características físico-químicas que possibilitam condições adequadas para o processo fermentativo do alimento, sendo este realizado pela população microbiana. Entre os microrganismos colonizadores do rúmen, os protozoários são caracterizados pelo maior tamanho, assim, representam significativa fração da microbiota ruminal (MONÇÃO et al., 2013). 25 Os ruminantes destinados à produção diferentemente de outros mamíferos realizam uma simbiose com os microrganismos ruminais, utilizando os nutrientes disponibilizados nos compostos não-proteicos e carboidratos estruturais. Desta forma, através do metabolismo das populações microbianas, as enzimas realizam a degradação destes compostos (VALADARES FILHO; PINA, 2006). Os bovinos realizam uma interação associativa com as populações microbianas do rúmen, sendo estes microrganismos peças fundamentais no processo de degradação da fibra. Disponibilizam produtos do processo fermentativo e nutrientes para o metabolismo animal. A microbiota ruminal pode ser alterada devido a uma série de fatores, como a dieta, idade e saúde do animal. Constata-se então, que em bovinos saudáveis, a dieta é a principal responsável pela composição estrutural da comunidade microbiana ruminal (WELKIE et al., 2010). Segundo Brulc et al. (2009), há evidências de que o microbioma bacteriano, juntamente com os mecanismos metabólicos ruminais são diferentes em relação a dieta e ao hospedeiro, pois cada animal absorve distintas quantidades de nutrientes, conforme a necessidade. Atualmente, as pesquisas voltadas a nutrição de ruminantes têm como um dos focos principais os microrganismos do rúmen, os quais apresentam diferentes funções no processo de digestão, além de ter função protetora no controle de microrganismos patogênicos. A população microbiana é influenciada pelas características ruminais, sendo estas influenciadas pelo animal hospedeiro, processo de mastigação e ruminação, produtos oriundos da fermentação, características químicas da saliva, pH e temperatura (MORGAVI et al., 2013). Para que os microrganismos do rúmen possam desenvolver suas habilidades específicas, é necessário fornecer condições adequadas para sua mantença no ambiente, sendo estes responsáveis pela contribuição para o incremento na eficiência alimentar. Assim, a interdependência entre o hospedeiro e os microrganismos deve ser estudada para que possam ser observadas as características e funções de cada população existente no compartimento ruminal. 2.5 Interação entre microrganismos ruminais O compartimento ruminal possui características de suma importância para a mantença das populações microbianas (KOZLOSKI, 2011). Assim, apresenta um processo de 26 degradação constante, que, após a ingestão do alimento pelo hospedeiro, pode exibir transformações ao longo de sua extensão. No entanto, Rankin et al. (1997) citam que as informações contidas na literatura, referente aos microrganismos ruminais, na maioria das vezes exibem dados contraditórios. Essas controvérsias podem ser explicadas pelo fato de que as metodologias empregadas no estudo das interações entre os microrganismos e as espécies existentes, são inapropriadas. Pesquisas voltadas ao estudo da microbiologia do rúmen possibilitam um maior conhecimento a cerca das interações entre as populações microbianas, e a partir destas informações, novas metodologias poderão ser utilizadas e desta forma possibilitarão em um futuro próximo, fornecer incrementos que auxiliarão na degradação da porção fibrosa das plantas forrageiras, como também permitirão o uso de subprodutos oriundos de agroindústrias (RUSSEL; MANTOVANI, 2002). Dehority (2004) descreve que as interações entre as populações de microrganismos ruminais podem ser de parasitismo, onde um microrganismo é favorecido perante algum dano causado a outro; mutualismo, quando os dois são beneficiados e comensalismo, quando somente um microrganismo se beneficia e o outro não sofre efeitos. A predação, peculiaridade dos protozoários, reduz a biomassa bacteriana encontrada na forma livre no ambiente ruminal (HSU et al., 1991). Esta atividade intensifica a reciclagem e a eliminação de N pelo hospedeiro, diminui a passagem da proteína microbiana para o intestino delgado, pelo decréscimo dos microrganismos bacterianos e acúmulo de protozoários ruminais. Assim, a predação dos protozoários interfere no número e totalidade das bactérias ruminais (KARNATI et al., 2009). Os microrganismos de menor tamanho, principalmente o gênero Entodinium, são predados por espécies de maior tamanho, como Diplodinium, Polyplastrom e Ostracodinium (FRANZOLIN; DERORITY, 1999). Devido a essa característica predatória dos protozoários, autores indicam que esta seria a causa das distintas espécies existentes no ambiente ruminal e que os protozoários também realizam a predação de fungos ruminais (DERORITY; ORPIN, 1997). Segundo Finlay et al. (1994), os protozoários realizam a predação das bactérias pelo fato que estas são a principal fonte de compostos nitrogenados. Estudos realizados com animais faunados e defaunados, comprovam que o número de bactérias em animais faunados é menor do que quando comparados com animais defaunados. No entanto, esta atividade predatória pode variar de acordo com a espécie e a quantidade populacional de bactérias. As 27 bactérias ruminais fermentadoras de metano, utilizam H2 oriundo da degradação de polímeros de plantas, obtendo energia no processo de redução de CO2 em CH4. Essas bactérias apresentam-se na forma livre no rúmen ou alocados no citoplasma de protozoários ciliados. As bactérias fermentadoras de carboidratos estruturais agem sinergicamente com os fungos, e desta forma proporcionam maior intensificação na atividade de degradação (GORDON; PHILLIPS, 1998). Os fungos estão relacionados com as bactérias devido à nutrição cruzada, desta forma, disponibilizam açúcares para seu metabolismo (WILLIAMS, 1994). As bactérias são indispensáveis aos fungos, pois através da interação entre ambos, as exigências de vitaminas do complexo B, outros substratos e aminoácidos são supridas (WILLIAMS, 1994). No entanto, estudos mais recentes evidenciaram que algumas espécies bacterianas, principalmente as espécies Ruminococcus albus e Ruminococcus flavefaciens, impedem a digestão da celulose pelos fungos anaeróbios ou cessam o crescimento de algumas estirpes através de uma proteína solúvel (Kamra, 2005). Na interação entre os microrganismos, alguns são extremamente dependentes de outros, principalmente em relação ao suprimento de nutrientes, como também agem de forma antagonista entre si liberando componentes antimicrobianos (WRIGHT et al., 2004; KAMRA, 2005). As interações e interelações entre as populações de microrganismos ruminais podem apresentar efeito positivo ou negativo, o qual interfere diretamente no hospedeiro, principalmente sobre a digestibilidade e aproveitamento dos nutrientes ingeridos. Assim, equilíbrio entre essas populações deve ser estudado a fim de garantir maior eficiência na fermentação ruminal (DEHORITY, 1998). 2.6 Efeito da dieta na microbiologia ruminal O gargalo da nutrição de ruminantes está baseado no aumento da capacidade de ingestão de alimento com o intuito de manter as exigências nutricionais sem alterar as condições fisiológicas do compartimento ruminal, isto é, garantir a atividade de ruminação e adequado consumo de volumoso (VELHO et al., 2007). Dutta et al. (2009) sugerem que uma dieta que consiga balancear teores proteicos e energéticos resultará no beneficiamento do crescimento microbiano e desempenho reprodutivo dos animais. Barrière et al. (2003) afirmam que a forragem limita a taxa de 28 digestão do rúmen pela fração fibrosa, pois possuem altos teores de parede celular, podendo interferir no desempenho de animais de alta produtividade. Após a ingestão do alimento, este passa primeiramente pelos pré-estômagos e assim os nutrientes são disponibilizados para o hospedeiro de forma benéfica, pois são gerados compostos que serão utilizados pelo animal. O rúmen é o compartimento onde ocorrem com maior intensidade as reações e processos fisiológicos, desta forma a dieta torna-se a principal responsável pelos efeitos ocasionados na microbiota ruminal, tendo como consequência a alteração nos processos digestivos, na produção animal e eficiência alimentar. O estudo dos microrganismos do rúmen e os processos fermentativos ocorridos neste compartimento são um dos pontos relevantes na nutrição de ruminantes na atualidade (BERCHIELLI et al., 2006). Ao longo do tempo, os ruminantes desenvolveram uma elevada capacidade de ingestão de alimento, juntamente com uma relação mutualística com os diferentes microrganismos responsáveis pela digestão da fibra, desta forma, as forrageiras compreendem uma das principais fontes de nutrientes para os herbívoros. A proteína e a energia são os componentes principais da ração, pois contribuem para a adequada mastigação, ruminação e demais condições para o funcionamento do rúmen (CASTAGNARA et al., 2012). Dessa forma, o estudo das diferentes forrageiras e a interação destas com os microrganismos ruminais, proporciona um maior entendimento dos processos fisiológicos ocorridos no ambiente ruminal e a influência destes na produção animal (VAN SOEST, 1994). Salva a aptidão dos microrganimos ruminais de digerirem carboidratos estruturais, fatores inerentes às plantas como os constituintes da parede celular, sobretudo as ligações entre a matriz de hemicelulose e lignina e alguns fatores ligados ao animal, como a mastigação, salivação e pH ruminal, serão responsáveis por limitar a extensão da digestão no rúmen, por representarem uma barreira física aos processos fibrolíticos (MARTINS et al., 2006). Segundo Van Soest (1994), alguns fatores alteram a microbiota ruminal em virtude da gramínea utilizada. Dietas contendo gramíneas tropicais podem apresentar deficiência em nitrogênio e alguns nutrientes. Devido a este fator, a ingestão do alimento tende a ser limitada, pois a digestão torna-se mais lenta e ocorre uma sensação de saciedade no animal. Baixos teores proteicos na dieta de ruminantes irão afetar o crescimento microbiano e, consequentemente, a produção de proteínas microbianas, digestão ruminal disponibilidade de nitrogênio e energia (REYNAL; BRODERICK, 2005). 29 Os microrganismos ruminais exigem uma determinada quantidade de nitrogênio, o qual é obtido a partir da energia disponibilizada no rúmen, as bactérias e protozoários necessitam destes dois componentes para que a proliferação das espécies seja adequada (LUCCI, 1997). Desta forma, alguns microrganismos não tem acesso a determinados substratos, como também as quantidades disponíveis tendem a diminuir, como consequência ocorre o desaparecimento ou morte dos microrganismos e a diminuição na produção animal. Os carboidratos fibrosos representam uma das principais fontes de energia para o rúmen. As pastagens tropicais fornecem teores médios ou baixos de proteína, assim a disponibilidade de N-NH3 no compartimento ruminal pode ser uma condição limitante para o crescimento das populações microbianas (SILVA et al., 2009). Van Soest (1987) descreve que os maiores teores proteicos da planta são encontrados nas folhas. O estadio de desenvolvimento da planta irá influenciar diretamente na taxa de passagem do alimento, características ruminais como pH e microbiota, pois , conforme Grise et al. (2001), maior conteúdo celular depositado na planta irá resultar em melhor digestibilidade da pastagem e maior consumo de matéria seca. Pesquisas relacionadas à influência da estacionalidade e do tipo de pastagem sobre a microbiota ruminal são bastante escassas. No entanto a literatura apresenta alguns dados e estudos relacionados ao fornecimento de forrageiras, principalmente em relação aos protozoários ciliados do rúmen. Nogueira Filho et al. (1992) ao avaliar o fornecimento de forragem em distintos estágios vegetativos sobre a população de ciliados do rúmen de bovinos, observaram que os gêneros decrescem em virtude da idade da gramínea. Os principais gêneros encontrados foram Entodinium spp., Diplodinium spp. e Polyplastron spp. Segundo os autores, a principal causa para o decréscimo dos ciliados seria a redução dos açúcares solúveis e o aumento do material fibroso da planta, devido à maturação. Para Silva et al. (2014) existe uma variação das populações de protozoários em relação a estação do ano. O mesmo autor, ao estudar os ciliados do rúmen de Bos indicus, observou maior número de microrganismos nos períodos úmidos. Esta variação pode ser explicada devido à qualidade nutricional das gramíneas, a qual é alterada pelo efeito da estacionalidade. Segundo Manella & Lourenço (2004), a variação de protozoários decorrente da estação do ano pode estar relacionado com as características da pastagem. Estas mudanças ocorrem devido ao tipo de forragem utilizada, o ciclo fisiológico, a quantidade de matéria seca e os nutrientes disponibilizados pela planta (ARAÚJO FILHO et al., 2002a). 30 DEHORITY & ODENYO (2003) ao confrontar ruminantes africanos, sendo estes selvagens e domésticos, verificaram maior número de protozoários em animais oriundos de um sistema exclusivamente a pasto, do que quando comparado a animais submetidos à inclusão de níveis de concentrado. Segundo estes autores, o gênero Ophryoscolecidae ocorre com maior frequência em animais quando a dieta se restringe somente a forrageiras. O rúmen pode sofrer alterações resultantes da microbiota ruminal, sobretudo em relação à predação entre os protozoários ciliados e as bactérias. Pois a partir dessa relação simbiótica, as bactérias tornam-se fonte de ácidos nucleicos e aminoácidos (EADIE, 1967). Segundo Kozloski (2011), quando os animais recebem como dieta principal as forrageiras, as bactérias aderem-se ao material fibroso a partir de sítios, o que dificulta o processo de engolfamento realizado pelos protozoários. A existência dos protozoários ciliados contribui para o aumento da digestão da celulose e hemicelulose (FONDEVILA; DEHORITY, 2000). Os ciliados da ordem Entodiniomorphida, sobretudo das subfamílias Diplodiniinae e Ophyoscolecinae apresentam maior propensão a dietas contendo elevada quantidade de fibra. São microrganismos menos resistentes a reduções do pH, quando fornecido dietas contendo níveis elevados de concentrado, assim são encontrados de forma mais numerosa em alimentos fibrosos (WILLIAMS; COLEMAN, 1992). Para Hungate (1966), a família Isotrichidae ocorre com amor frequência em animais sob pastejo ou recebendo feno, pois apresentam maior capacidade de digestão de polissacarídeos não estruturais e os carboidratos solúveis da forrageira. Já a família Ophryoscolecidae é encontrada de forma menos expressiva em dietas contendo somente grãos. Martinele et al. (2008a) observaram que o gênero Entodinium não apresenta variação em decorrência da inclusão de concentrado sob dietas a base de capim-elefante, nas proporções de 20 e 40% em vacas mestiças holandês-zebu e quando fornecido a mesma quantidade de concentrado para os animais, o número de ciliados passa a sofrer alterações. Alguns fatores explicam esta alteração, como o período em que o alimento fica retido, valor de pH e processos fisiológicos de cada hospedeiro (MICHALOWSKI, 1977). Segundo Dehority (2003) o rúmen apresenta pH entre 5,5 e 7,0 em condições normais, e o menor valor ocorre duas a seis horas após a alimentação, em virtude da maior produção de ácidos decorrente da fermentação do alimento, o que tem como consequência uma diminuição da população de protozoários. Oliveira et al. (1987) ao estudar a concentração de protozoários ciliados em ovinos submetidos ao pastejo, verificaram que o pH tende a se manter mais 31 estável, 6,9. Quando fornecido dietas com elevada quantidade de celulose e carboidratos solúveis, o pH não tem uma diminuição exacerbada, isso se deve ao desenvolvimento de bactérias celulolíticas, pois sua atividade é comprometida em pH 6,0 a 6,1 e inibida abaixo de 5,9 (RUSSEL; DOMBROWSKI, 1980). A nutrição representa uma importante ferramenta para manipular os microrganismos e otimizar o ecossistema ruminal, a fim de garantir a produção de carne de qualidade para atender as demandas de uma população humana crescente. Os conhecimentos gerados pelo estudo da microbiota ruminal, podem gerar ganhos a médio e longo prazo a partir da integração dos dados taxonômicos e funcionais das populações microbianas e a relação destes com a digestão do rúmen, desempenho e metabolismo do hospedeiro (MORGAVI et al., 2013). 2.7 Técnicas de identificação da microbiota ruminal O rúmen abriga uma grande variedade de microrganismos, o que torna os estudos de identificação, caracterização e quantificação bastante complexa. Segundo Shin et al. (2004), acredita-se que somente 5-10% da microbiota ruminal é conceituada, sendo que existem aproximadamente 1000 espécies de fungos, protozoários e bactérias. Ao longo dos anos várias metodologias têm sido empregadas na busca de observar a microbiota ruminal, desde técnicas tradicionais, como roll-tube technique (HUNGATE, 1969) ou a utilização da técnica dos números mais prováveis (DEHORITY; TIRABASSO; GRIFO, 1989). Contudo, algumas populações microbianas não podem ser identificadas devido ao cultivo destas ser in vitro. Experimentação in vivo apresenta uma série de obstáculos para estimar a síntese microbiana no rúmen (REYNAL et al., 2003) .Segundo Fernando et al. (2010), os microrganismos já identificados representam somente uma parte da população microbiana, sendo este valor muitas vezes subestimado. Em relação à determinação e quantificação de protozoários e bactérias, várias técnicas são utilizadas, como contagens através de câmaras, no caso dos protozoários, e metodologias baseadas na utilização de observações feitas em microscópios. Procedimentos e técnicas baseadas em Dehority (1984) e Ogimoto & Imai (1981). Para a contagem da massa microbiana, diversas metodologias são empregadas, como as distintas frações existentes e determinação de bactérias gram-negativas e gram-positivas (MARTIN et al.,1994). 32 Atualmente, o estudo dos microrganismos do rúmen, sobretudo das bactérias, está cada vez mais evidente, principalmente em relação à biologia molecular, sendo que através desta técnica, é possível quantificar e identificar os microrganismos sob qualquer forma de cultivo. Há pouco tempo, o conhecimento pertinente aos microrganismos ruminais, era oriundo de pesquisas de cultivo, em que se realizava técnicas de isolamento, enumeração celular e também a tipificação nutricional. No entanto, o acesso à diversidade de microrganismos era bastante limitado. Posteriormente surgiram pesquisas complementares com a utilização de técnicas moleculares, as quais fornecem resultados mais acurados e maior rapidez nas análises (MCSWEENEY; MACKIE, 2012). A caracterização da população de microrganismos procariotos baseia-se na utilização do sequenciamento do gene 16S rRNA, através deste é possível estimar a diversidade e classificação filogenética, a fim de identificar e quantificar organismos não cultivados (MAKKAR; CAMEOTRA, 2002; KANG et al., 2009). A técnica da Reação em Cadeia pela Polimerase (PCR) caracteriza-se por permitir a multiplicação de determinados trechos do DNA com a utilização do primer de PCR, DNA polimerase termoestável (enzima Taq polimerase), posteriormente quando se tem sua máxima concentração em solução específica, torna-se possível sua aplicabilidade em métodos de isolamento e identificação de substâncias. Essa técnica pode ser obtida por análise tradicional ou em Tempo Real, sendo que em Tempo Real é possível comparar as amostras e realizar a mensuração gênica, diferentemente da técnica tradicional em que somente se detecta a amplificação do trecho de PCR no final da reação (MCSWEENEY et al., 2006) Outro procedimento aplicável na microbiologia ruminal é a qPCR, um procedimento simples e que fornece resultados confiáveis. Essa técnica permite o monitoramento contínuo da síntese dos produtos de PCR, e possibilita a quantificação das bactérias alvo com maior acurácia, como também tem sido utilizada na quantificação de protozoários (SKILLMAN et al., 2006), fungos (BOOTS et al., 2012) e bactérias (WANAPAT; CHERDTHONG, 2009) do rúmen. Quimiostatos também tem sido utilizado no estudo da eficiência microbiana, os dados obtidos por essa técnica apresentam alta precisão e confiabilidade, quando aplicado em meios de cultura, sendo que as taxas de crescimento microbiano estão relacionadas às taxas de diluição aplicadas (ARCURI et al., 2006). Conforme Krause et al. (2013), as pesquisas em microbiologia ruminal baseadas em técnicas moleculares, como a metagenômica, permitem a formulação de probióticos 33 específicos, a inserção de microrganismos no rúmen, otimização da fermentação ruminal e o desenvolvimento de vacinas para as bactérias produtoras de metano. Estes estudos juntamente com o avanço das técnicas de pirosequnciamento podem esclarecer as interações entre as populações microbianas com o hospedeiro, a fim de otimizar a eficiência nutricional e a saúde dos animais. As pesquisas voltadas a microbiota ruminal são se suma importância para a nutrição animal. Visto que, o desenvolvimento da pecuária está intimamente ligado ao conhecimento sobre os diversos microrganismos que compreendem o compartimento ruminal, bem como os parâmetros e fatores que afetam o sistema (RUSSELL, 2002). 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO-FILHO, J.A.; F.C. CARVALHO; N.L. SILVA. Fenologia y valor nutritivo de follajes de algunas especies forrajeras de la Caatinga. Agroforestía en las Américas, Costa Rica, 9: 33-37. 2002. ARCURI, P. B.; LOPES, F. C. F.; CARNEIRO, J. C. Microbiologia do rúmen. In: BERCHIELLI, T. T.; PIRES, A. V.; OLIVEIRA, S. G. de. Nutrição de Ruminantes, Jaboticabal: Funep, p. 111-116, 2006. BARRIÈRE, Y.; C. GUILLET; GOFFNER, D. e PICHON, M. Genetic variation and breeding strategies for improved cell wall digestibility in annual forage crops. Anim. Res. 52:193-228, 2003. BERCHIELLI, T.T. et al. Nutrição de ruminantes. Jaboticabal: Funep, 2006. 583p. BOOTS, B. et al. 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Dietas exclusivamente a pasto podem apresentar grande variação na composição nutricional para o uso microbiano, em virtude da estacionalidade e da gramínea utilizada. O tipo de alimento, a qualidade nutricional da dieta e interações entre as populações microbianas representam os principais fatores relacionados à proporção de espécies no ambiente ruminal (WILIANMS; COLEMAN, 1991). A composição da comunidade microbiana ruminal é representada por distintas espécies de fungos, bactérias e protozoários e, através das funções físico-químicas realizadas por estes microrganismos, sintetizam enzimas degradadoras de carboidratos estruturais, fornecendo desta forma, energia ao animal hospedeiro (VIDAL et al., 2007). A alimentação animal a base de forragem promove condições favoráveis ao desenvolvimento do rúmen, como também das estruturas internas deste compartimento. A ingestão de alimentos fibrosos proporciona o surgimento de uma diversidade de espécies microbianas, sendo estas responsáveis pela formação dos produtos finais da fermentação, ácidos graxos voláteis, pH do rúmen adequado, condições que promovem intensa atividade metabólica no ambiente ruminal, sendo estas condições adequadas para o estabelecimento de protozoários ciliados e bactérias celulolíticas (OLIVEIRA et al., 2007). Os carboidratos fibrosos representam uma das principais fontes de energia para o rúmen, contudo, alguns fatores alteram a microbiota ruminal em virtude da gramínea utilizada. As pastagens tropicais fornecem teores médios ou baixos de proteína, assim a disponibilidade de N-NH3 no compartimento ruminal é uma condição limitante para o crescimento das populações microbianas (SILVA et al., 2009). Devido a este fator, a ingestão do alimento tende a ser limitada, pois a digestão é mais lenta e ocorre sensação de saciedade ao animal. Baixos teores proteicos e energéticos na dieta de ruminantes podem afetar o crescimento microbiano e, consequentemente, a produção de proteínas microbianas, digestão ruminal, disponibilidade de nitrogênio e energia. Já as gramíneas de inverno normalmente apresentam alta digestibilidade e elevado teor de N degradável, o que contribui para o aumento da comunidade e diversificação da microbiota ruminal. Pesquisas relacionadas à microbiologia do rúmen, principalmente voltadas aos protozoários e bactérias em animais mantidos exclusivamente a pasto, possibilitam um maior conhecimento das interações entre as populações microbianas e a interação destes com a dieta 44 fornecida. A partir destas informações, novas metodologias poderão ser utilizadas a fim de auxiliar na compreensão da degradação da porção fibrosa das plantas forrageiras, como também permitirão o uso de subprodutos oriundos de agroindústrias (RUSSEL; MANTOVANI, 2002). Os protozoários ciliados e bactérias ruminais são influenciados por diversos fatores, como a estacionalidade, características nutricionais e morfológicas da pastagem, concentração de açúcares e teor de fibra. A complexidade das comunidades microbianas ainda é pouco conhecida, o que dificulta o avanço de pesquisas que visam otimizar o funcionamento ruminal. Portanto, a compreensão deste ambiente possibilitará o conhecimento a cerca dos alimentos fornecidos aos animais, como também a influência destes nos processo fermentativo (JAMI; MIZRAHI, 2012). O objetivo foi identificar e quantificar os protozoários e bactérias do rúmen de 40 bovinos de corte submetidos à alimentação à pasto Azevém, Aveia+Azevém, Brachiaria e Brachiaria+Estrela Africana. MATERIAL E MÉTODOS Coleta das amostras ruminais e período experimental As amostras foram coletadas do conteúdo ruminal de bovinos cruzados (Nelore x Europeu), com média de 2,5 anos, abatidos em frigoríficos comerciais, oriundos de diferentes propriedades do sudoeste do Paraná, no período de setembro de 2015 a julho de 2016. Foram coletadas amostras de 10 diferentes animais de cada pastagem, totalizando 40 amostras. Os animais foram submetidos a 12 horas de jejum alimentar anteriormente ao abate. Após a chegada do rúmen na área suja do frigorífico, procedeu-se a lavagem do mesmo para evitar a contaminação da amostra. Em seguida foi realizada a abertura deste compartimento com o auxílio de uma faca esterilizada. As amostras foram coletadas da massa central do conteúdo ruminal, homogeneizadas e acondicionadas em potes, sendo destinadas a determinação de protozoários e bactérias (Anexos C e D). As coletas foram realizadas nas dependências dos frigoríficos Miolar Alimentos Ltda, situado no Município de Dois Vizinhos e frigorífico Orfimar, localizado em Itapejara do O’este, sob o protocolo nº 2015-24 da Comissão de Ética do Uso de Animais (CEUA). 45 Dietas e análises nutricionais das pastagens As pastagens fornecidas aos animais, com as respectivas datas de coleta foram divididas de acordo com a estacionalidade, verão: Brachiaria spp. (26/01/2016) e Brachiaria spp. + Estrela Africana (04/05/2016) e inverno: Azevém (20/07/2016) e Aveia e azevém (10/09/2015). Foi realizada simulação de pastejo e coleta da pastagem fornecida aos animais para determinação da composição bromatológica. As amostras foram pré-secadas em estufa de ventilação forçada a 55ºC por 72 horas, para posterior determinação dos teores de de matéria seca (MS), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente ácido (FDA) e fibra em detergente neutro (FDN), de acordo com Silva & Queiroz (2004). Dados nutricionais são apresentados na tabela 1. Tabela 1- Composição nutricional das pastagens. Pastagens MS* MM** MO** PB** DIVMS** FDN** FDA** LDA** CEL** HEMI** Aveia e azevém Azevém Brachiaria spp. 22,9 9,01 90,9 13,8 72,8 58,5 32,4 4,71 27,7 26,1 24,4 10,4 89,5 18,5 75,5 56,8 31,1 2,29 28,8 25,7 24,7 9,54 90,4 11,5 66,8 72,7 35,3 4,41 30,9 37,3 Brachiaria spp + Estrela africana 25,3 7,43 92,5 12,0 67,0 77,2 33,9 5,76 28,2 43,2 MS: Matéria Seca; MM: Matéria Mineral; MO: Matéria Orgânica; PB: Proteína Bruta; DIVMS: Digestibilidade In Vitro na Matéria Seca; FDN: Fibra em Detergente Neutro; FDA: Fibra em detergente Ácido; LDA: Lignina; CEL: Celulose; HEMI: Hemicelulose. *Valor expresso em porcentagem da matéria verde **Valores expressos em porcentagem da matéria seca Quantificação de protozoários As amostras coletadas do centro da massa ruminal, foram homogeneizadas e fixadas em formalina 18,5%. A identificação e a quantificação dos protozoários dos gêneros de ciliados foram feitas em câmara Sedgewick-Rafter, segundo (Dehority 1984). A amostra de conteúdo ruminal (sólida+líquida), previamente conservada em formol 18%, foi homogeneizada e uma alíquota de 1 mL foi transferida para tubos de ensaio e acrescentadas três gotas de lugol, em substituição ao verde brilhante conforme modificação proposta por D'Agosto e Carneiro (1999). 46 Após 15 minutos, foi adicionado 9 mL de glicerina a 30%. Para a quantificação dos protozoários, foi pipetado em cada tubo de ensaio 1 mL de amostra previamente coradas com lugol e fixadas com glicerina, para preencher a câmara de Sedgewick-Rafter. Foi utilizada uma grade de contagem em uma das oculares, onde foram quantificados os ciliados presentes em 50 campos e, posteriormente, após rotação da câmara em 180º, mais 50 campos foram analisados. O cálculo do número total de ciliados por mililitro de amostra foi realizado multiplicando-se o número de protozoários ciliados encontrados por 80 e por 20, que correspondem à superfície total da câmara de contagem e à diluição, respectivamente (DEHORITY, 1984). Coleta das amostras – Bactérias ruminais As amostras do conteúdo ruminal foram coletadas em frasco estéril plástico, com capacidade para 80 mL. Duas amostras foram coletadas, uma da parte líquida da porção ruminal e outra da parte sólida. Após a coleta, o material foi armazenado em caixa isotérmica a 10 oC e encaminhado ao setor de Microbiologia da Faculdade União de Ensino do Sudoeste do Paraná – UNISEP, para posteriores análises. Contagem total de bactérias (CBT) Para a contagem total de bactérias, tanto para a fração sólida quanto líquida, foram utilizadas 25g de amostra e, em seguida, adicionado 225 mL de solução peptonada tamponada a 1%, sendo esta a diluição 10-1. A partir desta, foram realizadas diluições até a proporção 1010 , em solução peptonada conforme descrito anteriormente. De cada diluição foi retirada uma alíquota de 1 mL e inoculada em placa de petri estéril, adicionando uma camada de aproximadamente 30 mL de ágar padrão (plate count agar). Posteriormente, essas placas foram transferidas para estufa bacteriológica a 36 oC por 24 horas. A leitura das placas foi realizada com auxílio de contador de colônias manual (adaptado de Koneman, 2008, metodologia utilizada ma Microbiologia Geral). Análise morfológica das bactérias Para a análise morfológica empregou-se a técnica de coloração de Gram, na qual foi utilizado 100 μL de uma suspenção de bactérias isoladas em ágar padrão, na concentração 0,5 da escala de McFarland. Após, foi adicionado em lâmina de vidro e procedeu-se a metodologia padrão da coloração, utilizando os corantes violeta giensiana, lugol, solução 47 descorante de álcool cetona e fucsina (adaptado de Koneman, 2008). A leitura das lâminas foi feita em microscópio óptico em objetiva de 100x. As bactérias foram classificadas em cocos e bacilos, gram positivos e gram negativos. Fermentação de carboidratos Para cada amostra foi usada uma placa de meio de cultura com fonte única de carboidrato, inoculando 1 mL de suspensação de bactérias na concentração 0,5 da escala de McFarland sobre a placa, contendo o meio, e, subsequentemente, foi incubada em estufa bacteriológica a 36 oC por 24 horas. A composição básica do meio de cultura está representada na tabela abaixo, sendo que o carboidrato testado foi o carboximetilcelulose. A avaliação da atividade fermentativa é evidenciada pelo crescimento de colônias com coloração rósea (adaptado segundo Koneman, 2008). Tabela 2 – Composição do meio de cultura utilizado para a atividade fermentativa do carboidrato Carboximetilcelulose (Koneman, 2008). COMPONETES CONCENTRAÇÃO (g.L-1) NaNO3 3,0 K2HPO4 1,0 MgSO4 0,5 KCl 0,5 FeSO4 . 7H20 0,01 Ágar padrão 20,0 Carboximetilcelulose 5,0 Análise estatística O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com quatro tratamentos, e 10 repetições. Os dados foram submetidos à análise por meio da metodologia de Modelos Lineares, generalizados, assumindo distribuição Poisson com função de ligação logarítmica, com nível de significância 1%. Foi utilizado o procedimento GENMOD do pacote estatístico SAS. em que: : é a observação da contagem do número de espécimes no animal, submetido à dieta i; : base do logaritmo neperiano η: função linear dos parâmetros na formula em que: µ: é o intercepto, 48 : é o efeito da dieta i; i = 1;2;3;4; : efeito da interação entre dieta e período; : erro aleatório associado a cada observação . RESULTADOS E DISCUSSÃO Na pastagem de Azevém as médias da contagem de bactérias totais encontradas foram 470,1 x1010 mL-1 (fração líquida) e 24,7 x1010 mL-1 (fração sólida) e Brachiaria spp. + Estrela Africana 105,2 e 61,2, respectivamente (Tabela 2). Para as gramíneas Azevém + Aveia e Brachiaria spp. a contagem das bactérias totais não foi possível através da metodologia empregada devido a alta concentração encontrada nessas amostras, sendo superior ao limite máximo (>250), o que dificultou a identificação do número de colônias. Tabela 3- Médias (x1010 mL-1) da contagem de bactérias totais (CBT) da fração sólida e líquida de amostras extraídas de bovinos cruzados (Nelore x Europeu) submetidos ao efeito da estacionalidade de pastagens temperadas (Azevém e Azevém + Aveia) e tropicais (Brachiaria spp. e Brachiaria spp + Estrela africana). CBT Tratamentos/Pastagens Fração líquida σ Fração sólida σ Azevém Temperadas 470,1 742,9 24,7 33,6 Azevém + Aveia >250 0 >250 0 Brachiaria spp. Tropicais >250 0 >250 0 109,4 61,2 80,5 Brachiaria spp. + Estrela africana 105,2 σ: Desvio padrão. Foi encontrada maior concentração de bactérias totais na fração líquida das amostras ruminais de animais em pastejo. Este resultado se explica pelo fato de que na maioria das pesquisas são encontrados dados oriundos de animais fistulados, em que estes não são submetidos a longos períodos sem alimentação. Já nos resultados encontrados, foram obtidas amostras de animais abatidos, os quais foram mantidos em jejum pré abate por aproximadamente 12 horas, o que justifica a alteração da concentração do número de bactérias ruminais. Os resultados encontrados são contraditórios aos trabalhos de Wanapat e Cherdthong (2009), em que foi observada maior prevalência de bactérias celulolíticas, 0 49 principais degradadoras da fibra, em dietas a base de forragens na fração sólida do conteúdo ruminal quando comparado com a fase líquida. A disponibilidade do substrato utilizado pelos microrganismos decresce devido à escassez de alimento, principalmente no período de jejum pré-abate, impactando no número de bactérias na porção líquida da amostra ruminal. Segundo Wanapat e Cherdthong (2009), quando os animais ficam por um longo período sem alimentação, ocorre um maior desenvolvimento de células e um acréscimo populacional na fase líquida do conteúdo ruminal ou maior aderência as micropartículas existentes. Houve maior concentração de bactérias nas gramíneas de inverno quando comparadas com forrageiras tropicais. Este resultado é justificado pela característica anatômica das forrageiras, pois as plantas de verão (C4) apresentam células arranjadas de forma mais densa, externamente aos feixes vasculares, designada arranjo tipo Kranz, sendo este arranjo ausente nas gramíneas de inverno (C3). Os dados encontrados corroboram com Wilson (1997), que ao contrastar os tecidos de plantas (C3) e (C4), observou menor prevalência de mesófilo (tecido caracterizado pela acelerada degradação) em gramíneas de verão, o que contribuiu para a menor ação e concentração de microrganismos nestas plantas. De acordo com Kozloski (2011), a aderência e colonização bacteriana podem ser influenciadas por diversos fatores como capacidade de degradação do microrganismo, o substrato disponível e o ambiente ruminal em que estes se encontram. Os tecidos das plantas exercem grande influência na acessibilidade das bactérias ao material fibroso, sendo que as gramíneas de clima temperado apresentam maior aderência bacteriana, como também são mais extensamente degradadas, quando comparadas com as forrageiras tropicais. Em relação à flora ruminal, foi observada a presença de bactérias Gram positivas e negativas nas pastagens, como também grande diversidade nas formas bacterianas (Tabela 3). Na pastagem de Azevém se constatou maior abundância nas populações de bactérias ruminais, Gram positivas e negativas, Cocos e Bacilos, resultados que corroboram com Dirksen (1993) ao estudar a diversidade da microbiota ruminal de ovinos criados a pasto, o qual observou maior quantidade de bactérias ruminais nos animais submetidos ao pastejo de gramíneas de inverno ao comparar com forrageiras de verão. Na pastagem de Brachiaria spp. não observou-se Bacilos Gram negativos. Em todas as amostras houve a presença de bactérias Gram positivas, principalmente nas pastagens de Aveia + Azevém e Brachiaria spp. + Estrela Africana. Este resultado se explica pela característica do substrato que estas utilizam, pois são degradadoras de 50 carboidratos estruturais e apresentam grande propensão por dietas compostas por alimentos fibrosos (KAMRA, 2005). As Gram positivas, ao degradar a celulose presente na parede celular das plantas, formam o acetato, assim, disponibilizam substratos para as demais bactérias, sobretudo as metanogênicas, as quais também são Gram positivas. As bactérias proteolíticas também são designadas Gram positivas, estas geram nitrogênio na forma de amônia paras as celulolíticas (ROBSON; STEWART, 1997). Como houve atividade celulolítica em todas as amostras estudadas, este seria um fator contribuinte para a maior densidade de Gram positivas, assim como a maior atividade destes microrganismos em dietas contendo volumoso. Tabela 4 - Flora ruminal e atividade celulolítica da fração sólida e líquida de amostras extraídas de bovinos cruzados (Nelore x Europeu) submetidos ao efeito da estacionalidade de pastagens temperadas (Azevém e Azevém + Aveia) e tropicais (Brachiaria spp. e Brachiaria spp + Estrela africana). Flora Bacteriana Atividade celulolítica Frações do líquido ruminal Líquida Sólida Líquida Sólida + + + + + + + + Temperadas Azevém CG+;CG-;BG+;BG- Azevém + Aveia Brachiaria spp. Brachiaria spp. + Estrela africana CG+; CG-; BG+;BG- CG+;BG+ CG+;BG+ Tropicias CG+;CG-;BG+ CG+;CG-;BG+ CG+;BG+ CG+;BG+ C: Cocos; B: Bacilos; G+: Gram-positivas; G-: Gram-negativas Em relação aos protozoários ciliados do rúmen, foi observada a ocorrência dos ciliados nas ordens Vestibuliferida e Entodiniomorphida (Tabela 5). Na ordem Vestibuliferida, constata-se a presença da família Isotrichidae, composta pelos gêneros Dasytricha e Isotricha. e na ordem Entodiniomorphida, protozoários da família Ophryoscolecidae, caracterizada pelos gêneros Entodinium, Diplodinium, Eodinium, Epidinium, Eremoplastron, Eudiplodinium, Metadinium, Ostracodinium e Polyplastron. 51 Tabela 5 - Ordem, família e gênero de protozoários ciliados em bovinos cruzados (Nelore x Europeu) submetidos ao efeito da estacionalidade de pastagens temperadas (Azevém e Azevém + Aveia) e tropicais (Brachiaria spp. e Brachiaria spp + Estrela africana). Protozoários ciliados Pastagens Azevém Azevém e Aveia Brachiaria spp. Brachiaria spp./ Estrela africana Dasytricha + + + + Isotricha + + + + Entodinium + + + + Diplodinium + + + + Eodinium + + + + Epidinium + + + + Eremoplastron + + + + Eudiplodinium + + + + Metadinium + + + + Ostracodinium + + + + Polyplastron + + + + Ordem/Família/Gênero Vestibuliferida Isotrichidae Entodinimorphida Ophryoscolecidae +: presença do gênero em pelo menos um animal Segundo Van Soest (1994), os protozoários da ordem Entodiniomorphida, são caracterizados como microrganismos celulolíticos, sobretudo os gêneros Diplodinium, Entodinium, Eodinium, Epidinium, Eremoplastron, Eudiplodinium, Isotricha, Metadinium, Ostracodinium e Polyplastron, os quais são encontrados em grande número em animais sob pastejo. A prevalência (Tabela 6) desses gêneros pertencentes à família Ophryoscolecidae pode ser observada nas pastagens estudadas, sendo predominante os ciliados Diplodinium, Epidinium, Eodinium e Dasytricha (100%), os quais são comumente encontrados em ruminantes (LYNN, 2008). Os gêneros Isotricha e Polyplastron não foram inclusos na análise estatística devido a pouca expressividade em relação aos demais grupos de ciliados, sendo estes encontrados em 11 e 6 animais, respectivamente (prevalência 27,5% e 15%). A pouca representatividade está 52 relacionada aos fatores intrínsecos do animal hospedeiro. Dessa forma, averigua-se que, apesar da dieta ser um fator de grande relevância na mantença das condições da microbiota ruminal, a característica individual e o metabolismo do hospedeiro, exercem grande influência na população dos protozoários ciliados (GÖÇMEN et al., 2002). Tabela 6 – Prevalência (%) dos gêneros de protozoários ciliados do rúmen de bovinos cruzados (Nelore x Europeu) submetidos ao efeito da estacionalidade de pastagens temperadas (Azevém e Azevém + Aveia) e tropicais (Brachiaria spp. e Brachiaria spp + Estrela africana). Entodinium 70% Azevém + Aveia 90% 100% Brachiaria spp. + Estrela africana 100% Diplodinium 100% 100% 100% 100% Eudiplodinium 50% 90% 80% 90% Eremoplastron 60% 90% 100% 90% Metadinium 40% 80% 70% 80% Ostracodinium 30% 40% 100% 80% Epidinium 100% 100% 100% 100% Eodinium 100% 100% 100% 100% Dasytricha 100% 100% 10% 100% Gêneros Azevém Brachiaria spp. Foi constatado que o gênero predominante foi o Diplodinium, 40,38 x104 mL-1, sendo esta densidade também observada em relação às pastagens estudadas, principalmente na gramínea Azevém (Tabela 8). Os demais gêneros Dasytricha, Entodinium, Eodinium e Epidinium, também foram observados em concentrações elevadas, 13,62; 11,81; 11,75 e 10,86 (x104 mL-1), respectivamente. Segundo Purse e Moir (1966), quando a dieta contém grande quantidade de volumoso ocorre um aumento nas populações dos ciliados pertencentes ao gênero Diplodinium. A maior concentração nas populações deste gênero ocorre pela presença da enzima celulase, a qual favorece a degradação da celulose presente na parede celular das plantas (WILLIANMS; COLEMAN, 1992). A composição nutricional das dietas também pode afirmar que as pastagens forneciam condições adequadas para serem consideradas de boa qualidade (Van Soest, 1994), sendo este um fator contribuinte para o aumento das populações de Diplodinium. 53 Tabela 7 - Médias (x104 mL-1) estimadas para o total dos gêneros de protozoários ciliados do rúmen encontrados de amostras extraídas de bovinos cruzados submetido submetidos ao efeito da estacionalidade de pastagens temperadas (Azevém e Azevém + Aveia) e tropicais (Brachiaria spp. e Brachiaria spp + Estrela africana). Gênero Média Desvio padrão Entodinium 11,81 23,48 Diplodinium 40,38 22,9 Eudiplodinium 0,43 0,43 Eremoplastron 1,15 1,51 Metadinium 0,42 0,49 Ostracodinium 0,48 0,85 Epidinium 10,86 11,05 Eodinium 11,75 8,36 Dasytricha 13,62 14,36 Os ciliados do gênero Diplodinium apresentam elevada taxa de divisão, a qual é intensa aproximadamente 8 horas após a ingestão de alimento (MICHALOWSKI, 1977). Este fator contribuiu para a elevada concentração destes microrganismos, pois os animais podem ter pastejado por um período maior anteriormente ao abate,assim como o tempo de transporte pode ter interferido, pois os animais foram adquiridos de diferentes propriedades da região Sudoeste do Paraná. A variação no número de ciliados deste gênero também foi observada nas diferentes pastagens avaliadas (Tabela 8). Na tabela 8 pode ser observada uma significativa concentração dos gêneros Epidinium e Dasytricha em todas as pastagens, sendo na gramínea Azevém encontrada as maiores populações, 22,22 e 21,47 x104 mL-1, respectivamente. De modo geral, o número de ciliados do gênero Dasytricha apresentou valores expressivos em todas as forrageiras. Estes resultados são explicados pelo alto teor de celulose nas gramíneas (Tabela 1). Hungate (1966) ao testar diferentes proporções de volumoso na dieta, observou que quando fornecido maiores níveis de V:C (70:30), as populações de Dasytricha foram beneficiadas, o que é justificado segundo o autor, pela capacidade de degradação celulolítica. Marinho (1983) notou um número significativo de ciliados Dasytricha em amostras ruminais de ovinos abatidos oriundos de pastagem, corroborando com os resultados, em que foi constatada uma elevada concentração deste gênero em todas as forrageiras. O gênero Epidinium é descrito por Manella e Lourenço (2004) e Williamns e Coleman (1992) como um dos protozoários que participa diretamente e de forma efetiva na 54 degradação dos componentes da parede celular das plantas, sobretudo da celulose. Bonhomme-Florentin et al. (1978) verificaram o efeito da sazonalidade no número de protozoários ciliados em bovinos e constataram a diminuição do gênero Epidinium durante períodos secos. Informações semelhantes aos resultados encontrados, pois houve uma diminuição na concentração deste gênero quando os animais receberam forrageiras tropicais, assim como quando em pastejo de Aveia + Azevém, sendo que esta gramínea se encontrava em final de ciclo (Tabela 8). O teor de fibra das forrageiras (Tabela 1) foi um fator que contribuiu para o decréscimo na concentração de protozoários, pois em virtude da maturação da planta, ocorre a diminuição dos açúcares solúveis e aumento da fibra. Segundo Williamns e Coleman (1992) a espécie Epidinium caudatum possui elevada quantidade de celulase presente no citoplasma, o que auxilia na degradação do material fibroso. Os ciliados pertencentes ao gênero Entodinium apresentaram média de 11, 81 x104 mL-1 do total dos gêneros de protozoários das amostras estudadas (Tabela 7) e em relação as pastagens (Tabela 8), foi encontrado em maior concentração nas forrageiras de verão, Brachiaria spp.(28,68x104 mL-1) e Brachiaria spp. + Estrela Africana (11,05x104 mL-1). Diversos autores demonstram que os Entodinium são caracterizados como ciliados que apresentam grande propensão por alimentos com elevados teores de energia (D’AGOSTO; GUEDES, 2000; FRANZOLIN; FRANZOLIN, 2000; NOGUEIRA FILHO et al., 1992). Tymensen et al. (2012) ao observar a estrutura da comunidade de protozoários em bovinos alimentados com diferentes dietas (feno e silagem/grãos), constatou maior predominância da espécie Entodinium spp. quando os animais foram submetidos a alimentação a base de silagem e grãos e maior foi o diversidade de espécies quando fornecido feno. Apesar das dietas serem somente a pasto, a predominância deste gênero foi bastante significativa, sendo a qualidade bromatológica da dieta o fator contribuinte para os resultados encontrados, pois a pesar de essas pastagens apresentarem elevado teor de FDN e Lignina, a digestibilidade das mesmas foi alta. 55 Tabela 8 - Médias (x104 mL-1) estimadas para os gêneros de protozoários ciliados em bovinos cruzados do rúmen encontrados de amostras extraídas de bovinos cruzados submetido submetidos ao efeito da estacionalidade de pastagens temperadas (Azevém e Azevém + Aveia) e tropicais (Brachiaria spp. e Brachiaria spp + Estrela africana). Azevém σ Entodinium 5,61 11,71 Diplodinium 48,72 Eudiplodinium Brachiaria spp.+Estrela Africana 11,056 σ Brachiaria spp. σ 1,888 1,64 28,688 40,78 29,95 30,352 15,69 46,096 25,41 36,368 16,05 0,25 0,32 0,496 0,54 0,48 0,43 0,496 0,42 Eremoplastron 0,32 0,32 0,768 0,87 1,312 1,16 2,208 2,35 Metadinium 0,28 0,55 0,272 0,22 0,672 0,63 0,48 0,43 Ostracodinium 0,72 1,57 0,096 0,13 0,576 0,27 0,528 0,58 Epidinium 22,22 16,83 5,568 1,85 9,424 5,61 6,256 3,24 Eodinium 7,07 6,36 13,264 9,43 12,928 8,11 13,744 8,66 Dasytricha 21,47 13,49 3,616 2,26 24,4 17,47 4,992 3,19 Total de ciliados inverno= 162,98 σ: Desvio padrão. Aveia+Azevém Total de ciliados verão= 200,70 σ 10,85 56 O período estacional influenciou na composição dos gêneros de protozoários do rúmen dos animais oriundos do pastejo de diferentes gramíneas (Tabela 8). Constatou-se maior concentração de ciliados no verão (200,70 x104 mL-1). Resultado explicado pela atividade fibrolítica dos ciliados, os quais aumentam a densidade em pastagens com elevado teor de fibra e em períodos úmidos (ARAÚJO FILHO, 2002; SILVA et al., 2014). A característica nutricional das pastagens de verão é um dos fatores que influencia na taxa de passagem do alimento e consumo animal. Nogueira Filho et al. (1992) afirmam que dietas a base de volumoso podem apresentar variação na disponibilidade de nutrientes, pois os diferentes tecidos da planta interferem na degradação microbiana, devido a quantidade de hemicelulose, celulose e lignina. Esta informação se confirma pelos dados referentes ao número de protozoários encontrados em relação às diferentes gramíneas, em que a forrageiras Brachiaria spp. e Brachiaria spp.+ Estrela africana apresentaram maior concentração de ciliados, bem como os maiores teores de celulose, hemicelulose e lignina, demonstrando que a atividade microbiana foi mais intensa. Os resultados obtidos também corroboram com os estudos de Christiansen et al. (1964) e Dehority e Odenyo (2003) em que encontraram grande diversidade de protozoários ciliados, principalmente da família Ophryoscolecidae, em animais submetidos ao pastejo de forrageiras de elevado teor fibroso, o que é explicado pelo decréscimo na taxa de passagem do alimento pelo sistema digestório, o que ocasiona o aumento dos níveis de pH ruminal, sendo estas condições favoráveis a colonização por parte destes protozoários. Apesar de a dieta ter um papel de grande relevância na concentração das populações de protozoários ciliados do rúmen, outros aspectos também podem ser atribuídos para explicar a ocorrência dos protozoários, como as características individuais do hospedeiro em relação aos animais da mesma espécie e a taxa de passagem do alimento (FRANZOLIN; DEHORITY, 1996). Particularidades metabólicas do hospedeiro, relações mutualísticas entre os microrganismos e o antagonismo entre as espécies de protozoários ciliados, também contribuem para a alteração das populações de protozoários (D’AGOSTO; SANTA-ROSA, 1998). Pesquisas recentes certificam que os protozoários ciliados do rúmen estão ligados efetivamente nas atividades celulolíticas e hemicelulolíticas do ambiente ruminal. Os ciliados colonizam as frações da fibra, estimulam a ruminação e secreção salivar, o que mantém o pH estável para a colonização de microrganismos celulolíticos, como também auxiliam na degradação dos tecidos da planta e na ação bacteriana (KOZLOSKI, 2011; DEHORITY, 57 2003). Portanto, são de suma importância em bovinos criados em pastagens devido à atuação destes microrganismos tem-se um maior aproveitamento das forrageiras, proporcionando maior eficiência alimentar. CONCLUSÃO O período estacional influenciou nas populações microbianas do rúmen. A Contagem Bacteriana Total (CBT) foi maior no inverno, sobretudo na pastagem de Azevém (494,8 x1010 mL-1), e na fração líquida do conteúdo ruminal (470,1 x1010 mL-1). Foi constatada a presença das bactérias gram-positivas e gram-negativas nos bovinos criados a pasto e grande diversidade nas formas bacterianas, sendo predominantes as formas de cocos e bacilos. A maior diversidade e concentração dos gêneros de protozoários ciliados foi encontrada nos animais em pastagens de verão (200,70 x104 mL-1), sendo predominante o Diplodinium (40,38 x104 mL-1). A concentração de ciliados foi mais intensa na pastagem de Brachiaria spp. 58 CONSIDERÇÕES FINAIS O maior número de bactérias ruminais foi encontrado nas pastagens de inverno, principalmente devido à ausência dos feixes vasculares, devido ao metabolismo das plantas C3, maior prevalência de mesófilo nas plantas, intensa aderência e colonização bacteriana, as quais são mais extensamente degradas. Os protozoários ciliados foram encontrados em maior número nas pastagens de verão, devido a maior atividade destes microrganismos, os quais realizam intensa degradação dos carboidratos estruturais, celulose, hemicelulose e lignina. A menor taxa de passagem do alimento favoreceu a degradação da fibra, provavelmente, pelo vível de pH neutro. 59 REFERÊNCIAS ABRÃO, F. O.; DUARTE, E. R.; NIGRI, A. C. de A.; SILVA, M. L. F.; RIBEIRO, I. C. O.; SILVA, K. L. da; ROSA, C. A.; RODRIGUEZ, N. M. Caracterização físico-química e microbiológica e população de fungos no conteúdo ruminal de novilhos de corte hígidos ou com acidose ruminal. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, 37(1):7-14, jan/mar 2015. BERCHIELLI, T. T.; PIRES, A. V.; OLIVEIRA, S. G. de. Nutrição de Ruminantes, Jaboticabal: Funep, p. 111-116, 2006. BONHOMME-FLORENTIN, A, BLANCOU, J, LATTEUR, B, E’tude des variations saisonnières de la microfaune du rumen de zebus. Protistologica, 14:283-289, 1978. 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ANEXOS 63 64 Anexo A: Comitê de ética 65 Anexo B: Bovinos utilizados para a amostragem do conteúdo ruminal (Fonte: Autor) Letícia Wlodarski) Letícia Wlodarski) Letícia Wlodarski) Letícia Wlodarski) Letícia Wlodarski) Letícia Wlodarski) Letícia Wlodarski) Letícia Wlodarski) Letícia Wlodarski) (Fonte: Letícia Wlodarski) Anexo C: Abertura do compartimento ruminal para a coleta das amostras. (Fonte: Autor) Anexo D: Coleta das amostras para determinação e quantificação de bactérias e protozoários. (Fonte: Autor) 66 Anexo E: Inoculação das alíquotas de líquido ruminal em placas de petri estéril para a análise da contagem bacteriana total (CBT). (Fonte: Autor) B A Anexo F: A: Bactéria Gram-negativa; B: Bactéria Gram-positiva e contagem de colônias de bacterianas ruminais. (Fonte: Autor) 67 Anexo G: Gêneros de protozoários ciliados em bovinos cruzados em pastagens de inverno e verão, Azevém, Azevém e Aveia, Brachiaria spp. e Brachiaria spp e Estrela africana. (Fonte: Autor) A: Diplodinium; B: Eremoplastron; C: Eudiplodinium; D: Dasytricha; E: Eodinium; F: Ostracodinium; G: Metadinium; H: Polyplastron; I: Epidinium; J: Isotricha; K: Entodinium.